RELATÓRIO DE POLÍTICA MONETÁRIA
(ao abrigo do n.º 3 do art.º 18º da Lei Orgânica)
Banco de Cabo Verde
Novembro de 2011Relatório de Política Monetária BANCO DE CABO VERDE Departamento de Estudos Económicos e Estatísticas Avenida Amílcar Cabral, 27 CP 7600‐101 ‐ Praia ‐ Cabo Verde Tel: +238 2607000 / Fax: +238 2607197 http://www.bcv.cv
Índice
Sumário Executivo 5 I. Actividade Económica Nacional nos últimos meses 1. Enquadramento Externo da Economia de Cabo Verde 9 2. Indicadores da Procura e Produção 14 3. Preços 18 4. Contas Externas 20 5. Situação Orçamental 24 6. Situação Monetária e Financeira 26 II. Perspectivas para a Economia de Cabo Verde 7. Hipóteses de Enquadramento 31 8. Projecções para a Economia Cabo‐Verdiana 32 9. Programação Monetária 36 10. Política Monetária para os Próximos seis meses 38 III. Anexo Estatístico
Relatório de Política Monetária
Sumário Executivo
A actividade económica mundial abrandou significativamente, desde o primeiro semestre, devido aos desempenhos menos favoráveis do sector industrial e do comércio internacio‐ nal. Registe‐se que a produção industrial global foi significativamente afectada por fenóme‐ nos não antecipados, entre os quais os problemas na cadeia de produção em consequência do sismo e tsunami do Japão, e o aumento do preço das matérias‐primas, em resultado da instabilidade social e política no Norte de África e no Médio Oriente. A actividade global também foi afectada pela deterioração das expectativas dos produtores e consumidores, relacionada com a persistência da instabilidade financeira e de um sentimento de incerteza quanto à resolução dos problemas dos bancos e dos países excessivamente endividados.
Os indicadores de tendência da actividade económica nacional apontam para um abranda‐ mento do ritmo de crescimento da economia, nos primeiros nove meses do ano, muito relacionado com a evolução do consumo privado. A evolução dos indicadores de confiança, produzidos pelo Instituto Nacional de Estatísticas, confirma a tendência de moderação da actividade económica, não obstante a performance positiva do sector do turismo.
A inflação média anual permanece com um perfil ascendente, fixando‐se em 4,2% no mês de Setembro. O comportamento da inflação reflecte, em larga medida, a aceleração dos preços internacionais dos bens alimentares e combustíveis, principalmente no 1º semestre, bem como o seu efeito indirecto na economia do país.
As contas externas deterioraram, resultando num défice da balança global na ordem dos 6% do PIB previsto para 2011. O aumento expressivo das importações, afectado por um lado, pela dinâmica dos investimentos e por outro, pela alta dos preços nos mercados for‐ necedores, e a redução dos donativos oficiais determinaram o desempenho mais desfavo‐ rável da balança corrente e de capital. O financiamento da economia processou‐se maiori‐ tariamente com recurso ao endividamento externo (público e privado), face à redução dos influxos de investimento directo estrangeiro. O défice de recursos de financiamento face às necessidades resultou numa redução das reservas internacionais líquidas em 65 milhões de euros. Nas contas monetárias e financeiras, em linha com a deterioração das contas externas, os activos externos líquidos totais decresceram cerca de 25% e o crédito à economia cresceu 11,4%. A expansão do crédito à economia foi determinada pelo aumento dos empréstimos concedidos, tanto ao sector privado como às empresas públicas.
Relatório de Política Monetária cariz marcadamente expansionista. O défice das contas públicas atingiu em Setembro, o valor 9.396 milhões de escudos, financiado com recurso ao endividamento, tanto interno como externo. Em resultado, o stock da dívida pública atingiu os 80,1% do PIB previsto para 2011. Do lado da política monetária, com o objectivo de estabilizar as reservas externas do país ‐ condição necessária para a sustentabilidade do regime cambial de peg unilateral ao euro ‐ e reforçar a eficiência do sistema bancário, o Banco de Cabo Verde deliberou, em Junho, o alargamento da base de incidência das reservas obrigatórias para incluir 50% dos depósitos do sector público administrativo. A evolução recente da economia e um conjunto de hipóteses de enquadramento levaram o Banco de Cabo Verde a actualizar as suas projecções para 2011 e a projectar o crescimento da actividade económica para 2012. Relativamente ao enquadramento externo, as projec‐ ções actuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para um crescimento global relativamente baixo, no curto prazo. Em particular, os principais parceiros económicos do país ‐ os países da Zona Euro obrigados a implementar rigorosos programas de consolida‐ ção orçamental ‐ deverão abrandar significativamente em 2011 e 2012. No quadro de um abrandamento da procura mundial, as pressões inflacionistas nos mercados das matérias‐ primas estarão mais contidas, na perspectiva do FMI. No que respeita ao enquadramento interno, as expectativas de evolução da economia mantêm‐se condicionadas, em larga medida, pelos desenvolvimentos económicos e financeiros dos principais parceiros do país e pelas finanças públicas. Neste contexto, o PIB deverá crescer no intervalo 4%‐5% em 2011. Para 2012, o cenário central das projecções, que pressupõe a manutenção das actuais orientações orçamental e monetária, admite uma ligeira desaceleração em termos reais face a 2011 e um agravamento das contas externas, devendo as reservas externas atingir os 2,6 meses de importação. No cenário alternativo, que fixa uma meta para as reservas externas, correspondente a 3 meses de importação, prevê‐se um abrandamento maior do ritmo de crescimento da economia, explicado por uma queda dos investimentos, em linha com o abrandamento previsto do crédito interno. Em ambos os cenários, a previsão da inflação para 2012 situa‐se no intervalo 3%‐4%, regis‐ tando uma desaceleração em relação a 2011. Num contexto de menor afluxo de recursos externos, com impactos necessariamente nega‐ tivos na actividade económica, ambos os cenários interpelam para a necessidade de uma adequada coordenação entre as autoridades de política económica, em prol de uma actua‐ ção prudente nas esferas orçamental e monetária.
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Actividade Económica Nacional
1. Enquadramento Externo da Economia de Cabo Verde
A actividade económica global abrandou significativamente desde finais do primeiro tri‐ mestre, principalmente devido ao fraco desempenho das economias avançadas. Na pers‐ pectiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), o enfraquecimento inesperado da econo‐ mia dos EUA; o aumento considerável da volatilidade financeira, motivada pelo arrasta‐ mento da crise da dívida soberana e dos problemas do sector bancário na Europa; os efei‐ tos devastadores na produção e no sentimento do consumidor do sismo e tsunami do Japão justificam o desempenho menos favorável dos países avançados.
A Zona Euro, principal parceira económica do país, cresceu 1,6% em termos homólogos no 2º trimestre, depois de ter registado, no 1º trimestre, o maior crescimento dos últimos 3 anos (2,4%). Para o 3º trimestre, a evolução dos indicadores de tendência da actividade económica, nomeadamente os indicadores de confiança no consumidor e na indústria, sugerem uma contínua deterioração do sentimento económico.
A moderação do crescimento na Área do Euro está muito associada aos problemas de liqui‐ dez do sector bancário e de financiamento dos Estados excessivamente endividados, alguns dos quais obrigados a implementar um rigoroso programa de consolidação orçamental. Registe‐se que, além dos países que já acederam ao Fundo Europeu de Estabilização Euro‐ peia (Grécia, Irlanda e Portugal), os mercados receiam a necessidade de um eventual resga‐ te financeiro da Itália e/ou da Espanha, respectivamente terceira e quarta economias da região monetária. Paralelamente, problemas pontuais, relacionados com o abastecimento de petróleo à Euro‐ pa, em resultado do embargo à circulação marítima no Canal de Suez, em Abril, contribuí‐ ram para o desempenho menos favorável da região no 2º trimestre, e em especial da maior economia – a Alemã. Os Estados Unidos cresceram em termos homólogos 1,6% no 2º trimestre (2,2% no 1º tri‐ mestre), de acordo com as estimativas do Bureau of Economic Analysis. A desaceleração em 0,6 ponto percentual do PIB real dos EUA resultou do efeito combinado da desacelera‐ ção do consumo privado e da procura externa líquida. Os indicadores de actividade econó‐ mica apontam para uma ligeira melhoria da actividade económica no 3º trimestre, com alguma aceleração da produção industrial. O consumo privado, que contribui em cerca de 2/3 para o produto interno bruto, deverá estabilizar‐se, principalmente devido à fraca per‐
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Figura 1: Produto Interno Bruto Real e Desemprego
Fonte: Banco de Portugal; Federal Reserve; US Department of Labor.
Informações disponíveis sobre a situação no mercado de trabalho nas economias avança‐ das apontam também para uma deterioração. Nos EUA, a taxa de desemprego inverteu, em Abril, a trajectória descendente registada nos primeiros meses do ano, mantendo‐se muito próxima dos dois dígitos (9,1%). Na Europa, registou‐se o mesmo movimento de deterioração na Zona Euro. A taxa de desemprego do conjunto dos 17 países da Área do Euro atingiu os 10,2% em Setembro, e no Reino Unido, principal mercado emissor do turis‐ mo cabo‐verdiano, a taxa de desemprego atingiu em Agosto o nível mais alto dos últimos 15 anos (8,1%).
O ritmo de crescimento nas economias emergentes e em desenvolvimento permaneceu forte, embora consideravelmente díspar entre regiões. O aumento dos preços das matérias primas estimulou o desempenho das economias da Europa Central e do Leste, bem como da América Latina. A actividade económica manteve‐se robusta na África Subshariana. Con‐ tudo, a instabilidade política e social, que ainda persiste em alguns países do Norte de Áfri‐ ca e do Médio Oriente, deverá ter um impacto negativo no seu desempenho. Igualmente, prevê‐se que as economias asiáticas emergentes poderão acusar um abrandamento, devi‐ do, por um lado, ao efeito de contágio da interrupção ocorrida na cadeia de produção nipónica e, por outro, em função da implementação de medidas de política monetária mais restritivas para fazer face às pressões inflacionistas.
No mercado das matérias primas, as pressões inflacionistas estão, recentemente, mais contidas. Registe‐se que o preço do petróleo aumentou cerca de 25% no início da primave‐ ra, devido a problemas relacionados com a oferta (interrupção da circulação no Canal de Suez e posteriormente com a guerra na Líbia), num contexto em que a procura, especial‐ mente dos mercados emergentes, permanecia forte e crescente. Desde então, o preço do barril de brent, petróleo de referência para Cabo Verde, vem observando decréscimos gra‐ 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 Ja n‐ 07 Ab r‐ 07 Ju l‐ 07 Ou t‐ 07 Ja n‐ 08 Ab r‐ 08 Ju l‐ 08 Ou t‐ 08 Ja n‐ 09 Ab r‐ 09 Ju l‐ 09 Ou t‐ 09 Ja n‐ 10 Ab r‐ 10 Ju l‐ 10 Ou t‐ 10 Ja n‐ 11 Ab r‐ 11 Ju l‐ 11 em pe rc en ta ge m da p opul a çã o ac ti va EUA Zona Euro ‐6,0 ‐4,0 ‐2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 1º tr i 07 2º tr i 07 3º tr i 07 4º tr i 07 1º tr i 08 2º tr i 08 3º tr i 08 4º tr i 08 1º tr i 09 2º tr i 09 3º tr i 09 4º tr i 09 1º tr i 10 2º tr i 10 3º tr i 10 4º tr i 10 1º tr i 11 2º tr i 11 em pe rc en ta g em EUA Zona Euro
duais, não obstante uma grande volatilidade. Em termos médios, de Abril a Setembro, o preço do brent caiu 2%.
Os preços dos produtos alimentares, por seu turno, continuam com um perfil ascendente, embora, em termos mensais, tenha‐se registado uma correcção dos máximos históricos atingidos nos primeiros meses do ano. Em termos homólogos, o food price index cresceu 28,5% no 3º trimestre (41,8% no 2º trimestre), principalmente devido à aceleração do pre‐ ço de açúcar (45,9%), cereais (37,7%) e óleos alimentares (33,7%). Determinada essencialmente pelo aumento dos preços de commodities, a inflação homó‐ loga na Zona Euro, região monetária com a qual o país mantém um acordo de cooperação cambial, atingiu 3% em Setembro, 1 ponto percentual acima do target do Banco Central Europeu (BCE). Não obstante, a política monetária permaneceu acomodatícia. O BCE man‐ teve inalterada a sua taxa de juro de referência em 1,5%, desde a última subida de 7 de Julho e, face aos problemas de liquidez e solvência de alguns bancos e Estados, expandiu as suas operações de liquidez e o seu programa de compra de títulos soberanos, passando a abranger também a Itália e a Espanha. Nos Estados Unidos, a política monetária permaneceu, igualmente, acomodatícia. O Fede‐ ral Reserve manteve a banda de flutuação da sua taxa de juros de referência em 0%‐0,25% e aprovou, na reunião do Federal Open Market Commitee de 20 e 21 de Setembro, um pro‐ grama que visa a extensão da maturidade média dos títulos do Tesouro da sua carteira.
Ao contrário da Europa, a política orçamental deverá, igualmente, continuar a suportar a recuperação da economia e em particular do emprego nos EUA, não obstante o compro‐ misso das autoridades públicas em garantir a sustentabilidade orçamental, a longo prazo. Figura 2: Preços de Commodities Fonte: FAO e Bloomberg. 65 75 85 95 105 115 125 135 Jan ‐10 Ma r‐ 10 Ma i‐ 10 Ju l‐ 10 Se t‐ 10 No v‐ 10 Jan ‐11 Ma r‐ 11 Ma i‐ 11 Ju l‐ 11 Se t‐ 11 US D crude brent ‐100,0 ‐80,0 ‐60,0 ‐40,0 ‐20,0 0,0 20,0 40,0 60,0 1/ 20 10 3/ 20 10 5/ 20 10 7/ 20 10 9/ 20 10 11/ 20 10 1/ 20 11 3/ 20 11 5/ 20 11 7/ 20 11 9/ 20 11 va ri aç ão em % Cereals Price Index Oils Price Index Sugar Price Index
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Perspectivas para o Enquadramento Internacional
As projecções do Fundo Monetário Internacional apontam para um crescimento da activi‐ dade económica global em torno dos 4%, tanto em 2011 como em 2012, o que correspon‐ de a uma desaceleração em 1,1 pontos percentuais relativamente a 2010. Comparativa‐ mente ao cenário de Abril de 2011, as expectativas do FMI quanto ao desempenho da eco‐ nomia mundial foram revistas em baixa em 0,3 e 0,5 pontos percentuais, respectivamente para 2011 e 2012. As economias avançadas deverão crescer em termos reais 1,6% e 1,9%, no pressuposto de que as autoridades públicas mantenham o compromisso em acomodar políticas económicas que estimulem o crescimento e que a actual turbulência nos merca‐ dos financeiros se dissipe, possibilitando o reforço da confiança dos agentes económicos. Por seu turno, as limitações na capacidade produtiva, a implementação de medidas de polí‐ ticas restritivas para fazer face às pressões inflacionistas e o abrandamento da procura externa poderão condicionar o crescimento de alguns países do grupo dos mercados emer‐ gentes e em desenvolvimento. Neste quadro, o FMI prevê que o ritmo de crescimento des‐ tas economias deverá reduzir para 6,4% em 2011 e 6,1% em 2012, face aos 7,3% registados em 2010. Os riscos das actuais projecções são, contudo, essencialmente descendentes. De destacar, os riscos relacionados com os problemas no balanço dos bancos e de financiamento de um conjunto de Estados das economias avançadas; a fraca resposta política à resolução da cri‐ se da dívida soberana na Europa; a emergência de alguma vulnerabilidade em certas eco‐ nomias emergentes e em desenvolvimento; a contínua volatilidade dos preços das matérias ‐primas e tensões geopolíticas.
Caixa 1. Implicações da Crise do Euro na Economia Cabo‐Verdiana
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia global enfraqueceu e o nível de confiança dos agentes caiu de forma significativa, numa conjuntura em que a margem de actuação da política macroeconómica nos países avançados é relativamente reduzida. Adicionalmente, o recrudescimento das tensões nos mercados financeiros, relacionado com a crise da dívida soberana na Área do Euro, afectando a actividade económica das economias interdependentes, aumenta o risco de uma nova recessão global.
Neste quadro de elevada incerteza, a trajectória da economia cabo‐verdiana será certamente afec‐ tada. Sendo Cabo Verde uma economia pequena, cujo grau de abertura ronda os 100%, a sua dinâ‐ mica de crescimento é fortemente condicionada pelo enquadramento externo, em particular pela situação económica e financeira da Europa. Registe‐se que, mais de 90% da procura turística pro‐ vém dos mercados da União Europeia, mais de 70% das exportações de mercadorias cabo‐verdianas destinam‐se exclusivamente aos mercados português e espanhol, conforme ilustrado na figura abai‐ xo. Adicionalmente, a dependência de Cabo Verde da poupança externa para o financiamento do seu desenvolvimento amplifica a sua vulnerabilidade. Da Europa, em particular, provêm mais de 80% das transferências de emigrantes (remessas para auxílio familiar e para investimento), cerca de 90% dos influxos de capitais para investimento no país e proporção considerável da ajuda ao desenvolvi‐ mento. Face à nossa dependência externa e no quadro dos desafios de consolidação orçamental que os prin‐ cipais parceiros enfrentam, prevê‐se algum efeito de contágio na nossa economia. De notar ainda, que sendo uma pequena economia aberta, com um regime cambial de taxa fixa, a política monetá‐ ria terá margem reduzida para absorção de choques externos. Neste quadro, antecipa‐se um impacto dos desenvolvimentos na Europa sobre a balança corrente e financeira com um provável abrandamento das receitas brutas do turismo, das exportações de mercadorias, das transferências unilaterais, investimento directo estrangeiro e eventualmente de fluxos geradores de dívida. Este cenário adverso do enquadramento externo da economia cabo‐verdiana apela aos ajustamen‐ tos necessários do lado da economia real, sendo certo que o maior desafio, a curto prazo, é assegu‐ rar o financiamento da economia que seja compatível com a manutenção de um nível adequado de reservas externas. 15,3% 5,0% 2,5% 17,8% 17,8% 14,6% 18,5% 8,4% Procura Turística Alemanha Bélgica e Holanda Espanha França Itália Portugal Reino Unido Outros 21% 18% 9% 46% 3% 3% IDE por País de Origem Espanha Inglaterra Irlanda Itália Portugal Outros 0,1% 74,0% 0,5% 6,1% 0,1% 18,9% 0,4% Exportação de Mercadorias Guiné‐Bissau Espanha Estados‐Unidos França Países Baixos Portugal Outros 12,9% 9,8% 21,2% 5,4% 1,4% 34,2% 2,1% 3,6% 2,8% 2,6% 3,9% Remessas de Emigrantes Estados Unidos Países Baixos França Itália Alemanha Portugal Reino Unido Suiça Luxemburgo Espanha Outros Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas e Banco de Cabo Verde. Nota: os dados referem ao 1º semestre. IDE‐investimento directo estrangeiro.
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2. Indicadores da Procura e da Produção
Os indicadores de tendência da actividade económica nacional apontam para um abranda‐ mento do ritmo de crescimento da economia, nos primeiros nove meses de 2011.Uma análise aos indicadores quantitativos da procura interna produzidos pelo Banco de Cabo Verde aponta para uma ligeira recuperação do consumo privado no 2º e 3º trimes‐ tres do ano (em 1,5 e 1,9 pontos percentuais, respectivamente), depois do forte abranda‐ mento registado no 1º trimestre (em 25,6 pontos percentuais). Contudo, em termos acu‐ mulados, a tendência de desaceleração do indicador é dominante. A evolução de outros indicadores de tendência do consumo privado, nomeadamente a queda do índice de volu‐ me de vendas no comércio a retalho em estabelecimentos e o abrandamento do crédito a particulares para consumo, também sugere uma desaceleração no ritmo de crescimento do consumo privado.
No que se refere ao investimento, os indicadores disponíveis sugerem uma tendência ascendente da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), em termos agregados. As importa‐ ções de materiais de transporte, ajustadas da sazonalidade, cresceram 59% no 3º trimestre, depois de terem crescido cerca de 25% no 2º trimestre, e as importações de bens de equi‐ pamentos recuperaram integralmente da queda registada no 2º trimestre.
Entretanto, tanto os indicadores produzidos pelo BCV como os produzidos pelo INE indi‐ ciam uma tendência de abrandamento da FBCF em construção. Em termos homólogos, as importações de bens de construção aumentaram 5,4%, ritmo consideravelmente mais fra‐ Figura 3: Evolução dos Indicadores de Consumo (taxas de variação homóloga de médias móveis dos últimos 3 meses) Fonte: Direcção Geral das Alfândegas; Instituto Nacional de Estatísticas; Cálculos Banco de Cabo Verde. ‐10,0 ‐5,0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 Se t‐ 08 De z‐ 08 Ma r‐ 09 Ju n ‐09 Se t‐ 09 De z‐ 09 Ma r‐ 10 Ju n ‐10 Se t‐ 10 De z‐ 10 Ma r‐ 11 Ju n ‐11 Se t‐ 11 em pe rc e n ta g e m Importações de Bens de Consumo ‐3,0 ‐2,5 ‐2,0 ‐1,5 ‐1,0 ‐0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Ma r‐ 07 Ju n‐ 07 Se t‐ 07 De z‐ 07 Ma r‐ 08 Ju n‐ 08 Se t‐ 08 De z‐ 08 Ma r‐ 09 Ju n‐ 09 Se t‐ 09 De z‐ 09 Ma r‐ 10 Ju n‐ 10 Se t‐ 10 De z‐ 10 Ma r‐ 11 Ju n‐ 11 Se t‐ 11 em pe rc en ta ge m Vendas no Comércio a Retalho em Estabelecimento, Índices Base = 100
co que o registado no 4º trimestre de 2010 (27,8%). Igualmente, a carteira de encomendas no sector da construção e obras públicas diminuiu 1,3% no 3º trimestre, acentuando a tra‐ jectória descendente que vem registando desde Dezembro do ano passado. Adicionalmente, a desaceleração do ritmo de crescimento dos créditos a particulares para habitação relativamente a Dezembro (em 3 pontos percentuais), sugere um abrandamento dos investimentos residenciais.
No que concerne à procura externa, os desenvolvimentos da balança de pagamentos, nomeadamente a deterioração do défice comercial, apontam para uma diminuição do con‐ tributo da procura externa líquida para o crescimento.
Do lado da oferta, o indicador de clima económico produzido pelo INE apresentou uma evolução favorável no 3º trimestre de 2011. Figura 4: Evolução dos Indicadores de Investimento (taxas de variação homóloga de médias móveis dos últimos 3 meses) Fonte: Direcção Geral das Alfândegas; Instituto Nacional de Estatísticas; Cálculos Banco de Cabo Verde. Figura 5: Evolução dos Indicadores de Confiança Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas. ‐2,0 ‐1,5 ‐1,0 ‐0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Se t‐ 08 De z‐ 08 Ma r‐ 09 Ju n‐ 09 Se t‐ 09 De z‐ 09 Ma r‐ 10 Ju n‐ 10 Se t‐ 10 De z‐ 10 Ma r‐ 11 Ju n‐ 11 Se t‐ 11 em pe rc en ta ge m Importações de Bens de Construção Importações de Bens de Equipamentos Importações de Materiais de Transporte ‐2,0 ‐1,5 ‐1,0 ‐0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Ma r‐ 07 Ju n‐ 07 Se t‐ 07 De z‐ 07 Ma r‐ 08 Ju n‐ 08 Se t‐ 08 De z‐ 08 Ma r‐ 09 Ju n‐ 09 Se t‐ 09 De z‐ 09 Ma r‐ 10 Ju n‐ 10 Se t‐ 10 De z‐ 10 Ma r‐ 11 Ju n‐ 11 Se t‐ 11 em pe rc en ta g em Carteira de Encomendas no Sector da Construção e Obras Públicas Índices Base=100 ‐60 ‐40 ‐20 0 20 40 Ma r‐ 07 Ju n‐ 07 Se t‐ 07 De z‐ 07 Ma r‐ 08 Ju n‐ 08 Se t‐ 08 De z‐ 08 Ma r‐ 09 Ju n‐ 09 Se t‐ 09 De z‐ 09 Ma r‐ 10 Ju n‐ 10 Se t‐ 10 De z‐ 10 Ma r‐ 11 Ju n‐ 11 Se t‐ 11 em pe rc e nt a ge m
Comércio Transportes Construção Turismo Indústria
Relatório de Política Monetária Contudo, para o conjunto dos nove primeiros meses do ano, o indicador, que reflecte as expectativas dos agentes económicos, sugere uma tendência de abrandamento do ritmo de crescimento da actividade económica, em resultado da evolução menos favorável dos indi‐ cadores de confiança nos sectores da construção, comércio em estabelecimento e indús‐ tria. Os indicadores de confiança nos sectores do turismo e dos transportes apresentaram, contrariamente, um perfil ascendente.
Caixa 2. Os Inquéritos de Conjuntura e sua Importância para a Análise da Conjuntura Económica
Os inquéritos de conjuntura têm por objectivo recolher informação sobre as expectativas de evolu‐ ção da actividade económica. São dos instrumentos mais utilizados na análise da conjuntura econó‐ mica, pois, por não exigirem uma resposta quantitativa, mas sim uma opinião qualitativa sobre determinados eventos, permitem a minimização do desfasamento temporal entre o envio e o rece‐ bimento do questionário. Os resultados apurados dos inquéritos assumem a forma da diferença entre a percentagem de res‐ postas positivas e a percentagem de respostas negativas ‐ saldo de respostas extremas (s.r.e), impli‐ cando a perda da informação respeitante às respostas “igual” ou “estável”, que se considera, geral‐ mente, irrelevante. De forma a assumirem algum significado analítico, os resultados apurados pelos inquéritos são pon‐ derados pela importância relativa dos agentes inquiridos, de acordo com critérios metodologica‐ mente definidos. A ponderação justifica‐se por se pretender, com a agregação das respostas indivi‐ duais, uma indicação de natureza macro sobre a tendência das variáveis em estudo. Por outro lado, os resultados são apresentados sob a forma de médias móveis de três termos (MM3), de maneira a obter‐se uma série mais alisada, expurgada de grandes irregularidades. Em termos interpretativos, os resultados dos inquéritos, se adequadamente tratados, sugerem uma tendência de evolução de um determinado sector ou variável e não fornecem qualquer informação quantitativa sobre o sector ou a variável. O Instituto Nacional de Estatísticas, enquanto entidade oficial responsável pela produção das esta‐ tísticas nacionais realiza, desde 2002, inquéritos de conjuntura aos sectores do comércio (comércio em estabelecimento e comércio em feira), da construção e obras públicas, transportes e serviços auxiliares aos transportes e turismo. Os inquéritos à indústria transformadora são realizados desde 2003 e desde 2009 lançou‐se um inquérito de conjuntura aos consumidores, cuja divulgação come‐ çou no 2º trimestre de 2011.
O inquérito aos consumidores tem dois grandes objectivos: um objectivo conjuntural, que pretende captar o sentimento das famílias sobre a sua situação económica e a do país e da economia em geral e um segundo, que visa a análise das disparidades de rendimento e o acompanhamento das intenções de aquisição de automóveis e de habitação. Com os primeiros resultados do inquérito aos consumidores construiu‐se o Indicador de Confiança do Consumidor, a partir da média aritmética simples dos saldos de respostas extremas às seguintes questões: i) situação financeira do lar nos próximos 12 meses; ii) situação económica geral do país nos próximos 12 meses e, iii) desemprego no país nos próximos 12 meses. É um indicador avançado, na medida em que pretende recolher informações sobre a expectativa futura da situação financeira dos consumidores. Em termos de resultados, o indicador apresentou uma trajectória ascendente no 1º e 2º trimestres do ano, significando que em geral os consumido‐ res estavam optimistas quanto à evolução da situação económica do seu lar e do país nos pró‐ ximos 12 meses, conforme ilustrado no gráfico. 35,0 37,0 39,0 41,0 43,0 45,0 47,0 49,0 51,0 2º T ri m .0 9 3º T ri m .0 9 4º T ri m .0 9 1º T ri m .1 0 2º T ri m .1 0 3º T ri m .1 0 4º T ri m .1 0 1º T ri m .1 1 2º T ri m .1 1 mé d ia mó ve l do s úl ti m os 3 me se s em % Indicador de Confiança dos Consumidores Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas.
Relatório de Política Monetária Figura 6: Índice de Preços no Consumidor Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas; Banco de Portugal.
3. Preços
A inflação, medida pela variação média anual do índice de preços no consumidor, manteve ao longo do ano, o perfil ascendente que vem registando desde Maio de 2010. Em termos médios, a inflação atingiu os 4,2% em Setembro, 2,1 pontos percentuais acima do valor registado em Dezembro de 2010. Enquanto importador líquido de bens alimentares e de combustíveis, o comportamento da inflação reflecte, em larga medida a aceleração dos preços internacionais das matérias primas energéticas e não energéticas, principalmente no primeiro semestre, bem como o seu efeito indirecto na economia do país.1
A inflação mensal acelerou 0,3 pontos percentuais para 0,5%, em resultado, principalmen‐ te, do aumento dos preços de peixe, frutos e dos serviços de hotéis e restauração, de acor‐ do com o Instituto Nacional de Estatísticas. Infere‐se que algum efeito sazonal relacionado com as condições meteorológicas adversas à pesca artesanal e com o ciclo de produção agrícola e, ainda, algum aumento da procura, poderão explicar o comportamento da infla‐ ção em termos mensais.
A variação homóloga do IPC agregado foi de 4,8% em Setembro, determinada pelo compor‐ tamento das classes das rendas de habitação, água, electricidade e gás e outros combustí‐ veis, transportes e produtos alimentares e bebidas alcoólicas, que cresceram respectiva‐ mente 7,1%, 6,4% e 5,7%. Excluindo os bens energéticos e os produtos alimentares não transformados a variação homóloga do IPC atingiu os 4,4% em Setembro (2,9% em Dezem‐ bro de 2010). ‐4,00 ‐2,00 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 Fe v‐ 08 Ma i‐ 08 Ag o‐ 08 No v‐ 08 Fe v‐ 09 Ma i‐ 09 Ag o‐ 09 No v‐ 09 Fe v‐ 10 Ma i‐ 10 Ag o‐ 10 No v‐ 10 Fe v‐ 11 em pe rc en ta ge m Taxa de variação homóloga Taxa de variação média 12 meses Taxa de variação mensal ‐4,0 ‐2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 Ju l‐ 09 Se t‐ 09 No v‐ 09 Jan ‐10 Ma r‐ 10 Ma i‐ 10 Ju l‐ 10 Se t‐ 10 No v‐ 10 Jan ‐11 Ma r‐ 11 Ma i‐ 11 Ju l‐ 11 Se t‐ 11 em pe rc en ta ge m IPC Agregado excluíndo Energia, Alimentares e Bebidas, Álcool e Tabaco IPC Agregado IPC Agregado excluíndo Energia IPC Agregado excluíndo Energia e Alimentares não Transformados variações homólogas
Registe‐se que a variação homóloga do IPC excluindo energia e produtos alimentares (transformados e não transformados) foi inferior à inflação subjacente em 2,0 pontos per‐ centuais, sugerindo que os preços dos bens alimentares não transformados, que são essen‐ cialmente produzidos internamente, continua a mitigar o efeito da inflação internacional dos bens energéticos e alimentares.
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4. Contas Externas
Estimativas preliminares da balança de pagamentos apontam para uma deterioração das contas externas nos primeiros nove meses do ano, não obstante alguma melhoria no 3º trimestre.
No primeiro semestre, a balança corrente registou um défice de 8,7% do PIB, representan‐ do um agravamento de perto de 3 pontos percentuais, em termos homólogos. A deteriora‐ ção da conta corrente foi determinada pelo aumento expressivo das importações de bens (22,5%), pela redução dos donativos oficiais correntes (3%) e pela forte recuperação das importações de serviços (que cresceram 6,4%, depois de terem caído cerca de 20% no pri‐ meiro semestre de 2010). Em termos agregados, a aceleração das exportações de bens e de serviços não foi suficiente para compensar o aumento das importações de bens e serviços e a diminuição dos donativos. As necessidades de financiamento da economia, medidas pelo saldo conjunto das balanças corrente e de capital, aumentaram 3 pontos percentuais para 8,8% do PIB, também impul‐ sionadas pela redução expressiva das transferências oficiais de capital (80%). Em conse‐ quência e face à redução do investimento directo estrangeiro, a economia foi financiada,
essencialmente, com recurso ao endividamento e às reservas internacionais. No 3º trimestre, entretanto, o défice em conta corrente diminuiu cerca de 1 ponto percen‐ tual para 2,6% do PIB, em resultado da aceleração do excedente dos serviços e da expressi‐ va redução do défice da balança de rendimentos. A balança de serviços cresceu 38% em termos homólogos (10,2% no 1º semestre), em fun‐ ção do aumento do saldo dos serviços de turismo. Com efeito, as receitas brutas de turis‐ mo cresceram 33,6%, depois de terem crescido 16,7%, no 1º semestre. Estima‐se que o aumento da oferta hoteleira, em cerca de 21%, no primeiro semestre, bem como algum desvio da procura dos países do Magreb para Cabo Verde tenham contribuído, em grande medida, para o dinamismo das receitas turísticas.2 Adicionalmente, a contínua redução dos
gastos dos residentes cabo‐verdianos em viagens para férias (16% em termos homólogos, no 3º trimestre) também contribuiu para o aumento do excedente das viagens de turismo em 48%, no período. 2 A oferta turística medida em termos do número de quartos.
O défice da balança de rendimentos diminuiu cerca de 78% (‐9,6% no primeiro semestre), em consequência, sobretudo, do esgotamento do efeito da distribuição extraordinária de dividendos aos investidores externos realizada em período homólogo.
A redução dos encargos com os juros da dívida externa pública e das sociedades não bancá‐ rias, em cerca de 14% em termos homólogos, igualmente explica a melhoria da balança de rendimentos. De notar que, a diminuição dos juros pagos ao exterior pelo Governo e empresas reflecte, principalmente, o calendário das amortizações e, em certa medida, a depreciação do dólar americano, uma vez que os juros internacionais, nomeadamente as taxas euribor que indexam grande parte da dívida por reembolsar, mantiveram a tendência ascendente, que se vem registando desde meados de 2010. Ao contrário das balanças de serviços e de rendimentos, o contributo das balanças de bens e de transferências para a evolução das contas externas foi negativo. O défice da balança de bens aumentou 18,5%, depois de ter crescido 17,6% no 1º semes‐ tre, em resultado da aceleração das importações de bens de 22,5% para 26,5%. O compor‐ tamento das importações, por um lado, está em linha com a dinâmica do investimento interno (público e privado) e, por outro, reflecte o aumento dos preços internacionais. Com efeito, no 3º trimestre, as importações de bens de capitais cresceram 76,4% em valor, enquanto as importações de bens de consumo, acompanhando, em certa medida, a mode‐ ração do consumo privado e público, agravaram a tendência de redução que vinham obser‐ vando desde início do ano. Em termos homólogos, no 3º trimestre, o contributo da varia‐ ção de preço no aumento das importações foi de cerca de 22% (15,2% de Janeiro a Setem‐ bro). As exportações de mercadorias mantiveram‐se em expansão (cresceram 73% no 3º trimes‐ tre e 48,1% no 1º semestre), com um contributo importante (49%) das exportações de pes‐ Figura 7: Balança Corrente e de Capital e Serviço de Turismo Fonte: Banco de Cabo Verde ‐15.000 ‐10.000 ‐5.000 0 5.000 10.000 15.000 1ºT ri 0 9 2ºT ri 0 9 3ºT ri 0 9 4ºT ri 0 9 1ºT ri 1 0 2ºT ri 1 0 3ºT ri 1 0 4ºT ri 1 0 1ºT ri 1 1 2ºT ri 1 1 3ºT ri 1 1 m ilh õe s de es cu d os Bens e Serviços Rendimentos Transferências
Saldo Conjunto das Balanças Corrente e de Capital
400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 4.000 4.500 5.000 5.500 6.000 6.500 7.000 7.500 8.000 8.500 1ºT ri 09 2ºT ri 09 3ºT ri 09 4ºT ri 09 1ºT ri 10 2ºT ri 10 3ºT ri 10 4ºT ri 10 1ºT ri 11 2ºT ri 11 3ºT ri 11 mi lh õe s de es cu do s mi lh õe s de es cu do s Exportação de Serviços de Turismo Importação de Serviços de Turismo (eixo direito)
Relatório de Política Monetária cado. As reexportações de combustíveis e víveres em portos e aeroportos internacionais cresceram 51%, com o aumento do tráfego aéreo e marítimo e do preço dos combustíveis. O excedente da balança de transferências, por seu turno, reduziu 11,7% no 3º trimestre (‐ 6,7% no 1º semestre), em função da contínua queda das transferências oficiais. O compor‐ tamento das transferências oficiais é resultado do efeito combinado da redução dos donati‐ vos de capital e de algum atraso nos desembolsos da ajuda orçamental.
No que concerne às transferências privadas, as remessas de emigrantes correntes e de capital cresceram 18,6%. O ritmo de crescimento das remessas abrandou, contudo no 3º trimestre, devido à desaceleração das transferências provenientes da França e de Portugal (em 16 e 18 pontos percentuais, relativamente ao primeiro semestre) e à queda das remes‐ sas da Itália (2%) e da Espanha (24%). As remessas dos Estados Unidos mantiveram a ten‐ dência de diminuição que vinham registando desde o primeiro semestre. A balança financeira, que representa os canais através dos quais se processa o financiamen‐ to da economia, registou uma entrada líquida de fundos na ordem dos 3% do PIB, para a qual contribuíram os desembolsos líquidos da dívida (pública e privada) em 74%. O investimento directo estrangeiro registou uma queda de 11,5% em termos homólogos. A conclusão de alguns projectos da imobiliária turística em meados do 2º trimestre e o adia‐ mento no arranque de alguns projectos, em função da deterioração das condições de finan‐ ciamento nos principais países investidores, entre outros factores, poderão explicar o fraco desempenho do IDE, no período. O excesso de influxos de financiamento sobre as necessidades da economia, em resultado de um maior dinamismo dos influxos privados, determinou a acumulação das reservas externas no período em 3,5 milhões de euros. Figura 8: Transferências Oficiais e Remessas de Emigrantes Fonte: Banco de Cabo Verde. 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 Ja n ‐09 Ma r‐ 09 Ma i‐ 09 Ju l‐ 09 Se t‐ 09 No v‐ 09 Ja n ‐10 Ma r‐ 10 Ma i‐ 10 Ju l‐ 10 Se t‐ 10 No v‐ 10 Ja n ‐11 Ma r‐ 11 Ma i‐ 11 Ju l‐ 11 Se t‐ 11 m ilh õe s de e sc udos m ilh õe s de e sc udos Transferências Oficiais Remessas de Emigrantes (eixo direito)
Em termos agregados, no entanto, as reservas internacionais líquidas do país reduziram 65 milhões de euros relativamente a Dezembro de 2010, passando a cobrir 2,8 meses das importações previstas para 2011. Figura 9: Investimento Externo e Reservas Internacionais Fonte: Banco de Cabo Verde. 2,4 3,4 3,6 4,1 4,2 4,2 4,2 2,7 0 1 2 3 4 5 0 50 100 150 200 250 300 350 De z‐ 04 De z‐ 05 De z‐ 06 De z‐ 07 De z‐ 08 De z‐ 09 De z‐ 10 Se t‐ 11 me se s de im po rt aç ão mi lh õe s de eu ro s Stock Reservas em milhões de euros Meses de importação 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 Jan ‐09 Ma r‐ 09 Ma i‐ 09 Ju l‐ 09 Se t‐ 09 No v‐ 09 Jan ‐10 Ma r‐ 10 Ma i‐ 10 Ju l‐ 10 Se t‐ 10 No v‐ 10 Jan ‐11 Ma r‐ 11 Ma i‐ 11 Ju l‐ 11 Se t‐ 11 m ilh õe s de e sc udos
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5. Situação Orçamental
A política orçamental manteve, ao longo do ano, um cariz essencialmente expansionista, suportado particularmente pela execução do programa pluri‐anual de investimentos públi‐ cos (PPIP), em curso desde 2009.
Em Setembro, as contas públicas registaram um deficit de 9.396 milhões de escudos (7% do PIB), o que representa um agravamento de 1,9 pontos percentuais face ao 1º semestre. Excluindo os juros da dívida, o défice orçamental (défice primário) cresceu 2,1 pontos per‐ centuais, fixando‐se em 0,7 pontos percentuais acima do défice global. No entanto, o exce‐ dente corrente aumentou, reflectindo principalmente o abrandamento das despesas cor‐ rentes.
As despesas de investimento totalizaram os 15.590 milhões de escudos em finais de Setem‐ bro, que compara ao valor orçamentado de 27.596 milhões de escudos, direccionadas, na sua maior parte, para projectos ligados à expansão e modernização de portos, habitação social, governação electrónica, infra‐estruturação agrícola e protecção social mínima.
As despesas correntes aumentaram 5,4% em termos homólogos, passando a totalizar 20.707 milhões de escudos. O aumento das despesas correntes, embora em desaceleração, traduz, principalmente, o crescimento homólogo das transferências correntes (5,7%), em resultado do aumento das transferências para as famílias e dos subsídios, relacionados com a liquidação do défice tarifário e a compensação da potência alugada à Electra. O aumento, até ao 3º trimestre, em 11,8% dos encargos com os juros da dívida e em 1% das despesas com pessoal, igualmente, contribuíram para a evolução das despesas correntes. Quadro 2: Evolução da Situação Orçamental Fonte: Ministério das Finanças. Nota: Os cálculos para o 3º trimestre foram efectuados com informações muito preliminares. De acordo com o Ministério das Finanças o valor das despesas por regularizar é de 796 milhões de escudos.
1º Tri 2º Tri 3º Tri 4º Tri 1º Tri 2º Tri 3º Tri
Receitas Fiscais ‐1,0 2,7 23,4 2,7 12,0 11,5 12,7 das quais: Imposto s/ Valor Acrescentado (IVA) ‐2,1 4,7 30,4 7,3 15,9 11,5 8,0 Imposto Único s/ Rendimento (IUR) 10,2 3,4 16,3 ‐2,4 ‐1,5 5,4 18,1 Donativos ‐16,1 ‐35,3 46,1 8,5 ‐13,7 ‐19,3 ‐45,3 Despesas Correntes 5,4 1,4 32,4 0,3 23,1 9,7 5,4 das quais: Salários 5,2 9,0 37,6 1,5 8,9 5,9 1,0 Transferências 7,2 13,4 39,4 8,9 17,9 6,7 5,7 Pensões 10,2 11,0 14,1 16,0 17,0 17,3 n.d Despesas de Investimento 32,7 49,7 110,0 37,1 32,2 22,3 ‐1,0 Saldo Global (incluindo Donativos) ‐0,4 ‐3,9 ‐9,7 ‐11,9 ‐1,7 ‐5,1 ‐7,0 Saldo Corrente 1,2 1,6 2,0 1,9 0,5 1,7 2,7 em percentagem do PIB taxas de variações homólogas 2010 2011
Do lado das receitas, as fiscais registaram um aumento de 12,7%, não obstante a desacele‐ ração do imposto sobre o valor acrescentado em 3,5 pontos percentuais, relativamente ao arrecadado no primeiro semestre.
Os donativos ao Governo Central reduziram 45%, em termos homólogos, principalmente devido ao término do 1º compacto do programa Millenium Challenge Account e ao calen‐ dário dos desembolsos da ajuda ao orçamento.
Em resultado do aumento das necessidades de financiamento do sector público, o stock de dívida do Governo Central (excluindo os Títulos Consolidados de Mobilização Financeira) aumentou 11,4% relativamente a Dezembro, para 80,1% do PIB projectado para 2011, com o aumento do endividamento interno e externo em 17,9% e 9,4% respectivamente.
O stock da dívida interna, deduzido dos depósitos do Governo Central atingiu os 26,4 mil milhões de escudos (19,8% do PIB), concentrando‐se, fundamentalmente, em títulos de médio e longo prazos. O sistema bancário nacional e o Instituto Nacional de Previdência Social detêm, respectivamente, 50,2% e 49,5% do total do stock das obrigações de tesouro, e 6,5% e 93,5% do stock dos bilhetes de tesouro, emitidos no mercado primário. Refira‐se que apesar do aumento do recurso ao endividamento interno, as taxas de remuneração dos títulos do Tesouro mantiveram‐se relativamente estáveis. As taxas dos bilhetes de tesouro fixaram‐se em 4,00%, 3,939% e 3,63%, respectivamente, para as colocações a 91, 182 e 364 dias, enquanto as taxas das obrigações do tesouro oscilaram entre 5,5% e 6%, tendo‐se registado excepcionalmente uma colocação a 7% em Janeiro de 2010. A dívida externa efectiva atingiu os 61,1% do PIB. O aumento da dívida externa, ao longo dos nove primeiros meses do ano, foi determinado em 78% pelo desembolso das institui‐ ções financeiras portuguesas.
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6. Situação Monetária e Financeira
Orientada para a estabilização das reservas externas do país ‐ condição necessária para a sustentabilidade do regime cambial de peg unilateral ao euro ‐ e reforço da eficiência do sistema bancário, o Banco de Cabo Verde deliberou, a 2 de Junho de 2011, o alargamento da base de incidência das reservas obrigatórias para incluir 50% dos depósitos do sector público administrativo. Adicionalmente à implementação desta medida de política, a ges‐ tão monetária permaneceu, nos últimos seis meses, focalizada no ajustamento da liquidez, ainda excessiva e assimetricamente distribuída no sistema bancário. Neste quadro, as operações do tipo open market, nomeadamente as emissões de Títulos de Regularização Monetária (TRM) à taxa directora (4,25%) ascenderam a 13,7 mil milhões de escudos. As operações de cedência de liquidez, à taxa de 7,25%, atingiram os 91,5 mil milhões de escudos, enquanto as de absorção totalizaram 27,2 mil milhões de escudos.
De registar que as transacções no mercado interbancário (MMI) intensificaram‐se, no período, resultando numa duplicação dos montantes permutados, face ao registado no 1º trimestre de 2011. As transacções no MMI, à taxa média de 5,9%, totalizaram 37,5 mil milhões em finais de Setembro. Agregados Monetários Reflectindo a evolução da actividade económica nacional e os desenvolvimentos nas contas externas, a oferta de moeda em sentido lato, representada pelo agregado monetário M2, cresceu 3% em termos homólogos em Setembro (que compara aos 4,9% registado em Setembro de 2010). Esta evolução representa um abrandamento significativo no ritmo de expansão da massa monetária, que nos últimos anos cresceu em média 9%.
A moderação da criação monetária reflecte os choques negativos sobre os activos externos líquidos do sistema. Com efeito, em linha com a deterioração das contas externas, os acti‐ vos externos líquidos totais decresceram 24,9%, em resultado da redução das reservas
Quadro 3: Principais Indicadores da Situação Monetária (taxas de variações homólogas) Fonte: Bancos Comerciais; Banco de Cabo Verde.
Março Junho Setembro Dezembro Março Junho Setembro
Activos Externos Líquidos ‐5,0 9,2 8,3 5,9 ‐1,3 ‐24,9 ‐25,9 Crédito Interno Liquído 11,1 7,2 8,0 6,2 9,4 13,7 13,6 Crédito Líquido ao SPA 12,9 ‐8,2 1,3 ‐6,0 10,0 24,2 22,2 Crédito à Economia 10,7 11,2 9,7 9,2 9,3 11,3 11,4 M1 ‐0,5 ‐2,4 ‐4,1 7,9 3,4 1,7 ‐4,1 M2 4,0 4,4 4,9 5,9 5,9 3,3 3,1 2011 2010
internacionais líquidas do Banco de Cabo Verde (19,2%) e do aumento dos passivos exter‐ nos de curto e longo prazos dos bancos comerciais em 12% e 70%, respectivamente.
O crédito à economia cresceu 11,4% em termos homólogos (8,7% relativamente a Dezem‐ bro de 2010), mantendo o seu papel determinante na criação monetária. De notar que o crédito ao sector privado, que representa 99,1% do total do crédito à economia, cresceu 10,5% em termos homólogos (7,9%, relativamente a Dezembro), tendo as hipotecas para residências crescido 8,3% (11,3% no período homólogo). O crédito para os diversos secto‐ res de actividade apresentou, no seu conjunto, uma evolução homóloga positiva, particu‐ larmente os serviços sociais e pessoais (18,9%), a construção e obras públicas (15,2%) e transportes e comunicações (42,7%).
O crédito ao sector público administrativo aumentou 22% em termos homólogos em Setembro (32,1% relativamente a Dezembro), invertendo a tendência de redução que vinha observando. Em termos de componentes, a criação monetária foi determinada pelo comportamento dos passivos quase monetários, depósitos à prazo, na medida em que os meios de pagamento em sentido estrito diminuíram 4,1% em termos homólogos e 9% relativamente a Dezem‐ bro. Entre os componentes dos passivos quase monetários, destaca‐se o aumento dos depósitos de emigrantes, na ordem dos 9,4% em termos homólogos e 8,2% relativamente a Dezem‐ bro, bem como dos depósitos de poupança em 9,6% e 5,2%, relativamente ao período homólogo e Dezembro, respectivamente. Registe‐se que em termos agregados, os depósi‐ tos, que representam a principal fonte de financiamento dos bancos, estabilizaram‐se, tan‐ to em termos homólogos como relativamente a Dezembro. Quadro 4: Componentes da Massa Monetária (taxas de variações homólogas) Fonte: Bancos Comerciais; Banco de Cabo Verde.
Março Junho Setembro Dezembro Março Junho Setembro
M1 ‐0,5 ‐2,4 ‐3,8 7,9 3,4 1,7 ‐4,1 Circulação monetária 0,1 0,5 ‐0,7 2,8 ‐1,2 ‐4,1 0,7 Depósitos à ordem M/N ‐0,6 ‐3,1 ‐4,4 9,2 4,5 3,0 ‐5,2 Passivos quase‐monetários 6,9 9,0 11,1 4,6 7,5 4,3 7,4 Depósitos a Prazo M/N 9,8 6,4 14,0 3,5 1,1 ‐9,9 ‐13,3 Depósitos de Emigrantes 7,9 8,8 9,2 6,3 6,4 5,7 9,4 M2 4,0 4,4 5,1 5,9 5,9 3,3 3,1 2011 2010
Relatório de Política Monetária Figura 10: Taxas de Juros Activas e Passivas Fonte: Bancos Comerciais; Cálculos do Banco de Cabo Verde Atendendo à evolução das taxas de juro activas e passivas, infere‐se que as alterações nas condições de investimento e financiamento do sector bancário influenciaram o aumento do crédito e dos recursos de clientes. As taxas de juro activas, especialmente as praticadas nos empréstimos de maturidade até seis meses, apresentaram uma tendência de redução mais expressiva (superior a 1 ponto percentual) a partir do 3º trimestre. Simultaneamente, as taxas das operações passivas, nomeadamente as que remuneram os depósitos de residentes de maturidade inferior a 6 meses e os depósitos de emigrantes registaram um perfil ascendente. 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 12,00 13,00 De z‐ 06 Ma r‐ 07 Ju n‐ 07 Se t‐ 07 De z‐ 07 Ma r‐ 08 Ju n‐ 08 Se t‐ 08 De z‐ 08 Ma r‐ 09 Ju n‐ 09 Se t‐ 09 De z‐ 09 Ma r‐ 10 Ju n‐ 10 Se t‐ 10 De z‐ 10 Ma r‐ 11 Ju n‐ 11 Se t‐ 11 em pe rc en ta ge m taxas activas
6 ‐12 meses 1 ‐2 anos Superior a 10 anos
3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 5,50 De z‐ 06 Ma r‐ 07 Ju n‐ 07 Se t‐ 07 De z‐ 07 Ma r‐ 08 Ju n‐ 08 Se t‐ 08 De z‐ 08 Ma r‐ 09 Ju n‐ 09 Se t‐ 09 De z‐ 09 Ma r‐ 10 Ju n‐ 10 Se t‐ 10 De z‐ 10 Ma r‐ 11 Ju n‐ 11 Se t‐ 11 em pe rc en ta ge m taxas passivas Residentes (181 dias a 1 ano) Emigrantes (181 dias a 1 ano) Residentes (91 a 180 dias)
7. Hipóteses de Enquadramento
As actuais projecções assentam em informações sobre a evolução recente da economia cabo‐verdiana, bem como num conjunto de pressupostos sobre as expectativas de evolu‐ ção dos principais indicadores económicos e financeiros para o 4º trimestre de 2011 e o ano de 2012. O enquadramento externo da economia apresenta‐se menos favorável, mas as pressões inflacionistas estão mais contidas. Os desenvolvimentos económicos e financeiros mais recentes apontam para um abranda‐ mento da actividade económica global e do comércio internacional, na segunda metade do ano e em 2012. Acresce‐se o facto dos riscos de uma nova recessão global não serem negli‐ genciáveis, numa conjuntura de recrudescimento de tensões nos mercados financeiros, relacionado com o agudizar da crise da dívida soberana na Área do Euro, num contexto em que a margem de actuação da política macroeconómica nos países avançados é relativa‐ mente limitada.
A informação disponível nos mercados de futuros aponta para uma descida do preço médio anual do petróleo de cerca de 112 dólares por barril em 2011 para 108 dólares em 2012, em função do abrandamento da economia mundial. As expectativas nos mercados suge‐ rem, igualmente, alguma desaceleração dos preços dos bens alimentares nos mercados internacionais, face aos máximos registados no início do ano, e uma redução de 4,7% em 2012. Os pressupostos técnicos relativos à evolução das taxas de câmbio admitem, em conformi‐ dade com as projecções do Banco de Portugal, uma apreciação nominal do euro face ao dólar de 4,7%, em termos homólogos em finais de 2011, e uma depreciação ligeira do Euro em 2012, tanto em relação ao dólar como em termos médios efectivos. No que se refere às condições de financiamento externo, as taxas euribor a 3 meses, que indexam grande parte da dívida externa por reembolsar, deverão atingir 1,4% em 2011 e 1,2% em 2012 (0,8% em 2010), de acordo com o Banco Central Europeu. A política orçamental permanece, essencialmente, expansionista. De acordo com as linhas orientadoras da política orçamental, o ano de 2011 marcaria o iní‐ cio do phasing‐out da política fortemente expansionista em curso desde 2009, prevendo‐se uma redução do défice global em 0,6 pontos percentuais do PIB em 2011. Contudo, a ava‐
Relatório de Política Monetária liação de meio percurso da execução orçamental, feita pelo Ministério das Finanças, aponta para um agravamento do défice previsto para 2011 (em 0,7 pontos percentuais). Para 2012, o quadro orçamental considera: desaceleração das receitas fiscais em 1,8 pontos percentuais; redução dos donativos em 48,7%; aumento das despesas correntes em 5,4% (11,1% previsto para 2011) e redução das despesas de investimento em 14%. O défice global, na perspectiva do Ministério das Finanças, deverá atingir os 9,8% do PIB, que compara aos 11% antecipados para 2011. O Orçamento do Estado prevê um menor recurso ao endividamento externo, compensado com um maior recurso ao financiamento interno em 2012.
8. Projecções para a Economia Cabo‐Verdiana
Num contexto de dissipação de factores de natureza temporária, que determinaram a ace‐ leração dos preços internacionais de matérias‐primas, nomeadamente a instabilidade polí‐ tica e social no Norte de África, e de moderação da procura global, a projecção actual apon‐ ta para uma descida da inflação média anual do intervalo 4,5%‐5% para o intervalo 3%‐ 4%. O exercício da projecção da inflação teve por base a evolução actual do índice de preços no consumidor e considerou os pressupostos técnicos relativos à evolução dos preços interna‐ cionais das matérias‐primas energéticas e não energéticas, bem como a inflação prevista na Zona Euro e em Portugal, país de onde provêm mais de 50% das importações cabo‐ verdianas. A nível interno, admitiu‐se que o crescimento dos custos salariais deverá manter ‐se moderado. Quadro 5: Hipóteses de Enquadramento da Projecção da Inflação Fonte: Fundo Monetário Internacional; Banco Central Europeu e Banco de Portugal. Notas: IHPC‐índice harmonizado de preços no consumidor; P ‐ projecções. Preço das Matérias‐Primas energéticas ‐36,3% 27,9% 30,6% ‐3,1% não energéticas ‐15,7% 26,3% 21,2% ‐4,7% IHPC‐Portugal ‐0,9% 1,4% 3,5% 2,4% IHPC‐Zona Euro 0,3% 1,6% [2,5% 2,7%] [1,1% 2,2%] 2011P 2009 2010 2012PNo pressuposto da manutenção das actuais orientações de política orçamental e monetá‐ ria, a presente projecção aponta para um abrandamento do ritmo de crescimento da eco‐
nomia em 2011 e 2012. Acompanhando, em certa medida, a evolução esperada da procura
externa líquida, o PIB deverá crescer no intervalo 4%‐5% em 2011. Para 2012, o cenário central das projecções admite uma ligeira desaceleração em termos reais face a 2011, explicada, principalmente, pelo comportamento do investimento.
Em termos reais, prevê‐se um contributo maior da procura externa líquida, suportado pela desaceleração significativa das importações.
Do lado da procura interna, antecipa‐se um aumento, ainda que moderado do consumo privado, sustentado pela melhoria do rendimento disponível real das famílias, em grande medida, devido à redução das pressões inflacionistas. Em linha com o orçamentado, o con‐ sumo público deverá crescer 6,5%.
Em termos agregados, a formação bruta de capital fixo deverá estabilizar‐se em termos reais, prevendo‐se que os investimentos privados compensem a significativa redução do investimento público.
As exportações de bens e serviços deverão registar um abrandamento no seu ritmo de crescimento, em linha com o enquadramento externo da economia, enquanto as importa‐ ções deverão desacelerar grandemente, acompanhando o abrandamento da procura glo‐ bal.
A balança global deverá permanecer deficitária em 2012, induzindo a uma redução das
reservas internacionais líquidas do país, que deverão passar a garantir 2,6 meses de impor‐ tação (3,0 em 2011). Produto Interno Bruto variação real 5,6 [4,0 ‐ 5,0 ] [4,0 ‐ 5,0 ] Consumo Privado 3,8 2,9 4,1 Consumo Público 2,6 1,9 6,5 Formação Bruta de Capital Fixo 4,1 5,1 0,5 Exportações 13,8 11,4 4,4 Importações 4,1 4,5 0,8 Balança Corrente e de Capital em % do PIB ‐9,8 ‐17,4 ‐13,9 Balança de Bens e Serviços em % do PIB ‐30,7 ‐33,3 ‐28,0 Índice de Preços no Consumidor variação média em % 2,1 [4,5 ‐ 5,0] [3 ‐ 4 ] variação real Unidades 2010 E 2011 E 2012 P Quadro 6: Projecções do Banco de Cabo Verde Fonte: Banco de Cabo Verde. Notas: E‐ estimativas ; P ‐ projecções.
Relatório de Política Monetária O défice da balança corrente e de capital deverá registar, no entanto, um comportamento menos desfavorável. Prevê‐se que as exportações de bens mantenham um perfil ascenden‐ te, embora em desaceleração, face à moderação da procura externa e à redução do efeito preço nas reexportações de combustíveis. Estima‐se, igualmente, que a alteração das con‐ dições de acesso preferencial ao mercado da União Europeia deverá afectar negativamen‐ te a evolução das exportações de mercadorias. As importações de bens deverão abrandar consideravelmente, em função da esperada desaceleração da procura e da redução das pressões inflacionistas nos mercados fornecedores.
O excedente da balança de serviços deverá crescer 10,1%, o que compara à projecção de 20,8% para 2011. O impacto antecipado da deterioração da situação financeira dos turistas da União Europeia e o aumento das importações de serviços empresariais suportam, em grande medida, as projecções da balança de serviços. As perspectivas para a evolução das remessas de emigrantes são, igualmente, menos opti‐ mistas, em função da esperada degradação dos mercados de trabalho dos principais países de acolhimento da emigração cabo‐verdiana. Igualmente, prevê‐se que a severa consolida‐ ção orçamental na Europa (em particular, o aumento dos impostos paralelamente à redu‐ ção dos benefícios sociais) influa nas transferências dos emigrantes. A redução prevista dos donativos ao Governo Geral também deverá contribuir para a diminuição do excedente da balança de transferências. Nas rubricas de financiamento, prevê‐se uma redução, embora menos acentuada devido ao efeito base, dos influxos do investimento estrangeiro, atendendo ao desenvolvimento nos mercados financeiros na Europa. Os desembolsos líquidos da dívida pública externa deverão diminuir perto de 4%, enquanto as sociedades não financeiras privadas deverão continuar, fundamentalmente, a amortizar dívida contratada em anos anteriores. A posição de investimento internacional do país deverá registar um agravamento, devido à contínua acumulação dos passivos externos geradores de dívida. Em consequência, os indi‐ cadores de sustentabilidade da dívida externa, nomeadamente o valor actual da dívida pública externa efectiva em percentagem do PIB, continuam a deteriorar, aproximando‐se este último do threshold estabelecido para risco moderado (50% do PIB). Igualmente, em resultado do aumento das obrigações contratuais do Governo Central e da dinâmica espe‐ rada dos influxos privados.