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BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE DISCIPLINA E LIBERDADE NA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE KANT

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Academic year: 2021

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1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE DISCIPLINA E LIBERDADE NA FILOSOFIA

DA EDUCAÇÃO DE KANT

BRIEF OBSERVATIONS ABOUT DISCIPLINE AND FREEDOM IN THE PHILOSOPHY OF EDUCATION OF KANT

Marleide dos Santos Cunha1

GT 2: Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis

Resumo:

Este estudo objetivou desenvolver o nexo entre disciplina e liberdade na pedagogia Kantiana. Trazemos considerações acerca da autonomia do pensamento como forma de amadurecimento do indivíduo por meio do uso da razão. Trata-se de pesquisa bibliográfica baseada em Carvalho Neto e Barreto (2011), Kant (1985), Kant (1996), Kant (2001) e Menezes (2005). Desse modo, a educação dá possibilidade de disciplinar o homem e é também peça fundamental para que ele faça uso consciente da sua liberdade.

Palavras-chave: Disciplina. Educação. Kant. Liberdade

Abstract:

This study aimed to develop the relation between discipline and freedom in Kant's pedagogy. We bring considerations about the autonomy of thought as a form of maturation of the individual through reason. This is study is based in Carvalho Neto and Barreto (2011), Kant (1985), Kant (1996), Kant (2001) and Menezes (2005). Thereby, the education gives possibility to discipline the man and is also essential for so that man use the freedom consciously.

Keywords: Discipline. Education. Kant. Freedom

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1Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe; Membro do Núcleo de Pesquisa em Inclusão Escolar da Pessoa com Deficiência (UFS). E-mail: marleidedossantoscunha@yahoo.com.br

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2 Este estudo foi gerado a partir da disciplina ‘Filosofia da Educação’ no Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, ano 2013. O trabalho tem por objetivo desenvolver o nexo entre disciplina e liberdade na pedagogia Kantiana.

A partir das reflexões provocadas em sala de aula, podemos iniciar a discussão aqui proposta pelo projeto filosófico moderno. Assim, Immanuel Kant, filósofo da modernidade, trazia em seu universo de ideias, a razão como ponto primordial. Dessa forma, é fundamental compreendermos as verdades da fé e as verdades da razão.

Com a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, ocorreu a destruição do Império Romano do Oriente. Já em 1517, com a Reforma Protestante ocorre o 1º grande cisma para a Igreja Católica, vindo assim à tona à materialidade da fé e o questionamento da autoridade da Igreja. Lutero, monge agostiniano, escreve 95 teses contra a Igreja. Santo Agostinho, então, terá importante participação a favor da igreja, pois a ideia era que o cristão para ser livre em Deus, ele não precisa de obras, mas da fé nas palavras; muito embora, a Revolução Galilaica trouxera em voga a questão do método e a produção do conhecimento.

Com isso, para muitos a religião acaba fazendo às vezes da própria consciência e a moral Kantiana não aceita o vínculo com a religião, ainda que, “a razão não pode provar a existência de Deus, mas também não pode provar a sua não-existência (KANT, 2001, p. XIX). Nesse contexto, convém então dizer que, para Kant educar “é converter o animal em homem, é ser homem, é ser o legislador de suas ações sob o primado da razão” (MENEZES, 2005, p.19). Dessa maneira, falar da disciplina e da liberdade na filosofia da educação de Kant faz-nos refletir sobre a maioridade, uma vez que é necessário o indivíduo amadurecer para fazer uso da razão e assim buscar a autonomia do pensamento. Logo, precisamos apostar que educar um sujeito na modernidade é conduzi-lo para acertar, pois acreditamos que se erramos é porque empregamos mal a razão. Assim, todos nós somos portadores do bom censo, o que falta é guiá-lo bem. Logo, temos como parâmetro a natureza, uma vez que sendo ela bela e perfeita, ao nos afastarmos dela mais facilmente nos aproximamos do erro.

Há uma voz que clama na modernidade dizendo ‘nós somos as luzes, nós somos a sapiência’, pois a marca do indivíduo moderno deve ser a autonomia. Por isso, faz-se necessário introduzir as coisas frias e didáticas nas coisas dos sentimentos. Assim, filosofia é sinal de ciência. É o tempo de se ter a ciência para o bem ou para o “mal”. Nesse sentido,

por que será então que ainda aqui não se encontrou o caminho seguro da ciência? Acaso será ele impossível? De onde provém que a natureza pôs na

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3 nossa razão o impulso incansável de procurar esse caminho como um dos seus mais importantes desígnios? (...) Ou talvez até hoje nos tenhamos apenas enganado no caminho; de que indícios nos poderemos servir para esperar, em novas investigações, sermos melhor sucedidos do que os outros que nos precederam? (KANT, 2001, p.19)

Com efeito, entra nesse cenário o mundo da pesquisa que existe para refletir a realidade, e se assim não for, ela não faz sentido. Com isso, no mundo da educação, a ciência passa a precisar de um auxiliar e para tanto temos a pedagogia, sendo ela a expressão do seu próprio tempo. Logo, uma das mais árduas tarefas pedagógicas é educar o homem que é o único animal que de fato, necessita ser educado para ser humano e segundo Kant (1996, p.443) essa necessidade é de formação que compreende a disciplina e a instrução, junção que segundo Menezes (2005, p.19) culmina na cultura.

Ainda, vivemos numa época não esclarecida, pois as pessoas são impulsionadas a não raciocinarem e a não usarem o seu próprio entendimento. Com isso, vivem numa chamada menoridade2, sendo conduzidas ou manipuladas, embora, “de acordo com Kant, o próprio homem é o culpado por não realizar a tarefa prática de um mundo moral segundo a autonomia” (CARVALHO NETO e BARRETO, 2011, p. 215).

Assim, o momento presente é de liberdade de expressão, e cada vez menos esse direito é usado de forma conveniente e para o crescimento da capacidade de se pensar logicamente, e é muito natural as pessoas seguirem modelos de vida a partir do que consomem. Com a chamada globalização que conduz a crescente integração das economias e das sociedades dos vários países, facilitando a divulgação das informações, etc, é muito comum que os indivíduos copiem uns aos outros, ou seja, eles criam padrões de “felicidade”, e fazem da própria vida uma redoma de vícios consumistas, para não ficarem desatualizados, e com isso sofrem continuamente os impactos dos avanços da modernidade e da tecnologia que é utilizada desenfreadamente e sem propósitos de formar o homem.

Com efeito, um mestre que forma sem formar a si mesmo não é mestre. Essa é a lei da natureza do homem, formar o indivíduo do seu próprio tempo, e de acordo com Kant (1996, p. 442) “uma geração educa a outra”, entretanto, “nenhuma geração pode criar um modelo

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2 “A saída desse estado de menoridade é o que Kant concebe como Iluminismo, Aufklärung. O lema de “saída” o filósofo vai buscar num adágio horaciano: ““Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento. Eis a palavra de ordem do Iluminismo.” (KANT, 1995, p. 11) apud (CARVALHO NETO e BARRETO, 2011, p. 216)

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4 completo de educação” (KANT, 1996, p. 452). Desse modo, o professor é o profissional que recicla, essa é a configuração filosófica da modernidade.

Assim, em Kant a disciplina do homem está intrinsecamente relacionada à questão da liberdade, pois ao educar um indivíduo seja na educação doméstica, na escola ou até mesmo no trabalho, estamos envolvendo diretamente nesse contexto a disciplina. Ressaltamos ainda que,

As práticas educativas possuem sempre a pretensão de alinhar os princípios e mecanismos de autocrotrole dos impulsos que se consolidam cada vez mais, internalizando aquilo que se estabelece predominantemente como o comportamento desejado de cada um. (MENEZES, 2005)

Dessa forma, na modernidade filosófica e pedagógica kantiana discutimos a disciplina, a educação do corpo e a educação moral, sendo que o fio condutor é o projeto burguês de educação. Nesse sentido, “a disciplina transforma a animalidade em humanidade. Por instinto, um animal já é tudo aquilo que pode ser (...). O homem, ao contrário, deve usar de sua própria razão (...) e deve estabelecer para si mesmo o seu plano de conduta.” (MENEZES, 2005, p.18)

Por conseguinte, o homem tem uma habilidade que vai se tornando aos poucos em ato de pensar. Logo, o processo educativo é para direcionar as habilidades e os talentos. Por exemplo, nem todas as pessoas têm vocação para a vida acadêmica e para a pesquisa. Buscar ler, ser integral, ou seja ser aquele aluno que vai atrás do aprender sem o professor. E de modo geral, os talentos estão cada dia mais difíceis de serem achados.

Por outro lado, quem se acostuma ter tudo, vive como parasita. A necessidade é a mãe do mundo, se o indivíduo não tem deveres, ele se acomoda e só enxerga os direitos, ou seja, a pessoa tem tudo fácil. Deveres, direitos, saber reconhecer a dignidade no outro, tudo isso faz parte da formação moral. Assim, o ato de disciplinar tem o fim na educação moral.

Então, com a civilização, segundo Kant, vem o progresso moral. Entre a civilização e a barbárie, diz Kant, eu prefiro a moral. Para ele, por exemplo, omissão e mentira é a mesma coisa. Mas, chegaremos ao espaço moral que não precisaremos mentir. Assim, somos sociáveis numa insociabilidade, ao passo que a simulação é algo aceito socialmente. Contudo, a pedagogia kantiana prevê uma educação que conduza o ser humano a um nível cada vez mais elevado do ponto que já atingiu. A disseminação faz parte desse contexto uma vez que o homem estará sempre sendo conduzido não para uma educação apenas do seu tempo, mas

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5 para ser o melhor que pode ser e com isso, atingir o mais alto grau de formação por meio da educação que lhe conduz.

Nesse universo de pensamentos, sair da zona de conforto, eis a questão. Kant quando fala da menoridade deixa claro o quanto o comodismo prejudica o indivíduo. Muitas vezes é mais fácil deixar o outro tomar decisões, não pensar e não se expor, do que agir com autonomia, pensando por si próprio. Logo, tudo na vida tem seu preço e o pensamento autônomo tem suas consequências.

Conforme Kant (1985, p.112), “não vivemos em uma época de esclarecimento”. Porém, se nos reportarmos ao tempo, já lá no início da História do Brasil, D. Pedro II, por questões políticas, precisou assumir o reinado com tão pouca idade, apenas 15 anos incompletos, tendo assim sua maioridade civil antecipada. Dessa forma, podemos dizer que quem dá autonomia a pessoa é a própria necessidade.

Nos dias atuais, vivenciamos também a chamada Geração Canguru, e a psicologia assim designou porque é aquela geração que mesmo já tendo maioridade civil, e vida financeira independe, continuam morando na casa dos pais. Não há uma divisão das despesas e esses filhos permanecem apegados ao conforto físico e emocional que seus pais podem lhes proporcionar. Contudo, podemos dizer que, de certa forma, essas crias precisam continuar obedecendo a seus genitores, para que haja a harmonia no lar. Assim, privam-se da liberdade de seguirem seus caminhos em troca da proteção e do aconchego do lar de seus pais. Desse modo, pensando na elucidação, Kant afirma que:

um homem sem dúvida pode, no que respeita à sua pessoa, e mesmo assim só por algum tempo, na parte que lhe incumbe, adiar o esclarecimento. Mas renunciar a ele quer para si mesmo quer ainda mais para sua descendência, significa ferir e calcar aos pés os sagrados direitos da humanidade. (KANT, 1985, p.110)

Logo, a autonomia do pensamento é uma das maiores evoluções do ser humano; por isso, a independência faz bem não só para a mente, mas para o corpo e para o nosso comportamento também. Afinal, somos únicos neste mundo e não dá para viver copiando a forma de vida dos outros, senão perderemos a grande oportunidade de sermos nós mesmos e de fazermos as pessoas que merecem a nossa credibilidade um pouco felizes por nos terem por perto. Precisamos viver conforme a nossa autoconsciência, mas isso requer que possuamos o esclarecimento.

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6 Desse modo, a autonomia segundo Kant perpassa pela disciplina. O grande mal da geração atual está na indisciplina, que tudo permite, que não sabe usufrir da liberdade a qual todo ser humano tem inclinação. Somos livres, mas o problema é que usamos muito mal o direito à liberdade que possuímos. Por isso, afirma Kant:

Mas o homem é tão naturalmente inclinado à liberdade que, depois que se acostuma a ela por longo tempo, a ela tudo sacrifica. Ora, esse é o motivo preciso, pelo qual é conveniente recorrer cedo à disciplina; pois, de outro modo, seria muito difícil mudar depois o homem. Ele seguiria, então, todos os seus caprichos. (KANT, 1996, p. 443)

Ao fazer essa afirmação o filósofo esclarece que é conveniente educar a criança desde cedo, pois muito mais complicado é reeducar o homem que desde a sua adolescência teve realizado todos os seus desejos. Desde a infância, a criança deve ser orientada nas brincadeiras que tenham objetivos e finalidades, e que se acostumem já na fase de criança com certas privações e pensar numa educação também do corpo e dos sentidos. Dessa forma, a “educação deve ser impositiva; mas, nem por isso, escravizante” (KANT, 1996, p.472).

Nesse contexto, que a criança seja conduzida já na infância a, nas horas vagas, auxiliar nas tarefas de casa. “Que a criança seja habituada ao trabalho. E onde a tendência ao trabalho pode ser mais bem cultivada que na escola? A escola é uma cultura obrigatória. Prejudica-se à criança, se se a acostuma a considerar tudo um divertimento” (KANT, 1996, p.472). Por isso, o poder que a educação tem é fantástico. Pega-se o bebê virgem de educação e o prepara ao longo do seu desenvolvimento. E tudo isso refletirá na disciplina do homem, que é propulsor da moral. Ele vai construindo a sua história a partir da educação que o transforma.

Nesse contexto, ler Kant é viajar no mundo da razão, da lei moral. Disciplinar-se em Kant requer fazer o uso racional do pensamento em busca dessa tão sonhada liberdade a que o homem tem inclinação. Mas como ser livre se não somos esclarecidos? Fica quase impossível ter autonomia de pensamento e ao mesmo tempo querer agradar as pessoas. Àqueles indivíduos que atingem o grau do esclarecimento são os que mais sofrem, pois enxergarão o mundo de modo diferente do que a maioria, não esclarecida.

Outrossim, Kant propõe um discurso filosófico da maioridade, um esclarecimento na liberdade de pensamento que é capaz de separar as esferas, reivindicando a liberdade e a autonomia. Logo, somos nós os intelectuais, e buscadores do caminho científico, que devemos ousar sempre e sair da timidez e da tibieza, defendendo não mais a homogeneidade;

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7 ter coragem de usar o próprio entendimento e sair do comodismo que só mantém a menoridade.

Também, vivemos a era do capitalismo, embora a proposta socialista seja superior. Kant não conheceu o marxismo, mas podemos dizer que o socialismo é a maioridade, porém, implantar isso seria uma revolução. Pelo capitalismo não chegaremos a fase esclarecida, pois no dia que se suprimir a mais valia o capitalismo estaria assim no esclarecimento. De igual modo, a ética é uma questão burguesa, por isso não faz parte do projeto marxista.

Com efeito, para Kant a moral é produto da razão. O ato moral compreende o respeito às leis morais. Sem o indivíduo não tem um dom de fazer o bem e faz, a prática moral é mais importante. Para ele, o homem deve ser o alvo de toda a ação moral.

Assim, o homem é um ser livre, e toda a sua prática deve ser conduzida para a liberdade. Uma das finalidades do exercício do bem é o alcance da felicidade3 seja particular ou coletiva. Contudo, vivemos em época de crises de valores. Isso se deve também ao fato dos nossos dirigentes se preocuparem muitas vezes com seus próprios enriquecimentos; enquanto isso hospitais, universidades e escolas ficam sem verbas ou pelo menos, com verbas reduzidas. Por outro lado, o professor, por exemplo, continua indo para as salas de aulas formar cidadãos para o futuro. Que futuro? De que futuro a escola fala quando transmite um discurso de que as crianças são o futuro do país? Entretanto,

não se deve educar as crianças segundo o presente estado da espécie humana, mas segundo um estado melhor, possível no futuro, isto é, segundo a ideia de humanidade e da sua inteira destinação. Esse princípio é da máxima importância. (KANT, 1996, p.448)

Por essa razão, a disciplina torna-se fundamental nesse processo de formação, pois educando a criança desde cedo, ter-se-á um adolescente melhor ajustado e menos indisciplinado e sem dúvida, a selvageria seria algo muito comum no meio dos homens, se não fosse à educação.

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3 “De acordo com Kant, o homem, durante a sua vida, sai à busca daquilo que lhe proporciona satisfação; em decorrência disso, advém a busca incessante que os seres humanos empreedem pela riqueza, bem-estar e todas as outras coisas que segundo seu juízo poderão trazer-lhe algum tipo de satisfação. Essa procura pela satisfação, diz o filósofo, o homem chama felicidade. Entretanto, é possível vislumbrar que nessa busca o indivíduo também é acometido de sentimentos prejudiciais, a exemplo da inveja e da soberba.” (CARVALHO NETO e BARRETO, 2011, p. 210)

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8 Diante disso, estamos imersos num sistema que beneficia uma minoria enquanto muitos continuam acreditando que um dia tudo pode melhorar. Quando se afirmam que a escola é o lugar dos afetos, isso é uma mentira. Exercer a afetividade numa sala de aula com mais de quarenta alunos, é impossível.

Portanto, o desenvolvimento implica um processo de ensino-aprendizagem, estando a educação voltada para o racional. Isso atinge um progresso moral, científico, espiritual. Temos dentro de nós, um ser que é livre e autônomo, e para isso a escola precisa formar o indivíduo, pois só a educação pode liberar o homem para a tutela.

Nesse contexto, a universidade deve cumprir seu papel de ter a credibilidade no homem. Esse espaço dedicado à transmissão e construção do conhecimento sustentado na propagação da ciência, com princípios determinados, tem importante participação na formação da sociedade, sendo ela o maior fenômeno intelectual da idade média.

Os valores e conhecimentos transmitidos na universidade precisam sustentar a certeza de que somente por meio da educação, o homem poderá renovar sua credibilidade diante do próprio homem. Educando-se e educando, o ser humano transmitirá por meio do saber científico, a verdade de que a grandeza de ser racional está na certeza da educabilidade, para que se construam com continuidade, homens e mulheres capazes de ser aquilo que a universidade pode fazer dele, um cidadão capacitado para desenvolver as suas mais variadas habilidades sustentadas numa profissão, adquirida nas bases sólidas dos conhecimentos dialogados e produzidos na universidade.

Com isso, podemos dizer que a educação familiar é um dos principais pressupostos para a continuidade do papel de educadora que a escola exerce. Contudo, é necessário que os filhos tenham referências e condições de conduta em seus lares, num ambiente propiciador de diálogo e instrução para a vida.

Os perfis das famílias brasileiras variam muito, pois, elas têm sido alvo de muitas mudanças nos últimos tempos, fato que reflete na vivência do aluno no universo escolar. Por isso, no mundo globalizado no qual vivemos, a convivência entre as pessoas tem sido fator secundário. Alguns valores cultivados no seio familiar como o amor e o respeito aos outros, precisam continuar sendo semeados na sociedade, para que cada indivíduo procure sempre não fazer ao outro o que não quer para si, numa atitude de dar importância e significado as relações humanas.

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9 Dessa maneira, a realidade da família moderna, numa educação sem acompanhamento familiar, acaba refletindo no comportamento do aluno em sala de aula. A primeira pessoa que acaba sofrendo as consequências é o professor, quando, muitas vezes, não se tem nele um referencial da ética, do respeito e da educação, pelo fato de não se ter mais preservado esses valores no seio familiar nas pessoas do pai ou da mãe. Logo, “o homem só pode tornar-se homem pela educação. Ele é aquilo que a educação faz dele” (MENEZES, 2005, p.19).

Se “a educação prática ou moral refere-se ao modo como o homem deve ser cultivado a fim de que possa viver na condição de um ser livre” (MENEZES, 2005, p.20), não podemos negar que Kant traz sua contribuição a educação, à medida que defende a autonomia de pensamento e a disciplina como mola mestra da educação do indivíduo para que de fato se faça o uso consciente da liberdade, inclusiva a liberdade de pensamento.

Considerações finais:

Diante do conteúdo exposto, afirmamos que se tem algo que aprisiona o ser humano e o torna medíocre diante dos outros homens é o atrofiamento do seu pensamento por meio da falta de oportunidade de educação causada pela exclusão, pois, defendemos o direito do indivíduo ser educado e preparado para ser o melhor que possa ser, e a educação não pode excluir pessoas do direito ao conhecimento, esclarecimento, progresso, civilização, enfim de construir sua história de modo consciente.

Assim sendo, Kant já previa que se o homem não é direcionado para a disciplina por meio da educação, nunca sairá do seu estado de ignorância e tendência à barbárie. Portanto, educar também é proporcionar possibilidades, abrir horizontes, ampliar os conhecimentos, pensar criticamente e para se ter um homem educado e capaz do entendimento na filosofia da educação de Kant, a disciplina e a liberdade são importantes parceiras que conduzem ao direito da escolha.

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10 REFERÊNCIAS:

CARVALHO NETO, Filino; BARRETO, Sônia. Das leis segundo as quais tudo deve acontecer: observações sobre a filosofia prática de Kant. In: MENEZES, Edmilson; OLIVEIRA, Everaldo de. Modernidade Filosófica: um projeto. múltiplos caminhos. São Cristóvão: Editora UFS, 2011.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001

KANT, Immanuel. O que é o esclarecimento? In: Textos seletos. Trad. De Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1985

KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Trad. De Francisco C. Fontanella. São Paulo: Editora da UNIMEP, 1996

MENEZES, Edmilson. Kant e a concepção moderna de uma Educação para o corpo. In: NASCIMENTO, Jorge Carvalho do (org.). Problemas de educação escolar e extra-escolar. São Cristóvão: Editora UFS, 2005

Referências

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