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Cultura símbolos signos que articulam significados

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Academic year: 2021

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Cultura

Em nosso cotidiano praticamos diversas ações, agimos de uma determinada forma, temos um certo comportamento que nos parece normal. Ex: Acordar às 5 da manhã, tomar banho e escovar os dentes, vestir uma roupa, tomar café e sair para trabalhar. Pegar um ônibus e enfrentar congestionamento, entrar às 7 no trabalho, almoçar ao meio-dia, tomar um cafezinho e voltar ao trabalho. Sair às 18 horas, pegar um ônibus e enfrentar congestionamento, ir para o cursinho. Assistir as aulas até as 22:50, pegar ônibus, chegar em casa, comer e dormir. Na rotina descrita tudo parece perfeitamente aceitável, não há nenhum evento que fuja da normalidade. Porém, quando tomamos contato com outros hábitos (numa viagem, ou mesmo ao vermos um documentário, ou lermos uma reportagem) percebemos que existem outras formas de agir, outras formas de se comportar. Por que percebemos isto nestes momentos? A resposta que mais ouvimos nesta situação é de que isto ocorre devido ao encontro com uma outra cultura. Mas, o que é Cultura?

Ora, diriam alguns, cultura é o domínio de certos conhecimentos como musica, literatura, línguas, ciência, etiqueta, etc. Tal forma de pensar deriva, em parte, da própria origem da palavra, o verbo em latim colere, que significa cultivar, criar, tomar conta e cuidar. Desta maneira cultura seria algo a ser cultivado, que deve ser aprendido durante nossa formação. Entretanto esta concepção apresenta um problema, pois leva a uma divisão numa sociedade entre os cultos (que detêm este conhecimento e portanto tem cultura) e os incultos (pessoas “ignorantes”, sem cultura). Vejam que tal definição é insuficiente, porque não toma cultura como algo que perpassa todos os integrantes de uma sociedade, encara como um privilégio de poucos limitando seu sentido. Para uma melhor compreensão de qual o sentido do termo cultura, vejamos algumas de suas características principais.

Ela é constituída de símbolos e signos que articulam significados. Quando falo de uma pessoa responsável pela cura de doenças, a figura que formamos em nosso pensamento é quase sempre de um sujeito vestido todo de branco, com um estetoscópio pendurado no pescoço e esperando na porta de um consultório, ou seja, o médico. Se estivesse dirigindo-nos a um índio sem qualquer contato com dirigindo-nossa sociedade, é provável que a imagem que formaria em seu pensamento seria a do xamã de sua tribo, vestido conforme seus costumes.

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A diferença perante a mesma pergunta está no sentido que cada cultura atribui as coisas, as idéias que a constituem.

Contudo, esta primeira afirmação ainda não explica muita coisa. É preciso conhecer como objetos, ações e idéias ganham sentido para nós. Para isso temos que perceber que toda cultura é uma produção humana. Os significados que atribuímos aos elementos que compõem nosso cotidiano são criados por nós, construídos através de práticas sociais e não algo natural, universal e imutável. Vejamos estas idéias a partir do exemplo usado anteriormente: “(...) sair às 18 horas, pegar um ônibus e enfrentar congestionamento, ir para o cursinho.” Aqui percebemos claramente que em nosso cotidiano existe uma divisão entre o local de trabalho e o local de estudo (no caso o cursinho). Esta divisão demonstra a separação entre “saber” e “fazer” e o significado que atribuímos a estas duas idéias. Significado este formado e perpetuado através de nossas ações, ou melhor, praticas sociais, que cristalizam-se, neste caso, em lugares como a escola, ou a universidade (locais do saber) e fabricas e fazendas (locais de trabalho).

Por fim, sendo a cultura produto de praticas sociais ela é (como qualquer elemento humano) circunscrito num tempo e num espaço determinado. Esta é uma característica importante de ressaltar para o estudo de historia, pois através dela percebemos que cultura é algo mutável e diverso. Varia conforme o período1 que estamos estudando e constitui um importante elemento para a compreensão dos processos históricos.

Cultura e Identidade

Retomemos agora a situação que nos levou a pensar o que era cultura. Quando em certos momentos nos deparamos com membros de culturas diferentes da nossa, não só tomamos conhecimento do “outro”, do “diferente”, mas também percebemos através da comparação nossas próprias características. Este perceber está ligado à construção de uma identidade, da qual a cultura é um importante elemento constitutivo. A partir da musica Samba de Pirapora de Geraldo Filme vamos tentar compreender melhor o que seja identidade e sua relação com cultura.

1 O termo período refere-se a um recorte espaço-temporal.Ex:a península balcânica na idade antiga é o

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Samba de Pirapora (Geraldo Filme)

Eu era menino

mamãe disse vam´embora você vai ser batizado no Samba de Pirapora

Mamãe fez uma promessa para me vestir de anjo me vestiu de azul celeste na cabeça um arranjo ouviu-se a voz do festeiro no meio da multidão “menino preto não sai aqui nesta procissão” mamãe, mulher decidida ao santo pediu perdão jogou minha asa fora me levou pro barracão

Lá no barraco tudo era alegria

nêgo batia na zabumba e o boi gemia

Iniciado o neguinho no batuque de terreiro samba de Piracicaba Tietê e campineiro

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os bambas da paulicéia não consigo esquecer Fredericão na zabumba fazia a terra tremer cresci na roda de bamba no meio da alegria Eunice puxava ponto D. Olímpia respondia Sinhá caía na roda gastando sua sandália e a poeira levantava no vento das sete saias

Através de um relato feito por um menino, a musica coloca elementos que demonstram as variadas formas que assume a Fé católica na festa de Bom Jesus de Pirapora. Mais ainda, coloca o conflito entre elas quando diz, entre outros momentos, “menino preto não sai aqui nesta procissão”. Esta frase do festeiro aponta para uma segregação e separação dos espaços entre brancos e negros dentro da festa. A mãe, “mulher decidida”, leva então o garoto aos barracões. Este é um momento importante da música,

Box 1: A Festa de Bom Jesus de Pirarpora

Na cidade de Bom Jesus de Pirapora (Vale do Ribeira, SP) comemora-se anualmente a festa do padroeiro da cidade, Bom Jesus. A imagem teria sido encontrada nas margens do Rio Tiete e a ela são creditados vários milagres. Ao longo dos séculos formou-se uma verdadeira adoração à imagem, atraindo romeiros de vários lugares do estado e mesmo de Minas Gerais. Muitos destes, sendo de origem humilde, instalavam-se na periferia da cidade em barracões. Ali comemoravam, tocavam e dançavam no ritmo do Jongo e do Samba de Bumbo, elementos fundamentais na constituição do samba paulista. Por volta das décadas de 40 e 50 a igreja perseguiu tais festejos, tendo destruído os barracões, a partir daí muitos dos antigos grupos de brincantes desfizeram-se. Hoje, desenvolve-se na região um movimento de recuperação destas manifestações, contando com a participação de grupos do interior e da capital.

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pois o nosso protagonista toma contato com expressões até então desconhecidas, é batizado literalmente no samba de Pirapora. Este encontro não revela apenas uma outra cultura para, mas também leva o garoto a se identificar com ela.

Ideologia

“Acredite apenas no que seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem Também não acredite no que seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem

Saiba também que não crer algo significa algo crer” (Bertolt Brecht)

Certas palavras possuem tantos significados que fica difícil estipular uma definição exata, muitas vezes seu sentido depende do contexto com que é utilizada. O problema é quando esta palavra expressa um conceito. Discutimos cultura, mostramos sua relação com a formação da identidade; passemos agora para um outro termo que cai justamente neste problema de definição, Ideologia. O que é este conceito que ouvimos tanto falar?

Ao falar de cultura definimos, entre outras características, que esta é fruto da produção humana, construída através da pratica social. Sendo assim, uma sociedade como a nossa proporciona dentro de um mesmo período a formação de diversas culturas, já que ela é composta por grupos com praticas sociais diferentes. Então, por que temos a impressão de que existe uma unidade cultural, uma única forma de interpretar o mundo que nos cerca? Pensemos mais a fundo esta idéia de heterogeneidade (ou seja variedade) de culturas dentro de uma mesma sociedade. Ela acontece devido ao fato da constituição de grupos com praticas sociais diferentes, e portanto produzem interpretações diferentes. Porém, quando um destes grupos estabelece uma relação de dominação sobre os demais, através do poder

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político e/ou do poder econômico, tem em mãos mecanismos capazes de produzir uma “ilusão” de homogeneidade, de mesma cultura. Este processo nem sempre está ligado diretamente a dominação (no sentido de uma lavagem cerebral visando o controle absoluto), muitas vezes vem da concepção de que existe apenas uma “cultura”, a destes grupos

Pensemos num fenômeno contemporâneo, a chamada globalização. Seu nome indica um processo de interligação de varias partes do globo. Muitos, empolgados com as possibilidades que as novas tecnologias de comunicação e transporte possibilitam, levantaram a hipótese de uma pluralidade cultural (a convivência e o respeito mútuo de culturas distintas). Uma pergunta, isto realmente aconteceu? Ou vivemos um processo oposto? O discurso de democracia cultural mascara, muitas vezes, um processo de dominação cultural feito através de uma seleção do que é aceito. Podemos citar dois instrumentos desta seleção: certas instituições públicas e a chamada industria cultural. Quando falamos em instituições publicas referimo-nos principalmente aquelas ligadas a educação. A escola e as disciplinas ensinadas nela formam um ótimo exemplo para esta seleção. No período da ditadura militar no Brasil (durante as décadas de 60, 70 e 80) foi alterado profundamente o currículo escolar, certos tópicos das disciplinas ( principalmente de humanas) sofrerão alterações ou mesmo foram eliminados para serem de acordo com o regime.

Já a indústria cultural traz em seu próprio nome a explicação de suas características. É a transformação dos signos, dos símbolos ( que vimos quando falamos de cultura) em mercadoria. “Tome o uísque Old e vire um lorde!”, anuncia uma propaganda; “Guaravita, você toma e dá dez!” fala outra, “Não deixe de ler a revista Fofoquinha, se não você fica de fora!”diz mais uma. Como industria procura produzir incessantemente, e ligada a cultura projeta certos comportamentos, misturando produto e fantasia para uma massa de consumidores. Seria esta dominação cultural que define o que é ideologia?

Porém, antes de fechar uma definição,olhemos de outra forma para o conceito de ideologia. Podemos encarar como algo necessário e fundamental se desvincularmos da idéia de dominação, se pensarmos em ideologia como elemento de transformação. Quando criticamos a sociedade que vivemos, quando propomos saídas para seu formato atual (independente da vertente política), quando lutamos por tais transformações não estamos

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impregnados por uma ideologia? É comum se referir a geração dos anos 90, como uma geração sem, sem uma ideologia! Neste sentido o termo assume um caráter de bandeira (incentivo e motivo) de uma luta. A perda de ideologia pra esta geração (neste sentido positivo) é expressa por Cazuza numa musica com este nome, em seus versos canta:

“Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia

Eu quero uma pra viver”

Como foi dito logo no começo, o conceito apresenta varias possibilidades de definição. Sem taxar o que é, ou não, ideologia, podemos perceber que nos dois casos apresentados temos traços comuns. Em ambos ela aparece ligada à cultura e a um uso político, seja como instrumento de dominação ou critica e transformação. De uma maneira geral fiquemos coma idéia de ideologia ser uma organização política da cultura.

Referências

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