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Políticas públicas de ingresso e permanência no enino superior: repercussões sociais aos estudantes e graduados das instituições comunitárias de ensino superior na Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional - Mestrado e Doutorado

Linha de Pesquisa: Políticas Públicas e Gestão Social

MAURO ALBERTO NÜSKE

POLÍTICAS PÚBLICAS DE INGRESSO E PERMANÊNCIA NO

ENSINO SUPERIOR: REPERCUSSÕES SOCIAIS AOS

ESTUDANTES E GRADUADOS DAS INSTITUIÇÕES

COMUNITÁRIAS DE ENSINO SUPERIOR NA REGIÃO FRONTEIRA

NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

IJUÍ/RS 2020

(2)

MAURO ALBERTO NÜSKE

POLÍTICAS PÚBLICAS DE INGRESSO E PERMANÊNCIA NO

ENSINO SUPERIOR: REPERCUSSÕES SOCIAIS AOS

ESTUDANTES E GRADUADOS DAS INSTITUIÇÕES

COMUNITÁRIAS DE ENSINO SUPERIOR NA REGIÃO FRONTEIRA

NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Tese de conclusão de Doutorado do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional Universidade Regional do Noroeste do RS – Unijuí, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Desenvolvimento Regional.

Orientador: Prof. Dr. Nelson José Thesing

Ijuí - RS 2020

(3)

N975p

Nüske, Mauro Alberto.

Políticas públicas de ingresso e permanência no ensino superior:

repercussões sociais aos estudantes e graduados das Instituições Comunitárias de ensino superior na região fronteira noroeste do Rio Grande do Sul / Mauro Alberto Nüske. – Ijuí, 2020.

164 f. ; il. ; 30 cm.

Tese (doutorado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento Regional.

“Orientador: Prof. Dr. Nelson José Thesing”.

1. Ensino Superior. 2. Políticas Públicas. 3. Ingresso e Permanência. 4. Instituições Comunitárias. I. Thesing, Nelson José. II. Título.

CDU: 373.5 378.145 Catalogação na Publicação

Ginamara de Oliveira Lima CRB 10/1204

(4)

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Doutorado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Tese

POLÍTICAS PÚBLICAS DE INGRESSO E PERMANÊNCIA NO ENSINO

SUPERIOR: REPERCUSSÕES SOCIAIS AOS ESTUDANTES E

GRADUADOS(AS) DAS INSTITUIÇÕES COMUNITÁRIAS DE ENSINO

SUPERIOR DA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RIO GRANDE DO

SUL

elaborada por

MAURO ALBERTO NÜSKE

como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Desenvolvimento Regional

Banca Examinadora:

Professor Dr. Nelson José Thesing (PPGDR/UNIJUÍ): _______________________________ Professor Dr. Sérgio Luís Allebrandt (PPGDR/UNIJUÍ): _____________________________ Professor Dr. Airton Adelar Mueller (PPGDR/UNIJUÍ): ______________________________ Professor Dr. Mário Riedl (PPGDR/FACCAT): ____________________________________ Professora Dr.ª Cláudia Tirelli (PPGDR/UNISC): ___________________________________

(5)

AGRADECIMENTOS

Todo e qualquer desafio, ao ser superado, independentemente do tamanho e da complexidade, nos oportuniza o momento da gratidão. É dessa forma que se valoriza a todos aqueles que, de uma forma ou outra, agregaram para a mesma, cada um à sua forma.

Nesse sentido, agradeço ao generoso Deus, que me orienta e possibilita oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional, e coube a mim decidir por seguir o caminho proposto.

A meus pais e irmãos, que mesmo cada um enfrentando a luta diária em busca de melhores condições de qualidade de vida, sempre compartilharam energias positivas, acreditando no meu potencial.

Para essa pessoa especial, Patrícia Rodrigues da Silva, com a qual construo nossa família, sendo abençoados com a chegada do Pedro Miguel, dando sentido para cada vez mais darmos o que temos de melhor, ontem, hoje e sempre.

Ao Prof. Dr. Martinho Luis Kelm, que, como coorientador, esteve conosco na elaboração e qualificação do projeto. Suas contribuições foram valiosas.

Ao Prof. Dr. Nelson José Thesing, cabe agradecer como orientador, pelos valorosos conhecimentos compartilhados, mas também à pessoa que é, transmitindo tranquilidade e confiança durante toda a caminhada, com humanidade incomparável.

À Setrem, onde fiz minha graduação, especialização e mestrado, este em parceria com a UFSM, e que há 20 anos tem me proporcionado o crescimento profissional, contribuindo para o desenvolvimento do Ensino Superior.

Os agradecimentos se ampliam aos estudantes e graduados, bem como às IES que participaram do estudo, o qual não seria possível sem a sincera contribuição de cada um deles.

Por fim, com a devida relevância, agradecer aos demais familiares e amigos, que me acompanharam nesses quatro anos de caminhada, a qual, pelos desafios superados, tenho a plena convicção em dizer que valeu a pena!

(6)

RESUMO

A tese investiga as repercussões sociais das políticas públicas de ingresso e permanência no ensino superior, na visão de seus beneficiados. A pesquisa parte da constatação de que, em 2001, apenas 12% da população brasileira entre 18 a 24 anos acessava o ensino superior. As metas propostas pelos Planos Nacionais de Educação de 2001-2010 e 2014-2024 foram, respectivamente, atingir 30% e 33% da população nessa faixa etária com ensino superior. Para atingir essas metas, o governo federal, a partir do ano de 2000, criou políticas públicas de ingresso e permanência no ensino superior, sendo o Prouni e o Fies as principais. O estudo buscou verificar as repercussões sociais das políticas públicas de ingresso e permanência dos estudantes e graduados das Instituições Comunitárias de Ensino Superior da Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, na visão de seus beneficiados, com um olhar ontológico da realidade, que contempla um contexto subjetivo, da percepção dos sujeitos. Quanto à epistemologia, o conhecimento pesquisado e desenvolvido é de natureza mais flexível, subjetiva e transcendental, baseada na experiência e compreensão de uma natureza essencialmente pessoal dos estudantes, graduados e gestores. A opção metodológica foi pela Hermenêutica em Profundidade e pela Análise de Conteúdo. A técnica de coleta de dados utilizou-se da aplicação de instrumento com questões fechadas aplicado por um formulário online, no Google Drive, para 5 estudantes e graduados de cada uma das 4 instituições comunitárias presentes nesta região, num total de 80 respondentes. Ainda, aplicou-se entrevista com questões semiestruturadas a 1 gestor de cada instituição. O estudo compreende três categorias de análise: estudantes, graduados e gestores. Como resultados relevantes, para 46% toda a renda é necessária para o grupo familiar, e para 36%, a renda é necessária parcialmente. Tanto o Prouni quanto o Fies beneficiam 40% dos respondentes cada, sendo que 23% contam com transporte público municipal ou passe-livre; 52% residem com os pais, e 44% apenas o respondente possui ensino superior ou está cursando. Em relação às oportunidades profissionais, 50% destacam que melhoraram muito a partir das políticas públicas, 70% não cursariam o ensino superior sem a política pública. As políticas públicas contribuíram para ampliar a atuação profissional com carteira assinada em tempo integral de 41% antes do curso, para 49% durante e 70% após a conclusão do mesmo. Para os gestores, a adesão ao Prouni se justifica em função da necessidade de atender à lei da filantropia, com a oferta de 20% das matrículas em bolsas em contrapartida à isenção de impostos, bem como possibilita a inclusão dos estudantes de baixa renda, igualmente ao Fies. Este, porém, após contribuir positivamente com a ampliação do acesso e permanência, a partir de 2015, a gradativa redução das vagas provocou o enfraquecimento do programa e a busca de novas alternativas de crédito e financiamento. Verifica-se que as repercussões sociais são determinantes para essa parcela da população, interferindo positivamente no auxílio ao sustento do grupo familiar, da ampliação da renda, das oportunidades profissionais, bem como com o desenvolvimento regional, a partir da qualificação proporcionada pelo ensino superior. Porém, enquanto o Prouni se consolidou como política pública, o Fies, pelas mudanças constantes e oneração para as instituições de ensino superior, perdeu credibilidade.

Palavras-chave: Ensino Superior. Políticas Públicas. Ingresso e Permanência. Instituições Comunitárias.

(7)

ABSTRACT

The thesis investigates the social repercussions of the public policies of entry and permanence in higher education, in the point of view of its beneficiaries. The research started from the finding that in 2001 only 12% of Brazilian population between 18 and 24 years old had access to higher education. The targets proposed by the National Education Plans of 2001-2010 and 2014-2024 were, respectively, to reach 30% and 33% of the population in this age group with higher education. To achieve these targets, the federal government, beginning in 2000, created public policies for entry into and permanence in higher education, with Prouni and the Fies being the main ones. The study looked for verifying the social repercussions of the public policies of entry and permanence of the students and graduates of the community Higher Education Institutions of the Northeast Frontier Region of Rio Grande do Sul, in the point of view of their beneficiaries, with a ontological view of reality, which considers a subjective context of the subjective context. Regarding to epistemology, the knowledge researched and developed is of more flexible nature, subjective and transcendental, based on the experience and understanding of an essentially personal nature of the students, graduates and managers. The methodological option was for Hermeneutics in Depth and for Content Analysis. The data collection technique used the application of an instrument consisting of closed questions applied by an online form, on Google Drive, for 5 students and graduates from each of the 4 community institutions present in this region, in a total of 80 respondents. Furthermore, an interview with semi-structured questions was applied to 1 manager of each institution. The study considers three categories of analysis: students, graduates and managers. As relevant results, for 46% all income is needed for the family group, and for 36%, the income is needed in part. Both Prouni and Fies benefit 40% of the respondents, with 23% of which rely on municipal public transport or freeways; 52% reside with their parents, and 44% only the respondent has higher education or is studying. Related to the professional opportunities, 50% point out that they have improved considerably from public policies; 70% would not go to higher education without public policy. Public policies contributed to increase professional activity with a full-time signed portfolio from 41% before the course to 49% during and 70% after concluded. To the managers, their adhesion to Prouni is justified because of the need to comply with the philanthropy law, with the offer of 20% of the registration in scholarships, in consideration of the tax exemption, as well it possibility the inclusion of students with low income, the same to Fies. However, after contributing positively with the expansion of access and permanence, starting in 2015, the gradual reduction of the vacancies brought about the weakening of the program and the search for new alternatives for credit and financing. It is verified that the social repercussions are crucial for this part of the population, interfering positively to support the family group, increasing income, professional opportunities and regional development, based on the qualification provided by higher education. However, while Prouni consolidated itself as a public policy, the Fies, because of the constant changes and burden on higher Education Institutions, lost credibility.

Keywords: Higher Education. Public Policies. Entry and Permanence. Communities Institutions.

(8)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: Forma simplificada das conexões entre políticas públicas e

desenvolvimento ... 52

Ilustração 2: Formas de investigação hermenêutica ... 74

Ilustração 3: Mapa das Regiões Funcionais e Coredes ... 80

Ilustração 4: Mapa da Região Fronteira Noroeste do RS ... 81

(9)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Classificação dos impactos das atividades da IES sobre as regiões ... 35 Quadro 2: Políticas públicas e benefícios concedidos, por IES... 107

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Evolução do número de inscrições realizadas e confirmadas no Enem, de

2012 a 2018, em milhões ... 22

Figura 2: Bolsas ofertadas pelas IES, no Prouni, de 2006 a 2017, em milhares ... 23

Figura 3: Evolução de novos contratos do Fies – 2010 a 2018.1, em milhares ... 24

Figura 4: Evolução das matrículas no Ensino Superior, de 1980 a 2016, em milhares ... 25

Figura 5: Taxa de escolarização líquida no Ensino Superior (2016) ... 26

Figura 6: Desemprego da população de 18 a 24 anos, por período sem trabalhar ... 42

Figura 7: Gasto público por estudante na educação pública, em dólares, por ano ... 48

Figura 8: Evolução dos investimentos educacionais no Brasil, por etapa de ensino . 49 Figura 9: Gênero ... 115

Figura 10: Cor ... 115

Figura 11: Deficiência ... 116

Figura 12: Faixa Etária ... 116

Figura 13: Renda familiar per capita ... 116

Figura 14: Município em que reside ... 117

Figura 16: IES em que estuda ou estudou ... 118

Figura 17: Situação do curso ... 118

Figura 18: Curso que frequenta ou é graduado ... 119

Figura 19: Se foi o curso de primeira opção ... 120

Figura 20: Ano de ingresso no curso ... 120

Figura 21: Necessidade da renda no grupo familiar ... 121

Figura 22: Ensino superior no grupo familiar ... 121

Figura 23: Negócio no grupo familiar para trabalhar ... 126

Figura 24: Oportunidades de trabalho e de crescimento profissional ... 126

Figura 25: Elementos que contribuem para a inserção no mercado de trabalho .... 126

Figura 26: Contribuições do Ensino Superior ... 127

Figura 27: Motivos para cursar Ensino Superior ... 129

Figura 28: Mudanças vivenciadas após ingresso no ensino superior ... 130

Figura 29: Por qual política pública foi beneficiado ... 133

(11)

Figura 31: Importância das políticas de ingresso e permanência no ensino superior ... 133 Figura 32: Outra(s) possibilidade(s) você teria para cursar o ensino superior sem a política pública ... 134 Figura 33: Antes de ser contemplado por uma política pública de ingresso e permanência no ensino superior ... 134 Figura 34: A partir de ser contemplado por uma política pública de ingresso e permanência no ensino superior ... 134 Figura 35: Após ser contemplado por uma política pública de ingresso e permanência no ensino superior ... 134 Figura 36: Dificuldade(s) vivenciadas com relação à permanência no ensino superior ... 135 Figura 37: Tipo de apoio recebido para a(s) dificuldade(s) vivenciadas com relação à permanência no ensino superior ... 136

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS CFE – Conselho Federal de Educação

CNE – Conselho nacional de Educação ENC – Exame Nacional de Cursos

Enem – Exame Nacional de Ensino Médio Fahor – Faculdade Horizontina

Febraban - Federação Brasileira de Bancos

Fema – Fundação Educacional Machado de Assis Fies – Fundo de Financiamento Estudantil

HP - Hermenêutica em Profundidade IES – Instituição de Ensino Superior

IFs - Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia ICES – Instituições Comunitárias de Ensino Superior

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas em Educação Anísio Teixeira MEC – Ministério da Educação

OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico PIB – Produto Interno Bruto

PNE – Plano Nacional de Educação PPG – Programa de Pós-Graduação

Prouni – Programa Universidade para Todos

Reuni - Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

RFN - Região Fronteira Noroeste RS – Rio Grande do Sul

SAT - Scholastic Aptitude Test

Setrem – Sociedade Educacional Três de Maio

Sinaes - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior Sisu - Sistema de Seleção Unificada

SPPGG/RS - Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do RS UAB – Universidade Aberta do Brasil

(13)

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 15 1.1 TEMA ... 18 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ... 18 1.3 OBJETIVOS ... 19 1.3.1 Objetivo Geral ... 19 1.3.2 Objetivos Específicos ... 19 1.4 JUSTIFICATIVA ... 20 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 28

2.1 ESTUDOS ANTECEDENTES – POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR ... 28

2.2 DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO ... 32

2.3 DESIGUALDADE E MOBILIDADE SOCIAL ... 36

2.4 O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL ... 43

2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS ... 50

2.5.1 Políticas Públicas Educacionais ... 53

2.5.1.1 Políticas Públicas de Educação Superior ... 56

2.5.1.1.1 O Prouni ... 65

2.5.1.1.2 O Fies ... 67

2.6 INSTITUIÇÕES COMUNITÁRIAS DE ENSINO SUPERIOR (ICES) ... 68

3. CAMINHO METODOLÓGICO ... 71

3.1 PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS, EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS ... 72

3.2 OPÇÃO METODOLÓGICA ... 73

3.3 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 78

3.3.1 Os lócus e os sujeitos da pesquisa ... 79

(14)

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS: DO SURGIMENTO DAS ICES ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS DE INGRESSO E PERMANÊNCIA NO

CONTEXTO REGIONAL ... 87

4.1 AS ICES NA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE DO RS – DO SURGIMENTO ÀS CONTRIBUIÇÕES AO ENSINO SUPERIOR ... 88

4.1.1 Faculdade Horizontina – Fahor ... 88

4.1.2 Faculdade Três de Maio – Setrem ... 89

4.1.3 Fundação Educação Machado de Assis – Fema ... 90

4.1.4 Universidade Regional do Noroeste do RS – Unijuí ... 94

4.2 ENTREVISTA COM OS GESTORES DAS IES ... 96

4.2.1 Entrevista com o Gestor da IES A... 96

4.2.2 Entrevista com o Gestor da IES B... 99

4.2.3 Entrevista com o Gestor da IES C... 101

4.2.4 Entrevista com o Gestor da IES D... 105

4.2.5 Análise das Entrevistas com os Gestores das IES ... 107

4.3 PESQUISA COM ESTUDANTES E GRADUADOS ... 114

4.3.1 Perfis dos estudantes e graduados ... 115

4.3.2 Análise dos Perfis dos Estudantes e Graduados ... 121

4.3.3 Importância do Ensino Superior ... 125

4.3.4 Análise da Importância do Ensino Superior ... 130

4.3.5 Importância das Políticas Públicas ... 132

4.3.6 Análise da importância das Políticas Públicas ... 136

4.4 SISTEMATIZAÇÃO GERAL – ENTRE PONTOS E CONTRAPONTOS ... 141

CONCLUSÃO ... 146

REFERÊNCIAS ... 150

APÊNDICE 1: INSTRUMENTO DE PESQUISA A ESTUDANTES E GRADUADOS ... 159

(15)

1. INTRODUÇÃO

Esta tese se propôs a investigar as repercussões sociais das políticas públicas de ingresso e permanência no ensino superior, aos estudantes e graduados das Instituições Comunitárias de Ensino Superior (ICES) da Região Fronteira Noroeste (RFN) do Rio Grande do Sul (RS).

O ponto de partida que dá relevância ao estudo é o Plano Nacional de Educação (PNE) do decênio 2001-2010 (2001) aprovado pela Lei 10172/2001 (BRASIL, 2001), o qual apontava que, no conjunto da América Latina, o Brasil apresentava um dos índices mais baixos de acesso à educação superior, mesmo quando se leva em consideração o setor privado e comunitário. Assim, a porcentagem de matriculados na educação superior brasileira em relação à população de 18 a 24 anos era de menos de 12%, comparando-se desfavoravelmente com os índices de outros países do continente. Consta ainda no PNE (2001) que a Argentina, embora contasse com 40% da faixa etária, configura um caso à parte, uma vez que adotou o ingresso irrestrito, o que se reflete em altos índices de repetência e evasão nos primeiros anos. Mas o Brasil continua em situação desfavorável frente à Bolívia (20,6%), ao Chile (20,6%) e à Venezuela (26%). Esses dados, por si só, revelam um atraso relevante, o que impunha um desafio considerável em ampliar essa realidade.

Para tanto, o PNE tinha como meta n° 1 nesse nível de ensino prover, até o final da década, a oferta de educação superior para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos. Ou seja, ampliar em uma vez e meia o número de vagas até então ofertadas. Verifica-se, sem demérito à capacidade ou não, um grande desafio.

De acordo com o que aponta o Portal do Programa Universidade para Todos (Prouni, 2015), através da criação do Prouni, somado ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), ao Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), à Universidade Aberta do Brasil (UAB) e à expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica, foi ampliado significativamente o número de vagas na educação superior, contribuindo para um maior acesso dos jovens a este nível de ensino.

(16)

Porém, essa ampliação não foi suficiente, conforme destaca Speller (2013), pois mesmo considerando o aumento significativo de IES e de matrículas no período do PNE 2001-2010, a taxa de escolarização líquida da população de 18 a 24 anos continuava muito baixa (13,6%) e a taxa bruta em torno de 25%. De acordo com o estabelecido no Projeto de Lei do novo Plano Nacional de Educação (PNE, 2010-2020 incialmente, e finalizado como 2014-2024), a meta é elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, até 2020. Isso significa que para cumprir a meta será necessário dobrar os índices verificados no final da última década (2010).

Com o PNE 2014-2024, aprovado pela Lei nº 13.005/2014 (BRASIL, 2014), um novo desafio foi proposto no que tange à ampliação do ensino superior, com a meta de número 12 projetando elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas no segmento público. Uma das estratégias para esse desafio era de ampliar, no âmbito do Fies, de que trata a Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, e do Prouni, de que trata a Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, os benefícios destinados à concessão de financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores presenciais ou à distância, com avaliação positiva, de acordo com regulamentação própria, nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação.

Verifica-se aí a importância que é dada às políticas públicas do Fies e do Prouni, disponíveis nas IES privadas. Porém, a forma de implementação das mesmas difere dentre elas, no que tange às com fins lucrativos e sem fins lucrativos, sendo que o Prouni é facultativo àquelas com fins lucrativos.

Nessa perspectiva, uma das alternativas destacadas por Speller (2013) pode estar vinculada à percepção de experiências de algumas ICES sem fins lucrativos, controladas pela sociedade civil de sua região de abrangência e efetivamente enraizadas no seu entorno, que talvez possam ser analisadas como alternativas de articulação social e modalidade de educação superior pública. Considerar experiências de sucesso na oferta de ensino de qualidade com pertinência social, ambiental e econômica pode permitir uma primeira aproximação

(17)

na formulação de uma política de Estado para uma educação superior inovadora, apropriada e relevante.

Essa constatação aponta a importância e relevância das IES comunitárias, pela sua atuação diferenciada nas comunidades em que estão presentes, considerando a disponibilização de políticas públicas de acesso e permanência, com destaque para o Fies e o Prouni. Nessa direção, a ampliação de oportunidades para a parcela menos favorecida socialmente tem se destacado nos últimos anos, possibilitando a redução das desigualdades sociais e a melhoria das condições de vida, com destaque para as IES privadas, responsáveis pela maior oferta de vagas no ensino superior, e dentre essas, as comunitárias, as quais se inserem entre o público e o privado, principalmente no Sul do Brasil, contribuindo com o desenvolvimento das regiões em que atuam.

Portanto, este estudo se propõe a investigar as repercussões sociais aos

estudantes e graduados beneficiados pelas políticas de acesso e permanência no

ensino superior nas ICES da Região Fronteira Noroeste do RS. Para tanto, não somente se buscam essas evidências dentre esses atores, mas também integraram o estudo gestores das instituições com esse perfil que atuam nesta região, buscando identificar como essas se inserem nos planos de expansão da educação superior no Brasil.

O estudo está estruturado em 4 capítulos, iniciado com o Capítulo 1, que apresenta a contextualizado do estudo, composto pela Introdução, Tema, Problematização, Objetivos e a Justificativa. O Capítulo 2 contém a Revisão Bibliográfica, com estudos antecedentes e os referenciais bibliográficos com conceitos e estudos que subsidiam as categorias de análises do estudo. No Capítulo 3, apresenta-se os caminhos que conduzem o estudo, com os pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, com a definição do lócus e sujeitos da pesquisa e dos instrumentos e procedimentos de coleta de dados. No Capítulo 4 constam as análises e os resultados, dialogando com os referenciais teóricos e outros estudos, e por fim, a conclusão da tese.

(18)

1.1 TEMA

De acordo com Oliveira (2002), o tema da pesquisa é a designação do problema (prático) e da área do conhecimento a serem observados. Ainda conforme o autor, de maneira geral, o tema deve ser definido de modo simples e sugerir os problemas e o enfoque que serão selecionados.

Nesse contexto, o tema de pesquisa deste estudo assim se define:

- Políticas Públicas de ingresso e permanência no Ensino Superior.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

O problema da pesquisa “[...] trata-se de uma questão ainda sem solução e que é o objeto de discussão, em qualquer área de domínio do conhecimento. O problema delimita a pesquisa e facilita a investigação” (OLIVEIRA, 2002, p. 106).

Do ponto de vista de Rey (2005), contrariamente ao que se tem enfatizado historicamente na literatura sobre o tema, a formulação do problema de pesquisa não é um momento formal, senão o desenvolvimento progressivo de uma representação que não será e nem deverá ser perfeita, e que vai orientar o processo de organização inicial da pesquisa, o qual será suscetível de modificação em seu curso.

Na pesquisa tradicional, a formulação do problema está investida de toda a liturgia formal que caracteriza a elaboração do projeto de pesquisa, diferentemente da pesquisa qualitativa, cujo problema representa a primeira aproximação do sujeito em relação ao que ele deseja estudar, representação que será alimentada de reflexões e incertezas (REY, 2005, p. 87)

Para tanto, e a partir do tema proposto, o seguinte problema de pesquisa emerge:

- Quais são as repercussões sociais das políticas públicas de ingresso e permanência no Ensino Superior aos estudantes e graduados das ICES da Região Fronteira Noroeste do RS, de 2000 a 2018, na visão de seus beneficiados?

Pode-se definir conceitualmente as repercussões sociais como sendo as consequências ou efeitos de uma determinada ação ou situação. Ao agregar-se o

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termo social, e no contexto deste estudo, restrito ao ensino superior, as repercussões sociais podem ser compreendidas como as mudanças decorrentes das políticas públicas de ensino superior no âmbito social, e que podem ser relacionadas à redução das desigualdades sociais, e também, de melhoria de qualidade de vida, como renda, moradia, saúde, lazer, mobilidade social, oportunidades profissionais e inclusão social.

1.3 OBJETIVOS

Conforme Pinheiro (2010), os objetivos se dividem em geral e específicos, definidos a partir do problema e representam a operacionalização da pesquisa. De forma clara, direta, coerente e precisa, devem descrever o que se pretende observar, analisar, interpretar, discutir, propor, entre outros.

Para Fachin (2001, p. 32), “os objetivos identificam aquilo que se pretende conhecer, ou medir, ou provar no decorrer da investigação”.

1.3.1 Objetivo Geral

Do ponto de vista de Pinheiro (2010), o objetivo geral relaciona-se com o tema e descreve o que se pretende alcançar com a pesquisa, que pode ser obtido até a finalização da pesquisa ou até mesmo algum tempo mais tarde.

Dessa forma, define-se o seguinte objetivo geral:

- Analisar as repercussões sociais das políticas públicas de ingresso e permanência no Ensino Superior aos estudantes e graduados das ICES da Região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul, na visão de seus beneficiados, no período de 2000 a 2018.

1.3.2 Objetivos Específicos

Na visão de Pinheiro (2010), os objetivos específicos se relacionam mais diretamente com a delimitação do tema e descrevem os passos para que o objetivo

(20)

geral seja alcançado. Nesse caso, as metas formuladas geralmente são alcançadas até o final da pesquisa.

A partir do objetivo geral, os seguintes objetivos específicos são propostos:

- Identificar as políticas públicas de ingresso e permanência no Ensino Superior nas ICES da Região Fronteira Noroeste do RS;

- Analisar o perfil socioeconômico dos estudantes beneficiados pelas políticas públicas objeto do estudo;

- Interpretar a abrangência e densidade das referidas políticas públicas;

- Reinterpretar a percepção dos estudantes, graduados e gestores das ICES sobre as referidas políticas públicas.

1.4 JUSTIFICATIVA

Este estudo reveste-se de relevância, pois cabe à academia, na sua área de conhecimento, aprofundar as pesquisas para identificar, avaliar e contribuir para a qualificação das referidas políticas públicas. Ao Estado, articular os gestores públicos e a sociedade civil para a qualificação das referidas políticas, contribuindo para a melhoria da qualidade da educação superior do Brasil. E para doutorando, ao tratar as políticas públicas de ingresso e permanência no Ensino Superior como oportunidade para a ampliação da qualidade de vida dos beneficiados.

Considerando que as políticas públicas de ingresso e permanência no Ensino Superior têm sido temáticas pouco exploradas, sendo que na região de abrangência que este estudo foi realizado não há evidências com o referido enfoque, tendo seu ineditismo assegurado.

Nesse contexto, é importante resgatar as possibilidades de ingresso no ensino superior proporcionadas pelo sistema educacional brasileiro. Conforme o Ministério da Educação (MEC, 2015), o cidadão interessado em estudar nas instituições brasileiras de ensino superior tem diversas formas de acessá-las. O vestibular é o modo mais tradicional e testa os conhecimentos do estudante nas disciplinas cursadas no ensino médio. Pode ser aplicado pela própria instituição ou por empresas especializadas. Algumas IES também optam por processos de seleção baseados em entrevistas ou nas informações pessoais e profissionais dos

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candidatos, como grau de escolaridade, cursos, histórico escolar ou experiência e desempenho profissional.

Considerando o perfil diversificado de nossa população, com famílias distribuídas dentre as diferentes classes sociais, o Estado brasileiro criou e mantém políticas públicas que facilitam o ingresso de alunos e professores à educação superior, não somente em instituições públicas, mas também em privadas. Para Carvalho (2016), diante da insuficiência de vagas no ensino superior público, a expansão de vagas no âmbito privado e a implementação de ações que promovessem a ampliação das oportunidades de ingresso a esse nível de ensino

cresceram consideravelmente, tornando-se objeto de políticas públicas

educacionais.

Destaca-se também o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) que, segundo Carmo et al. (2014), surgiu em 1998, e contou com um número modesto de participantes – 115,6 mil. Para Brasil (2015), o Enem abre portas para que todos os brasileiros trilhem, em igualdade de condições e de acordo com seus méritos como estudantes, um caminho de oportunidades por meio dos ensinos técnico e superior.

Carmo et al. (2014) salienta que a popularização definitiva do Enem teve início em sua edição de 2004, com a instituição do Prouni e a vinculação da concessão de bolsas em instituições privadas à nota obtida neste exame. Também ocorreu a gradativa adesão de universidades públicas à utilização da nota do Enem como critério total ou parcial de seleção, em substituição ao vestibular tradicional ou atuando paralelamente a este.

Ainda, conforme Carmo et al. (2014), em 2005, para termos uma ideia do crescimento do programa, o Enem registrou 3 milhões de inscritos. Nas edições de 2014 e 2016, o Enem teve mais de 9 milhões de inscritos e se consolidou como o maior exame deste tipo no Brasil e o segundo maior no mundo. Bucci e Mello (2013) destacam que os resultados iniciais da experiência atestaram a convicção de que se podia aprofundar esse movimento para a renovação dos processos convencionais de ingresso na educação superior, com a utilização do Enem para a mensuração da formação de nível médio, à semelhança dos modelos de avaliação final do ensino médio adotados em vários países, tais como o Scholastic Aptitude Test (SAT), traduzido como Teste de Aptidão Escolar), nos Estados Unidos, ou o Baccalaureat, na França, por exemplo.

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A criação do Programa Universidade para Todos (Prouni), em 2004, pela Lei nº 11.096/2005, teve por finalidade conceder bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de cursos sequenciais de formação específica, sempre em instituições privadas de educação superior, e essas, ao aderirem, recebem isenção de tributos, concedendo ao Enem um significado muito maior. Bucci e Mello (2013) destacam que em 2005, quando o Enem passou a selecionar os bolsistas do Prouni, as inscrições dobraram, passando de cerca de 1,5 milhão para 3 milhões de candidatos. Em seguida, com a divulgação do programa e a diversificação dos usos do exame, ano a ano o volume de inscritos cresceu, conforme visualizado na figura 1.

Figura 1: Evolução do número de inscrições realizadas e confirmadas no Enem, de 2012 a 2018, em milhões

Fonte: Sindata /Semesp | Base: MEC in Mapa do Ensino Superior no Brasil (2018)

Analisando os dados apresentados na figura 1 verifica-se que já foram ofertadas mais de 3 milhões de bolsas desde a criação do programa até 2017, conforme o MEC, sendo que neste último atingiu-se o maior quantitativo de bolsas ofertadas anualmente, com 362 mil entre parciais e integrais. De acordo com o MEC (2015), o Prouni tem aumentado a oferta de bolsas anualmente. Em 2014 o

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crescimento foi de 17%, sendo que desde a sua implantação, em 2005, o crescimento chega a quase 200%, conforme demonstrado na figura 2.

Verifica-se, pelos dados apresentados na figura 2, a importância e abrangência do Prouni como política pública. Porém, deve-se considerar que há outro aspecto que deve ser levado em conta, não apenas relacionado ao ingresso desses estudantes no Ensino Superior, mas também à permanência da outra parcela, ou seja, aqueles que não conquistam a bolsa integral.

Para tanto, o Fies surge como uma das alternativas para a parcela de estudantes que não conseguem uma bolsa do Prouni. O objetivo do Fies é financiar a graduação na educação superior de estudantes que não têm condições de arcar com os custos de sua formação. Para se candidatar, os alunos devem estar regularmente matriculados em instituições pagas, cadastradas no programa e com avaliação positiva nos processos avaliativos do MEC.

Figura 2: Bolsas ofertadas pelas IES, no Prouni, de 2006 a 2017, em milhares

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O Fies passou por fases distintas desde a sua criação, em 1999 (Jornal Nexo, 2017), e sucedeu outro programa, o Creduc, também voltado ao financiamento de estudantes de baixa renda no ensino superior. Em 2010, o programa foi expandido, ao facilitar os critérios de adesão e diminuir as taxas de juros para os estudantes. Em 2015, o Governo Federal propôs cortes de gastos em diversas áreas, em meio à crise econômica. O Fies não passou incólume: os juros do financiamento subiram, o número de novos contratos foi restringido e as adesões despencaram.

A figura 3 representa a evolução dos novos contratos a partir de 2010, com destaque para 2014, quando o programa atingiu o maior número de novos estudantes beneficiados, e no 1º semestre de 2018, quando atingiu o menor, desde as mudanças ocorridas em 2010.

Figura 3: Evolução de novos contratos do Fies – 2010 a 2018.1, em milhares

Fonte: Sindata /Semesp | Base: MEC in Mapa do Ensino Superior no Brasil (2018)

Em relação à evolução total das matrículas no ensino superior, o Mapa do Ensino Superior no Brasil (2018) aponta que, nas IES públicas e privadas do Brasil, considerando os cursos presenciais e a distância, o número de estudantes neste nível de ensino aumentou de forma expressiva nas últimas quatro décadas. Em 1950 havia apenas 49 mil matrículas, que em 1960 passaram para 93 mil e em 1970 para 425 mil; a partir de 1980 ultrapassou 1,3 milhão de alunos matriculados e, em

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1990 chegou a mais de 1,5 milhão. De 2009 a 2016, nas IES públicas e privadas, chegou a crescer 35%. Em 2016 havia cerca de 6,06 milhões de alunos em instituições privadas (75%) e 1,99 milhão de alunos matriculados nas IES da rede pública (25%), totalizando 8,05 milhões de matrículas. Outro dado destacado é que a maior parcela dos estudantes que estão cursando o ensino superior vem de escolas públicas, totalizando 70% dos matriculados.

A figura 4 apresenta a evolução das matrículas no Ensino Superior no Brasil, no período de 1980 a 2016, juntamente com os principais fatores ou programas que influenciaram nesse crescimento. Dentre eles, o surgimento do Ensino à Distância – EaD, a criação dos Cursos Superiores de Tecnologia – CST, em 2002, a criação do Prouni em 2005, e as mudanças no Fies em 2010, contribuíram positivamente para esse crescimento.

Figura 4: Evolução das matrículas no Ensino Superior, de 1980 a 2016, em milhares

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Além disso, o levantamento indicou que quase metade dos 49 milhões de trabalhadores empregados com carteira assinada não tem nível superior completo e só concluíu os estudos até o ensino médio. Do total, apenas 18,5% têm diploma de formação acadêmica. O estudo aponta ainda que a maior parcela dos estudantes que está no ensino superior privado vem da rede pública. Dos matriculados, quase 70% cursaram o ensino médio em escolas públicas e 30% em privadas.

Mesmo considerando que há ainda outras políticas públicas que contribuem para a expansão do ensino superior, não somente no âmbito federal, mas também local e regional, as mesmas não o fizeram na proporção projetada pelo PNE 2001-2010, o qual buscava um crescimento dos 10% anteriores para 30% na escolarização líquida de ensino superior, o que passou a ser um desafio para o novo PNE, durante o período de 2014-2024, o qual projeta esse percentual para 33%.

Conforme se verifica na figura 5, ainda há uma caminhada bastante desafiadora para se atingir o que vem a ser uma das principais metas do referido plano. Mesmo que a média nacional tenha avançado para 18,5% até o ano de 2016, a maioria dos estados brasileiros está abaixo da mesma, o que demonstra a desigualdade social de um país com dimensões continentais.

Figura 5: Taxa de escolarização líquida no Ensino Superior (2016)

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Destaque, ainda, para a importância do ensino superior ao contexto regional, tanto na qualificação da sua população quanto, também, das empresas e organizações, a partir da melhoria dos processos, produtos e serviços. Conforme a Secretaria de Educação Superior (SESU) do MEC (2014), o desenvolvimento de uma região está diretamente ligado aos investimentos locais. O incentivo à educação, principalmente superior, poderá levar ao local certo crescimento, um processo que se dá pela necessidade de o meio se adequar à nova realidade, resultando também no desenvolvimento por conta do aumento da demanda de docentes, técnicos e discentes no local.

Porém, a ausência das políticas públicas faz com que os egressos do ensino médio sem opções de educação superior em sua região tendam a migrar, muitas vezes, em caráter definitivo, para locais onde a oferta é mais ampla e diversificada. A região abandonada perde a oportunidade de fixar profissionais altamente qualificados e os estudantes sem condições financeiras de migrar para regiões mais propícias perdem a oportunidade de se qualificar. Assim, a interiorização da oferta de educação superior é essencial para combater o desequilíbrio no desenvolvimento regional e atingir estudantes sem condições de se deslocar para outras regiões.

A partir desse contexto, verifica-se a importância e relevância em avaliar como as políticas públicas de ingresso e permanência no ensino superior têm contribuído para a melhoria da educação como políticas públicas, oportunizando não somente a inserção de estudantes de baixa renda no ensino superior, mas também a manutenção dos mesmos.

Destaca-se, ainda, a disponibilização dessas políticas na região de abrangência do estudo, através das ICES, sendo que parte só é possível pela existência das mesmas, e, consequentemente, pela ausência do Estado através de IES públicas na Região Fronteira Noroeste do RS.

Por fim, o estudo também busca verificar os avanços desses programas desde a sua criação e avaliar mudanças necessárias que possam contribuir para a melhoria dos mesmos.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ESTUDOS ANTECEDENTES – POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DO ENSINO SUPERIOR

Os estudos a seguir são apresentados por aproximarem-se da temática do estudo proposto, porém, contribuem para evidenciar o indeditismo que este aborda.

A tese de doutorado intitulada “Políticas públicas de expansão do ensino superior: a implementação do Prouni e Fies por instituições comunitárias de ensino superior no RS”, de Berenice Beatriz Rossner Wbatuba, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – Doutorado, da Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc, de 2018, analisou as políticas públicas de expansão do ensino superior brasileiro, desencadeadas a partir dos anos 2000, interpretadas e implementadas pelas Instituições Comunitárias de Educação Superior (ICES), tomando como referência empírica duas dessas instituições localizadas no estado do Rio Grande do Sul, a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e a Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). O estudo apontou que as ICES investigadas apresentaram apropriações distintas do Fies e do Prouni, condicionadas pela sua história institucional, pela sua inserção no território e pelos recursos (relacionais, financeiros e organizacionais) que dispunham por ocasião da conjuntura crítica.1

A dissertação de mestrado intitulada “O bolsista Prouni na Universidade de Cruz Alta: perspectivas e impactos sociais”, de autoria de Anderson Barbosa Scheifler, do Programa de Programa de Pós-Graduação em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, de 2016, apresenta a história e trajetória das instituições de ensino superior até a criação das Instituições Comunitárias de Ensino Superior (ICES) e a Unicruz, contextualizando as políticas públicas e relacionando o papel dessas instituições com o Prouni. Com o objetivo de compreender o Programa como uma política social que vem promovendo a ampliação do acesso ao ensino superior e, principalmente, do acesso voltado às populações de baixa renda na análise dos dados coletados, é possível afirmar que o Prouni trouxe impactos positivos significativos em seus 10 anos de existência e que,

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conforme a amostra pesquisada, os impactos gerados pelo acesso ao ensino superior estendem-se para além do ambiente universitário, proporcionando

transformações na vida desses estudantes nos âmbito familiar, social e do trabalho.2

A dissertação de mestrado intitulada “Políticas públicas para o ensino superior brasileiro 2003-2014, uma análise do Prouni e Fies”, de autoria de Tatyane Moura, desenvolvida no PPG em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná, de 2016,

discorre sobre as políticas públicas educacionais, no governo do Partido dos

Trabalhadores 2003-2014, analisando o Prouni e o Fies, que são políticas de acesso ao Ensino Superior voltadas para as IES privadas. As conclusões mostram que muito foi feito com relação ao ensino superior no período analisado, porém ainda

estamos em processo de atingir as reivindicações advindas da sociedade.3

Na dissertação de mestrado intitulada “Políticas públicas e ensino superior no Brasil: o desafio da inclusão social a partir dos programas Fies e Prouni”, de autoria de João Deusdete de Carvalho, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), de 2016, o autor analisou as políticas públicas para o ensino superior no Brasil criadas a partir da Constituição Federal de 1988 até 2014, especificamente os programas Fies e Prouni. O principal objetivo da investigação foi analisar a efetividade das políticas públicas disciplinadas pelo Fies e Prouni no âmbito do ensino superior brasileiro para a promoção da inclusão social no meio acadêmico. A pesquisa revelou que as políticas públicas implementadas no âmbito da educação superior brasileira são efetivas no que tange à inclusão social e o poder público deve canalizar esforços necessários para expandir os programas existentes, viabilizando o acesso a um número cada vez maior de estudantes, promovendo melhorias no que se refere à qualidade do ensino prestado pelas instituições privadas.4

A dissertação de mestrado intitulada “Direito à educação e política pública de acesso ao ensino superior: um debate sob a perspectiva dos beneficiários do Prouni”, de autoria de Maria Gorete Ferreira, no Programa de Pós-Graduação em

2Fonte: https://home.unicruz.edu.br/wp-content/uploads/2017/03/DISSERTACAO-ANDERSON-VERSAO-FINAL.pdf 3 Fonte: http://tede.utp.br:8080/jspui/handle/tede/1580 4 Fonte: https://repositorio.unisc.br/jspui/bitstream/11624/1318/1/Jo%C3%A3o%20Deusdete%20de%20Carval ho.pdf

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Direito do Sul de Minas, de 2014, se propôs a discutir a implementação de políticas públicas que asseguram o direito ao acesso no ensino superior como meio primordial para a inserção na sociedade. O estudo foi desenvolvido objetivando conhecer os significados de ser estudante universitário beneficiado pelo Prouni, da Universidade do Vale do Sapucaí - Univás, Pouso Alegre - MG, como política pública que pretende articular o efetivo exercício da igualdade. A conclusão do estudo aponta para o fato de que o Prouni, como política pública de inclusão no ensino superior, contribuiu de maneira significativa para os bolsistas da Univás, que pertencem à população de baixa renda, permitindo o ingresso no ensino superior

para a formação e atuação profissional, possibilitando o efetivo direito à igualdade.5

A dissertação de mestrado intitulada “Entre a realidade e a possibilidade: Prouni e a dinâmica inclusão/exclusão”, de autoria de Lupércio Aparecido Rizzo, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo – SP, em 2010, objetivou aprofundar a reflexão acerca da dinâmica inclusão/exclusão e compreender como os alunos bolsistas atendidos pelo programa se organizam para dar continuidade aos estudos. Os resultados da pesquisa permitem afirmar que o sentimento de satisfação que o aluno vivencia é o primeiro produto de uma equação que não se resolve apenas com a inserção no ensino superior. Contudo, os dados demonstraram que o programa ProUni possibilitou uma continuidade no processo de ensino e uma realização que

para muitos não era possível.6

Na dissertação de mestrado intitulada “Universidade para Todos: o Prouni na visão dos bolsistas de uma IES”, de autoria de Maria Aparecida de Almeida, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC Campinas, de 2009, a autora analisou o Prouni segundo a ótica dos bolsistas de uma IES privada do interior de São Paulo, do ponto de vista político, econômico, pedagógico e social, buscando verificar o modo como esse bolsista vê o programa. O estudo apontou que a maioria dos bolsistas vê o Prouni como um programa político que democratiza o ensino superior. Porém, para uma parte dos estudantes, o mesmo programa não democratiza o

5Fonte: https://www.fdsm.edu.br/mestrado/dissertacoes.php 6 Fonte: https://bibliotecatede.uninove.br/handle/tede/420

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acesso a esse nível de ensino, já que não universaliza tal direito a todos os jovens

que querem continuar seus estudos.7

A dissertação de mestrado intitulada “Políticas Públicas de Educação Superior – Programa Universidade para Todos: um olhar dos alunos beneficiários na PUC-SP”, de autoria de Fabiana de Souza Costa, do Programa de Pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, de 2008, analisa o programa do ponto de vista dos alunos beneficiários na PUC-SP, tendo como referência também alunos bolsistas de 8 instituições de Ensino Superior na cidade de SP. Os resultados apontaram que os mesmos reconhecem o programa como uma excelente oportunidade de acesso à universidade, servindo de porta de entrada

no universo acadêmico, até então distante para eles.8

Na sequência a seu estudo de mestrado, a tese de doutorado intitulada “O Prouni e seus egressos: uma articulação entre educação, trabalho e juventude”, também de autoria de Fabiana de Souza Costa, do Programa de Pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, de 2012, objetivou investigar se o programa, enquanto política pública de acesso à educação superior, possibilitou melhores condições de inserção no mercado de trabalho, assim como melhorias na condição socioeconômica de seus egressos. Os resultados apontam que, para os egressos do Prouni, cursar uma graduação representou novas perspectivas de ampliar o conhecimento, as relações sociais, as possibilidades de formação profissional, o acesso ao mercado de trabalho e a mobilidade social. O acesso aos níveis educacionais, desde a educação fundamental até o nível superior, isoladamente, não é suficiente para garantir uma ascensão social, mas sem o acesso à educação, certamente torna-se mais difícil uma evolução desses jovens na escala social brasileira.9

Mesmo considerando-se a possibilidade de outros estudos semelhantes, destaca-se a relevância desta pesquisa pela importância das políticas públicas, não somente do Prouni e Fies, mas também aquelas de âmbito local, oportunizando o acesso e permanência no ensino superior, criando condições para a conquista de uma vida melhor para boa parte da população brasileira, uma vez que a extinção da desigualdade social é um projeto de vida digno em cada país.

7 Fonte: http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/handle/tede/635 8 Fonte: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/10061

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2.2 DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO

Conforme Trennepohl (2011), a preocupação com a qualidade de vida da população, com os mecanismos centrais na determinação da dinâmica de desenvolvimento de distintos espaços sociais e com os impactos de diferentes ações, políticas públicas tem sido há muito tempo objeto de intensa atividade intelectual das Ciências Sociais, em especial da Economia, com a crescente tomada de consciência, em alguns países e regiões, para enfrentarem os problemas econômicos e sociais, o desenvolvimento regional e suas especificidades.

O desenvolvimento deixa, portanto, de se constituir em um conceito estático, que preconiza que a sociedade deve atingir um determinado estado específico considerado desejável, quase sempre baseado em algum exemplo já existente. Ao contrário, ao conceituarmos o desenvolvimento como um processo, o importante não é o seu estado final, mas sim os fatores que condicionam a evolução da sociedade de forma que esta mantenha características consideradas desejáveis. Nesse sentido, ao observarmos as regiões e países considerados desenvolvidos, o importante, segundo o conceito baseado na complexidade, não são as suas características que diretamente proporcionam uma melhor qualidade de vida à população (renda, organização econômica, recursos, etc.), mas sim as características sistêmicas (especialmente a combinação de regulação e liberdade) que permitem que estas sociedades consigam se adaptar e evoluir mantendo boas condições de vida para sua população (SILVA NETO, 2004, p. 19).

Para Castro e Oliveira (2014), apesar de todas as dificuldades e limitações, o termo desenvolvimento pode ser entendido como a capacidade de determinada sociedade superar os entraves à realização de suas potencialidades. A partir dessa leitura, o desenvolvimento pode ser abordado em múltiplas dimensões, sempre levando em consideração as especificidades históricas e espaciais de cada sociedade.

Almeida (2011) relata que na Europa, as políticas de desenvolvimento regionais surgiram em um contexto de reconstrução, expansão econômica e liberalização do comércio. Portanto, a atenção se voltou para a industrialização, e as disparidades regionais se resumiram à distinção entre as áreas urbanas industrializadas e as áreas rurais. Sendo assim, as políticas regionais implementadas geravam o aumento da industrialização nessas regiões rurais.

Os principais indicadores utilizados para estudos de disparidades foram: o emprego, PIB regional per capita, taxas de crescimento,

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densidade populacional, e o acesso à tecnologia, e as facilidades sociais e de infraestrutura. Como as políticas regionais surgiram em um contexto de melhoria do bem estar social, a educação também passou a ser tema de preocupação destas políticas, ou seja, ela se tornou um bem público tão importante quanto a saúde, nesse sentido o nível de educação básica melhorou (ALMEIDA, 2011, p. 36).

O autor destaca ainda que, no período do pós-guerra, ocorreu também um crescimento expressivo e uma proliferação de todos os tipos de educação superior. O número de estudantes e a quantidade de recursos despendidos na educação superior multiplicaram-se desde a década de 1960, e a graduação se tornou disponível também para as massas, deixando de ser um bem destinado somente para as elites.

Para Moraes (2014), o papel da instituição de ensino superior, por mais de 100 anos, esteve fortemente relacionado ao ensino e à pesquisa. Já as escolas técnicas e profissionalizantes tiveram o papel de formar seus alunos para o ambiente de trabalho, ou o mundo profissional científico. Essas eram as duas grandes diferenças entre esses dois tipos de educação de terceiro grau. As universidades eram percebidas como instituições onde se aprendia o conhecimento compreensivo e teórico; muitas vezes, pouco prático para a vida profissional, exceto no caso das áreas médicas, odontológicas, entre outras ciências com aplicações restritas:

[...] traçado pelo novo paradigma heterogêneo da geografia econômica, as universidades têm atribuições específicas para o desenvolvimento dos territórios. Tanto do ponto de vista do ensino, formando mão de obra qualificada nas mais diferentes áreas e requalificando a força de trabalho já inserida no mercado, quanto do das pesquisas desenvolvidas em seus laboratórios, centros e grupos de pesquisa, gerando novos conhecimentos em ciências básicas que, não raro, auxiliam no melhoramento de atividades produtivas. Além disso, no período atual, em que a inovação se torna elemento chave para o desenvolvimento produtivo, a importância das universidades torna-se muito maior do que já era no passado (TARTARUGA, 2010, p. 10).

Do ponto de vista de Hirsch (2010), a importância das IES para o desenvolvimento econômico tem sido amplamente reconhecida, principalmente a partir das experiências históricas das industrializações tardias, em especial as dos Estados Unidos e da Alemanha, que colocaram em evidência a centralidade que as suas funções básicas de cunho acadêmico, científico e tecnológico assumem no bojo das transformações estruturais da sociedade. De fato, a emergência da

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tecnologia moderna no final do século XIX, caracterizada pela aplicação intensiva de ciência, demarcou um campo de atuação para as IES no âmbito do desenvolvimento, que não cessou de ampliar-se desde então, à medida que o progresso técnico veio se acelerando e penetrando em praticamente todas as áreas das atividades humanas, até culminar, na atualidade, no que tem sido

genericamente denominado de economia do conhecimento ou, mais

apropriadamente, bio e infocom-capitalismo.

Conforme Vieira (2017), as IES têm sido avaliadas, portanto, sob uma ótica que as coloca como atores relevantes da transformação econômica e social, podendo influenciar de forma decisiva o desenvolvimento regional. Para o autor, as atribuições designadas às IES no processo de desenvolvimento foram revalorizadas, fazendo com que elas passassem a ser devidamente consideradas como atores cruciais dos sistemas de inovação. Suas atividades intrínsecas de pesquisas básicas e aplicadas, de disseminação de conhecimento científico e tecnológico e de formação e qualificação de recursos humanos incidem de forma decisiva na evolução e na trajetória do progresso técnico e, por consequência, no desempenho das empresas e, em termos mais amplos, da economia em seu conjunto.

Foi possível observar, nas últimas décadas, a revalorização do papel desempenhado pelas IES no processo de desenvolvimento econômico, motivada, principalmente, pelas rápidas transformações tecnológicas que vieram a estabelecer, em período recente, bases renovadas de geração e conservação de riqueza, cuja característica primordial consiste na aplicação intensiva de conhecimento científico na produção de bens e serviços. Essa dependência cada vez mais acentuada de técnicas aprimoradas e de força de trabalho qualificada deu maior peso às atribuições das IES, fazendo com que as suas funções básicas e inerentes de geração e disseminação de conhecimento passassem a ser consideradas também sob a perspectiva territorial (VIEIRA, 2017, p. 285).

Moraes (2014) traz o exemplo contemporâneo mais bem-sucedido, relacionado ao impacto da IES na região imediata, que é o caso da Universidade Stanford, na região do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Acredita-se que essa experiência não tenha sido ao acaso, não pelo planejamento da fundação dessa universidade naquela região, mas sim, pelo esforço empenhado por um de seus fundadores (Frederick Terman). Portanto, um visionário com capacidade de persuasão, mobiliza um grupo que leva adiante uma missão, que desde seu início começa a colher frutos que iriam se multiplicar. O resultado desse trabalho não

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apenas concedeu dois prêmios Nobel de Física a professores de Stanford, mas deu origem à região conhecida como Vale do Silício.

Moraes (2014) destaca que a Universidade de Stanford promoveu, na região do Vale, ambiente científico e democrático, onde laboratórios serviram como incubadoras, onde foi aplicada a ideia de que simples oficinas bastavam para o início de firmas de produtos eletrônicos, sem grande formalismo e hierarquia administrativa. Com essa mentalidade, foi crescendo uma região econômica com alta competência científica e produtiva.

Nessa perspectiva, verifica-se, a partir do exemplo exposto, e com a compilação de Mille (2004) destacada por Vieira (2017), como se evidencia os impactos que as IES promovem nas regiões em que atuam, demonstrando a importância que as mesmas têm para o desenvolvimento a nível local e regional, conforme consta no quadro 1.

Quadro 1: Classificação dos impactos das atividades da IES sobre as regiões

Fator

determinante Tipo Abrangência Efeitos Temporalidade Dinâmica

a) Famílias: efeitos diretos e induzidos sobre a renda e o emprego;

b) governo local: aumento da receita tributária e da demanda por serviços públicos; e

c) empresas locais: aumento da demanda efetiva (bens e serviços) e da competição nos mercados de trabalho.

a) Aprimoramento do nível de qualificação profissional: proporcional ao grau de permanência dos

diplomados na localidade;

b) estoque de conhecimento: interação IES – setor produtivo; e

c) maior atratividade local: externalidades positivas atraem indivíduos e empresas.

Longo prazo Gradual, acumulativa. Abrangem os benefícios

gerados para a localidade em decorrência das atividades finalísticas das IES: produção e difusão do conhecimento. Encadeamentos para frente (forward linkages) Conhecimento

Abrangem efeitos sobre a renda e o emprego locais, os gastos de consumo de estudantes e profissionais (administrativos, técnicos e professores) e os

investimentos das IES em serviços e equipamentos. Encadeamentos

para trás (backward

linkages)

Dispêndios Curto prazo Estática, pode

ser revertida.

Fonte: Mille (2004), compilado por Vieira (2017).

Ao analisar os investimentos em educação, de acordo com o INEP (2015), a proporção do investimento público dedicado à educação manteve-se praticamente estável entre 2005 e 2012 em quase dois terços dos países analisados. No entanto, Brasil e Israel destacam-se como os países onde houve o maior crescimento da proporção do investimento público voltado para a educação. No Brasil, em 2012, 17,2% do investimento público total foi destinado para a Educação. Em 2005 esse

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percentual foi de 13,3%. Entre os países analisados em 2012, apenas México e Nova Zelândia dedicaram maior proporção do que o Brasil.

Conforme o referido relatório, considerando apenas o investimento público em educação, o Brasil investe anualmente cerca de 3.000 dólares por aluno da educação básica. Esse valor, que se refere a 2012, é 110% maior do que o investimento médio por aluno registrado em 2005. Em média, os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) investem cerca de 8.200 dólares por aluno dos anos iniciais, 9.600 por aluno dos anos finais e 9.800 por aluno do ensino médio. Em média, o investimento dos países da OCDE por aluno da educação superior é 1,8 vezes maior que o do aluno dos anos iniciais do ensino fundamental. No Brasil, esse investimento médio chegou a ser 11 vezes maior em 2000, e hoje é 3,4 vezes maior.

2.3 DESIGUALDADE E MOBILIDADE SOCIAL

A temática da desigualdade é recorrente no Brasil e tem sido discutida amplamente nas últimas décadas, tanto no país quanto no exterior.

Cuando el tema es a desigualdad, entre un sinfín de injusticias y realidades inaceptables em el mundo, Brasil há sido, en las últimas décadas, la gran referencia. Reconocido como el país con las mayores dispridades del planeta, presenta, al mismo tiempo que logros tecnológicos, productivos, académicos, científicos, culturales, un conjunto de miserias igualables a los de naciones que han vivido bajo regímeres absolutistas de opresíon, impediendo el acesso de la mayor parte de su pueblo a condiciones de vida mínimamente aceptables. Brasil es país de contrastes tan grandes que la condición humana de casi 30 millones de personas puede considerarse cuestionable. Otra parcela de la población, es decir, mas de 100 millones de personas, sufren la inestabilidade, el terrorismo, la ameaza de perder su condicion de ciudadanos. Bajo conceptos com el de “marginalidad” viven, trabajan, circulan personas que se ven sometidas directamente a la lógica intempestiva de la explotación y que, en realidad, son estructuralmente necesarios para la usura. En una nación de aproximadamente 180 millones de habitantes, menos del 5%, o sea, unos 9 millones de personas, está en condiciones de participar de la lógica que permite disfrutar, en alguma medida, de las riquezas producidas en este país (SCHEINVAR, 2007, p. 7-8).

Campos e Mello (2011) destacam que a inserção social, concebida por nós, como o acesso e a interação do indivíduo aos bens culturais da humanidade, tem relação direta com a desigualdade social. Quanto maior for a desigualdade maior será a dificuldade de o indivíduo inserir-se na sociedade e vice-versa. Então, se a

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