PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
OPERAÇÕES SOCIETÁRIO
COM REFLEXOS TRIBUTÁRIOS
Paulo Ayres Barreto
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
Pesquisa empírica realizada por pesquisador da FGV Walter Pedrosa Barreto Júnior
Decisões de 2006 a 2008
Tema genérico: planejamento, elisão, evasão Temas específicos:
Ganho de capital (casa e separa) Incorporação às avessas
Pessoa física X Pessoa Jurídica
Planejamento internacional: controladas no exterior Operações com interpostas pessoas
Resultado: operações não oponíveis ao fisco Situação de extrema insegurança jurídica
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no direito positivo
na doutrina
no Direito Comparado
planejamento tributário e limites normativos
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Portugal: - art. 36 da L.G.T. (1999)
“São ineficazes os actos ou negócios jurídicos quando se demonstre que foram
realizados com o único ou principal objectivo de redução ou eliminação de impostos (...)”.
-Lei 30-G/2000
“São ineficazes os actos ou negócios jurídicos dirigidos por meios artificiosos ou
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Espanha: conflito normativo em face de negócios notoriamente artificiais
- Art. 15 da L.G.E. - Art. 16 da L.G.E.
EUA: “business purpose test” – 1.935
- Gitlitz v. Comissioner – novo milênio
Prejuízo fiscal, sem o correspectivo
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no Brasil: - art. 149 do CTN
“O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos
seguintes casos:
(...)
VII- quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação.”
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- parágrafo único do art. 116 do CTN:
“A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.”
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Ampliação de poderes
Dupla refutação por parte do legislador:
Art. 74 do projeto que deu origem ao CTN
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Eficácia positiva do princípio da capacidade contributiva Princípio da solidariedade
Prevalência da substância sobre a forma Necessidade de um propósito negocial Abuso de forma
Abuso de direito
Impossibilidade de se estruturar operação com o único propósito de reduzir a carga tributária
Operações preocupantes: Operações sequencias, ágio de si mesmo, operação invertida, neutralizado de objetos, etc.
Limites ao Planejamento
Tributário
Previsão constitucional
Matéria reservada à lei complementar
Matéria regrada por lei especial tributária
Relevância do Direito Civil na matéria e Conceitos de Direito Privado. Simulação e dissimulação.
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Direitos e garantias individuais como cláusula pétrea
Rígida demarcação da competência
Capacidade contributiva como garantia individual
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Problemas no campo das normas gerais e abstratas
- regras com caráter subincludente - regras com caráter sobreincludente
Princípio Republicano
- a força das regras
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Problemas no campo das provas
Eficácia Social
Ato perlocucionário de fala
Dois fatos vertidos em linguagem Teoria das provas
Procedimento (ineficácia
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Paulo de Barros Carvalho:
“(...) A mesma norma pode incidir sobre acontecimentos diferentes, produzindo, com isso, fatos jurídicos distintos. Paralelamente, normas diferentes podem incidir sobre o mesmo suporte fáctico, engendrando também fatos juridicamente diversos. Um único fato social comparece aos olhos do jurista como dois fatos jurídicos distintos porque objeto da incidência de normas jurídicas diversas.”
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Tributário
E1 Fj1 N1 E2 Fj2 E3 Fj3 N2 Fj4 E4 N3 Fj5JURISPRUDÊNCIA
IRPJ – SIMULAÇÃO NA INCORPORAÇÃO - para que se possa materializar, é indispensável que o ato praticado não pudesse ser realizado, fosse por vedação legal ou por qualquer outra razão. Se não existia impedimento para a realização da incorporação tal como realizada e o ato praticado não é de natureza diversa daquela que de fato aparenta, não há como qualificar-se a operação de simulada. Os objetivos visados com a prática do ato não interferem na qualificação do ato praticado. Portanto, se o ato praticado era lícito, as eventuais conseqüências contrárias ao fisco devem ser qualificadas como casos de elisão fiscal e não de “evasão ilícita” (AC CSRF/01 – 01.874/94)
JURISPRUDÊNCIA
Ausência de motivação extratributária – O princípio da liberdade de auto-organização, mitigado que foi pelos princípios constitucionais da isonomia tributária e da capacidade contributiva, não mais endossa a prática de atos sem motivação negocial, sob o argumento de exercício de planejamento tributário. (Acórdão nº 104-21498)
JURISPRUDÊNCIA
Ágio – Favorável – Caso Gerdau – Acórdão nº 1101-00.708 ÁGIO. REQUISITOS DO ÁGIO.
A circunstancia da operação ser praticada por empresas do mesmo grupo econômico não descaracteriza o ágio, cujos efeitos fiscais decorrem da
legislação fiscal. A distinção entre ágio surgido em operação entre empresas do grupo (denominado de ágio interno) e aquele surgido em operações entre empresas sem vinculo, não é relevante para fins fiscais. ÁGIO INTERNO. INCORPORAÇÃO REVERSA. AMORTIZAÇÃO.
Para fins fiscais, o ágio decorrente de operações com empresas do mesmo grupo (dito ágio interno), não difere em nada do ágio que surge em operações entre empresas sem vinculo. Ocorrendo a incorporação reversa, o ágio poderá ser amortizado nos termos previstos nos arts. 7° e 8° da Lei n° 9.532, de 1997.
JURISPRUDÊNCIA
ÁGIO – DESFAVORÁVEL – ACÓRDÃO 1402-001.298
Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2006, 2007, 2008, 2009 ÁGIO. REAVALIAÇÃO DAS QUOTAS SOCIAIS. INDEDUTIBILIDADE DA BASE DE CÁLCULO DO IRPJ E DA CSLL Quando se fala em registro contábil do ágio é preciso ter presente de que "a contabilidade não é uma verdade em si mesma, mas instrumento para que uma realidade externa a ela seja conhecida e interpretada." Com base nesta premissa, feito o registro contábil, cabe ao operador do direito buscar a causa para verificar se o ágio registrado na contabilidade existiu ou não. O ágio se constitui na diferença existente entre o preço da coisa e o valor efetivamente pago. Assim, ágio para efeitos de dedução da base de cálculo do IRPJ e da CSLL só pode ser concebido no caso de aquisição a título oneroso. O ágio que tem origem em operações societárias que envolvem reavaliação do patrimônio, sem que o investidor ou empresa investidora tenha suportado custo na aquisição do controle acionário, não é dedutível da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Recurso Voluntário Negado.
JURISPRUDÊNCIA
Incorporação às avessas – favorável - ACÓRDÃO CSRF/01-05.413
IRPJ - INCORPORAÇÃO ÀS AVESSAS - GLOSA DE PREJUÍZOS - IMPROCEDÊNCIA - A denominada " incorporação às avessas ", não proibida pelo ordenamento jurídico, realizada entre empresas operativas e que sempre estiveram sob controle comum, não pode ser tipificada como operação simulada ou abusiva, mormente quando, a par da inegável intenção de não perda de prejuízos fiscais acumulados, teve por escopo a busca de melhor eficiência das operações entres ambas praticadas. Recurso especial negado. Por maioria de votos, NEGAR provimento ao recurso. Vencidos os Conselheiros Cândido Rodrigues Neuber, José Clovis Alves, Marcos Vinícius Neder de Lima e Manoel Antonio Gadelha Dias que deram provimento ao recurso. O Conselheiro Mário Junqueira Franco Junior apresentou declaração de voto. Manoel Antonio Gadelha Dias - Presidente
JURISPRUDÊNCIA
Incorporação às avessas – desfavorável – Decisão 12-37900
INCORPORAÇÃO ÀS AVESSAS . CONTROLADA QUE INCORPORA A CONTROLADORA. ÁGIO DE SI PRÓPRIA NA INCORPORAÇÃO. INDEDUTIBILIDADE. ABUSO DE DIREITO. O ágio pressupõe a aquisição de participação societária e a existência de fundamento econômico para a aquisição, configurando a contraposição de uma receita (para o vendedor) a um custo (para o comprador). Na incorporação às avessas , na qual a controlada incorpora a sua controladora, não se justifica a contabilização, por parte da incorporadora, de ágio de si própria, se não estão presentes os pressupostos do ágio e resta configurada uma duplicação do ágio já contabilizado pela investidora original. Nessas circunstâncias, revela-se incabível a dedução da amortização do ágio para fins de apuração da base de cálculo da contribuição social. COMPENSAÇÃO DE BASES NEGATIVAS. LIMITAÇÃO. EFEITOS A busca dos efeitos da limitação em 30% na compensação de prejuízos não pode ficar restrita, isoladamente, a cada período de apuração ou aos períodos abrangidos pela ação fiscal. Cabe à Fiscalização, tendo como limite temporal o último período de apuração exigível ao término da ação fiscal, e observado o limite legal, levar em conta valores apurados nos períodos fiscalizados, recompondo, inclusive, as compensações efetuadas pelo contribuinte. CONCOMITÂNCIA DA MULTA ISOLADA POR FALTA DE RECOLHIMENTO DA ESTIMATIVA. COM A MULTA ACOMPANHADA DO TRIBUTO. A multa de ofício aplicada isoladamente sobre o valor do imposto apurado por estimativa, que deixou de ser recolhido, no curso do ano-calendário, é aplicável concomitantemente com a multa de ofício calculada sobre o imposto devido com base no lucro real anual igualmente não recolhido, em razão de se fundamentarem em infrações distintas.
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SÍNTESE FINAL
Na dissimulação, há dois fatos vertidos em linguagem: o simulado, construído por aqueles que intentaram o ato ou negócio jurídico e o fato que se pretendeu ocultar, a ser construído por aquele que deseja comprovar a simulação. Tal comprovação haverá de evidenciar a ocorrência deste segundo fato (que se buscou ocultar) e a inocorrência do primeiro (meramente aparente).
Limites ao Planejamento Tributário
Não há enunciado prescritivo que proíba, direta ou indiretamente, a estruturação, por meios lícitos, de operação tributária com o único propósito de reduzir ou mesmo não pagar tributos. Não há regra específica que vede tal procedimento, nem qualquer princípio que possa servir de fundamento para impedir esse comportamento. O ordenamento jurídico brasileiro não positivou a regra do propósito negocial (business purpose).
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Enquanto lei ordinária não disciplinar o procedimento de desconsideração dos negócios jurídicos realizados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador, será inaplicável o parágrafo único do artigo 116 do Código Tributário Nacional. Há ineficácia técnica, de natureza sintática.
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Miguel Reale conclama a autoridade administrativa, o advogado, o jurista, a proclamar a ilegitimidade das leis, dos programas éticos que delas possam surgir, mas lembra também uma lição de Sócrates que, condenado à pena de morte, se recusou a deixar de cumprir a pena que lhe fora imposta, dizendo o seguinte: “é preciso que os homens bons cumpram as leis más para que os maus não deixem de cumprir as boas”.