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Reflexões sobre a valorização de produtos agro-alimentares de montanha, o caso da Terra Fria do Nordeste de Trás-os-Montes

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REFLEXOES SOBRE A

v

ALORIZA<;A.O DE

PRODUTOS AGRO-ALIMENTARES DE

MONTANHA

a CASO DA TERRA FRIA DO NORDESTE DE mAs-as-MONTES

FERNANDO DE SOUSA* ALVARO MENDON<;:A* ANT6NIO FRAGATA**

Comunicac;:ao apresentada ao Seminario " Recursos Naturais do Nordeste Transmontano", Escola Superior de Educac;:ao de Braganc;:a, 6 a 8 de lunho 1991.

* Escola Superior Agniria de Bragan~a.

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REFLEXOES SOBRE A

v

ALORIZA<;AO DE PRODUTOS AGRO-ALIMENTARES DE MONTANHA

o

CASO DA TERRA FRIA DO NORDESTE DE mAS-OS-MONTES

Fernando de Sousa I Alvaro Mendon,a 1 Antonio Fragata 2

RESUMO

As zonas de planalto, vales sub-montanos e montanas do nordeste de Tnis-os-Montes (Terra Fria Transmontana) tern hoje, face a uma conjectura favonivel aos produtos de qualidade - nova PAC da CEE-, a possibilidade de solucionar alguns problemas que afectam a sua actividade socio-economica.

Uma alternativa podenl consistir na valoriza,ao de produtos agro-alimentares Iocais de reconhecida quaJidade e na sua integraliao na actividade turfstica regional.

Todavia, essa valorizaliao nao e tarefa facil se acrescentarmos, aos factares que condicionam em geral 0 sector primano da regiiio, os especfficos dos prodl1tos a promover, nomeadamente a ausencia de tipifica,ao, a deficiente organiza,ao da produ,ao e do comercio e a heterogeneidade da qualidade. Verifica-se ser diffciI a implementaliao e concorrencia no mercado dos "produtos de qualidade" onde imperam ao mesmo tempo a receptividade e a agressividade comercial de outros produtos e outras regioes.

Para responder a esta situaliao, preconiza-se a crialiao de uma estrutura organizativa fomentadora de uma marca colectiva de denominaliao de origem para produtos agro-alimeutares regionais, com os seguintes objectivos:

- Promover de forma integrada os vanos produtos de qualidade (MCIP).

- Efectuar 0 controle de qualidade, para apoiar as fileiras dos diferentes produtos, man ter e melhorar a sua qualidade.

- Instituir urn consenso social entre agruparnento de produtores, cornerciantes, cooperativas, industria, investigadores, tecnicos e consurnidores

- Integrar esforlios com outras instituilioes/organizalioes para 0 desenvolvimento

socio-economico da regiao.

1 Escola Superior Agniria de Bragan,a

2 Departamento de Estudos de Economia e Sociologia Agnirias - INIA

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Os meios necessanos 11 estrutura<;ao e arranque desta organiza<;ao poderao ser gerados

mediante recurso aos apoios financeiros previstos em programas como 0 sub-programa 4 do

PROTAD.

o

despertar deste projecto podera ser fundamental para urn desenvolvimento rural

baseado numa logica de diversifica<;ao economica das comunidades locais, na valoriza<;ao de recursos endogenos de alta qualidade produzidos a baixo custo energetico e atraves de

processos tradicionaisl artesanais, como forma de garantir 0 povoamento de zonas rurais,

proteger 0 ambiente tragil e manter 0 espa<;o natural.

- SITUA9AO ACTUAL

As zonas de planalto, vales sUb-montanos e montanas da Terra Fria do nordeste de Tras-os-Montes apresentam uma grande diversidade de condig6es ambientais, nomeadamente face a variag6es importantes de precipitagao. Assim, a paisagem diferencia-se conforme nos situamos em zonas de precipitagao acima dos 800/1000

mm

ou abaixo dos 600/800mm (GONQALVES, 1990).

Do ponto de vista da estrutura agraria, estas regi6es caracterizam-se por as explorag6es possufrem pequena dimensao e uma elevada pulverizagao da sua sLiperficie (CEPEDA, 1988,131). As estruturas associativas dos agricultores sao deficientes ou inexistentes. As principais produg6es tradicionalmente comercializaveis sao: cererais ( trigo e centeio), bovinos ovinos, caprinos e castanha (MOREIRA, 1981). Recentemente, verificou-se um aCrE3scimo na produgao de leite e um decrescimo na importEmcia da venda de batata. Constata-se um geral de abandono progressiv~ de ragas e variedades tradicionais, locais com elevado potencial.

A nfvel do sector comercial, os circuitos sao frageis e desconhecidos e em grande parte dos casos nao beneficiam os produtores. Existem dificuldades na valorizagao e implementagao dos produtos na propria regiao e verifica-se uma ausencia total de marketing e exploragao dos diversos segmentos de consumo.

Na transformagao de produtos, verifica-se uma grande heterogeneidade tecnologica e tambem deficiencias organizativas.

As condig6es agroecologicas naturais , a estrutura fundiaria, os circuitos de comercializagao, a ma qualidade das vias de comunicagao, a

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ausencia de industria agro-alimentar conjugaram-se para que nestas regioes ainda hoje se encontrem, em extensas areas, sistemas agrarios de baixo custo energetico, com recurso substancial a fontes energeticas de cicio curto e dependencia minima do exterior.

II - PERSPECTIVAS FUTURAS

Na situagao actual dos mercados agricolas podia perspectivar-se que estas comunidades de agricultores nao encontrariam mercado para 0 conjunto de produtos tradicionalmente comercializados, por perda de competitividade face a um mercado aberto a produtos estandardizados,

nacionais e europeus, com pregos mais baixos,

No entanto, a nova Politica Agricola Comum ao par em causa a situagao actual dos mercados agricolas, ao sustentar medidas de apoio ao rendimento dos pequenos agricultores, ao privilegiar a qualidade dos produtos, a conservagao da natureza e a manutengao do homem em regioes de montanha (COMiSSAo, 1988), vem abrir novas perspectivas de desenvolvimento a zonas como a Terra Fria Transmontana, com elevado potencial em produtos tradicionais de alta qualidade.

Entre estes produtos, poderiam vir a ser certificados e utilizar marcas colectivas de identificagao de proveniencia (MCIP): castanha, vinho, azeite, derivados do trigo barbela, variedades de fruta como a maga verdial, pao,

vitela mirandesa ( posta e rodiao ), salpicao, mel, cabrito e cordeiro de Montezinho, queijo de ovelha e cabra.

A valorizagao desses produtos nao e, todavia, tarefa facil. A ausencia de tipificagao, a deficiente organizagao dos sectores agrario e comercial e a heterogeneidade da qualidade tornam dificil a entrada e concorrencia num mercado cada vez mais receptiv~ aos "produtos de qualidade", onde impera a agressividade promocional de outros produtos e outras regioes.

A valorizagao, aliada a uma correcta distribuigao da mais valia ao longo da fileira do produto, nao deve procurar uma especializagao dos sistemas produtivos das exploragoes agricolas, A expecializagao contrariaria os objectiv~s e as estrategias dos agricultores dominantes na Terra Fria e alteraria 0 equilibrio natural de ecossistemas situados em meio fragil.

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o

volume de produgao dos produtos e variavel. Em varios casos pouco ultrapassa 0 autoconsumo, e sazonal e satisfaz um ocasional requinte gastron6mico local. Noutros produtos, como a castanha, a carne de

mirandesa ou 0 mel do Parque Natural de Montezinho, 0 volume de

produgao ja justifica uma promogao exterior centrada numa forte imagem da hist6ria, cultura e gastronomia da regiao de origem.

Por outro lado e necessario realizar 0 controlo de qualidade, cujo conceito ad mite duas acepgoes: uma de natureza objectiva, baseada em criterios mensuraveis, como a composigao fisico-quimica ou microbiol6gica; outra de natureza subjectiva, situada entre componentes psico-sensoriais ou organolepticas e culturais, aliando

a

qualidade uma percepgao de satisfagao e sugerindo que um produto de "qualidade" e um produto de "boa qualidade" (JOLIVET, 1989,3).

Um exemplo lipico da subjectividade da qualidade e a carne de bovino. Para um recriador a qualidade e um animal com um bom indice de conversao e com ganhos medios diarios elevados; um retalhista entende como qualidade os bons perfis musculares dos bovin~s, com uma elevada percentagem de pegas de 1 § categoria e uma quantidade de gordura de

cobertura apropriada; um consumidor considera como caracteristicas de qualidade 0 tempo de cozedura ou a tenrura, suculencia e aroma da carne.

Os produtos atras referidos ainda hoje nao possuem uma tipificagao que permita a sua diferenciagao, em termos objectiv~s, de outros produtos semelhantes, elaborados em condigoes diferentes de ambiente, materias primas ou tecnologias de transformagao diferentes. Oesconhecem-se os indicadores que diferenciam esses produtos e nalguns casos ignoram-se mesmo as praticas e os saberes tradicionais tao importantes para valorizar a imagem de uma regiao.

Uma MCIP ou uma denominagao de origem exige um conhecimento e controlo de proveniencia, tecnicas, caracteristicas fisico-quimicas e microbiol6gicas dos produtos, de forma a conseguir-se uma criteriosa diferenciagao de outros produtos similares de outras regioes.

Para tal, deve levar-se a cabo acgoes de investigagao para identificagao de criterios apropriados de caracterizagao e classificagao que

permitam uma maior informagao sobre 0 produto e uma melhoria da

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Nesse sentido preconiza-se que a legislagao para 0 sector seja evolutiva e adaptada ao conhecimento existente no momenta sobre 0

produto em todas as fases da sua cadeia.

Para evitar os problemas associ ados a um controlo de qualidade centrado unica e exclusivamente no produto final, e conveniente uma analise sistemica de toda a fileira do produto e uma identificagao de todos os pontos criticos do processo defabrico.

E

nestes pontos que deve incidir 0 controlo de qualidade, sendo os principais responsaveis pela sua execugao os diferentes actores que intervem na fileira.

A fileira de um dado produto funciona a partir de um consenso social entre agrupamento de produtores, comerciantes, cooperativas, industria, investigadores, tecnicos e consumidores. Tal e essencial

a

manutengao da qualidade e da competitividade do produto e

a

distribuigao equilibrada entre os diversos acto res das mais valias obtidas com a valorizagao. Uma estrutura

de enquadramento para 0 desenvolvimento do bovino mirandes e

apresentada na Figura 1.

I

COMissAo REGIONAL DA RA~A MlRANDESA I

I---L-T---r----l

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ASSQCIACAQ DE CR1ADdFiES

Genift~"a(l de J

origem I

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- INVESTJGAGAo I

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- - DESENYOLVIMENTO I

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Abate per contralo

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Promoyao e distribui980

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_ _ Empres[l

_ _ Circulayao do produto _ _ _ _ . RUlOdEtimforma~o

_ _ CertifiCl'l"iio 0 controlo de qualidade

Fonte: (FRAGATA el al,1991).

I

CONSUMIDORES

1-Figura 1 - 0 enquadramento da raga mirandesa

No nosso pais 0 sector dos produtos agro-alimentares de qualidade com excepgao do vinho, ainda se encontra numa fase de arranque. 0 desenvolvimento das fileiras de produtos deve ser devidamente apoiado por

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instrumentos financeiros especfficos que permitam a sua valorizagao. Alguns dos meios necessarios

a

estruturagao e arranque de uma organizagao regional poderao ser gerados mediante recurso aos apoios financeiros previstos em programas como 0 sub-programa 4 do PROTAD.

*

* *

Em conclusao, uma estrategia de desenvolvimento concebida a partir das realidades locais da Terra Fria podera ser fundamental para um desenvolvimento baseado numa 16gica de diversificagao econ6mica das comunidades rurais, na valorizagao de recursos end6genos de alta qualidade, produzidos a baixo custo energetico e atraves de processos tradicionais/ artesanais, como forma de garantir 0 povoamento de zonas rurais, proteger 0 ambiente fragil e manter 0 espago natural, tal como e actualmente recomendado pela Comissao das Comunidades Europeias.

III • BIBLIOGRAFIA

CEPEDA, FRANCISCO J. T. (1988) - Emigragao, Regresso e Desenvolvimento no Nordeste interior Portugues; Tese de Doutoramento, U.T.A.D.; Vila Real.

COMiSSAO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS (1988) - 0 futuro do mundo rural.

Servigo das Publicagoes Oficiais das Comunidades Europeias, Luxemburgo.

FRAGATA, ANTONIO; SOUSA, FERNANDO; MENDONC;:A, ALVARO (1991) - A

valorizagao da carne de bovino da raga mirandesa, Congresso Internacional de Zootecnia, Universidade de Evora, Evora.

GONC;:ALVES, DIONISIO AFONSO (1990) -

0

uso do solo e a construgao de

paisagens rurais,

0

caso do interior de Tras-os-Montes, 111 Jornadas sobre 0 Mundo Rural, IPB, Braganga.

JOLIVET, GILBERT (1989) - Rapport sur les appellations d' origine des produits autres que vinicoles, Ministere de Agriculture et Foret, Paris.

MOREIRA, NUNO (1984) - Os sistemas de agricultura do nordeste, Instituto Universitario de Tras-os-Montes e Alto Douro, Vila Real.

Referências

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