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Educomunicação: campo, interdisciplinaridade e formação

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Academic year: 2021

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Educomunicação: campo,

interdisciplinaridade e formação

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karinaelian13@gmail.com

Educomuni/Centro Universitário de Belo Horizonte-UniBH

Resumo

Esta pesquisa investiga a educomunicação como uma nova área do conheci-mento, buscando conhecer o perfil do profissional educomunicador, desafios da prática educomunicativa, propondo uma reflexão sobre a interdisciplina-ridade que o campo apresenta. A análise desses elementos estabelece um interfaceamento das áreas comunicação/educação, melhorando o processo ensino/aprendizagem, apontando a prática educomunicativa como instru-mento de transformação social.

A educomunicação objetiva educar cidadãos críticos para leitura dos meios de comunicação, promovendo formação integral que vivencia a realidade da sociedade em rede. É importante entender o contexto do processo educa-cional dentro desta sociedade em transformação bem como o professor do século XXI e, como esse profissional pode promover uma prática cidadã, em tempos marcados pela influência da comunicação no processo de formação. Além da pesquisa bibliográfica, foram realizadas entrevistas em Minas Ge-rais e São Paulo com educadores, educomunicadores, profissionais da co-municação e o disseminador da educoco-municação no Brasil1. Na pesquisa

de campo, aliou-se teoria/prática com intervenções no espaço de formação profissional, ASSPROM (Associação Profissionalizante do Menor), onde jo-vens participam do curso de preparação para o mundo do trabalho. Foram promovidas ações educomunicativas na formação dos adolescentes/ aprendizes, com orientação profissional, atividades socioeducativas, cultura, saúde, políticas públicas, além daquelas que desenvolvem papel cidadão. O objetivo foi preparar esses jovens na visão empreendedora de mercado e formação, oferecendo oportunidades de acesso a outros saberes e questio-namentos que perpassam conteúdos oferecidos nos espaços formais, tra-zendo a mídia para o processo.

Pensar em educomunicação é pensar numa prática inovadora, para aten-der uma demanda atual, interessada em tecnologia/mídias, que vive a era da informação. Quanto mais à educação relacionar com os meios de 1 Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares, Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) do departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP. Vice-presidente (regional) do World Council7: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4793259Y7

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comunicação, mais possibilitará uma educação mais usual ou pragmática, compatível com a realidade da sociedade atual.

Palavras-chave

Educomunicação; formação; interdisciplinaridade

e

ducoMunIcação

O mundo hoje é dinâmico, veloz e apressado, cenário proporciona-do pelo uso da Internet e da mídia no cotidiano das pessoas. Essa nova realidade também provocou alterações no universo educacional. Nessa perspectiva, a educomunicação é uma importante área de conhecimento que busca compreender e atualizar o contexto do processo educacional em uma sociedade em transformação.

O conceito de educomunicação2 se formou no início dos anos 1980, para designar a atividade educativa que se propunha a trabalhar a comuni-cação por meio de diferentes recursos tecnológicos. Para o professor Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo – NCE/USP, desde 1996, e um dos mais destacados pesquisadores da Educomunicação na América Latina, a edu-comunicação constitui-se em:

Um conjunto de ações cuja finalidade é integrar às práticas educativas o estudo sistemático dos sistemas de comuni-cação, criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos e melhorar o coeficiente expressivo e comunicativo das ações educativas. (Soares, 2002)

De acordo com a própria nomenclatura, a educomunicação é uma área que integra os saberes da Pedagogia (Ciência da Educação) e das Ciên-cias da Comunicação. Ela não apenas proporciona aos integrantes do pro-cesso de ensino e aprendizagem possibilidades de interação com os meios de comunicação, mas torna esses indivíduos participantes do processo, produtores de mensagens e conteúdos, buscando, além da melhoria no processo de ensino/aprendizagem, uma mudança da realidade. Trata-se de um campo aberto, que dialoga com os demais, para a formação integral 2 Palavra inventada por Mário Kaplún, na década de 80, com base na filosofia educacional de Paulo Freire e ampliada através dos estudos e pesquisas realizadas no Brasil e na América Latina pelo Profº.

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do sujeito em diferentes espaços de aprendizagem, mantendo um caráter dialógico e interdisciplinar.

Ao falarmos de educomunicação, é comum ocorrer a ideia somente do uso das mídias e das tecnologias no ensino. Porém, essa nova área do conhecimento é tratada como algo bem mais amplo do que isso. Esse cam-po da educomunicação procam-porciona uma formação integral do sujeito que acompanha as mudanças e atualizações da sociedade.

Por isso, comunicação/educação inclui, mas não se resu-me a educação para os resu-meios, leitura crítica dos resu-meios, uso das tecnologias em sala de aula, formação do profes-sor no trato com os meios, etc. Tem, sobretudo, o objeti-vo de construir a cidadania, a partir do mundo editado, devidamente conhecido e criticado. Nesse campo cabem: do território digital à arte –educação, do meio ambiente à educação a distância, entre muitos outros tópicos, sem es-quecer os vários suportes, as várias linguagens – televisão, rádio, teatro, cinema, jornal, cibercultura, etc. Tudo percor-rido com olhos de congregação das agências de formação: a escola e os meios, voltados sempre para a construção de uma nova variável histórica. (Baccega, 2011, p. 32)

É primordial ter em mente que esses dois campos, Educação e Co-municação, vão nortear a formação do aluno, modificando e influenciando suas formas de ação. Complementando o conceito, Soares (2011) também nos aponta a compreensão desse campo como interação de diversas ações.

A expressão ecossistema comunicativo3, inicialmente utilizada por Jesus MartBarbero (1997), refletindo sobre meios e tecnologias, está in-corporada ao conceito de educomunicação e “traduz o conjunto de atores de uma prática educomunicativa e seus espaços de interação” (Martin-Bar-bero, 1997, p. 43). O campo não é estabelecido apenas pelas tecnologias e meios de comunicação, mas pelas configurações de linguagens, narrativas e representações que cercam o cotidiano, onde se desenvolve uma ação pedagógica múltipla que acontece em todo e qualquer segmento da socie-dade. Soares (2006) define quatro áreas constituintes da educomunicação:

1. Área da educação para a comunicação: consiste nas reflexões em torno da relação entre a comunicação e seus processos (produção, 3 Tão vital quanto o ecossistema verde. O termo utilizado para explicar a dinâmica da comunicação que liga-se ao âmbito de grandes meios, ultrapassando-os, porém. Ele se concretiza como os surgi-mentos de um ambiente educacional difuso e descentrado, no qual estamos imersos. Um ambiente de informação e de conhecimentos múltiplos, não centrado em relação ao sistema educativo que ain-da nos rege e que tem muito claros seus dois centros: a escola e o livro. (Mártin-Barbero, 1997, p. 126)

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recepção, entre outros) e o campo pedagógico. Tem por objetivo pos-sibilitar a leitura da relação entre os indivíduos e os meios, levando à intervenção nas políticas e processos de comunicação massiva; 2. Área da mediação tecnológica na educação: preocupa-se com a

utilização das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) nos processos educativos, em uma perspectiva interdisciplinar e voltada para capacitação ao uso pedagógico e discussão sobre o uso social e político;

3. Área da gestão da comunicação no espaço educativo: trata do plane-jamento, execução e realização de procedimentos e processos que criam ecossistemas comunicativos;

4. Área da reflexão epistemológica: compreende a reflexão acadêmica que atribui unidade teórica ao campo e, assim, aprofunda, sistematiza e legitima o campo.

Assim, a educomunicação dialoga com outros saberes e “abre novas portas” para o processo de ensino\aprendizagem, “portas” que vão muito além do uso apenas dessas novas tecnologias como ferramentas pedagó-gicas. Trata-se de um campo aberto, e que, por ter essa característica, se torna aberto à influência e contribuições de outros campos.

O campo da Educomunicação é compreendido, portanto, como um novo gerenciamento, aberto e rico, dos proces-sos comunicativos dentro do espaço educacional e de seu relacionamento com a sociedade. O campo da Educomu-nicação incluiria, assim, não apenas o relacionamento de grupos (a área da comunicação interpessoal), mas tam-bém atividades ligadas ao uso de recursos de informações no ensino-aprendizagem (a área das tecnologias educacio-nais), bem como o contato com os meios de comunicação de massa (área de educação para os meios de comunica-ção) e seu uso e manejo (área de produção comunicativa). (Soares, 2002, p. 264)

O uso das tecnologias no dia a dia da escola não faz do professor\ educador um profissional da comunicação e um entendedor da educação para as mídias. O profissional educomunicador faz, da sala de aula e de suas metodologias, um espaço de integração das diversas mídias, com o propósito de colaborar para a formação integral do indivíduo, a partir de uma perspectiva pedagógica.

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e

ducação

O ato de educar se dá através da transmissão, ideias, valores, co-nhecimentos, a fim de desenvolver as habilidades que o indivíduo tem e estimular as possibilidades, para que esse possa “trilhar os caminhos” para o conhecimento. É permitir uma mudança dessa criança, jovem ou adulto em sua realidade de vida cognitiva, psicológica, social, emocional e intelectual. Sendo assim, esse processo é um dever e obrigação de toda a sociedade, não somente da escola (Libâneo, 2001). É uma prática que está associada a todo processo inserido no meio familiar, na igreja, nas institui-ções escolares, trabalho, nos meios de comunicação e na sociedade.

A partir dessa ideia, pode-se, então, determinar os espaços onde a educação ocorre. Para Libâneo (2001, p. 3), os ambientes de aprendizagem têm se diversificado e se proliferam. Esses espaços são definidos como formais, não formais e informais. O espaço formal da educação, que são as escolas ou espaços institucionalizados apresentam ações educativas in-tencionais e sistematizados. Esses espaços possuem objetivos educativos que são explícitos e compreendem instâncias de formação escolares ou não, dos quais apresentam objetivos explícitos e uma ação sistematizada e institucionalizada.

Com a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/1996, houve um incentivo a ideia de que a educação também não está limitada a modalidade formal da educação. Pode-se afirmar que esta é uma esfera ampla e o professor do século XXI, deverá integrar aos diferentes meios e formas nas suas práticas pedagógicas. Portanto, é nesse mundo infiltrado por diversas TIC, que a escola e o docente precisam se reinventar e repen-sar seu papel. Entre seus maiores desafios, está o de trazer para a sala de aula conteúdos que façam sentido à vida do estudante, uma vez que, ele está a todo tempo conectado a uma realidade virtual, acessando conteúdos e grupos de seu interesse.

A educomunicação pode ser uma aliada a educação integral, pois promove uma interação entre as disciplinas e aproxima a escola do mun-do ao seu remun-dor. A começar pela comunidade, o professor e mun-do próprio ato de ensinar. Nessa perspectiva, o aluno se torna protagonista do seu próprio conhecimento. O objetivo da prática educomunicativa é de propor-cionar maior interesse e autonomia do aluno, o tornando centro do ato de aprender.

Ela oferece essa perspectiva democrática do uso das tecnologias de informação em favor do desenvolvimento do ser humano como agente de

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sua própria história. O professor deixa de ser o centro do processo ensi-no aprendizagem, para tornar-se ponte entre o aluensi-no e o conhecimento. É necessário que este esteja em contato com o mundo, transformando os ensinamentos e reinventando-os.

Logo, abre-se um leque de possibilidades de pensamentos e práticas educacionais. Conforme afirma Libâneo (2001, p. 3), há uma “movimenta-ção na sociedade mostrando uma amplia“movimenta-ção do campo do educativo com a consequente repercussão no campo do pedagógico, ao ponto de ser cha-mada de sociedade do conhecimento”. O que importa é que o indivíduo torne o aprendizado uma consequência da realidade a qual está inserido. Freire (1977) ressalta que, para uma concepção verdadeiramente dialógica da educação, a participação efetiva de estudantes, professores e outros in-tegrantes da comunidade escolar é essencial.

Conforme Jacquinot, a educação deverá persistir por três pontos importantes:

1. Formação para a manipulação das técnicas e aparelhos: “é necessário confiar nos alunos que sabem fazê-lo frequentemente”.

2. Formação para a especificidade dos meios e tecnologias, como tecno-logias intelectuais e não apenas como informação: “é necessário in-troduzir os princípios básicos da educação para os meios na formação inicial dos docentes, assim como na formação continuada”...

3. Formação para seu uso pedagógico: “ela precisa de competências profissionais que não se adquirem senão pela experiência”. (Jacquinot, 1998, p.14)

Deste modo, o educador/formador tem um leque de recursos que já fazem parte da vida da maioria dos alunos e que podem ser utilizados em sala de aula e fora dela, podendo explorá-la de diversas formas, integrando sua metodologia de ensino, de maneira que sejam agradáveis e estimula-doras para o educando no processo de aprendizagem.

c

oMunIcação

O conceito de comunicação aplica-se à troca de informações no for-mato de mensagem. É através dela que há a construção do saber entre os seres humanos “especialmente o conhecimento sobre aquilo que é essen-cialmente humano: a cultura” (Belloni, 2009, p. 26).

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Destaca-se que, hoje, a mídia4 e a Internet são consideradas uma ferramenta principal de informação e comunicação, em que as pessoas podem comunicar-se umas com as outras, publicar conteúdos, baixar mú-sicas, ligar a longa distância, produzir e criar vídeos, sites e ainda adquirir conhecimentos. A mídia foi convertida para o formato digital, sendo uma das protagonistas da mudança tecnológica que possibilita ao homem co-nectar-se de forma atemporal e rápida, transmitindo e recebendo informa-ção de forma instantânea, seja em qualquer âmbito de sua vida: pessoal, profissional, social e educacional. Segundo Silverstone,

Precisaremos examinar a mídia como um processo, como uma coisa em curso (...) onde quer que as pessoas se con-greguem no espaço real ou virtual, onde se comunicam, onde procuram persuadir, informar, entreter, educar, onde procuram, de múltiplas maneiras e com graus de sucesso variáveis, se conectar umas com as outras. (Silverstone, 2002, pp. 16-17)

Desta forma, os meios midiáticos ajudam a repensar e reestruturar os processos educacionais, tendo em vista que as linguagens se mistu-ram e cada vez cria-se mais espaços educativos. Tratando-se dos espaços formais da educação5. O ecossitema comunicativo se faz presente em to-dos os participantes do processo de ensino, como aponta Martín-Barbero abaixo:

Falar de comunicação significa, em primeiro lugar, reco-nhecer que estamos numa sociedade em que o conheci-mento e a informação têm tido papel fundamental, tanto nos processos de desenvolvimento econômico quanto nos processos de democratização política e social (Martín-Bar-bero, 2011, p. 123)

Nesse espaço educativo, a comunicação poderá realizar procedimen-tos que criem os ecossistemas comunicativos, com o objetivo de tornar o 4 Canais ou ferramentas usadas para armazenamento e transmissão de informação ou dados. “Impli-ca o movimento de signifi“Impli-cado de um texto para outro, de um discurso para outro, de um evento para outro, implica a constante transformação de significados, em grande e pequena escala, importante e desimportante, à medida que textos da mídia e textos sobre a mídia circulam em forma escrita, oral e audiovisual, e à medida que nós, individual e coletivamente, direta e indiretamente, colaboramos para sua produção” (Silverstone, 2002, p.33).

5 É aquela que ocorre nas instituições escolares, é mais sistemática, segue padrões estabelecidos por sua equipe. Esse espaço possui conteúdo previamente demarcado e regido por um sistema educa-cional próprio, propostas políticas educacionais fechadas e que se observa um programa curricular. São processos intencionais, que apresentam objetivos explícitos de aprendizagem ou de formação (Libâneo, 2001, p. 5).

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espaço escolar um lugar onde o aluno é livre para pensar, e, ao mesmo tempo, é preparado para assumir uma postura crítica e reflexiva, dissemi-nada pela comunicação de massa6. No mesmo tempo em que a educação apoia suas práticas em um espaço concreto, “o mundo da comunicação de massa paira sobre as nações, sem território próprio, sem donos visí-veis” (Soares, 2000, p. 16-17). A utilização das tecnologias da informação e comunicação (TIC) pode proporcionar ambientes de aprendizagem que ultrapassam os conhecimentos e os espaços escolares.

Os indivíduos sofrem as influências dos meios e, através desse con-tato, são modificados também. Essa interação com a comunicação dentro dos processos de ensino e aprendizagem redefinem de forma significativa as práticas educacionais, bem como seus processos. Destaca-se, então, que, quanto mais a educação interagir com os meios de comunicação, ha-verá mais possibilidades de uma educação compatível com a realidade.

o

processodeMedIação eMIdIatIzação

“Se a educação é dialógica, é óbvio que o papel do professor, em qualquer situação, é importante” (Freire, 1977, p. 78). Pode-se assim dizer que entender a mediação pedagógica caracteriza-se na habilidade do pro-fessor ao se expressar por sua linguagem, seja esta escrita, sonora, verbal digital ou gestual, sendo um facilitador entre o aluno e o conhecimento.

Quando nos tornamos mediadores também promovemos mediações de informações por mídias, a interação dos receptores para com as men-sagens ou pensamentos passados se torna fundamental para que ocorra, quando realizado de forma consciente, a construção de uma crítica que fundamente os processos estabelecidos, sejam estes no âmbito da comuni-cação ou do ensino. O papel do educador não é o de “encher” o educando de “conhecimento”, de ordem técnica ou não, mas sim de proporcionar, através da relação dialógica educadeducando, educando-educador, a or-ganização de um pensamento correto em ambos (Freire, 1977, p. 53).

O Educador deve ser aquele sujeito que cria possibilidades para que o aluno se torne autor da sua própria construção do conhecimento ao in-vés de tentar simplesmente compartilhar seu conhecimento. Para Baccega (2001), na medida em que ele dialoga com os educandos, deve chamar a 6 Para Thompson (1995, p.32-33) a comunicação de massa não se trata da quantidade de pessoas que recebe o produto ou conteúdo, “mas para quantas pessoas/destinatários o produto ou informação foi feito”. Trata-se da pluralidade que desassocia a produção de sua percepção e a não passividade dos

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atenção destes para um outro ponto menos claro, mais ingênuo, problema-tizando-os sempre. Por quê? Como? Será assim? Que relação vê você entre a sua afirmação feita agora e a do seu companheiro “A”? Haverá contradi-ção entre elas? Por que?

Retomando Freire (2001, p. 28), pode-se dizer que o “estar no mun-do e com o munmun-do” inclui, obrigatoriamente, hoje, levar em consideração, no conceito de mundo, a mediação, a possibilidade de leitura do mundo que nos é oferecida pelos meios de comunicação. Sem mediação não há prática educacional e menos ainda práticas educomunicativas.

Sendo assim, podemos dizer que essa mediação transcorre dos meios tradicionais para os meios digitais sendo que esse processo, quando implica a incidência da mídia, ou hipermídia em sua determinação e am-plitude, caracteriza a midiatização. Braga (2006) reflete sobre como a mi-diatização atravessa os campos sociais e trata a mimi-diatização como a união de dois processos: o processo tecnológico e o processo social. Sendo esta midiatização responsável por diferentes modos que a sociedade interage atualmente com a própria sociedade.

Para Belloni (2009) mediatizar significa a codificação das mensagens pedagógicas, traduzidas em diversas formas, de acordo com o meio técnico escolhido. Esse meio pode ser um documento impresso, um programa in-formático didático, ou um videograma, “respeitando as regras de arte, isto é, as características técnicas e as peculiaridades de discurso do meio técni-co”. (Blandin, 1990, p. 90, citado em Belloni, 2009, p. 26). Considerando a ótica da produção de materiais pedagógicos, mediatizar significa, então:

Definir as formas de apresentação de conteúdos didáticos, previamente selecionados e elaborados, de modo a cons-truir mensagens que potencializem ao máximo as virtudes comunicacionais do meio técnico escolhido no sentido de compor um documento auto ssuficiente, que possibilite ao estudante realizar sua aprendizagem de modo autôno-mo e independente. (Belloni, 2009, p. 26)

De uma percepção mais ampla no que concerne aprendizagem aber-ta e autônoma:

Mediatizar significa conceber metodologias de ensino e estratégias de utilização de materiais de ensino/aprendi-zagem que potencializem ao máximo, as possibilidades de aprendizagem autônoma. Isso desde a elaboração de conteúdos, a criação de metodologias de ensino e estu-do, centradas no aprendente, voltadas para a formação da

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autonomia, a seleção dos meios mais adequados e a pro-dução de materiais e de acompanhamento do estudante de modo a assegurar a interação do estudante com o sis-tema de ensino. (Belloni, 2009, pp. 26-27)

Portanto, o educomunicador deve, ao máximo, explorar seu papel de mediador na sociedade em rede, por compreender que acumular o conhe-cimento não é mais eficaz. Deve-se transformá-lo em aprendizado coletivo. É, portanto, fundamental que a mídia, no processo de aprendizagem, este-ja presente, auxiliando na construção do conhecimento.

e

ducaçãoecIdadanIa

Além de estar aberto as novas tecnologias, o educador que atua nes-sa nova realidade, transformada pela comunicação, precines-sa e ter uma ati-tude crítica frente aos fatos ocorridos na sociedade, proporcionando para os alunos momentos de debates sobre temas como ética, política, direitos, educação e economia, tendo em vista a formação integral do aluno para a cidadania.

Destaca-se, nesse momento, que os PCN trazem uma educação voltada para a cidadania e enfatizam pontos importantes que devem ser levado para sala de aula. Esses temas de discussão são conhecidos como temas transversais, como a saúde, ética, meio ambiente, cultura e outros. Eles tratam os problemas sociais que fazem parte da atualidade e do coti-diano e precisam ser refletidos numa perspectiva interdisciplinar, pois per-passam diversos conteúdos.

Dentre os avanços mais importantes cabe ressaltar justa-mente o reconhecimento que a mídia-educação constitui um direito fundamental da humanidade, como melhor ca-minho para preparar todos os indivíduos, independente-mente da classe social ou da idade, para o exercício pleno da cidadania, que inclui direitos e liberdade de expressão, ao acesso a informação e à participação na vida cultu-ral, contidos na Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. (Belloni, 2009, xiv)

Fato é que a intenção não está mais voltada para o uso das tecno-logias, pois estas já se fazem presentes no cotidiano do sujeito. O que é importante se refletir são as práticas que levarão o educador a explorar os meios para se chegar a formação integral do mesmo. Para assim construir a cidadania, tão almejada e mencionada.

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M

etodologIadetrabalho

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aMostra

Além de consistir em uma pesquisa bibliográfica e teórica sobre o tema, o presente projeto de pesquisa teve como finalidade promover uma pesquisa de campo, com o objetivo de coletar dados significativos para o embasamento sobre o campo da educomunicação, as práticas educomu-nicativas, o perfil do profissional educomunicador, bem como a sua for-mação. O método de abordagem empregado foi qualitativo e o principal instrumento utilizado foi a entrevista.

Justifica-se o método abordado, pelo fato de ser uma área do co-nhecimento ainda em construção e pela importância que a comunicação assumiu na sociedade atual. O que nos obriga a olhá-la como uma nova força nas relações cotidianas, em todas as esferas sociais, principalmente, no que concerne a educação.

Foram interpeladas questões, cujo objetivo, foi esclarecer sobre em que consiste o campo da educomunicação, a interface das duas áreas de conhecimento: Comunicação e Educação e o que caracteriza essa área. A formação desse profissional educomunicador também foi um ponto inves-tigado, tal como o perfil do profissional que deseja ser um educomunicador. As entrevistas foram realizadas em Belo Horizonte (Minas Gerais) e São Paulo (São Paulo) com educadores, educomunicadores, profissionais da comunicação e o gestor e disseminador da educomunicação no Brasil.

Contribuíram para esse trabalho: Alexandre Le Voci Sayad, jornalista e educador, especializado em inovação, autor do livro Idade Mídia: A

Comu-nicação Reinventada na Escola; a jornalista, mestre em educação e doutora

em educação escolar que ministra a disciplina Comunicação, Educação e Tecnologia para as licenciaturas da UFTM (Universidade Federal do Triân-gulo Mineiro): Alexandra Bujokas de Siqueira; a pós-doutora em comunica-ção e doutora em linguística aplicada (Linguagem e Tecnologia), mestre em estudos linguísticos pelo CEFET (Centro Federal de Educação e Tecnologia de Minas Gerais): Ana Elisa Ferreira Ribeiro e o Professor Titular e Doutor da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo): Ismar de Oliveira Soares.

Na pesquisa de campo, aliou-se teoria/prática com intervenções no espaço de formação profissional, ASSPROM (Associação Profissiona-lizante do Menor), onde jovens participam do curso de preparação para o mundo do trabalho. Foram promovidas ações educomunicativas na formação dos adolescentes/aprendizes, com orientação profissional, ati-vidades socioeducativas, cultura, saúde, políticas públicas, além daquelas

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que desenvolvem papel cidadão. O objetivo foi preparar esses jovens na visão empreendedora de mercado e formação, oferecendo oportunidades de acesso a outros saberes e questionamentos que perpassam conteúdos oferecidos nos espaços formais, trazendo a mídia para o processo com os temas: orientação profissional, atividades socioeducativas, cultura, saúde, políticas públicas, além daquelas que desenvolvem papel cidadão.

c

onclusões

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consIderações fInaIs

Com a importância que as duas áreas, comunicação e educação, pos-suem para a construção democrática e crítica da sociedade, consciente de seus deveres e direitos, a educomunicação tem como objetivo educar ci-dadãos críticos para uma leitura dos meios de comunicação, promovendo uma formação integral que vivencia a realidade da sociedade em rede.

Tão certo quanto o fato de que as redes sociais podem, de fato, ofe-recer valorosas contribuições para a educação, é o entendimento de que é preciso conhecer e dominar os dispositivos fundamentais para uma cor-reta utilização das mesmas. Deste modo, surge, então, uma necessidade de conhecer esse profissional educomunicador, bem como seu campo de atuação. Em nenhum dos espaços de aprendizagem, o educador é o único ator do processo.

A educação deve tornar o indivíduo o próprio agente de seu apren-dizado, e esse profissional, considerado o professor do século XXI, precisa estar apto a atuar nos campos da educação e comunicação juntos ou sepa-rados, atualizando seus métodos e dando significado a prática educomu-nicativa. Também reinventando seu papel com diferentes meios e formas nas suas práticas pedagógicas. Ao utilizar a mídia em sua prática, o edu-comunicador possui uma infinidade de temas que possibilitam conceber inúmeras discussões sobre a sociedade.

A incorporação da comunicação mais efetiva nos processos de ensi-no e aprendizagem, bem como na própria formação de professores e edu-cadores, expressa à importância crescente da mídia na sociedade, e me-lhora as condições de aprendizagem, contemplando e apropriando a mídia dentro desse método. Afinal, vivemos a era da sociedade da informação, conhecimento e da comunicação. Fato é que a comunicação multimídia está mudando as formas de aprender.

Esse profissional necessita estar preparado para atualidade e do-minar as teorias da educação e o mundo da produção midiática, buscan-do uma crítica e um pensamento reflexivo aos conteúbuscan-dos abordabuscan-dos. Ele

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precisará disseminar as informações sob vários olhares e ponto de vistas, a fim de promover debates e diálogos formativos. Sem mediação não há prática pedagógica

É primordial ter em mente que esses dois campos, educação e comu-nicação, vão nortear a formação do indivíduo, modificando e influenciando suas formas de ação. Desta maneira, a instituição escolar e os espaços não formais de educação, deverão responder a esse desafio integrando as TIC ao cotidiano, de modo criativo, crítico, competente, a fim de se expandir os espaços e conteúdos.

Essa pesquisa mostra como o processo de implementação de prá-ticas educomunicativas pode valorizar o protagonismo do estudante e es-treitar o relacionamento com a comunidade aprendente, promovendo um diálogo entre professores/educadores e alunos, utilizando os meios e a mídia no processo.

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Referências

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