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Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 13ª Vara Federal de Curitiba

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Academic year: 2021

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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL

Seção Judiciária do Paraná

13ª Vara Federal de Curitiba

Av. Anita Garibaldi, 888, 2º andar ­ Bairro: Ahu ­ CEP: 80540­400 ­ Fone: (41)3210­1681 ­ www.jfpr.jus.br ­ Email: prctb13dir@jfpr.jus.br PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO CRIMINAL Nº 5001111­72.2016.4.04.7000/PR REQUERENTE: POLÍCIA FEDERAL/PR ACUSADO: DEMARCO JORGE EPIFANIO

DESPACHO/DECISÃO

1. Trata­se de representação da autoridade policial de busca e apreensão e condução coercitiva do investigado Demarco Jorge Epifânio.

Intimado,  o  MPF  concordou  com  a  representação  policial.  Requereu, adicionalmente,  que  seja  decretado  o  bloqueio  de  valores  e  a  indisponibilidade  de bens pertencentes ao investigado (evento 5).

Decido.

2. Tramitam por este Juízo diversos inquéritos, ações penais e processos incidentes relacionados à assim denominada Operação Lavajato.

A  investigação,  com  origem  nos  inquéritos  2009.7000003250­0  e 2006.7000018662­8, iniciou­se com a apuração de crime de lavagem consumado em Londrina/PR, sujeito, portanto, à jurisdição desta Vara, tendo o fato originado a ação penal 5047229­77.2014.404.7000.

Em grande síntese, na evolução das apurações, foram colhidas provas, em cognição sumária, de um grande esquema criminoso de corrupção e lavagem de dinheiro  no  âmbito  da  empresa  Petróleo  Brasileiro  S/A  ­  Petrobras  cujo  acionista majoritário e controlador é a União Federal.

Em  quase  todo  grande  contrato  da  Petrobras  com  seus  fornecedores, haveria pagamento de vantagem indevida aos dirigentes da Petrobrás responsáveis e que era calculada em bases percentuais.

Parte da propina era ainda direcionada para agentes políticos e partidos políticos que davam sustentação à nomeação e manutenção no cargo dos dirigentes da Petrobras.

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Entre os fornecedores da Petrobras e os  agentes públicos e os políticos, atuariam intermediadores.

É  possível  realizar  afirmação  mais  categórica  em  relação  aos  casos  já julgados.

Na  ação  penal  5083258­29.2014.4.04.7000,  restou  provado  que dirigentes da Camargo Correa pagaram  R$ 50.035.912,33 em propina à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, como reconhecido na sentença.

Na  ação  penal  5083376­05.2014.4.04.7000,  restou  provado  que dirigentes  da  OAS  pagaram    R$  29.223.961,00  em  propina  à  Diretoria  de Abastecimento da Petrobrás, como reconhecido na sentença.

Na  ação  penal  5083838­59.2014.4.04.7000,  restou  provado  o pagamento  de  R$  54.517.205,85  em  propinas  à  Diretoria  da  Área  Internacional  da Petrobrás  em  contratos  de  fornecimento  de  navios­sondas,  como  reconhecido  na sentença.

Na  ação  penal  5012331­04.2015.4.04.7000,  restou  provado  o pagamento  de  R$  23.373.653,76  em  propinas    à  Diretoria  de  Abastecimento  da Petrobrás e de  R$ 43.444.303,00 à Diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobrás em  outras  obras  da  Petrobrás,  como  as  contratadas  com  o  Consórcio  Interpar  e com Consórcio CMMS.

Na  ação  penal  5083401­18.2014.4.04.7000,  restou  provado  que dirigentes da Mendes Júnior pagaram R$ 31.472.238,00 em propinas à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, como reconhecido na sentença.

Nestas sentenças, provado o pagamento de propinas aos ex­Diretores da Petrobrás  Paulo  Roberto  Costa,  Renato  de  Souza  Duque  e  Nestor  Cuñat  Cerveró, bem como ao gerente de Engenharia e Serviços da Petrobrás Pedro Barusco. Também nelas identificados como intermediadores das propinas e igualmente encarregados da lavagem  de  dinheiro  correspondente Alberto Youssef,  Júlio  Camargo,  Mario  Goes, Adir Assad e Fernando Soares.

Para  os  fins  deste  processo,  merece  análise  mais  detida  a  sentença prolatada na ação penal 5083838­59.2014.4.04.7000.

Como  consta  na  referida  sentença,  houve  pagamento  de  propinas  à Diretoria Internacional da Pebrobrás em decorrência da contratação pela Petrobras do fornecimento dos Navios­sondas Petrobrás 10.000 e Vitoria 10.000 junto à empresa Samsung Heavy Industries Co.

Júlio  Gerin  de Almeida  Camargo,  Fernando Antônio  Falcão  Soares  e Alberto Youssef teriam intermediado o pagamento das propinas nos dois contratos.

Identificado  naquele  caso  como  beneficiário  o  então  Diretor  da  Área Internacional da Petrobrás Nestor Cuñat Cerveró.

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Supervenientemente,  o  condenado  Fernando  Antônio  Falcão  Soares celebrou acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República e que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal.

A  Suprema  Corte  desmembrou  as  apurações,  remetendo  a  este  Juízo cópia dos depoimentos relativos a crimes praticados por pessoas destituídas de foro privilegiado (processo 50509682420154047000).

Nos  termos  de  declarações  nºs  01  e  02  (evento  1,  arquivos  termo2  e termo3, processo 50509682420154047000), descreveu em detalhes o pagamento de propina  nos  contratos  envolvendo  o  fornecimento  dos  Navios­sondas  Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000.

No  primeiro  termo,  relativo  ao  Navio­Sonda  Petrobrás  10.000, Fernando  Soares  declarou  que  discutiu  o  pagamento  de  vantagem  indevida  não  só com  Nestor  Cuñat  Cerveró,  mas  também  com  o  gerente  executivo  da  Área Internacional da Petrobrás Luis Carlos Moreira e que outros empregados da Petrobrás seriam  também  beneficiados,  inclusive  o  ora  investigado  Demarco  Jorge  Epifânio. Também declarou que houve pagamentos a agentes políticos. Transcrevo trecho:

"... que, quando o negócio começou a andar, em razão da confiança que tinha com Nestor Cerveró e Moreira, o depoente propôs que houvesse o pagamento de parte de sua comissão para o grupo técnico da Petrobrás; que fez tal sugestão em razão da relação de amizade e por eles terem oportunidade negócios do depoente com a Petrobrás;  que,  do  valor  da  comissão  do  depoente,  o  depoente  repassaria aproximadamente oito ou nove milhões de dólares para os funcionários da Petrobrás e  o  depoente  ficaria  com  cerca  de  seis  ou  sete  milhões  de  dólares;  que  ainda  não tinha conhecimento de como seria a divisão interna entre eles, pois em um primeiro momento  conversou  apenas  com  Nestor  Cerveró  e  Luis  Moreira;  que, posteriormente,  apareceu  o  nome  dos  outros  técnicos  que  também  receberam valores, que foram Rafael Comino, Cezar Tavares, Eduardo Musa e o Demarco; (...) que então o depoente recebia de Moreira as instruções sobre como deveria ser pago o  valor  devido;  que  Moreira  era  quem  tinha  a  tabela  dos  valores  a  serem  pagos  e fazia o controle dos pagamentos dos valores; que as conversas com Moreira eram feitas  no  escritório  particular  dele,  próximo  da  Petrobrás;  (...)  que,  em  pesquisa pela  internet,  por  meio  do  google  street  view,  o  depoente  identificou,  com  certeza absoluta,  a  rua  como  sendo  Senador  Dantas,  nº  75,  e  o  edifício  como  sendo Christina  Barnard,  conforme  fotografia  em  anexo;  (...)  que  nestas  reuniões  no escritório de Luis Moreira participaram também Cezar Tavares, Rafael Comino, o próprio  Luis  Moreira  e  com  menor  frequência  Edson  Musa  e  Demarco;  que  todos estes receberam valores; que sabe disto porque tratou de valores com eles e porque os  nomes  deles  vinham  nas  tabelas  indicadas  por  Moreira;  (...)  que  era  Moreira quem indicava as contas e os valores a serem pagos; que Moreira sempre indicava contas no exterior para pagamentos; (...)"

No  segundo  termo,  relativo  ao  Navio­sonda  Vitoria  10.000,  as declarações de Fernando Soares foram bastante similares. Transcrevo trecho:

"que questionado quais funcionários da Petrobrás estavam envolvidos neste segundo navio sonda, respondeu que foram os mesmos que estavam envolvidos no primeiro navio  sonda,  quais  sejam:  Luiz  Carlos  Moreira,  Nestor  Cerveró,  Rafael  Comino, Cezar  Tavares,  Demarco  e  Eduardo  Musa;  (...)  que  todos  esses  funcionários  da Petrobrás  receberam  vantagens  indevidas  e  participaram  de  alguma  forma  do processo de aquisição do navio sonda Vitória 10.000, embora o depoente não saiba especificamente a participação de cada um; que dos vinte milhões de dólares que o depoente receberia, acredita que cerca de sete milhões de dólares ficariam para o

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depoente e o restante (treze milhões de dólares) para os funcionários da Petrobrás; (...)  que  questionado  com  quem  acertou  tais  pagamentos,  respondeu  que  foi  com Nestor Cerveró e com Luiz Moreira; que, porém, todos os demais funcionários da Petrobrás  mencionados  acima  iriam  receber  parte  dos  valores;  (...)  que  as  contas bancárias  e  os  respectivos  valores  a  serem  pagos,  relativos  aos  funcionários  da Petrobrás  mencionados,  continuaram  a  ser  indicados  por  Luiz  Carlos  Moreira,  da mesma  forma  que  no  primeiro  navio  sonda;  que  sempre  foram  contas  no  exterior; (...) que questionado ao depoente quais dos funcionários da Petrobras mencionados acima  possuíam  contas  no  exterior,  respondeu  que  Nestor  Cerveró  possuía  na Suíça;  que  Cezar  Tavares  também  possuía  conta  na  Suíça  e  talvez,  embora  não tenha  certeza,  também  em  Liechtenstein;  (...)  que  Luis  Carlos  Moreira  também possuía  conta  na  Suiça;  que  Demarco  também  tinha  uma  conta  no  exterior,  pois certa  vez  o  próprio  Demarco  passou  uma  conta  para  o  depoente  realizar  um depósito, em uma reunião no escritório do Luis Moreira;  (...) que todas as contas no exterior que foram passadas para o depoente por Moreira estavam em nome de empresas off­shore; (...)"

Eduardo  Costa  Vaz  Musa  também  celebrou  acordo  de  colaboração premiada com o Ministério Público Federal (processo 5040086­03.2015.4.04.7000). Ele,  que  também  atuou,  como  gerente  geral,  na  Área  Internacional  da  Petrobras, confirmou que recebeu propinas em contratos da área, inclusive mediante depósitos em  contas  mantidas  no  exterior  em  nome  de  off­shores.  Transcrevo  trechos  dos depoimentos juntados no processo 5040086­03.2015.4.04.7000 relativos às propinas recebidas nos contratos de fornecimento dos Navios sonda Petrobrás 10.000 e Vitoria 10.000:

"que,  de  2006,  até  se  aposentar  ficou  como  gerente  geral  da  área  internacional, sendo  indicado  por  Luis  Carlos  Moreira  e  Nestor  Cerveró;  (...)  que  o  tema  de pagamento de propina foi apresentado ao declarante por Luiz Carlos Moreira; que, por  volta  de  julho  de  2006,  quando  o  declarante  estava  começando  a  trabalhar  no desenvolvimento do projeto do navio sonda Petrobrás 10.000, Moreira mostrou uma planilha  de  divisão  de  propinas  da  área  internacional  da  Petrobras;  (..."  que  nesta planilha estavam Pasadena e Petrobrás 10.000, sendo que o navio Vitoria 10.000 foi acrescentado  posteriormente;  que  a  planilha  foi  apresentada  nesta  reunião  que estavam  presentes  Luis  Moreira,  gerente  executivo  de  Nestor  Cerveró,  Cezar Tavares, ex­funcionário e contratado como consultor de Moreira e Rafael Comino, gerente da área internacional, sendo que todos recebiam propin proporcionalmente e  conforme  a  atuação  nos  projetos;  (...)  que  nesta  sonda  [Vitoria  10.000]  e  na Petrobrás 10.000 houve pagamento de vantagem indevida pela Samsung" (termo de declaração nº 1, evento 6, anexo2, do processo 5040086­03.2015.4.04.7000) "que, nesta época, por volta de agosto de 2006, o declarante, Luis Moreira e Cezar Tavares tiveram uma reunião com Fernando Soares e Jorge Luz no endereço da Rua Rodrigo Silva, nº 8, Centro do Rio de Janeiro; (...) que nesta reunião foi explicado como seria o pagamento da propina referente ao Petrobrás 10.000; que foi explicado por Moreira que ele (Moreira) e Cezar Tavares tinham um doleiro no Uruguai que abria  offshores  e  fazia  as  transferências  bancárias  e  que  o  declarante  teria  que montar  um  esquema  para  recebimento  de  propinas;  que  Moreira  e  Tavares propuseram  auxiliar  o  declarante  a  utilizar  o  mesmo  esquema;  que  o  declarante preferiu  não  aderir  ao  esquema  de  Moreira  e  Tavares,  pois  montou  o  seu  próprio esquema se utilizando do Banco Credit Suisse, que abriu uma off­shore no Panama de  nome  FTP  Sons  e  posteriormente  abriu  uma  conta  bancária  na  Suíça;  (...)  que então  o  declarante  recebeu  cerca  de  USD  50.0000,00  através  de  Fernando  Soares que lhe foi aprsentado por Moreira, que teve várias reuniões para tratar do assunto com  Fernando  Soares  que  foi  o  próprio  Fernando  Soares  quem  lhe  pagou  no exterior,  que  nesse  caso  Cerveró  e  Luis  Carlos  Moreira  também  receberam dinheiro de Fernando Soares; (...)" (termo de declaração nº 2, evento 6, anexo3, do processo 5040086­03.2015.4.04.7000)

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"que,  para  o  recebimento  das  vantagens  indevidas  dos  contratos  da  área internacional,  o  declarante  foi  orientado  por  Luis  Moreira  a  abrir  contas  no exterior;  que  isto  ocorreu  por  volta  de  2006;  que  Moreira  chegou  a  oferecer  os serviços  de  um  doleiro  uruguaio  que  gerenciava  as  contas  de  Moreira;  que  o declarante  optou  por  abrir  contas  na  Suíça,  utilizando­se  dos  serviços  do  Banco Credit  Suisse;  (...)"  (termo  de  declaração  nº  4,  evento  6,  anexo5,  do  processo 5040086­03.2015.4.04.7000)

Além da confissão relativa à intermediação de propinas nos contratos de fornecimento dos Navios­Sondas Petrobrás 10.000 e Vitoria 10.000, Fernando Soares admitiu  a  intermediação  de  propinas  na  aquisição  de  cinquenta  por  cento  pela Petrobrás  da  Refinaria  de  Pasadena  nos  Estados  Unidos  (termo  de  declaração  nº  5, evento  1,  arquivo  termo6,  processo  50509682420154047000).  Teria  havido pagamentos para agentes da Petrobrás e para agentes políticos. Transcrevo trecho:

"que  questionado  sobre  a  compra  e  venda  da  Refinaria  de  Pasadena,  nos  EUA,  o depoente  respondeu  que  tais  fatos  se  iniciaram  em  2005;  (...)  que,  ainda  em  2005, teve uma nova com Nestor Cerveró e Moreira na Petrobrás, na qual questionou se haveria  algum  acerto  de  pagamento  de  comissão  neste  negócio;  que  ambos responderam  que  sim  e,  inclusive,  deram  mais  detalhes  sobre  o  negócio  para  o depoente; que disseram como estava andando a neciação e que o negócio tinha sido trazido  para  eles  por  um  assessor  de  Nestor  Cerveró,  de  nome Agustino  Mônaco, que trabalhava na Petrobrás; (...) que ainda disseram ao depoente que haveria uma negociação  de  comissionamento,  mas  que  ainda  não  haviam  sido  fechados  os detalhes  do  valor;  que  iriam  no  entanto  conversar  com  as  pessoas  envolvidas  na Astra  Oil;  que  Nestor  Cerveró  conversava  mais,  sobre  este  tema  das  comissões, com um ex­funcionário da Petrobrás, que então era Diretor da Astra Oil e que era próximo  do  Monaco;  que  tal  pessoa  era  Alberto  Feilhaber;  (...)  que,  em  uma conversa posterior, que acredita que tenha ocorrido ainda em 2005, Nestor Cerveró e  Moreira  disseram  ao  depoente  que  lograram  fechar  uma  comissão  no  valor  de quinze  milhões  de  dólares  e  desse  valor  ficou  acordado  que  cinco  milhões  de dólares seriam devolvidos ao Alberto Feilhaber; (...) que questionado quem seriam as  pessoas  na  área  internacional  que  receberiam  os  seis  milhões  de  dólares, respondeu  que  seriam  Nestor  Cerveró,  Mônaco,  Luis  Moreira,  Rafael  Comino  e Cezar Tavares; (...)"

Releva ainda destacar que Fernando Soares declarou que, para o repasse da propina na aquisição da Refinaria de Pasadena e para o pagamento da propina nos contratos dos Navios sondas, utilizou os mesmos instrumentos, inclusive a off­shore Three  Lions,  com  contas  na  Suíça,  Liechtenstein,  em  Hong  Kong,  realizando  as transferências  paras  as  contas  off­shores  dos  agentes  da  Petrobrás  que  lhes  eram indicadas por Luiz Moreira.

Pelo  que  se  depreende  dos  depoimentos  de  Fernando  Soares  e  de Eduardo Musa, aparentemente convergentes, teriam sido pagas propinas em contratos no  âmbito  da  Diretoria  Internacional  da  Petrobrás  relativos  ao  fornecimento  dos Navios­Sondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000, além de propinas na aquisição da Refinaria de Pasadena.

Os  pagamentos  envolviam,  em  regra,  as  mesmas  pessoas,  os  agentes da  Área  Internacional  da  Petrobrás  e  o  referido  intermediador,  e  o  mesmo  modus operandi,  repasses  das  propinas  por  contas  mantidas  em  nome  de  off­shores  no exterior por Fernando Soares para contas mantidas em nome de off­shores no exterior pelos  agentes  da  Petrobrás.  Aparentemente,  algumas  contas  foram utilizadas repetidamente nos três esquemas criminosos.

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Embora  os  depoimentos  provenham  de  colaboradores  criminosos,  há certa prova de corroboração.

Afinal,  Julio  Gerin  de Almeida  Camargo  e  Fernando  Soares  já  foram condenados  criminalmente  por  corrupção  passiva  e  lavagem  de  dinheiro  na  ação penal  5083838­59.2014.4.04.7000,  exatamente  pela  intermediação  de  propinas, ocultação  e  dissimulação,  nos  contratos  de  fornecimento  dos  Navios­Sondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000.

Na ocasião, juntados naqueles autos, entre vários documentos, cópias de extratos  da  conta  Piemonte  Investments,  no  Banco  Winterbotham,  no  Uruguai, revelando  o  recebimento  de  pagamentos  da  Samsung,  seguidos  de  diversas transferências para contas em nome de off­shores (evento 23 da referida ação penal).

Também  juntados  naqueles  autos  cópias  dos  documentos  e  extratos da conta em nome da off shore Three Lions Energy Inc, constituída nas Ilhas Virgens Britânicas, que era mantida no Bank Leu, em Genebra, na Suíça, e que, controlada por Fernando Soares, recebeu valores da Piemonte e foi utilizada, em seguida, para repasse de propinas (eventos 549 e 556, da referida ação penal). Naquele feito, identificado, porém, como beneficiário apenas o acusado Nestor Cerveró, Diretor Internacional da Petrobrás, e a conta deste em nome da off­ shore Russel Advisors também mantida na Suíça.

Embora  das  contas  de  Júlio  Camargo  e  Fernando  Soares  exista  o registro  de  diversas  outras  transferências  bancárias,  não  foi  possível  identificar  os seus titulares/beneficiários, pelas dificuldades inerentes ao rastreamento bancário no exterior.

Da  mesma  forma,  Eduardo  Musa,  além  de  confessar  os  crimes, apresentou extratos de suas contas off­shores mantidas na Suíça e que receberam os depósitos de propina.

Nessas  condições,  em  que  a  palavra  dos  colaboradores  ganha credibilidade,  resta  justificado  o  aprofundamento  da  investigações  em  relação  às propinas pagas nos contratos de fornecimento dos Navios­Sondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000 e o início da investigação em relação a propinas pagas na aquisição da Refinaria de Pasadena.

Reputei, assim, presente causa provável e autorizei, a pedido do MPF, a expedição  de  mandados  de  busca  e  apreensão  nos  endereços  relacionados  a  Luís Carlos  Moreira  da  Silva,  Rafael  Mauro  Comino,  Cezar  de  Souza  Tavares  e Agosthilde  Mônaco  de  Carvalho,  por  meio  de  decisão  proferida  nos  autos  de  n.º 5052877­04.2015.404.7000.

As diligências foram cumpridas na data de 16/11/2015.

A mesmas razões se aplicam a Demarco Jorge Epifânio que, segundo os colaboradores,  teria  recebido  parte  da  propina  decorrente  da  divisão  paga  nos contratos de fornecimento dos Navios­Sondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000.

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Fernando Soares, como visto,  declinou o nome de Demarco Epifânio, ao  lado do de Carlos Moreira, Rafael Comino, Cezar Tavares e Eduardo Musa como beneficiário de propina, conforme se verifica de trecho de sua colaboração premiada acima transcrito. 

Ouvido  novamente,  Fernando  confirmou  o  nome  de  Demarco  Jorge Epifânio  como  sendo  um  dos  executivos  da  Área  Internacional  beneficiados  pelo recebimento de propina nos contratos de fornecimento dos navios­sonda. Destaco os seguintes trechos de seus depoimentos (termos de depoimento originários dos autos 5050968­24.2015.404.7000 e do IPL 2307/2015 e que foram acostados pelo MPF no evento 5, comp2, comp3 e comp4):

"QUE  do  valor  da  comissão  do  depoente,  o  depoente  repassaria  aproximadamente oito ou nove milhões de dólares para os funcionários da PETROBRAS e o depoente ficaria  com  cerca  de  seis  ou  sete  milhões  de  dólares;  QUE  ainda  não  tinha conhecimento  de  como  seria  a  divisão  interna  entre  eles,  pois  em  um  primeiro momento  conversou  apenas  com  NESTOR  CERVERÓ  e  LUIS  MOREIRA;  QUE, posteriormente,  apareceu  o  nome  dos  outros  técnicos  que  também  receberam valores,  que  foram  RAFAEL  COMINO,  CEZAR  TAVARES,  EDUARDO  MUSA  e  o DEMARCO".

"QUE  questionado  quais  funcionários  da  PETROBRAS  estavam  envolvidos  neste segundo  navio  sonda,  respondeu  que  foram  os  mesmos  que  estavam  envolvidos  no primeiro  navio  sonda,  quais  sejam:  LUIZ  CARLOS  MOREIRA,  NESTOR CERVERÓ,  RAFAEL  COMINO,  CEZAR  TAVARES,  DEMARCO  e  EDUARDO MUSA;  QUE  mostrada  a  foto  de  DEMARCO  JORGE  EPIFÂNIO,  em  anexo,  o depoente  reconhece  como  sendo  a  pessoa  de  DEMARCO  mencionada.  Que  todos estes  funcionários  da  PETROBRAS  receberam  vantagens  indevidas  e  participaram de alguma forma do processo de aquisição do navio sonda VITÓRIA 10.000, embora o depoente não saiba especificamente a participação de cada um."

"Que  Demarco  também  tinha  uma  conta  no  exterior,  pois  certa  vez  o  próprio DEMARCO  passou  uma  conta  para  o  depoente  realizar  um  depósito,  em  uma reunião  no  escritório  do  LUIS  MOREIRA.  Que  por  isto  acredita  que  a  conta  seja dele, mas não sabe se estava em nome dele ou de alguma pessoa de confiança. Que acredita que tal conta seja na Suíça".

"QUE houve uma ocasião em que DEMARCO EPIFÂNIO entregou diretamente ao declarante  uma  conta  bancária  para  crédito  da  propina,  e  que  em  outra  ocasião EDUARDO MUSA fez o mesmo".

Eduardo Musa, ao seu turno, também confirmou que Demarco Epifânio participava  do  grupo  que  recebia  propina  nos  contratos  de  navios­sonda,  porém, alegou desconhecer o meio pelo qual ele recebia a vantagem indevida (depoimento prestado  no  IPL  2307/2015,  cujo  termo  restou  acostado  pelo  MPF  no  evento  5, comp5):

"QUE  com  relação  aos  pagamentos  efetuados  para  os  demais  executivos  da  Área Internacional  ­  RAFAEL  COMINO,  DEMARCO  EPIFÂNIO,  CEZAR  TAVARES, LUIS  CARLOS  ­,  se  recorda  apenas  que  TAVARES  e  MOREIRA  utilizavam  os serviços  de  um  doleiro  uruguaio,  e  que  inclusive  o  indicaram  para  o  declarante; QUE não chegou a contatar o doleiro uruguaio e acabou montando uma offshore por conta  própria;  QUE  DEMARCO  passou  muito  tempo  na  Inglaterra  e  portanto  o declarante não tinha contato frequente com ele, desconhecendo como ele recebia a propina".

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O colaborador Agosthilde Mônaco relatou, ainda, um empréstimo que teria feito a Demarco, no valor de USD 200.000,00, para que ele efetuasse a compra de  um  apartamento  para  o  seu  filho  no  bairro  do  Botafogo,  no  Rio  de  Janeiro/RJ. Segundo  Agosthilde,  Demarco  comprometeu­se  a  restituir  o  valor  mediante transferência  da  sua  conta  corrente  no  exterior  para  a  conta  do  colaborador,  o  que efetivamente teria ocorrido (evento 5, comp6).

Segundo informações prestadas por Agosthilde (termo 01, anexado no evento  5,  comp6),  o  valor  teria  sido  retirado  do  montante  de  USD  1.800.000,00 recebidos  pelo  colaborador  a  título  de  propina  referente  à  aquisição  da  Refinaria Pasadena,  e  entregues  em  espécie  a  Demarco.  Posteriormente,  o  valor  teria  sido quitado  por  meio  de  uma  transferência  no  exterior,  a  crédito  na  conta  Akabas, controlada por Agosthilde, no valor de USD 200.000,00.

Agosthilde  forneceu  extratos  nos  quais  foi  possível  localizar  dois créditos  no  valor  de  USD  200.000,00  na  conta Akabas,  um  "por  ordem  de  cliente" (auftrag  eines  kunden),  de  agosto  de  2007,  e  outro  da  Piemonte  Investment  Corp, controlada  por  Julio  Camargo,  de  junho  de  2007  (fls.  6  e  8,  evento  1,  out10,  autos 5055637­23.2015.404.7000).  Segundo  ele,  um  dos  créditos  representaria  o pagamento do empréstimo concedido a Demarco e o outro corresponderia a um saldo de propina referente à Pasadena devido por Luis Carlos Moreira.

Julio Camargo foi ouvido a respeito do crédito efetuado pela Piemonte na  conta  da  Akabas.  Confirmou  que  a  transação  em  favor  da  sua  empresa  foi realizada  para  fins  de  pagamento  de  vantagem  indevida  relativa  ao  contrato  dos navios­sonda:

QUE com relação a pagamento originado da PIAMONTE à AKABAS, em 2007, no valor  de  US$  200.000,00,  afirma  desconhecer  quem  foi  o  beneficiário  final  dos valores, mas que com certeza tratou­se de conta provida por FERNANDO SOARES, relativa  ao  contrato  do  navio­sonda;  QUE  tendo  lhe  sido  informado  que  a  conta AKABAS  pertence  a  AGOSTHILDE  MONACO,  afirma  que  desconhecia  tal  fato; QUE  nunca  realizou  qualquer  pagamento  referente  ao  contrato  da  Refinaria  de PASADENA;  QUE  acredita  ser  possível  que  a  conta AKABAS  tenha  sido  indicada por SOARES para fins de algum tipo de compensação interna entre os beneficiados da propina."

Apesar disso, não foi possível confirmar qual dos dois créditos na conta de Agosthilde referia­se à compensação do empréstimo concedido a Demarco.

Pelo  teor  dos  depoimentos  prestados  pelos  colaboradores  Fernando Soares, Eduardo Musa e Agosthilde Mônaco, Demarco Epifânio teria participado do grupo que recebia vantagem indevida decorrente dos contratos de fornecimento dos navios­sonda e possivelmente da aquisição da Refinaria de Pasadena.

Outro elemento de corroboração consiste na identificação, por relatório de auditoria interna da Petrobras, DIP E&P­Inter 290/2015 (evento5, arquivo com9 a comp51),  que  identificou  um  séria  de  irregularidades  na  conduta  profissional  do investigado. 

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Entre  elas,  Foi  inclusive  apontada  mensagem  eletrônica  na  qual Demarco Epifânio e Bassim Djahjah, também funcionário da Petrobras, externam a intenção  de  apresentar  à  então  Presidente  da  Petrobras  Graça  Foster  somente  o melhor  cenário  relativo  um  projeto  da  Área  Internacional,  omitindo  detalhes  que pudessem prejudicar a aprovação (fls. 2, comp34, evento 5). 

Em  outra  mensagem,  Demarco  afirma  que  teve  apoio  de  três  antigos diretores  da  Petrobras  todos  já  condenados  por  este  Juízo:  "lembra  que  a  gente  só chegou onde chegou porque o Dinter (Nestor e depois o Zelada) e o Dabast (Paulo Roberto) nos apoiavam e incentivavam a prosseguir" (fls. 3/4, comp34, evento 5).

Reputo presente, assim, causa provável apta a justificar o acolhimento da  representação  da  autoridade  policial  e  do  pedido  do  MPF  pela  expedição  de mandado de busca e apreensão nos endereços residencial e profissional de Demarco Jorge Epifânio.

Representou, ainda, a autoridade policial pela expedição de mandado de busca e apreensão nos endereços ligados a Julio Gerin de Almeida Camargo e a Luis Carlos  Moreira  da  Silva,  onde  afirmam  Fernando  Soares  e Agosthilde  de  Mônaco, teria havido reunião dos investigados para o acertamento de propina.

O  objetivo  da  medida,  segundo  informa  a  autoridade  policial,  é apreender eventual registro de acesso de pessoas aos logradouros para corroborar ou afastar a tese de que os participantes do esquema reuniram­se nos escritórios de Julio Camargo e Luis Moreira.

Luis  Carlos  Moreira  foi  apontado  por  Fernando  Soares  como  o responsável  pelo  gerenciamento  das  contas  bancárias  em  que  tanto  Fernando  como Julio  Camargo  deveriam  efetuar  os  depósitos.  Fernando  declarou  que  as  conversas com  Moreira  para  tratar  dos  pagamentos  ilícitos  eram  realizadas  no  escritório particular  dele,  situado  na  Rua  Senador  Dantas,  75,  Rio  de  Janeiro/RJ.  Afirmou, inclusive,  que  Demarco  participava  de  tais  reuniões,  ainda  que  esporadicamente. Destaco por oportuno (comp2, evento 5):

QUE então o depoente recebia de MOREIRA as instruções sobre como deveria ser pago o valor devido; QUE MOREIRA era quem tinha a tabela dos valores a serem pagos  e  fazia  o  controle  dos  pagamentos  dos  valores;  QUE  as  conversas  com MOREIRA  eram  feitas  no  escritório  particular  dele,  próximo  da  PETROBRAS; QUE se tratavam de duas salas, sem identificação de qualquer empresa, e com uma secretária; QUE acredita que o nome da secretária fosse ELISANGELA; QUE este prédio é em uma rua lateral, na qual está a entrada da garagem da PETROBRAS; QUE  seguindo  esta  rua,  ela  faz  uma  curva,  sendo  que  o  prédio  onde  estava  o escritório dele estava em frente a esta curva; QUE este prédio deve estar a menos de  cem  metros  da  PETROBRAS;  QUE  em  pesquisa  pela  internet,  por  meio  do google street view, o depoente identificou, com certeza absoluta, a rua como sendo Senador Dantas, n. 75, e o edifício como sendo CHRISTIAN BARNARD, conforme fotografia  em  anexo;  QUE  chegou  a  questionar  LUIS  MOREIRA  por  qual  motivo tinha aquele escritório e ele afirmou que começou a prestar consultoria em algumas áreas,  inclusive  para  a  CEDAE,  mesmo  ainda  sendo  funcionário  da  PETROBRAS; QUE  nestas  reuniões  no  escritório  do  LUIS  MOREIRA  participaram  também CEZAR  TAVARES,  RAFAEL  COMINO,  o  próprio  LUIS  MOREIRA  e  com  menor frequência EDSON MUSA e DEMARCO; QUE todos estes receberam valores;

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Agosthilde  de  Mônaco  afirmou  que  também  no  escritório  de  Luis Carlos Moreira teria ocorrido reuniões a respeito do pagamento de propina referente à Refinaria de Pasadena. Transcrevo (comp6, evento 5):

"Que  sabe  informar  ainda  que  o  Sr.  LUIS  CARLOS  MOREIRA  tinha  um  escritório de  "negócios"  no  Edifício  Christian  Barnard,  na  Rua  Senador  Dantas  n°  75,  com entrada pela Rua Lelia Gama, Centro do Rio de Janeiro, ao lado do Edifício Sede da Petrobras,  cujo  número  da  sala  não  se  recorda,  onde  eram  tratados  todos  esses assuntos e realizadas reuni6es com o Sr. FERNANDO SOARES.

Ouvido  no  inquérito  2307/2015,  Luis  Carlos  Moreira  confirmou  que manteve escritório no referido endereço, porém negou que tenha realizado reuniões com a finalidade de ajustar o pagamento de propinas (comp8, evento 5).

Outro  lugar  indicado  pelos  colaboradores  como  sendo  utilizado  para tratativas  referentes  ao  pagamento  de  vantagens  indevidas  foi  o  escritório  de  Julio Camargo, situado na Rua da Assembleia, 10, Rio de Janeiro/RJ.

Fernando  Soares  afirmou  que  referido  local  teria  sido  utilizado  para  a cobrança de propina referente aos contratos de navios­sonda no ano de 2008, ocasião em que estavam também presentes Luis Carlos Moreira e Cezar Tavares. Transcrevo (comp3, evento 5):

QUE  após  a  saída  de  NESTOR  CERVERÓ,  o  depoente  e  o  corpo  técnico  da PETROBRAS, mais especificamente LUIS CARLOS MOREIRA e CEZAR TAVARES, realizaram  duas  ou  três  reuniões  com  JÚLIO  CAMARGO  para  cobrar  os  valores devidos;  QUE  acredita  que  tais  reuniões  ocorreram  no  escritório  do  JÚLIO CAMARGO, na Rua da Assembleia, n. 10, no Rio de Janeiro; QUE, conforme dito, nestas  reuniões  participaram,  além  de  JÚLIO  CAMARGO,  o  depoente,  CEZAR TAVARES  e  LUIS  MOREIRA;  QUE  JÚLIO  CAMARGO  dizia,  nestas  reuniões, sempre a mesma estória, sobre a necessidade de aprovação dos contratos de spare parts como condição para retomada dos pagamentos.

QUE  posteriormente,  em  2008,  manteve  reuniões  com  CAMARGO,  CEZAR TAVARES e MOREIRA com o fim de cobrar CAMARGO pelas propinas em atraso; QUE  se  recorda  que  houve  encontros  no  escritório  de  JULIO  CAMARGO,  onde havia controle de portaria.

O  fato  foi  negado  por  Julio  Gerin  de  Almeida  Camargo,  que  negou também  conhecer  quais  executivos  da  Área  Internacional  eram  beneficiários  de propina.

A medida então se faz necessária para a obtenção do registro de acesso de pessoas aos escritórios de Luis Carlos Moreira e Julio Gerin de Almeida Camargo, a fim de verificar se houve ou não a reunião dos investigados em tais locais. 

O  quadro  probatório  acima  apontado  é  mais  do  que  suficiente  para caracterizar  causa  provável  a  justificar  a  realização  de  busca  e  apreensão  nos endereços  apontados  como  sendo  os  escritórios  de  Luis  Carlos  Moreira  da  Silva  e Julio Gerin de Almeida Camargo. Essa diligência teria a finalidade única de obter os registros de acessos de pessoas aos prédios, sendo de se observar que pelo menos um dos endereços já sofeu busca e apreensão mais ampla.

(11)

3. Assim,  defiro,  nos  termos  do  artigo  243  do  CPP,  o  requerido,  para autorizar a expedição de mandados de busca e apreensão, a serem cumpridos durante o dia, nos seguintes endereços: i. Demarco Jorge Epifânio, CPF 546.874.547­04, endereço profissional e residencial; ii. prédio na Avenida Senador Dantas, n.º 75, Rio de Janeiro/RJ, onde Luis Carlos Moreira da Silva manteve escritório; iii. prédio na Rua da Assembleia, n.º 100, Rio de Janeiro/RJ, onde Júlio Geri de Almeida Camargo mantém escritório.

Os  mandados  2  e  3  têm  por  finalidade  exclusiva  a  obtenção  dos registros arquivados de todos os acessos de pessoas ao prédio, a ser obtido junto à  recepção/portaria  do  edifício  ou  onde  estiverem  sendo  mantidos  no  mesmo prédio.

Os  mandados  referenciados  no  item  1  terão  por  objeto  a  coleta  de provas  relativa  à  prática  pelo  investigado  dos  crimes  de  corrupção,  lavagem  de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas, além dos crimes antecedentes à lavagem de dinheiro,  especialmente  o  pagamento  e  o  recebimento  de  propinas  em  contratos  da Petrobrás:

­  registros  e  livros  contábeis,  formais  ou  informais,  recibos,  agendas, ordens  de  pagamento  e  em  especial  documentos  relacionados  à  manutenção  e movimentação de contas no Brasil e no exterior, em nome próprio ou de terceiros; ­ documentos relativos à titularidade de propriedades ou a manutenção de propriedades em nome de terceiros; ­ contratos de consultoria e eventuais relatórios ou documentos relativos à prestação de serviços ou das contas, que possam ter sido utilizados para acobertar o recebimento ou repasse de propinas;

­  HDs,  laptops,  pen  drives,  smartphones,  arquivos  eletrônicos,  de qualquer  espécie,  agendas  manuscritas  ou  eletrônicas,  dos  investigados  ou  de  suas empresas,  quando  houver  suspeita  que  contenham  material  probatório  relevante, como o acima especificado;

­ valores em espécie em moeda estrangeira ou em reais de valor igual ou  superior  a  R$  50.000,00  ou  USD  50.000,00  e  desde  que  não  seja  apresentada prova documental cabal de sua origem lícita;

­  obras  de  arte  de  elevado  valor  ou  objeto  de  luxo  sem  comprovada aquisição com recursos lícitos.

Consigne­se nos mandados, em seu início, o nome dos investigados e os respectivos  endereços,  cf.  especificação  feita  pela  autoridade  policial  na representação.

(12)

No desempenho desta atividade, poderão as autoridades acessar dados armazenados em eventuais computadores, arquivos eletrônicos de qualquer natureza, inclusive  smartphones,  que  forem  encontrados,  com  a  impressão  do  que  for encontrado  e,  se  for  necessário,  a  apreensão,  nos  termos  acima,  de  dispositivos  de bancos  de  dados,  disquetes,  CDs,  DVDs  ou  discos  rígidos. Autorizo  desde  logo  o acesso pelas autoridades policiais do conteúdo dos computadores no local das buscas e  de  arquivos  eletrônicos  apreendidos,  mesmo  relativo  a  comunicações eventualmente registradas. Autorizo igualmente o arrombamento de cofres caso não sejam  voluntariamente  abertos.  Consigne­se  estas  autorizações  específica  no mandado.

As  diligências  deverão  ser  efetuadas  simultaneamente  e  se  necessário com o auxílio de autoridades policiais de outros Estados, peritos ou ainda de outros agentes públicos, incluindo agentes da Receita Federal.

Considerando  a  dimensão  das  diligências,  deve  a  autoridade  policial responsável  adotar  postura  parcimoniosa  na  sua  execução,  evitando  a  colheita  de material  desnecessário  ou  que  as  autoridades  públicas  não  tenham  condições, posteriormente, de analisar em tempo razoável.

Deverá  ser  encaminhado  a  este  Juízo,  no  prazo  mais  breve  possível, relato e resultado das diligências.

Desde logo, autorizo a autoridade policial a promover a devolução de documentos e de equipamentos de informática se, após seu exame, constatar que não interessam  à  investigação  ou  que  não  haja  mais  necessidade  de  manutenção  da apreensão,  em  decorrência  do  término  dos  exames.  Igualmente,  fica  autorizado  a promover, havendo requerimento, cópias dos documentos ou dos arquivos eletrônicos e a entregá­las aos investigados, as custas deles.

A  competência  se  estabelece  sobre  crimes  e  não  sobre  pessoas  ou estabelecimentos.  Assim,  em  princípio,  reputo  desnecessária  a  obtenção  de autorização para a busca e apreensão do Juízo do local da diligência. Esta só se faz necessária quando igualmente necessário o concurso de ação judicial (como quando se ouve uma testemunha ou se requer intimação por oficial de justiça). A solicitação de autorização no Juízo de cada localidade colocaria em risco a simultaneidade das diligências e o seu sigilo, considerando a multiplicidade de endereços e localidades que sofrerão buscas e apreensões.

A  efetiva  expedição  dos  mandados  de  busca  dependerá  da apresentação/confirmação  dos  endereços  discriminados  dos  investigados,  conforme manifestação da autoridade policial. 4. Pleiteou o MPF o sequestro de ativos mantidos pelo investigado em suas contas correntes. Autorizam o artigo 125 do CPP e o artigo 4.º da Lei n.º 9.613/1998 o sequestro do produto do crime. Viável o decreto do bloqueio dos ativos financeiros do investigado em relação ao qual há prova de pagamento ou recebimento de propina.

(13)

Não  importa  se  tais  valores,  nas  contas  bancárias,  foram  misturados com valores de procedência lícita. O sequestro e confisco podem atingir tais ativos até o montante dos ganhos ilícitos.

Considerando  os  valores  milionários  dos  supostos  crimes,  resolvo decretar  o  bloqueio  das  contas  dos  investigados  até  o  montante  de  10  milhões  de reais.

Defiro, portanto, o requerido e decreto o bloqueio dos ativos mantidos em  contas  e  investimentos  bancários  do  investigado  Demarco  Jorge  Epifânio,  CPF 546.874.547­04.

O bloqueio será implementado pelo BacenJud quando da execução dos mandados de busca. Junte­se oportunamente o comprovante aos autos.

Observo que a medida ora determinada apenas gera o bloqueio do saldo do  dia  constante  nas  contas  ou  nos  investimentos.  Caso  haja  bloqueio  de  valores atinentes a salários, promoverei, mediante requerimento e comprovação, a liberação.

O  MPF  requereu  também  seja  decretada  a  indisponibilidade  de quaisquer outros bens e valores pertencentes a Demarco Epifânio.

Defiro o pedido, uma vez que o bloqueio via BacenJud é restrito, sendo plausível a hipótese de que o investigado mantenha aplicações em ações, fundos de investimento, previdência privada e congêneres.

Quanto  ao  bloqueio  dos  demais  ativos,  oficie­se  ao  Banco  Central  do Brasil  para  que  tome  as  providências  necessárias  para  a  indisponibilidade  de quaisquer bens ou valores titularizados pelos investigados sob guarda das instituições financeiras, tais como ações, participações em fundos de ações, letras hipotecárias ou quaisquer  outros  fundos  de  investimento,  assim  como  PGBL  ­  Plano  Gerador  de Benefício Livre, VGBL ­ Vida Gerados de Benefício Livre e Fundos de Previdência Fechado, devendo o Banco Central do Brasil comunicar à totalidade das instituições a ele submetidas, não se limitando àquelas albergadas no sistema BacenJud, tais como as instituições financerras que administrem fundos de investimento, inclusive das que detenha  a  administração,  participação  ou  controle,  às  cooperativas  de  crédito, corretoras de câmbio, as corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários.

Consigne­se no ofício ao Banco Central que as instituições financeiras deverão efetuar apenas o bloqueio, sem a transferência do valor para a conta judicial até ulterior determinação do juízo, a fim de se evitar eventuais perdas em razão do resgate  antecipado. A  transferência  à  conta  do  Juízo  deve  se  dar  apenas  na  melhor data para resgate, o que deverá ser informado.

Consigne­se no ofício ao Banco Central que, para fins de discriminação quanto à origem lícita ou ilícita, devem as instituições financeiras fornecer extratos em formato .txt ou .pdf, relativamente aos anos de 2004 a 2015.

Oficie­se também à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que tome  as  providencias  necessárias  para  a  indisponibilidade  de  quaisquer  ações/bens titularizados pelos investigados, devendo comunicar, se for o caso, a totalidade das

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entidades custodiantes a ela submetidas para a efetivação da medida.

Os ofícios só serão encaminhados na data de realização das buscas. 5.  Pleiteou,  ainda,  o  Ministério  Público  Federal,  autorização  para  a condução coercitiva de Demarco Epifânio para a tomada de seu depoimento.

Medida  da  espécie  não  implica  cerceamento  real  da  liberdade  de locomoção,  visto  que  dirigida  apenas  a  tomada  de  depoimento.  Mesmo  com  a condução coercitiva, mantém­se o direito ao silêncio do investigado.

A medida é ainda necessária diante da informação prestada pelo MPF de  que  Demarco  não  teria  comparecido  para  prestar  depoimento  perante  comissão interna da Petrobras, fato que demonstra sua possível intenção de não colaborar com as investigações.

Assim,  expeça­se  quanto  a  ele  mandado  de  condução  coercitiva, consignando  o  número  deste  feito,  a  qualificação  do  investigado  e  o  respectivo endereço a ser informado pela autoridade policial.

Consigne­se no mandado que não deve ser utilizada algema, salvo se, na ocasião, evidenciado risco concreto e imediato à autoridade policial.

As  considerações  ora  realizadas  sobre  as  provas  tiveram  presente  a necessidade  de  apreciar  o  cabimento  das  buscas,  tendo  sido  efetuadas  em  cognição sumária. Por óbvio, dado o caráter das medidas, algum aprofundamento na valoração e  descrição  das  provas  é  inevitável,  mas  a  cognição  é  prima  facie  e  não  representa juízo definitivo sobre os fatos, as provas e as questões de direito envolvidas, algo só viável após o fim das investigações e especialmente após o contraditório.

Decreto o sigilo sobre esta decisão e sobre os autos dos processos até a efetivação  das  buscas  e  apreensões.  Efetivadas  as  medidas,  não  sendo  mais  ele necessário  para  preservar  as  investigações,  fica  levantado  o  sigilo.  Entendo  que, considerando  a  natureza  e  magnitude  dos  crimes  aqui  investigados,  o  interesse público e a previsão constitucional de publicidade dos processos (artigo 5º, LX, CF) impedem  a  imposição  da  continuidade  de  sigilo  sobre  autos.  O  levantamento propiciará assim não só o exercício da ampla defesa pelos investigados, mas também o saudável escrutínio público sobre a atuação da Administração Pública e da própria Justiça criminal.

Ciência à autoridade policial e ao MPF desta decisão.

Expedidos  os  mandados,  entreguem­se  os  mesmos  à  autoridade policial, que, deverá, antes do cumprimento, realizar os levantamentos possíveis para confirmar ou não os endereços dos investigados.

Curitiba, 18 de abril de 2016.

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5001111­72.2016.4.04.7000 700001545249 .V72 FRH© SFM Documento eletrônico assinado por SÉRGIO  FERNANDO  MORO,  Juiz  Federal,  na  forma  do  artigo  1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010.  A  conferência  da  autenticidade  do  documento  está  disponível  no  endereço  eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php,  mediante  o  preenchimento  do  código  verificador 700001545249v72 e do código CRC 3c57fa86. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): SÉRGIO FERNANDO MORO Data e Hora: 19/04/2016 11:51:56     

Referências

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