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O desafio de divulgar o Brasil: sobre o Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA)(1)

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Academic year: 2021

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O desafio de divulgar o Brasil:

sobre o Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA)(1)

Dr. Tiago de Oliveira Pinto(2)

Inaugurado no dia 20 de setembro de 1995 pelo Presidente da República, pelo Diretor do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, Embaixador Armando Sérgio Frazão, e pelo Chefe de Posto de Berlim, Embaixador Sérgio Paulo Rouanet, o Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA) é resultado de uma nova orientação da política cultural mantida pelo Itamaraty a partir de 1995. O registro alemão para a obtenção do status jurídico de entidade sem fins lucrativos foi efetuado em abril de 1996.

Em 1995 o Ministério das Relações Exteriores promoveu o gradativo desligamento jurídico e administrativo dos 24 Centros de Estudos Brasileiros (CEBs) no Exterior, que até então estavam diretamente vinculados às Embaixadas. Diferentemente dos CEBs, os institutos são de direito privado sem fins lucrativos, com o registro de seus estatutos efetuado nos respectivos países. Vinculados ao Ministério das Relações Exteriores por meio de um convênio, os Institutos Culturais são geridos por conselhos diretores compostos por 7 a 11 membros, intelectuais brasileiros e brasilianistas reconhecidos, residentes no país e que elegem o diretor executivo. O ICBRA é o primeiro Instituto Cultural Brasileiro que passou a funcionar dessa nova forma jurídica. O registro feito na Alemanha implica portanto, que, além do vínculo com o Ministério das Relações

Exteriores, se obedece à legislação institucional alemã.

Em alguns pontos essenciais o ICBRA difere de outros institutos culturais bilaterais brasileiros, recentemente inaugurados:

1. O ICBRA foi criado como instituto independente. Na Alemanha não existia um CEB prévio, que pudesse ser transformado em instituto, como ocorreu em outros países.

2. O ICBRA é o primeiro Instituto Cultural Brasileiro fundado em um país que, em nível

governamental, tem feito muito pela difusão de sua cultura no Brasil. Mesmo com a fundação do ICBRA os empreendimentos de divulgação da cultura brasileira na Alemanha começam

pequenos, se comparados aos cinco Institutos Goethe e mais várias Casas de Estudos Germânicos sediados no Brasil e oficialmente mantidos pela Alemanha.

3. O ICBRA é o primeiro Instituto Cultural independente fundado em um país de economia superior à brasileira. Sob esse aspecto, só o BACI de Washington se compara ao ICBRA. 4. O ICBRA é o primeiro Instituto Cultural Brasileiro independente e, simultaneamente, é o mais recente. Os Institutos que surgiram posteriormente em Bogotá, Buenos Aires etc. já existiam há décadas como CEBs, vinculados às respectivas embaixadas.

A situação nos países latino-americanos, onde há vários CEBs transformados em Institutos, difere do panorama alemão. Lá a presença de uma entidade cultural brasileira é tão forte, que em algumas cidades o Instituto Brasileiro chega a ser um dos principais centros culturais do local. Já em Berlim, uma das grandes metrópoles culturais do mundo, o ICBRA é apenas uma no cenário das entidades de cultura, embora apresente algumas prerrogativas, que lhe dão

destaque: é o primeiro instituto independente de um país do hemisfério sul e o terceiro de um país não europeu, depois dos EUA e do Japão. Na Alemanha Institutos Culturais, levam fama de serem empreendimentos de países europeus. A representação cultural do Brasil na Alemanha

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está, portanto, entre os institutos de países do chamado 1o mundo.

Existia uma forte justificativa de se criar um instituto cultural na Alemanha, pois este país é o parceiro econômico mais importante do Brasil na Europa. O número de empresas alemãs estabelecidas no Brasil já se eleva a mais de 1000. Depois dos investimentos na Europa e nos EUA o Brasil recebe o montante principal dos investimentos diretos alemães. Em 1997 ca. de 7% dos US$ 20 bilhões investidos no exterior foram destinados ao Brasil. Diante desses fortes laços econômicos, fica evidente que a política oficial tenha valorizado, com maior intensidade na

década de 1990, o intercâmbio cultural entre as duas nações. O Presidente Roman Herzog, chefe de Estado da Alemanha até maio de 1999, retomou com clareza esse ponto no seu

pronunciamento, quando da visita do Presidente brasileiro à Alemanha no mês de setembro de 1995. Ambos os presidentes referiram-se à criação do ICBRA como um marco importante nas relações entre os dois países.

Intercâmbio Cultural Alemanha- Brasil

Apesar de sua orientação básica, que coincide com outros institutos brasileiros, o ICBRA assume um perfil próprio, de acordo com o seu contexto alemão. Assim como os Institutos Goethe no Brasil desenvolvem programações voltadas para o país, também o ICBRA tem desenvolvido eventos que levaram em conta a relação bilateral específica dos dois países.

Quanto ao intercâmbio cultural, cumpre avaliar primeiramente o lado alemão: Diferentemente da constituição brasileira, a constituição alemã não dispõe de um parágrafo que define o papel do Estado quanto à prática e à divulgação de sua cultura. Essa lacuna surpreende diante da grande responsabilidade que o Estado alemão tem demonstrado perante a cultura e a cooperação cultural com outros países. Alguns dados referentes ao intercâmbio com o Brasil já impressionam por si: de 1956 para cá foram implantados sete "Institutos Goethe" no Brasil (só nos EUA há um número maior de institutos culturais alemães); desde a década de 80 o "Programa Artístico" do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD) convidou 19 artistas brasileiros, que

permaneceram como bolsistas desta entidade em Berlim por até um ano e meio (entre eles Ignácio de Loyola Brandão, João Ubaldo Ribeiro e Antonio Dias). Mesmo em 1991, portanto no início de uma década em que a reunificação alemã e a recessão fizeram minguar os recursos governamentais destinados à cultura, o Ministério das Relações Exteriores de Bonn colocou US$ 20 milhões à disposição da cooperação cultural com o Brasil.

Em Berlim existem instituições científicas como o Lateinamerika-Institut da Universidade Livre, no qual há uma Cadeira de literatura brasileira, o Instituto Ibero-Americano, uma das maiores

bibliotecas para assuntos de América Latina, o Museu de Antropologia com o seu Departamento de América do Sul, para apenas mencionar as instituições principais. Nas três universidades o número médio de alunos inscritos nos cursos de língua e de estudos brasileiros ultrapassa a casa dos 50 por semestre (na Universidade Livre esse número é bem maior). O mesmo acontece com o número de estudantes brasileiros matriculados nas escolas superiores.

Constata-se, no entanto, que a cultura brasileira está presente também fora dos redutos acadêmicos: Dos 115 grupos de música e dança que desfilaram com grande sucesso no „Karneval der Kulturen" em maio de 1999, mais de 20 grupos produziam música brasileira, mesmo que não contassem com a participação ativa de brasileiros.

Política Cultural na Alemanha

A política exterior alemã das últimas décadas do século XX procurou sempre sustentar-se nas três pilastras do contato político, das relações econômicas e do intercâmbio cultural. Hoje em dia

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não se desassocia mais um elemento do outro.

Houve, nestes últimos 30 anos, uma nítida mudança na orientação da política cultural alemã: Nos anos 60 os empreendimentos culturais faziam lembrar que o país voltara a ter importância no cenário internacional. Na Alemanha Ocidental a política cultural era efetiva, porém discreta, devido à existência da RDA. O Instituto Goethe e o DAAD contribuíram enormemente para a divulgação de uma Alemanha democrática, pluralista etc.

Com a queda do muro cessou a concorrência entre os diferentes sistemas e ideologias. A economia passou a ter um papel preponderante nas relações bilaterais. A cultura perdeu o privilégio de representar o laço de união, muitas vezes o único, entre diferentes nações.

Na década de 1970 a programação de eventos dos Institutos Goethe era mais importante do que os cursos de alemão. Hoje já 2/3 dos recursos são destinados ao ensino da língua alemã,

principalmente no Leste europeu. A política cultural portanto passou a ser vista por muitos como fator de propaganda para o país, valorizando-o como local de produção econômica

(Wirtschaftsstandort).

Enquanto, ainda nos anos 80, o chefe do Departamento Cultural do MRE alemão pregava a diversidade e o equilíbrio nas relações culturais, novas tendências de hoje reinvindicam a mudança da sociedade alemã de uma Lehrgesellschaft (sociedade de ensino) para uma

Lerngesellschaft (sociedade de aprendizado). A política cultural dos nossos dias, no dizer do

sociólogo Wolf Lepenies, porta-voz principal dessa nova orientação, deve deixar de voltar-se principalmente para a exportação, para fortalecer uma política de importação cultural (Lepenies, 1996). Lepenies chega mesmo a afirmar que o Instituto Goethe mais importante não está fora da Alemanha, mas sim na capital alemã: trata-se da Casa das Culturas do Mundo (Haus der Kulturen der Welt) em Berlim.

O ICBRA insere-se, portanto, perfeitamente neste conceito das Lerngemeinschaften, pois é a entidade que pode facilitar o fluxo de informações na Alemanha, nesse caso proveniente do Brasil.

Divulgação da imagem do Brasil

Todo trabalho cultural assume, automaticamente, um importante papel na formação da imagem do país. Mais do que a divulgação de mensagens pré-formuladas, é, no entanto, o diálogo cultural que vai construir a imagem multifacetada do país. Essa será uma imagem muito mais convincente porque „descoberta" pelos interessados e não simplesmente a eles „servida". Distorções

decorrentes dos fatos não terem sido colocados nos seus devidos contextos, por falta de

conhecimento ou erro de informação, poderão ser corrigidas de maneira duradoura nesse diálogo. Como instituição cultural, o ICBRA pode funcionar de base de apoio, fornecendo subsídios para uma compreensão mais abrangente dos fatos.

Se por um lado cursos de língua, literatura e etapas da cultura brasileira devem ser ministrados, o ICBRA assume igualmente a função de foro para a intensificação das relações entre o Brasil e Alemanha. Isso se dá – para citar os estatutos do ICBRA – "facilitando-se o aprendizado da língua portuguesa na Alemanha e de outras disciplinas relevantes para o conhecimento da cultura

brasileira; difundindo a cultura brasileira no campo da língua, literatura, música, artes plásticas, obras audiovisuais, artes cênicas, ensaio e pensamento científico, incluindo as ciências humana e naturais; divulgando dados sobre todos os aspectos da realidade brasileira a instituições de ensino, a meios de comunicação e em geral a todos os interessados no conhecimento mais exato do Brasil; colaborando com estudantes, professores e intectuais brasileiros na Alemanha, bem

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como estudantes, professores e intelectuais alemães e pessoas outras que desejem conhecer, estudar, lecionar ou pesquisar no Brasil."

Desde o início de sua atuação na Alemanha, o ICBRA evidenciou que a divugação cultural é fundamental para a construção diferenciada da imagem do País no Exterior. Do ponto de vista de custo e benefício, o ICBRA já pôde provar, em várias ocasiões, que os investimentos do Estado brasileiro em uma instituição como esta podem dar bom retorno justamente no campo da imagem do país. Exemplifica-se essa constatação quando lembramos que as matérias de jornal sobre um evento ou projeto do ICBRA somaram acima de 40 artigos descritivos e resenhas em 1998. O teor desses artigos, além de elogiosos, retrataram sempre de maneira objetiva algum assunto de divulgação do Brasil. Ou seja, o ICBRA possibilitou que em média um artigo positivo sobre o Brasil por semana fosse publicado na imprensa alemã, sem contar as coberturas de rádio e outras mídias.

Outro papel do ICBRA é estabelecer parcerías com os Estados, através de suas Secretarias de Cultura ou de Turismo, funcionando como uma agência de divulgação desses Estados e de suas manifestações regionais no Exterior. Promover a manifestação cultural de determinada região do Brasil fora de seu contexto original, em especial no Exterior, acaba suscitando o interesse local e fortalecendo a respectiva manifestação artística. Vários projetos já realizados mostram como esse tipo de parceria ganha cada vez mais importância.

Parcerias diversas com o Brasil, mas também com entidades alemãs, são fatores determinantes da programação cultural do ICBRA. Sem poder enumerar todas, vale ressaltar as parcerias com a RioFilme, para a qual o ICBRA funciona como base de redistribuição de filmes na Europa, e também com o Ministério da Educação, para o qual o ICBRA implantou como primeira entidade na Europa o certificado de português brasileiro para estrangeiros, o CELPE-Bras. Por sua vez a lista de instituições alemãs que têm trabalhado com o ICBRA em diversos projetos e

empreendimentos é extensa. Cita-se apenas a Universidade Livre de Berlim, a Universidade Técnica desta cidade, a Universidade de Leipzig, a Casa das Culturas do Mundo em Berlim, os Institutos Goethe e o Instituto Ibero-Americano de Berlim.

Além dos cursos de português do Brasil, o ICBRA tem, portanto, realizado uma vasta gama de atividades de promoção cultural e científica do Brasil. Resumindo, nestes últimos quatro anos o ICBRA organizou centenas de eventos sobre a cultura brasileira, incentivando também o intercâmbio e o entendimento entre o Brasil e a Alemanha. Ressaltam-se aqui alguns números: Foram realizadas 26 exposições de arte com 147 artistas, 21 leituras com 27 escritores, 29 palestras e simpósios com 111 palestrantes, 13 mostras de cinema brasileiro com 72 filmes (curtas, longas e documentários) e 35 vídeos. Houve ainda 5 festivais brasileiros com várias bandas e grupos regionais, além de concertos entre clássicos e populares, com ou sem orquestra; apresentações de teatro e dança. Em seu programa de publicações o ICBRA promoveu 13 lançamentos inéditos entre CDs, livros e catálogos. Nos cursos de língua portuguesa, elemento essencial para a divulgação da cultura brasileira, até meados de 1999 passaram 324 alunos pelos cursos de português ministrados por uma equipe de 11 professores, sem incluir os cursos de literatura, culinária, economia, história, música, cartografia e percussão brasileiras, bem como cinema e cursos de alemão para brasileiros.

Conclusões

Desde o seu início o Instituto Cultural Brasileiro foi contemplado com grande interesse e

receptividade pelas autoridades e pelo público alemão em geral. A partir do novo milênio o ICBRA entra em uma nova fase de trabalho, com a sua posição já bem consolidada, assumindo novas instalações com uma galeria de arte no centro histórico de Berlim. O seu futuro depende da

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continuidade de um apoio de manutenção básica por parte do MRE. Assim poderá complementar o trabalho com parcerias e apoio alheios, dando sólida continuidade ao diálogo cultural – e por conseguinte político e econômico também – entre o Brasil e a Alemanha.

Bibliografia:

Silvia Bitencourt,

1997 - "O modêlo alemão", sobre a nova política cultural do MRE, Folha de São Paulo, Caderno

Mais, 02/03/1997

Dieter Kramer,

1996 - Handlungsfeld Kultur. Zwanzig Jahre Nachdenken über Kulturpolitik. Essen: Klartext,

Verlag.

Wolf Lepenies,

1996 - "Wozu deutsche auswärtige Politik?", conferência proferida na 3a reunião anual da

Deutsche Nationalstiftung, Weimar, 24/4/1996

Tiago de Oliveira Pinto (org.),

1997 - Amazônia em Debate: Desenvolvimento Sustentável no Amapá como Alternativa. Berlin:

ICBRA

1999 "- Brasilianische Kulturarbeit in Deutschland", Zeitschrift fur Kulturaustausch, 49. Jg., 2/99, 70

Dieter Strauss,

1996 - "Im Aufwind durch Sponsoren?", Zeitschrift fur Kulturaustausch, 46. Jg., 2/96, 84-85 Márcio Damasceno,

1997 - "O desafio de divulgar o Brasil", Jornal do Brasil, 27 de junho de 1997

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(01) - Criado há quase três anos, um dos compromissos do ICBRA é desenvolver um trabalho com continuidade e apresentar os vários Brasis existentes no Brasil. Assim é desenvolvida uma intensa atividade artístico-cultural de qualidade com artistas, autores e palestrantes de todas as regiões brasileiras, mostrando aspectos nem sempre tão conhecidos, buscando sempre descobrir e divulgar aspectos interessantes, atuais e positivos do país. Como resultado, o ICBRA é

presença constante em artigos e reportagens na mídia alemã. Nestes três anos o ICBRA organizou centenas de eventos sobre a cultura brasileira e incentivo ao intercâmbio e

entendimento entre o Brasil e a Alemanha. O Instituto está prestes a assumir novas e maiores instalações no centro histórico de Berlim.

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Referências

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