Diversidade
cultural
e
de llnguagens
na escola
or que abordar a diversidade cultural e a diversidade de
lingua-gens na escola? Hálugw na escola para o plurilinguismo,
pira
ta multissemiose
e para uma abordagem pluralista das culturas? Por que propor uma pedagogia dos multiletramentos?
A necessidade de uma pedagogia dos multiletramentos for, em1996, af,rmada pela
primeiravez
em um manifesto resultante de um coloquio do Grupo de Nova Londres (doravante, GNL), um grupo de pesquisado-res' dos letramentos que, reunidos em Nova Londres (daí o nome do gru-po), em Connecticut(EUA),
após uma semana de discussões, publicouI Dentre eles, Couftney Cazden, Bill Cope, Mary Kalantzis, Norman Fairclough, Jim Gee, Cunther
Kress, Allan e Carmen Luke, Sara Michaels e Maftin Nakata.
ROXANE ROJO
11
um
manifostointitulado
A
Pedagogyof Multiliteracies
-
Designing Social Futures("Uma
pedagogia dos multiletramentos-
desenhandofuturos sociais").
Nesse manifesto, o grupo afirmava a necessidade de a escola tomar a seu cargo (dai a proposta de
uma'pedàgogia")
os novos letramentos emergentes na sociedade contemporânea, em grande parte-
mas nãosomente
-
devidos às novasrrcs',
e de levar em conta eincluir
noscurrículos a grande variedade de culturasjá presentes nas salas de aula de
um
mundo globalizadoe
caracterizada pela intolerância na convi-vência com a diversidade cultural, com a alteridade.Uma pergu nta tipicaque o grupo se fazia
-
jáLhá,quinze anos!-era, por exemplo:
O que é uma educação apropriada para mulheres, para indígenas, para imigrantes
que não falam a língua nacional, para falantes dos dialetos não padrão? O que é apro-priado para todos nb contexto de fatores de diversidade local e conectividade global cadavez mais críticos? (Grupo de Nova Londres, 200612000119961: 10).
O Grupo de Nova Londres é pioneiro: em sua grande maioria
ori-ginários de países em que o
conflito
cultural se apresenta escancarada-mente em lutas entre gangues, massacres de rua, perseguições e intole-rància, seus membros indicavam que o não tratamento dessas questões em sala de aula contribuía para o aumento da violência social e para afalta de futuro da juventude3.
Alóm
disso, o GNL também apontava para o fato de que essajuveq-tude
-
nossos alunos-
contavajâhá
quinze anos com outras eflo-,
'? Tecnologias da Informação e da Comunicação.
3 Pode parecer muito diferente no Brasil, mas não é tão difeÍente assim: tomando como mote a canção
de João Bosco De frente pro crime ("tá lá o corpo estendido no chão..."), Gonçalves (201 1: s.p.) comenta:
"As estatísticas costumam ter uma visão mais aguçada do que o olhar nu. Ou seja, ao somar, multiplicar
e comparar, os estudiosos tiram conclusões que o olho humano não é capaz de enxergar. Uma dessas
conclusões, talvez a mais imediata, é que grande parte dos corpos estendidos pelo chão [no Brasil]
per-tencem a pessoas entre os 15 e 25 anos, ou seja, são adolescentes ejovens. Acrescente-se a isso o fato de
boa quantidade deles ter sido executada pelos próprios comparsas nas disputas pelo mercado clandestino
do narcotráfico ou, mais grave ainda, por grupos paÍamilitares constituidos para esse fim. E não podemos
esquecer que uma porcentagem nada desprezíveljamais havia passado pela polícia, ou se envolvido com o crime e a droga". No nosso caso, então, a falta de futuro também é radical (cf. <http://www.adital.com.brl site/noticia.asp?lang=PT&cod=57621>, acesso em 07 /09/2011).
multiletramentos na Êscola pedagogia dos multiletramentos
vas feÍramontes de acosso à comunicação s à informação e de agênoia $ocial, que aceffetavam novos letramento§, de caráter
multimodal
ou multissemióticoa. Para abranger esses dois"multi)'
-
4multicultura-lidade característica das sociedades globalizadas e a multimodalidade dos textos por meio dos quais a multiculturalidade se comunica e in-lorma, o grupo cunhou um terÍno ou conceito novo:
multiletramentos.
ca
racteriza
os
multiletramentos?
Diferentemente do conceito de letramentos (múltiplos), que nã0 fazse'
não apontarparaamultiplicidade evariedade daspráticas letradas, valorizadas
ou não nas sociedades em geral, o conceito de multiletramentos
-
é bom cnfataar-apontapaÍa dois tipos específicos
e importantes de multiplicidade presentes em nossas sociedades, principalmente urbanas, na corÚemporanei-dade: amultiplicidade cultural daspopulações e amultiplicidade semióticade
constituição dos textos por meio dos quais ela se informa e se comrxdca.
No que se refere à
multiplicidade
de culturas, é preciso notar: como&ssinala García Canclini (2003[1989]: 302-309), o que hoje vemos à nossa
Volta são produções
cultüais
letradas em efetiva circulação social, como um conjunto de textos híbridos de üferentes letramentos (vemaculares e dominarúes), de diferentes campos (ditos "popular/de massa/erudito"), desde sempre, híbridos, caracterrzados por um processo de escolha pessoalc política e de hibridização de produções de diferentes "coleções".
Essa visão desessencializada de cultura(s)
já
não permiteescrevê--la
com maiúscula-
A
Cultura-,
pois
não supõe simplesmente adivisão entre culto/inculto ou
civilizaçáolbatbítríe,táo
caraà escola da modernidade.Nem
mesmo Supõeo
pensamento com base em pares antitéticos de culturas,cujo
Segpndo termo pareado escapavaa
esse mecanicismo dicotômico-
cultura erudita/popular, centrall mar ginal,Diríamos, hoje, quinze anos depois, hipermídiaticos.
-;l-;;;ir
l,,.--W.il
eanôniea/de massa
*
também esses tâo caros aocurleulo
tradicional que ss propõe a "ensinar" ou apresentar o cânone ao consumidor mas-sivo, a erudição ao populacho, o central aosmarginais. t
Vivemos,
já
pelo menos desdeo início
do séculoXX
(senão des-de sempre), em sociedades-des des-dehíbridos impuros, fronteiriços..Vamos
exemplificar com
um
episódio,da
decadade
1920, que gosto de usar em aula para questionar valores e apreciações de culturas.Anacleto de Medeiros (1866-1907) eranegro; vinha, digamos assim, do
populacho. Nascido em Paqueüá
(R)
de escrava alforriada, Anacleto foi, en-fretanto, bem-sucedido nos estudos: como muitos brasileiros que escapam a sua sina de falta de futuro, gostava de música. Como diz a Wikipédia5,começou na música tocando flautim na Banda do Arsenal de Guerra do Rio de
Ja-neiro. Aos 1 8 anos, foi trabalhar como aprendi z de tipôgrafo na Imprensa Nacional e,
ao mesmo tempo, matriculou-se no Imperial conservatório de Música. Nessa época,
já dominava quase todos os instrumentos de sopro e tinha especial preferência pelo
saxofone. Fundou, entre os operários datipografia, o clube Musical Gutemberg,
ini-ciando aí sua função de organizador de conjuntos musicais.
Pormou-se no conservatório em 1886, época em que organizou a Sociedade Recreio
Musical Paquetaense, em Paquetá, seu bairro natal,-e começou a compor algumas peças sacras. Em seguida, suas composições passaram a ser mais populares,
princi-palmente polcas, schotisch [xote], dobrados, marchas e valsas.
Era negro e pobre, mas "bem-educado".
Já o menino Heitor nasceu de família branca e de classe média e,m 5 de março de 1887, na rua Ipiranga, no
Rio
de Janeiro,filho
do pro-fessor Raulvilla-Lobos
e de Noêmiaumbelina
santos Monteirovilla--Lobos. Raul e Noêmia tiveram
oito filhos.
professor, funcionário da Biblioteca Nacional, Raul também era músico (violoncelista).Segundo Grieco (2009: 11),
Heitor aprendeu com o pai a tocar clarineta e"era obrigado a discernir o gênero, estilo, caráter e origem das obras como declarar com presteza o nome da nota dos
t \ra. *"ilir,*-ipedia.orglwiki/Anacteto-de-Medeiros>,
acôsso em 0j/0912011.
,f',-': ,i
'1
14
i1
multiletramentos na escola\;l'
pedagogia dos rnultiletramentosrons ou ruídos quo rurgiam inoldontslmont!, oomo, por oxomplo, o gulnoho da rodE do bondo, o pio do um pássaro, u queda de um objeto de metal". No aprendizado do
violoncelo, Raul teve que adaptar uma viola, de outra forma o menino Heitor não conseguiria colocar os dedos nas cordas,
Um dia, na meninice, Heitor, súe-se 1á por quê, fugiu de casa' Em
suas andanças, topou com o Grupo de Chorões de Anacleto, que executava
o choro
laiá ot
Rasga o Coração (na verdade, um xote). Ficou fascinadoCom a música, que nunca mais the saiu da cabeça6, a ponto de, nos anos 1920, ter incluído
a
cançáo-
o que mais tarde the valeria acusação deplágio
-,
formatadapara canto coral, em sua peça Choros n" 10.Hibri-dismos. Fronteiras.
Se pensarmos bem, quem sobreviveria na escola?
villa-Lobos,
é claro! Lá aprenderíamos sobre o Choros n"1\,mas
Anacleto não seriasequer mencionadoT.
No
caso brasileiro, em noSSaS salas de aula, essa mistura decul-turas, raças e cores não constitui constatação tão nova, embora passe o tempo todo quase totalmente despercebida ou propositadamente
ig-norada. Quais serão oslaiá/Rasga
o
coração que nossos alunos-rappers, funkeiros, pagodeiros, sertanejos
-
incluem em SuaS leituras"canônicas" de José de Alencar, ele mesmo um folhetinista?
como
bem mostra Garçiacanclini
(2008[1989]), esses pares anti-téticos-
cultura erudita/popular, centrall mar ginal, canônica/de mas-sa-
jânáo
se sustentam mais fazmuito,
nem aqui nem acolá... Oshíbridos, as mestiç4gens, aS misturas reinam cadavezmais soberanas8'
,, Ver, a respeito, cena do filme villa-Lobos: (Jma vida de paixão, de Zelito viana, em <http://www'
youtube.com/watch?v=EZRTHGFVTVU>, acesso em 07 109 l20ll'
' Aliás, também não é mencionado no verbete sobre choro
- certamente feito por um "erudito" - da
wikipédia <http://pt.wikipedia.orglwiki/choro>, acesso em 0710912011) que diz: 'Na década de 1920, o nraestro Heitor Villa-Lobos compôs uma série de 16 composições dedicadas ao choro, mostrando a riqueza nrusical do gênero e fazendo-o piesente na música erudita. [...] A composição mais conhecida e executada tlcsta série é o Choros n" 10 patacoro e orqull§Lra, que inclui o tema 'Rasga o Coração' de Catulo da
Paixão cearense. Devido à grande coúplexidade"e { abrangência dos temas regionais utilizados peio
compositor, essa série é consiáerada por muitos como a sua obra mais signiÍicativa" (ênfase adicionada)' Não só Anacleto (o compositor) não é mencionado, como a autoria é atribuída a catulo da Paixão
cea-rense: vejam como o letramento "da letra" ó mais valorizado que quaisquer outros, inclusive o musical'
ffi
Para o ttutor, a produçãcl
cultural
atual sc caracteriza por um proccsso de.desterribrialização, de descoleção e dehibridação
que permite que cada pessoa possa fazer'osua própria coleção", sobretudo apártir
dasnovas tecnologias.
Paru Garcia
Canclini,
"essa apropriaçãomúltipla
de patrimônios culturais abre possibilidades originais de experimentação e de comu-nicação, com usos democratizadores" (GarciaCanclini,
2008[1989]: 308). Nessa perspectiva, trata-se de descolecionar os "monumentos" patrimoniais escolares, pela introdução de novos e outros gêneros de discurso-
ditos por Canclini "impuros"-,
de outras e novas mídias,tecnologias, línguas, variedades, linguagens.
Para tanto, são requeridas uma nova ética e novas estéticas. Uma nova ética que
já
não se baseie tanto na propriedade (de direitos de au-tor, de rendimentos que se dissolveram na navegaçãoliwe
daweb),mas
no diálogo (chancelado, citado) entre novos interpretantes (os remixers, mashupers). Uma nova ética que, seja na recepção, seja na produção ou design, baseie-se nos letramentos críticos que comentaremos adiante.
Novas estéticas (novas, para mim, é claro) tambem emergem, com
critérios próprios.
Minha
"coleção"
pode não ser(e
certamente não será) "a coleção" do outro que está aolado
na"carteira"
à minha frente. Assim, meus critérios de "gosto", de apreciação, de valor estéti-co diferirão dos dele fatalmente. Isso me acontece a cada aula que dpu para oprimeiro
ano (17-18 anos). Delas, retirarei opróximo
exemplo, relativo aos Animee:e "Anime (Animê, Anime) é um termo que def,rne os desenhos animados de origem japonesa e
tarl-bém os elementos relacionados a esses desenhos. No Japão, anime se refere a animação em geral: O
anime é tradicionalmente desenhado a mão. Porém, com o desenvolvimento dos recursos tecnológicos de
animação, principalmente aparlir da década de 1990, muitos animes passaram a ser produzidos em
com-putadores. Os temas abordados nos animes são bem variados (drama, ficção, terror, aventura, psicologia,
Íomance, comportamento, mitologia etc.). Outra importante característica dos animes atuais é a ocorrência
de elementos tecnológicos nos enredos das histórias. O anime faz muito sucesso no Japão e em vários
paisds do mundo, incluindo o Brasil. As animações são elaboradas para o cinema, televisão e revistas em
quadriúos"(<http://www.suapesquisa.com/o_que e/anime.htm>,acessoem07109/2011).
multiletramentos na escola
A
imngom é de urn animequc
utilizei
em aula para discutir com meus alunos deprimeiroano de Leffasro sobre os
novos textos envolvidos nos multiletamentos e
seus critérios estéticos.
Apresentei a eles uma série de textos digitais de diversas ordens (animações, stop motions, machinemds, animes, remixes, mashups, videoclipes, fanclips
etc.) e pedi a eles que me dissessem:
(a) se gostavam;
(b) se sim ou não, por que e a partir de quais critérios (éticos e/ou estéticos
-
predominaram os estéticos);(c)
se sabiam ou se tinham por hábito fazer; (d) se podiam me ensinarafazer.
Nessa aula, aprendi
muito.
Mas o mais importante do que aprendifoi
que os critérios pelos quais eu gostava da minha"coleção"
e não gostava da deles podiam soar tão estranhos para eles quanto os critérios deles soavam estranhos paramim!
Não escolho aqui o anime à toa. De todas as estéticas, é a que mais
está fora de minha "coleção": não gosto de rock e não tenho critérios de
apreciação da produção grâfrca e do traço de designjaponês.
Fui
surpreendidapelo fato
de quemais
da metade daturma
eraapreciadora, conhecia e fazia ou tentava produzir animes. Pelo menos
15 alunos pertenciam a comunidades de animerl.
Todos me responderam às questões (aliás, sobre todos os gêneros) e muito bem. Com critérios refinados de análise estética (do ponto de vista dessa estética, é claro). Eu, boquiaberta,Íentava aprender.
'o Obrigada, turma da LP104A/1'-201 1, pelo que pude aprender com vocês.
" '-Ésíe microlevantamento confirma os dados disponíveis sobre culturas da juventude no Brasil
pedâgogia dos
multiletramentos ,:l@,i
*, -1".
i'18
No citstr
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ltnitttc c:rnrlucsli-ttt
('ttltttrt.irt.q
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, rrlrrs trlo-giitritttt ntr:u "[rotn g()sto" ao osoolhcr'1cr.r'
ócllrro
tirrlrl
cscolhido o (luo rnc parc«:ia mcnos Íbio e barulhento); disseram que craJ^colcn-tc. Qurando perguntei
por
quê, eles me responderam que a escolha dasimagens para compor
o
anime, as transições, a sincronia com o rock, a referenciação solidária àletra eram muito bem feitas, assim como osefeitos de coloração e transição.
Como produtores, eles tinham critérios estéticos referentes ao pro-cesso
(dificil,
ate onde entendi) de produção. Creio que a essas alturas vocêjá
está entendendo a quetipo
de trocas entre "coleções culturais" estou me referindo... Pelo (pouco) que pude entender, como produto-res, elestinham critérios
(estéticos)muito
específicos para avahar oproduto e que
exigiam
o
domínio
de uma série de multiletramentos: qual erao
ritmo
e a referenciaçáo da letrada
cançáo-guia do anime;como
cortar do vídeo-fonte imagens adequadas a esseritmo
e a essareferenciação; como tratá-las em Photoshop de maneira adequada e
que permitisse novos efeitos de sentido; como reconstruir atranta ou a referenciação (no
ritmo)
de maneira adequada na montagem do novo vídeo ou anime13.Enfim,
uma série de (multi)letramentos que não do-mino-
mas que posso entender-
e que são responsáveis peloefei-to
de sentido do anime que, como consumidora acritica, eu consumo. Quem dera eu pudesse explicar a eles, com a mesma cTareza,por
que aprecio o novo romance francês, Thomas Mann ou Machado!E
levá-los a frequentá-los.No que se refere à
multiplicidade
de linguagens, modos ousemio-ses nos textos em circulaçáo, ela é bastante evidente em meus exem-plos anteriores e nos textos em circulação social, seja nos impressos,
seja nas mídias audiovisuais, digitais ou não.
t2 <http:
1 lwww.youtube.com/watch?v=LeulsBh-cyM>, acesso em 07 109 1201 1.
lr Ver, a respeito, <http://amvnews.rulindex.php?go=Files&in=view&id=1500>, acesso
em 07l0gl2O1l.
'
lllilltilf
frarnÊni0S qA esfürã^
(:^PnlCxOor@0 m @quiàdoís e
o {.(, wró pm(iü rBb(r paÍa w @ orpd m @quiag0m. hPois dffis
pillüilr, pissr o rklineâdü e fae o oltÉ 6film& v§o rs taÊfâ3 fãÉs 7.fiatan
I
comobluyh llíúffir'raá* n esrriina4
sohrirudho q 1fuAorindü
-densfier {r;àL/B-r5r?r&-rÁn r&-*Éd,*i,r.&rdrComo
sepode notar
noslcxtos aqui
reproduzidos,se-ilrn
impressos, digitais ouana-l(rgicos (se
e
que aindaexis-lcm),
as imagense o
arranjo dr: diagramação impregnam elirzem significar os textos con-lcmporâneos
-
quase tantoou
mais queos
escritosou
a Ictra. E isso, não ó de hoje.Telâ de matéria do Jomal Nacional
- TV Globo sobre
malha ferroviária brasileira (<http: / / amantesdaÍerrwia.cam. br/ video/ matena-especial-do-jornal>, acesso em 07/09 1201 l)
4
t*wuka, wpfirL*ãn, CBffEfiDO E:
E i E; C) ,õ z õ I o oE o
quetem
sido chamado de multimodalidadeou
multissemio-se dos textos contemporâneos, que exigem multiletramentos. Ou seja, textos compostos de muitas linguagens (ou modos, ou semioses) e quecxigem
capacidadese
práticasde
compreensãoe
produçãode
cada uma delas (multiletramentos) para fazet signifi car.l
-_.---.1-1 1 <htrl:
1f1 181.45.206.729 I experimenteabríl/default.asp>, acesso em 07 109 1201 l'
ü*{:ã#*üi* #ü§ ffif-.igtiietr*ffi*fi{*3
-
i{pNo
cxomplo impresso(caprtcho
demaio/20il,
fao-sÍmile), temos linguagem(ou
semiose) verbal na modalidadeou
modrb escrito, diq-gramação (ocupação do espaço da página) e imagens estáticas (fotos, ilustrações, tratamento daimage-
-
photoshop).No
exemplo da re-portagem televisiva sobre malha ferroviária do Jornal Nacional,temosa semiose verbal em áudio (as falas do narrador, do âncora, do entrevis_ tador e dos entrevistados) e na modalidade ou modo escrito (a data, por exemplo) e as imagens em vídeo (imagem em movimento filmadas ou digitalizadas), além de outras imagens (estáticas) incorporadas à edi_ ção de vídeo, como o mapa acima,escritas, diagramas e fotos (antigas).
Como diz Lemke
(2010[199g,'],
,.p.),o texto pode ou não formar a espinha organizadorude um trabalho multimidiático.
o que realmente precisamos ensinar, e compreender antes de poder ensinar,
é como vários letramentos e tradições culfurais combinam essas modalidades semióticas
di-ferentes para construir significados que são mais do que a soma do que cada parte
poderia significar separadamente. Tenho chamado isto de .,significado
multiplica_
dor" (Lemke, 1994a; 1998) porque as opções de significados de cada
mídia
àulti-plicam-se entre si em uma explosão combinatória; em multimídia, as possibilidades de significação não são meramente aditivas.
.Lemke
já
está, em 1998, falando de mídias e não de modos,ringua-gens ou semioses. Neste mesmo texto, ele antevê:
A próxima geração de ambientes de aprendizagem interativos adiciona
[aos hiper-textos] imagens visuais e sons e vídeos, além de animação, o que se toma muito prá_
tico quando a velocidade e a capacidad e de armazenamento podem acomodar esses
significados densos de informação toporógica. [...] Essas mídias mais topológicas não podem ser indexadas e referenciadas por seu conteúdo intemo (o que a figura
mostra, por exemplo). Devem sim ser tratadas
como 'objetos' inteiros. Mesmo
as-sim, como objetos podem se tomar nós para hipertextos e, então, a hipermídia nasce (ver Landow e Delany, 1991; Borter, 199g). A importância dos letramentos
multi-midiátiços correspondentes já foi discutida, mas ainda é importante notar que não é apenas o uso da hipermídia que as novas tecnologias tomam mais frícil, mas sua
autoria. Hoje, qualquer um edita um áudio ou um vídeo em
casa, produz animações de boa qualidade, constúi objetos e ambientes tridimensionais, combinados com
;- D"p"t'lt'"1-- .http://www.scielo.brlscieto.php?pid=s0103-18132010000200009&script=sci-arttext>, acesso em 07109/201 1.
ffi
murtirerrâmentos na escora pedâECIgia dos multiletramentos"v
toxtoô 6 imagonc paradV{, adieiona múcl€a e voz e produz habalhor muito além do que qualquer editora oú estúdio dc cinema poderia fazor até alguns anos atrás (s,p,)'
E
comoficam
nissotudo
os letramentos? Tornam-semultiletra-mentos:
são necessárias novas ferramentas-
além
dasda
escritamanual (papel, pena,
lápis,
caneta,giz
e lousa) e impressa (tipogtafra, imprensa)-
de áudio, vídeo, tratamento da imagem, edição ediagra-mação. São requeridas novas práticas:
(a)
de produção, nessas e em outas, cadavezmais novas, ferramentas;(b)
de análise critica como receptor.São necessários novos e multiletramentos.
Nos
estudos disponíveis,um
dosmais
destacados funcionamen-tos desses novos textos que requerem novos letramentos é seu caréúer nãomulti,
mas hiper:hipertextos, hipermídias.
Ainda citando Lemke (2010[1998]: s.p.),A primeira geração das tecnologias de aprendizagem interativa foi, não surpreenden-temente, uma simples transposição do modelo de educação do liwo-texto para uma nova mídia de demonstração. As árvores podem estar agradecidas, mas pouco muda em relação à naitreza da apretdizagem, talvez apenas a motivação crescente para al-guns alunos gerada pela novidade. Mas tão logo os textos on-line se tomem digitais (em oposição a imagens em bitmap da página), ele é facilmente pesqüsável. E se pode
[o texto] ser pesquisável, pode ser indexado e estabelecer referência çom outros textos.
Agora, o texto é simultaneamente um banco de dados, e o hipertexto nasce §elson,
1974;Landow,1992; Bolter, 1991 e 1998). [...] Agora, aaprenüzagemmuda. Em vez de sermos prisioneiros de autores de lilnos-texto e de suas prioridades, escopos e
sequênciar6, somos agentes livres que podem encontrff mais sobre um assunto que os
autores sintetizaram, ou encontrar interpretações alternativas que eles não menciona-ram (ou com a qual çoncordam ou até mesmo consideram moral ou científ,rco). Pode-mos mudar o assunto para adequáJo ao nossojuízo de relevância para nossos proprios interesses e planos e podemos retomar mais tarde paÍa um desenvolvimento padrão baseado no livro-texto. Podemos aprender como se tivéssemos acesso a todos esses
textos e como se tivéssemos um especialista que pudesse nos indicar a maioria das
referên/ias entre tais textos. Temos agora que aprender arealizar formas mais com-plexas de julgamento e ganhamos muita prática fazendo isso.
Apooar
ds
todas essas mudânçag noe textos conternporâneos, os"novos"
letramentos não são assim tão"novos",
segundb Lemke, as,.habilidades de autoria multimidiática e análise crítica multimidiática correspondem,
de forma aproximada, a habilidades tradicionais de produção textual e de leitura crí-tica, mas precisamos compreender o quão estreita e restritiva foi, no passado, nossa
tradição de educação letrada para que possamos ver o quanto a mais além do que
estamos dando hoje os estudantes precisarão no futuro. Nós não ensinamos os alunos
a integrar nem mesmo deseúos e diagramas à sua escrita, quanto menos imagens
fo-tográficas de arquivos, videoclipes, efeitos sonoros, voz em áudio, música, animação, ou representações mais especializadas (formulas matemáticas, gráficos e
tabelas etc.).
ou
seja, paraLemk
concordo com ele-,
não são ascaracte-rísticas dos "novos" textos multissemióticos, multimodais e
hipermidiá-ticos que colocam desaÍios aos leitores. se assim fosse, nossas crianças
e jovens nativosrT não teriam tanta facilidade e prazer na navegação.
o
desaf,ro
fica
colocado pelas nossas práticas escolares de leitura/escritaque
já
eram restritas e insuficientes mesmo paÍa a "era do impresso,,.funcionam entâo
os
mentos?
Em qualquer dos sentidos dapalavra "multiletramentos',
-
nosen-tido
da diversidade cultural de produção e circulação dos textos ou no sentido da diversidade de linguagens que os constituem-,
os.estudos são unânimes em apontar algumas características importantes:t Pr."tkilr00l*"racteriza
os usuários das lecnologias digitais como "nalivos" e '.migrantes",
res-saltando o fato de que "os alunos de hoje
- do matemal à faculdade - representam as primeiras gerações
que cresceram com essa nova tecnologia. Eles passaram a vida inteira cercados de comprúadores, vicleo
games,Íocadores de música digitais, câmeras de vídeo, telefones celulares, e todos os ouhos brinquedos e
ferramentas da era digital. Em média, um aluno graduado atual passou menos de 5.000 horas de sua vida
lendo, mas acima de 10'000 hora s jogando video gan es (sem contar as 20.000 horas assistindo à televisão).
Osjogosdecomputadores, e-mail,aintemet,ostelefonescelulareseasmensagensinstantâneassãopaúes
integrais de suas vidas". Enquanto nós outros
- as geraçôes anteriores - de certa forma.'migrámos'.
para essa realidade e a ela tivemos de nos adaptar (<http:// depiraju.edunet.sp.gov.brlnucleotec/documentos/
Texto_l_Nativos-Digitats_tmigrantes_Digitais.pdf>, acesso em 09l09/2011).
,ío\';,,
'i
22
,.j
multiletramentos na escola\"a*.y'
(a)
eles sãsinterativos:-;
mais que isso, solaborativos;(b)
eles fraturam e transgridem as relações de poder estabelecidas, em especial as relações de propriedade (das máquinas, das fer-ramentas, das ideias, dos textos fverbais ou não]);(c)
eles são híbridos, fronteiriços, mestiços (de linguagens, mo-dos, mídias e culturas).Assim sendo, o melhor lugar para eles existirem é "nas nuvens" e a melhor maneira de se apresentarem é na estrutura ou formato de redes (hipertextos, hipermídias). Vamos
definir
cada um desses termos?Uma das principais características dos novos (hiper)textos e (multi) letramentos é que eles são interativos, em viários níveis (na interface, das ferramentas, nos espaços em rede dos hipertextos e das ferramentas, nas
redes sociais etc.t8). Diferentemente das mídias anteriores (impressas e
analógicas como a fotografia, o cinema, o rádio e a
rv
pré-digitais), amí-dia digital, por suaprópiatatureza"tradtJÍora" de outras linguagens para a linguagem dos dígitos binários e por sua concepção fundante em rede
(web),permite que o usuário (ou o leitor/produtor de textos humano) inte-raja em vários níveis e com vários interlocutores (interface, ferramentas, outros usuários, textos/discursos etc.). Se as mídias anteriores eram
des-tinadas à distribuição controlada da informação/comunicação
-
aliâs, a imprensa se desenvolveu em grande parte com esse fim-,
a ponto de sefalar, no caso das mídias, que elas foram destinadas às massas (rádio,
rv)
em vez de às elites (imprensa, cinema) na constituição de uma "indústria cultural" típica da modernidade, centralizadapelos interesses do capital e
das classes dominantes e que colocava o receptorno lugar de consumidor
dos produtos culturais, amídia digital e a digitalização (multi)mídia que
a mesma veio a p{ovocar mudou muito o panorama.
Por
sua própria constituiçãoe
funcionamento, ela é interativa,de-pende de nossas ações enquanto humanos usuários (e não receptores ou 'espectadores)
-
seu nível de agência é muito maior. Sem nossas ações,previstas, mas com alto nível de abertura de previsões, a interface e as
'' Ver Santaella \2007). a respeito.
il --.-",.-...,. .
fenamontas não funcionam, Nessa mrdia, nossas ações puderam, cada vez mais,
permitir
a interação também com outros humanos (emtp-cas eletrônicas de mensagens, síncronas e assíncronas; na postagem de nossas ideias e textos, com ou sem comentários de outros; no diá-logo entre os textos em rede [hipertextos]; nas redes sociais; em pro-gramas colaborativos nas nuvens). É
por
isso queo
computador não é uma mera máquina de escrever, emboramuitos
migrados ainda ousem apenas como tal.
Essa característica interativa fundante da própria concepção da mí-dia
digital permitiu
que, cada vez mais, a usássemos mais do que para amera interação, para aprodução colaborativa.o
conceito de web 2.0 tenta recobrir os efeitos dessa mudança.criado
porTim
o,Reilly,
tem a seguinte definição na Wikipédia:Web 2.0 é a mudança paravÍna internet como plataforma e um entendimento das
re-gras para obter sucesso nessa nova plataforma. Entre outras, a regra mais importante é
desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva (<htrpt//
pt.wikipedia.orslwiki/web_2.0>, acesso em 0910912011).
Essa mudança de concepção e de atuação,
já
prevista nas próprias características da mídiadigital
e da web,faz
com que o computador,o
celular e arv
cadavez mais se distanciem de uma máquina de re-produção e'se aproximem de máquinas de produção colaborativa: é oque faz a diferença entre o e-mail e os chats,mas principalmente entre o
word/ofÍice
e o GoogleDocs,opowerpointe oprezi,o orkut(em
sua concepçãoinicial)
eo
Facebook,o blog
(em sua concepçãoini-cial)
e oTumblr.
Todas essas ferramentas mais recentespermitem (e
exigem, para serem interessantes),mais
quea
simples interação, a colaboração.ora,
evidentemente, a lógica interativo-colaborativa das novas fer-ramentas dos (multi)letramentos no mínimodilui
e no máximo permite fuaturar ou subverter/transgredir as relações de poder preestabelecidas, em especial as relações de controle unidirecional da comunicação e da informação (da produção cultural, portanto) e da propriedade dos o.bensmultiletramentos na escotâ
culturais imateriais" (ideias, textos, discursos, imagens, sonoridades), Não é preciso me alongar sobre a intensa luta que tem sido travada a respeito do (não)controle da internet e de seus textosre.
A
possibilidade de criaçáo de textos, vídeos, músicas, ferramentas, tlesigns não unidirecionais, controlados e autorais, mas colaborativos einterativos
dilui
(e nolimite
fratura e transgride) a própria ideia de pro-priedade das ideias: posso passar a me apropriar do que évisto
comoum..fratrimônio"
da humanidade e não mais comoum "patrimônio".
Evidentemente, a estrutura em rede e o formato/funcionamento hiper-textual e hipermidiático facilitam as apropriações e remissões efuncio-nam (nos remixes, nos mashups), por meio da produção, cada vez mais intensa, de híbridos polifônicos. E claro: para
permitir
a colaboraçáo, a interação e a apropriação dos ditos "bens imateriais" da cultura, o ideal é que tudo funcione nas nuvens, pois, nas nuvens, nada é de ninguém-
tudo é nosso. Esta é a lógica do GoogleDocs, do Prezi, do YouTube,dentre outros. E onde estão as nuvens?
Ponte: <http://
pt.w ikl pedl a. or g / w lkl /
Co m p utao/oC3o/o A7 o/o C3 o/o
A3o-em-nuvem#cite-note-o>, acesso em 0910912011.
r', A ponto de existir um Partido Pirata Sueco (PP), que, em aliança com a Confederal da Esquerda
Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, elegeu, em 2009, um deputado europeu, com 7%o dos votos da
lluropa Unifi cada (<hltpt / lwww.plratpaftlel'se/ >).
Mffi
ffi,
ffi,
m
Ít,.m..m^.
ís
m,
mmm.
aestrutura
r..-. : coNTEÚDoffi-
ltffi;
>II
#rilÉ;Á. ARM&ENÂMENÍO DE OBJSOS lnfr íffi} t&i COMPUTADOR Computação em nuvens pedagüçia d0§ multiletramentosNão faríamos uma porgunta dossas a rospeito das nuvons naturais,
faríamos?
\
Nuvem é um conjunto visível de partículas diminutas de gelo ou água em seu estado
líquido ou ainda de ambos ao mesmo tempo (mistas), que se encontaÍn em suspensão na atmosfera, após terem se condensado ou liquefeito em virtude de fenômenos atrnos-fericos (< nttp ://pt.wiktpedia.org/wtki/Nuvem >, acesso em 0g I 0g I 20 I l).
Do
mesmomodo,
computaçãoou
colaboração em nuvemé
..umconjunto
visível
de bits e bytes que se encontram em suspens ãona
at-mosfera daweb" e
que, acessados, aparecem para nós como textos, imagens, vídeos, trabalhos colaborativos2o.o
melhor
da comput ação _em nuvem é que, embora dependa da ampliação, acesso e democra-tização das bandas de transmissão (mais
ou
menoso
que aconteceu com o telefone, orádio
e a televisão, nãofoi?),
ela passa a dispensar a propriedade, inclusive das máquinas, ferramentas e serviços. possoacessar de qualquer lugar/dispositivo (meu ou não), sem ter de comprar
os softwares ou mesmo de pagar provedor.
e
uma
"pedagogia
ultiletramentos"?
Bem, mas se, como
já
disse antes, os nossos alunos (as crianças ejovens do
maternalà
faculdade, comodiz
prenski)já
lidam
visivel-mente, com muito mais fluência do que nós, migrados, com os novos dispositivos, tecnologias e ferramentas,
por
queincluir
na escola algo que em muitos níveis as novas geraçõesjá
sabem? por queuma,.peda-gogia dos multiletramentos"?
paradisciplinar
seus usos?Ao
contrário: antes de nos perguntar comodisciplinar
os usos dosmultiletramentos,
creio,
com Lemke (2010[199g]: s.d.), que
..pre_ cisamos pensarum pouco
emcomo
as novas tecnologias dainfor-20 Curiosamente, Vygotsky
também usava a metáfora da nuvem, de (gotas de) chuva, para explicar o
funcionamento dos significados nos discursos.
,,nio'i,
,, 26
i
multiletramêntos na escolamação podem
transformar
no§§o§hábitos institucionais do
on8inarc
aprender'n,Em
vez de impedir/disciplinar
o
u§odo
internetês na intárnet (e fora dela), po§soinvestigar por
que e como esse modo de se expressar por escrità funciona.Emvezde
proibir
o celular em sala de aula, possousá-lo
para acomunicaçãO, a naveg açáo, a pesquisa, aÍilmagem
e a fotografia.Para Lemke, há "dois paradigmas de aprendízagem e educação em
disputaemnossasociedadehojeeaSnovastecnologiasvão,acredito,
mudar
o equilíbrio
entre eles significativamente,,(Lemke,
1994b).o
primeiro, eie denomina"paradigma de aprendizagem curricular:aque-lequeassumequealguémdecidiráoquevocêprecisasúereplanejará
para que você aprenda tudo em uma ordem
fixa
e emum
cronogramafixo".
O segundo, ele chama de "paradigmada
aprendizagem interati-va" (hoje,'eu diria, colaborativa) :Assume-sequeaspessoasdeterminamoqueprecisamsaberbaseando.Seemsuas
participaçõesematividadesemqueessasnecessidadessurgemeemconsultaaes-pecialistas conhecedores; que eles aprendem na ordem que lhes cabe' em um ritmo confortável e em tempo para usarem o que aprenderam'
O autor ainda afirma:
Hoje,oparadigmacurricularestáfalhandodesastrosamentenosEstadosUnidos.
Qualquer um que tenha gasto tempo em uma escola urbana' mesmo nas melhores'
podelhesdizerqueascoisasvãopiordoqueostestespadrãoeasestatísticaspodem
revelar. A maioria dos alunos realmente não vê utilidade naquilo que se quef que
elesaprendam.Muitossúemquenãoestãopreparadosparaoprogramadeaprendi.
zagem arnal (Lemke, 20 I 0[ 1 998] : s'p')'
Vivemos
em um mundo em que se espera (empregadores' profes-sores, cidadãos, dirigentes) que as pessoas saibam guiar suas propriasaprendízagens na diÃção do possível, do necessário e do desejável, que
tenham autonomia e saibam buscar como e o que aprender' que tenham
flexibilidade
e consigam colaborar com urbanidade'Queremospessoasquesabemascoisasquequeremsaberepessoasquesabemcoi.
sas que são úteis em práticas fora das escolas. Queremos pessoas que sejam pelo
me-nosumpoucocríticasecéticasquantoàinformaçãoeaospontosdevistaetenham ., l
pedagogiadosmultiletramentos rÇ))
alguma idoia do como julgar suas eonvioçõeg, Mas, além dlsso, ngo há oonsênso
social geral sobre o conteúdo da educagão para além do que podcria ser aprendido nos oito ou nove primeiros anos de escola e não há base de pesquisa empírica para
decidir o que cada cidadão poderia de fato achar útil saber depois de deixar a escola (Lemke, 2010[1998]: s.p.).
como
disse antes-
e nisso discordo de Lemke2t-
,56
requeri-das
uma
ética
evárias
estéticas22 e aí se encontraum
trabalho quea
escola podetomar
parasi:
discutindo
criticamente as ..éticas,, ou costumes locais,constituir
uma éticaplural
e democrática; discutin-do criticamente as diferentes "estéticas",constituir
variados critérioscríticos
de apreciação dos produtosculturais locais
e globais.Aqui,
estamos
no domínio
das atitudes e valores, que também se aplicam às línguas (e suas variedades), às linguagens e suas combinações e àspráticas letradas em suas variedades (e, logo,
justiÍica-se
uma área delínguas/linguagens nas escolas).
Isso envolve, é claro,
Ietramentos críticos. E
esse é outro espaço de atuação escolar: transformaro
"consumidoracrítics',
-
se é queele de fato
existe
analista crítico.E,
paratanto, são necessários critérios analíticos que requerem uma metalinguagem (um conjunto de conceitos) e extraposição.zer uma
"pedagogia"
Itiletramentos?
8m199612000120061, o GNL propõe alguns princípios sobre como encaminhar uma "pedagogia" dos multiletramentos. Esses princípios
se encontravam então configurados no diagrama a seguir23:
'' Qua acha que as "novas tecnologias da infomação tomarão possível aos alunos aprender o que
que-rem, quando queque-rem, da forma como querem, sem as escolas,,.
" Alguns diriam: são requeridas várias éticas e varias estéticas, mas nisso, sou intransigente
- para
mim. há que se pensar o bom e o justo coletivo.
"
GNL (2ooot2oo6[1996]:35). multiletrament0s na escolâ Mrm oot MUtÍtLt?iAMlÍ{Tot Uruárlo Íuncional.
Competência técnica.
Conhecimento prático fTff ,7f u7J ,j j I Griador de gentidosr
Entende como diferentes tiPos de texto e de tecnologias oPeram t{tt$tIlr! tl 'i ..l' - \rt\\\
\ltt Analista críticoo
Entende que tudo oqueéditoeestudado é fruto de seleção prévia
/
Ittttllt {tta Transformador.
Usa o que foi aprendido de novos modosAdaptado de DECS & UniSA,2006.
Resumidamente, tratava-se de formar um usuário funcional que
ti-vesse competência técnica ("saber fazet") nas feramentas/texto sl
ptáúi-cas letradas requeridas, ou seja, garaÍúíÍ os "alfabetismos" necessários
às práticas de multiletramentos (às ferramentas, aos textos, às línguas/ linguagens). Mas esse patamar, claramente, não basta a essa "pedago-gia,,: aquestão é alfabetismos funcionais para que (e em favor de quem). O trabalho da escola sobre esses alfabetismos estaria voltado para as possibilidades práticas de que os alunos se transformem em
criado-res de sentidos. Para que isso seja possível, é necessário que eles sejam analistas
críticos,
capazes de transformar, como vimos, os discursos esignificações, seja na recepção ou na produção'
o
GNL
apreserrtavaentão alguns movimentos "pedagógicos" cor-fespondentes a essas metas, para que tal ensino-aprendizagem pudesseser levado a efeito:
.
prática situada;.
instrução aberta;.
enquadramento crítico;.
práticatransformada.
\
Nesse caso específrco,prática situada tem um significado particular bem específico, que remete a um projeto didático de imersão em prá-ticas que fazem parte das culturas do alunado e nos gêneros e designs disponíveis para essas práticas, relacionando-as com outras, de outros espaços culturais (públicos, de trabalho, de outras esferas e contextos). Sobre essas se exerceria então uma instrução aberta,ou seja, uma análi-se sistemática e consciente dessas práticas vivenciadas e desses gêneros e designs familiares ao alunado e de seus processos de produção e de
recepção. Nesse momento é que se dá a introdução do que chamamos
critérios
de análisecrítica,
ou seja, de uma metalinguagen e dos con-ceitos requeridos pela tarefa analiticae
cntica dos diferentes modos designificação e das diferentes "coleções culturais" e seus valores.
Tudo isso se dá a partir de um enquadramento dos letramentos
crí-ticos
q.u.e buscam interpretaros
contextos sociaise culturais
decir-culação e produção desses designs
e
enunciados.Tudo
isso visando, como instânciaúltima,
à produção de umaprática
transformada, seja de recepção ou de produção/distribuição (redesign)Essa proposta didática é de grande interesse imediato e condiz com os
princípiôs
de pluralidadecultural e
de diversidade de linguagensenvolvidos
no
conceito de
multiletramentos.Infelizmente, mais
re-centemente, em confronto com o forte movimento reacionário atuante nos Estadosunidos
e na comunidade Europeia, denominado "Back to Basics"za, os autoresjulgaram necessário retroceder em suas propostase substituíram esses quatro "gestos didáticos" pelos
já
tradicionais .,ex-perimentar,conceitualizar,
analisare
aplicar,,zs. Félizmente,no
caso'* Lobistas defendem que os estudantes devem cobrirum conteúdo específico e chegar a determinados
resultados de aprendizagem, como uma proficiência básica em leitura, escrita e cálculo. Em vez de
con-Íigurar o currículo de acordo com os interesses e talentos dos alunos, o propósito do movimento de avalia-ção padronizada é definir um núcleo de conhecimento e coagir as escolas a ensinálo" (<http://herinst.orgl
BusinessManagedDemocracy/education/curricula/return',html>, acesso em 0glogl201l).
" Ver, por exemplo, Cope e Kalantzis (2009).
,---tl"rr
/' ,n,
i
30
;
multiletramentos na escolâdo Brasil, nâo nos Vemos constrangido§
I
tanto, talvez por termo§co-rnoÇado há mais tempo (com a proposta paulo-freiriana, por exemplo).
Hoje, no Brasil,
é não só perfeitamente possível, como desejável (e, de certa forma, desejada por uma grande parcela dos professores) a adoção de uma didática dessas. Sinto uma grande adesão dos docentes aosprincípios
que subjazema
essetipo
de concepçãode
educação. Nossos desafios não estão no'embate com a reaçáo, mas em como im-plementar uma proposta assim:(a)
o que fazer quanto à formação/remuneraçãolavaliação de pro-fessores;(b)
o que mudar (ou não) nos currículos e referenciais, na organi-zaçáo do tempo, do espaço e da divisão disciplinar escolar, na seriação, nas expectativas de aprendizagem ou descritores de"desempenho", nos materiais e equipamentos disponíveis nas
escolas e salas de aula.
Mas esses gigantescos desafios parecem bem pequenos se de fato
tivermos a adesão dos professores e alunos a essas ideias.
pedagogia do§