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Áreas verdes urbanas : por uma abordagem sistêmica

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

MARIANA GRECO TAVORA DAINESE

ÁREAS VERDES URBANAS: POR UMA

ABORDAGEM SISTÊMICA

CAMPINAS 2016

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MARIANA GRECO TAVORA DAINESE

ÁREAS VERDES URBANAS: POR UMA

ABORDAGEM SISTÊMICA

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, para obtenção do título de Mestra em Arquitetura, Tecnologia e Cidade na área de Arquitetura, Tecnologia e Cidade.

Orientador: Prof. Dr. Evandro Ziggiatti Monteiro

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA MARIANA GRECO TAVORA DAINESE E ORIENTADA PELO PROF. DR. EVANDRO ZIGGIATTI MONTEIRO

ASSINATURA DO ORIENTADOR

CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO

ÁREAS VERDES URBANAS: POR UMA ABORDAGEM SISTÊMICA

Mariana Greco Távora Dainese

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Prof. Dr. Evandro Ziggiatti Monteiro

Presidente e Orientador / UNICAMP

Profa. Dra. Norma Regina Truppel Constantino

UNESP

Profa. Dra. Lucila Chebel Labaki

UNICAMP

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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Dedico este trabalho aos meus queridos avós: João, Ester, Mauro e Assunta.

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AGRADECIMENTOS

Esta dissertação foi possível graças à participação de muitos colaboradores! Agradeço ao professor Evandro pelo tempo dedicado à orientação deste trabalho. Ao meu pai, pelas prazerosas discussões e por sempre se dispor a ler meus textos e contribuir com suas sugestões. Ao meu marido e a todos da minha família pela compreensão e apoio. Às minhas filhas, Cecília e Laura, pela paciência ao longo deste trabalho, pela companhia tão especial nas visitas aos parques e por, espontaneamente, testarem cada equipamento voltado ao lazer infantil! À minha mãe, pelo apoio incondicional!

À minha irmã, Beatriz, e ao amigo Clewerson Schraiber, que gentilmente muito me ajudaram na elaboração dos mapas. À amiga Bruna Zanotto pela ajuda com mapas e ícones dos equipamentos. À amiga Thaís Onaga, com quem sempre pude contar para as visitas a campo, classificação e organização de várias informações. À Renata pela pronta ajuda com a revisão do resumo em inglês. À Isabel e ao Mauro Vitor, irmãos queridos que também me apoiaram.

Às professoras Rozely dos Santos Ferreira e Lucila Chebel Labaki, pela participação na banca de qualificação e pelas contribuições. À professora Norma Regina Truppel Constantino e, novamente, a professora Lucila Chebel Labaki que compuseram a banca de defesa.

À querida Clarice Spoladore, pela atenção e revisão do texto.

À equipe da Secretaria do Verde e Desenvolvimento Sustentável, pela disponibilização de informações, especialmente a Mariana Cisotto e Paulo Egydio, pela atenção.

Agradeço também aos amigos da Caixa Econômica Federal, pela compreensão e apoio. E ao incentivo das queridas Rosângela Maria Greco e Sílvia Távora, Carla Cordeiro, Vânia Nakajima, Camila Souza, Vivian Rondon, Érica Nakahashi, Mika Daido, Lea Patrício, Valéria Peres e Patrícia Sanches.

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RESUMO

Diversos estudos destacam os benefícios relacionados à presença das áreas verdes para os ambientes urbanos e o bem estar da sociedade. Nas cidades, de modo geral, as áreas verdes são elementos vulneráveis e cada vez mais escassos. O aumento da população urbana e a percepção de efeitos negativos da urbanização apontam para a importância de planejar espaços urbanos com as devidas considerações dos processos naturais. Neste contexto, as áreas verdes urbanas são elementos fundamentais. O presente trabalho propõe uma investigação acerca das áreas verdes da cidade de Campinas, no Estado de São Paulo. O objetivo da pesquisa é analisar as áreas verdes do Município de forma sistêmica, abordando aspectos quantitativos, qualitativos, morfológicos e de distribuição. Adotaram-se quatro categorias de análise e duas escalas de abordagem. Por meio das categorias de análise quantitativa e distributiva, foram investigados os índices de área verde por habitante e a distribuição das áreas verdes para o recorte do perímetro urbano, escala da cidade. As categorias de análise qualitativa e morfológica foram aplicadas para as análises da escala local, neste caso, os parques e seu entorno. Apesar de Campinas apresentar um índice geral de áreas verdes considerado alto, aspectos como a baixa densidade urbana, a distribuição espacial das áreas verdes e a efetiva porcentagem de áreas com potencial para utilização social revelam que boa parte da cidade é ainda carente de áreas verdes. Os resultados da pesquisa contribuem para reforçar a importância de analisar as áreas verdes de forma sistêmica, contemplando tanto aspectos quantitativos como aspectos qualitativos.

Palavras-chave: Paisagem urbana; Área verde; Infraestrutura verde; Morfologia urbana; Sustentabilidade.

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ABSTRACT

Several studies highlight the benefits related to the presence of green areas for urban environments and society’s well being. In the cities, in general, the green areas are vulnerable elements and increasingly scarce. The increase of urban population and the perception of the negative effects of urbanization point to the importance of planning urban spaces with due consideration of the natural processes. In this context, urban green areas are key elements. This paper proposes an investigation about the green areas of the city of Campinas, state of São Paulo. The purpose of the research is to analyze the green areas of the municipality, in a systematic way, addressing quantitative, qualitative, morphological and distribution aspects. Four categories and two scales of analysis were adopted. Through quantitative and distributional analysis categories, the green areas index per inhabitant and its distribution to outline the city limits were investigated, which is the city scale. The categories of qualitative and morphological analysis were applied to the local scale analysis, in this case, the parks and its surroundings. Although Campinas total green area index is considered high, aspects such as, the low urban density, the green areas spatial distribution and the effective percentage of areas with potential for social use, reveal that most of the city is still lacking in green areas. This survey results contributes to reinforce the importance of green areas analysis in a systematic way, covering both quantitative and qualitative aspects.

Keywords: Urban landscape; Green area; Green infrastructure; Urban morphology, Sustainability.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Plano original do Emerald Necklace (1894), proposto por Olmsted ... 19

Figura 2 - Modelos esquemáticos de distribuição dos espaços livres ... 29

Figura 3 - Áreas verdes de Curitiba 2007 ... 32

Figura 4 - Conformação do Município conforme a estratificação social. Gráfico inspirado no clássico de Hoyt, da Escola de Chicago ... 36

Figura 5 - Evolução do perímetro urbano do Município de Campinas ... 38

Figura 6 - Legenda ampliada da evolução do perímetro urbano do Município de Campinas ... 38

Figura 7 - Evolução do perímetro urbano de Campinas ... 39

Figura 8 - Mapa de ocupação urbana do território de Campinas ... 40

Figura 9 - Mapa das Macrozonas de Campinas ... 41

Figura 10 - Mapa das Unidades de Conservação de Campinas ... 45

Figura 11 - Perímetro urbano de Campinas ... 48

Figura 12 - Mapeamento das Áreas Verdes de Campinas - 2012... 50

Figura 13 - Mapeamento de Áreas Verdes de Campinas - 2015 ... 51

Figura 14 - Parques e Bosques de Campinas ... 52

Figura 15 - Categorias de Índice de Áreas Verdes Social (IAVS) por Habitante e distribuição das UTBs por IAVS ... 53

Figura 16 - Mapa 1: Densidade populacional e índices de área verde por habitante por UTB ... 57

Figura 17 - Mapa 2: Densidade populacional e índices de área verde por habitante por Setores Censitários – Censo 2010 (IBGE) ... 59

Figura 18 - Mapa 3 – Índices de área verde por habitante e densidade populacional das UTBs... 60

Figura 19 - Gráficos com as porcentagens do perímetro urbano que representa cada intervalo de índice de área verde e densidade populacional consideradas ... 61

Figura 20 - Mapa dos parques de Campinas ... 62

Figura 21 - Ficha resumo do Parque Lago do Café ... 64

Figura 22 - Ficha resumo do Bosque dos Cambarás ... 66

Figura 23 - Ficha resumo do Parque Pedreira do Chapadão ... 67

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Figura 25 - Ficha resumo do Bosque São José ... 70

Figura 26 - Ficha resumo do Bosque Augusto Ruschi ... 71

Figura 27 - Ficha resumo do Bosque Valença ... 72

Figura 28 - Ficha resumo do Bosque dos Jequitibás ... 73

Figura 29 - Ficha resumo do Bosque dos Artistas ... 74

Figura 30 - Ficha resumo do Bosque dos Alemães ... 75

Figura 31 - Ficha resumo do Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão ... 76

Figura 32 - Ficha resumo do Bosque Chico Mendes ... 77

Figura 33 - Ficha resumo do Parque das Águas ... 78

Figura 34 - Ficha resumo do Bosque dos Guarantãs ... 80

Figura 35 - Ficha resumo do Bosque da Paz ... 81

Figura 36 - Ficha resumo do Parque Portugal ... 82

Figura 37 - Ficha resumo do Parque Ecológico Monsenhor Emilio José Salim ... 84

Figura 38 - Ficha resumo do Parque Botânico ... 86

Figura 39 - Ficha resumo do Bosque Silvia Brandão Bertazzoli Bellucci ... 87

Figura 40 - Ficha resumo do Parque Natural Municipal da Mata ... 88

Figura 41 - Ficha resumo do Parque Linear Ribeirão das Cabras ... 89

Figura 42 - Ficha resumo do Parque Linear Ribeirão das Pedras ... 90

Figura 43 - Croqui com a análise morfológica do Bosque Valença ... 93

Figura 44 - Croqui com a análise morfológica da Pedreira do Chapadão ... 95

Figura 45 - Croqui com a análise morfológica do Parque Ecológico Monsenhor José Salim ... 97

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LISTA DE ABREVATURAS E SIGLAS

APA – Área de Proteção Ambiental APP – Área de Proteção Permanente

ARIE- Área de Relevante Interesse Ecológico

CEPAGRI - Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura CONDEPACC - Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas

EMPLASA - Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano EPA - A Agencia de Proteção da Água dos Estados Unidos IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IGC - Instituto Geográfico e Cartográfico

IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba PMC – Prefeitura Municipal de Campinas

PMV – Plano Municipal do Verde

RMC – Região Metropolitana de Campinas RMSP – Região Metropolitana de São Paulo

SEPLAMA – Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (Prefeitura Municipal de Campinas)

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ... 06

RESUMO ... 07

ABSTRACT ... 08

LISTA DE FIGURAS ... 09

LISTA DE ABREVATURAS E SIGLAS ... 11

1 INTRODUÇÃO ... 133

2 REVISÃO DE LITERATURA ... 16

2.1 ÁREAS VERDES URBANAS ... 16

2.2 O MUNICÍPIO DE CAMPINAS ... 344

3 MATERIAL E MÉTODOS ... 46

3.1 BASE DE DADOS E MAPAS ... 47

3.2 LEVANTAMENTOS E VISITAS A CAMPO ... 53

4 RESULTADOS ... 57

4.1 ÍNDICES DE ÁREA VERDE POR HABITANTE E DISTRIBUIÇÃO DAS ÁREAS VERDES DE CAMPINAS ... 57

4.2 PARQUES DE CAMPINAS ... 62

4.3 BOSQUE VALENÇA, PARQUE PEDREIRA DO CHAPADÃO, PARQUE ECOLÓGICO MONSENHOR JOSÉ SALIM E PARQUE PORTUGAL ... 92

5 DISCUSSÃO ... 102

6 CONCLUSÕES ... 108

REFERÊNCIAS ... 110

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1 INTRODUÇÃO

O aumento da população urbana e a percepção dos efeitos negativos da urbanização apontam para a importância de planejar os espaços da cidade com as devidas considerações dos processos naturais. A preocupação com a sustentabilidade desses ambientes tornou-se uma grande inquietação, por aglutinar aspectos sociais, econômicos e ambientais. O equilíbrio entre cidade e natureza e as diversas possibilidades de interação entre seus elementos é parte integrante da discussão sobre a sustentabilidade urbana. A presença das áreas verdes nas cidades e a relação dessas áreas com a distribuição da população pelo território representam aspectos objetivos cujos dados são imprescindíveis para fomentar as tomadas de decisão.

No Brasil, alguns programas propõem classificar os municípios com base em determinados indicadores, como os índices de área verde por habitante dos municípios. Entretanto, os diferentes critérios de mapeamento de áreas verdes muitas vezes permitem distorções do índice de áreas verdes, e as diferentes terminologias e metodologias adotadas para o cálculo dos índices dessas áreas acabam resultando na má utilização das informações. Nesse contexto, além da questão quantitativa, aspectos como a qualidade, a morfologia e a distribuição das áreas verdes, também são importantes, mais que isso, podem ser condicionantes para o bom desempenho dos seus benefícios e da garantia da sustentabilidade em ambientes urbanos.

Esta dissertação propõe uma investigação acerca das áreas verdes da cidade de Campinas, no Estado de São Paulo. O objetivo da pesquisa é analisar as áreas verdes do Município de forma sistêmica, abordando aspectos quantitativos, qualitativos, morfológicos e de distribuição. Esse objetivo resulta da crítica aos índices apenas quantitativos que são comumente calculados.

O Município, sede da região metropolitana, está localizado a 100 quilômetros (km) da capital do Estado. Por meio do documento intitulado Plano Municipal do Verde – Diagnóstico, a Prefeitura Municipal de Campinas (PMC) divulgou, em novembro de 2015, que as “Áreas Verdes do município totalizam 9,46 mil ha, o que corresponde a 87,67 m²/habitante” (PMC, 2015a, p. 22). Nesse diagnóstico, para o conceito de áreas verdes, consideraram-se áreas com vegetação de qualquer porte, área permeável mínima de 70% e área mínima de 200 metros

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quadrados (m²). A população considerada foi a determinada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo de 2010: 1.080.113 habitantes (IBGE, 2010). O mesmo diagnóstico traz a relação de parques e áreas de proteção da cidade.

A pesquisa buscou responder às seguintes questões: Alto índice geral de áreas verdes significa, para o caso de Campinas, que a cidade oferece à população, de forma democrática, a possibilidade de contato com áreas verdes? Quais aspectos, além dos quantitativos, devem ser considerados para analisar as áreas verdes do ponto de vista urbanístico? Onde e como estão os parques da cidade?

A esta introdução, segue-se o capítulo 2, REVISÃO DE LITERATURA, subdividido em três tópicos. No tópico AS ÁREAS VERDES NOS ESTUDOS URBANOS, abordam-se pesquisas de autores consagrados da área do urbanismo – que se destacam por terem considerado, em suas pesquisas ou propostas urbanísticas, a presença do verde na cidade. Nos tópicos TERMOS, CONCEITOS E PRINCIPAIS BENEFÍCIOS e QUANTIFICAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DAS ÁREAS VERDES, abordam-se as definições para áreas verdes, os principais benefícios associados a elas e a problemática relativa à quantificação e qualificação das áreas verdes. No tópico O MUNICÍPIO DE CAMPINAS, apresentam-se, resumidamente, aspectos históricos sobre a cidade com base no trabalho de pesquisadores que analisaram o Município sob essa perspectiva, considerando também a óptica das áreas verdes e aspectos físico-territoriais. Pesquisas realizadas sobre as áreas verdes da cidade de Campinas – tanto aquelas com o objetivo de inventariar áreas verdes da cidade ou compreender o impacto da expansão urbana da cidade sobre as áreas verdes, como as que investigaram, em áreas verdes da cidade, impactos no conforto térmico que elas proporcionam.

No terceiro capítulo, MATERIAL E MÉTODOS, relacionam-se e descrevem-se as categorias e escalas de análise adotadas, os materiais utilizados e os procedimentos aplicados para a elaboração das bases de dados utilizadas, realização das visitas a campo e organização e apresentação das informações.

Nos RESULTADOS, quarto capítulo, encontram-se os resultados obtidos a partir dos mapas com a distribuição dos índices de área verde e densidades populacionais da cidade de Campinas. Encontram-se também a leitura dos parques, as análises qualitativas dos equipamentos e estrutura e as fichas-resumo de cada

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parque. Para quatro dos parques estudados, encontram-se também os resultados das análises dos aspectos morfológicos e da relação desses parques com o entorno.

Na DISCUSSÃO, quinto capítulo, discute-se acerca dos índices de área verde por habitante, a interferência da densidade urbana e a possível relação dos baixos índices de áreas verdes com aspectos econômicos e sociais no caso do Município de Campinas. A respeito dos parques da cidade, discute-se, além de algumas questões quantitativas, aspectos físicos e morfológicos e a relação desses parques com o entorno. Por fim, apresenta-se uma breve discussão sobre a comparação de alguns dos dados de Campinas com dados da cidade de Curitiba, que é considerada nacionalmente referência em áreas verdes e em planejamento urbano. As conclusões da pesquisa apresentam-se no sexto capítulo. A partir dos resultados obtidos e discutidos, foi possível concluir que, apesar da cidade de Campinas apresentar um índice geral de áreas verdes considerado alto, aspectos como a baixa densidade urbana e a distribuição espacial das áreas verdes revelam que boa parte da cidade é ainda carente de áreas verdes. Em relação aos parques da cidade, foi possível constatar que ainda são poucos os que oferecem multiplicidade de usos e bom estado de conservação de seus equipamentos. Constatou-se também que os parques não se apresentam integrados a um sistema de áreas verdes: a maioria dos parques implantam-se como ilhas verdes dentro do tecido urbano, apresentando conexão visual exclusivamente com o seu entorno imediato, não apontando, de modo geral, conexões com outras infraestruturas urbanas como vias, calçadas, ciclovias, ou com outras áreas verdes. Conclui-se que a cidade, ao contar com uma rede de áreas verdes que integre parques, praças, avenidas, corredores e fragmentos verdes, poderia passar a oferecer melhor distribuição e diversificação do verde pelo território.

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2 REVISÃODELITERATURA

2.1 ÁREASVERDESURBANAS

A presença dos elementos verdes nas cidades já foi tema de diversos pesquisadores de várias áreas do conhecimento ao longo dos estudos sobre as cidades. Atualmente a preocupação com a relação entre cidade e natureza parece estar sendo abordada com mais frequência, especialmente em razão dos impactos gerados pela cidade sobre o meio ambiente. As áreas verdes urbanas, assim como o ar, as águas urbanas e o solo são elementos naturais presentes nas cidades. No caso das áreas verdes, são elementos que podem ser encontrados em remanescentes florestais, em parques, praças, bosques, reservas, áreas de preservação e áreas de cultura e cultivo. São consideradas essenciais à manutenção da diversidade biológica de espécies animais e vegetais, ao equilíbrio climático, à proteção do solo. Oferecem ainda qualidade estética e identidade aos ambientes e paisagens urbanas, além de diversas oportunidades para práticas esportivas, lazer ao ar livre e contemplação. Tornaram-se objeto de diversos estudos, alguns dos quais, considerados mais relevantes para a presente pesquisa, serão abordados a seguir.

2.1.1 As Áreas Verdes nos Estudos Urbanos

Cidade e natureza, abordadas de forma interdisciplinar, passaram a ser temática bastante explorada, e urbanistas, geógrafos, biólogos, economistas e muitos outros profissionais de diferentes campos do conhecimento se ocupam do estudo dos instigantes espaços urbanos e suas relações com a natureza.

As cidades são consideradas “o maior artefato já criado pelo homem [...] objetos de desejos, desafios, oportunidades” (LEITE, 2012). Na definição de Rueda (2000), “as cidades são ecossistemas interdependentes de outros sistemas que constituem seu entorno, formando uma unidade íntima cidade-entorno“.

Spirn (1995) se debruçou sobre o estudo da relação entre natureza e cidade e defende que os processos naturais sejam considerados nos projetos de expansão e redesenho das cidades. Nas palavras de Spirn (1995, p 15), “A natureza permeia a cidade, forjando as relações entre ela e o ar, o solo, a água e os organismos

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vivos em seu interior e em sua volta”. A autora destaca que as cidades refletem, sob diversas formas, a busca do homem pelo contato com a natureza através de jardins, parques, alamedas, propostas utópicas e cidades-jardins.

Segawa (1996) observa que a apreciação e valorização da paisagem resultava de uma redefinição das relações entre o homem e a natureza e refletem no surgimento, a partir do século XVI, de parques e jardins públicos em cidades da Europa simultaneamente ao surgimento dos primeiros espaços ajardinados na América.

Ao tratar das áreas verdes em diferentes épocas da história das cidades, Loboda e De Angelis (2005) resgatam, por meio da contribuição de Segawa (1996), registros, a partir do século XVI, do aparecimento de parques, jardins públicos e espaços ajardinados na Europa e dos primeiros espaços ajardinados na América.

Spirn (1995) relata que, no século XIX, o intenso crescimento das cidades e o aumento da poluição do ar e da água precipitaram o movimento da reforma sanitarista, que, por sua vez, resultou em maciços investimentos em paisagismo e infraestrutura: “À medida que as cidades se tornaram maiores e mais congestionadas, a distância do campo e a nostalgia da natureza aumentaram enquanto queixas contra a vida urbana” (SPIRN, 1995, p. 47).

Segawa (1996) destaca que “No final do século 19, o conceito de rua e do parque arborizados como pulmões urbanos estava amplamente assimilado. Não apenas em sua dimensão salubrista, como por um suposto caráter cívico” (SEGAWA, 1996, p. 70). O referido autor relata ainda que, também no Brasil, saneamento e embelezamento eram debatidos em 1901 por ocasião do Congresso de Engenharia e Indústria no Rio de Janeiro.

Os modelos, “imagens da cidade futura”, surgiram como resposta aos efeitos negativos promovidos pela urbanização, alternativas aos modelos correntes, considerados fracassados (CHOAY, 2005). Choay (2005) refere que urbanistas desenharam suas concepções de alternativas à cidade liberal. Dentro das propostas utópicas, está a da Cidade-Jardim, apresentada por Ebenezer Howard, no final do século XIX.

O conceito das cidades-jardins de Howard que publicou em 1902, recomendava a integração da indústria e comércio com habitações, jardins e fazendas. O desenho da cidade, partindo de círculos concêntricos, tinha o objetivo de

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garantir o contato dos habitantes com a natureza. O campo seria o elemento separador das diversas cidades-jardins, cada qual com um número limite de habitantes estabelecido. O modelo recomendava a descentralização com controle da ocupação física das cidades e a aproximação entre cidade e áreas verdes por meio da integração entre as vantagens da cidade com as belezas e benefícios do campo (CALABI, 2012; CHOAY, 2005; SPIRN, 1995).

A proposta de Howard (2013) e a imagem de integração entre natureza e cidade influenciaram outros planos para as cidades e, ainda hoje, as alternativas de vida urbana em contato com os espaços verdes são muito valorizadas.

O biólogo escocês Patrick Geddes incorporou uma visão mais real e contextualizada ao estudo dos espaços urbanos quando introduziu análises geomorfológicas, demográficas, socioeconômicas e históricas para o estudo do território. Para Geddes, as “formas da natureza são expressão de um fenômeno vitalista unitário” (CALABI, 2012). Geddes, ao contrário de Howard, não preconizava que a cidade devesse se limitar a um tamanho ideal ou a um determinado número máximo de habitantes: ele a entendia como uma continuidade do campo e como um organismo em constante evolução. Abordou assim o planejamento em escala regional, não se limitando à escala da cidade, defendendo também a existência de uma confederação das cidades mundiais a fim de promover a paz e a cooperação (SARMENTO, 2004).

A preocupação com questões ambientais tornou-se frequente e mais presente à medida que outras demandas passaram a ser incluídas na pauta de discussões. O arquiteto paisagista Frederick Law Olmsted, por exemplo, por meio de projetos de parques e bulevares, incorporou às suas propostas aspectos ambientais. Ele considerava que o contato com a natureza trazia contribuições para a saúde física e mental da sociedade. Considerado visionário no século XIX, seus projetos incorporavam elementos naturais locais e tinham como objetivo oferecer qualidade de vida aos usuários (AKINAGA, 2014). O projeto do Emerald Park (Figura 1), localizado em Boston (no estado de Massachusetts, Estados Unidos), desenvolvido por Olmsted entre 1878 e 1895, é um importante exemplo de intervenção que, ao ser concebido, incluiu a consideração de questões sanitárias e a integração de parques existentes. Seu projeto original, que não foi totalmente executado, abarcava uma área de oito milhões de metros quadrados (BONZI, 2014).

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Executado apenas em parte, o famoso Emerald Necklace é um dos projetos de paisagem mais importantes da história. O “colar de esmeraldas” tem 10 km de extensão e é formado por parques interligados por parkways e cursos d’água, em traçado que envolve boa parte dos setores norte e oeste da cidade de Boston. [...] O Emerald Necklace também se conecta a parques existentes antes de sua criação: o histórico Boston Common, o parque mais antigo dos Estados Unidos, e o Arnold Arboretum (BONZI, 2014).

Figura 1 - Plano original do Emerald Necklace (1894), proposto por Olmsted

Fonte: Bonzi (2014).

Ndubisi1 (1997) apud Monteiro (2012) relata a abordagem das questões

ambientais como uma ampliação do enfoque higienista, cuja preocupação era mais restrita e as soluções propostas eram de cunho imediatista. A abordagem “ambiental” pretende incluir de forma holística os vários temas associados ao meio ambiente, abarcando, dessa forma, a preocupação com aspectos culturais e com os impactos futuros das ações e intervenções atuais, não se restringindo à solução dos problemas presentes.

Paralelamente às iniciativas de embelezamento e higienistas, que tanto caracterizaram os primeiros esforços no sentido de reequilibrar as naturezas artificial e natural das cidades, desde o século XVII houve ações pioneiras a buscar esse equilíbrio através de métodos de planejamento da paisagem (MONTEIRO, 2012).

1 NDUBISI, Forster. Landscape ecological planning. In: THOMPSON, G.; STEINER, F. (Ed.). Ecological design and planning. New York: John Wiley & Sons, 1997. Cap.1. p. 9-44.

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Jane Jacobs (2003), ao analisar a vitalidade urbana, aborda, sob diversos aspectos, as áreas verdes da cidade. Em seu livro, publicado originalmente em 1961, a autora discorre sobre a importância da diversidade e da saudável multiplicidade de usos para garantia da vitalidade dos espaços urbanos, entre eles, os parques e áreas livres e verdes da cidade. Para ela, parques impopulares oferecem tanta insegurança quanto ruas desertas.

Os parques impopulares preocupam não só pelo desperdício e pelas oportunidades perdidas que implicam, mas também pelos efeitos negativos constantes. Eles sofrem dos mesmos problemas das ruas sem olhos, e seus riscos espalham-se pela vizinhança, de modo que as ruas que os margeiam ganham fama de perigosas e são evitadas (JACOBS, 2003, p. 103).

Jacobs (2003) discorre sobre as características de parques que contribuem para que esses espaços sejam apropriados e utilizados de forma diversificada e destaca quatro elementos de projeto: “complexidade”, entendida como múltiplos possíveis motivos para que um parque seja frequentado em diversos horários; “centralidade”, local de destaque; “insolação” e “delimitação espacial” (p. 112-116). A respeito da localização, Jacobs (2003, p. 112-113) afirma que “os parques mais problemáticos localizam-se exatamente onde as pessoas não passam e provavelmente nunca vão passar”.

Quanto mais a cidade conseguir mesclar a diversidade de usos e usuários do dia a dia das ruas, mais a população conseguirá animar e sustentar com sucesso e naturalidade (e também economicamente) os parques bem-localizados, que assim poderão dar em troca à vizinhança prazer e alegria em vez de sensação de vazio (JACOBS, 2003, p. 121).

Contemporâneo de Jacobs, Kevin Lynch (2010) pesquisou a percepção social dos espaços urbanos e a imagem da cidade enquanto uma produção coletiva de seus usuários e observou que estes relataram alterar os percursos realizados dentro da cidade para passarem por áreas com paisagens mais agradáveis conferidas por áreas verdes. Lynch propôs como elementos de análise da imagem da cidade: caminhos, bairros, limites, pontos nodais e marcos visuais. Esses elementos e a metodologia de leitura da imagem da cidade desenvolvida pelo autor são ainda hoje frequentemente considerados nos estudos dos espaços urbanos.

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2.1.2 Termos, Conceitos e Principais Benefícios Associados às Áreas Verdes Urbanas

Áreas verdes urbanas são consideradas uma categoria dos espaços livres das cidades caracterizadas por apresentar predominantemente elementos vegetais em sua composição (BARGOS; MATIAS, 2011; BENINI; MARTIN, 2011; CAVALHEIRO et al., 1999; HIJIOKA et al., 2007; LIMA et al., 1994).

Em inúmeros estudos sobre áreas verdes, termos como espaços verdes, áreas verdes, verde urbano, cobertura vegetal, entre outros, são frequentemente adotados indistintamente como sinônimos. A falta de consenso quanto aos conceitos reflete-se nas diferentes formas adotadas para a mensuração das áreas verdes urbanas. Divergências conceituais e metodológicas dificultam, por sua vez, a comparação de dados e o acompanhamento da evolução dos índices e formas de inserção das áreas verdes nos espaços urbanos (MASCARÓ; MASCARÓ, 2010; OLIVEIRA; MASCARÓ, 2007)

As áreas verdes urbanas exercem, em razão do seu volume, distribuição, densidade e tamanho, inúmeros benefícios ao seu entorno, proporcionando a melhoria da qualidade de vida ao oferecerem áreas destinadas ao lazer, paisagismo e preservação ambiental (CISOTTO, 2009). Além de contribuírem para que os ambientes urbanos sejam mais saudáveis, os serviços ecossistêmicos prestados pelas infraestruturas verdes podem trazer benefícios tanto para a saúde física como para a saúde psicológica dos residentes (TZOULAS et al., 2007).

Dentre os benefícios ambientais relacionados à presença das áreas verdes nas cidades está amenização da sensação térmica, alteração da velocidade e direção dos ventos, atuação como barreiras acústicas, favorecimento e manutenção da diversidade de flora e fauna, proteção de encostas, contribuição para a manutenção do ciclo hidrológico e controle da poluição atmosférica, entre outros (MASCARÓ; MASCARÓ, 2010; OLIVEIRA; MASCARÓ, 2007) .

Os espaços arborizados têm a capacidade de amenizar a sensação térmica e os efeitos das ilhas de calor dos centros urbanos. A contribuição das áreas verdes para o conforto térmico ocorre a partir da amenização do clima e está diretamente relacionada ao sombreamento que é produzido por essas áreas.

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As árvores, isoladas ou em grupos, atenuam grande parte da radiação incidente, impedindo que sua totalidade atinja o solo ou as construções. A vegetação propicia resfriamento passivo em uma edificação por meio do sombreamento e da evapotranspiração. O sombreamento atenua a radiação solar incidente e, consequentemente, o aquecimento das superfícies, reduzindo a temperatura superficial destas, portanto, a emissão de radiação de onda longa para o meio. Através da evapotranspiração, ocorre o resfriamento das folhas e do ar adjacente, devido à retirada de calor latente (LABAKI et al., 2011).

Labaki et al. (2011) destacaram que a quantidade e o arranjo das espécies arbóreas, bem como suas características morfológicas, interferem diretamente nos níveis de atenuação da radiação solar.

Os agrupamentos arbóreos exercem influência numa escala maior do que uma única árvore. Ou seja, a disposição de elementos arbóreos pode aumentar a capacidade de redução da temperatura do ar e a atenuação da radiação incidente, bem como intensificar as sensações de conforto térmico ao usuário num determinado raio (LABAKI et al., 2011).

Pesquisas apontam ainda que as características físicas das diferentes espécies arbóreas influenciam o desempenho da atenuação da radiação solar incidente no solo e que a disposição das árvores influencia no desempenho e raio de ação para modificação do microclima e conforto térmico (ABREU; LABAKI, 2010; ABREU-HARBICH; LABAKI; MATZARAKIS, 2015; MASCARÓ, 2008).

A pesquisa de Dobbert (2014) comprovou a interferência das árvores no microclima urbano pelo estudo de caso de quatro bairros de Campinas, em que constatou que a presença das árvores contribui para a redução da temperatura do ar e para o aumento da umidade relativa. Dacanal et al. (2008, p. 10), ao estudarem comparativamente três diferentes pontos localizados em fundo de vale em Campinas, demonstraram que “as edificações funcionam como barreiras na condução do ar canalizado” e identificaram maior permeabilidade do ar em regiões menos adensadas e mais vegetadas. Dacanal (2011, p. 37), com base em estudos de pesquisadores, observa que “há indícios de que o efeito de parques urbanos sobre o entorno tenha uma extensão aproximadamente igual à sua largura. Assim, em áreas verdes de pequena dimensão, o efeito oásis é localizado”.

Quando conformadas como um sistema, ou seja, quando interligadas entre si, as áreas verdes compõem corredores ecológicos que permitem o fluxo da fauna e as trocas biológicas necessárias à sua manutenção. Em especial os remanescentes florestais, mas também as áreas urbanas reflorestadas, cumprem importante papel

(23)

quanto à manutenção de espécies, contribuindo para evitar o processo de extinção de vegetação (DRAMSTAD; OLSON; FORMAN, 1996; MASCARÓ; MASCARÓ, 2010).

Os benefícios sociais oferecidos pelas áreas verdes urbanas incluem a possibilidade do lazer ao ar livre, contribuições à saúde física e psicológica, contato social, oportunidades educacionais, esportivas e científicas para públicos de todas as idades (LOBODA; DE ANGELIS, 2005; OLIVEIRA; MASCARÓ, 2007; WOLCH; BYRNE; NEWELL, 2014; ZHOU; PARVES RANA, 2012).

(...) epidemiological studies have provided evidence of a positive relationship between longevity and access to green space (Takano et al., 2002 and Tanaka et al., 1996), and between green space and self-reported health (de Vries et al., 2003) (TZOULAS et al., 2007).

As áreas verdes, sobretudo praças, parques e jardins urbanos, permitem sua utilização como espaços de lazer e recreação. O lazer ao ar livre contribui para o desenvolvimento físico e emocional, estimula o convívio entre classes sociais diferentes, oferece oportunidades para práticas esportivas e assim contrapõe a segregação social da vida restrita às áreas de lazer de clubes e condomínios e aos hábitos sedentários (MAZZEI; COLESANTI; DOS SANTOS, 2007; ZHOU; PARVES RANA, 2012). Quando localizadas a até 300 metros de distancia das residências as áreas são mais facilmente acessadas e os benefícios sociais ocorrem com mais intensidade (STIGSDOTTER et al., 2010).

Mascaró (2008, p. 153), destaca que o mobiliário urbano “contribui para a estética e para funcionalidade dos espaços, da mesma forma que promove a segurança e conforto dos usuários”. Nos parques e praças, mobiliário, equipamentos voltados ao lazer e à prática de esportes contribui para aumentar a diversidade e possíveis benefícios sociais desses espaços.

Além dos benefícios ambientais e sociais, as áreas verdes urbanas são elementos da paisagem em conjunto com outras formas de espaços livres e os espaços construídos. A esse respeito, Lamas (1993) destaca:

Do canteiro à árvore, ao jardim de bairro ou grande parque urbano, as estruturas verdes constituem também elementos identificáveis na estrutura urbana; caracterizam a imagem da cidade; têm a individualidade própria; desempenham funções precisas; são elementos de composição e do desenho urbano; servem para organizar, definir e conter espaços (LAMAS, 1993, p. 106)..

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A possibilidade de integrar áreas urbanas descontínuas é uma importante função que pode ser exercida pelas áreas verdes, especialmente quando conformadas como um sistema de áreas verdes. A esse respeito, Moreno (2006, p. 2) destaca: “Além de colaborar com o conforto térmico, a economia urbana e a qualidade de vida do citadino, as áreas verdes podem promover uma continuidade entre as áreas periféricas e o tecido urbano”.

Loboda e De Angelis apontam, porém, que poucas cidades possuem áreas verdes distribuídas de forma organizada e que, apesar de todas as cidades possuírem áreas verdes públicas, tratam-se de “espaços dispersos pela malha urbana”(LOBODA; DE ANGELIS, 2009, p. 137). A população deveria poder desfrutar de espaços públicos abertos, entre os quais, áreas verdes, parques e praças, de forma equitativa e com mais ou menos a mesma facilidade de acesso – o que dependeria da quantidade adequada aliada à “ordenação de um sistema”. (PUPPI2, 1981 apud

OLIVEIRA; MASCARÓ, 2007).

2.1.3 Quantificação e Qualificação das Áreas Verdes Urbanas

A disponibilidade de áreas verdes acessíveis e atraentes é considerada uma parte integrante da qualidade de vida urbana (Van HERZELE; WIEDEMANN, 2002). Os autores destacam que, segundo a maioria dos estudos a respeito, parques de bairro podem ser considerados acessíveis quando são situados a cinco minutos em uma caminhada, em outras palavras, quando se localizam a até 400 m de distância das residências, e que as pessoas buscam nas áreas verdes urbanas diversidade de equipamentos e estruturas naturais e sociais.

De acordo com Morero, Santos e Fidalgo (2007), no País ainda há muita parcimônia em dispor espaços para o lazer, sobretudo em áreas urbanas mais pobres, o que pode degradar a qualidade de vida dos moradores.

Há mais de vinte anos atrás Gold (1980) já afirmava que a tarefa do planejamento de áreas verdes é inventariar, analisar e projetar informações que relacionem pessoas (comportamentos), tempo (lazer) e atividades (recreação) num espaço (recursos do meio) e numa área geográfica (unidade de planejamento), usando critérios ou dimensões (indicadores) que são sensíveis a mudanças de características físicas, necessidades sociais e

2 PUPPI, I. C. Estruturação sanitária das cidades. In: Estruturação sanitária das cidades. [s.l.]

(25)

prioridades políticas de uma comunidade (MORERO; SANTOS; FIDALGO, 2007, p. 19)

Bargos e Matias (2011) destacam a importância do conhecimento tanto da localização como da classificação das áreas verdes urbanas para direcionar a tomada de decisão dos responsáveis pelo poder público no que diz respeito a ações de controle, manutenção e ampliação dessas áreas. Os pesquisadores ressalvam que as diferentes terminologias e metodologias adotadas para o cálculo dos índices de áreas verdes pode resultar em má utilização das informações:

A falta de clareza e consenso para a definição das terminologias e as diferentes metodologias utilizadas para obtenção do IAV pode induzir a falsas interpretações e a um uso político incorreto dessas áreas no ambiente urbano. (BARGOS, 2010, p. 38)

Existem diversas formas de mensurar as áreas verdes urbanas; as diferenças metodológicas podem ser justificadas com base nas diferentes abordagens e objetivos quanto aos estudos sobre as áreas verdes. Entretanto, conforme colocado por Morero (1996),

De maneira geral, independentemente da abordagem considerada, a avaliação das áreas verdes fundamenta-se primeiro no cálculo da superfície disponível em relação ao número de habitantes e são qualificadas por seus equipamentos e infraestrutura de serviços. (MORERO, 1996, p. 2)

A Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU) propôs o índice mínimo de 15 m² por habitante para áreas verdes públicas destinadas à recreação (HARDER; RIBEIRO; TAVARES, 2006). Sobre o difundido índice – supostamente recomendado pela ONU, OMS ou FAO3 – de 12 m² de área verde por habitante,

Cavalheiro e Del Picchia (1992) realizaram consulta aos órgãos e não obtiveram a confirmação de tal informação (KONRAD, 2014).

Os pesquisadores Izard e Guyot4 (1983) apud Castro (1999) recomendam

que 30% da área urbanizada de uma cidade seja representada por vegetação para cumprimento adequado da função microclimática e apontam que as espécies arbóreas retêm 10 vezes mais partículas em suspensão do ar em comparação a áreas gramadas e 37 vezes mais em comparação com superfícies asfaltadas. A

3 ONU: Organização das Nações Unidas; OMS: Organização Mundial da Saúde; FAO: Organização

das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

4 IZARD, Jean-Louis; GUYOT, Alain. Arquitectura bioclimatica. 2 ed. Ciudad de México: Gustavo Gili,

(26)

porcentagem de 30% foi também recomendada por Oke5 (1973) e Sattler6 (1990) apud

Castro, (1999).

O Quadro 1 a seguir apresenta a sugestão de índices urbanísticos para espaços livres (JANTZEN7, 1973 apud CAVALHEIRO; DEL PICCHIA, 1992).

Quadro 1 - Sugestão de índices urbanísticos para espaços livres

Categorias M²/hab. Área mínima Distância

residência Propriedade Vizinhança Até 6 anos 06-10 anos 10-17 anos 0,75 0,75 0,75 150 m² 450 m² 5000 m² Até 100 m Até 500 m 1.000 m Pub. ou Part. Pub. ou Part. Público Parque de Bairro 6,0 10 ha 1.000 m ou 10 min. Público

Parque Distrital ou Setorial 6,0/7,0 100ha 1.200 m ou 30

min/veículo Público

Parque Regional s/ref. 200ha Área c/

água

Qualquer parte

da cidade Público

Cemitério 4,5 s/ref. s/ref. Público ou

Particular

Área para Esporte 5,5 3-5 ha p/ cada

1500 hab. Perto de escolas Público ou Particular Balneário 1,0 1/10 2 ha para cada 0,2 hab. Perto de escolas Público ou Particular

Horta Comunitária 12,0 300m² s/ref. Público ou

Particular

Verde viário s/ref. s/ref. Junto ao

sistema viário Público Fonte: Jantzen (1973) apud Cavalheiro e Del Picchia (1992).

A respeito do quadro 1, Cavalheiro e Del Picchia (1992) ressalvam que as referências quantitativas sugeridas não devem ser adotadas dissociadas do planejamento dinâmico, mas sim em consonância com as necessidades e aspirações sociais. Desse modo, os autores entendem os índices do quadro como “apoio para reflexão sobre a qualidade e disponibilidade de diversas categorias de espaços livres, bem como termos de comparação entre cidades diferentes” (CAVALHEIRO; DEL PICCHIA, 1992, p.4).

5 OKE, T. R. City size and the urban heat island. Atmospheric Environment (1967), v. 7, n. 8, 1973.

p. 769-847. Department of Geography, University of British Columbia, Vancouver, B.C., Canada.

6 SATTLER, M. A. Medições de campo da transmissão da radiação solar através das árvores. In: I

ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO. Anais ... Gramado-RS. 1990. p. 93-96.

(27)

Atualmente, no Brasil, alguns programas propõem classificar os municípios a partir de determinados indicadores, entre os quais alguns se referem direta ou indiretamente às áreas verdes urbanas.

No Estado de São Paulo, o Protocolo Município VerdeAzul, lançado em 2007, recomendava o índice de áreas verdes por habitante. Em 2008, a recomendação era de 12 m²/habitante, passando a 25m²/habitante em 2009 e 100m²/habitante em 2010. A partir de 2011, não mais se estabeleceu um índice e o programa passou a considerar a existência de plano de áreas verdes para as cidades (SÃO PAULO, 2015).

O Programa Cidades Sustentáveis, criado em 2010 por uma parceria entre o Instituto Ethos, a Rede Nossa São Paulo e a Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, considera como um dos indicadores o índice de área verde por habitante. Este indicador é obtido pelo número total, em m², de áreas verdes / população total, considerando o total de metros quadrados de área verde por habitante (medida anual) (PROGRAMA CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2016). O Programa não esclarece, entretanto, se há uma uniformização no método adotado para a quantificação destas áreas por parte dos municípios considerados. A participação no programa é aberta a todas as cidades do Brasil, contudo, são poucos os municípios que possuem o índice de área verde por habitante disponibilizado pelo Programa.

Quanto à forma de mensuração das áreas verdes urbanas e dos critérios adotados para cálculos dos índices de áreas verdes por habitante, um problema frequentemente abordado diz respeito às diferentes metodologias adotadas, o que dificulta a comparação dos índices de cidades diferentes, ou até mesmo da evolução do índice ao longo dos anos (BARGOS; MATIAS, 2011; BENINI; MARTIN, 2011; CAVALHEIRO et al., 1999). Alguns pesquisadores comentam que diferentes critérios de mapeamento de áreas verdes são ainda adotados com o objetivo de “aumentar” o índice de áreas verdes. Conforme Cavalheiro e Nucci8 (1998) apud Harder, Ribeiro e

Tavares (2006, p. 278) “muitas cidades procuram aumentar seus índices colocando todo espaço não construído como área verde e considerando a projeção das copas das árvores sobre as calçadas”.

8 CAVALHEIRO, F.; NUCCI, J.C. Espaços livres e qualidade de vida urbana. Paisagem Ambiente Ensaios, n.11, p. 279-288, 1998.

(28)

Cabe ressalvar ainda que as diferentes densidades populacionais podem influenciar a variação dos índices de áreas verdes por pessoa. Um alto índice de áreas verdes pode não significar abundância de áreas verdes, quando se tratar de locais com baixas densidades populacionais (ROSSET, 2005).

Em geral, estes índices (índices de áreas verdes por habitante e porcentagens de área verde) expressam apenas uma informação quantitativa, e não necessariamente o estado em que essas áreas verdes se encontram, ou como estão sendo utilizadas e nem a distribuição das mesmas na área urbana. (ROSSET, 2005, p. 7)

Além dos aspectos quantitativos, autores destacam aspectos qualitativos e morfológicos como condicionantes para o bom desempenho dos benefícios associados à presença das áreas verdes nas cidades. Tzoulas et al. (2007), por meio da contribuição de outros autores (Li et al.9, 2005 e Schrijnen10, 2000), destacam que

os elementos verdes devem estar presentes no ambiente urbano em quantidade suficiente e interligados em todas as escalas, a fim de criar uma infraestrutura verde contínua. Ainda a esse respeito, Hildebrand et al. (2001) destaca que

(...) índices de área verde por habitante, embora sejam indicadores bastante utilizados na determinação da qualidade ambiental das áreas urbanas, por si só não são suficientes para garantir este objetivo. Em outras palavras, além da quantidade devem ser considerados outros fatores, não menos importantes, como a qualidade e distribuição das áreas verdes (HILDEBRAND, 2001, p. 77).

Do ponto de vista ecológico, áreas maiores permitem maior diversidade de espécies vegetais e animais. Entretanto não apenas o tamanho das áreas, mas também o formato e a relação com o entorno interferem nas possibilidades de conservação dos ecossistemas (DRAMSTAD; OLSON; FORMAN, 1996). A paisagem pode estar estruturada por meio das manchas (grandes ou pequenas, arredondadas ou alongadas, dispersas ou agrupadas etc.), matrizes (simples ou subdivididas, diversificada ou próximo a homogênea, contínua ou perfurada etc.) e corredores (estreitos ou largos, retos ou curvos, contínuos ou desconexos etc.) (DRAMSTAD; OLSON; FORMAN, 1996).

9 LI, F. et al. Comprehensive concept planning of urban greening based on ecological principles: a case

study in Beijing, China. Landscape Urban Plann, v. 72, p. 325-356, 2005.

10 SCHRIJNEN, P. M. Infrastructure networks and red-green patterns in city regions. Landscape Urban Plann, v. 48, p. 191-204, 2000.

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Benedict e McMahon (2006) definem que a infraestrutura verde é como uma rede interligada de zonas naturais e outros espaços abertos, que conecta paisagens e ecossistemas por meio de um sistema de hubs, links e sites. Hubs são as âncoras, áreas com diferentes formas e dimensões, que podem ser parques, estaduais ou regionais, reservas ecológicas, que abrigam vegetação nativa e grupos de animais. Links são as ligações ou conexões, áreas capazes de interligar o sistema e garantir a manutenção dos processos ecológicos. Parques lineares, corredores verdes são exemplos de conexões que podem associar usos recreativos. Sites são locais menores que as âncoras, mas que também associam funções ecológicas e de recreação para as comunidades do entorno. Akinaga (2014, p. 48) destaca que “o conceito de infraestrutura verde [...] tem origem em duas iniciativas fundamentais: proteger e conectar áreas verdes para o benefício das pessoas [...] e proteger e conectar áreas naturais para o benefício da biodiversidade”.

Magnoli (2006) chama a atenção para a importância da distribuição dos parques urbanos como uma parte do sistema de espaços livres da cidade. A Figura 2 ilustra modelos esquemáticos de distribuição dos espaços verdes. Magnoli (2006) considera a questão da distribuição dos espaços livres da cidade prioritária em relação à questão da quantidade de espaços livres: “A distribuição de espaços livres para serem apropriados pelo homem (sistema de parques) fica vinculada às maneiras de acessos disponíveis em cada uma das escalas de urbanização, e à frequência dos usuários” (MAGNOLI, 2006, p. 203).

Figura 2 - Modelos esquemáticos de distribuição dos espaços livres

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Os esquemas da Figura 2 representam diferentes configurações possíveis para espaços livres e espaços construídos, exemplificando algumas implicações da distribuição e das relações espaciais entre esses espaços. Magnoli (2006) destaca que em cada configuração foram consideradas as mesmas quantidades de espaços livres ou construídos.

Nesse contexto, o Central Park, na cidade de Nova York, talvez o mais famoso parque público urbano, é um caso paradigmático para a discussão acerca da distribuição das áreas verdes. Projetado por Olmsted em 1858, surpreende por sua implantação ao concentrar o verde no tecido urbano de Manhattan.

O Central Park não oferece uma distribuição uniforme do verde pelo tecido urbano de Manhattan; entretanto oferece a implantação e escala corretas somadas a múltiplos possíveis usos, ou seja, são parâmetros além de questões quantitativas que permitem a compreensão do conjunto urbano e de sua relação com a área verde (TAVORA; MONTEIRO, 2015).

Monteiro destaca que a implantação “central” e “proporções corretas” fizeram com que o parque pudesse ser acessado de “forma quase igualitária de todos os cantos da ilha que viria a ser o coração da futura metrópole” (MONTEIRO, 2012).

Por outro lado, em Vitoria-Gasteiz, no norte da Espanha, implantou-se, a partir do início dos anos 1990, um cinturão verde, como objetivo de recuperar social e ambientalmente a região periférica da cidade, oferecer possibilidades de recreação e garantir o acesso democrático às áreas verdes (TAVORA; MONTEIRO, 2015).

Na tentativa de ampliação da sua cobertura vegetal na área urbana, um cinturão verde circunscreveu o centro da cidade, assegurando que todos os habitantes num raio até 300 metros das suas casas tivessem acesso imediato a áreas verdes. A oportunidade de desenvolvimento e contato com hortas comunitárias configura outra promoção da natureza para a cidade, o que, simultaneamente potencializou biodiversidade e os ecossistemas existentes (SILVA, 2014).

Algumas cidades se destacaram quanto às suas iniciativas de planejamento urbano no que diz respeito às suas áreas verdes. Leite (2012) aponta As cidades de Barcelona, Vancouver, Nova York, Bogotá e Curitiba como exemplos de metrópoles verdes que incorporaram critérios de sustentabilidade nas esferas pública e privada (LEITE, 2012). No Brasil, o município de Curitiba, capital do Paraná, é considerado referência em planejamento urbano e gestão de áreas verdes urbanas. No ano de 2010, Curitiba possuía 1.751.907 habitantes e era a oitava cidade mais

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populosa do Brasil (IBGE 2010). O município de Curitiba possui uma área territorial de 435,036 km² e densidade demográfica de 4.027,04 hab/km².

No final do ano de 2014, Curitiba atingiu pontuação acima da média no ranking verde do Siemens Index11 e foi a única cidade da América Latina a ser incluída no

ranking das cidades eco-friendly, ou ecologicamente corretas. A cidade foi premiada com o título “Cidade Verde” pelo Global Green City Award12, durante a Rio + 20, sendo

a única cidade da América do Sul a receber este título.

A respeito de Curitiba, Castelnou (2009) destaca que “foi a partir da década de 1970 que se introduziu na cidade o conceito de aproveitamento de áreas verdes como espaços de lazer e recreação, além de indicadores de qualidade de vida urbana”. O mesmo autor chama a atenção para o processo de espetacularização da natureza e apropriação dos parques enquanto instrumentos de marketing para divulgação da cidade. Ribeiro e Silveira (2006) apontam para a menor preocupação com as áreas periféricas em comparação com as áreas mais centrais e com mais apelo turístico.

A cidade possui 101.607.497,69 m² de áreas verdes, o que equivale a 23,51% da área da cidade e representa um índice de 58m²/habitante (IPPUC, 2015).

11 The Green City Index. Disponível em:

<https://www.siemens.com/entry/cc/features/greencityindex_international/all/en/pdf/gci_report_sum mary.pdf>

12 PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Curitiba recebe prêmio internacional da Rio+20.

Disponível em: <http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/curitiba-recebe-premio-internacional-da-rio20/27108>. Acesso em: 13 nov 2015

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Figura 3 - Áreas verdes de Curitiba 2007

Fonte: Elaborado pelo IPPUC, em abril de 2012, com base em dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Curitiba (2007).

O município de Curitiba possui 38 bosques ou parques implantados, que totalizam uma área de 20.028.627 m² segundo dados de 2013.(IPPUC, 2016)

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Barbosa, Rossi e Drach (2014) destacam que a “morfologia urbana é um dos fatores determinantes na busca pela sustentabilidade urbana” e que a qualidade dos espaços, a mobilidade e o conforto bioclimático local sofrem influências das definições e alterações morfológicas:

A morfologia urbana também pode contribuir para a integração entre o natural e o ambiente construído, melhorando o contexto urbano através da introdução de vegetação na área urbana e facilitando a criação de corredores naturais. (BARBOSA; ROSSI; DRACH, 2014, p. 279)

Para realizar análise e diagnóstico dos parques urbanos da cidade de Maringá, localizada no Paraná, Bovo e Amorim (2011) adotaram a metodologia proposta por Bovo (2009), a fim de avaliar os aspectos qualitativos das estruturas e dos equipamentos de cada parque. As estruturas foram representadas por símbolos e foram avaliadas quanto ao estado de conservação em bom, regular e ruim. A metodologia proposta por Bovo (2009) será considerada nesta pesquisa para a análise dos equipamentos dos parques de Campinas, conforme detalhado em Material e Métodos.

(34)

2.2 OMUNICÍPIODECAMPINAS

2.2.1 Aspectos Históricos

Campinas teve seu desenvolvimento historicamente impulsionado pelas culturas da cana-de-açúcar e do café, beneficiadas pelas condições favoráveis de clima, relevo e fertilidade do solo (BADARÓ, 1996). O entroncamento ferroviário das linhas da Companhia Paulista, Companhia Mogiana, Estrada de Ferro Sorocabana, Ramal Férreo Campineiro e Estrada de Ferro Funilense conferiu importância ao Município, que se destacou como centro comercial e de serviços (CISOTTO, 2009; GONTIJO; QUEIROGA, 2005).

Campinas se constituiu em um dos mais importantes nós ferroviários já no último quartel do século XIX, sediando duas das mais ricas estradas de ferro do país (Companhia Paulista de Estradas de Ferro, 1872, e Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, 1875), além de outras de menor porte. A riqueza do café e a malha ferroviária campineira possibilitaram à cidade tornar-se um grande centro comercial e de serviços para extensos territórios interioranos, inclusive fora da província de São Paulo (GONTIJO; QUEIROGA, 2005, p.77).

No final do século XIX, o Município foi acometido por surtos de febre amarela; em resposta, a cidade recebeu apoio para implantação de melhorias sanitárias como a Comissão Sanitária do Estado, chefiada pelo médico Emílio Ribas (1862-1925), e teve a colaboração do engenheiro sanitarista Saturnino de Brito (1864-1929), engenheiro-chefe na Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo. Nessa época, surgem parques urbanos com funções paisagísticas e sanitaristas, muitos deles a partir de antigas áreas privadas. Antigos largos são transformados em praças, e bosques passam a compor espaços de lazer (CISOTTO, 2009).

Gontijo e Queiroga (2005) destacam que, com o Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas, realizado na cidade entre os anos de 1934 e 1962, o Município passou a priorizar o transporte de veículos. O Plano foi coordenado por Francisco Prestes Maia, engenheiro e ex-prefeito da cidade de São Paulo, que definiu eixos de expansão urbana por meio da criação e do alargamento de avenidas.

Pautados principalmente na questão da circulação, os planos e teorias urbanísticas do início do século XX, utilizaram os espaços públicos e áreas verdes como elementos estruturadores do traçado urbano, mas, sobretudo, estas áreas foram tratadas como um equipamento necessário à nova cidade em formação e ao viver urbano, imprimindo profundas mudanças na estrutura

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e organização das cidades (...). Com base nos modelos dos movimentos norte-americanos Civic Art e City Beautiful, dois novos conceitos foram amplamente difundidos naquele período e se fizeram presentes nos Planos de Prestes Maia: o de Parque, com dimensões e atividades diferenciadas dos antigos Jardins Públicos, e o de Sistema de Áreas Verdes, o qual abrangia todas as áreas urbanas arborizadas, bem como todas as áreas públicas destinadas ao deleite e recreação, visualizando toda a cidade como um grande parque. (LIMA, 2007, p.2)

Landim (2004) destaca a homogeneidade dos padrões de urbanização de cidades do interior de São Paulo. A autora identifica que muitas dessas cidades passaram por ciclos econômicos e de desenvolvimento semelhantes e, consequentemente, tiveram processos de desenvolvimento urbano também muito parecidos – processos estes que foram marcados pela expansão do ciclo do café, pela implantação da rede ferroviária, seguida da valorização do sistema rodoviário. Landim (2004) destaca que a presença da ferrovia em diversas cidades paulistas impôs dentro do território urbano uma relação de frente e fundo a partir de suas estações principais; assim, áreas localizadas à frente das principais estações eram regiões privilegiadas em detrimento de áreas localizadas ao fundo (LANDIM, 2004).

Para o caso de Campinas, Monteiro (2014) destaca o eixo da antiga Ferrovia Paulista – atualmente ocupado pela Rodovia Anhanguera – como vetor territorial da separação entre porções de maior e menor valorização, ocupadas respectivamente por população de alta e baixa renda e maior e menor influência política. A região sudoeste da cidade foi historicamente ocupada por matadouros, galpões, depósitos e habitação de baixa renda e, em contraponto, a região nordeste foi ocupada pelo centro metropolitano, pelos principais parques e bairros para média e alta renda.

Perez Filho e Camargo (2009) destacam a influência do meio físico sobre o processo de organização espacial. A região norte de Campinas, solos de textura predominantemente argilosa, proporcionou historicamente boas condições para o cultivo agrícola, o que, por sua vez, aumentou o valor da terra e onde atualmente condomínios de alto padrão têm presença marcante. Já as regiões sul e sudeste do Município, com solo infértil para a produção agrícola, foram historicamente desvalorizadas e apresenta-se hoje como região onde predominam residências populares voltadas às classes de baixa renda.

O padrão de ocupação do território da cidade, marcado pela desigualdade socioespacial, ainda se mantém, como pode ser observado na representação de

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Monteiro (2014), na Figura 4. Dessa forma, a região localizada a noroeste do atual eixo da Rodovia Anhanguera continua sendo uma região mais bem servida por infraestrutura urbana e é a região ocupada por população com renda mais alta; também na porção norte e nordeste vêm sendo implantados condomínios fechados. Na região sudoeste, continua o Distrito Industrial, aterro sanitário e bairros voltados, em sua maioria, para a média e baixa renda. Nos últimos anos, os principais empreendimentos realizados pelo Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, também ocorrem sobretudo na porção menos valorizada do território.

Figura 4 - Conformação do Município conforme a estratificação social. Gráfico

inspirado no clássico de Hoyt, da Escola de Chicago

Fonte: Monteiro, 2014.

2.2.2 Aspectos Físico-Territoriais do Município de Campinas

Campinas é o município sede da Região Metropolitana de Campinas (RMC), formalmente instituída pela Lei Complementar Estadual nº 870, de 19/06/2000

(37)

(SÃO PAULO, 2000). A cidade está localizada entre a latitude 22°53'20"S e longitude 47°04'40"W, a 680 m de altitude; possui área de 796,4 km², sendo 388,9km² de perímetro urbano e 407,5 km² de área rural (PMC, 2015c). O clima caracteriza-se por verão quente e chuvoso e inverno seco e ameno, com precipitação média de 1.424,5 milímetros por ano (CEPAGRI, 2016). O Município está a 100 km de distância da capital do Estado de São Paulo. Tem como principais vias de acesso as rodovias Bandeirantes, Anhanguera, D. Pedro I e Santos Dumont (PMC, 2015)

O Município possui atualmente um perímetro urbano com área de 388,9 km², resultado de uma sequência de leis que foram sendo criadas para as consecutivas ampliações da delimitação da sua área urbana, que pode ser observado na Figura 5 (na Figura 6, apresenta-se a ampliação da legenda, para melhor compreensão). O documento intitulado Caracterização Urbana (PMC, 2006), disponível no Termos de Referência do Plano Diretor de 2006, aponta que, por diversas vezes, o perímetro foi alterado com o objetivo de “ajustar legalmente dentro do perímetro as ampliações e aprovações de loteamentos efetuadas anteriormente” ou, ainda, para atender a “pedidos de parcelamento aprovados, bem como aqueles que se encontravam em tramitação nos órgãos públicos da administração municipal”.

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Figura 5 - Evolução do perímetro urbano do Município de Campinas

Fonte: PMC – Plano Diretor (2006).

Figura 6 - Legenda ampliada da evolução do perímetro urbano do Município de

Campinas

Fonte: PMC – Plano Diretor (2006).

O gráfico na Figura 7 permite visualizar o aumento de áreas e a área total do perímetro urbano de Campinas ao longo dos anos.

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Figura 7 - Evolução do perímetro urbano de Campinas

Fonte: Elaborado pela autora.

Como observado por Freitas (2008), “só no ano de 1979, ano de publicação da Lei 6.766, foram acrescidos mais de 227 milhões de metros quadrados à área urbana” (FREITAS, 2008, p. 101). A referida lei federal impôs uma restrição em seu artigo 3º ao definir que “somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal” (BRASIL, 1979). Freitas (2008, p. 103) destaca também que, com base na Instrução Normativa 17-b, de 1980, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA, “proprietários de terra têm conseguido empreender loteamentos rurais para fins urbanos, fechados na forma de ‘condomínio’”. Destaca também que essas implantações causam grandes impactos ambientais:

Por não obedecerem às regras de parcelamento urbano, possuem áreas nunca inferiores a um milhão de metros quadrados, mas não elaboram estudos de impacto, mesmo que este seja grande devido à proximidade de áreas naturais, desocupadas e de uso rural. A impermeabilização de grandes áreas no meio rural deverá acarretar alterações nas dinâmicas naturais da região, trazendo consequências para as áreas urbanas situadas nas mesmas sub-bacias (FREITAS, 2008, p. 104).

O Mapa de Ocupação do Território de Campinas (Figura 8) – elaborado pela PMC, compõe o caderno de subsídios do Plano Diretor de 2006 – divide o território em áreas que diferem pelo tipo de ocupação. Foram definidas quatro categorias: Área Urbana de Resgate, Área Urbana Ocupada Recentemente e/ou em

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 M il h õ e s Acréscimo de área (m²) Área total (m²)

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Processo de Ocupação, Área Urbana Não Ocupada e Área Rural. Esse mapa, definido pela Prefeitura como de Leitura Ambiental, oferece mais do que informações ambientais, pois apresenta consonância com as diretrizes do Estatuto da Cidade, ao diferenciar áreas com base no tipo de ocupação e destacar as áreas de expansão urbana, representadas pelas Áreas Urbanas Não Ocupadas. . A PMC optou, no Plano Diretor de 2006, por dar mais ênfase a macrozonas que levavam em conta aspectos urbano-morfológicos antes da definição dos limites rural-urbano e da salvaguarda de mananciais. O Plano definiu assim nove macrozonas, conforme Figura 9.

Figura 8 - Mapa de ocupação urbana do território de Campinas

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Figura 9 - Mapa das Macrozonas de Campinas

Fonte: PMC – Plano Diretor (2006).

Conforme legenda: MZ 1: Área de Proteção Ambiental; MZ 2: Área de Controle Ambiental; MZ 3: Área de Urbanização Controlada; MZ 4: Área de Urbanização Prioritária; MZ 5: Área Prioritária de Requalificação; MZ 6: Área de Vocação Agrícola: MZ 7: Área de Influência da Operação Aeroportuária: MZ 8: Área de Urbanização Específica: MZ 9: Área de Integração Noroeste.

Sobre a distribuição da população no território de Campinas, Freire (2014, p. 35) destaca que a RMC passa por um “período de dispersão e fragmentação da mancha urbana” e identifica o processo de conurbação pelo qual passam municípios da região, especialmente ao longo da Rodovia Anhanguera, a partir de Vinhedo, avançando para Valinhos, Campinas, Hortolândia, Sumaré, Nova Odessa, Americana e Santa Bárbara d’Oeste. O referido autor aponta para a importância da formação das regiões metropolitanas no que diz respeito à promoção do desenvolvimento econômico regional e social, ressaltando os desafios sociais, ambientais, políticos e administrativos e, em especial, que as áreas verdes recebam a merecida atenção

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