Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Paraná
13ª Vara Federal de Curitiba
Av. Anita Garibaldi, 888, 2º andar Bairro: Ahu CEP: 80540400 Fone: (41)32101681 www.jfpr.jus.br Email: prctb13dir@jfpr.jus.br PEDIDO DE BUSCA E APREENSÃO CRIMINAL Nº 500111172.2016.4.04.7000/PR REQUERENTE: POLÍCIA FEDERAL/PR ACUSADO: DEMARCO JORGE EPIFANIODESPACHO/DECISÃO
1. Tratase de representação da autoridade policial de busca e apreensão e condução coercitiva do investigado Demarco Jorge Epifânio.Intimado, o MPF concordou com a representação policial. Requereu, adicionalmente, que seja decretado o bloqueio de valores e a indisponibilidade de bens pertencentes ao investigado (evento 5).
Decido.
2. Tramitam por este Juízo diversos inquéritos, ações penais e processos incidentes relacionados à assim denominada Operação Lavajato.
A investigação, com origem nos inquéritos 2009.70000032500 e 2006.70000186628, iniciouse com a apuração de crime de lavagem consumado em Londrina/PR, sujeito, portanto, à jurisdição desta Vara, tendo o fato originado a ação penal 504722977.2014.404.7000.
Em grande síntese, na evolução das apurações, foram colhidas provas, em cognição sumária, de um grande esquema criminoso de corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da empresa Petróleo Brasileiro S/A Petrobras cujo acionista majoritário e controlador é a União Federal.
Em quase todo grande contrato da Petrobras com seus fornecedores, haveria pagamento de vantagem indevida aos dirigentes da Petrobrás responsáveis e que era calculada em bases percentuais.
Parte da propina era ainda direcionada para agentes políticos e partidos políticos que davam sustentação à nomeação e manutenção no cargo dos dirigentes da Petrobras.
Entre os fornecedores da Petrobras e os agentes públicos e os políticos, atuariam intermediadores.
É possível realizar afirmação mais categórica em relação aos casos já julgados.
Na ação penal 508325829.2014.4.04.7000, restou provado que dirigentes da Camargo Correa pagaram R$ 50.035.912,33 em propina à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, como reconhecido na sentença.
Na ação penal 508337605.2014.4.04.7000, restou provado que dirigentes da OAS pagaram R$ 29.223.961,00 em propina à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, como reconhecido na sentença.
Na ação penal 508383859.2014.4.04.7000, restou provado o pagamento de R$ 54.517.205,85 em propinas à Diretoria da Área Internacional da Petrobrás em contratos de fornecimento de naviossondas, como reconhecido na sentença.
Na ação penal 501233104.2015.4.04.7000, restou provado o pagamento de R$ 23.373.653,76 em propinas à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás e de R$ 43.444.303,00 à Diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobrás em outras obras da Petrobrás, como as contratadas com o Consórcio Interpar e com Consórcio CMMS.
Na ação penal 508340118.2014.4.04.7000, restou provado que dirigentes da Mendes Júnior pagaram R$ 31.472.238,00 em propinas à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás, como reconhecido na sentença.
Nestas sentenças, provado o pagamento de propinas aos exDiretores da Petrobrás Paulo Roberto Costa, Renato de Souza Duque e Nestor Cuñat Cerveró, bem como ao gerente de Engenharia e Serviços da Petrobrás Pedro Barusco. Também nelas identificados como intermediadores das propinas e igualmente encarregados da lavagem de dinheiro correspondente Alberto Youssef, Júlio Camargo, Mario Goes, Adir Assad e Fernando Soares.
Para os fins deste processo, merece análise mais detida a sentença prolatada na ação penal 508383859.2014.4.04.7000.
Como consta na referida sentença, houve pagamento de propinas à Diretoria Internacional da Pebrobrás em decorrência da contratação pela Petrobras do fornecimento dos Naviossondas Petrobrás 10.000 e Vitoria 10.000 junto à empresa Samsung Heavy Industries Co.
Júlio Gerin de Almeida Camargo, Fernando Antônio Falcão Soares e Alberto Youssef teriam intermediado o pagamento das propinas nos dois contratos.
Identificado naquele caso como beneficiário o então Diretor da Área Internacional da Petrobrás Nestor Cuñat Cerveró.
Supervenientemente, o condenado Fernando Antônio Falcão Soares celebrou acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República e que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal.
A Suprema Corte desmembrou as apurações, remetendo a este Juízo cópia dos depoimentos relativos a crimes praticados por pessoas destituídas de foro privilegiado (processo 50509682420154047000).
Nos termos de declarações nºs 01 e 02 (evento 1, arquivos termo2 e termo3, processo 50509682420154047000), descreveu em detalhes o pagamento de propina nos contratos envolvendo o fornecimento dos Naviossondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000.
No primeiro termo, relativo ao NavioSonda Petrobrás 10.000, Fernando Soares declarou que discutiu o pagamento de vantagem indevida não só com Nestor Cuñat Cerveró, mas também com o gerente executivo da Área Internacional da Petrobrás Luis Carlos Moreira e que outros empregados da Petrobrás seriam também beneficiados, inclusive o ora investigado Demarco Jorge Epifânio. Também declarou que houve pagamentos a agentes políticos. Transcrevo trecho:
"... que, quando o negócio começou a andar, em razão da confiança que tinha com Nestor Cerveró e Moreira, o depoente propôs que houvesse o pagamento de parte de sua comissão para o grupo técnico da Petrobrás; que fez tal sugestão em razão da relação de amizade e por eles terem oportunidade negócios do depoente com a Petrobrás; que, do valor da comissão do depoente, o depoente repassaria aproximadamente oito ou nove milhões de dólares para os funcionários da Petrobrás e o depoente ficaria com cerca de seis ou sete milhões de dólares; que ainda não tinha conhecimento de como seria a divisão interna entre eles, pois em um primeiro momento conversou apenas com Nestor Cerveró e Luis Moreira; que, posteriormente, apareceu o nome dos outros técnicos que também receberam valores, que foram Rafael Comino, Cezar Tavares, Eduardo Musa e o Demarco; (...) que então o depoente recebia de Moreira as instruções sobre como deveria ser pago o valor devido; que Moreira era quem tinha a tabela dos valores a serem pagos e fazia o controle dos pagamentos dos valores; que as conversas com Moreira eram feitas no escritório particular dele, próximo da Petrobrás; (...) que, em pesquisa pela internet, por meio do google street view, o depoente identificou, com certeza absoluta, a rua como sendo Senador Dantas, nº 75, e o edifício como sendo Christina Barnard, conforme fotografia em anexo; (...) que nestas reuniões no escritório de Luis Moreira participaram também Cezar Tavares, Rafael Comino, o próprio Luis Moreira e com menor frequência Edson Musa e Demarco; que todos estes receberam valores; que sabe disto porque tratou de valores com eles e porque os nomes deles vinham nas tabelas indicadas por Moreira; (...) que era Moreira quem indicava as contas e os valores a serem pagos; que Moreira sempre indicava contas no exterior para pagamentos; (...)"
No segundo termo, relativo ao Naviosonda Vitoria 10.000, as declarações de Fernando Soares foram bastante similares. Transcrevo trecho:
"que questionado quais funcionários da Petrobrás estavam envolvidos neste segundo navio sonda, respondeu que foram os mesmos que estavam envolvidos no primeiro navio sonda, quais sejam: Luiz Carlos Moreira, Nestor Cerveró, Rafael Comino, Cezar Tavares, Demarco e Eduardo Musa; (...) que todos esses funcionários da Petrobrás receberam vantagens indevidas e participaram de alguma forma do processo de aquisição do navio sonda Vitória 10.000, embora o depoente não saiba especificamente a participação de cada um; que dos vinte milhões de dólares que o depoente receberia, acredita que cerca de sete milhões de dólares ficariam para o
depoente e o restante (treze milhões de dólares) para os funcionários da Petrobrás; (...) que questionado com quem acertou tais pagamentos, respondeu que foi com Nestor Cerveró e com Luiz Moreira; que, porém, todos os demais funcionários da Petrobrás mencionados acima iriam receber parte dos valores; (...) que as contas bancárias e os respectivos valores a serem pagos, relativos aos funcionários da Petrobrás mencionados, continuaram a ser indicados por Luiz Carlos Moreira, da mesma forma que no primeiro navio sonda; que sempre foram contas no exterior; (...) que questionado ao depoente quais dos funcionários da Petrobras mencionados acima possuíam contas no exterior, respondeu que Nestor Cerveró possuía na Suíça; que Cezar Tavares também possuía conta na Suíça e talvez, embora não tenha certeza, também em Liechtenstein; (...) que Luis Carlos Moreira também possuía conta na Suiça; que Demarco também tinha uma conta no exterior, pois certa vez o próprio Demarco passou uma conta para o depoente realizar um depósito, em uma reunião no escritório do Luis Moreira; (...) que todas as contas no exterior que foram passadas para o depoente por Moreira estavam em nome de empresas offshore; (...)"
Eduardo Costa Vaz Musa também celebrou acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal (processo 504008603.2015.4.04.7000). Ele, que também atuou, como gerente geral, na Área Internacional da Petrobras, confirmou que recebeu propinas em contratos da área, inclusive mediante depósitos em contas mantidas no exterior em nome de offshores. Transcrevo trechos dos depoimentos juntados no processo 504008603.2015.4.04.7000 relativos às propinas recebidas nos contratos de fornecimento dos Navios sonda Petrobrás 10.000 e Vitoria 10.000:
"que, de 2006, até se aposentar ficou como gerente geral da área internacional, sendo indicado por Luis Carlos Moreira e Nestor Cerveró; (...) que o tema de pagamento de propina foi apresentado ao declarante por Luiz Carlos Moreira; que, por volta de julho de 2006, quando o declarante estava começando a trabalhar no desenvolvimento do projeto do navio sonda Petrobrás 10.000, Moreira mostrou uma planilha de divisão de propinas da área internacional da Petrobras; (..." que nesta planilha estavam Pasadena e Petrobrás 10.000, sendo que o navio Vitoria 10.000 foi acrescentado posteriormente; que a planilha foi apresentada nesta reunião que estavam presentes Luis Moreira, gerente executivo de Nestor Cerveró, Cezar Tavares, exfuncionário e contratado como consultor de Moreira e Rafael Comino, gerente da área internacional, sendo que todos recebiam propin proporcionalmente e conforme a atuação nos projetos; (...) que nesta sonda [Vitoria 10.000] e na Petrobrás 10.000 houve pagamento de vantagem indevida pela Samsung" (termo de declaração nº 1, evento 6, anexo2, do processo 504008603.2015.4.04.7000) "que, nesta época, por volta de agosto de 2006, o declarante, Luis Moreira e Cezar Tavares tiveram uma reunião com Fernando Soares e Jorge Luz no endereço da Rua Rodrigo Silva, nº 8, Centro do Rio de Janeiro; (...) que nesta reunião foi explicado como seria o pagamento da propina referente ao Petrobrás 10.000; que foi explicado por Moreira que ele (Moreira) e Cezar Tavares tinham um doleiro no Uruguai que abria offshores e fazia as transferências bancárias e que o declarante teria que montar um esquema para recebimento de propinas; que Moreira e Tavares propuseram auxiliar o declarante a utilizar o mesmo esquema; que o declarante preferiu não aderir ao esquema de Moreira e Tavares, pois montou o seu próprio esquema se utilizando do Banco Credit Suisse, que abriu uma offshore no Panama de nome FTP Sons e posteriormente abriu uma conta bancária na Suíça; (...) que então o declarante recebeu cerca de USD 50.0000,00 através de Fernando Soares que lhe foi aprsentado por Moreira, que teve várias reuniões para tratar do assunto com Fernando Soares que foi o próprio Fernando Soares quem lhe pagou no exterior, que nesse caso Cerveró e Luis Carlos Moreira também receberam dinheiro de Fernando Soares; (...)" (termo de declaração nº 2, evento 6, anexo3, do processo 504008603.2015.4.04.7000)
"que, para o recebimento das vantagens indevidas dos contratos da área internacional, o declarante foi orientado por Luis Moreira a abrir contas no exterior; que isto ocorreu por volta de 2006; que Moreira chegou a oferecer os serviços de um doleiro uruguaio que gerenciava as contas de Moreira; que o declarante optou por abrir contas na Suíça, utilizandose dos serviços do Banco Credit Suisse; (...)" (termo de declaração nº 4, evento 6, anexo5, do processo 504008603.2015.4.04.7000)
Além da confissão relativa à intermediação de propinas nos contratos de fornecimento dos NaviosSondas Petrobrás 10.000 e Vitoria 10.000, Fernando Soares admitiu a intermediação de propinas na aquisição de cinquenta por cento pela Petrobrás da Refinaria de Pasadena nos Estados Unidos (termo de declaração nº 5, evento 1, arquivo termo6, processo 50509682420154047000). Teria havido pagamentos para agentes da Petrobrás e para agentes políticos. Transcrevo trecho:
"que questionado sobre a compra e venda da Refinaria de Pasadena, nos EUA, o depoente respondeu que tais fatos se iniciaram em 2005; (...) que, ainda em 2005, teve uma nova com Nestor Cerveró e Moreira na Petrobrás, na qual questionou se haveria algum acerto de pagamento de comissão neste negócio; que ambos responderam que sim e, inclusive, deram mais detalhes sobre o negócio para o depoente; que disseram como estava andando a neciação e que o negócio tinha sido trazido para eles por um assessor de Nestor Cerveró, de nome Agustino Mônaco, que trabalhava na Petrobrás; (...) que ainda disseram ao depoente que haveria uma negociação de comissionamento, mas que ainda não haviam sido fechados os detalhes do valor; que iriam no entanto conversar com as pessoas envolvidas na Astra Oil; que Nestor Cerveró conversava mais, sobre este tema das comissões, com um exfuncionário da Petrobrás, que então era Diretor da Astra Oil e que era próximo do Monaco; que tal pessoa era Alberto Feilhaber; (...) que, em uma conversa posterior, que acredita que tenha ocorrido ainda em 2005, Nestor Cerveró e Moreira disseram ao depoente que lograram fechar uma comissão no valor de quinze milhões de dólares e desse valor ficou acordado que cinco milhões de dólares seriam devolvidos ao Alberto Feilhaber; (...) que questionado quem seriam as pessoas na área internacional que receberiam os seis milhões de dólares, respondeu que seriam Nestor Cerveró, Mônaco, Luis Moreira, Rafael Comino e Cezar Tavares; (...)"
Releva ainda destacar que Fernando Soares declarou que, para o repasse da propina na aquisição da Refinaria de Pasadena e para o pagamento da propina nos contratos dos Navios sondas, utilizou os mesmos instrumentos, inclusive a offshore Three Lions, com contas na Suíça, Liechtenstein, em Hong Kong, realizando as transferências paras as contas offshores dos agentes da Petrobrás que lhes eram indicadas por Luiz Moreira.
Pelo que se depreende dos depoimentos de Fernando Soares e de Eduardo Musa, aparentemente convergentes, teriam sido pagas propinas em contratos no âmbito da Diretoria Internacional da Petrobrás relativos ao fornecimento dos NaviosSondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000, além de propinas na aquisição da Refinaria de Pasadena.
Os pagamentos envolviam, em regra, as mesmas pessoas, os agentes da Área Internacional da Petrobrás e o referido intermediador, e o mesmo modus operandi, repasses das propinas por contas mantidas em nome de offshores no exterior por Fernando Soares para contas mantidas em nome de offshores no exterior pelos agentes da Petrobrás. Aparentemente, algumas contas foram utilizadas repetidamente nos três esquemas criminosos.
Embora os depoimentos provenham de colaboradores criminosos, há certa prova de corroboração.
Afinal, Julio Gerin de Almeida Camargo e Fernando Soares já foram condenados criminalmente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal 508383859.2014.4.04.7000, exatamente pela intermediação de propinas, ocultação e dissimulação, nos contratos de fornecimento dos NaviosSondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000.
Na ocasião, juntados naqueles autos, entre vários documentos, cópias de extratos da conta Piemonte Investments, no Banco Winterbotham, no Uruguai, revelando o recebimento de pagamentos da Samsung, seguidos de diversas transferências para contas em nome de offshores (evento 23 da referida ação penal).
Também juntados naqueles autos cópias dos documentos e extratos da conta em nome da off shore Three Lions Energy Inc, constituída nas Ilhas Virgens Britânicas, que era mantida no Bank Leu, em Genebra, na Suíça, e que, controlada por Fernando Soares, recebeu valores da Piemonte e foi utilizada, em seguida, para repasse de propinas (eventos 549 e 556, da referida ação penal). Naquele feito, identificado, porém, como beneficiário apenas o acusado Nestor Cerveró, Diretor Internacional da Petrobrás, e a conta deste em nome da off shore Russel Advisors também mantida na Suíça.
Embora das contas de Júlio Camargo e Fernando Soares exista o registro de diversas outras transferências bancárias, não foi possível identificar os seus titulares/beneficiários, pelas dificuldades inerentes ao rastreamento bancário no exterior.
Da mesma forma, Eduardo Musa, além de confessar os crimes, apresentou extratos de suas contas offshores mantidas na Suíça e que receberam os depósitos de propina.
Nessas condições, em que a palavra dos colaboradores ganha credibilidade, resta justificado o aprofundamento da investigações em relação às propinas pagas nos contratos de fornecimento dos NaviosSondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000 e o início da investigação em relação a propinas pagas na aquisição da Refinaria de Pasadena.
Reputei, assim, presente causa provável e autorizei, a pedido do MPF, a expedição de mandados de busca e apreensão nos endereços relacionados a Luís Carlos Moreira da Silva, Rafael Mauro Comino, Cezar de Souza Tavares e Agosthilde Mônaco de Carvalho, por meio de decisão proferida nos autos de n.º 505287704.2015.404.7000.
As diligências foram cumpridas na data de 16/11/2015.
A mesmas razões se aplicam a Demarco Jorge Epifânio que, segundo os colaboradores, teria recebido parte da propina decorrente da divisão paga nos contratos de fornecimento dos NaviosSondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000.
Fernando Soares, como visto, declinou o nome de Demarco Epifânio, ao lado do de Carlos Moreira, Rafael Comino, Cezar Tavares e Eduardo Musa como beneficiário de propina, conforme se verifica de trecho de sua colaboração premiada acima transcrito.
Ouvido novamente, Fernando confirmou o nome de Demarco Jorge Epifânio como sendo um dos executivos da Área Internacional beneficiados pelo recebimento de propina nos contratos de fornecimento dos naviossonda. Destaco os seguintes trechos de seus depoimentos (termos de depoimento originários dos autos 505096824.2015.404.7000 e do IPL 2307/2015 e que foram acostados pelo MPF no evento 5, comp2, comp3 e comp4):
"QUE do valor da comissão do depoente, o depoente repassaria aproximadamente oito ou nove milhões de dólares para os funcionários da PETROBRAS e o depoente ficaria com cerca de seis ou sete milhões de dólares; QUE ainda não tinha conhecimento de como seria a divisão interna entre eles, pois em um primeiro momento conversou apenas com NESTOR CERVERÓ e LUIS MOREIRA; QUE, posteriormente, apareceu o nome dos outros técnicos que também receberam valores, que foram RAFAEL COMINO, CEZAR TAVARES, EDUARDO MUSA e o DEMARCO".
"QUE questionado quais funcionários da PETROBRAS estavam envolvidos neste segundo navio sonda, respondeu que foram os mesmos que estavam envolvidos no primeiro navio sonda, quais sejam: LUIZ CARLOS MOREIRA, NESTOR CERVERÓ, RAFAEL COMINO, CEZAR TAVARES, DEMARCO e EDUARDO MUSA; QUE mostrada a foto de DEMARCO JORGE EPIFÂNIO, em anexo, o depoente reconhece como sendo a pessoa de DEMARCO mencionada. Que todos estes funcionários da PETROBRAS receberam vantagens indevidas e participaram de alguma forma do processo de aquisição do navio sonda VITÓRIA 10.000, embora o depoente não saiba especificamente a participação de cada um."
"Que Demarco também tinha uma conta no exterior, pois certa vez o próprio DEMARCO passou uma conta para o depoente realizar um depósito, em uma reunião no escritório do LUIS MOREIRA. Que por isto acredita que a conta seja dele, mas não sabe se estava em nome dele ou de alguma pessoa de confiança. Que acredita que tal conta seja na Suíça".
"QUE houve uma ocasião em que DEMARCO EPIFÂNIO entregou diretamente ao declarante uma conta bancária para crédito da propina, e que em outra ocasião EDUARDO MUSA fez o mesmo".
Eduardo Musa, ao seu turno, também confirmou que Demarco Epifânio participava do grupo que recebia propina nos contratos de naviossonda, porém, alegou desconhecer o meio pelo qual ele recebia a vantagem indevida (depoimento prestado no IPL 2307/2015, cujo termo restou acostado pelo MPF no evento 5, comp5):
"QUE com relação aos pagamentos efetuados para os demais executivos da Área Internacional RAFAEL COMINO, DEMARCO EPIFÂNIO, CEZAR TAVARES, LUIS CARLOS , se recorda apenas que TAVARES e MOREIRA utilizavam os serviços de um doleiro uruguaio, e que inclusive o indicaram para o declarante; QUE não chegou a contatar o doleiro uruguaio e acabou montando uma offshore por conta própria; QUE DEMARCO passou muito tempo na Inglaterra e portanto o declarante não tinha contato frequente com ele, desconhecendo como ele recebia a propina".
O colaborador Agosthilde Mônaco relatou, ainda, um empréstimo que teria feito a Demarco, no valor de USD 200.000,00, para que ele efetuasse a compra de um apartamento para o seu filho no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro/RJ. Segundo Agosthilde, Demarco comprometeuse a restituir o valor mediante transferência da sua conta corrente no exterior para a conta do colaborador, o que efetivamente teria ocorrido (evento 5, comp6).
Segundo informações prestadas por Agosthilde (termo 01, anexado no evento 5, comp6), o valor teria sido retirado do montante de USD 1.800.000,00 recebidos pelo colaborador a título de propina referente à aquisição da Refinaria Pasadena, e entregues em espécie a Demarco. Posteriormente, o valor teria sido quitado por meio de uma transferência no exterior, a crédito na conta Akabas, controlada por Agosthilde, no valor de USD 200.000,00.
Agosthilde forneceu extratos nos quais foi possível localizar dois créditos no valor de USD 200.000,00 na conta Akabas, um "por ordem de cliente" (auftrag eines kunden), de agosto de 2007, e outro da Piemonte Investment Corp, controlada por Julio Camargo, de junho de 2007 (fls. 6 e 8, evento 1, out10, autos 505563723.2015.404.7000). Segundo ele, um dos créditos representaria o pagamento do empréstimo concedido a Demarco e o outro corresponderia a um saldo de propina referente à Pasadena devido por Luis Carlos Moreira.
Julio Camargo foi ouvido a respeito do crédito efetuado pela Piemonte na conta da Akabas. Confirmou que a transação em favor da sua empresa foi realizada para fins de pagamento de vantagem indevida relativa ao contrato dos naviossonda:
QUE com relação a pagamento originado da PIAMONTE à AKABAS, em 2007, no valor de US$ 200.000,00, afirma desconhecer quem foi o beneficiário final dos valores, mas que com certeza tratouse de conta provida por FERNANDO SOARES, relativa ao contrato do naviosonda; QUE tendo lhe sido informado que a conta AKABAS pertence a AGOSTHILDE MONACO, afirma que desconhecia tal fato; QUE nunca realizou qualquer pagamento referente ao contrato da Refinaria de PASADENA; QUE acredita ser possível que a conta AKABAS tenha sido indicada por SOARES para fins de algum tipo de compensação interna entre os beneficiados da propina."
Apesar disso, não foi possível confirmar qual dos dois créditos na conta de Agosthilde referiase à compensação do empréstimo concedido a Demarco.
Pelo teor dos depoimentos prestados pelos colaboradores Fernando Soares, Eduardo Musa e Agosthilde Mônaco, Demarco Epifânio teria participado do grupo que recebia vantagem indevida decorrente dos contratos de fornecimento dos naviossonda e possivelmente da aquisição da Refinaria de Pasadena.
Outro elemento de corroboração consiste na identificação, por relatório de auditoria interna da Petrobras, DIP E&PInter 290/2015 (evento5, arquivo com9 a comp51), que identificou um séria de irregularidades na conduta profissional do investigado.
Entre elas, Foi inclusive apontada mensagem eletrônica na qual Demarco Epifânio e Bassim Djahjah, também funcionário da Petrobras, externam a intenção de apresentar à então Presidente da Petrobras Graça Foster somente o melhor cenário relativo um projeto da Área Internacional, omitindo detalhes que pudessem prejudicar a aprovação (fls. 2, comp34, evento 5).
Em outra mensagem, Demarco afirma que teve apoio de três antigos diretores da Petrobras todos já condenados por este Juízo: "lembra que a gente só chegou onde chegou porque o Dinter (Nestor e depois o Zelada) e o Dabast (Paulo Roberto) nos apoiavam e incentivavam a prosseguir" (fls. 3/4, comp34, evento 5).
Reputo presente, assim, causa provável apta a justificar o acolhimento da representação da autoridade policial e do pedido do MPF pela expedição de mandado de busca e apreensão nos endereços residencial e profissional de Demarco Jorge Epifânio.
Representou, ainda, a autoridade policial pela expedição de mandado de busca e apreensão nos endereços ligados a Julio Gerin de Almeida Camargo e a Luis Carlos Moreira da Silva, onde afirmam Fernando Soares e Agosthilde de Mônaco, teria havido reunião dos investigados para o acertamento de propina.
O objetivo da medida, segundo informa a autoridade policial, é apreender eventual registro de acesso de pessoas aos logradouros para corroborar ou afastar a tese de que os participantes do esquema reuniramse nos escritórios de Julio Camargo e Luis Moreira.
Luis Carlos Moreira foi apontado por Fernando Soares como o responsável pelo gerenciamento das contas bancárias em que tanto Fernando como Julio Camargo deveriam efetuar os depósitos. Fernando declarou que as conversas com Moreira para tratar dos pagamentos ilícitos eram realizadas no escritório particular dele, situado na Rua Senador Dantas, 75, Rio de Janeiro/RJ. Afirmou, inclusive, que Demarco participava de tais reuniões, ainda que esporadicamente. Destaco por oportuno (comp2, evento 5):
QUE então o depoente recebia de MOREIRA as instruções sobre como deveria ser pago o valor devido; QUE MOREIRA era quem tinha a tabela dos valores a serem pagos e fazia o controle dos pagamentos dos valores; QUE as conversas com MOREIRA eram feitas no escritório particular dele, próximo da PETROBRAS; QUE se tratavam de duas salas, sem identificação de qualquer empresa, e com uma secretária; QUE acredita que o nome da secretária fosse ELISANGELA; QUE este prédio é em uma rua lateral, na qual está a entrada da garagem da PETROBRAS; QUE seguindo esta rua, ela faz uma curva, sendo que o prédio onde estava o escritório dele estava em frente a esta curva; QUE este prédio deve estar a menos de cem metros da PETROBRAS; QUE em pesquisa pela internet, por meio do google street view, o depoente identificou, com certeza absoluta, a rua como sendo Senador Dantas, n. 75, e o edifício como sendo CHRISTIAN BARNARD, conforme fotografia em anexo; QUE chegou a questionar LUIS MOREIRA por qual motivo tinha aquele escritório e ele afirmou que começou a prestar consultoria em algumas áreas, inclusive para a CEDAE, mesmo ainda sendo funcionário da PETROBRAS; QUE nestas reuniões no escritório do LUIS MOREIRA participaram também CEZAR TAVARES, RAFAEL COMINO, o próprio LUIS MOREIRA e com menor frequência EDSON MUSA e DEMARCO; QUE todos estes receberam valores;
Agosthilde de Mônaco afirmou que também no escritório de Luis Carlos Moreira teria ocorrido reuniões a respeito do pagamento de propina referente à Refinaria de Pasadena. Transcrevo (comp6, evento 5):
"Que sabe informar ainda que o Sr. LUIS CARLOS MOREIRA tinha um escritório de "negócios" no Edifício Christian Barnard, na Rua Senador Dantas n° 75, com entrada pela Rua Lelia Gama, Centro do Rio de Janeiro, ao lado do Edifício Sede da Petrobras, cujo número da sala não se recorda, onde eram tratados todos esses assuntos e realizadas reuni6es com o Sr. FERNANDO SOARES.
Ouvido no inquérito 2307/2015, Luis Carlos Moreira confirmou que manteve escritório no referido endereço, porém negou que tenha realizado reuniões com a finalidade de ajustar o pagamento de propinas (comp8, evento 5).
Outro lugar indicado pelos colaboradores como sendo utilizado para tratativas referentes ao pagamento de vantagens indevidas foi o escritório de Julio Camargo, situado na Rua da Assembleia, 10, Rio de Janeiro/RJ.
Fernando Soares afirmou que referido local teria sido utilizado para a cobrança de propina referente aos contratos de naviossonda no ano de 2008, ocasião em que estavam também presentes Luis Carlos Moreira e Cezar Tavares. Transcrevo (comp3, evento 5):
QUE após a saída de NESTOR CERVERÓ, o depoente e o corpo técnico da PETROBRAS, mais especificamente LUIS CARLOS MOREIRA e CEZAR TAVARES, realizaram duas ou três reuniões com JÚLIO CAMARGO para cobrar os valores devidos; QUE acredita que tais reuniões ocorreram no escritório do JÚLIO CAMARGO, na Rua da Assembleia, n. 10, no Rio de Janeiro; QUE, conforme dito, nestas reuniões participaram, além de JÚLIO CAMARGO, o depoente, CEZAR TAVARES e LUIS MOREIRA; QUE JÚLIO CAMARGO dizia, nestas reuniões, sempre a mesma estória, sobre a necessidade de aprovação dos contratos de spare parts como condição para retomada dos pagamentos.
QUE posteriormente, em 2008, manteve reuniões com CAMARGO, CEZAR TAVARES e MOREIRA com o fim de cobrar CAMARGO pelas propinas em atraso; QUE se recorda que houve encontros no escritório de JULIO CAMARGO, onde havia controle de portaria.
O fato foi negado por Julio Gerin de Almeida Camargo, que negou também conhecer quais executivos da Área Internacional eram beneficiários de propina.
A medida então se faz necessária para a obtenção do registro de acesso de pessoas aos escritórios de Luis Carlos Moreira e Julio Gerin de Almeida Camargo, a fim de verificar se houve ou não a reunião dos investigados em tais locais.
O quadro probatório acima apontado é mais do que suficiente para caracterizar causa provável a justificar a realização de busca e apreensão nos endereços apontados como sendo os escritórios de Luis Carlos Moreira da Silva e Julio Gerin de Almeida Camargo. Essa diligência teria a finalidade única de obter os registros de acessos de pessoas aos prédios, sendo de se observar que pelo menos um dos endereços já sofeu busca e apreensão mais ampla.
3. Assim, defiro, nos termos do artigo 243 do CPP, o requerido, para autorizar a expedição de mandados de busca e apreensão, a serem cumpridos durante o dia, nos seguintes endereços: i. Demarco Jorge Epifânio, CPF 546.874.54704, endereço profissional e residencial; ii. prédio na Avenida Senador Dantas, n.º 75, Rio de Janeiro/RJ, onde Luis Carlos Moreira da Silva manteve escritório; iii. prédio na Rua da Assembleia, n.º 100, Rio de Janeiro/RJ, onde Júlio Geri de Almeida Camargo mantém escritório.
Os mandados 2 e 3 têm por finalidade exclusiva a obtenção dos registros arquivados de todos os acessos de pessoas ao prédio, a ser obtido junto à recepção/portaria do edifício ou onde estiverem sendo mantidos no mesmo prédio.
Os mandados referenciados no item 1 terão por objeto a coleta de provas relativa à prática pelo investigado dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas, além dos crimes antecedentes à lavagem de dinheiro, especialmente o pagamento e o recebimento de propinas em contratos da Petrobrás:
registros e livros contábeis, formais ou informais, recibos, agendas, ordens de pagamento e em especial documentos relacionados à manutenção e movimentação de contas no Brasil e no exterior, em nome próprio ou de terceiros; documentos relativos à titularidade de propriedades ou a manutenção de propriedades em nome de terceiros; contratos de consultoria e eventuais relatórios ou documentos relativos à prestação de serviços ou das contas, que possam ter sido utilizados para acobertar o recebimento ou repasse de propinas;
HDs, laptops, pen drives, smartphones, arquivos eletrônicos, de qualquer espécie, agendas manuscritas ou eletrônicas, dos investigados ou de suas empresas, quando houver suspeita que contenham material probatório relevante, como o acima especificado;
valores em espécie em moeda estrangeira ou em reais de valor igual ou superior a R$ 50.000,00 ou USD 50.000,00 e desde que não seja apresentada prova documental cabal de sua origem lícita;
obras de arte de elevado valor ou objeto de luxo sem comprovada aquisição com recursos lícitos.
Consignese nos mandados, em seu início, o nome dos investigados e os respectivos endereços, cf. especificação feita pela autoridade policial na representação.
No desempenho desta atividade, poderão as autoridades acessar dados armazenados em eventuais computadores, arquivos eletrônicos de qualquer natureza, inclusive smartphones, que forem encontrados, com a impressão do que for encontrado e, se for necessário, a apreensão, nos termos acima, de dispositivos de bancos de dados, disquetes, CDs, DVDs ou discos rígidos. Autorizo desde logo o acesso pelas autoridades policiais do conteúdo dos computadores no local das buscas e de arquivos eletrônicos apreendidos, mesmo relativo a comunicações eventualmente registradas. Autorizo igualmente o arrombamento de cofres caso não sejam voluntariamente abertos. Consignese estas autorizações específica no mandado.
As diligências deverão ser efetuadas simultaneamente e se necessário com o auxílio de autoridades policiais de outros Estados, peritos ou ainda de outros agentes públicos, incluindo agentes da Receita Federal.
Considerando a dimensão das diligências, deve a autoridade policial responsável adotar postura parcimoniosa na sua execução, evitando a colheita de material desnecessário ou que as autoridades públicas não tenham condições, posteriormente, de analisar em tempo razoável.
Deverá ser encaminhado a este Juízo, no prazo mais breve possível, relato e resultado das diligências.
Desde logo, autorizo a autoridade policial a promover a devolução de documentos e de equipamentos de informática se, após seu exame, constatar que não interessam à investigação ou que não haja mais necessidade de manutenção da apreensão, em decorrência do término dos exames. Igualmente, fica autorizado a promover, havendo requerimento, cópias dos documentos ou dos arquivos eletrônicos e a entregálas aos investigados, as custas deles.
A competência se estabelece sobre crimes e não sobre pessoas ou estabelecimentos. Assim, em princípio, reputo desnecessária a obtenção de autorização para a busca e apreensão do Juízo do local da diligência. Esta só se faz necessária quando igualmente necessário o concurso de ação judicial (como quando se ouve uma testemunha ou se requer intimação por oficial de justiça). A solicitação de autorização no Juízo de cada localidade colocaria em risco a simultaneidade das diligências e o seu sigilo, considerando a multiplicidade de endereços e localidades que sofrerão buscas e apreensões.
A efetiva expedição dos mandados de busca dependerá da apresentação/confirmação dos endereços discriminados dos investigados, conforme manifestação da autoridade policial. 4. Pleiteou o MPF o sequestro de ativos mantidos pelo investigado em suas contas correntes. Autorizam o artigo 125 do CPP e o artigo 4.º da Lei n.º 9.613/1998 o sequestro do produto do crime. Viável o decreto do bloqueio dos ativos financeiros do investigado em relação ao qual há prova de pagamento ou recebimento de propina.
Não importa se tais valores, nas contas bancárias, foram misturados com valores de procedência lícita. O sequestro e confisco podem atingir tais ativos até o montante dos ganhos ilícitos.
Considerando os valores milionários dos supostos crimes, resolvo decretar o bloqueio das contas dos investigados até o montante de 10 milhões de reais.
Defiro, portanto, o requerido e decreto o bloqueio dos ativos mantidos em contas e investimentos bancários do investigado Demarco Jorge Epifânio, CPF 546.874.54704.
O bloqueio será implementado pelo BacenJud quando da execução dos mandados de busca. Juntese oportunamente o comprovante aos autos.
Observo que a medida ora determinada apenas gera o bloqueio do saldo do dia constante nas contas ou nos investimentos. Caso haja bloqueio de valores atinentes a salários, promoverei, mediante requerimento e comprovação, a liberação.
O MPF requereu também seja decretada a indisponibilidade de quaisquer outros bens e valores pertencentes a Demarco Epifânio.
Defiro o pedido, uma vez que o bloqueio via BacenJud é restrito, sendo plausível a hipótese de que o investigado mantenha aplicações em ações, fundos de investimento, previdência privada e congêneres.
Quanto ao bloqueio dos demais ativos, oficiese ao Banco Central do Brasil para que tome as providências necessárias para a indisponibilidade de quaisquer bens ou valores titularizados pelos investigados sob guarda das instituições financeiras, tais como ações, participações em fundos de ações, letras hipotecárias ou quaisquer outros fundos de investimento, assim como PGBL Plano Gerador de Benefício Livre, VGBL Vida Gerados de Benefício Livre e Fundos de Previdência Fechado, devendo o Banco Central do Brasil comunicar à totalidade das instituições a ele submetidas, não se limitando àquelas albergadas no sistema BacenJud, tais como as instituições financerras que administrem fundos de investimento, inclusive das que detenha a administração, participação ou controle, às cooperativas de crédito, corretoras de câmbio, as corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários.
Consignese no ofício ao Banco Central que as instituições financeiras deverão efetuar apenas o bloqueio, sem a transferência do valor para a conta judicial até ulterior determinação do juízo, a fim de se evitar eventuais perdas em razão do resgate antecipado. A transferência à conta do Juízo deve se dar apenas na melhor data para resgate, o que deverá ser informado.
Consignese no ofício ao Banco Central que, para fins de discriminação quanto à origem lícita ou ilícita, devem as instituições financeiras fornecer extratos em formato .txt ou .pdf, relativamente aos anos de 2004 a 2015.
Oficiese também à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que tome as providencias necessárias para a indisponibilidade de quaisquer ações/bens titularizados pelos investigados, devendo comunicar, se for o caso, a totalidade das
entidades custodiantes a ela submetidas para a efetivação da medida.
Os ofícios só serão encaminhados na data de realização das buscas. 5. Pleiteou, ainda, o Ministério Público Federal, autorização para a condução coercitiva de Demarco Epifânio para a tomada de seu depoimento.
Medida da espécie não implica cerceamento real da liberdade de locomoção, visto que dirigida apenas a tomada de depoimento. Mesmo com a condução coercitiva, mantémse o direito ao silêncio do investigado.
A medida é ainda necessária diante da informação prestada pelo MPF de que Demarco não teria comparecido para prestar depoimento perante comissão interna da Petrobras, fato que demonstra sua possível intenção de não colaborar com as investigações.
Assim, expeçase quanto a ele mandado de condução coercitiva, consignando o número deste feito, a qualificação do investigado e o respectivo endereço a ser informado pela autoridade policial.
Consignese no mandado que não deve ser utilizada algema, salvo se, na ocasião, evidenciado risco concreto e imediato à autoridade policial.
As considerações ora realizadas sobre as provas tiveram presente a necessidade de apreciar o cabimento das buscas, tendo sido efetuadas em cognição sumária. Por óbvio, dado o caráter das medidas, algum aprofundamento na valoração e descrição das provas é inevitável, mas a cognição é prima facie e não representa juízo definitivo sobre os fatos, as provas e as questões de direito envolvidas, algo só viável após o fim das investigações e especialmente após o contraditório.
Decreto o sigilo sobre esta decisão e sobre os autos dos processos até a efetivação das buscas e apreensões. Efetivadas as medidas, não sendo mais ele necessário para preservar as investigações, fica levantado o sigilo. Entendo que, considerando a natureza e magnitude dos crimes aqui investigados, o interesse público e a previsão constitucional de publicidade dos processos (artigo 5º, LX, CF) impedem a imposição da continuidade de sigilo sobre autos. O levantamento propiciará assim não só o exercício da ampla defesa pelos investigados, mas também o saudável escrutínio público sobre a atuação da Administração Pública e da própria Justiça criminal.
Ciência à autoridade policial e ao MPF desta decisão.
Expedidos os mandados, entreguemse os mesmos à autoridade policial, que, deverá, antes do cumprimento, realizar os levantamentos possíveis para confirmar ou não os endereços dos investigados.
Curitiba, 18 de abril de 2016.
500111172.2016.4.04.7000 700001545249 .V72 FRH© SFM Documento eletrônico assinado por SÉRGIO FERNANDO MORO, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 700001545249v72 e do código CRC 3c57fa86. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): SÉRGIO FERNANDO MORO Data e Hora: 19/04/2016 11:51:56