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CRIAÇÃO LITERÁRIA. Compreender a natureza da obra literária. Ao final desta aula, você deverá :

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Academic year: 2021

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Ao final desta aula, você deverá :

• reconhecer a arte como criação;

• perceber a criação literária como arte.

Compreender a natureza da obra literária.

Meta

Objeti

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Aula

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AULA III

CRIAÇÃO LITERÁRIA

1 INTRODUÇÃO

A natureza da obra literária, ou seja, a compreensão da especificidade do literário, de como se dá sua existência, como é constituída sua essência, aquilo que tem de primordial, é uma reflexão fundamentalmente filosófica, mas que tem preocupado os estudiosos da arte e, particularmente, da literatura. Desta forma, o empreendimento da compreensão da natureza do literário significa penetrar nas questões primordiais que possam auxiliar na constituição da obra. Nesta aula, você verá que preocupações relevantes, tais como a existência do ato criativo e sua manifestação como arte literária, se mostram de suma importância para o entendimento da própria literatura em seus vários aspectos ao longo do tempo.

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2 A ARTE COMO CRIAÇÃO

Em aula anterior, você estudou que, na Antiguidade Clássica, é onde se encontram as primeiras manifestações literárias, bem como as primeiras reflexões sobre literatura, através de dois de seus filósofos: Platão e Aristóteles. Pois bem, o ato criador tem sido pensado por filósofos, pensadores e críticos, bem como parte daqueles que fazem a arte literária, os escritores e poetas, desde aquela época. Em uma perspectiva mais comum, o ato criador se mostra explicável, sendo que o Homem busca incessantemente ao longo dos tempos essa explicação.

Há elementos que podem nos auxiliar num conhecimento descritivo do processo do ato criador, tais como os depoimentos dos próprios artistas que detalham em muitos aspectos suas produções, sendo um importante elemento de compreensão da experiência artística como criação; as revelações a que as obras literárias são submetidas e que proporcionam, em vários momentos, uma sistematização que permite conhecer o processo de criação; as críticas e cogitações dos filósofos, estetas e conhecedores do assunto; bem como as informações hoje propiciadas pelas ciências psicológicas.

Abaixo, você tem uma figura que ilustra o ato da criação artística, relacionada à própria criação da vida:

Figura 1: O ato da criação expressa na pintura de Miguelangelo. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:God2-Sistine_Chapel.png

Para o crítico Harold Osborne (apud SILVA, 1986, p.95) “todos os fenômenos

característicos da inspiração são descritos

em termos idênticos pelos bons e pelos maus

artistas; e nenhuma investigação psicológica, por mais penetrante que seja, conseguiu discernir as diferenças entre os processos mentais que acompanham a criação de uma obra mestra e as inspirações de um

aprendiz de terceira ordem”.

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Aula

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Na apreciação do ponto de vista histórico, acreditava-se, até o século XVIII, que toda a criação literária assentava-se na imitação de uma realidade, de uma natureza interna ou externa. Sobretudo nas obras de Platão e Aristóteles, que originaram boa parte do pensamento ocidental sobre arte, encontram-se as primeiras elaborações teóricas da concepção de imitação da arte, chamada então mimética.

Em Platão, o termo mimesis se desenvolve em várias gradações, assumindo um sentido diversificado, como o encontrado no livro X da República, que aponta a mimesis como sendo um divertimento através do qual o artista reproduz a aparência, não a verdade profunda das coisas e dos seres. Já em outra obra, no Crátilo, a mimese é considerada como decorrente da exigência humana de exprimir por imagens a realidade circundante e, como meio de aprender as ideias presentes nas coisas, lhe é dada um valor simbólico.

Há de se notar que o conceito fundamental de mimese em Platão é aquele encontrado na República, pois é quando o filósofo sujeita toda a poesia, entendida então como criação, afastada três degraus da verdade. Assim, pintores, escultores e artistas em geral são tão somente os terceiros criadores (poietes), visto que o primeiro é Deus, que cria, por exemplo, a ideia de cachimbo; o segundo é o artífice que fabrica o cachimbo; o terceiro, sim, é o artista que representa este cachimbo.

O outro grande filósofo da Era helênica, Aristóteles, concebe à mimesis um papel fundamental, seja na caracterização da natureza da literatura, seja na justificativa. Assim, para Aristóteles, na origem da criação literária está a imitação, pois esta seria uma tendência inerente ao próprio homem. No entanto, esta imitação não é uma representação literal dos aspectos sensíveis da realidade, pois a criação literária concebe o geral no particular das coisas. O artista é aquele que capta as formas existentes nas coisas naturais, representando essa forma na imitação.

Portanto, há uma diferença profunda entre a doutrina da

FIGURA 2 - “O Cachimbo” de René Magritte. UAB/UESC

René Magritte (Lessines, 21 de novembro de 1898 - Bruxelas, 15 de agosto de 1967) foi um dos principais artistas

do século XX que, a partir de uma estética surrealista, se esmerou

em questionar a representação, dizendo fazer representações de pintura e não pinturas,

como na figura 2 ao lado, em que a inscrição

“Isto não é cachimbo” resume o propósito conceitual do artista. Fonte: www.infopedia.

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mimese em Platão e Aristóteles; no entanto cabe ressaltar a identificação entre as duas teorias, que consiste na manutenção de semelhança que toda obra de arte tem com a realidade existente.

Deste modo, temos que a arte literária, até o século XVIII, é concebida em termos de imitação, imagem, cópia ou representação. Neste sentido, é comum, desde a Renascença, a comparação que se faz entre o ato criador e o espelho que reflete a realidade, revelando o caráter mimético, como você pode ver, ao lado, na figura 3.

3 A CRIAÇÃO LITERÁRIA COMO ARTE

Na Grécia Antiga ou Era helênica, a literatura era vista como imitação ou cópia. Deste modo, ainda na Antiguidade, concebe-se o épico como a representação, cópia, das ações generosas do homem; já a comédia se mostra como representação dos costumes do tempo. Assim, seu caráter de obra de arte estava relacionado à representação que fazia do real. Quanto mais fiel à realidade mais a capacidade de a obra literária se manifestar e ser aceita como arte, a arte literária. A capacidade de criação estava demasiadamente relacionada à capacidade de copiar o real.

A partir do século XIX, há um crescente declínio das teorias de imitação, devido, sobretudo, à crescente importância adquirida pelo personagem no instante do ato criador. A primeira constatação desse fato está no deslocamento do objeto para o sujeito na criação artística e literária, que é representado em termos epocais pelo advento do Romantismo. Neste momento especialmente, a imitação deixa de refletir a natureza ou as coisas naturais da vida e passa a expressar os sentimentos, os desejos, as emoções do próprio autor, artista. O texto, então, passa a expressar não mais o real objetivo, mas, sim, a atmosfera interior, em que a criação possibilita relevância primordial.

A criação romântica passa, dessa forma, a dar ênfase ao artista enquanto criador do mundo interior manifestada em sua arte. É fundamental, neste momento, o conceito de criação

FIGURA 3 UAB/UESC

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Aula

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que o Romantismo inaugura, rompendo com as concepções clássicas advindas desde a Antiguidade.

O Romantismo configurou mais que um período literário, uma estética, pois abrangeu todos os seguimentos do espírito cotidiano. Iniciado em fins do século XVIII na Alemanha, no chamado pré-romantismo, tem na figura emblemática de Goethe, com a publicação da obra Os sofrimentos do jovem

Werter, sua grande força. Após este período inicial, o espírito

romântico se difunde pelo restante da Europa, sobretudo França e Inglaterra, onde encontra terreno fértil para experimentação das teorias então difundidas, que se resumem a uma subjetividade extremada, expressa nas mais diferentes interpretações da realidade, seja na tendência à solidão, à morte, ou mesmo a propensão ao sonho e ao exílio.

Com o Romantismo, pela primeira vez há uma preocupação em criar mundos e não mais em descrevê-los ou copiá-los à semelhança do real. Sob influência do idealismo filosófico alemão de Fichte e Novalis, os românticos concebem o Eu interior como a realidade fundamental, que absorve toda e qualquer potencialidade do ato criador. Assim, o processo de criação passa a ser expresso pela liberdade e potencialidade inerente ao sujeito poético.

Neste período, há uma completa liberdade em relação à realidade preexistente, pondo em realce a capacidade do artista de utilização das formas e das palavras. Mesmo

no romance, onde a dissociação do real se torna de extrema dificuldade, há a tendência ao esvaziamento do conteúdo realístico, dando-se ênfase ao poder demiurgo do escritor. Na contempo-raneidade, há uma rejeição às teorias que remetem à imitação, sobretudo quando a aproximação à natureza se torna mais

Idealismo é qualquer

doutrina que sustente que a natureza da realidade

é fundamentalmente mental. Corresponde, sobretudo, ao movimento

filosófico alemão, que ampliou seus domínios como fenômeno artístico e literário. É caracterizado

pelo conceito de criatividade e liberdade do espírito, bem como o desenvolvimento, e, por conseguinte, a valorização

da nacionalidade e da religião, que são produtos

históricos.

FIGURA 4 UAB/UESC

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fidedigna. Reside aí a principal discussão em torno da mimesis, quando admite desde a Antiguidade certo falseamento ao propor que o objeto, a obra artística, é independente da natureza real.

Os teóricos da literatura, da arte e da estética apontam, em certo consenso, que a obra literária ou artística tem de manter inegavelmente relação com a realidade, seja um poema, um romance ou uma tela de um pintor; neste sentido toda obra de arte seria realista. No entanto, é grosseiro equívoco pensar que a obra de arte deve manter relação de subordinação e de identidade com a natureza que a cerca, numa palavra com a própria realidade. Esta interpretação nos leva a ignorar o caráter simbólico da obra de arte.

A obra literária deve possuir uma relação com objetos, fatos e mesmo com o espírito social, mas jamais deve ser confundida a sua dimensão de apreensão deste real com a subordinação a ele.

Podemos discutir o legado e a natureza da literatura, ao notarmos que a literatura não nomeia a realidade da mesma maneira que o fazem historiadores ou sociólogos. Aristóteles já alertava, em sua poética, para este diferencial, quando observa que o poeta, aí sinônimo de escritor, artista, consegue trabalhar com o que pode ou poderia ser; enquanto que o historiador trabalha com o que é.

É lícito depreender que, embora não se valha da ausência do real para se constituir, a literatura mascara, através do simbólico, muitos aspectos deste real, mas afinal de contas sempre conduz de maneira inequívoca a ele.

Agora, vamos às atividades!

FIGURA 5 UAB/UESC

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Aula

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A

TIVIDADES

1. O Romantismo significou um importante passo no quadro de entendimento da mimese. Por quê?

2 Por que o Romantismo pode ser entendido além de um estilo de época literário? 3. O que é mimesis?

4. A imitação da natureza sempre foi um problema relacionado à criação literária.

RESUMINDO

Nesta aula, você estudou que a criação artística, desde a Antiguidade Clássica, se revela como ponto de questionamento. Viu, também, que um dos principais problemas colocados em relação à criação artística é a sua capacidade de imitar ou não a realidade, o que foi chamado de

mimesis, tanto em Platão como em Aristóteles; que o entendimento de mimesis vigorou até o Romantismo, no século XIX, quando se observou a

autonomia da obra de arte, que passou a refletir não só o aspecto exterior, a natureza, mas também o aspecto interior, subjetivo do ser humano.

LEITURA RECOMENDADA

Para complementar esta aula, recomendo a leitura de HAUSER, Arnold. História social da literatura

e da arte. Lisboa: Mestre Jou, (sd) e WELLEK, Rene et al. Teoria da literatura. Lisboa:

Europa-América, 1987.

FIQUE ATENTO! Na próxima aula, compreenderemos a literatura a

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Em que consiste esta imitação?

AMORA, Antonio Soares. Introdução à teoria da literatura. São Paulo: Cultrix, 2004.

GOMES, Heidi Strecker. Análise de texto: teoria e prática. 10 ed. São Paulo: Atual, 1991.

GONÇALVES, Magaly Trindade; BELLODI, Zina C. Teoria da

literatura ‘revisitada’. Petrópolis: Vozes, 2005.

JOBIM, José Luis. Introdução aos termos literários. Rio de Janeiro: Eduerj, 1999.

MOISÉS, Massaud. A criação literária. São Paulo: Melhoramentos, 1973.

SILVA, Vítor Manuel de Aguiar e. Teoria da literatura. 5. ed. Coimbra: Almedina, 1986.

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Suas anotações

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