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Estudo do lugar: Giruá e o Butiá, manifestações da cultura no espaço

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Academic year: 2021

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ESTUDO DO LUGAR: GIRUÁ E O BUTIÁ, MANIFESTAÇÕES DA CULTURA NO ESPAÇO

Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Câmpus Ijuí, RS, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em Geografia.

Orientadora: Profª Ms. Célia Clarice Atkinson

Ijuí, RS 2014

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MANIFESTAÇÕES DA CULTURA NO ESPAÇO

Elenir Maria Richter1

Célia Clarice Atkinson2

RESUMO

Este trabalho dedica-se ao estudo das manifestações culturais que permeiam as relações sociais dentro de um determinado território. A ação humana ocorre de diferentes formas em tempos simultâneos, resultado da infinidade de culturas que agem sobre o espaço natural. É este espaço e lugar que propiciam a percepção que ultrapassa o reconhecimento puramente físico do meio, havendo também aspectos da subjetividade e identidade que devem ser considerados. O município de Giruá tem como árvore símbolo o butiazeiro, espécie arbórea muito comum em toda a extensão geográfica que compreende a área urbana e rural, sendo que, desde o processo inicial de povoamento, os índios faziam uso de seu fruto e da palha, o que se estendeu a outros povos que aqui se estabeleceram, utilizando-se do mesmo para fazer compotas e, de sua palha, chapéus e colchões. Na década de 90 houve uma preocupação maior da comunidade local em resgatar suas raízes. O Decreto Municipal nº 972/90 instituiu o butiazeiro como árvore símbolo do município. A comunidade - imbuída de sentimento coletivo em firmar uma identidade cultural, através do resgate de seus referenciais histórico ambientais – buscou, através de ações concretas, incentivar o culto ao butiá, promovendo, além do reflorestamento, festivais de música nativista, Festa do Butiá com culinária e artesanato voltados à valorização do butiazeiro.

Palavras-chave: Espaço. Território. Identidade.

1 Aluna do Curso de Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, Câmpus Ijuí, RS.

2 Geógrafa e Licenciada em Geografia, Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Professora orientadora, docente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, Câmpus Ijuí, RS.

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MANIFESTATIONS OF CULTURE IN SPACE

Elenir Maria Richter3

Célia Clarice Atkinson4

ABSTRACT

This work is dedicated to the study of cultural events that permeate the social relations within a given territory. Human action occurs in different forms in concurrent time, the result of myriad cultures that act on the countryside. Is this space and place that provide the perception that goes beyond the purely physical recognition, while also having issues of subjectivity and identity that must be considered. The Girua city has the Pindo palm as the tree symbol, very common tree species across the geographic extent comprising urban and rural areas, while since the initial settlement process, the Indians made use of its fruit and straw, which spread to other people who settled here, using the same to make jams and their straw hats and mattresses. In the 90s there was a major concern of the local community to rescue their roots. The Municipal Decree Nbº 972/90 established the Pindo palm tree as a symbol of the city. The community - imbued with collective feeling in establishing a cultural identity, through the redemption of their notional environmental history - sought, through concrete actions, encourage the cult of butia, promoting reforestation addition, nativist music festivals, Festival of the Butia with cooking and crafts focused on valuing the Pindo palm .

Keywords: Space. Territory. Identity.

3 Aluna do Curso de Geografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, Câmpus Ijuí, RS.

4 Geógrafa e Licenciada em Geografia, Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Professora orientadora, docente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, Câmpus Ijuí, RS.

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Figura 1. Vale dos Butiazais...19

Figura 2. Bandeja de bambú com fibras de butiazeiro...21

Figura 3. Almofada trançada com folha de butiazeiro...22

Figura 4. Luminária de porongo com crochê e caroços de butiá...22

Figura 5. Conjunto de avental e pegador com butiás...23

Figura 6. Embalagem com poesia de Cecília Maicá ...23

Figura 7. Bolsa, chinelo, carteira e chapéu com fibras de butiazeiro e detalhes em tecido...24

Figura 8. Colar de macramê com butiá de resina...24

Figura 9. Torta Dourada...25

Figura 10. Delícia Gelada...25

Figura 11. Licores de butiá...26

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A identidade cultural de um indivíduo tem como base aspectos simbólicos relacionados ao seu território e a sua história, dentro de um contexto social mais amplo e de desenvolvimento coletivo, pois o território é espaço de práticas que incluem a apropriação espacialmanifestando as intenções sobre este espaço.

Toda sociedade define formas particulares de relações com seu espaço de vivência e produção, traduzindo-se em relações econômicas, políticas e culturais. Destas vivências deriva o valor que se atribui ao espaço, tendo grande relevância e significado na medida em que acentua a importância conferida à diferenciação concreta entre os lugares, ou como podemos chamar de reinvenção local.

A cultura é a herança deixada pelos antepassados e, portanto, transmitida de uma geração a outra. É por isso que torna-se necessário para cada sociedade preservá-la e perpetuá-la, o que fortalecerá o sentimento de identidade e pertencimento a um lugar.

As dimensões da vida constituem campos particulares de investigação da Geografia no estudo de uma sociedade local e historicamente determinada pelas relações produtivas, econômicas, políticas, culturais, religiosas que se estabelecem, entrecruzando escalas próximas e distantes. Além do mais, as experiências geográficas se dão pelos sentidos que mediam as experiências ambientais.

Partindo desse pressuposto, o butiá, fruto símbolo do município de Giruá, confere à comunidade local singularidade, na medida em que, ao perpetuar a história dos antepassados, valoriza aquilo que é nosso e pertence à cultura local. A culinária, artesanato, poemas e outras manifestações culturais locais são exemplo disso.

Hoje se reconhece o butiá como parte da história e cultura do povo local, envolvendo muitas pessoas da comunidade que vivem da produção gastronômica e do artesanato, utilizando a palha do butiá com características próprias que o diferenciam e estão promovendo o município a nível nacional e internacional. São os produtos com raízes locais que se espalham e levam a história local. Visitantes que chegam à cidade buscam produtos gastronômicos derivados do butiá para sentir seu sabor.

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fruto e a palha utilizados para fins diversos na culinária e no artesanato, perpetuando as raízes, a história e a cultura. São poemas, músicas, culinária e artesanato que declaram o amor do povo por esta terra e por este fruto.

Através de pesquisa de campo com pessoas da comunidade diretamente envolvidas na produção, venda e organização dos eventos com o tema butiá e revisão bibliográfica existente acerca do assunto, buscou-se o resgate da história com este fruto que geograficamente existe em abundância neste território e faz parte do cotidiano local, sendo hoje um dos grandes responsáveis pela união da comunidade não somente na busca e resgate da história e cultura, mas numa consciência coletiva de valorizar o que é inerente ao lugar – o butiá que serve de inspiração para elaboração de comidas, bebidas e um belo artesanato com características peculiares.

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2 MANIFESTAÇÕES DA CULTURA NO ESPAÇO

2.1 A geografia cultural

Falar sobre identidade cultural e territorial nos remete à necessidade de retomar a importância da geografia cultural, que terá suas origens no final do século XIX, dentro da Europa, num contexto de profundas discussões acerca da natureza da geografia e sua identidade frente a outras ciências. Claval apud Rosendahl e Corrêa (1999, p.7) destaca que: “foi a diversidade dos resultados da ação humana sobre a superfície da terra que atraiu o interesse dos geógrafos para essas diferenças que são efetivamente da natureza cultural”.

Além de discutir aspectos naturais, a nova geografia cultural se caracteriza pela preocupação de incluir estudos sobre a dimensão material de cultura e não material – religião. Por isso, manifestações culturais dos diferentes povos são adotadas, o que contribui para a conclusão de que aspectos econômicos não são suficientes para explicar os diferentes processos e formas de interação espacial portadoras de “uma objetividade, mas também geradoras de uma avaliação que culmina com diferentes intersubjetividades” (Claval apud Rosendahl e Corrêa, 1999, p.9).

A ação humana na Terra ocorre simultaneamente e de diferentes formas, pois coexiste uma infinidade de culturas agindo sobre o espaço natural, desenvolvendo atividades que objetivem mostrar a dimensão espacial da cultura dentro de um território. Cosgrove (1999, p.20) diz que: “(...) a geografia cultural tem sido influenciada por questões de enraizamento, mobilidade e identidade”.

Graças à mobilidade, são as diferenças decorrentes do espaço e especificidade de cada lugar que fornecem os elementos necessários e seguros para explicar tal diversidade. Espaço e lugar propiciam a percepção que vai além do reconhecimento puramente físico do meio, dando uma explicação que envolve contexto histórico, portanto há aspectos de subjetividade e identidade que devem ser considerados. A compreensão da temporalidade, sentido do lugar e experiência da paisagem como elementos temporais e que se constituem de lembranças e anseios do espaço geográfico, devem ser entendidos como elementos fundamentais que determinam a cultura e identidade de um povo, pois, segundo Cosgrove (1999, p.23), “a memória e o desejo substituem a temporalidade através do qual os lugares emergem como fenômenos vividos e significativos”.

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Estudos recentes tanto da Geografia Cultural quanto da História revelaram que a memória social ou individual representa a memória das “relações sociais”, extremamente importantes na constituição da identidade e do lugar. Bell apud Cosgrove (1999, p.23) descreve que: “as almas estão misturadas com as coisas, as coisas estão misturadas com as almas. (...) através de fantasmas reencontramos a aura da vida social na aura do lugar”.

Os lugares reforçam a memória social e o passado modela e confirma uma hegemônica temporalidade, como diz Cosgrove (1999, p.25), “o milenarismo é profundamente geográfico e histórico e, ao mesmo tempo, global e majestoso e intensamente localizado”. Abandona-se uma história linear em favor de uma temporalidade “mais flexível implicada pelo passado, tornando-se possível o olhar aberto como uma interrupção situada no fluxo do tempo, sendo tanto o futuro como o passado significativos” (Cosgrove, 1999, p.26).

Considera-se, portanto, o vivenciado, independentemente da época, como de fundamental importância para reverenciar o tempo, pois é na memória que estão as impressões de cada um. Aqui cabe destacar a fenomenologia, que valoriza as experiências vividas e adquiridas pelo indivíduo, sendo o espaço considerado um contexto experienciado.

Experiência é um termo que abrange as diferentes maneiras através das quais uma pessoa conhece e constrói a realidade. Estas maneiras variam desde os sentidos mais diretos e passivos como o olfato, paladar e tato, até a percepção visual ativa e a maneira indireta desimbolização. (Tuan, 1983, p.9)

A experiência vivida, independente de tempo, através das emoções dá colorido a toda experiência humana. Toda experiência individual ou coletiva é muito valorizada pela Geografia Humanista, a qual procura compreender o comportamento e maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares. É dentro desse contexto de valorização da subjetividade individual - que se dá através de atitudes e valores que se refletem no meio e no contexto onde a pessoa está inserida - que a geografia cultural se destaca por compreender a cultura* como elemento significativo nas relações que se estabelecem na sociedade. A esse respeito merece destaque o que diz Claval apud Nogueira (2013, p.25): “a geografia cultural surgiu da diversidade dos gêneros de vida e das paisagens, modificou-se com a urbanização e industrialização para relacionar-se na atualidade às representações e sentimentos de identidade”.

* Cultura – é a expressão maior da diversidade entre povos e raças, regiões e territórios. Em cada canto do território há uma manifestação de cultura como produto da herança histórica (Vieira et al., p. 17. Revista Administração em Diálogo. Programa de Pós-Graduados em Administração. PUC – São Paulo).

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2.2 Cultura, memória, identidade social e territorial

A cultura interfere na estrutura espacial das sociedades apresentando diferentes aspectos em cada lugar, pois, segundo Tuan (1983, p.4), “os espaços são centros aos quais atribuímos valores e onde são satisfeitas as necessidades biológicas”. A cultura é a mediação entre o homem, a natureza e a humanidade não se relaciona diretamente com o meio natural, mas sim tira dele os meios de subsistência e os transforma através do saber fazer e dos conhecimentos pelos quais os homens foram mediatizando suas relações com este meio, o que se constitui em cultura deixada aos descendentes. Conforme expõe Claval apud Nogueira (2013, p.26),

A cultura é herança e resultado do jogo de comunicação. Os indivíduos são condicionados pela educação recebida, portanto a cultura aparece como herança. A forma como a cultura é transmitida de uma geração a outra ou de um lugar a outro, beneficiada pelas trocas, deslocamentos ou migrações, está relacionada ao meio e ao nível técnico, contribuído para a diversidade das sociedades.

Recordar nossa própria vida é fundamental para nosso sentimento de identidade e pertencimento a uma cultura e o constante lembrar deste passado pode fortalecer ou recapitular nossa autoconfiança. Tempo e espaço compõem o quadro interior do qual o sujeito se reconhece, sendo que o espaço possibilita ao autor reconhecimento, que é um conceito de identidade. A memória não reduz apenas ao recordar, agregando diversidade de significados, como Delgado apud Nogueira (2013, p.27) destaca:

Ordenação e releitura de vestígios, relacionada à comportamentos, mentalidades, valores, retenção de elementos inerentes ao conhecimento adquirido; estabelecimento de nexos entre o presente e as experiências vividas; e invocação do passado, através de reminiscências e lembranças; afirmação de identidades através do reconhecimento da pluralidade e da alteridade, que conformam a vida em fluxo contínuo; atualização do passado no eterno presente; retenção e manifestação, através do ato de relembrar de reminiscências vagas, profundas, registradas, esquecidas, relacionadas; evocação de utopias, que libertam o homem, fazendo do passado suporte para reconstrução do presente e do futuro; manifestação de identidades plurais, múltiplas e sempre atualizadas; reconhecimento ou até mesmo superação de traumas marcados pela ausência de raízes; reconhecimento de espaços perdidos ou reencontrados.

A cultura é a construção adquirida em comunidade e sua permanência ou mutação deve-se às experiências vividas pelo homem ao longo dos tempos em sociedade, pois tanto o indivíduo como o grupo podem se projetar no presente e no futuro. Aqueles que a recebem como herança não a vivenciam passivamente, mas também criam formas de fazer, interiorizar

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traços ou negá-los, criticam valores que acham inadequados as suas ambições. A cultura permite que o indivíduo imagine o futuro e trabalhe para criar um conjunto melhor do que o presente (Claval apud Nogueira 2013, p.27).

Cultura não é estática nem existe cultura em estado puro sempre igual sem sofrer influências externas, sendo o processo de aculturação um fenômeno global, mesmo que de diferentes dimensões. Não estamos imunes à mudança e aos contatos com culturas variadas e posterior aculturação. “A cultura carrega uma dimensão simbólica, pois é formada de realidades e signos criados para descrevê-la, dominá-la e verbalizá-la, portanto é um fator essencial de diferenciação cultural pelos indivíduos” (Claval apud Nogueira 2013, p.28).

Existir coletivamente compreende construir a identidade de um povo. Dentro desse processo a memória pode ser interpretada como fenômeno social coletivamente elaborado e reproduzido ao longo do tempo, constituindo-se em patrimônio cultural, sendo ela dinâmica, mutável e seletiva, visto que nem tudo o que é importante ficará gravado para as futuras gerações, pois a memória não é algo do passado, mas um fenômeno que traz em si um sentimento de continuidade e coerência, seja ele processado individualmente ou em grupo em reconstrução em si, tornando-se fator preponderante para o entendimento do sentimento de identidade.

Entendendo-se a memória como um processo social e histórico composto de narrativas, acontecimentos marcantes, coisas vividas que, por sua vez, vão legitimar e reforçar a reprodução da identidade* do grupo, cabe então entender a identidade como a revelação de todo o investimento que um grupo faz, ao longo do tempo, na construção de sua memória. A respeito da identidade, Haesbaert (1999, p.172) destaca que:

Partimos do pressuposto geral de que toda identidade territorial é uma identidade social definida fundamentalmente através do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta, o espaço geográfico constituindo assim parte fundamental dos processos de identificação social.

Afirma-se, portanto, que não há território sem algum tipo de identificação e valoração simbólica (positiva ou negativa) do espaço pelos seus habitantes. “Assim como a identidade individual, a identidade social é também carregada de subjetividade e objetividade” (Haesbaert, 1999, p.174). O simbólico e o real - que carregam as marcas do * A identidade pode tanto se referir à pessoas como a objetos, coisas, implicando uma relação de semelhança ou de igualdade num objeto ou pessoa (HAESBAERT, 1999, p.173).

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vivido - constituem a identidade, a qual nada mais é do que elementos culturais que demarcam espaços que se refletem na arquitetura, gastronomia, práticas e costumes semelhantes e reconhecíveis em um local, ainda fortalecendo um sentimento de pertencimento daqueles que a usufruem.

Não devemos entender território apenas como espaço físico, já que o mesmo é carregado de significados e sentido para os integrantes dos grupos sociais que o ocupam:

Ao buscar compreender o movimento que faz com que o território constitua o lócus da vivência, da experiência do indivíduo com seu entorno com os outros homens, fazemos isso tendo a identidade como fator de aglutinação, de mobilização para ação coletiva. Essa relação identidade-território toma a forma de um processo em movimento, que se constitui ao longo do tempo como o principal elemento o sentido de pertencimento do indivíduo ou grupo com seu espaço de vivência. Esse sentimento de pertencer ao espaço em que se vive, de conceber o espaço como lócus das práticas, onde se tem o enraizamento de uma complexa trama de sociabilidade é que dá a esse espaço o caráter de território (Souza e Pedon, 2007, p.136).

De forma geral, pode-se dizer que território é a soma de intenções e ações que se concretizam a todo instante em diferentes pontos da Terra. É o homem formando e transformando, definindo e redefinindo o espaço tendo como elemento seu grupo, que carrega consigo as referências culturais, objetivos e sonhos. “É o real e o imaginário agindo” a todo instante.

2.3 O sabor enquanto experiência geográfica

A experiência geográfica é um fenômeno completo, envolvendo nossa relação com o mundo de maneira essencial. Ela se dá pelos sentidos - intuição e razão - operados pela percepção, sensação e entendimento do real e do símbolo.

Se o espaço está relacionado ao patrimônio natural existente numa região definida, o território nada mais é do que a incorporação e apropriação do espaço pela ação social de diferentes atores e nesta ação estão os sentidos como elementos subjetivos, portanto o sabor está contido nessa relação. Gratão e Marandola Jr. (2011, p.59) destacam que: “pensar a relação geografia e sabor implica a compreensão da existência experiencial e cultural humana, expressa pela geograficidade - expressão e significado do envolvimento homem-meio.”

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como diz Dardel apud Gratão e Marandola Jr. (2011, p.60), fundando a partir do corpo de uma geograficidade: expressão e significado do envolvimento homem-meio. Não percebemos o ambiente apenas pela visão ou audição, devendo considerar que todos os sentidos mediam nossa experiência espacial, tendo eles significados culturais específicos.

Claval apud Gratão e Marandola Jr. (2011, p.60) é da opinião que uma geografia que se pretende humanista e cultural necessita para pensar o espaço e o significado da experiência humana sobre a terra, “incorporar o paladar e seus temas de interesse”, sendo necessário ir além da degustação, da alimentação e da gastronomia. Ainda segundo ele, o “paladar se manifesta enquanto fenômeno da experiência geográfica a partir do sabor”, isto porque está ligado ao gosto, à experiência, à memória e aos valores culturalmente construídos; o sabor permite incorporar as dimensões da experiência e da cultura da geograficidade*.

2.4 Sabor da Geografia

Sabor vem de saborear. Saborear é uma experiência com o mundo mediada pelo tato (sabor é tátil, palativo) no ato de comer, sendo uma experiência mediada pela boca (contato direto) e não apenas pelo olhar; portanto, sabor em Geografar “faz parte da experiência da paisagem que é gosto e sensações, além de cor, som e cheiro”, conforme destaca Gratão apud Gratão e Marandola Jr. (2011, p.61).

O sabor é um traço de ligação do homem com a natureza, sendo ela fonte e projeção imaginária. Oliveira (2012, p.27) destaca que: “experiência gustativa envolve além do sabor, o cheiro, o som e a cor. A experiência evoca a memória, o imaginário e a identidade, transmitidos mediante linguagens, significados e símbolos: as essências de vida e de permanência”.

O sabor tem uma linguagem que é conduzida pelo paladar de cada alimento, sendo os significados do sabor exalados pelos aromas desprendidos da comida. O símbolo do sabor chega até nós pelo arranjo de cores e harmonia nos temperos. Essa experiência é única em cada um de nós de acordo com a subjetividade e o imaginário inerente ao processo de saborear.

* Paisagem, lugar, identidade e imaginário são os fenômenos revelados desta geograficidade, reclamando um entendimento epistemológico que permite pensar não apenas o sabor enquanto tema do estudo geográfico, mas, sobretudo o sabor como fenômeno, constituindo a essência da experiência geográfica (GRATÃO e MARANDOLA JR., 2011, p.61).

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Por mais palpável e subjetivo, o sabor é um sentido humano manifestado pelo paladar expresso no gosto (saboroso ou não; doce, amargo), e, por mais “material” que seja, embala os sonhos, a memória, fonte de inspiração poética, tal como se presencia em outras imagens simbólicas. O sabor é fruto da terra. Está presente no imaginário da natureza e na cultura. (Gratão apud Oliveira, 2012, p.28)

De forma ampla, pode-se afirmar que o sabor está enraizado na geograficidade, ligação essencial, telúrica, homem-terra e esta relação é muito subjetiva, pois, partindo de seu envolvimento com o lugar, o sabor adquire diferentes conotações. Ao degustar um alimento o homem se joga no imaginário, onde a realidade se transfigura para ser saboreada metaforicamente. É conservar o gosto de uma lembrança passada ou ainda não provada.

Enveredar-se por esse campo da Geografia remete a um fazer enraizado na valoração da paisagem e da cultura, o que se explica pelo sabor que brota da terra, envolvendo valores culturais, étnicos e humanos. É uma relação que se estabelece no modo de ver o mundo, valorizando crenças e significados dos lugares para cada um, pois entende-se que o sabor é uma extensão de nosso corpo e media relações homem-natureza - uma projeção cultural e uma paisagem valorizada.

A paisagem é vivida partindo-se de atributos invisíveis de sensação porque a sentimos, experimentamos, provamos e saboreamos, experiência esta que permite estabelecer sua essência. O sabor encontra-se na procura desta essência da paisagem, portanto a paisagem vai além do modo de vermos o mundo, é o sentir o mundo. Gratão e Marandola Jr. (2011, p.62), destacam que:

o sabor expresso no gosto e no cheiro é imaginação; é memória, porque nos remete a outros lugares, sentimentos agradáveis ou não, à experiências vividas. (...) Experienciamos o mundo com nosso corpo de sentidos que são extensões desse corpo o qual é a própria geografia sensória que se desenha a partir de uma dada corporeidade, fundamento da experiência do mundo.

A experiência do saborear é integral porque envolve paladar, olfato e tato, portanto não se pode excluir os sabores como menos importantes, eles são espaciais porque constituem e descrevem lugares e paisagens. Qualquer pessoa lembra algum prato feito pela avó ou alguém especial, bem como sabores experimentados durante viagens a lugares que não o seu de origem. Há sabores que nos marcam, portanto alguns lugares vêm a nós pelo sabor. A esse respeito destaca-se o que afirma Gratão apud Gratão e Marandola Jr. (2011, p.64), “da experiência espacial existencialmente significada, o sabor da geografia se estende aos grupos culturais, conformando na paisagem uma forma própria de habitar o mundo”.

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Assim como a gastronomia é algo histórico de um lugar ou região, podemos também destacar o artesanato como símbolo da cultura e história de um povo e se confunde com a história da humanidade desde o momento em que o ser humano criou e desenvolveu artefatos para garantir sua sobrevivência e bem-estar individual e coletivo, produzindo com suas próprias mãos aquilo que necessitava.

O artesanato é uma das mais ricas formas de expressão da cultura de um povo, sendo na maioria das vezes a representação da história de sua comunidade e a reafirmação de sua autoestima. Nos últimos tempos tem-se agregado a esse caráter cultural, o viés econômico, com impacto crescente na inclusão social, gerando trabalho e renda e potencializando vocações regionais. Como modelo produtivo, sustenta-se em um tipo de conhecimento especializado, não massificado e autorrenovável, fugindo do modelo produtivo massificado. O processo produtivo do artesanato sugere o aproveitamento de recursos naturais e tecnologias locais direcionados de forma a evitar o surgimento de influências externas negativas sobre o meio ambiente e a sociedade, garantindo um artesanato típico de cada lugar com características próprias e endógenas daquela comunidade.

Num mundo massificado de produtos similares, valoriza-se cada vez mais o singular que carregue consigo a história de um povo. Cada peça produzida traz a subjetividade e o simbólico do artesão e do lugar, portanto o artesanato é a representação e a expressão cultural local.

2.5 O butiá como expressão da identidade territorial e cultural

Butiá, nome popular que se aplica a um gênero de palmeira, desdobrado das palmáceas cocos. São sete espécies, cuja distribuição geográfica se faz num território que compreende o Brasil Central e Meridional, Uruguai, Paraguai e nordeste da Argentina. São de porte modesto com estipe marcado pelas cicatrizes foliares. As folhas são penadas e elegantemente curvadas. São plantas campestres e sociáveis. Dos representantes mais importantes destaca-se o B. yataí, elegante palmeira com tronco de mais ou menos 4 metros de altura e 40 cm de diâmetro (In: Receitas com Butiá, 2003).

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a borda de sua ocorrência, sendo a Província de Corrientes, na Argentina, o centro. Cresce isoladamente em campos abertos e entre vegetação arbustiva e arbórea, compondo também densos aglomerados, as conhecidas butiatubas. O elegante formato faz recomendá-lo para ornamento de parques, jardins e avenidas. As folhas, os frutos, bem como o tronco são de valor econômico. O tronco (estipe) é usado em estivados, na indústria de papel, bem como na confecção de calhas de água e cochos para alimentação de gado. As folhas fornecem crina vegetal para a fabricação de colchões e estofados. Tanto as folhas como as espatas têm uso em arranjos florais e ornamentações festivas. A polpa da fruta de agradável sabor, é empregada em preparo de licores, vinho e cachaça para aperitivos e a amêndoa é alimentícia e fonte de azeite alimentar.

Giruá pertence à região das Missões e foi território inicialmente habitado por índios guaranis. Possuindo uma vegetação muito peculiar composta por campos de barba-de-bode e butiazeiros que havia em grande quantidade nas áreas geográficas pertencentes a este município. Essas palmeiras são nativas e, como já citado anteriormente, encontradas somente em algumas regiões, constituindo um ecossistema único no mundo. Tais palmeiras representam muito para regiões onde são originárias, pois desde os tempos remotos as sociedades indígenas que aqui habitavam tinham como recurso alimentar o fruto do butiá, rico em nutrientes. Os índios que aqui habitavam chamavam as abundantes palmeiras (butiazeiros) de jerivás e pela grande quantidade dessa palmeira este local passou a chamar-se Jerivá e mais tarde, pela dificuldade dos imigrantes aqui chegados, em pronunciar a palavra jerivá, esta terra tornou-se Giruá.

Segundo relatos de moradores antigos que aqui habitavam as palmeiras de butiazeiro eram vistas por todos os lados em grande quantidade. O butiazeiro fazia parte da cultura e do cotidiano do povo, era corriqueiro, sendo o fruto usado para compotas e para fazer “cachaça” de butiá e a folha da palma era utilizada para fabricação de colchões e chapéus e as cascas como lenha para fornos de cozinha. Só se valorizava isso da palmeira.

Em virtude da grande abundância e pela falta de conhecimento de culinária diversificada com o fruto além da dificuldade da extração da polpa e do caroço, os butiazeiros foram arrancados em grande quantidade para dar espaço à agricultura. Em 05 de julho de 1990 através do Decreto n° 972/90, o então prefeito municipal instituiu o butiazeiro como árvore símbolo do município de Giruá sob a justificativa de tal palmeira encontrar-se ainda em abundância em suas terras, como também participar da raiz etimológica da palavra que

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denomina o município de Giruá e também pelo fato da população de Giruá estar imbuída de um sentimento coletivo de firmar uma identidade cultural, assim querendo resgatar seus referenciais histórico-ambientais.

Foi um sentimento que atingiu as lideranças em todos os setores da comunidade, destacando que essa preocupação com a identidade histórico-cultural também estava ligada com a preservação ambiental, destacando-se a palmeira do butiá. Nos anos de 1999, 2002 e 2003, a Administração Municipal realizou o Canto das Terra dos Jerivás, evento este que além de valorizar a música nativista tem como objetivo central enaltecer nossa terra dos butiazais. A música Essência Guarani, composta pela poetisa giruaense Cecília Maicá , fala de nossas origens, suas belezas naturais fazendo referência especial ao butiá. Esta música ficou em 1º lugar no 1º Canto da Terra dos Jerivás e se destacando-se como melhor poesia. Os demais festivais realizados também deram ênfase ao butiá.

Essência Guarani* Terra índia, Chão vermelho, Pago missioneiro, Sangue guarani... Sangue guarani

Emprestou a cor vermelha ao teu chão Terra dos dourados cachos de butiá Ao sol de janeiro perfumando o ar

Terra das boas aguadas,

Das cachoeiras tantas – puros mananciais Que quem mata a sede nas tuas vertentes Por mais que se ausente, não te esquece mais.

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Eu sou missioneiro, cresci em Giruá Correndo descalço na verde campina; Guarani-criança

com o arco do talo verde de butiá jogando minhas flechas de ilusão no ar

Banhando meu corpo nas tuas cascatas, Matando a sede nas tuas vertentes, Comendo butiá

E plantando meus sonhos em cada semente.

O ventre vermelho tupi-guarani

Guardou as sementes de um sonho guri Que desabrochou e veio me dizer Que a liberdade cheira a butiá.

Os piás pelas ruas calmas de Giruá São índios meninos cheirando a butiá E atiram castanhas

Sementes de sonhos que hão de vingar.

Poesia: Cecília Maicá Música: Roberto Carlos Salas Intérprete: Aureo Maicá

Não foi somente um resgate cultural do butiazeiro, isto porque, pessoas da comunidade voltaram-se para o plantio de mudas de butiás, destacando-se o Vale dos Butiazais hoje local de referência por possuir enorme quantidade de palmeiras do butiá, sendo o proprietário exportador da polpa e do suco para várias partes do Brasil e do Estado. O butiazeiro faz parte da história e da cultura local, portanto houve um resgate e valorização da cultura voltada à palmeira do butiá como fazendo parte do patrimônio cultural e da identidade dos giruaenses, através da música, poesia, pintura, artesanato e manifestações artísticas de trabalhos elaborados em escolas locais.

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Fig. 01 - Vale dos Butiazais

Fonte:<http://www.artesanatogirua.blogspot.com.br>. Acesso em: 25 out. 2013.

Para muitas pessoas da comunidade a palavra butiá traduz sabores e renda pois com a folha da palma podem ser confeccionados adornos, bolsas, utensílios para a casa, chinelos, chapéus entre outros, e da polpa do fruto licores, geleias, compotas, molhos, sorvetes etc. Muitas pessoas da comunidade tem nestes produtos sua subsistência, destacando que o butiá significa um recurso socioeconômico importante para a população, o que é comprovado pela Festa do Butiá, realizada há alguns anos pela Administração Municipal.

Além de preservar a cultura e história de nosso povo, este evento procura a valorização do que é próprio daqui, demonstrando uma preocupação com a conservação desse ecossistema. Pode-se dizer que a valorização do artesanato com a palha e caroço do butiá tem relação direta com a conservação desse ecossistema, que antigamente era uma paisagem predominante na região e hoje conta com poucos remanescentes. Além disso, o reconhecimento desse saber como um patrimônio cultural imaterial da comunidade da região contribui com a formação da identidade coletiva e com o sentido de continuidade da cultura levando ao respeito pela diversidade e estímulo ao processo criativo, restabelecimento de conexões perdidas e autoestima de todos os grupos envolvidos. É a valorização da cultura e

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troca de saberes.

Esta valorização do que é nosso, resgate da identidade e troca de saberes se faz através da Festa do Butiá na qual ocorre a elaboração de grande variedade de pratos derivados do butiá e artesanato exclusivamente voltado ao tema butiá. É momento de conversas entre os participantes do evento, encontro da comunidade, degustação de delícias feitas com o butiá. Cabe aqui destacar uma publicação sobre a Festa do Butiá:

De onde nasce o amor? O amor por uma cidade, por uma cultura, pela terra que vivemos... Penso que esse amor nasce daquilo que cultivamos, que vivenciamos, que conhecemos. Amamos, o que vemos e admiramos e por isso a importância de oportunizar experiências de aproximação entre a comunidade e a cultura, entre o povo e suas raízes. (Fátima Marizete Fernandes, Revista G Mais, mar/abr/2013 n°27 ano III).

A Festa do Butiá é uma “declaração de amor dos giruaenses à sua cultura, ao seu povo, aos que fizeram e aos que fazem a nossa história”, pois ainda Fernandes “povo culto não é o que sabe tudo de todas as civilizações e desconhece a sua” considerando inteligente o povo que valoriza sua história e que com a fruta da árvore símbolo do município criar arte, artesanato, receitas culinárias, música, poesia, conseguindo emocionar com sua história outros povos.

Em 2001, iniciou-se projeto com alunos de uma Escola da rede pública de ensino objetivando a valorização dos produtos derivados do butiá e da palmeira, tendo sido criado e mostrados mais de 30 itens entre artesanato, culinária, poesia e músicas com o tema butiá, surgindo assim uma nova vertente de possibilidades. Em 2003, ocorreu a primeira edição da Festa do Butiá, contando no ano de 2004, com a presença do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Sr. Miguel Rossetto. De lá para cá, todos os anos é realizada a festa com programação diversificada, sendo que no ano de 2010 houve um resgate objetivando investimentos no artesanato e gastronomia giruaense, bem como acreditando nas possibilidades que se abrem a partir do cultivo do que é nosso através de ampla divulgação na mídia, incentivo aos participantes e programação muito diversificada, levando o público a prestigiar o evento e contando com mais de 60 expositores. As programações variaram desde mostra de produtos do artesanato, exposição de fotos com o tema “butiá”, visita ao Vale dos Butiazais, concurso de pratos típicos a base de butiá até apresentações culturais étnicas.

Na 5ª edição da festa (2011), foi criada a Coleção Giruaense de Artesanato tendo como objetivo o enaltecimento da cultura e produção artesanal local, assim, como a

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preservação e valorização do nosso ambiente. A coleção pretendia fortalecer os ícones culturais e fomentar a utilização responsável e autossustentável das matérias-primas básicas regionais que é um dos fatores de valorização social, cultural e econômica. Tal coleção dividiu-se em “Cachos Dourados”, “Chão Vermelho” e “Tribo Bonita”, com inúmeros itens. Destaca-se a Coleção Cachos Dourados, que aborda o artesanato relacionado com o butiazeiro desde o artesanato feito com a palha do butiazeiro, a castanha, o talo da folha, o cacho, a corola (casquinha da parte superior do butiá), ráquis (talo do cacho), ráquila (galinhos onde butiás ficam presos) até licores e compotas. Também, nesta edição da festa foi criado o concurso gastronômico “Balaio de Sabores”, dividido nas categorias: doces e sobremesas, bebidas e salgados, todos derivados do butiá. Em edições seguintes houve o projeto “Plantando Meus Sonhos em Cada Semente” que buscou fortalecer e incentivar o plantio de butiazeiros tendo sido arrecadados mais de 300 Kg de sementes e centenas de mudas de butiazeiros foram plantadas e distribuídas à comunidade e visitantes.

=> Peças da Coleção Cachos Dourados

Fig. 02 - Bandeja de bambu e fibra de butiazeiro

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Fig. 03 - Almofada trançada com folha de butiazeiro

Fonte:<http://www.artesanatogirua.blogspot.com>. Acesso em: 25 out. 2013.

Fig. 04 - Luminária de porongo com crochê e caroços de butiá

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=> Peças da Coleção Chão Vermelho

Fig. 05 - Conjunto de avental e pegador com butiás

Fonte:<http://www.artesanatogirua.blogspot.com>. Acesso em: 25 out. 2013.

Fig. 06 - Embalagem com poesia de Cecília Maicá

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=> Peças da Coleção Tribo Bonita

Fig. 07 - Bolsa, chinelo, carteira e chapéu com fibras de butiazeiro e detalhes em tecido Fonte:<http://www.artesanatogirua.blogspot.com>. Acesso em: 25 out. 2013.

Fig. 08 - Colar de macramê com butiás de resina

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=> Concurso Balaio de Sabores

Fig. 09 - Torta Dourada

Fonte:<http://www.artesanatogirua.blogspot.com>. Acesso em: 25 out. 2013.

Fig. 10 - Delícia Gelada

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Fig. 11 - Licores de butiá

Fonte:<http://www.artesanatogirua.blogspot.com>. Acesso em: 25 out. 2013.

Fig. 12 - Empada Missioneira

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Os concursos de 2011 e 2012 foram propulsores da criação de um blog (http://www.artesanatogirua.blogspot.com.br), no qual são mostrados para a comunidade, região, Brasil e mundo as potencialidades culturais, gastronômicas e artísticas. Hoje são mais de 40.000 acessos com mais de 40 países visitantes em especial a China, que oportunizou a exposição dos produtos derivados do butiá na cidade de Macau na Festa da Lusofonia, que reúne o que há de mais interessante nos 10 países que falam a língua portuguesa nos setores de gastronomia, artesanato e musicalidade.

No blog pode-se encontrar a Coleção Giruaense de Artesanato, receitas e fotos da culinária com butiá, telefones dos artesãos e culinaristas giruaenses, regulamentos dos concursos gastronômicos dentre outras informações sobre nossa cultura e história. Nosso butiá vem ganhando destaque no Degusta Missões, sendo que muitos pratos à base desse fruto já foram premiados, citando-se a exemplo a Torta Dourada e a Empada Missioneira.

A artesã Iolanda Stasiak, escolhida para representar Giruá na Festa da Lusofonia, tem se destacado com um trabalho diferenciado feito com a palha do butiazeiro, destacando-se almofadas, puffs, baús, espelhos, aparadores, chapeleiros, mesas, cadeiras, bolsas, luminárias, relógios e bandejas. Tudo produzido com a fibra do butiazeiro trançada das mais diferentes formas, numa mistura de materiais rústicos com tecidos sofisticados.

O artesanato de Giruá também participa da Coleção Missões de artesanato, organizada pelo SEBRAE/RS. Sua escolha como selecionado para ir a um país tão distante deve-se as suas características culturais locais, que tem o jeito, a história e as raízes do povo giruaense, sempre utilizando técnicas e materiais nativos da cidade e da região. As pessoas querem coisas diferentes e de preferência que trazem a história de um lugar e, os produtos e artesanato feitos com o butiá encantaram muitos dos visitantes da feira, por se constituírem como produtos que trazem uma identidade.

De forma geral, nosso artesanato vem se destacando nos últimos anos na mídia regional e nacional, através de diversas reportagens como o Globo Rural, Campo e Lavoura e na TVE no Programa da Emater. O fortalecimento do nosso artesanato e gastronomia deu-se devido à Festa do Butiá, que funciona como maior fomentador da cultural local, onde artesãos e culinaristas tem se superado a cada edição com muita criatividade e inovação. São oferecidos na Festa: cucas, bolos, mousses, bombons, empadas, quibes, esfihas, cheesecake, tapioca, tortas, docinhos, biscoitos, entre outras delícias com butiá além de bebidas e artesanato diversificado.

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Estes produtos resultam de uma rede, tecida ao longo do tempo, que envolve recursos da região, modos de produção, costumes e hábitos de consumo. São produtos ligados ao território e à sociedade nos quais surgiu, trazendo como marcas a cultura, história e identidade territorial, dando-lhes características peculiares. Neste aspecto, destaca-se o que diz Albagli

apud Flores (2006, p.07):

(…) é possível estabelecer formas de fortalecer as territorialidades, estimulando laços de identidade e cooperação baseados no interesse comum de proteger, valorizar e capitalizar aquilo que um dado território tem de seu – suas especificidades culturais, tipificidades, natureza enquanto recurso e enquanto patrimônio ambiental.

O mais importante é valorizar e construir essa territorialidade dentro de um contexto interno e daquilo que é inerente a esta comunidade: seus produtos. O saber-fazer local é uma forma própria de expressão cultural que define a identidade, estabelece e fortalece relações, preservando a história e cultura de um povo.

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CONCLUSÃO

O butiá está muito presente na vida cotidiana das pessoas do município de Giruá, e a comunidade encontrou várias formas de fortalecer a cultura relacionada a ele. É o hino do município, tendo uma legislação municipal específica que instituiu o butiazeiro como árvore símbolo do município, festivais de música nativista com o tema butiá, poemas, artesanato, culinária. No artesanato as diferentes coleções criadas visam a fortalecer a identidade, enaltecer a cultura e a produção artesanal local, assim como preservação e valorização do ambiente, fomentando a utilização responsável e autossustentável de matérias primas básicas locais e regionais, além de incentivar o turismo, a geração de renda, onde, sem descaracterizar o que já foi construído, valoriza e reforça as tradições locais e regionais.

As pessoas diretamente envolvidas com o butiá, tanto no cultivo da palmácea, produção artesanal e gastronômica reconhecem seu potencial como gerador de renda e vislumbram um grande futuro para os produtos dele derivados, isto porque seu sabor é único e agrada aos diferentes paladares dos visitantes e dos nativos e o artesanato da palha e da semente tem características próprias do lugar e que traduzem a história local. O gosto e o cheiro do butiá estão presentes nas peças.

Percebe-se na revisão bibliográfica a preocupação de governantes locais e comunidade em resgatar a história do lugar, as raízes desta comunidade e o fortalecimento de laços que as unem. Todas as pessoas entrevistadas apresentam um entusiasmo muito grande quando falam do butiá e se lembram de histórias contadas pelos seus antepassados, quando dizem que o butiazeiro era muito comum e fazia parte da vida das pessoas, não de forma tão valorizada como hoje, ”tinha muito butiazeiro por todos os lados” e as pessoas não davam o devido valor, utilizando apenas o fruto para compotas e as palhas para chapéus e fabricação de colchões.

A grande devastação desta árvore por todos os lugares do município levou há alguns anos a um processo de reflorestamento em grande escala, principalmente depois que se mostrou a importância do butiazeiro como parte da história e cultura do lugar, além do reconhecimento de que é uma grande fonte geradora de renda nos dias atuais e que pode trazer benefícios tanto para o artesanato - muito enaltecido hoje fora do município - quanto para a culinária derivada do butiá - que tem se destacado regionalmente e conquistado

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paladares diferenciados.

A dinâmica envolvendo o butiá perpassa vários setores da sociedade que se unem em torno de atividades e produção dele e de seus derivados, inclusive a imagem do município divulgada fora está diretamente relacionada ao butiá. Visitantes, quando chegam ao local, procuram artesanato e comidas que trazem o butiá como tema central, assim como pessoas nativas, quando em visita a parentes, buscam nos pontos de venda os vários derivados do butiazeiro para levar de lembrança a parentes e amigos.

O Festival da Lusofonia de Macau - do qual representantes do artesanato local participaram levando vários produtos derivados do butiá - contribuiu para divulgar a cultura e história do povo, fortalecendo o artesanato, pois, segundo a artesã que lá esteve, “gostaram muito do cheiro da palha do butiazeiro e se impressionaram com as peças produzidas” e com o sabor do butiá, o que sem dúvida divulga tanto a culinária quanto o artesanato do butiá.

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REFERÊNCIAS

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FERNANDES, Fátima Marizete. Revista G Mais. Nov/2012, n. 24, ano II.

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