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Daniel no mundo do silêncio

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Academic year: 2021

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Daniel perde a audição nos primeiros anos de vida, e sua família dá todo o apoio para ele

se comunicar de outra forma. Logo, Daniel entra em uma escola especial, onde aprende

LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais, e faz muitas amizades. Quando o garoto começa a fre­

quentar uma escola comum, porém, os novos colegas não compreendem o que ele diz e só

zombam dele. A comunicação se estabelece quando todos começam a entender que Daniel

apenas utiliza um idioma diferente.

Este guia em forma de perguntas e respostas foi elaborado pela pedagoga Débora Rodrigues

Moura, especialista em surdez e mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Débora atuou como professora de surdos e ouvintes

na rede pública por 12 anos. Atualmente, dá aulas em universidades e participa de projetos ligados

a Educação, Educação Bilíngue (Língua Portuguesa e LIBRAS) e Educação Inclusiva.

Guia para professores

Walcyr Carrasco

Daniel no mundo

do silêncio

série todos juntoS

Sim, e essa diferença aparece na própria legisla-ção brasileira.

o deficiente auditivo, geralmente, nasceu com audição e a perdeu. Se a perda auditiva ocorre quan­ do a língua oral já foi desenvolvida, a pessoa sentirá falta do som e tentará estabelecer a comunicação por meio dele. Nessas condições, a audição é a for­ ma como a pessoa se organiza mentalmente, sendo essencial para suas relações com o mundo. nor-malmente, quem possui deficiência auditiva utiliza aparelhos para aumentar o volume dos sons que ouve mal.

o surdo, embora ainda possa ter alguns resí­ duos auditivos, se organiza por meio da visão. É

utilizando uma língua visual (no caso do Brasil, essa língua é a LIBRAS – Língua Brasileira de sinais).

Por muito tempo, as crianças surdas foram con­ sideradas deficientes auditivas e, com isso, todas as estratégias educacionais tinham foco na oralização: tentava-se ensiná-las a falar como as crianças que ouvem. o desenvolvimento da fala era premissa para o ensino da língua escrita. Hoje, entende-se que essa não é a abordagem mais adequada: valorizar o sen­ tido visual nos surdos é a melhor maneira para que possam se comunicar e adquirir uma língua escrita.

Assim, o termo “surdo” considera que, por ter perdido a audição, a pessoa compreende e interage com o mundo por meio da visão e tem as mesmas

Existe diferença entre ser deficiente auditivo e ser surdo?

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esde

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“LIBRAS” é a sigla de Língua Brasileira de Sinais, o idioma utilizado pelos surdos no Brasil. Ela é composta de alfabeto manual e sinais que podem representar palavras ou ideias completas.

Para que exatamente serve a LIBRAS? Ela substitui a Língua Portuguesa?

A palavra “sorvete” pode ser comunicada por meio do alfabeto manual de LIBRAS, como na ilustração acima. Em LIBRAs, para cada letra do alfabeto exis-te um gesto com as mãos. Esse recurso, chamado “soletração”, só é utilizado em casos especiais, quando não se conhece o obje to de que se fala ou se trata de uma palavra nova. Entretanto, para a comunicação fluente no dia a dia, o surdo utiliza os sinais de LIBRAs.

Esse é o sinal de LIBRAS para a palavra “sorvete”. os sinais de LIBRAS funcio­ nam essencialmente no Brasil. Em cada país há sinais diferentes, pois eles surgem de acordo com os aspectos culturais de cada lugar. Mesmo no Brasil, entre suas regiões, existem algumas variações de sinais para uma mesma palavra. Essas variações são como o “sotaque” do idioma.

Por ser um idioma tão rico e complexo quanto qualquer outro, a LIBRAS permite que sejam discuti-dos quaisquer assuntos. Ela é independente da Língua Portuguesa e tem uma gramática específica. Sendo assim, não existe uma tradução exata da LIBRAS para o Português, e vice­versa, porque, apesar de ser uma lín­ gua brasileira, a sua forma de organização é diferente.

A LIBRAS é fundamental para a criança surda, pois permite que ela construa linguagem, conceitos e con­ cretize as mais diversas relações. o uso da Língua de Sinais também possibilita à criança surda aprender a Língua Portuguesa escrita como segunda língua, sem que haja limitações para seu desenvolvimento escolar. Assim, a LIBRAS é a língua do pensamento do aluno surdo. Além de ter como base uma forma de organi-zação visual e espacial, esse idioma traz consigo uma cultura própria. tais características implicam alguns cuidados, como a percepção de que existem regras de polidez diferenciadas e até gêneros do discurso (piadas, poesias, contos...) que se organizam de forma diferente da língua oral-auditiva.

Ao mesmo tempo, a Língua Portuguesa escrita, como segunda língua, é também um instrumento de in­ clusão social e participação na sociedade. o letramento, o conhecimento de mundo e o acesso à cultura também serão possibilitados pela Língua Portuguesa escrita.

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Qual a melhor opção para uma criança surda ou com deficiência auditiva: a escola regular ou a especial? uma escola regular pode se recusar a aceitar um aluno surdo?

A escola bilíngue para surdos é considerada o ambiente mais adequado para o desenvolvimento linguístico, cognitivo, social e psicológico da criança surda. Isso ocorre porque esses ambientes são fre­ quentados por usuários da Língua de Sinais de di­ ferentes faixas etárias. Desse modo, essas escolas favorecem a aquisição da LIBRAS como primeira lín-gua, em situações interativas e significativas. Além disso, os professores estão preparados para utilizar a Língua de Sinais também como língua de instrução em todas as áreas do saber. o currículo desse tipo de escola é correspondente ao das escolas regulares. A única coisa que muda é o idioma.

Na escola bilíngue, a Língua Portuguesa escrita é uma segunda língua, ou seja, seu ensino é mi-nistrado como uma língua estrangeira. Assim, a criança surda se apropriará da Língua Portuguesa por meio das relações visuais, sem correspondência com qualquer som pronunciado pela fala.

No Brasil, o decreto nº 5.626/2005, que regula-menta a lei federal nº 10.436/2002, prevê o direito da criança surda frequentar escolas bilíngues.

As escolas regulares não podem se recusar a aceitar crianças surdas. o mesmo decreto citado acima garante a presença de um intérprete de LIBRAs nesses espaços. Esse direito é garantido a qualquer pessoa surda, em qualquer fase escolar. o poder pú-blico deve se responsabilizar pela contratação do in-térprete em instituições públicas. Nas particulares, a responsabilidade é da própria instituição.

É importante lembrar que a presença do intér-prete só será útil se a criança já entender e souber usar a Língua de Sinais e se já tiver aprendido a Lín­ gua Portuguesa como segunda língua.

É imprescindível a presença do intérprete? É ne-cessário algum outro suporte na escola regular para a criança surda?

A presença do intérprete de LIBRAS é fundamental quando o aluno surdo está na rede regular de ensino. Ele possibilita que o aluno compreenda tudo que o professor fala e possa interagir com toda a classe.

Além disso, devem ser tomados alguns cuidados ao receber um aluno surdo na classe regular, como: • preparar as crianças ouvintes, esclarecendo a participação do intérprete de LIBRAs no grupo;

• antecipar ao intérprete o que será dado nas aulas, para que o trabalho pedagógico tenha maior aproveitamento;

• nunca ditar a lição: os textos devem ser dis-tribuídos por escrito ou registrados na lousa;

• não falar e registrar ao mesmo tempo na lousa e, em seguida, apagar (o aluno surdo precisará pres­ tar atenção ao intérprete enquanto o professor es-tiver falando e só depois poderá olhar para a lousa);

• orientar os demais alunos a falar um de cada vez, para que o intérprete consiga traduzir;

• posicionar as carteiras da sala em círculo, para favorecer a percepção visual de todos.

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Devo aprender LIBRAS para me comunicar com meus alunos surdos ou isso pode prejudicar a co-municação deles com as outras pessoas ouvintes?

o aprendizado da LIBRAS por parte do professor só enriquece as interações sociais na sala de aula. De modo algum isso vai prejudicar a comunicação do aluno surdo com outras pessoas ouvintes. Ao contrário, poderá ampliar significativamente suas informações e conceitos acerca do mundo.

No entanto, esse aprendizado não implicará a substituição do intérprete de LIBRAs em sala. Isso porque a Língua Portuguesa e a LIBRAS são dois idiomas estruturalmente diferentes, não sendo possível sinalizar e falar ao mesmo tempo.

Ainda assim, a comunicação na primeira língua do aluno surdo certamente contribuirá para o for­ talecimento das relações de aprendizado entre pro-fessor e aluno.

Como a escola deve fazer para contratar um tradutor de LIBRAS? Existe alguma entidade que regulamente a profissão?

As escolas públicas devem consultar as res-pectivas secretarias ou Diretorias de Ensino, infor-mando a necessidade do intérprete. Cada municí-pio ou estado tem procedido de uma forma a fim de cumprir a lei vigente. Alguns, por exemplo, já regularizaram a situação prevendo o lançamento de concursos públicos para suprir essa demanda. outros ainda contratam em caráter emergencial. No caso das escolas particulares, a contratação deve ser feita pela própria instituição, que tam-bém deve assumir o custo.

Seguindo o decreto nº 5.626/2005, todas as universidades brasileiras estão inserindo nas grades curriculares de todos os seus cursos de licenciatura plena a disciplina LIBRAS. No entanto, a carga horária mínima possibilita apenas que o professor comece a refletir sobre as questões educacionais relacionadas à surdez e se comunique rudimentarmente com o aluno surdo. Para se tornar intérprete de LIBRAs, o profissional precisa estudar em média cinco anos.

No Brasil, ainda não existe uma entidade que regulamente a profissão do intérprete de LIBRAS. Existem poucos cursos superiores para a formação desse profissional. Diante da necessidade de aten-der à lei, o governo brasileiro tem promovido – com o apoio da universidade Federal de Santa Catari-na e do Instituto NacioCatari-nal de Educação de Surdos (InEs) – uma avaliação para a certificação dos intér­ pretes que já exercem a profissão. Essa certificação chama-se Pró-LIBRAs.

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Se percebo que a criança com deficiência não está se adaptando à rotina da escola, como pos-so ajudá-la? Ela deve ser transferida para uma escola especial?

Antes de tomar qualquer providência, é preci-so esgotar todos os recurpreci-sos possíveis para que a criança se mantenha na escola. Dentre eles: adap-tação do ambiente, utilização de recursos visuais, mudanças na maneira de conduzir as aulas, a pre­ sença do intérprete de LIBRAS... É essencial que, desde o ingresso do aluno surdo, seja feito um trabalho de integração entre ele e os alunos ouvin-tes, além de aconselhamento aos pais.

Cada caso precisa de providências específicas. No entanto, se a transferência para a escola bilín-gue for inevitável, em momento algum essa mu­ dança deve ser entendida como um fracasso para a criança surda.

Alguns de meus alunos fazem piada e até excluem a criança surda ou com deficiência auditiva. Como posso intervir nessa situação?

Em primeiro lugar, é interessante promover a reflexão e desenvolver na classe atividades que esti­ mulem a compreensão das diferenças – quaisquer que sejam elas. um trabalho cuidadoso de cons-cientização pode auxiliar muito na superação de preconceitos.

No que se refere à perda auditiva, é necessário deixar claro às crianças ouvintes o que é a surdez, qual o papel do aparelho auditivo para quem tem deficiência, qual a importância da LIBRAS para a criança surda... Esses estímulos contribuem para que os alunos reflitam sobre atitudes inadequadas com os colegas e fiquem atentos à forma como se comportam diante do que é novo.

Geralmente, a criança ouvinte se mostra bas­ tante interessada em aprender a LIBRAS. Promover situações de interação comunicativa entre as

crian-tenho um aluno surdo em sala de aula. Preciso tratá-lo de forma diferente?

Não. tratar a criança surda de maneira dife-rente não favorecerá seu aprendizado. Ao contrário, pode até fortalecer atitudes de superproteção e dependência, bem como reforçar preconceitos ba-seados na ideia de que a criança surda é menos capaz do que a ouvinte.

o mais importante nessa relação é que sejam respeitadas as necessidades visuais da criança surda, para que ela se aproprie dos mais diversos conceitos, comportamentos, conteúdos escolares e interações em sala de aula. ou seja, deve­se reco-nhecer que o aluno surdo tem a capacidade de aprender e interagir socialmente como qualquer outra criança.

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SugEstão dE AtIvIdADE

Para saber mais:

• CAPoVILLA, F. C.; RAPhAEL, W. D.; MAuRICIo, A. C. Novo Deit-Libras: dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2010. v. 1.

• CAPoVILLA, F. C.; RAPhAEL, W. D.; MAuRICIo, A. C. Novo Deit-Libras: dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2011. v. 2.

Inicialmente, o professor pode propor uma brinca­ deira: a leitura ou recitação de algumas frases em que um aluno ou o próprio professor apenas mexa os lá­ bios, sem soltar a voz. A classe deve tentar descobrir o que está sendo dito. Depois, as respostas dos alunos devem ser comparadas com o texto escrito. Partindo do resultado dessa experiência, o professor pode insti­ gar a classe a relatar o que sentiu, como é fazer leitura labial e se conseguem imaginar como é viver sem som. Como complemento, o professor pode colocar o trecho de um vídeo (de um programa televisivo ou desenho animado, por exemplo) e pedir que os alu-nos adivinhem o que está sendo dito, que informa­ ções ele transmite.

o professor pode propor que os alunos comparti-lhem as sensações e dificuldades vivenciadas e tentem pensar sobre o que enfrenta para entender o mundo quem perdeu a audição muito cedo, ouve muito pouco ou nunca escutou e não tem memória auditiva.

Em seguida, os alunos podem ser questionados se sabem se comunicar sem som. Desta vez, pode ser criado um novo jogo de adivinhação, em que palavras ou frases devem ser transmitidas por mímica. A classe perceberá que, na ausência do som, é mais fácil ser en­ tendido quando são utilizados sinais para se comunicar.

É interessante também instigá-los a pensar sobre os gestos do dia a dia que são plenamente compreen­ didos sem palavras: um sorriso, um sinal de “positivo” com o polegar, um aceno de “tchau”...

A partir dessas reflexões, o professor pode pergun-tar aos alunos o que eles sabem sobre surdez, pode fa­ lar sobre mitos e possibilidades em relação aos surdos e sobre o que é a LIBRAS e sua função. Caso haja um aluno surdo em classe que utilize a LIBRAS, o professor pode pedir a ele ou ao intérprete que mostre à classe alguns sinais básicos, como “olá”, “obrigado” e “por favor”.

Podem também ser mostrados alguns vídeos em que a LIBRAS aparece – uma opção é o videoclipe da mú-sica “Diferenças”, de Margareth Darezzo, disponível em http://sites.aticascipione.com.br/canteiro/videos.html. o site da FEnEIs – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (www.feneis.com.br) e da onG Acessibilidade Brasil (www.acessobrasil.org.br) também são boas fontes de consulta.

Apresentar à classe o Alfabeto Manual de LIBRAs (www.feneis.org.br/page/libras_alfabeto.asp#feneis) é interessante. Assim, todos terão a oportunidade de aprender a soletrar o próprio nome no idioma.

todo esse trabalho deve ser permeado pelo respeito às diferenças e pelo combate ao preconceito.

Referências

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