UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
ANDRÉ LUIS GAY
RELAÇÕES DOS SETORES DE PRODUÇÃO NOS MUNICÍPIOS GAÚCHOS NO
PERÍODO 1999-2012
Ijuí,
2015
UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS,
ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
ANDRÉ LUIS GAY
RELAÇÕES DOS SETORES DE PRODUÇÃO NOS MUNICÍPIOS GAÚCHOS NO
PERÍODO 1999-2012
Monografia apresentada ao Curso de
Ciências Econômicas, Departamento de
Ciências Administrativas, Econômicas e da
Comunicação (DACEC), da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul (UNIJUÍ), requisito parcial
para conclusão de curso.
Orientador: Romualdo Kohler
Ijuí,
2015
A comissão examinadora, abaixo assinada, aprova a monografia
RELAÇÕES DOS SETORES DE PRODUÇÃO NOS MUNICÍPIOS GAÚCHOS NO
PERÍODO 1999-2012
elaborada por:
ANDRÉ LUIS GAY
como requisito parcial para conclusão de
curso
de
Ciências
Econômicas,
Departamento de Ciências Administrativas,
Econômicas e da Comunicação (DACEC),
da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ),
requisito parcial para conclusão de curso.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Professor Dr. Romualdo Kohler, Orientador – Unijuí
____________________________________________________________
Professor Dr. Dilson Trennepohl, Examinador – Unijuí
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo central a verificação de correlação entre os
setores de produção nos municípios gaúchos, no período de 1999 a 2012, a fim de
identificar associações que ajudem a entender a dinâmica de crescimento nos
territórios. Para tal, foi resgatado o referencial teórico pertinente, para então ser
utilizado o cálculo dos coeficientes de correlação entre as variáveis, que permitiram
as análises e as interpretações. Percebeu-se a partir das análises a intensa relação
entre a produção total e o setor de serviços sob diversas perspectivas, além de
visualizações de relações entre o setor de serviços e o setor industrial, e entre o
setor de serviços e rendas não oriundas da produção local.
Palavras-chaves: Produto Interno Bruto, setores de produção, municípios,
correlação.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO... 6
1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE A DETERMINAÇÃO DO PRODUTO…. 9
1.1 Os princípios da Contabilidade Social... 9
1.2 A estruturação do produto... 18
1.3 Os setores de produção... 29
1.4 A diferenciação entre produto e renda local... 34
2 CORRELAÇÕES COM ESTATÍSTICAS DO VAB... 37
2.1 Metodologia e amostragem... 37
2.2 Testagem, análise e interpretação de resultados... 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS... 60
Referências Bibliográficas... 63
ANEXO I - Coeficientes de Correlação (R) ... 66
INTRODUÇÃO
O PIB – Produto Interno Bruto é o valor de toda a produção de bens e
serviços ocorrida em determinado local, podendo ser mensurado dentro das
fronteiras de um país, de um estado, município ou regiões, e em certo período,
podendo ser anual, mensal ou trimestral. É considerado hoje o principal indicador da
riqueza de uma nação, e abrange três grupos principais de atividades: agropecuária,
indústria e serviços.
O crescimento do setor de serviços como participação do PIB vem sendo
certamente uma característica do padrão de crescimento mundial. No Brasil, não é
diferente, e podemos apontar para um movimento no sentido de uma chamada
economia de serviços, seguindo padrões de desenvolvimento da economia global.
Considerando também que o setor de serviços não é somente um reflexo do
comportamento da indústria e da agropecuária, mas sim um setor de cada vez mais
importância na economia mundial, servindo de facilitador das transações
econômicas, e agindo como integrador das atividades.
Além da participação cada vez maior na composição do agregado, o setor de
serviços é o maior empregador de mão de obra, e a urbanização cada vez maior, o
crescente implemento de novas tecnologias e a elevação da qualidade de vida são
situações que contribuem para o crescimento do setor de serviços na economia
como um todo.
A Contabilidade Social trata da mensuração dos agregados econômicos,
indispensáveis para o entendimento da macroeconomia e da estrutura econômica de
um local. A importância do conhecimento de tais agregados, ao exemplo do PIB,
fundamenta-se no fato de que existem padrões sobre a forma pela qual ele deve ser
apurado, e assim são utilizados como indicadores de desenvolvimento econômico,
permitindo a formulação de estratégias e políticas macroeconômicas.
Porém, as análises do PIB e seus setores, em sua maioria têm se voltado
para as economias nacionais, sem muitas vezes olhar as pequenas economias
locais. Então torna-se essencial verificar se a aplicação do que é visualizado em
âmbito nacional é verdadeiro no caso dos municípios.
Nesse contexto, foi desenvolvido este trabalho, onde o desafio é analisar a
evolução da riqueza nos municípios e entre seus setores, de forma a observar o
comportamento macroeconômico destes e verificar se há padrão de crescimento e
interdependência entre a produção total e a produção do setor de serviços dos
municípios do Rio Grande do Sul.
O pensamento de que os municípios pequenos e médios de nosso estado são
baseados na agricultura, e que possuem grande dependência deste setor é algo que
este trabalho pretende verificar. Após as verificações de Kohler (2009) entre os
setores de produção nos municípios de Cruz Alta, Ijuí e Santa Rosa do período de
1939 a 2005, e a demonstração da forte associação entre o PIB total e o PIB
serviços, o questionamento que este trabalho aspira responder é: existe ou não a
correlação entre o setor de serviços e o PIB total em nível municipal?
Assim, a ideia central deste estudo é testar se existe correlação entre a
produção total e a produção do setor de serviços dos municípios gaúchos. De
maneira que se pudesse ter uma visão sob outras faces dos dados, realizamos
testagens também entre os setores do PIB, e de forma acessória, verificar se a
renda provoca efeitos na produção dos municípios.
Objetiva-se ainda possibilitar uma análise comparativa intertemporal de
agregados macroeconômicos, avançando conhecimentos de Contabilidade Social, e
familiarizando-se com dados oficiais e aplicação da estatística em variáveis reais, de
forma que com este todo, busca-se prospectar formas de verificar padrões de
comportamento macroeconômico em economias locais.
Para as testagens dos dados foi utilizado o cálculo dos coeficientes de
correlação entre as estatísticas da produção total e a produção de seus setores,
entre os setores, e das estatísticas de renda com as estatísticas da produção.
Recortes adicionais foram realizados por faixas de participação dos setores no
produto total, e por faixas de população.
O presente estudo, quanto ao delineamento, pode ser caracterizado como
descritivo, pois analisa agregados macroeconômicos de municípios. De acordo com
Gil (2010, p. 27), a pesquisa descritiva “tem como objetivo a descrição das
características de determinada população. Podem ser elaboradas também com a
finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis”.
Trata-se, também, de uma pesquisa bibliográfica, assim conceituada por Gil
(2010, p. 29) “é elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente,
esta modalidade inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses,
dissertações e anais de eventos científicos”.
Além disso, foi realizada uma pesquisa descritiva quantitativa, na coleta de
dados oficiais acerca dos municípios analisados. Assim, buscando padrões na
distribuição dos dados coletados, foram utilizadas técnicas estatísticas, a fim de
perceber correlação entre as variáveis estudadas.
Mediante a utilização de testes estatísticos, torna-se possível determinar, em termos numéricos, a probabilidade de acerto de determinada conclusão, bem como a margem de erro de um valor obtido. Portanto, o método estatístico passa a caracterizar-se por razoável grau de precisão, o que o torna bastante aceito por parte dos pesquisadores com preocupações de ordem quantitativa. (GIL, 1995, p. 28).
Segundo Costa e Castoldi (2009, p. 116) a estatística descritiva “permite
conhecer de forma resumida as características gerais do conjunto de dados, quer
em relação à magnitude dos valores, quer na ótica da sua variabilidade”.
O trabalho está estruturado em dois capítulos, no primeiro apresenta-se o
referencial teórico base deste estudo, visitando os princípios da Contabilidade
Social, a estruturação do produto, os setores de produção e a diferenciação entre
produto e renda local. Assim, o resgate dos conceitos e fundamentação da
contabilidade social subsidiam a posterior reflexão, o entendimento dos resultados e
suas repercussões.
No segundo capítulo, discute-se a metodologia, os critérios utilizados, bem
como a amostragem coletada e realizamos a testagem dos dados procedendo-se a
devida análise e interpretação de resultados.
Por fim, nas considerações finais se procura dar um fecho no trabalho,
sintetizando os principais resultados desta investigação.
1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE A DETERMINAÇÃO DO PRODUTO
Neste primeiro capitulo abordamos os fundamentos da Contabilidade Social,
originados a partir da síntese Macroeconômica, que alicerçou os estudos das contas
nacionais. Iremos percorrer seus princípios da Contabilidade Social com seus
conceitos e definições, a estruturação do produto, os setores de produção, e pôr fim
a diferenciação entre produto e renda em nível local também se faz necessária.
1.1 Os princípios da Contabilidade Social
A Macroeconomia estuda a economia como um todo, analisando a
determinação e o comportamento de grandes agregados, e segundo Rossetti (1997,
p. 536) a “expressão agregados macroeconômicos é empregada para designar,
genericamente, os resultados da mensuração da atividade econômica considerada
como um todo”.
Bacha e Lima (2006, p. 18) define a Macroeconomia “como sendo o ramo das
Ciências Econômicas que estuda os agregados econômicos, seus comportamentos
e a relações entre si”.
Em economia há três maneiras de olhar os fatos. A primeira tenta ao mesmo tempo enxergar a floresta e cada uma de suas árvores. Esse é o método do equilíbrio geral, introduzido em análise econômica por Walras. A segunda se fixa numas poucas árvores e se esquece da floresta. Tal é o método do equilíbrio parcial, desenvolvido por Marshall. A terceira ótica procura enxergar a floresta sem se preocupar com as árvores. Esse é o método macroeconômico. (SIMONSEN; CYSNE; 1995, p. 198).
Desta forma, a Macroeconomia aprofunda estudos sobre agregados
econômicos, ao contrário da Microeconomia, que se preocupa com o
comportamento dos agentes. A designação básica é a soma de todas as transações,
realizadas por todos os agentes, na totalidade dos mercados, é a dimensão total, o
todo, não as partes unicamente consideradas.
...a teoria macroeconômica estuda a determinação e o comportamento dos agregados econômicos nacionais. A parte relativa à medição desses agregados é denominada contabilidade social, que é o registro contábil da atividade produtiva de um pais ao longo de um período de tempo. A análise do comportamento dos agregados econômicos constitui a teoria macroeconômica propriamente dita, cujo foco é a evolução desses
agregados e como atuar sobre eles por meio dos instrumentos de política econômica (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008, p. 121).
A Contabilidade Social também conhecida como Contabilidade Nacional
agrega instrumentos estatísticos de classe econômica que nos permitem medir o
valor adicionado dos esforços produtivos em certo período de um local. Está
disposta a possibilitar uma visão quantitativa, a mais fiel possível, da economia de
um país, de forma que constitui um resumo contábil das atividades econômicas.
À metodologia sistematizada de levantamentos e de contabilização do todo dá-se o nome de Contabilidade Social – um conjunto de grandes contas em que se contabilizam todas as transações que compõem a vida econômica de uma nação. E ainda as transações entre as nações (ROSSETTI, 1997, p. 536).
Para Bacha e Lima (2006, p. 25) “a Contabilidade Social dedica-se à
conceituação dos principais agregados econômicos e à discussão de como eles
devem ser mensurados”. Comenta Feijó (2001, p.04) que “a Contabilidade Nacional
pode ser entendida com um sistema contábil que permite a avaliação da atividade
econômica em um determinado período, em seus múltiplos aspectos ”.
A Contabilidade Social envolve uma metodologia de cálculo de agregados macroeconômicos, como poupança, investimento, produto interno, salários, tributos, exportações, e importações, a fim de permitir estudos de seu desempenho durante determinado período de tempo. (SOUZA, 2007, p. 113).
Ainda Rossetti (1992, p.47) entende como sendo o objeto da Contabilidade
Nacional “a mensuração das diversas categorias de transações econômicas que se
verifica entre os diferentes setores e agentes que compõem o quadro das economias
nacionais”.
A contabilidade social procura definir e medir os principais agregados a partir de valores já realizados ou efetivados (ou ex post, a posteriori, após ocorridos). Já a Macroeconomia antecipa ou prevê o que pode ocorrer, e trabalha com valores teóricos, previstos, planejados (ou ex ante, a priori, antes de ocorrerem). (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008, p. 121).
No Brasil a Contabilidade Social é de responsabilidade do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), e são realizados conforme recomendações do
Manual Internacional de Contas Nacionais (SNA 2008). Os estudos da Contabilidade
Social aceleraram-se principalmente no início do século XX, devido aos problemas
econômicos após as guerras, e a publicação da The General Theory, de J. M.
Keynes em 1936 representou um ponto fundamental, pois demonstrou a
necessidade de um esquema de contas nacionais sistematizadas, a partir daí os
estudos evoluíram norteados principalmente pela Organização das Nações Unidas
(ONU).
É a Teoria Geral de Keynes (1936) que confere contornos definitivos aos conceitos fundamentais da contabilidade social, bem como é a partir dela que são reveladas a existência de identidades no nível macro e a relação entre os diferentes agregados (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 24).
A partir daí a teoria macroeconômica e a contabilidade social seguiram uma
evolução conjunta, de modo que a prática da contabilidade social, produzindo
estatísticas dos grandes agregados econômicos foi possibilitando verificar
empiricamente as premissas oriundas da teoria macroeconômica.
De um lado, para o desenvolvimento da macroeconomia, a sistematização da Contabilidade Social tornou-se uma espécie de pré-requisito. De outro lado, com a publicação, em 1936, da The general theory, de J. M. Keynes, viga-mestra da teoria e da política macroeconômicas da época, a construção das contas nacionais sistematizadas e o cálculo dos grandes agregados passaram a apoiar-se em bases de sustentação mais sólidas. Estabeleceu-se, assim nos anos 30-40, um círculo virtuoso entre o avanço dos estudos macroeconômicos, tendo por marco a síntese keynesiana, e as exigências por dados agregativos, claramente manifestadas por governos e organismos multilaterais preocupados coma reconstrução de economias devastadas por depressões e guerras. (ROSSETTI; 1997, p. 538).
Existem dois sistemas principais de contabilidade social seguidos pela maioria
dos países: o sistema de contas nacionais e a matriz insumo-produto. Princípio
básico destes sistemas, é de que trabalham com conceitos de fluxos, isto é, o que foi
produzido, consumido, pago, recebido, em determinado período de tempo,
normalmente anual. Diferente da variável fluxo, existe a variável estoque, que
evidencia uma situação em determinado momento.
Estoque refere-se a uma quantidade existente em um ponto do tempo, como mercadorias armazenadas, antes de serem vendidas. Em um dado momento, existem X unidades de bens produzidos e guardados em depósitos, a fim de serem embalados, ou transportados a granel aos pontos-de-venda. Uma empresa que produza televisores poderá ter 500 unidades armazenadas no último dia do ano (estoque), enquanto sua produção mensal poderá ser igual a 1.000 unidades (fluxo). Fluxo diz respeito, portanto, a uma quantidade mensurada em um período de tempo. A quantidade de gasolina existente no tanque de um automóvel constitui estoque, enquanto o consumo por quilometro corresponde a fluxo. (SOUZA, 2007, p. 116).
Além dos conceitos de fluxo e de estoque, outros princípios são importantes
como o da produção corrente, e o da moeda neutra. Assim, não é considerado o
valor das transações de bens produzidos em períodos anteriores. Porém como as
atividades econômicas compõem-se também do setor de serviços, a atividade
comercial é levada em conta, ou seja, considera-se a remuneração do vendedor,
mas não o valor total do objeto transacionado. O princípio da moeda neutra consiste
no sentido de que a moeda é utilizada apenas como um padrão a ser seguido, uma
unidade de medida.
O sistema de contas nacionais é o sistema mais antigo e usado, foi
estruturado pelos economistas Simon Kusnetz, Erik Lindahl, e Richard Stone, este
último que o finalizou e deu base ao System of National Accounts (SNA), adotado e
padronizado pelas Nações Unidas. Intensamente ligado à análise macroeconômica,
definido como registro dos fatos econômicos que realizam os diversos agentes
econômicos de uma nação.
Diferentemente do sistema de contas nacionais a matriz insumo-produto,
desenvolvida por Leontief, inclui as transações intermediarias, tratando da produção
ou da transformação dos bens, procurando destacar a relação e a dependência
recíproca de cada setor. Como essa matriz demanda dados com maior
detalhamento, o sistema de contas nacional acaba sendo o mais adotado no mundo
todo.
De maneira geral, o sistema de contas nacional mensura a atividade
econômica do país e o trata como se fosse uma única empresa, apresentando os
resultados de seu funcionamento durante um determinado período, representando
cada setor ou atividade em conta especifica. Assim, a mensuração e a
sistematização dos agregados econômicos permitem aos agentes econômicos,
sejam eles famílias, empresas ou governo, visão ampla e clara da situação
econômica do local em estudo, qualificando a tomadas de decisões e as estratégias
de planejamento.
Em outras palavras, as contas nacionais servem, principalmente, para proporcionar o conhecimento da estrutura econômica de um pais e permitir a formulação de políticas macroeconômicas de estabilização e crescimento. (SOUZA, 2007, p. 113).
Existem três maneiras ou óticas por meio das quais podemos averiguar e
mensurar qual foi o produto de uma economia em determinado período: a ótica do
produto, a ótica da despesa e a ótica da renda, que nos fazem compreender a
identidade produto ≡ despesa ≡ renda.
O resultado da atividade econômica do país pode ser medido de três óticas: pelo lado da produção e venda de bens e serviços finais na economia (ótica do produto e ótica da despesa), e também pela renda gerada no processo de produção (ótica da renda), que vem a ser a remuneração dos fatores de produção (salários, juros, alugueis e lucros). As análises das óticas do produto e da despesa são medidas no mercado de bens e serviços, enquanto a da renda é medida no mercado de fatores de produção (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008, p. 124).
Para maior compreensão destas identidades e destas óticas é necessário o
entendimento do fluxo circular da renda e do produto, partindo de um sistema
econômico bastante simples, onde, por exemplo, nessa economia simplificada,
supõe-se que os únicos agentes são as empresas (que produzem bens e serviços) e
as famílias (que recebem rendimentos pela prestação de serviços). Não
considerando nesta simplificação o setor público e o setor externo. Esta hipótese é
usualmente definida pela expressão economia fechada sem governo.
Neste sistema simplificado, as empresas, ao receberem os fatores de
produção (trabalho, capital, recursos naturais), pagam às famílias uma remuneração
(salários, juros, lucros, aluguéis) pela utilização dos mesmos, isto é, pagam uma
renda. As empresas, combinando estes fatores, criam um conjunto de bens e
serviços, o produto, que será vendido às unidades familiares. As unidades familiares,
ao comprarem este produto, realizam uma despesa.
Figura 1: Fluxo circular monetário e real em uma economia a dois setores.
Fonte: Elaborada pelo autor.
A interação entre o público e as empresas é feita pelo mercado de bens e serviços e pelo mercado de fatores de produção. Resulta o fluxo real, envolvendo bens, serviços e fatores, e o fluxo monetário, correspondendo ao pagamento pelos bens, serviços e fatores envolvidos. (SOUZA; 2007, p. 15)
O fluxo real, ou físico, demonstra-se na parte externa da Figura 1, englobando
a demanda e a oferta de fatores e a demanda e a oferta de bens e serviços. O fluxo
Mercado de fatores de produção Mercado de bens e serviços Fluxo real Fluxo monetário EMPRESAS FAMÍLIAS
monetário está demonstrado no interior da figura e inclui as rendas e as despesas
das famílias e os custos e receitas das empresas.
O fluxo circular da renda deixa bem claro que o de fato circula é o dinheiro: o dinheiro que remunera os fatores de produção é o mesmo que reverte às empresas na compra de bens e serviços finais. Isso não acontece com os demais bens. Os fatores de produção fazem uma única viagem: das famílias às empresas; os bens e serviços finais também fazem uma única viagem: das empresas as famílias. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 25).
De forma completa, as atividades produtivas e as transações econômicas
medidas pela Contabilidade Social são realizadas pelos agentes econômicos, já
citados na simplificação, as famílias (unidades consumidoras), as empresas
(unidades produtoras), e completando agora, o governo e o resto do mundo. Em
contraposição a expressão anterior de economia fechada e sem governo,
emprega-se a expressão economia aberta e com governo para designar sistemas nacionais
que mantém transações econômicas com outras nações e com a interferência do
governo.
O governo, em suas diversas esferas, por um lado recolhe os impostos, taxas
e contribuições pagas pelos cidadãos e por outro realiza investimentos e oferece
bens e serviços públicos. Ele obtém suas rendas através de: receitas tributárias
(impostos indiretos como ICMS e IPI, e impostos diretos como IR, IPTU e ITR) e
receitas não tributárias (contribuições à previdência social e outras receitas como
taxas oriundas de multas e etc.). O governo gasta suas rendas em: consumo,
investimento, transferências e subsídios.
De um lado, o governo interage com as unidades familiares e as empresas, arrecadando tributos; de outro lado, despendendo as receitas tributarias. De sua ação econômica, resultam impactos de várias ordens: uns reprimem a capacidade aquisitiva das unidades familiares e o potencial de acumulação das empresas; outros expandem a renda agregada; outros ainda tanto podem comprimir quanto expandir os níveis correntes do dispêndio agregado. (ROSSETTI; 1997, p. 552).
O resto do mundo envolve os agentes econômicos (empresas, pessoas
físicas) residentes no exterior que transacionam com agentes residentes no país.
Então, Paulani e Braga (2007, p.41), pressupondo que a economia de uma nação
tenha relações com o exterior, completa:
...a primeira e imediata constatação é que, considerada uma economia qualquer, parte de sua produção de bens, num determinado período de tempo, foi, com certeza, vendida ao resto do mundo, ou seja, exportada. Simultaneamente temos também que admitir que parte do que foi consumido e/ou acumulado nesse mesmo período pode ter sido produzido fora do pais e comprado, ou seja, importado, pela economia em questão. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 41).
O fluxo do produto e o fluxo de renda propiciam as três óticas pelas quais
pode ser medida a atividade econômica e que chegam a um resultado que se
equivale: como produto, a soma total dos bens e serviços finais produzidos durante o
período; como renda, remuneração paga às famílias pelo fornecimento de fatores de
produção para as empresas elaborarem o produto; como despesa, a despesa total
realizada pelas famílias ao comprarem o produto.
A ótica do produto considera o valor adicionado total das firmas de um local,
conforme afirma Feijó e Ramos (2008, p. 25) o resultado de uma economia:
“...avaliado pela ótica do produto, mede o total do valor adicionado produzido por
firmas operando no país, independente da origem do seu capital, ou seja, mede o
total da produção ocorrendo no território do país”.
De maneira semelhante Paulani e Braga (2007, p.15) define o mesmo
conceito: “Pela ótica do produto, a avaliação do produto total da economia consiste
na consideração do valor efetivamente adicionado pelo processo de produção em
cada unidade produtiva”. Assim fica fácil de chegarmos ao conceito de Produto
Nacional, como sendo o valor de todos os bens e serviços finais, produzidos em
determinado período.
Produto, ou valor adicionado, é o que a empresa agrega aos bens e serviços que ela compra para produzir um bem. Esses bens e serviços denominam-se insumos ou consumo intermediário e correspondem aos gastos efetuados pela empresa para gerar o seu produto (SOUZA, 2007, p. 116).
Seguindo esta linha, e ligado diretamente ao conceito de produto o conceito
de valor adicionado é um ponto de partida para a descrição e compreensão dos
sistemas de cálculo agregativo.
Valor adicionado (ou valor agregado) é o valor que se adiciona ao produto em cada estágio de produção, ou seja, é a renda adicionada por cada setor produtivo. Somando o valor adicionado em cada estágio de produção, chegaremos ao produto final da economia. (VASCONCELLOS E GARCIA; 2008, p. 128).
Com estes conceitos de produção e de valor adicionado, é importante
destacar que na Contabilidade Social não há dupla contagem, ou seja, os bens e
serviços que são eliminados durante a produção do bem final, são descontados da
contagem. Se assim não o fizéssemos estaríamos contando duas vezes a mesma
mercadoria, pois o pão foi elaborado a partir da farinha, e essa a partir do trigo, já
contabilizados como tal. Por isso, utilizamos os conceitos de bens e serviços finais e
valores adicionados como precaução para evitar dupla contagem.
Para Paulani e Braga (2007, p. 11) “Para se chegar ao valor do produto da
economia, ou produto agregado, é preciso deduzir do valor bruto da produção o
valor do consumo intermediário”. Vale definir como se distinguem os tipos de bens
produzidos, conforme sua destinação:
Os bens de capital são utilizados na fabricação de outros bens, mas não se desgastam totalmente no processo produtivo. É o caso, por exemplo, de máquinas, equipamentos e instalações. São usualmente classificados no ativo fixo das empresas, e uma de suas características é contribuir para a melhoria da produtividade de mão-de-obra.
Os bens de consumo destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades humanas. De acordo com sua durabilidade, porem ser classificados como duráveis (por exemplo, geladeiras, fogões, automóveis) ou como não-duráveis (alimentos, produtos de limpeza).
Os bens intermediários são transformados ou agregados na produção de outros bens e são consumidos totalmente no processo produtivo (insumos, matérias-primas e componentes). Diferenciam-se dos bens finais, que são vendidos para consumo ou utilização final. Os bens de capital, como não são “consumidos” no processo produtivo, são bens finais, e não intermediários.
Os fatores de produção, chamados recursos de produção da economia, são constituídos pelos recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), terra, capital e tecnologia. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008, p. 10).
Considerando que em uma economia para todos os recursos utilizados na
produção de qualquer bem há um pagamento correspondente, também podemos
inferir que a soma destes pagamentos deve corresponder ao mesmo valor do
produto. À esta remuneração dos fatores de produção dá se o nome de renda.
Souza (2007, p. 117) já nos traz a igualdade entre os agregados e utiliza a
seguinte definição: “Produto = Valor Adicionado = Renda = Salários + Lucros + Juros
+ Aluguéis + Royalties”. Rossetti (1997, p. 544) dá descrição semelhante à
igualdade “Como o valor adicionado é igual ao produto, que também é igual ao custo
dos fatores, que por sua vez é igual à renda, podemos dizer que o Produto Nacional
e a Renda Nacional são, em termos líquidos, expressões que se equivalem”.
Percebe-se que o produto, ou valor adicionado por um setor, equivale a renda gerada por esse setor, correspondendo ao valor das remunerações efetuadas aos fatores de produção empregados, compreendendo salários (trabalho), lucros (função empresarial), juros (capital), e aluguéis (terrenos, instalações físicas, equipamentos e afins) e royalties (tecnologia). A Renda Nacional equivale ao somatório das remunerações de toda a economia, no mesmo período (SOUZA, 2007, p. 117).
Sob a ótica da despesa, mensura-se o produto considerando o somatório de
todas as compras de bens e serviços finais, destacando, na mesma lógica anterior,
que as transações intermediárias são eliminadas nesta contabilização. Assim a
Despesa Nacional, se dá pelo gasto dos agentes econômicos para com o produto
nacional. Distribui-se entre consumo pessoal das famílias, bens de capital, e
variação de estoques.
A ótica da despesa ou ótica do dispêndio avalia o produto de uma economia considerando a soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no período que não foram destruídos (ou absorvidos como insumos) na produção de outros bens e serviços. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 13).
Assim dados os conceitos chegamos ao Quadro 1:
Quadro 1: Síntese dos conceitos da identidade Produto ≡ Despesa ≡ Renda.
Produto Despesa Renda
Soma dos valores adicionados, ou Soma de todos os bens e serviços
finais
Consumo das famílias Formação de capital fixo
Variação de estoque
Salários Aluguéis Juros Lucros Fonte: Elaborado pelo autor, conforme conceituações apresentadas.
Produto, Despesa e Renda representam três óticas diferentes para medir o
fluxo do produto durante um período. Esclarecendo, portanto, que os três agregados
são idênticos, equivalendo-se, sendo uma das principais identidades da
macroeconomia.
A identidade produto ≡ dispêndio ≡ renda significa que, se quisermos avaliar o produto de uma economia num determinado período, podemos somar o valor de todos os bens finais produzidos (ótica do dispêndio) ou, alternativamente, somar os valores adicionados em cada unidade produtiva (ótica do produto) ou, ainda, somar as remunerações pagas a todos os fatores de produção (ótica da renda). (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 13).
A diversidade de transações que compõem o sistema econômico, os diversos
agentes envolvidos e as diferentes categorias de fluxos resultantes foram, entre
outras, as barreiras que exigiriam a classificação e a sistematização, bem como a
padronização das bases conceituais necessárias à Contabilidade Social. Desta
forma, após resgatar de forma singela estes fundamentos, avançamos os
conhecimentos e adentramos mais um passo, especificamente na estruturação do
produto.
1.2 A estruturação do produto
Os mais importantes agregados básicos são produto, renda, consumo,
poupança, investimento e despesa, e ao conhecermos
as óticas de avaliar o produto
de uma economia, alguns conceitos dos agregados econômicos ficam evidentes, tais
como produto, despesa e renda. Porém, torna-se importante apresentar todos, que
apesar da simplicidade de alguns, o registro é fundamental para entendimento do
todo.
Inicialmente, ressalta-se que estes agregados são determinados no mercado
de bens e serviços, mercado do trabalho, mercado monetário, mercado de títulos e
mercado de divisas, pelo encontro da oferta e da demanda em cada um desses
mercados.
Como forças de equilíbrio nos mercados citados, importante conceituarmos as
definições de oferta agregada e demanda agregada, constituídos respectivamente
pelo conjunto de todos os bens e serviços disponíveis (oferta) em uma nação, e a
soma da procura (demanda) de todos estes bens e serviços.
Para Vasconcellos e Garcia (2008, p. 153) “A oferta agregada de bens e
serviços (OA) é o valor total da produção de bens e serviços finais colocados à
disposição da coletividade num dado período”. E ainda em Vasconcellos e Garcia
(2008, p. 154) “A demanda ou procura agregada de bens e serviços (DA) é a soma
dos gastos planejados dos quatro agentes macroeconômicos...”.
O conceito de produto, já citado, afere o valor total da produção de uma
economia em certo período, segundo Rossetti (1997, p. 542) “O Produto Nacional
resulta da soma dos valores adicionados (ou dos produtos) de todas as empresas
que compõem o aparelho de produção da economia nacional”.
Quanto ao agregado renda, está diretamente relacionado ao agregado
produto, pois segundo Rossetti (1997, p. 544) “Renda Nacional é a soma das
remunerações pagas aos fatores de produção”. Vasconcellos e Garcia (2008, p. 127)
define como “Renda Nacional (RN) é a soma dos rendimentos pagos aos fatores de
produção no período: RN = Salários + Juros + Aluguéis + Lucros”.
O consumo é o valor dos bens e serviços adquiridos pelos agentes para
satisfação de suas necessidades. Seja para consumo pessoal, ou consumo do
governo. Rossetti (1997, p. 545) conecta consumo ao termo destruição:
“Conceitualmente, o consumo associa-se à ideia de destruição da riqueza”.
Os gastos em consumo efetuados pelas famílias – consumo do setor privado – incluem as despesas com bens de consumo não-duráveis e duráveis e com serviços finais. Inclui-se, neste caso, despesas com comida, combustível, educação, lazer, entre várias outras. (BACHA; LIMA; 2006, p. 28).
Assim, para fins de mensuração, os bens e serviços produzidos na economia
são consumidos imediatamente, ou acumulados para o futuro, de modo a fluírem
para o mercado de consumo das famílias ou para aumentar o estoque de capital fixo
das empresas. O agregado consumo, é usado como a compra de bens e serviços
finais para consumo pelos indivíduos, ou a soma de bens e serviços que são
eliminados. Os bens de consumo duráveis (geladeiras, automóveis, etc.), apesar
poderem ter vida útil de vários anos, consideram-se como se fossem consumidos no
momento em que foram adquiridos.
Como os agentes econômicos não se preocupam apenas com o consumo
presente, mas também com o consumo futuro, as famílias decidem entesourar parte
de sua renda recebida, conhecida como poupança. Quando é o caso de uma
empresa que projeta seu futuro, e planeja o consumo futuro, ela decide investir,
normalmente em bens de capital.
Para Souza (2007, p. 117) “A Poupança é igual a diferença entre a renda e o
consumo: os indivíduos, as empresas e o governo decidem guardar uma parcela da
renda ou receita para consumir no futuro ou investir”. Sendo então este conceito de
poupança usualmente conhecido como o de renda não consumida.
...de toda a renda recebida pelas famílias, na forma de salários, juros, alugueis e lucros, a parcela que não for gasta em consumo num dado período é a poupança agregada, não importando o que será feito posteriormente com ela (se ficara embaixo do colchão, se será aplicada, se será transformada em investimentos etc.) Poupança é o ato de não consumir no período, deixando-a para consumo futuro. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008, p. 10).
Já o investimento corresponde aos bens produzidos e não consumidos no
período, é composto pelos bens de capital (também conhecidos como formação
bruta de capital fixo), que ampliam a força de produção, ou pela variação de
estoques, que seriam os bens produzidos e não consumidos no período vigente. Em
Bacha e Lima (2006, p. 28) “O investimento inclui tanto aquisição de novos
maquinários e instalações quanto a formação de estoques”.
O investimento costuma ser dividido em variação de estoques, que congrega os bens cujo consumo ou absorção futuros irão se dar de uma única vez, e a formação bruta de capital fixo, que agrega os bens que não desaparecem depois de uma única utilização e possibilitam a produção (e, portanto, o consumo) ao longo de um determinado período de tempo, ou seja, possibilitam a produção de um fluxo de bens e serviços. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 33).
Importante lembrarmos que em todos os processos produtivos, há o desgaste
dos maquinários ou do capital físico, mínimo que seja, mas que ao longo dos anos
sofre este desgaste, tornando-se obsoleto ou sucata. A reposição desse capital é
chamada de depreciação.
...investimento é o acréscimo de estoque físico de capital, compreendendo a formação de capital fixo mais variação de estoques. Parte da formação bruta de capital, também denominada investimento bruto, destina-se a repor a retirada de circulação de equipamentos e instalações, por desgaste ou obsoletismo. O valor dessas retiradas é estimado no item “Depreciações” da contabilidade nacional. Assim, o investimento liquido é o bruto menos depreciações. (SIMONSEN; CYSNE; 1995, p. 130).
Assim, de forma a garantir a manutenção da capacidade produtiva, as
empresas
preocupam-se também com seus bens de capital, reinvestindo em seus
maquinários, equipamentos e estrutura física. Dessa maneira o conceito de
depreciação diferencia o investimento bruto do investimento liquido e o produto bruto
do produto liquido.
Para obter o valor do produto liquido de uma economia num determinado período é preciso deduzir, do valor total produzido, ou seja, do valor do produto bruto, aquela parcela meramente destinada a reposição da parte desgastada do estoque de capital da economia, a que se dá o nome de depreciação. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 35).
O agregado despesa é o gasto dos agentes econômicos com o produto
nacional, revelando quais são os setores compradores do produto nacional. Trata-se
da soma do consumo das famílias, dos gastos do governo, dos investimentos das
empresas, e das exportações subtraídas das importações.
O conceito de despesa agrega os possíveis destinos do produto, isto é, as suas fontes de aquisição: trata-se da absorção interna (consumo mais investimento) mais o saldo das exportações sobre importações de bens e serviços. Assim a despesa é igual ao consumo mais investimento mais exportações menos importações. (SIMONSEN; CYSNE; 1995, p. 130).
Juntam-se a estes principais agregados, de forma a completar a equação do
produto nacional, os agregados resultantes das interferências do governo e das
transações com o exterior.
A presença do governo na economia, interfere principalmente na sua
arrecadação de impostos e tributos (receitas do governo), e na utilização destas
receitas (gastos do governo).
Das transações com o exterior, originam-se as exportações, importações e o
resultado líquido dos pagamentos e recebimentos pelo emprego de fatores de
produção.
Nas contas nacionais, os fluxos de exportações incluem as vendas de mercadorias para o exterior e as receitas cambiais com serviços prestados a estrangeiros, como as decorrentes de viagens, transportes, seguros e telecomunicações; incluem também os dispêndios das representações diplomáticas de outras nações instaladas no país. Em direção oposta, os fluxos de importações incluem as compras de mercadorias, as despesas cambiais com serviços adquiridos de estrangeiros e os dispêndios das representações diplomáticas da nação no exterior. Já os pagamentos-e-recebimentos pelo emprego de fatores de produção incluem as remunerações como salários, juros, arrendamentos e aluguéis, patentes e direitos autorais e lucros, remetidos ou recebidos do exterior, como contrapartida pela utilização interna dos recursos pertencentes a estrangeiros. (ROSSETTI; 1997, p. 559).
Novamente, supondo uma economia de forma simplificada, economia fechada
(sem relações com o exterior) e sem governo, a demanda agregada pela ótica da
despesa, e considerando ainda a identidade produto ≡ renda ≡ despesa, assumirá a
seguinte forma:
PN = RN = DN = C + I (1)
Onde:
PN = Produto Nacional
RN = Renda Nacional
DN = Despesa Nacional
C = Consumo
I = Investimento
Nessa equação temos que o produto nacional (PN) ou a despesa nacional
(DN) será igual aos gastos com o consumo das famílias (C) somado aos gastos com
o investimento (I). Assim, se considerarmos a ótica da renda, substituímos na
equação anterior o agregado investimento pelo agregado poupança (S), de maneira
que essa mesma igualdade irá assumir a seguinte forma:
PN = DN = RN = C + S (2)
Onde:
C = Consumo
S = Poupança
Em que a poupança (S) é obtida pela equação RN – C, ou seja, Renda
Nacional menos o Consumo, visto anteriormente o conceito de poupança como a
renda não consumida. Observando as duas igualdades é possível percebermos mais
uma das identidades fundamentais da macroeconomia:
Igualando a equação (1) e (2) temos:
C + I (1) = C + S (2)
S = I
Podemos assim afirmar que o investimento e a poupança são agregados que
se equivalem. Pelas definições já apresentadas, o investimento é a parcela da
produção que amplia a capacidade produtiva da economia; e, poupança é o saldo da
renda não consumida.
Numa economia fechada, a identidade POUPANÇA = INVESTIMENTO decorre da definição POUPANÇA = RENDA - CONSUMO e da identidade RENDA = DESPESA = CONSUMO + INVESTIMENTO. (SIMONSEN; CYSNE; 1995, p. 131).
Esta identidade poupança ≡ investimento é reconhecida em várias vertentes
do pensamento econômico, distinguindo-se na identificação da precedência dos
agregados, se a poupança financia o investimento, ou o investimento gera a
poupança. Como nos apropriamos dos conceitos de Contabilidade Social, baseados
na obra de J. M. Keynes, usamos a poupança como efeito do investimento, como
cita Paulani e Braga (2007):
Para ele, o investimento é que precede a poupança; a renda adicional criada pelo investimento produz a posteriori a poupança exigida. Logo, pode haver investimento sem poupança – por exemplo, via criação de crédito – e, por conseguinte, não é a poupança que explica o investimento e sim um conjunto de outras variáveis, como a preferência pela liquidez, a eficiência marginal do capital e a taxa de juros. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 9).
Quando incorporamos ao exemplo anterior o governo e as relações com o
exterior é necessário somarmos à expressão anterior, os gastos do governo
subtraídos dos impostos recolhidos (G), as exportações (X), e subtrairmos as
importações (M). De forma que chegamos a tal fórmula da demanda agregada:
PN = DN = RN = C + I + G + X – M
Onde:
G = Gastos do Governo
X = Exportações
Bacha e Lima (2006, p. 54) descreve a demanda agregada, na forma de
demanda efetiva (DA), na proposta keynesiana, como: “A demanda efetiva (DA) é a
soma do consumo do consumo do setor privado (C), do investimento do setor
privado (I), dos gastos do governo (G), e das exportações liquidas (X-M). Assim, DA
= C + I + G + X – M”.
Em Vasconcellos e Garcia (2008), temos a mesma lógica, culminando na
mesma equação:
O modelo macroeconômico básico, ou modelo keynesiano, pode ser formalizado matematicamente como segue. A renda nacional de equilíbrio (RN) é determinada pelo encontro da oferta agregada (OA) com a demanda agregada de bens e serviços (DA): OA = DA. A oferta agregada é o próprio produto ou renda nacional: OA = RN, e a demanda agregada é dada por: DA = C + I + G + (X – M), em que C é a despesa com bens de consumo, I, os gastos das empresas com investimentos, G, os gastos do governo, X, as exportações e M, as importações agregadas. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008, p. 165).
De maneira ainda a complementar a equação anterior é acrescentado
o
resultado líquido dos pagamentos e recebimentos pelo emprego de fatores de
produção. Que consiste em um agregado que engloba as rendas provenientes dos
fatores de produção, somando-se as recebidas e subtraindo-se as enviadas. Como é
usual no Brasil, a situação de enviarmos mais rendas ao exterior do que recebermos
este agregado é conhecido como Renda Liquida Enviada ao Exterior (RLE) e acaba
tendo sinal negativo. Porém, em nações em que as rendas recebidas superam as
enviadas, este agregado tem sinal positivo.
Para se obter o produto nacional de uma economia, é preciso deduzir de seu produto interno a renda liquida enviada ao exterior ou, se for o caso, adicionar a seu produto interno a renda liquida recebida do exterior. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 43).
Assim a equação anterior ainda teria mais um agregado:
PN = DN = RN = C + I + G + X – M + RLE
Onde:
RLE = Renda Liquida Enviada ao Exterior
Desta forma, chegamos à equação geral da demanda agregada, usada
conforme as identidades macroeconômicas, para designar ainda a oferta agregada,
o produto nacional, a renda nacional, e a despesa nacional, guardadas as suas
alterações.
Adentramos agora às variações dos principais agregados, não menos
importantes, e que são muito usadas em nosso cotidiano. As conceituações destes
agregados seguem o mesmo raciocino e princípios de mensuração, alterando-se
conforme a ótica utilizada, são eles: Valor Bruto de Produção (VBP), Valor Agregado
Bruto (VAB), Produto Nacional Bruto (PNB), Produto Interno Bruto (PIB), Produto
Nacional Liquido (PNL), Produto Interno Liquido (PIL), Produto Nacional a preços de
mercado (PNpm), e Produto Nacional a custo de fatores (PNcf).
O Valor Bruto de Produção (VBP) expressa a soma de todos os bens e
serviços produzidos em determinado território econômico, num dado período de
tempo. Incorre no chamado erro de "dupla contagem", pois soma os produtos finais
com os insumos usados em sua elaboração.
O Valor Bruto da Produção (VBP) constitui, portanto, o maior agregado de uma economia, em termos monetários. Ele inclui o produto liquido e o consumo intermediário e compreende a soma dos valores brutos dos bens e serviços movimentados em uma economia, durante um período de tempo. SOUZA, 2007, p. 117).
O Valor Agregado Bruto (VAB), ou Valor Adicionado Bruto é o valor da
"produção sem duplicações". Obtém-se descontando-se do VBP o valor dos insumos
utilizados no processo de produtivo.
Denomina-se valor adicionado em determinada etapa da produção a diferença entro o valor bruto produzido nessa etapa (igual a vendas mais acréscimo de estoques) e os consumos intermediários. (...) o produto nacional é igual à soma dos valores adicionados, nesse período de tempo, em todas as unidades produtivas do pais. (SIMONSEN; CYSNE; 1995, p. 130).
Por Produto Nacional Bruto (PNB) entendem-se os bens e serviços
produzidos por fatores de produção nacionais, independentemente do território
econômico. Já por Produto Interno Bruto (PIB) entendem-se os bens e serviços
finais produzidos dentro dos limites territoriais econômicos, independentemente da
origem dos fatores de produção.
Nota-se que o conceito de produto nacional é um conceito de titularidade,
assim incluindo os produtos que empregam fatores de produção que pertencem aos
residentes desse pais independentes do local onde foi produzido. Por outro lado, o
conceito de produto interno, é um conceito geográfico, pertencendo ao produto
interno, o bem ou serviço produzido dentro dos limites geográficos de uma nação. A
diferença entre o produto interno e o produto nacional se dá na renda liquida enviada
ao exterior (RLE), já conceituada anteriormente. Pois o PIB contabiliza a RLE, ao
contrário do PNB que exclui.
Já o Produto Nacional Liquido (PNL), nada mais é do que o Produto Nacional
Bruto deduzido das depreciações, estas já definidas na conceituação do
Investimento. Encadeamento desta definição se dá o Produto Interno Liquido (PIL),
ligando a questão geográfica com a subtração das depreciações, definido então
como os bens e serviços finais produzidos dentro dos limites territoriais,
independentemente da origem dos fatores de produção, deduzidas as depreciações.
Considerando que existe a atuação do governo em todos estes agregados,
via impostos indiretos ou subsídios, provocando mudanças nestas contas nacionais,
há variação que considera este diferencial. Assim surgem os conceitos de custos de
fatores (cf), como sendo o que as empresas pagam aos fatores de produção, e
preços de mercado (pm) como o preço final.
Para resolver o problema foram criados dois conceitos de produto: o produto a preços de mercado, que inclui o valor dos impostos indiretos compensados dos subsídios, e o produto a custo de fatores, que não considera esse valor adicional. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 43).
Assim, o Produto Nacional a preços de mercado (PNpm) é o produto nacional
medido a partir dos valores transacionados no mercado, ou seja, medido pelo preço
pago pelo consumidor final. Já o Produto Nacional a custo de fatores (PNcf) é
produto nacional medido a partir dos valores que refletem os custos de produção, a
remuneração aos fatores (salários + aluguéis + juros + lucros). É o preço de fábrica,
antes dos impostos, e não considerado preços do consumo intermediário.
Importante recordar que conforme a identidade produto ≡ renda ≡ dispêndio,
estes conceitos podem ser verificados sob estes vários recortes dados, como bruto
ou liquido, nacional ou interno, a preços de mercado ou a custo de fatores. Na
Tabela 1, demonstra-se a síntese em forma simplificada válida para os três grandes
agregas, Produto, Renda e Despesa.
Tabela 1: Síntese simplificada para recortes do produto.
Agregado Recorte Resultado
Bruto - Depreciação Liquido
Interno - Renda liquida enviada ao exterior (RLE) Nacional Preços de Mercado - Impostos indiretos + subsídios ou transferências Custo de Fatores Tabela 1: Elaborado pelo autor, conforme conceituações apresentadas.
Feita esta definição dos principais agregados da economia, e seus
respectivos enfoques, diferenciamos os diversos conceitos utilizados
convencionalmente e suas variações, podendo variar tanto sob a ótica que é
visualizada como sob a consideração ou não de respectivos agentes. Assim, este
conjunto de conceitos, definições, classificações e regras, conhecidos e
padronizados internacionalmente, nos permitem diversas visualizações do produto
da economia.
O agregado macroeconômico mais estudado pela contabilidade social é o PIB
(produto interno bruto), principal enfoque deste trabalho, sendo o centro do sistema
de contas nacionais. É considerado o indicador da atividade econômica, sintetizando
o valor final da produção realizada dentro das fronteiras geográficas de um país,
num determinado período, sendo o indicador mais frequentemente citado de
desempenho econômico.
A medida de PIB de um país ou região representa a produção de todas as unidades produtoras da economia (empresas públicas e privadas produtoras de bens e prestadoras de serviços, trabalhadores autônomos, governo etc....), num dado período (ano, ou trimestre em geral), a preço de mercado (FEIJÓ; RAMOS, 2008, p. 18).
Desta forma o PIB é analisado sob a ótica do produto, mas se quisermos
analisar sob as outras óticas, e considerando a identidade produto ≡ renda ≡
despesa, teríamos também: a Despesa Interna Bruta, e a Renda Interna Bruta. O
conceito de PIB, é convencionalmente usado a preços de mercado (PIBpm),
medindo o total dos bens e serviços produzidos e destinados ao consumo final,
sendo equivalente à soma dos valores adicionados pelas diversas atividades
econômicas acrescida dos impostos, líquidos de subsídios.
PIBpm = Σ bens e serviços; ou
PIBpm= Σ valores adicionados + impostos - subsídios
Dentre as óticas de avaliar o produto de uma nação, daremos ênfase à da
produção, e no Sistema de Contas Nacionais (SNA 2008) a lógica é baseada na
ideia de demonstrar o sistema econômico, com o PIB na seguinte equação:
PIBpm = VBP + impostos, líquidos de subsídios – consumo intermediário.
Para Rossetti (1997, p 594), o conceito de Produto Interno Bruto é
diretamente ligado ao de Valor Adicionado Bruto: “é a totalização do valor
adicionado bruto pelas empresas, com inclusão de impostos indiretos líquidos,
dentro de um conceito amplo de território...”.
PIBpm = VAB + impostos, ou
VAB = PIBpm – impostos
Desta forma o VAB (Valor Adicionado Bruto) de um produtor é igual ao valor
das suas vendas líquido do valor dos produtos e serviços consumidos na produção,
aos quais chamamos de consumo intermediário. O PIB é, assim, a soma dos VAB
de todas as entidades de produção que residem no local estudado, mais os
impostos embutidos nos preços finais.
Ao analisar uma economia como um todo, um economista, ou qualquer
analista que seja, com certeza ira se debruçar a analisar, dentre outras variáveis ou
agregados, o PIB e sua taxa de crescimento ao longo dos anos como indicador de
desempenho econômico. E é inegável sua importância e a dimensão que
proporciona ao observador, capaz também de demonstrar a capacidade dessa
economia em gerar renda, e com algumas informações adicionais, o nível de
utilização de sua capacidade produtiva.
A mensuração que o sistema de contas nacionais realiza possibilita uma
análise quantitativa da economia, porém, quando focamos a perceber a qualidade
de vida da sociedade, o produto agregado de uma economia pode não ser o
indicador mais adequado. A questão do bem-estar da população traz um confronto
muito acalorado em torno do crescimento econômico e desenvolvimento econômico.
O crescimento econômico diz respeito à elevação do produto agregado do país e pode ser avaliado a partir das contas nacionais. Desenvolvimento é um conceito bem mais amplo, que leva em conta a elevação da qualidade de vida da sociedade e a redução das diferenças econômicas e sociais entre seus membros. (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 255).
A este trabalho a breve diferenciação de desenvolvimento e crescimento é
necessária, para Kohler (2009, p. 10) “O termo desenvolvimento, por si, já permite
divagações por sua conotação qualitativa, ao contrário do termo crescimento, de
simples caráter quantitativo”.
Em uma visão sistêmica, o desenvolvimento é fruto de múltiplas ações convergentes e complementares, que não se resumem ao enfoque econômico, apesar do econômico pavimentar seu caminho. Outras variáveis como qualidade de vida e sustentabilidade ambiental também devem estar em voga. (KOHLER; 2009, p. 11).
Um dos desdobramentos que a mensuração do PIB nos fornece é o PIB per
capita, relativizando o produto agregado pelo tamanho da população de um país. O
produto per capita, apesar de ainda ser uma medida quantitativa, já se aproxima
mais de um indicador qualitativo em relação ao produto agregado total. Porém, o fato
de se estar aumentando o PIB per capita ao longo dos anos, não nos garante de que
se está tendo uma melhoria do seu padrão de vida. Uma nação está realmente
melhorando seu nível de desenvolvimento, juntamente com o aumento do PIB per
capita, se estiver também melhorando os indicadores sociais (pobreza, saúde,
educação, desemprego e etc.).
Como indicador de desenvolvimento mais conhecido mundialmente, onde
foram inseridos indicadores sociais como parte de suas avaliações, destaca-se o
índice de desenvolvimento humano – IDH, calculado desde 1990 pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Indicador de referência mundial,
agrega três variáveis em sua metodologia de cálculo: renda per capita, índice de
esperança de vida e taxa de alfabetização/escolarização.
O índice de desenvolvimento humano – IDH, criado pelas Nações Unidas, tem como objetivo avaliar a qualidade de vida nos países. O IDH, que considera em seu cálculo três variáveis, quais sejam, saúde, educação e renda per capita... (PAULANI; BRAGA; 2007, p. 255).
Apesar de algumas limitações a medida do PIB, ainda é considerada uma das
mais uteis como indicador de crescimento ou desenvolvimento, e como forma de
permitir comparações entre países. Então fica claro, que o PIB não é uma medida
perfeita de bem-estar, assim como o IDH também não o é.
A contabilidade nacional enfrenta algumas dificuldades na mensuração dos
grandes agregados, tanto operacionais como conceituais. Uma pergunta que nos
vem é: Será que o PIB consegue mesmo medir tudo o que é produzido?
A dificuldade operacional se dá no fato de apenas conseguir contabilizar o
valor gerado pelas atividades formais, assim, na medida que há compra, venda, e
produção de bens e serviços que não se dão por meio de empresas oficialmente
constituídas, não há maneira de mensura-las. Vários exemplos podem ser dados,
desde atividades como contrabando, prostituição, até as de empresas familiares,
desta forma grande parcela da geração de produto e renda do país recaí na
economia informal.
A dificuldade conceitual consiste de que para computar no PIB, a atividade
deve envolver uma transação, integrando-se ao fluxo circular da renda e do produto.
Porém atividades como a agricultura de subsistência, que apesar de produzir bens,
os destrói dentro da própria unidade familiar. Desta forma, fica excluído do PIB a
produção familiar, ou doméstica, isto é, aquilo que produzimos para próprio
consumo. Ao exemplo da decisão de jantar em casa ou em um restaurante, pois
esta decisão tem impacto sobre a atividade produtiva que é efetivamente
contabilizada. O ato de preparar sua refeição em casa não se traduz numa
transação econômica e, portanto, não gera valor passível de contabilização.
Visto a estruturação do produto e as diversas formas de mensuração,
passamos a analisar sua ramificação em setores.
1.3 Os setores de produção
Se formos verificar o produto agregado de forma analítica, podemos dizer que
o PIB ou VAB é a soma valor de todos os bens e serviços finais produzidos nas
atividades do setor primário, secundário e terciário. Vasconcellos e Garcia (2008,
p.285) define como valor adicionado: “consiste em calcular o que cada ramo de
atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo produtivo”.
Dividindo o produto então pelas atividades, Vasconcellos e Garcia (2008, p.285)
considera o produto nacional pelo somatório da produção do setor primário
(agricultura, pecuária, pesca, extração vegetal), do setor secundário (indústria,
extração mineral), e do setor terciário (serviços, comercio transportes, comunicação).
Souza (2007, p. 114) expõe que: “Para facilitar a análise, a economia é
subdivida em setores produtivos relativamente homogêneos. Os setores mais
agregados são a agropecuária (setor primário), indústria (setor secundário) e
serviços (setor terciário) ”.
Em uma economia industrial moderna, produz-se um imenso conjunto de bens e serviços, originários de atividades primarias, secundarias e terciárias de produção. De atividade primarias resultam coisas como madeira bruta, fibras naturais, grãos, gado, aves, e pescados – e ainda um grande número de insumos derivados de seus primeiros processamentos. De atividades secundarias resultam laminados de metais e veículos automotores até materiais para construção, produtos químicos e farmacêuticos, plásticos e aparelhos eletrodomésticos; desde tratores e maquinas operatrizes até elementos de fixação, como alfinetes e parafusos; desde gases de uso industrial até bens que empregam estes gases em seus processos produtivos, como cristais, porcelanas e cerâmicas. E todos esses bens exigem um complexo sistema de prestação de serviços, para que sejam produzidos, financiados, armazenados, transportados, promovidos e distribuídos para a utilização final. E há ainda muito mais do que tudo isto: as atividades de profissionais liberais, as das diferentes esferas do governo e as resultantes de serviços que podem atender a demandas finais, como turismo, saúde, educação e cultura. (ROSSETTI, 1997, p. 540).
Filellini (1994, p. 54) apresenta “a classificação setorial adotada
universalmente, conforme recomendações da ONU”, é resumida na Tabela 2, a
seguir:
Tabela 2: Classificação setorial das atividades econômicas.
SETORES ATIVIDADES DE PRODUÇÃO TIPOS DE ATIVIDADES TIPOS DE BENS Agricultura Primária Agricultura, pecuária e atividade afins (corpóreos) Tangíveis
Industria Secundária Transformação de forma e construção (corpóreos) Tangíveis Serviços Terciária Serviços como comércio, transportes e financeiros (incorpóreos) Intangíveis Fonte: Filellini (1994, p. 54).
No Brasil, as Contas Nacionais seguem os mesmos conceitos, combinando os
conceitos de setor e atividades.
Os três grandes setores da economia, encarregados de reunir os recursos produtivos, a fim de produzir os bens e serviços, mediante determinada tecnologia, para atender à demanda de consumidores, são:
a) Setor primário (agropecuária), composto pelas lavouras, produção animal (pecuária), caça, pesca, extração vegetal, reflorestamento e indústria rural;
b) Setor secundário (indústria), formado pela indústria extrativa mineral, mineral não metálico, petróleo e gás; pela indústria de transformação, indústria da construção civil e pelos serviços industriais de utilidade pública. A indústria de transformação pode ser desdobrada em grande número de industrias: siderurgia, metalurgia, mecânica, material elétrico, material de transporte, química, petroquímica, plástico, eletrônica, vestuário, mobiliário, produtos alimentares etc.;
c) Setor terciário (serviços), incluindo o comercio, transportes, comunicações, instituições financeiras, administração pública, educação e saúde, autônomos e outros serviços. (SOUZA, 2007, p. 14).