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Áreas de preservação permanente, reserva legal e o desenvolvimento sustentável na pequena propriedade rural

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Academic year: 2021

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Ijuí (RS) 2012

UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

FABRÍCIO CERETTA CAMPONOGARA

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, RESERVA LEGAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL

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Ijuí (RS) 2012

FABRICIO CERETTA CAMPONOGARA

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE, RESERVA LEGAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA PEQUENA PROPRIEDADE

RURAL

Dissertação apresentada ao Curso de Pós- graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, área de concentração da pesquisa: Direito, Cidadania e Desenvolvimento, da UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre.

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Ijuí (RS) 2012

C198a Camponogara, Fabrício Ceretta.

Áreas de preservação permanente, reserva legal e o desenvolvimento sustentável na pequena propriedade rural / Fabrício Ceretta Camponogara. – Ijuí, 2012. –

119 f. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Doglas Cesar Lucas”.

1. Área de preservação permanente. 2. Reserva legal. 3. Pequena propriedade rural. I. Lucas, Doglas Cesar. II. Título.

CDU: 347.243 502

Catalogação na Publicação

Tania Maria Kalaitzis Lima CRB 10/ 1561

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

Á

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elaborada por

FAB RÍCIO CERET TA CAMPO NO GARA

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas (UNIJUÍ): ___________________________________________

Prof. Dr. Luiz Ernani Bonesso de Araújo (UFSM): ___________________________________

Prof. Dr. Daniel Rubens Cenci (UNIJUÍ): __________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus, pela vida e pela saúde, minha, de meus familiares e das pessoas amigas que tenho ao meu lado e, também, por ter iluminado todos os meus caminhos.

À minha querida e amada noiva Vanessa da Rosa Moura, companheira de todas as horas, obrigado pelo carinho, amor e compreensão em todos os momentos, você é uma pessoal muito especial. Desculpa pelos momentos de viagens e ausências durante todo este período, obrigado

Aos meus pais, pela força e confiança em mim depositadas, especialmente naqueles momentos difíceis da minha caminhada.

Ao meu amigo Milton, pelo exemplo de vida, ensinamentos e valores, meu profundo agradecimento.

Aos meus avós Domingos e Olga Camponogara e Silvio e Gema Ceretta, obrigado pelo apoio e orações no decorrer da minha vida. Aos demais familiares, que sempre estiveram ao meu lado, obrigado pelo incentivo.

À minha sogra Maria, ao meu cunhado Ivo e a minha cunhada e colega de escritório Janaína que sempre me acolherem com carinho.

Ao meu orientador Dr. Doglas Cesar Lucas, exemplo de competência, obrigado pela ajuda, atenção, compreensão nas horas de dificuldade e pelas considerações relevantes para construção dessa dissertação. Sinto muito orgulho em ser seu orientando.

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Ao professor Dr. Gilmar Antônio Bedin, pelas sugestões feitas na banca de qualificação do projeto desta dissertação, todas no intuito de enriquecer o trabalho.

Aos professores Daniel Rubens Cenci, Luciene Dal Ri, Gilmar Antônio Bedin, Darcísio Corrêa, Sandra B. V. Fernandes pelas contribuições ao longo da realização do Mestrado. E da mesma forma, a todos professores e funcionários do curso de Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUÍ.

Aos colegas e amigos da turma do Mestrado em Desenvolvimento 2010, e, em especial, ao meu amigo Gean, pelos bons momentos de convivência e de companheirismo.

À Unijuí, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, por ser uma instituição séria e comprometida com a pesquisa em prol da comunidade.

Aos professores e amigos Braulio Otomar Caron e Rafaelo Balbinot, da Universidade Federal de Santa Maria, pelas contribuições técnicas que auxiliaram na construção do meu trabalho.

Aos meus amigos Anderson, Beto, Régis, Rafael, Fernando, Genésio e Paulo, pela compreensão e amizade.

A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho e me incentivaram no decorrer desta caminhada. A todos vocês, obrigado.

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RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo abordar os institutos das áreas de preservação permanente (APP) e da reserva legal (RL) com um diálogo sobre os aspectos de sustentabilidade na pequena propriedade rural. No que tange às Áreas de Preservação Permanente e a Reserva Legal, foram dois institutos restritivos ao direito de propriedade que mitigaram a ação do homem na natureza. Como objetivo, analisamos criticamente as possibilidades de harmonizar, de um lado, as exigências das áreas de preservação e de reserva legal e, por outro lado, a necessidade de compatibilizar melhores condições econômicas e sociais na pequena propriedade rural, sabe-se da importância de se preservar e conservar o meio ambiente, mas estas exigências não podem se sobreporem à sobrevivência do pequeno proprietário rural, que vive do sustento de sua propriedade. Com isso, chegamos à conclusão que há uma necessidade de adequação na normatização ambiental, com incentivos ou alternativas viáveis para que os pequenos proprietários rurais possam cumpri-la. No entanto, para concretização desse objetivo, é necessário que a sociedade promova um novo debate sobre o modelo de desenvolvimento presente no espaço rural, criando possibilidades para a participação das comunidades rurais na projeção de seus caminhos e integrando plenamente a dimensão social, econômica, ambiental e com profundidade a questão cultural, pois, reconhecendo os saberes das comunidades rurais, poderemos vislumbrar algumas soluções para crise ambiental.

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ABSTRACT

This current thesis has as its main objective to give an approach on the institutes of permanent preservation areas (PPA) and of legal reservation (LR) through a dialogue regarding the sustainability issues in the small rural property. Both, permanent preservation areas and legal reservation emerged as restrictive institutes to the property rights aiming to mitigate human action on nature. Moreover, as an objective, we critically analyzed the possibilities of harmonizing, on one side, the requirements for both preservation areas and legal reservation; and on another, the need for achieving better social and economic conditions of the small rural property, mainly analyzing some aspects that are characteristic of small rural properties. The importance of environmental preservation and conservation is well known, however, such demands cannot jeopardize the survival of the small farmers who depend on the use of their property to live. In this sense, we conclude that there is the need for adapting the environmental regulations, adding viable alternatives or incentives to the small farmers, making the regulations better to follow. However to make such alterations and accomplish the proposed goals it is necessary that society start to promote a new debate regarding the current development model in rural areas; creating new possibilities to incorporate rural communities participation in decision making process mainly of their own pathways. Such approach should fully integrate the social, economic and environmental dimension, going in-depth with the cultural issues; this is so because recognizing the rural community knowledge we can find some solutions to the environmental crisis.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 09

1 A CRISE AMBIENTAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 11

1.1 A sociedade do risco e o problema ambiental... 11

1.2 Desenvolvimento sustentável: nos passos de um conceito... 26

1.3 Agricultura e modernização: impactos ambientais ... 36

2 PROTEÇÃO LEGAL DO MEIO AMBIENTE NO BRASIL: ASPECTOS DE DEFESA DA RESERVA LEGAL E DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE ... 49

2.1 Meio ambiente ecologicamente equilibrado na Constituição Federal de 1988 ... 49

2.2 Considerações sobre o direito de propriedade no contexto brasileiro ... 56

2.3 Fundamentos dos institutos da área de preservação permanente e da reserva legal... 64

3 PEQUENA PROPRIEDADE RURAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A POSSIBLIDADE DE PRESERVAR, CONSERVAR E PRODUZIR ... 76

3.1 Formação da pequena propriedade rural e preservação... 76

3.2 Pequena propriedade rural: instrumentos de sustentabilidade... 80

3.3 Exigências legais de proteção ambiental e a cultura do pequeno proprietário rural ... 85

3.4 Gerenciamento da pequena propriedade rural: perspectivas e desafios ... 94

CONCLUSÃO... 105

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa discutir possibilidades de harmonizar, de um lado as exigências de preservação e conservação e, por outro lado a necessidade de compatibilizar-se melhores condições econômicas e sociais na pequena propriedade rural. No entanto, por se tratar de um tema abrangente, o foco principal vai se basear em uma análise legislativa ambiental na Constituição Federal e no Código Florestal brasileiro.

O tema tem sua justificativa devido à legislação ambiental pátria conter fortes mecanismos de regras e padrões de tutela ambiental, ao invés de incentivar políticas de gestão ambiental e como isso tem tornado difícil para os pequenos proprietários assimilarem às novas mutações legislativas.

A relevância do tema está fundamentada na preocupação ambiental que se impõe ao homem contemporâneo, pois os vários elementos que constituem o meio ambiente tem um caráter esgotável e finito, haja vista que foi próprio homem que chegou a conclusão que o crescimento a qualquer custo, não daria mais certo, portanto, hoje, não se admite mais a manutenção do conflito entre desenvolvimento econômico e preservação, a realidade é buscar a harmonização desses institutos.

A presente pesquisa está consubstanciada em três capítulos, além desta introdução e das considerações finais. No primeiro capítulo será abordado de maneira contextualizada a evolução histórica da crise ambiental, o surgimento da preocupação ambiental, os fundamentos do desenvolvimento sustentável e, também, verificar os impactos ambientais, que através da exploração irracional do homem, com auxílio da modernização da agricultura, moldaram um quadro de dilapidação dos recursos naturais que, antigamente, eram abundantes e que agora estão em uma situação de precariedade.

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No segundo capítulo será abordado os instrumentos ou politicas de comando controle de proteção legal do meio ambiente no Brasil, notadamente, os aspectos da reserva legal e da área de preservação permanente, começando pelo um estudo Constituicional, passando analisar o direito de propriedade no contexto brasileiro e, por último, a análise das restrições do direito à propriedade, ou seja, os fundamentos dos institutos das áreas de preservação permanente e da reserva legal. Essa abordagem legislativa é de suma importância, pois proteger o meio ambiente significa direcionar a ação do homem, que no ponto de vista histórico até agora, é considerado o seu maior predador. Todavia, a imposição de mecanismos jurídicos para tutela ambiental, também, foi uma preocupação latente do homem de estabelecer padrões de conduta adequados à conservação da própria sociedade humana.

No último capítulo, inicialmente, vamos analisar, juridicamente, o delineamento da pequena propriedade rural, posteriormente, vamos verificar, com enfoque principal, os instrumentos de sustentabilidade e a sua influência na pequena propriedade rural. Logo em seguida, estudaremos como a pequena propriedade rural dialogou com os aspectos de preservação, durante o período em que os sistemas agrários foram transcorrendo.

Posteriormente, verificaremos como os mecanismos jurídicos de tutela ambiental interferiram nas práticas agrícolas dos agricultores, ou seja, práticas que eram consideradas corretas, por parte dos agricultores, e com o prolongar do tempo se tornaram inadequadas ao ponto de vista da sociedade humana e, também, verificaremos como Estado, através do Poder Jurisdicional, vem disciplinando essas práticas agrícolas que hoje não estão de acordo com a legislação ambiental.

Por último, levantaremos algumas alternativas que podem se tornar viáveis à pequena propriedade rural, mas, sempre com o objetivo principal de harmonizar as exigências de preservação e preservação e, também, a necessidade de compatibilizar melhores condições econômicas e sociais na pequena propriedade rural. Dessa forma, a pesquisa tratará de apontamentos, não sob simples análise de conservação ou preservação do meio ambiente frente, mas, tratará, também, dos desafios impostos para desenvolvimento na pequena propriedade rural.

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1 A CRISE AMBIENTAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Um dos debates mais alarmantes atualmente é a crise ambiental que ocorre em nosso planeta. O ser humano, apesar de vivenciar catástrofes ambientais, a cada dia com mais frequência, continua a explorar de forma predatória os recursos ambientais, visando o crescimento econômico. A terra não tem mais capacidade de aguentar a intervenção do homem na natureza, com isso está gerando riscos, permanentes, que afetam a qualidade de vida dos seres humanos. Portanto, urge a necessidade da mobilização da sociedade de buscar novos caminhos de se viver com o meio ambiente, caso contrário, vai ser complicado de reverter o cenário de destruição em massa que está se apresentando.

1.1 A sociedade do risco e o problema ambiental

Para entender a sociedade na conjuntura atual no âmbito de risco e o problema ambiental, é necessário compreender os elementos definidores nessa nova realidade de risco, haja vista que foram vários fatores, dotados de particularidades importantes que contribuíram decisivamente para sua formação.

Assim, para chegar ao objetivo proposto é importante esclarecer de que forma o ser humano relacionou-se com a natureza e, também, verificar o deslocamento da posição da natureza frente às necessidades e interesses dos seres humanos, uma vez que muita coisa mudou, substancialmente, no prolongar do tempo, eis que, a maneira de cada sociedade explorar o meio ambiente não se manteve constante no decorrer da historia, pois a profundidade e a velocidade dos impactos variaram de acordo com as transformações culturais (PIVA, 2008). Portanto, no decorrer da história humana e conforme diferentes povos, a concepção da natureza apresentou-se de diferentes maneiras, mas o que se pode constatar, de plano, é que não existe nenhuma sociedade que tenha se relacionado em harmonia perfeita com o meio ambiente, “nenhuma civilização foi ecologicamente inocente” (ALCANTUD; MOLINA, 1992 apud FOLADORI; TAKS, 2004).

Desde o surgimento do homem na terra aconteceram transformações na natureza, pois a relação do homem com ela é muito antiga, data de uma época em que se acreditava que o ser humano seria julgado por tudo aquilo que fizesse contra o meio ambiente (MONTIBELLER-FILHO, 2008).

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Dessa forma, o primeiro conceito de natureza é o das culturas arcaicas (das sociedades pré-mercantis, não organizadas estatalmente, na concepção marxista), nas quais o homem é, antes de tudo, parte do grande organismo da natureza, concebido como a totalidade viva e divina, na qual é socialmente inserido pelos mitos e ritos sociais sagrados (MONTIBELLER- FILHO, 2008).

Nas sociedades primitivas a utilização dos recursos naturais era incipiente e obedecia a um padrão de respeito com a natureza e, também, à vida em sociedade era modesta e simples, com um grau de necessidade limitada à sobrevivência, por isso, a relação do homem com o meio ambiente, nessa época, era tranquila, tendo como fundamento a subsistência, ou seja, o ser humano utilizava os recursos naturais para satisfazer as suas necessidades básicas, não se preocupando em produzir, armazenar ou até mesmo, qualquer outro tipo de exploração (OLIVEIRA, 2009).

Segundo Ost (1997, p.31),

O homem primitivo não se arrisca a perturbar a ordem do mundo senão mediante infinitas precauções, consciente da sua pertença a um universo cósmico, no seio do qual a natureza e sociedade, grupo e indivíduo, coisa e pessoa, praticamente não se distinguem.

A primeira relação do homem com a natureza tinha seus fundamentos na ideia de inclusão da natureza em seus anseios, sendo que na sua concepção esta era uma criação divina e deveria, portanto, ser reverenciada, sendo que nesse período o pensamento das sociedades arcaicas não era procurar entender ou explicar ou seus significados ou suas funções, mas sim, admirar sua beleza e viver em paz com a mesma, não a agredindo, retirando o que era necessário para sua sobrevivência (MONTIBELLER-FILHO, 2008).

Tal forma primitiva de explorar recursos naturais estava, em grande medida, relacionada com a visão sacra que o homem tinha da natureza, ou seja: “o homem primitivo via a natureza como sinônimo de Deus, [...] e, portanto, ela devia ser temida, respeitada e aplacada”. (DREW, 2002 apud DILL, 2007, p. 15).

Outro fator que influenciou substancialmente esse período histórico, é que homem sofria de sérias limitações de conhecimento, era “comparado” a um animal não socializado, incapaz de desenvolver outras habilidades, senão as decorrentes do seu instinto de sobrevivência, ainda que possuidor de algumas técnicas, inerentes a todos os animais e

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necessárias à obtenção de alimentos, assim, viveu de forma semelhante a qualquer outro animal encontrado na natureza, com instintos muito fortes e sem maiores confortos (RODRIGUES, 2009).

Por conseguinte, não tendo instrumentos, habilidades e conhecimentos que lhe permitissem tornar-se um produtor, desenvolver-se e progredir. Vivia totalmente dependente daquilo que a natureza podia oferecer-lhe, sujeito aos ciclos naturais. Sua ação resumia-se a sobreviver com o que a natureza (florestas, campos, rios...) proporcionava. Nada produzia ou cultivava, não interferindo de maneira significativa nomeio natural existente (RODRIGUES, 2009).

E, por último, outro fator importante, desse período, para estagnação da degradação ambiental, nesse mesmo período, é fato que as pessoas viviam em grupos nômades, isto é, em pequenos grupos - menos de vinte e cinco pessoas e sobreviviam com poucos recursos existentes, haja vista que qualquer excesso prejudicaria a sua forma de vida, pois seria empecilho fazer o transporte de tais bens excedentes, não permaneciam instalados em um local por muito tempo, já que se deslocavam em busca de alimentos (PONTING, 1995).

Com o passar do tempo, esse cenário modificou-se, significativamente, uma vez que “dominou os mares, conquistou novas terras, desenvolveu a ciência e a técnica, inventou a máquina, construiu a fábrica e gerou uma civilização caracterizada pelo incremento econômico e tecnológico” (MILARÉ, 2005, p. 430).

O aumento da população gerou um proporcional acréscimo na demanda por alimentos e a natureza não foi capaz, por si só, de fornecê-los na sua totalidade. Surgiu a necessidade de buscar novas alternativas para suprir as demandas necessárias à época, nesse sentido, a escassez de alimento foi relativamente solucionada com o cultivo da terra e a domesticação de animais (RODRIGUES, 2009).

Diante disso, veio a primeira grande transição que ocorreu quando emergiu um modo de vida, totalmente diferente, tendo seus pilares fundamentados na agricultura e no cultivo de pastos para animais, capaz de causar importantes alterações nos ecossistemas naturais (PIVA, 2008).

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Essa transição teve impulso devido ao avanço das técnicas produtivas e o desenvolvimento de habilidades e instrumentos, o homem começa a produzir parte de seus alimentos, usando recursos do meio ambiente como sua fonte geradora, modificando as estruturas naturais no escopo de adaptá-las à satisfação de suas necessidades (RODRIGUES, 2009).

Desse modo, enfatiza-se que a agricultura provocou mudanças fundamentais na história humana e alterou radicalmente a própria sociedade. A principal diferença da agricultura, em contraposição à caça e à coleta, é que ela permite uma produção maior de alimentos em área menor. Assim, o ritmo do crescimento da população humana acelerou e tornou possível a formação de cidades complexas e hierarquizadas. (PONTING, 1995, p. 76).

O crescimento demográfico e o consequente aumento da demanda por mais alimentos, além da busca por melhores condições de vida, forçam o homem a buscar novas alternativas de alimentos e de sobrevivência. Dessa maneira, o equilíbrio existente entre a presença humana e a capacidade de neutralização dos danos provocados por sua ação no meio natural começa a ser rompido, devido, em tese, ao avanço do processo produtivo (RODRIGUES, 2009).

Assim, o crescimento das cidades conduziu um novo anseio pelo campo, o progresso da lavoura a um gosto crescente por montanhas e natura não dominada, a segurança diante dos animais selvagens a um empenho cada vez maior em sua proteção no seu estado natural, e o isolamento urbano em relação dos animais e plantas em geral a uma visão cada vez mais sentimental dos animais e plantas enquanto seres de estimação e contemplação. (LEIS, 1999, p. 58).

Paralelamente ao desenvolvimento da agricultura, surgiu às primeiras cidades impulsionadas pelo excesso de alimentos produzidos do trabalho na terra, suficientemente para sustentar os indivíduos não envolvidos na sua produção (PIVA, 2008). No entanto, esses fatores resultaram novos padrões de vida e de consumo, decorrentes do fato de o indivíduo deixar de viver isolado e de passar a pertencer a um grupo, produzindo alimentos para garantir a sua subsistência, conjuntamente com o aprimoramento de técnicas e processos científicos, resultando outros importantes fatores de transformação, dentre eles: o surgimento dos primeiros excedentes, os quais vão, aos poucos, servindo como moeda de troca entre tribos e como elemento incentivador do desenvolvimento das forças produtivas (RODRIGUES, 2009).

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Posteriormente, com o surgimento da Idade Média, fundamentada na filosofia aristotélica e na teologia cristã, se preocupavam em explicar a origem dos elementos que constituíam a natureza, mas, no entanto, consideravam a natureza como um ser vivo, orgânico e espiritual (STRECK; MORAIS, 2010).

Nessas visões de mundo não há, entretanto, a oposição com a ideia da existência de um criador. A natureza continua sendo considerada obra divina. Logo, a natureza é vista como exterior - pura e dada por Deus, havendo assim uma natureza humana e outra não-humana (SILVA, D., 2006). Dessa forma, o resultado desse pensamento foi a conclusão que a natureza englobava o mundo como um todo: seres humanos, natureza não humana e os deuses, sendo que esses pensadores adotavam uma posição reflexiva, ou seja, de questionamento e não mais imperialismo ao culto a natureza (CAMARGO, 2003).

Ressalta-se que nessa época o ser humano colocava-se na posição mais elevada na cadeia dos seres, de acordo com a ordem divina (visão teológica), resultado desse posicionamento, era a visão que a razão de existência da natureza era servir ao homem possibilitando a sua existência (concepção teológica) (CAMARGO, 2003).

Esse cenário modificou-se significativamente, uma vez que, o homem “dominou os mares, conquistou novas terras, desenvolveu a ciência e a técnica, inventou a máquina, construiu a fábrica e gerou uma civilização caracterizada pelo incremento econômico e tecnológico” (MILARÉ, 2005, p. 430).

Nessa perspectiva, uma das grandes promessas do paradigma da modernidade que estava caminhado em sua estrutura era a dominação técnica da natureza pelo homem. Isso somente foi possível a partir de uma base epistêmica que traçou uma cisão profunda entre o homem e a natureza. O chamado paradigma dominante foi construído no século XVI por autores vinculados às ciências naturais, dentre os quais se destacaram Renè Descartes e Isaac Newton, além de seus predecessores Kepler, Copérnico e Galileu Galilei. Esses autores fizeram uma ruptura com o paradigma da Idade Média (aristotélico-tomista) e instauraram o cientificismo mecanicista que dominou as ciências até o século XX (SILVA, 2009).

Nos séculos, XVI e XVII a concepção de mundo como um todo integrado se altera radicalmente. Com o estabelecimento de uma nova relação com o mundo, o homem, medida

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de todas as coisas, instala-se no centro do Universo, apropria-se dele e prepara-se para transformá-lo. Essa substituição de paradigmas deu-se pelas novas descobertas na Física, Astronomia Matemática, conhecida como Revolução Científica, que entendia o Universo como uma máquina (CAPRA, 1996).

Nesse sentido as ciências naturais não se contentavam mais em mostrar o que é maravilhoso ou bonito, mais sim, em identificar o significado da natureza, sem a sua modificação, descobrir as suas utilidades, com sua reprodução em laboratórios para tirar proveito das mais variadas formas (OLIVEIRA, 2009).

No século XVII, Galileu Galilei (1564-1642) emprega o método experimental e instrumentos de medição, o que possibilitou e elaboração de uma descrição matemática dos movimentos dos corpos celestes. Os fundamentos de Galileu romperam de modo instantâneo com a visão clássica de mundo representada pela visão aristotélica pela clara prevalência da racionalidade ética voltada com fundamento predominante teológico que era consolidado pela obtenção de felicidade, como isso, a caminhada na evolução da sociedade vai gradativamente, se afastando a razão clássica e da concepção aristotélica de felicidade, a fim de dar início à formulação dos pilares da modernidade (CAPRA, 1996).

Segundo os fundamentos ventilados por essa tese que no decorrer do tempo foi consentida e ganhou forma na estrutura da sociedade moderna, a natureza era vista com um mecanismo cujo funcionamento se regia por leis precisas e rigorosas, sendo seu funcionamento igual a uma máquina, ou seja, o mundo era composto de peças ligadas entre si que funcionavam de forma regular e que poderiam ser reduzidas à lei da mecânica, concluindo esse pensamento, a natureza, uma peça essencial para funcionamento dessa máquina (STRECK; MORAIS, 2010).

Seguindo nos passos da Revolução Científica Descartes surge com uma visão de mundo dualista, que separa res cogitans de res extensa, o que mostra claramente a distinção entre homem e natureza, portanto a atuação em campos opostos de homem-natureza veio a fazer parte do pensamento moderno e contemporâneo.

A ênfase dada ao pensamento racional em nossa cultura está sintetizada no célebre enunciado de Descartes, “Cogito, ergo sum” - “Penso, logo existo” -, o que encorajou eficazmente os indivíduos ocidentais a equipararem sua identidade com

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sua mente racional e não com seu organismo total. Veremos que os efeitos dessa divisão entre mente e corpo são sentidos em toda nossa cultura. Na medida em que retiramos para nossas mentes, esquecemos como “pensar” como nossos corpos, de que modo usá-los como agentes dos conhecimentos. Assim fazendo, também nos desligarmos do nosso meio ambiente natural e esquecemos como comungar e cooperar com sua rica variedade de organismos vivos. (CAPRA, 2006, p. 37).

Em síntese, na visão de Descartes o meio ambiente passa a ser concebido como um conjunto de objetos que estão a sua disposição, ou seja, a posição do homem frente à natureza é de senhor e a da natureza de escrava. Com isso a natureza foi reduzida ao estudo das suas formas, das relações, das potencialidades dos seus componentes, assim, passou a ter função como um recurso à disposição do homem (CAPRA, 2006).

No começo do período moderno, paradigma cartesiano instaura um corte radical entre o homem (possuidor da alma) e o resto da criação (entendida como matéria desprovida de toda dimensão espiritual), propiciando assim o exercício ilimitado da dominação da humana sobre a natureza que o avanço das forças produtivas requeriam. (LEIS, 1999, p. 11).

Assim, esse período, ficou marcado pela separação entre a ordem divina e a ordem humana, marcado pelo domínio da natureza pelo homem, dando ênfase as observações científicas para buscas de respostas, sendo expressas ao mundo através de uma linguagem matemática precisa, logo a investigação da natureza deveria se basear fundamentalmente na observação e nos experimentos, ou seja, em um método empírico. E, por final, não se poderia ter outro resultado do que homem intervir na natureza e querer controlá-la e a partir dessa época, os seus fundamentos que se propagaram pelos séculos subsequentes acentuando ainda mais a separação do homem e da natureza (McCORMICK, 1992).

Para complementação das ciências naturais, ou melhor dizendo, da Revolução Científica, Isaac Newton, responsável pela grande síntese mecanicista, em (1642-1727), dará vida a epistemologia cartesiana (dualista, reducionista e analítica), com a publicação do livro Princípios matemáticos da filosofia da natureza, unificando as descobertas anteriores sob uma única teoria, que poderia ser utilizada para explicação para todos os fenômenos físicos (CAPRA, 1996).

A concepção de um mundo estático, inanimado, distinto do ser humano, foi um caminho epistemológico e metodológico para ciência moderna criar meios de utilizar a natureza segundo os interesses do mercado exsurgente. A funcionalidade da natureza ao

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paradigma econômico dominante na modernidade é fundamentada pelo conceito utilitarista dominante (SILVA, 2009).

A modernidade se caracteriza fundamentalmente pelo logocentrismo e igualitarismo antropocêntrico. Sobre essa base construiu as sociedades modernas que encontram no Contrato Social seu pilar de sustentação. Essa base importante que permitiu a democracia moderna mostra, entretanto, graves limites quando analisada na ótica ecológico-ambientalista, pois no social vê apenas os seres humanos, sujeitos de direitos e deveres. Não vê a natureza com todos os seres da comunidade biótica e terrenal com subjetividade e autonomia e por isso com direitos a serem respeitados. Não há a perspectiva de uma democracia sociocósmica. (LEIS, 1999, p. 11).

Fazendo um balanço desse período no que tange às ciências naturais tem-se, então, ao longo da idade moderna o fato de que Galileu Galilei restringiu a ciência ao estudo dos fenômenos mensuráveis. Descartes criou o método do pensamento analítico, baseando seu entendimento de natureza na divisão fundamental de dois domínios independentes e separados (o da mente e o da matéria). Ambos criaram um mundo como uma máquina perfeita guiada na exatidão da Matemática, fortalecidos pela mecânica newtoniana.

A partir de tais premissas, a natureza passou a ser considerada apropriável e utilizada sem a responsabilidade e limitação devidas. Estas separações foram multiplicando-se no interior das ciências modernas, o que provocou um desrespeito ainda maior do homem com relação à natureza. Sendo o homem o “senhor do mundo”, o meio ambiente tornou-se um campo de ação da atividade industrial, do lucro e do progresso (OLIVEIRA, 2009). Portanto, a marca principal do paradigma científico é negar o caráter racional a todo e qualquer modo de conhecimento que não se amolde na metodologia mecânica de estudo. Ocorre uma cisão entre a natureza e ser humano. Pois, a natureza se mostra passiva e sempre disponível para ser desbravada, eis que, não tem qualquer outra qualidade ou dignidade que impeça o ser humano de desvendar os seus mistérios, desvendamento que não é contemplativo, mas antes ativo, já que visa conhecer a natureza para dominar e controlar (SANTOS, 2004).

O fato de a natureza possuir um valor sem que seja ligado ao benefício para o homem, especialmente de caráter econômico pode ser percebido pela maneira de considerar a natureza como um valor em si. Premissa essa que é fundamentada pela razão da cultura de dominação, de subjugação da natureza, ela é vista como um produto que deve servir ao homem (OLIVEIRA, 2009).

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Esta conduta humana antropocêntrica que coloca o homem como superior em sua relação com a natureza é uma das responsáveis pelo índice alarmante da vulnerabilidade dos recursos naturais. Problemas como a escassez e desequilíbrios dos ecossistemas são advindos dessa forma de pensar, que não leva em consideração a natureza em seu valor em si própria, mas enquanto objeto de satisfação dos caprichos humanos (OLIVEIRA, 2009).

Nesse âmbito, a conduta determinada pela divisibilidade dos objetos deixa de atribuir valor ao meio ambiente globalmente, ou seja, abordagem fica limitada. Por esta razão é que a ecologia é chamada a remodelar a forma de pensar, tratando o meio ambiente como o somatório de todos os ângulos, da inter-relação entre homem e natureza (OLIVEIRA, 2009).

No que tange a dimensão ética e econômica juntamente com a concepção cartesiano- newtoniano de ciência, surgiu uma teoria moral que viria para dar mais um passo, importante, para a construção do paradigma da modernidade, essa visão moral tinha seus pilares baseados na busca ou conquista da felicidade a qualquer preço, por meio de recursos que estavam à disposição ou necessários ao ser humano e, nesse sentido, usavam como causas justificadoras utilitaristas para o uso dos recursos naturais e ao desrespeito aos seres vivos não pertencentes à espécie do ser humano (SILVA, 2009).

O termo utilidade designa aquela propriedade existente em qualquer coisa, propriedade em virtude da qual o objeto tende a produzir ou proporcionar benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade (tudo isto, no caso do presente, se reduz a mesma coisa), ou 09 o que novamente equivale a mesma coisa) a impedir que aconteça o dano, a dor, o mal, ou a infelicidade para a parte cujo interesse está em pauta; se esta parte for a comunidade em geral, tratar-se-á da felicidade do mencionado indivíduo. (BENTHAM; MILL, 1974, p. 10).

Esta visão é base de sustentação do modelo liberal-burguês, tendo entre seus apoiadores e defensores Jeremy Bentham, James Mill e John Stuart Mill, apoiando na visão de utilização dos recursos naturais de forma irracional e descontrolada, buscando, somente, a felicidade momentânea, pois, segundo essa teoria os recursos naturais são apenas um conjunto de utilidades que servem para satisfazer as necessidades humanas com uma única finalidade de promover a felicidade (SILVA, 2009).

Para concluir, a construção do paradigma da modernidade, a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, aprofundou e estabeleceu de vez o domínio de uma razão que

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definia, predominantemente, a atuação da ciência e que concebia a natureza como um recurso infinito a ser explorado.

A revolução Industrial teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. Enquanto na Idade Média o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, Idade Moderna tudo mudou. A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscou alternativas para melhorar a produção de mercadorias. Também podemos apontar o crescimento populacional, que trouxe maior demanda de produtos e mercadorias. Pioneirismo inglês: Foi a Inglaterra o país que saiu na frente no processo de Revolução Industrial do século XVIII. Este fato pode ser explicado por diversos fatores. A Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, ou seja, a principal fonte de energia para movimentar máquinas e as locomotivas a vapor. Além da fonte de energia, os ingleses possuíam grandes reservas de minério de ferro, a principal matéria-prima utilizada nesse período. A mão-de-obra disponível em abundância também favoreceu a Inglaterra, pois havia uma massa de trabalhadores procurando emprego nas cidades inglesas do século XVIII. A burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria- prima e máquinas e contratar empregados. O mercado consumidor inglês também pode ser destacado como importante fator que contribuiu para pioneirismo anglo- saxão. (AQUINO, 1989 apud SILVA, D., 2006, p. 19).

Nesse contexto de transformação da vida, em sociedade, foi surgindo o Estado Moderno, período no qual o paradigma racionalista se torna dominante, a vida se torna organizada com classes sociais definidas e ideias de modernização e progresso. A revolução Industrial foi o grande ápice das transformações, modificando inclusive a relação do homem com a natureza, uma vez que esse passou a intervir na natureza de forma mais agressiva e constante.

Por conseguinte, a modernidade, é uma implacável ruptura com todas e quaisquer condições históricas ou períodos precedentes e com atuais concepções internas da sociedade, marcando toda a cultura ocidental, podendo referir que a Modernidade como estilo, costume de vida ou organização social que teve seu surgimento na Europa a partir do século XVII e que, posteriormente, expandiram suas fronteiras em suas influências. (PIVA, 2008 apud GIDDENS, 1991, p. 29).

Como se pode observar com a evolução da sociedade, várias questões fundamentais atuaram em conjunto e contribuíram de forma decisiva para redefinir o comportamento da sociedade e estabelecer uma nova Era conhecida como Modernidade, tais como: a emergência da classe burguesa, do racionalismo, do iluminismo e da cultura individualista, a Revolução Industrial, a consolidação do capitalismo como meio de produção da riqueza predominantemente, e, finalmente, após a Segunda Guerra mundial, a consolidação da produção e do consumo em massa (WOLKMER, 1994).

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Na Era moderna urbana e industrial, as pessoas passaram a associar avanços tecnológicos com a melhoria na qualidade de vida, inaugurando uma fase de grande consumo de mercadorias, cuja produção tem exigido volumes crescentes de recursos naturais e energéticos, ou seja, os confortos levantados pelos adventos da modernidade afetaram todos os níveis da sociedade, dentre eles: o econômico, o social, o religioso, o político e o cultural e, também, teve efeitos na maneira de compreensão do meio ambiente e o modelo de relação que a sociedade estabelecia com este (EDDINE, 2009).

A sociedade nas suas transformações ganhou, através da sua ciência, um grande avanço tecnológico e possibilitou ao ser humano facilidades e confortos, no entanto, essas facilidades e confortos priorizaram, somente, o acumulo de riquezas, não se importando com as questões sociais e ambientais, ou seja, esta ficou para um segundo plano (FERNANDES et al, 2005).

Segundo Dill (2007), os confortos ofertados ao homem pela Modernidade, em particular, com os avanços tecnológicos (industrialização), são incontestáveis. Por outro lado, esses benefícios não forma e não estão sendo utilizados em prol da vida, mas sim do capital.

As mudanças promovidas com o advento da modernidade afetaram todos os níveis da sociedade: econômico, social, religioso, político e cultural, bem como refletiu na forma de compreensão do meio natural e modelo de relação que a sociedade estabelecia com este. Na visão de Beck (1997, p. 15), “[...] uma fase no desenvolvimento da sociedade moderna, em que os riscos sociais, políticos, econômicos e individuais tendem cada vez mais escapar das instituições para controle e a proteção da sociedade industrial”.

Nesse modelo social, como uma fase de expansão da sociedade industrial, mas sem perder essa característica de produção de riqueza, encontra-se sistematicamente acompanhada pela produção de riscos, através da criação de ameaças potenciais cuja extensão não é conhecida. Tal sociedade é marcada pela irresponsabilidade organizada, pela qual o risco é ocultado e negado pelas instituições, pretendendo desconhecer sua realidade (AYALA; LEITE, 2002).

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Nesse sentido, emerge o conceito de sociedade de risco, qualificada pela:

[...] emergência de novos e problemáticos perigos ecológicos e catástrofes, que descrevem, em síntese, a falência do Estado como modelo de regulação desses novos problemas e a quebra da relação de legitimidade entre as suas instituições e as promessas de manutenção da segurança dos cidadãos. O descumprimento de suas promessas indica que, nesses modelos de sociedade, as relações com o Estado devem ser diferenciadas, e não se bastam com as fórmulas clássicas dos deslegitimado modelos policial e liberal, fundados no pilar da regulação, e muito menos com proposta social (AYALA; LEITE, 2002, p. 12).

Giddens (1991) denomina esse momento como uma mudança na estrutura da sociedade, com uma natureza intrínseca das instituições modernas, pois a modernidade permitiu ao ser humano uma vida mais segura e com várias alternativas de desenvolvimento tecnológico, ela permitiu, também, uma arma destrutiva dos recursos naturais. Portanto, o paradigma moderno se situa em uma conjuntura em que o compromisso de uma vida com prazer e segurança é, contraditoriamente, desafiado pela criação de novos riscos que decorrem do avanço tecnológico que propaga uma suposta qualidade de vida para ser humano por meio de seus benefícios tecnológicos.

A modernidade esclarece que ela acentua velhas formas de desigualdade social à medida que inicia novas maneiras de exposição ao risco, um exemplo, é a população dos países pobres, devido ao processo de industrialização, sendo uma ameaça invisível da fome, da contaminação, da exclusão social e, bem como, de outras externalidades do processo de industrialização e diante desta situação tem-se pouca ou nenhuma possibilidade de escolha ou saída, mas, o que se pode notar, visivelmente, é que a necessidade de manutenção da vida imediata se coloca antes de qualquer processo conscientizador das ameaças invisíveis proliferadas da indústria (BECK, 1999).

Na análise de Beck (1999), a sociedade atual é tida com uma sociedade caracterizada pela produção de riscos. Entende-se, ainda, que a produção em potencial dos riscos a que a humanidade está exposta advém, em grande parte, da inovação tecnológica que se dedica mais em produzir as novidades do que em saber qual o objetivo em termos sociais dos riscos que elas poderão concretizar, bem como estes riscos são produto da atuação humana e um traço característico da sociedade industrial, pois para ele, a produção social da riqueza vem acompanhada pela produção dos riscos.

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Entretanto, não há como negar que as inovações tecnológicas produziram novidades, às quais os seres humanos devem muito pelas melhorias nas condições de vida a que trouxeram e trazem a cada dia que passa, entretanto, a instabilidade se prolifera diante dos riscos introduzidos por essas novas tecnologias. Mas, se fizermos uma reflexão, vamos perceber que muito mais as novas tecnologias nos devem pelos riscos a que estamos expostos, especialmente se considerarmos que os mais expostos a essas ameaças são aqueles que, geralmente, menos se beneficiam com as novidades da ciência (BECK; ZOLO, 1997, 1998).

Francioli (2005) considera que a sociedade de risco possui um fundamento no desenvolvimento social, econômico e no avanço tecnológico, essa sociedade suporta os impactos negativos causados ao meio ambiente, em virtude de seu próprio conforto. Ao se retirar matéria-prima do meio ambiente sem compensar essa perda, acaba-se produzindo efeitos negativos, que no direito ambiental, é chamado de externalidade negativa. Esses efeitos negativos acabarão prejudicando os direitos das gerações futuras.

Como menciona Silva (2011), a dinâmica das relações sociais que se caracteriza pelo avanço tecnológico, pela capacidade de destruição do meio ambiente e pelo deslocamento das relações no tempo e no espaço, origina um ambiente de instabilidade crescente. As relações humanas estão cada vez mais distanciadas, não é possível qualquer tipo de controle da ação do outro, nem a garantia de correspondência entre expectativa e resultado, o distanciamento entre peritos e leigos, também não permite qualquer tipo de controle que garanta a eficácia do conhecimento ao qual o indivíduo confiou à própria segurança, soma-se a isso a crescente potencialidade destrutiva que é inerente a tecnologia moderna e que expõe todos a novos riscos e ameaças.

Para Bauman (2003), existe uma noção de insegurança no contexto da globalização, que e exprime por meio da falibilidade das relações comunitárias entre os indivíduos, da supressão de instituições públicas no sentido de abrangência da coletividade para objetivos comuns e, principalmente, da supremacia do capital em detrimento da solidariedade social, caracterizando cada vez mais a sociedade atual, entre outros aspectos. Para tanto, isso significa que o atual estado das coisas potencializa as crises. A crise ambiental, a crise da soberania estatal, a crise existencial e outras crises que se desenvolvem diariamente advêm desse período histórico de transição, em que não se pode afirmar ou fazer pequenas previsões do futuro, mesmo próximo (BAUMAN, 2003).

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Para Giddens e Lash (1997), na mesma linha de pensamento, complementam dizendo que o risco é a expressão característica de sociedades que se organizam sob a ênfase da inovação, da mudança e da ousadia. A potencialização dos riscos da modernização caracteriza, assim, a atual sociedade de risco, que está marcada por ameaças e debilidades que projetam um futuro incerto. Diante dessas incertezas, a conscientização quanto aos riscos é fundamental para que um processo democrático em busca de soluções possa a ser desencadeado, logo a ineficiência dos poderes públicos, principalmente na efetivação de um planejamento sustentável das comunidades.

Segundo Giddens (2007), o risco é dividido em dois tipos, o primeiro, é chamado risco externo, é aquele que resulta, em parte, da natureza, ou seja, faz relação com que a natureza pode fazer com o ser humano, enquanto que o segundo o risco fabricado, está em conexão com a atuação do homem na Terra, diretamente influenciado pela globalização.

O risco fabricado remete ao questionamento sobre o que o homem fez e está fazendo com a natureza. Em decorrência disso, quando ocorre algum evento que poderia ser considerado natural, surge a dúvida sobre se suas causas são realmente naturais ou se são resultado da ação do homem sobre o meio ambiente natural. Já não se sabe mais até que ponto vai à natureza e a partir de onde se pode considerar a intervenção humana (GIDDENS, 2007).

Enquanto que o segundo risco, o fabricado, expande-se a ponto de se sujeitar a população mundial a problemas cada vez maiores. Sempre houve vinculação do risco com a possibilidade de cálculo, tanto é que as empresas seguradoras atuam com base nestes cálculos para avaliar as chances de ocorrência de um acidente, por exemplo. Ocorre que com a relação aos riscos fabricados não há possibilidade de realização de cálculos atuariais, pois nunca se sabe qual o nível do risco ou qual a sua amplitude. Ressalta-se, que muitas vezes, ele só é percebido quando há mais o que fazer para reverter seus resultados (GIDDENS, 2007).

Segundo Beck (1999), contexto da sociedade risco traz preocupação, que se podem resumir em três características: os riscos não sofrem limitação do tempo e do espaço, por exemplo, uma ação realizada no Brasil poderá ser percebida em qualquer lugar do mundo, sem que se saiba, exatamente, onde isso irá ocorrer, ou seja, posteriormente, existe uma dificuldade identificar o nexo causal entre o dano e a sua origem, pois é enorme a dificuldade de encontrar os responsáveis por determinados problemas e, por último, é fato que,

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geralmente, não podem ser compensados, portanto por ser impossível a atuação eficiente, posteriormente, a sua ocorrência, uma simples ameaça deve se justificar a sua prevenção.

A nossa realidade atual é que vivemos em uma sociedade mundial de risco, e não pode ser negada sua existência, sob pena de serem gerados, ainda, mais riscos, pois a recusa em tomar consciência disso ou da simples tentativa de escapar dos riscos pela simples aceitação das novas tecnologias, não se estará preparado para enfrentar os futuros acontecimentos incertos (BECK; ZOLO, 1997, 1998).

Nesse sentido é, ainda, mais temível, quando a sociedade mundial de risco, nega a existência dos riscos, seja pela condição de ignorância social que se apresentou na sociedade, seja pela negação de informações sobre os riscos ou, também, pela credibilidade de uma ciência, pois, quando os efeitos concretos se manifestam, costumam serem para avalizarem a majoração dos limites de tolerabilidade e da suportabilidade dos recursos naturais da terra. Assim, a melhor forma, é aceitar que os riscos estão presente por toda a parte e se aparelhar de instrumentos para conviver com eles da melhor maneira possível (BECK; ZOLO, 1997, 1998).

A condição de negação dos riscos, agora, não pode ser assumida pelo ser humano, eis que os riscos são frutos dos contínuos processos de decisão, inerentes às complexidades do mundo moderno, em que tudo flui de maneira descontrolada. O meio ambiente se amolda de forma perfeita nessa definição, pois o explorador dos recursos naturais tem a plena consciência dos riscos a que expõe a humanidade, por mais desconhecidos que seja, todavia, continua só se preocupando com melhores condições de vida em curto prazo (BECK; ZOLO, 1997, 1998).

Diante dessa situação, em um ambiente de risco, a sociedade, começa a pensar sobre as consequências desse desenvolvimento que se apresenta um tanto incontrolável, ou seja, a percepção de novos riscos, constantemente, antes não perceptíveis diante da expansão cega da sociedade industrial, sendo que o importava era crescer independente dos seus efeitos para humanidade, hoje, porém, há necessidade de uma profunda reflexão questionando esse modelo desenvolvimento (FERNANDES et al, 2005).

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Com isso, levou o ser humano a refletir e a tomar precaução com o modelo de desenvolvimento da sociedade industrial, justificando essa situação, o surgimento de novos instrumentos, nos diversos ramos do direito, tais como: no direito civil, penal, consumidor, e, especialmente, no direito ambiental.

1.2 Desenvolvimento sustentável: nos passos de um conceito

Os impactos ambientais negativos advindos das alterações antrópicas do meio em que se vive, tem causado sérios danos à natureza, muitas vezes irreversíveis, ou muito onerosos, quando passíveis de restauração como: a poluição dos recursos hídricos rurais, por meio de despejos irregulares de efluentes domésticos, aporte de nutrientes ou contaminantes e resíduos sólidos, sendo que todos os aspectos, mencionados, estão intimamente vinculados às questões sociais, políticas e econômicas (VAITSMAN; VAITSMAN, 2006).

Não há um equilíbro nos interesses dos seres humanos, pois, alguns querem crescimento econômico mesmo que ferindo o meio ambiente, enquanto outros preferem um patamar de harmonia com a natureza, preservando para suas gerações futuras tentarem viver uma vida digna com sua qualidade de vida, predominantemente, boa (PUREZA, 1998).

É nítido conflito entre desenvolvimento econômico e o equilíbrio ambiental, eis que é uma problemática que se discute há vários anos, mas, a sua relevância adquiriu valores significativos nos tempos atuais. Sua preocupação aumentou devido a vários problemas ambientais que estão aparecendo com o prolongar do tempo como, por exemplo, a diminuição da qualidade de vida do ser humano, através de doenças das mais variadas espécies (LEITE, 2004).

A partir da década de 60, o ser humano, constatou estar atravessando uma crise ambiental que nas últimas duas décadas vem se proliferando, significadamente, o nível dessa crise, de problemas em escala local ou regional, tais como: poluição do ar das cidades, derramamento de óleo em rios e mares, vazamento em usinas nucleares, mortandade de peixes e animais marinhos, destruição de grandes áreas de mata pelo fogo ou desmatamento desenfreado, perda de grandes extensões de terra aptas para agricultura pela prática de uma agricultura inadequada, detritos sólidos amontoados, passou-se, a problemas em escala planetária, dentre eles: aquecimento global, redução da camada de ozônio, perda

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biodiversidade (FOLADORI, 2001).

Os passos da crise ambiental aconteceram ao prolongar da evolução da sociedade, considerada como um reflexo normal do progresso tecnológico e econômico, podendo citar como evento de progresso tecnológico e econômico, a Revolução Industrial, na Inglaterra, que intensificou a exploração dos recursos naturais. Mas a ideia de finitude dos recursos naturais, somente, passa a ter relevância após a Segunda Guerra Mundial, onde o ser humano percebeu que os recursos naturais eram escassos e que seu mau uso poderia causar sérios danos ao futuro da humanidade (BERNARDES; FERREIRA, 2003).

Um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos, promovendo significativamente transformações no comportamento da sociedade e na organização política e econômica, foi a chamada “revolução ambiental”. Com raízes no final do século XIX, a questão ambiental emergiu após a Segunda Guerra Mundial, promovendo importantes mudanças na visão do mundo. Pela primeira vez a humanidade percebeu que os recursos naturais são finitos e que seu uso incorreto pode representar o fim de sua própria existência. Com o surgimento da consciência ambiental, a ciência e a tecnologia passaram a serem questionadas. (BERNARDES; FERREIRA, 2003, p. 27).

A explicação das causas da crise ambiental não se encontra, visivelmente, sendo que em alguns círculos científicos, ainda, é debatida, a própria existência de uma crise ou se até mesmo houve atuação da espécie humana na influência da crise ambiental e, também, aqueles que atribuem uma importância central à ação humana. No entanto, não se está, totalmente, convencido por que motivos a espécie humana levou o equilíbrio ecológico a um patamar tão delicado para sua própria subsistência e para a manutenção de outras espécies (FOLADORI, 2001).

A partir do final da década de 60, alguns estudiosos manifestaram opiniões diferentes para explicar a crise ambiental. White (1967) atribuiu a causa à ideologia judaico-cristã ocidental, propensa ao domínio da natureza. Hardin (1968) pensou que o incremento populacional e a existência de espaços públicos conduziram à deterioração ambiental. Commoner (1971) sustentou que a moderna indústria e consumismo supérfluo constituíram a razão principal. Ehrlich e Holdren (1971) argumentaram que o crescimento populacional seria o principal responsável pela degradação ambiental. Para Bookchin (1980), os sistemas de dominação e hierárquicos próprios da moderna sociedade industrial induzem a uma atitude de domínio irresponsável sobre a natureza. (FOLADORI, 2001, p. 16).

Somente, na década de 1970, a humanidade assume a consciência mundial acerca da prejudicialidade dos seus próprios atos em detrimento do meio ambiente, bem como seus reflexos negativos. Concluindo, nesse momento, que as atividades humanas desenvolvidas

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são incompatíveis com os recursos naturais disponíveis, além disso, começam a perceber a diminuição da qualidade de vida na terra, em decorrência dos danos provocados à natureza.

A partir da década de 70 do século passado, a conscientização do esgotamento dos recursos naturais e de possíveis catástrofes ambientais – causados pela incongruência entre o modelo econômico capitalista e a manutenção da qualidade de vida e a intensificados pelos efeitos da Revolução Industrial, arcados pelo desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico – trouxe à tona a necessidade de inserir o meio ambiente no rol dos direitos merecedores de proteção jurídica. Diante disso, passou-se a verificar o fenômeno do “esverdeamento” das Constituições dos Estados – ou seja, a incorporação do direito ao meio ambiente equilibrado como um direito fundamental. (LEITE; PILATI; SOARES, 2005, p. 614).

A complexidade da crise ambiental vai além das questões, como: o esgotamento dos recursos naturais, a poluição do solo, água e ar, a geração de dejetos e resíduos industriais, a extinção da flora e da fauna, a desestabilização de ecossistemas, entre outras catástrofes, pois estudar a crise ambiental significa aprofundar a questão no sentido do funcionamento das sociedades contemporâneas, no seu estilo de vida, no seu modo de produção e consumo (MELO, 2006).

No que tange à questão do modo de produção, a sociedade contemporânea, na atual crise ambiental é resultado dos modelos de desenvolvimento econômico e industrial experimentados, desde o início do século XIX, em que houve a constatação de que as condições tecnológicas e industriais e a racionalidade do desenvolvimento econômico adotadas marginalizaram a tutela meio ambiente, sendo que foi difícil a compatibilidade entre a produção e os limites da biosfera (PIVA, 2008).

Como se pode perceber no apontamento feito por Leite (2003, p. 22):

Essencialmente, a crise ambiental, configura-se num esgotamento dos modelos de desenvolvimento econômico e industrial experimentados. De fato, o modelo proveniente da Revolução Industrial, que prometia o bem-estar para todos, não cumpriu aquilo que prometeu, pois, apesar dos benefícios tecnológicos, trouxe, principalmente, em seu bojo, a devastação planetária.

Assim, apenas diante de algumas catástrofes ambientais, foram tomadas algumas iniciativas isoladas de preocupação ambiental, sendo que a primeira iniciativa foi na década de 60 - 70 quando surgiu no meio acadêmico um intenso e longo debate suscitado pela transgressão dos limites materiais da natureza, questionando a racionalidade econômica e

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tecnológica dominante (MEDOW; RANDRS; MEDOWS, 2007).

As primeiras evidências de catástrofes foram marcadas por alguns acidentes ecológicos, como: 1984 – Vila Socó – Cubatão – Brasil (duto da Petrobrás deixou vazar gasolina provocando um incêndio que matou 93 pessoas); 1984 – Bhopal – Índia (Union Carbide, uma das maiores indústrias químicas do mundo, descarregou no ar 25 toneladas de isocianato de metila, gás letal, provocando a morte de 3.400 pessoas); 1986 – Chernobyl – Rússia (explosão de um dos quatro reatores da usina nuclear soviética de Chernobyl lançando na atmosfera uma nuvem radioativa. (PIVA, 2008, p. 39).

No andar dos acontecimentos ambientais, outro marco histórico que envolveu a questão da crise ambiental, foi o clássico livro Primavera Silenciosa (Silent Spring), escrito, em 1962, pela escritora norte-americana Rachel Louis Carson, esse livro trouxe preocupações a população da atividade humana sobre o meio ambiente, o qual trouxe pontos específicos dos efeitos danosos do uso indiscriminado de agrotóxicos sobre o meio ambiente e das diversas formas das externalidades negativas de contaminação para população e dos demais seres do planeta (BERNARDES; FERREIRA, 2003).

Com várias externalidades negativas devido ao uso de produtos químicos sobre o meio ambiente, o ser humano, que até então pensava em sua lucratividade obtida na sua lavoura, começou a se questionar, devido ao que autora, constatou que a contaminação dos alimentos com uso de agrotóxicos, poderia ter, conexão, aos casos câncer, de mutações biológicas e genéticas, a morte e a extinção de inúmeras espécies. (CARSON, 1962, p. 95).

Ao avançar do tempo, o movimento ambientalista, principal ator catalisador da questão ambiental, emergido a partir da segunda metade do século passado, datado da década de 1960, teve inúmeros fatores que impulsionaram o seu fortalecimento, como questões sociais, culturais, políticos e, consequentemente, ambientais. Esse novo paradigma vivenciado pelo movimento ambientalista esteve, intimamente, relacionado com a sociedade reflexiva, com bases da racionalização que não se sustentava na concepção de mundo tradicionalmente solidificado, na expectativa de comportamentos recíprocos e estáveis em determinadas situações (MONTIBELLER-FILHO, 2008).

Além do movimento ambientalista, não se pode deixar de lado os movimentos sociais, os quais, em conjunto com o primeiro, passaram a constituir em meados dos anos 80 o socioambientalismo, que Santilli (2005, p. 31) identifica:

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O surgimento do socioambientalismo pode ser identificado como o processo histórico de redemocratização do país, iniciado com o fim do regime militar, em 1984, e consolidado com a promulgação da nova Constituição, em 1988, e a realização de eleições presidenciais direta, em 1989. Fortaleceu-se – como o ambientalismo em geral – nos 90 anos, principalmente depois da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992 (Eco-92), quando os conceitos socioambientais passaram claramente a influenciar a edição de normas legais.

O socioambientalismo foi uma forma de organização social surgida como forma de resposta à crise ambiental, com finalidade de mostrar que as comunidades locais devem estar incluídas nas políticas públicas e nas atividades relacionadas à tutela ambiental e ao desenvolvimento econômico e social que possam satisfazer a coletividade, pois elas têm o condão de conhecimentos e práticas de manejo ambiental que não podem deixar de lado (GALLI, 2007). Portanto, é necessário ressaltar que o movimento socioambientalista acaba no decorrer da história por ter uma articulação política bastante significante e assumindo poder decisão no sentido de influenciar cada vez mais atores sociais a agir conforme seus anseios e nesse momento consensualizou-se mudanças conceituais que permitiram adequar o meio ambiente a um direito fundamental humano (MONTIBELLER-FILHO, 2008).

Nesse sentido, o clamor público, pela conscientização ambiental, começa delinear novos passos, fazendo surgir novos atores com preocupações ambientais latentes, os quais irão pressionar e redimensionar, o novo perfil das atitudes e decisões políticas, econômicas e sociais sobre os recursos ambientais e para isso acontecer, surgem, então, organizações não- governamentais, organizações comunitárias, as agências estatais de nível federal, estadual e municipal, grupos e instituições de pesquisa que estuda a problemática ambiental, empresas, mercados consumidores verdes, agências e tratados internacionais (SOUZA, 2008).

No que tange às atividades do Clube de Roma, destaca-se que era composto por cientistas, economistas e industriais e realizavam estudos relacionados à complexidade das sociedades contemporâneas e à natureza. Os integrantes tinham como o objetivo despertar a consciência mundial acerca da gravidade dos problemas ambientais, os quais procuravam articular ações através de estudos e pesquisas, com uma visão global no que concerne aos problemas ambientais e, posteriormente, propor novos caminhos de ação política para caos ambiental, por meio do controle da exploração dos recursos naturais (SOUZA, 2008).

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A sua principal finalidade era buscar soluções, em âmbito global, que hoje em dia tem uma função importante no cenário mundial, pois seus relatórios e conferências trataram de temas atuais e futuros, sendo que seus fundamentos estão baseados em três pilares básicos, quais sejam: a interdependência das nações na resolução de problemas globais, o pensamento holístico nos problemas em longo prazo (problemas estes às vezes relegados a um segundo plano na visão dos políticos que só se preocupam com as questões mais urgentes) e, por último, uma abordagem multidisciplinar na análise desses problemas e de suas possíveis soluções (SOUZA, 2008).

Em termos de debate oficial, sobre a preocupação latente do meio ambiente, com a propagação de ideias, como estratégia viável ao combate à crise ambiental global foi realizada primeiramente, pelo relatório de Founex (1971), destacando-se pela elaboração de um painel de discussão, por peritos e especialistas em desenvolvimento e meio ambiente, considerado um instrumento importante para fundamentar, posteriormente, os assuntos da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano que ocorreu, em 1972, que, também, repetiu as estratégias, anteriormente, traçadas pelo relatório Founex e programou, intensamente, as linhas nas agendas e debates sobre o meio ambiente que, posteriormente, viriam no decorrer do tempo, o que verificaremos no decorrer do estudo (McCORMICK, 1992).

Em 1972, foi publicado o estudo Limites do Crescimento, o qual sinalizou que os pilares da crise ambiental estavam fundamentados no crescimento exponencial da economia e da população e que um futuro perverso ao meio ambiente seria inevitável, ao final do século XX, pois haveria o esgotamento dos recursos naturais, a poluição estaria presente em todas as suas formas e, por fim, o principal, à escassez de alimentos e a única maneira de evitar essas consequências, seria através da tese do crescimento zero, ou seja, do congelamento populacional e do capital industrial, e, ao final, poderia se estabilizar a economia e os recursos naturais (MEADOW; RANDRS; MEADOWS, 2007).

Esse resultado levantado por essa comissão foi preocupante, no sentido de mostrar a urgência e a relevância na necessidade estabelecer um modelo de crescimento zero, como forma de evitar mais a degradação ambiental, além de chegar conclusão, se não fossem alterados os padrões de crescimento, haveria dos próximos anos um colapso ecológico e a partir dessa conclusão passaram a ter diversas divergências sobre o resultado desse relatório e, também, sobre a Conferência de Estocolmo, várias foram às posições controvertidas dos

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