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As experiências de leitura como formação de jovens leitores

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências - Mestrado

ANDRÉA MELISSA MIKOSKI SAMBORSKI

AS EXPERIÊNCIAS DE LEITURA COMO FORMAÇÃO DE JOVENS LEITORES

Ijuí (RS) 2013

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ANDRÉA MELISSA MIKOSKI SAMBORSKI

AS EXPERIÊNCIAS DE LEITURA COMO FORMAÇÃO DE JOVENS LEITORES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências - Mestrado da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – (UNIJUÍ), como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Doutora Noeli Valentina Weschenfelder

IJUÍ (RS) 2013

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À minha mãe Lúcia Odete

Ao Tarcísio, e aos nossos filhos,

Tales, Theo e Sofia

Por quem tudo vale a pena!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Tarcísio, meu companheiro de caminhada, pois, sem ele, esta dissertação não existiria. Foi ele quem me incentivou incansavelmente para voltar a estudar. Continuou incentivando durante o mestrado e infinitamente mais no momento da escrita, não permitindo assim que desistisse de continuar caminhando. Portanto, ele tem grandes méritos neste trabalho.

Aos meus pais, Martin e Lúcia Odete, pois além de proporcionarem a minha existência, me apoiaram e apoiam até hoje. Sem eles com certeza eu não teria chegado tão longe.

Aos meus filhos, que são a minha vida e o maior incentivo nesta caminhada. Ao Tales, que me ensinou primeiro a ser mãe, ainda na minha juventude, ao Theo que foi brilhante do início ao fim desta dissertação, ajudando na pesquisa, acompanhando para fazer as gravações, ou cuidando da irmã mais nova. À Sofia, que chegou em meio ao percurso do mestrado e traz tantas alegrias. Nasceu enquanto eu começava a caminhada da escrita e hoje já caminha, enquanto encerro esta caminhada.

À minha irmã Melina, que sempre tem uma palavra de incentivo. Aos meus sogros Clair e Carlos, por apoiarem no que for preciso.

À professora Noeli, que ao orientar este trabalho, soube dosar carinho, atenção, apoio e cobrança, na medida certa.

Aos professores do Programa de Mestrado em Educação nas Ciências, com quem muito aprendi, e aos colegas das turmas 2011 e 2010, com quem tive oportunidade de conviver durante o mestrado.

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Aos professores Walter, Sueli, Andréa e Maria Simone, que na banca de qualificação, com suas contribuições, tornaram este trabalho muito melhor.

Aos jovens que generosa e alegremente participaram desta pesquisa.

Ao Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Santo Augusto, na pessoa da professora Adriana Toso Kemp, que autorizou e abriu as portas para a realização da pesquisa.

À Ligia e à Carmem, secretárias do Programa, que sempre estão disponíveis para ajudar. E à Angélica, que também ajudou enquanto estava na secretaria.

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“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque,

requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos

tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar

para escutar, pensar mais devagar; parar para sentir, sentir mais

devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o

juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação,

cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar

sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros,

cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo

e espaço”.

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RESUMO

Esta pesquisa buscou entender as experiências de leituras cotidianas de jovens estudantes concluintes do Ensino Médio, residentes no Noroeste do Rio Grande do Sul. Os jovens pesquisados foramestudantes no Câmpus Santo Augusto do Instituto Federal Farroupilha no ano de 2012. Para realizar a mesma, nos embasamos em procedimentos da pesquisa qualitativa, através de metodologias que registraramas falas dos jovens, nas suas experiências de leitura, de modo especial, os efeitos e a participação destas em sua formação como jovens leitores. A constituição das identidades juvenis foi analisada com o suporte nos estudos de Hall (2006) e Dayrell e Gomes (s/d). Buscou-se entender um pouco mais da condição juvenil com textos de Abramo (2005) e Dayrell (2003, 2007), mas principalmente, através das falas dos jovens sobre o que compreendiam serem as dificuldades e facilidades do “ser jovem” no mundo atual. Analisa-se também, as relações da juventude com o Ensino Médio, com base em autores como Dayrell (2007), Spósito (2005), Abramovay e Castro (2006). A partir do conceito de leitura como formação de Larrosa (2002a, 2002b, 2011), investigou-se o papel da leitura na formação da subjetividade dos jovens leitores. Ler para estes jovens é uma atividade ligada com a subjetividade, é espaço de busca de si e conexão com o mundo. Apresenta-se uma contextualização das leituras realizadas, que foram divididas em formação escolar e formação para a vida, analisadas com base em textos de Petit (2008), Orlandi (1996) e Chartier (1998). Conclui-se que o processo de leitura é constitutivo para o jovem, pois está construindo a sua subjetividade e, ao mesmo tempo, é um momento de identificação com algo no mundo. É um momento em que este jovem se universaliza e também se singulariza.

Palavras-chave: Experiência, Formação de Leitores, Identidades Juvenis, Juventude, Subjetividade.

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ABSTRACT

This research sought to understand the experiences of daily readings of young students graduating high school, residents in the North West of Rio Grande do Sul. Young people surveyed were Students at Campus Saint Augusto Federal Institute Farrukhabad in 2012. To do the same are based in procedures of qualitative research methodologies through which registeredthe speech of young people in their reading experiences, in particular, the effects and participationthese in their formation as young readers. The formation of youth identities were analyzed with the support in the studies of Hall(2006) and Gomes and Dayrell (s / d). We sought to understand a little more of the youth condition with texts Abramo (2005) and Dayrell (2003, 2007), but mainly through the words of young people about what they understood the difficulties and facilities "being young" in today's world . It also examines the relationship of youth with high school, based on authors such asDayrell (2007), Spósito (2005), Abramovay and Castro (2006). From the concept of reading as training Larrosa (2002a, 2002b, 2011), we investigated the role of reading in the formation of subjectivity of young readers. Read for these young people is an activity connected with subjectivity, is the search space for himself and connecting with the world. Presents a contextualization of readings taken, which were divided into school education and training for life, analyzed based on texts by Petit (2008), Orlandi (1996) and Chartier (1998). It is concluded that the reading processis constitutive for the young, it is building its subjectivity and at the same time, it is a moment of identification with something in the world. It is a moment that this young man is universalized and also stands alone.

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LISTA DE SIGLAS

BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento CEB – Câmara de Educação Básica

CEPROVALE - Centro de Educação Profissional Vale do Rio Turvo CNE – Conselho Nacional de Educação

CNE/CP - Conselho Nacional de Educação / Conselho Pleno CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica

COREDE – Conselho Regional de Desenvolvimento EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

FUNDATURVO/DS – Fundação Vale do Rio Turvo para o Desenvolvimento Sustentável

IFFarroupilha – Instituto Federal Farroupilha LDB – Lei de Diretrizes e Bases

MEC – Ministério de Educação e Cultura

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos

PROEJA-FIC - Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos no Ensino Fundamental PROEP – Programa de Extensão da Educação Profissional

PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação

PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional PIB – Produto Interno Bruto

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SEDUC-RS- Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul UNED– Unidades de Ensino Descentralizada

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SUMÁRIO

Introdução... 13

1. Caminhando como pesquisadora... 16 1.1 Os caminhos metodológicos...

1.2 Os jovens que caminharam junto na pesquisa...

1.3 O campo onde a pesquisa iniciou... 1.3.1 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia...

1.3.2 O município... 17 24 28 28 34 2. Juventudes, identidades e subjetividades... 2.1 Identidades juvenis... 2.2 A condição juvenil... 2.3 Juventudes e suas relações com o Ensino Médio... 2.3.1. A legislação de Ensino Médio... 2.3.2 A educação profissional... 3. As experiências de leitura como formação de identidades juvenis ... 3.1 A leitura na sua origem... 3.2 As experiências de leitura e a subjetividade do jovem leitor... 3.3 As experiências de leitura entre a formação escolar e a formação para a vida... 36 36 41 47 51 57 63 64 68 78 Considerações Finais... 89 Referências... Anexos... 94 99

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INTRODUÇÃO

É comum ouvirmos a afirmação que os jovens não leem. Isto sempre me incomodou de uma forma ou de outra. Na convivência com alguns jovens e adolescentes, entre eles meus filhos, podia perceber que existem sim jovens leitores, não são a maioria, não estão em todas as escolas, em todos os lugares, mas eles existem. E, por existirem, entendo oportuno e necessário saber o que eles estão lendo, e como estas leituras contribuem na sua formação como jovem, como pessoa.

A juventude1, nos dias atuais, não é singular. Dificilmente se pode falar em uma identidade juvenil e sim em identidades juvenis. Muitos fatores marcam esta diferença: a escolarização, as condições socioeconômicas, a necessidade de entrar cedo no mundo do trabalho, o acesso aos bens de consumo, as tecnologias disponíveis, as opções culturais, entre elas, as experiências de leitura.

A escolha do termo “experiências” não foi ao acaso, ela se deu por acreditar que seria um “guarda-chuva” para a pesquisa. É um termo que não restringe a determinadas práticas de leitura, nem somente à leitura de livros. Acredito que “experiência” traduz com profundidade a forma como considero a leitura dos jovens nos dias atuais. Pois, segundo Larrosa (2002a, p.147), “só quando confluem o texto adequado, o momento adequado, a sensibilidade adequada, a leitura é experiência”. Relacionar juventude com experiência, em um primeiro momento, pode parecer antagônico, pois normalmente relaciona-se experiência com maturidade, vivência, “as experiências dos mais velhos” ou ainda “quem tem experiência é quem já viveu muito”, “é quem sabe das coisas”. Não é deste tipo de experiência que trata esta pesquisa.

Elegi o termo “experiência” por considerá-lo abrangente. Mas não é somente isto. Este termo carrega um significado maior do que define o senso comum como: “experimentar”, “tentativa”, “experimento”, “ensaio ou prática”. Por esta razão

1

Segundo Abramo (2005, p. 40), “A noção de condição juvenil remete, em primeiro lugar, a uma etapa do ciclo da vida, de ligação (transição, diz a noção clássica) entre a infância, tempo da primeira fase de desenvolvimento corporal (físico, emocional, intelectual) e da primeira socialização, de quase total dependência e necessidade, para a idade adulta”.

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relaciono experiência com juventude. Os jovens têm o “poder” de realmente viver as suas experiências. Walter Benjamin, segundo Pereira (2009, p.245), conferia à experiência dos jovens um estatuto superior e diferenciado. Segundo o autor, “o entusiasmo que caracteriza a juventude é o mesmo que move a revolução e que se esforça por manter o conteúdo de suas experiências sempre presentes.” Pereira (2009) afirma que, para Walter Benjamin, os adultos2 são menos suscetíveis à transformação, são submissos, resignados. Para Benjamin, a vida adulta enrijece o pensamento fazendo com que os indivíduos não experimentem outras possibilidades. A experiência dos adultos seria auto-centrada demais.

É importante guardar as devidas proporções em ser jovem nos dias atuais e a juventude de que nos fala Benjamin. Ele era um jovem quando escreveu seu primeiro ensaio sobre experiência, em 1913, um ano antes do início da primeira guerra mundial, com todos os horrores que circundam um acontecimento destes. Mas, mesmo desta forma, pode-se trazer para nossa época este “frescor” da juventude a que o autor se refere. O que para muitos pode ser “falta de maturidade” ou “falta de experiência”, para outros pode ser possibilidade de novas aprendizagens.

Ao ouvir os jovens em suas experiências de leitura, procurei dar voz aos “narradores” de suas próprias histórias de vida. Não fui ouvi-los simplesmente para saber quantos livros leem, se leem ou não outros artefatos, claro que isto também interessava, mas me importava mais saber o que constitui uma identidade juvenil em nossos dias; quem são estes jovens; do que eles realmente gostam. E isto foi trazido para esta pesquisa, procurando de uma certa forma “intercambiar experiências”, como muito bem define Benjamin (2010) em seu texto “O narrador”. Nele ainda, o autor alerta que “as ações de experiências estão em baixa, e tudo indica que continuarão caindo até que seu valor desapareça de todo”. (BENJAMIN, 2010, p. 198). Mais uma razão para valorizar as experiências relatadas pelos jovens, que mesmo estando em uma fase de grandes atribulações pararam para ouvir nosso interesse e relatar suas experiências de leitura.

Esta dissertação, que tem como título “As experiências de leitura como formação de jovens leitores”, está dividida em três capítulos. No primeiro capítulo,

2 Para Abramo (2005, p.41) a idade adulta corresponde “em tese” à “fase do ápice do desenvolvimento e de plena cidadania, que diz respeito, principalmente, a se tornar capaz de exercer as dimensões de produção (sustentar a si próprio e a outros), reprodução (gerar e cuidar dos filhos) e participação (nas decisões, deveres e direitos que regulam a sociedade).

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intitulado “Caminhando como pesquisadora”, apresento minha iniciação como pesquisadora; os caminhos metodológicos realizados pela pesquisa, sendo ela qualitativa com instrumentos como a roda de conversa, as entrevistas semiestruturadas e o uso da rede social Facebook; os jovens que se propuseram a caminhar junto; o lugar onde a pesquisa iniciou, câmpus Santo Augusto do Instituto Federal Farroupilha, assim como um breve histórico dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e alguns dados do município de Santo Augusto e sua localização na região.

O segundo capítulo, intitulado “Juventudes, identidades e subjetividades”, parte do conceito de identidade de Stuart Hall (2006) e dedica-se a refletir sobre as identidades juvenis e alguns fatores que contribuem na constituição das mesmas. Para tanto, busquei amparo em textos de Dayrell e Gomes (s/d) e Larrosa (2002b). Em um segundo momento, partindo do conceito de Abramo (2005) sobre juventude, descrevo a condição juvenil sob o ponto de vista dos jovens pesquisados, apoiando-me em textos de Dayrell (2003, 2007) e Pais (2006) para analisar as falas. Finalizando o capítulo, faço uma relação da juventude com o Ensino Médio, através de textos de Tomazetti et al (2011), Dayrell (2007), Spósito (2005), Abramovay e Castro (2006). Analiso, também, a legislação de Ensino Médio através de documentos oficiais e de textos de Abramovay e Castro (2003) e Aur e Castro (2012). Esse capítulo conclui-se com um histórico da educação profissional com base em Kuenzer (2009).

No terceiro capítulo, intitulado “As experiências de leitura como formação de identidades juvenis”, apresento, com apoio em Larrosa (2002a, 2002b, 2011), o conceito de experiência de leitura como formação. A partir de textos de Marques (1993,1997), Manacorda (1997), Manguel (1997), Chartier (1999) e Freire (2009), esse capítulo traz, também, uma contextualização histórica da leitura através dos tempos. Em outro subcapítulo intitulado “As experiências de leitura e a subjetividade do jovem leitor”, tendo por base textos de Larrosa (2011) e Petit (2008), apresento as experiências de leitura dos jovens pesquisados e a relação dessas leituras com a subjetividade dos mesmos. Na última parte do capítulo, contextualizo a forma como os jovens entrevistados situam as suas experiências de leitura. Para analisar estas falas, busquei amparo em textos de Petit (2008), Orlandi (1996) e Chartier (1998), entre outros autores.

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1 CAMINHANDO COMO PESQUISADORA

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.

Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.

Cora Coralina3

A pesquisa surgiu em minha vida de forma bastante tardia, até o mestrado confesso que não havia tido contato com ela. Como este trabalho dissertativo4 trata especialmente com o conceito de experiência, confesso, também, que a experiência da pesquisa me cativou. Foi com grande prazer que tive oportunidade de ir a campo para pesquisar, estar em contato com os jovens que participaram neste caminho investigativo foi muito proveitoso. Aprendemos sempre e nunca é tarde para começar.

Tomar a decisão de dar um rumo diferente na vida não foi uma tarefa fácil. Trabalhei por treze anos na extensão rural, e resolvi após este tempo, já com uma caminhada consolidada, sair do emprego e voltar a estudar. Para isso, me candidatei a uma vaga no Mestrado em Educação nas Ciências, na linha três do Programa, Educação popular em movimentos e organizações sociais.

“Caminhar como pesquisadora” demandou muita coragem, não foi fácil e natural, exigiu determinação e enfrentamento, próprio de toda atividade realizada pela primeira vez. Mas trouxe grandes contribuições e aprendizagens, as quais procuro relatar neste trabalho dissertativo. Desafiada pela minha orientadora, mudei o público para realizar esta pesquisa. De início, iria pesquisar com o público rural, especificamente sobre o programa de bibliotecas rurais “Arca das Letras”. Voltar a pesquisa ao público jovem foi para mim um desafio. Já tinha trabalhado com juventude nos anos de extensão, não era propriamente uma novidade, mas juventude como público escolar era novo para mim. O fato de chegar “sozinha” ao campo de pesquisa gerava medo, pois na extensão eu chegava como “empresa”; como pesquisadora, precisei contar muito com uma série de colaborações: em um

3 Frase retirada do site http://pensador.uol.com.br/cora_coralina_frases/ 4

Utilizei na escrita deste primeiro capítulo, a primeira pessoa do singular, por estar relatando fatos pessoais. Devido a isto, e para manter a coerência no restante do texto, todo o trabalho dissertativo é escrito na primeira pessoa do singular.

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primeiro momento, do Instituto, que precisava autorizar a pesquisa; dos jovens, que precisavam aderir à ela e realmente participar dos encontros marcados. Eles eram voluntários, não estavam “ganhando” nada com isso, poderiam simplesmente não querer participar. E se isto acontecesse, o que eu faria?

Outro desafio em minha vida, no exato momento em que eu iniciaria as pesquisas, foi descobrir que estava grávida, a enorme surpresa de receber a Sofia, que, junto ao Tales e ao Theo, veio completar e iluminar minha família. E eu tive que enfrentar o desafio de conciliar a “maternidade tardia” com a tarefa de ir a campo. O tempo estava passando e eu não podia esperar mais, já era metade do segundo semestre de 2012, e era o momento exato de iniciar as investigações. Tinha me proposto pesquisar com as duas turmas de concluintes dos quartos anos dos cursos de Informática e Agropecuária do Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Santo Augusto, e não podia deixar para depois.

Desta forma, neste capítulo, conto de onde parti, com quem dialoguei, de que forma o fiz e, a partir de então, apresento, nos dois capítulos seguintes, os referenciais teóricos que embasaram as reflexões e as análises dos dados obtidos.

1.1 Os caminhos metodológicos

O projeto desta pesquisa iniciou-se com a intenção de pesquisar com oito jovens concluintes dos Cursos Técnicos em Informática e Agropecuária (quatro jovens de cada curso). Um dos objetivos era fazer uma comparação entre estas áreas tão distintas de formação técnica. O objetivo geral, ainda no projeto de pesquisa, e também em função das duas distintas formações, era analisar de que forma as experiências de leitura destes jovens poderiam colaborar com a formação técnica, propedêutica (entendida como preparatória para outra etapa de ensino, no caso o ensino superior) e a formação profissional, que poderia ou não refletir na relação com o mundo do trabalho em que estes jovens já estão inseridos ou pretendem inserir-se. Tinha, também, como objetivo específico compreender quais eram as experiências de leitura realizadas na escola e no cotidiano destes jovens, e de que forma estas experiências contribuem na formação das identidades juvenis.

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Os contatos para iniciar a pesquisa começaram no mês de setembro de 2012, através de uma visita à Diretora de Ensino do IFFarroupilha – Câmpus Santo Augusto e apresentação do projeto de pesquisa e do termo de aprovação no Comitê de ética em Pesquisa da Unijuí5. A diretora autorizou a realização da pesquisa e agendou um dia para contato com as turmas.

O primeiro contato com os estudantes, na companhia da diretora de Ensino, que fez a apresentação da pesquisadora, teve a finalidade de conseguir os voluntários. Explanei os objetivos e finalidade da pesquisa e, também, a forma como esta seria desenvolvida. Foi passado para cada turma um formulário no qual os interessados em aderir deveriam preencher os seus dados com nome, curso e formas de contato, como também os dias e horários disponíveis para os encontros. Em um primeiro momento, dez jovens se dispuseram a participar. Porém, já nos primeiros contatos para marcarmos os encontros, três jovens do Curso de Agropecuária desistiram, desta forma prossegui e realizei a pesquisa com sete jovens. Para Deslauriers e Kérisit (2010, p. 138)

Contrariamente ao que certos pesquisadores pensam, a pesquisa qualitativa também recorre à amostra, que será mais frequentemente, de tipo não-probabilístico. Essa amostra não se constitui ao acaso, mas sim em função de características precisas, que o pesquisador pretende analisar. Vários tipos de amostras são possíveis, tais como: a amostra acidental, a intencional, a por cotas, a típica, a de voluntários, ou a amostra em ‘cascata’, também chamada de ‘bola de neve’. [grifos nossos].

Levando em conta o que afirmam Deslauriers e Kérisit (2010, p.138), de que “a amostragem não-probabilística, (...) não é uma estratégia à qual se recorre quando não se pode estabelecer a probabilidade”, mas, ao contrário, em muitos casos sendo a única forma possível e eficaz de realizar uma pesquisa, meu interesse era estudar a leitura e necessariamente precisava ser com jovens leitores. A utilização de amostras probabilística correria o risco de selecionar jovens que não fazem uso tão frequente da leitura, pois as estatísticas indicam baixo índice de jovens leitores.

5 Conforme Protocolo de Pesquisa nº. 0147/2011 de 04/10/2011. Aprovado pelo Relator em 13 de dezembro de 2011. Projeto: “As Experiências de Leitura como Formação do Jovem da Educação Profissional Técnica de Nível Médio”. Natureza da Pesquisa: Projeto de Dissertação de Mestrado apresentado ao programa de Pós-graduação Stricto Sensu- Mestrado em Educação nas Ciências. Pesquisadora Responsável: Andréa Melissa Mikoski Samborski; Orientadora: Profª Drª Noeli Valentina Weschenfelder. Instituição Responsável: UNIJUI/Departamento de Humanidades e Educação Área do Conhecimento: Ciências Humanas – Educação (Conforme Anexo 5)

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Considero que a opção por realizar a pesquisa com jovens leitores e voluntários atende alguns dos critérios que Pires (2010) considera como influentes na escolha do caso nas pesquisas qualitativas, como por exemplo: a pertinência teórica, as características e a qualidade intrínseca do caso, a tipicidade e exemplaridade, o interesse social, a acessibilidade à investigação e a possibilidade de aprender com o caso escolhido. Sem dúvida, as características únicas desse grupo de jovens leitores, e o acesso e disponibilidade que proporcionaram, permitiram o atendimento desse último critério definido como objetivo principal: aprender com esse caso.

Como esta pesquisa é de cunho qualitativo, vale sublinhar o que afirmam Deslauriers e Kérisit (2010, p.139). Ao avaliar os critérios de validade dos instrumentos de coleta de dados na pesquisa qualitativa, ressaltam que Zelditch (1969) propõe dois critérios: a capacidade dos instrumentos de trazer as informações desejadas e a eficácia dos instrumentos, principalmente em relação ao tempo e custo requerido. Marshall e Rossman (1989) acrescentam um terceiro critério que seria o da ética, pois é necessário respeitar as características do meio social. Esta pesquisa buscou levar em conta esses critérios, ou seja, utilizar instrumentos que forneceriam as informações desejadas, mas dentro da realidade de tempo e custos disponíveis, tanto à pesquisadora como aos pesquisados. A dimensão ética estava contemplada desde o início do projeto previamente aprovado no Comitê de Ética da Universidade.

Inicialmente, para a realização da pesquisa, a decisão foi utilizar rodas de

conversa, as quais, para Viégas (2007), colaboram no sentido de que organizar os

alunos em pequenos grupos pode vir tornar possível o aprofundamento de suas falas; e as entrevistas semiestruturadas, que para Lüdke e André (1986, p. 34) desenvolvem-se “a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações”. A escolha por fazer entrevistas semiestruturadas embasa-se no pensamento de Michèle Petit, segundo a qual “é preferível esquecer um tema listado no roteiro inicial a não escutar o imprevisto” (PETIT, 2008, p. 55). Assim, busquei realizá-las da forma mais acolhedora possível, utilizando o roteiro inicial como um norteador e realmente ouvindo os jovens entrevistados naquilo que queriam expressar.

No decorrer da pesquisa, foi agregada a rede social Facebook como um meio de dialogar com os participantes, como um “facilitador” para o “encontro” com os

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jovens e uma forma de realizar os debates necessários para o andamento da pesquisa. Para Fragoso et al. (2012 p. 56)

O Facebook representa apenas uma pequeníssima parte da web, mas já no ano da sua criação (2004) atingiu seu primeiro milhão se usuários. Menos de uma década mais tarde, em 2010, a empresa reporta a existência de 400 milhões de membros ativos.

Entre os tipos de grupos disponíveis para serem criados, através desta rede social, optei por um grupo secreto, ou seja, somente os membros do mesmo poderiam ter acesso às postagens realizadas nele. Desta forma, acredito que a ética exigida para a pesquisa ficou garantida, a identidade dos participantes em momento algum foi ou será revelada, assim como nos outros instrumentos utilizados (roda de conversa e entrevistas semiestruturadas). Para Fragoso et al. (2012, p. 22 ) “a respeito da ética da pesquisa em internet, vale, sobretudo, destacar a necessidade de discussão e reflexão sobre o papel do pesquisador, seus direitos e deveres em relação aos sujeitos pesquisados”.

Desta forma, no início do mês de outubro de 2012, foi marcada a primeira “roda de conversa”, realizada em uma sala de aula do Instituto Federal Farroupilha - câmpus Santo Augusto, no turno da manhã, no qual compareceram quatro jovens. Para iniciar, realizamos uma dinâmica, como forma de “quebrar o gelo”, para tanto, foi solicitado que cada jovem imaginasse a seguinte situação:

Imagine o que você sentiria se um belo dia encontrasse na sua casa um ET sentado no sofá da sua sala, a missão dele é levar para seu planeta de origem a experiência de vida dos terráqueos. Então ele tem uma semana para aprender tudo sobre nós e sobre os conhecimentos que consideramos importantes para a vida. O que você acharia importante ensinar-lhe? Você poderia fazê-lo viver tudo o que quisesse e achasse que valeria a pena para ele aprender. (CENPEC E LITTERIS, 2001, p.37)

A finalidade desta dinâmica, extraída do livro “Os jovens e o saber”, além de descontrair a todos, foi proporcionar aos jovens um momento para reflexão sobre a sua própria experiência de vida, seus valores, o que aprenderam de relevante e que seria fundamental repassar como conhecimento/formação para alguém.

Os jovens demonstraram, através de suas falas, questões que são afloradas na juventude, como a importância que eles dão aos relacionamentos, à afetividade, o que gostam de fazer no tempo livre como ouvir música, jogar videogame, algumas manifestações de sua condição juvenil. Eis a transcrição do diálogo entre eles:

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Uma das coisas que no caso eu ia tentar mostrar pra este extraterrestre seria, ah eu ia tentar resumir pra ele a história do nosso mundo não só do Brasil, de todo o mundo de um total, e uma coisa que eu ia tenta passar para ele no caso que pra mim tem bastante valor no caso são os valores que a arte tem, e ai a arte engloba tudo né, porque uma vez eu ouvi uma frase que nossa me impactou mesmo que foi: os médicos curam o corpo a arte cura a alma, eu achei aquilo muito muito interessante, porque se for pensar a música é uma arte e é uma coisa que realmente tu pode tá mal aí tu vai lá e escuta música legal e aquilo passa assim, uma coisa que eu ia tentar passar pra eles é essa no caso (Clarice)

Cara o que eu ia falar para este ET na verdade, o que eu ia mostrar para este ET são as relações humanas sabe, a questão da afetividade entre os humanos e tal, eu ia mostrar pra ele uns lugares bem bacanas do planeta, ia sei lá mostrar para ele talvez como funciona o raciocínio humano e tal, as emoções dos seres humanos, o que que mais eu ia mostrar (Mario)

Eu ia fazer o ET escutar música (Mario) Muita música (Ana Maria)

Jogar videogame (Clarice)

Eu ia tentar mostrar não, o lado ruim do mundo eu acho que esta ia ser parte que eu mais ia me “foca” eu sou muito pessimista nesta parte, eu ia tentar mostrar para ele todas as partes assim todas as desigualdades social, todo o problema de distribuição de renda tudo tudo, tudo eu ia tentar mostrar para ele com relação a todo ao lado mau do mundo porque eu acho que assim eu tentar, eu ia “tá” tentando persuadir ele a não fazer isso em seu planeta também, fazer ele ver a realidade não um mundo de sonhos né (Clarice)

Eu ia trazer ele para a escola (pensativa), eu ia trazer pra escola, eu ia mostrar a escola pra ele e aí no caso ele ia decidir se tinha uma coisa boa ou ruim, isso ia ser por conta dele, a rotina de um estudante, de TCC principalmente, concluinte (Clarice)

Na sequência da atividade, utilizei um questionário (anexo 1), que tinha por objetivo nortear o debate. Iniciei com questões referentes às “atividades em que os jovens estão envolvidos no seu cotidiano”, “o que gostam de fazer em seu tempo livre”. A intenção era trazer à tona um pouco do cotidiano deles, para entender mais sobre isso e captar quais eram os momentos e períodos dedicados à leitura. Na sequência, passamos a debater a temática da juventude, com perguntas como: “o que é ser jovem nos dias atuais”, “quais os desafios e vantagens em ser jovem nos dias de hoje”. Explicitar qual é sua visão de juventude é fundamental para compreender os processos identitários e as características que consideram essenciais ou constitutivas da juventude. Também debatemos sobre as suas

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primeiras experiências de leitura, averiguando o que ou quem influenciou nas mesmas, como é a relação deles com a leitura em seu cotidiano e qual a sua importância.

Na semana seguinte, o Curso de Informática viajou para participar de um evento no Paraná, o que impossibilitou a realização de um novo encontro. Foi marcada, então, para a terceira semana do mês de outubro, uma segunda roda de conversa, desta vez no turno da noite, com o objetivo de proporcionar a participação daqueles que não poderiam no turno da manhã. Surpreendentemente, nenhum jovem compareceu. Como esse período do último bimestre tornou difícil a reunião de todos, pelo fato de estarem muito envolvidos com diversas atividades: trabalho, estágio, elaboração dos Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC, estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio- ENEM, entre outras atividades, foi necessária uma alteração na nossa pesquisa.

Para dar seguimento ao trabalho propus aos jovens realizar os debates através do programa Facebook, pois todos faziam parte dessa rede social. Com o consentimento de todos, criei, no final do mês de outubro de 2012, um grupo denominado “Os Jovens e a leitura”. Durante três dias seguidos, postei as perguntas (anexo 2), as quais eram respondidas pelos jovens, que também interagiam entre si, através de comentários e pela opção “curtir”, quando concordavam com as respostas uns dos outros ou queriam salientar as mesmas. Segundo Fragoso et al. (2012, p.17), “a internet pode ser tanto objeto de pesquisa (aquilo que se estuda), quanto local de pesquisa (ambiente onde a pesquisa é realizada) e, ainda, instrumento de pesquisa”. No caso da minha pesquisa, entendo que a internet, através da rede social Facebook, foi um dos locais onde a pesquisa foi realizada. Para as autoras,

A pesquisa empírica tem a intenção de avançar ou aprimorar o conhecimento sobre o mundo que nos cerca e, para isso, requer a realização de experimentos ou, como é mais comum nas Ciências Humanas e Sociais, de observações (...) Na pesquisa empírica, diferentemente das empreitadas teóricas, esse processo de subdivisão artificial da realidade é explícito, ou seja, é realizado de forma deliberada e clara. (FRAGOSO et al. 2012, p. 53).

Nas perguntas feitas pelo Facebook foram aprofundadas questões referentes à relação da leitura com a formação técnica dos jovens, se eles escolhem algo para ler em função do curso que estão fazendo, se a formação técnica influencia na escolha das leituras. Essas indagações tinham por objetivo evidenciar se a área de

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formação do curso técnico influenciava as escolhas de leitura. Além disso, explorou-se qual era a intenção do grupo para o futuro, continuar estudando ou trabalhar na área em que estão se formando ou em outras áreas.

Percebi algumas diferenças no comportamento dos jovens na fase de pesquisa realizada pelo Facebook, quando comparado com a “roda de conversa”. Houve boa interação dos jovens, tanto com a pesquisadora, como entre eles, com o uso desta tecnologia. Aparentemente, o fato de não estarem em condições face a face permitiu maior expressão. Este aspecto vale a pena ser registrado, pois, as reações, os silêncios e sinais corporais que podem ser identificados e auxiliam o pesquisador, perdem-se neste tipo de entrevista. Porém, a comunicação através do texto escrito se mostrou mais proveitosa que a oralidade da “roda de conversa”. Uma interpretação possível, é que durante a “roda”, uma das jovens participou de maneira bastante entusiasmada, polarizando o debate, o que pode ter levado os demais a sentirem-se um pouco constrangidos.

Agendei pelo Facebook, que acabou sendo o instrumento de comunicação com os jovens, a entrevista semiestruturada, que se deu de forma presencial e individual. Quatro entrevistas foram realizadas na biblioteca do câmpus Santo Augusto, que conta com uma sala reservada, utilizada para estudos em grupos; as outras três, a pedido dos participantes, foram realizadas em outros locais.

Após a etapa de coleta de dados, realizei a transcrição das falas gravadas durante a roda de conversa. Esse material, mais aqueles obtidos através dos questionamentos via Facebook, assim como as entrevistas individuais realizadas com cada um dos jovens, foi analisado, buscando encontrar aspectos comuns entre eles. Após este trabalho de sistematização e análise, passei para a fase de leitura e interpretação dos dados obtidos.

Diante da desistência de três jovens do Curso de Agropecuária, como já mencionado acima, o objetivo de fazer o contraponto entre as formações técnicas dos cursos pesquisados e, também, o de saber como as experiências de leitura contribuem na formação técnica, propedêutica e geral destes jovens perderam um pouco do sentido. Concentrei-me, então, no objetivo específico que era saber quais eram as experiências de leitura que estes jovens estavam realizando em seu cotidiano e se elas contribuíam para a formação de suas identidades juvenis. Este aspecto assumiu, portanto, a centralidade desta pesquisa. Assim como afirmam Deslauriers e Kérisit (2010), o delineamento da pesquisa qualitativa não pode prever

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com precisão os resultados que a análise qualitativa produzirá, pois podem ocorrer categorias surpreendentes que se imponham e possibilitem a reformulação do problema central.

1.2 Os jovens que caminharam junto na pesquisa

Não posso deixar de manifestar a profunda gratidão aos jovens que caminharam comigo nesta pesquisa e que, mesmo estando envolvidos em várias atividades, tiveram a disponibilidade em participar e assim tornar possível a realização desta dissertação. Dos participantes, seis jovens são alunas do Curso Técnico em Informática, e um jovem é estudante do Curso Técnico em Agropecuária. Por questão de ética e sigilo, não emprego seus nomes reais e sim pseudônimos. Como se trata de uma pesquisa sobre leitura e leitores, os participantes são identificados com nomes que fazem referência a escritores nacionais, escolhidos aleatoriamente para cada participante. Estas informações sobre cada um deles são referentes ao ano de 2012, época em que foi realizada a pesquisa.

Cecília- 17 anos, frequenta o quarto ano do Curso de Informática. Mora em

Santo Augusto com uma amiga, seus pais moram em um município próximo, ela tem um irmão mais novo. A mãe é servidora pública municipal e o pai é técnico em informática e trabalha em uma empresa do setor. No Ensino Fundamental, estudou em uma escola pública municipal. Bolsista de um projeto no Instituto, participa de um Centro de Tradições Gaúchas – CTG no qual é a primeira prenda adulta e responsável pelo departamento jovem. Não tem intenção de trabalhar e nem continuar os estudos na área em que está se formando, seus planos são ingressar no curso de Direito.

Os gêneros preferidos de leitura de Cecília, segundo ela, “dependem do momento”, “às vezes prefiro romance, às vezes prefiro crônicas”. Para ela, as crônicas trazem assuntos do cotidiano, sobre os quais gosta de ler. Afirma ser “enjoada para a leitura”, se ela começa a ler e não gosta, não segue a leitura. Como autores preferidos ela cita Martha Medeiros, afirma “se tiver vinte livros de outro e

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um dela, vou pegar aquele”, outro autor que cita é Nicolas Sparta, segundo ela é uma “leitura que prende, precisa saber o final”.

Além de livros, Cecília afirma ler assiduamente jornais, tanto impressos quanto eletrônicos, revistas, sites de notícias, blogs e outros materiais principalmente sobre carreira profissional e pesquisa sobre universidades. Ela afirma que suas escolhas de leitura são baseadas na indicação da professora de Língua Portuguesa, de amigas, ou por gostar do escritor.

Clarice- 18 anos, frequenta o quarto ano do Curso de Informática. Mora em

Santo Augusto com a mãe e um irmão mais novo, os pais são separados, ela não tem contato com o pai, a mãe está sem emprego fixo no momento e trabalha informalmente no ramo da alimentação. No Ensino Fundamental, estudou em três escolas públicas estaduais. Trabalha com a mãe em seu negócio, ajuda a avó, é líder de dois grupos de jovens, faz aula de piano, participa de um coral, toca em uma banda, gosta de desenhar, faz aula de teoria musical, de violino e violoncelo, atualmente é presidente da comissão eleitoral do Grêmio Estudantil. Participava de um grupo de teatro do Instituto, que está temporariamente sem atividades. Pretende continuar estudando e trabalhar na área de tecnologia, porém afirma ter também “outras visualizações de possíveis carreiras”.

Em se tratando de leitura, Clarice afirma “ler de tudo”, não ser “cabeça fechada”, ela se considera “aberta a novas literaturas”, e ainda afirma “gostar bastante de ação”. Um livro para ela “desmotiva se não envolve”. Como autores preferidos, cita Tess Gerritsen, Cassandra Clare e Stephen King.

Clarice lê, também, jornais impressos e eletrônicos, revistas, folhetos diversos, revistas e livros eletrônicos, sites de notícias, sites da área profissional, blogs e outros materiais sobre desenho, postagens em geral sobre como desenhar (uma de suas paixões). Escolhe os livros normalmente pela capa, ou por pesquisa de comentários sobre os mesmos. Em se tratando de leituras mais técnicas, como as realizadas para o curso, ela procura aquelas de linguagem mais simples para facilitar o entendimento.

Ana Maria- 18 anos, frequenta o quarto ano do Curso de Informática. Mora

em Santo Augusto com os pais, a mãe é do lar e o pai trabalha como freteiro. Estudou em uma escola pública estadual no Ensino Fundamental. Bolsista no

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Instituto, vai começar seu estágio curricular, também participava do grupo de teatro, segundo ela: “assisto muita coisa” “ouço muita coisa” e “ planejo muita coisa” “imagino coisa demais”. Pretende se mudar para outro Estado, cursar Psicologia e “trabalhar em alguma coisa”.

Ana Maria afirma que seus gêneros de leitura preferidos são o terror, a comédia, de drama afirma “gostar um pouco”, além destes um “romancezinho para passar o tempo”, gosta ainda de ficção científica, contos policiais, e ficção em geral. Seus autores preferidos são J.K. Rowling, Dan Brown, Agatha Christie, Arthur Conan Doyle e Edegar Allan Poe. Ela também lê jornais e revistas impressas e eletrônicas, folhetos diversos, sites de notícias, blogs e, quando precisa para estudar, faz uso de outras pesquisas principalmente pela internet. Suas escolhas de leitura são normalmente por resenhas e sinopses dos livros, também escolhe pela capa do livro, e em poucas vezes pela indicação de amigos.

Lygia- 18 anos, frequenta o quarto ano do Curso de Informática. Mora na

sede do município de Campo Novo, que fica a aproximadamente 30 km de Santo Augusto, com os pais e uma irmã. A mãe é servidora pública municipal e o pai é técnico em enfermagem. Estudou em escola pública estadual no Ensino Fundamental. Segundo ela, no momento da pesquisa estava na “tentativa de começar o seu Trabalho de Conclusão de Curso- TCC”, no momento não está envolvida em outras atividades. Para o futuro, sonha com a graduação em Medicina, e ainda, se conseguir, trabalhar em algo da área de informática, “que apesar de não gostar, reconhece que é uma área bem abrangente, com boa remuneração”.

Como gêneros de leitura preferidos ela cita a comédia e dramas; como autores, ela gosta muito de Martha Medeiros, Nicolas Sparks, Paulo Coelho e José Saramago, do qual ela afirma adorar os livros. Lygia lê com frequência jornais impressos e eletrônicos, livros eletrônicos, sites de notícias, blogs. Faz uso da internet para a leitura de textos e crônicas principalmente os recomendados por amigas. Suas escolhas de leitura, segundo ela, “geralmente quando vou na biblioteca retiro pelo título ou autor, não sou muito fã de Literatura Brasileira”.

Cora - 18 anos, frequenta o quarto ano do Curso de Informática. Mora com a

mãe, não tem contato com o pai, não tem irmãos. A mãe é vendedora e está aguardando a nomeação em um concurso para professora. Estudou em escola

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pública estadual no Ensino Fundamental. Trabalha no período da manhã em uma loja de Informática, faz curso de Inglês, pois pretende fazer faculdade de inglês-tradução e interpretação, quer trabalhar em período integral. Seus gêneros de leitura preferidos são a fantasia, o romance principalmente os que têm como tema a “idade média”, livros que envolvam a temática de guerras e estratégias e os com enfoques “psicológicos”. Seus autores preferidos são Carine Rissi, George R.R. Martin, Richelle Mead.

Além dos livros, Cora lê jornal impresso (a avó é assinante), folhetos diversos, livros eletrônicos, sites de notícias e da área profissional, blogs. Na internet, pesquisa muito sobre críticas e ofertas de compras de livros. A maioria dos livros que adquire é pela internet (uma vez que em Santo Augusto as opções de venda de livros são extremamente limitadas). Suas escolhas para ler se baseiam em um primeiro momento pela capa do livro, se a capa chama sua atenção ela lê a sinopse, ou ainda, procura ler o que é indicado por amigos.

Lya- 18 anos, frequenta o quarto ano do Curso de Informática. Mora na sede

do município de Campo Novo, com os pais e uma irmã. Frequentou o Ensino Fundamental em uma escola pública. Está envolvida na elaboração do seu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, pretende fazer vestibular para o Curso de Direito. Participa de um grupo de jovens da Igreja Católica. Seu gênero de leitura preferido é o romance e a autora preferida é Martha Medeiros. Além de livros, ela lê regularmente jornais impressos e eletrônicos, sites de notícias e blogs. Normalmente suas escolhas de leitura são por indicação, ou se o título lhe chama a atenção.

Mario- 19 anos, frequenta o quarto ano do Curso de Agropecuária, é o único

rapaz que participa da pesquisa. Mora com os pais em uma propriedade rural do município de Campo Novo, próximo a Santo Augusto. Está desenvolvendo o seu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. Auxilia os pais na administração da propriedade rural onde moram, toca violão e guitarra, passa boa parte do tempo ouvindo música, gosta de ler biografias, estuda para passar no vestibular e no ENEM, ajuda a avó a superar uma depressão. Pretende cursar faculdade de psicologia, segundo ele, “tentar conseguir bolsa do PROUNI, fazer um cursinho de inglês, aulas de guitarra”.

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Mário tem como gêneros de leitura preferidos os romances, mistérios, crônicas e livros de filósofos. Seus autores preferidos são Friedrich Nietzsche, Markus Zusak, Khaled Housseni, Pedro Bandeira, Charles R. Cross, Mick Wall, George R. R. Martin, Stephen King, Charles Kiefer, Augusto Cury. Lê também livros na forma eletrônica, sites de notícias e blogs. Ele escolhe suas leituras de acordo com resumos, críticas e resenhas lidas sobre as obras. O título do livro também atrai sua atenção, o que segundo Mário “leva a dar início a uma boa leitura”.

Antes de iniciar a pesquisa, no primeiro encontro com cada jovem, foi entregue o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido” (Anexo 4), que esclarece os objetivos da pesquisa e a forma como a mesma seria desenvolvida. O Termo foi assinado por cada um dos jovens, pelos pais da jovem menor de idade, em duas vias, uma ficando com o participante e outra com a pesquisadora.

1.3 O campo onde a pesquisa iniciou

Para situar o contexto desta pesquisa, segue um breve histórico dos Institutos Federais e, também, um pouco sobre o Município de Santo Augusto, sua localização na região e alguns dados mais relevantes. Acredito ser necessária esta contextualização, principalmente, pela relevância e importância dos Institutos Federais na atual política educacional brasileira.

1.3.1 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia representam a proposta de um novo modelo de educação profissional e tecnológica, estruturado a partir dos Centros Federais de Educação- CEFETs, das Escolas Técnicas Federais Agrotécnicas e Vinculadas às Universidades. A proposta dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia é atuar em todos os níveis e modalidades de educação profissional, tanto no nível básico, quanto no nível superior, em consonância com o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE. Para o Ensino

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Médio, está prevista uma combinação do ensino de ciências naturais, humanidades e educação profissional e tecnológica.

O ano de 2003 marca a edição de novas medidas para a educação profissional e tecnológica. Ocorre a substituição do Decreto nº 2.208/97 pelo Decreto nº 5.154/04 que estabelece novas diretrizes para o ensino técnico. Em 2004 os CEFETs e as Escolas Federais recebem autonomia para a criação e oferta de novos cursos técnicos. A partir daquele ano, a política de governo federal já antecipava um novo rumo para a educação profissional.

O governo federal reconhece a potencialidade das instituições de ensino técnico e tecnológico em sua capacidade e qualidade, pensa-se a partir de então em redimensionar as políticas públicas para a educação profissional e o ensino técnico. O desenvolvimento local e regional passa a ser a lógica destas instituições. Através da oferta da educação profissional, espera-se a melhoria da qualidade de vida da população de regiões geograficamente mais limitadas.

Nessa orientação, se amplia o número de escolas federais de educação profissional e tecnológica, dando início a um processo de crescimento da rede federal. A primeira etapa dessa expansão foi iniciada no ano de 2006, com o objetivo de implantar escolas federais de formação profissional e tecnológica em estados que ainda não contavam com estas modalidades de ensino. São priorizados municípios que se localizavam em periferias de metrópoles e no interior, distante de centros urbanos maiores, em que os cursos a serem ofertados estivessem articulados com potencialidades locais de geração de trabalho.

O ano de 2007 representa o início da segunda fase de expansão que trouxe o tema “Uma escola técnica em cada cidade-polo do país”, prevista para ser implantado 150 novas unidades de ensino, num total de 180 mil vagas criadas na educação profissional e tecnológica. A projeção era gerar 500 mil matrículas até o ano de 2010. Para dar conta desta tarefa o governo cria uma nova instituição: os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Eles representam uma resposta para a necessidade de implantação de uma política pública referente à educação profissional e tecnológica no país.

Sabe-se que em diversos períodos da existência de instituições federais atendeu-se às orientações dos governos vigentes, em comum a todos eles a centralidade do mercado e a hegemonia do desenvolvimento industrial. No entanto

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ressaltamos outra proposta das redes federais de educação profissional, a de serem de fato,

[...] propostas de inclusão social e de construírem ‘por dentro delas próprias’ alternativas pautadas neste compromisso, definidas pelo seu movimento endógeno e não necessariamente pelo traçado de política de governo. [...] a decisão de estabelecer os Institutos Federais como política pública representa trabalhar na superação da representação existente [...] e estabelecer sintonia com outras esferas do poder público e da sociedade, na construção de um projeto mais amplo para a educação pública. (BRASIL, 2008, p.23).

Em termos de política pedagógica, cabe aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia a oferta da educação básica, principalmente cursos de Ensino Médio integrado à educação profissional técnica de nível médio, também o ensino técnico em geral, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas e bacharelados em áreas em que a tecnologia e a ciência são componentes determinantes. É função dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia assegurar a formação inicial e continuada do trabalhador.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – IFFarroupilha surgiu a partir da integração do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Vicente do Sul e da Escola Agrotécnica Federal de Alegrete, com as suas respectivas Unidades Descentralizadas de Ensino, e mais uma Unidade Descentralizada que pertencia anteriormente ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Bento Gonçalves. Foi criado a partir da Lei nº 11.892 de 2008 e tem sua abrangência principal o Oeste e Noroeste do RS, especialmente as regiões da Campanha, Celeiro, Centro, Missões, Fronteira Oeste e Fronteira Noroeste e Noroeste Colonial. O Instituto Federal Farroupilha está presente hoje nos seguintes municípios: Alegrete, Jaguari, Júlio de Castilhos, Panambi, Santa Rosa, São Borja, Santo Ângelo (em fase de implantação), São Vicente do Sul e Santo Augusto. Sua reitoria se encontra em Santa Maria.

O documento que norteia as ações do Instituto Federal Farroupilha e reúne as informações referentes a todos os seus campi denomina-se Plano de Desenvolvimento Institucional- PDI. Nele constam os fundamentos básicos do Instituto, são definidas as suas formas de atuação bem como é apresentado seu planejamento para o período compreendido entre os anos de 2009 a 2013.

Dentre seus fundamentos básicos, estão previstos: “ser um espaço de construção do conhecimento, de socialização e de crescimento individual e coletivo”; “o respeito às diferenças, sem desconsiderar os conhecimentos, valores e cultura

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dos atores envolvidos no processo educacional”; superar a formação tecnicista através de “uma formação humanística, integral, na qual os conhecimentos partam da prática social”; baseada em “uma formação ética, política e estética”; que possa servir ao interesse de integração e inclusão na sociedade, em especial “aos diferentes meios de atuação pessoal e profissional”. A formação deve contemplar processos de aprendizagem e através da articulação entre ensino, pesquisa e extensão “construir saberes, gerar resultados, tanto na educação básica integrada quanto nos cursos técnico e subsequentes” (Instituto Federal Farroupilha –PDI 2009/2013 p.1-2)

A missão do IFFaroupilha é

Promover a educação profissional, científica e tecnológica, por meio do ensino, pesquisa e extensão, com foco na formação de cidadãos críticos, autônomos e empreendedores, comprometidos com o desenvolvimento sustentável (PDI 2009/2013, p.5)

A visão do Instituto é a de: “ser referência em educação profissional, científica e tecnológica, como instituição promotora do desenvolvimento regional e sustentável”. Seus valores são: “Ética, Solidariedade, Sustentabilidade, Desenvolvimento Humano, Democracia, Qualidade e Inovação”.

O câmpus Santo Augusto do IFFarroupilha, local da pesquisa, nasceu na intenção de proporcionar uma alternativa no campo da formação profissional na Região Celeiro do RS. Com esse objetivo, a comunidade regional criou o CEPROVALE - Centro de Educação Profissional Vale do Rio Turvo, mantido pela Fundação Vale do Rio Turvo para o Desenvolvimento Sustentável, FUNDATURVO/DS, para atender a demanda de ensino profissional de Santo Augusto e toda a região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. O CEPROVALE seria uma Escola Comunitária, construída com recursos do Programa de Extensão da Educação Profissional PROEP-MEC, com o intuito de atender uma demanda regional principal na área da agropecuária. Esse projeto foi liberado, no primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a região se mobilizou pela federalização do CEPROVALE, sendo o mesmo incorporado pelo CEFET Bento Gonçalves a partir de dezembro de 2008 e, posteriormente, com a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, incorporado ao Instituto Federal Farroupilha.

Em comum acordo, a mantenedora e o Ministério da Educação decidiram federalizar a escola assim que fosse concluída a construção e a compra de

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equipamentos, o que de fato aconteceu, tornando-se a mesma uma Unidade de Ensino Descentralizada (UNED) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Bento Gonçalves (CEFET-BG), passando a ser mantida com recursos do Ministério da Educação transformando-se, assim, em um estabelecimento de ensino público e gratuito. Os cursos implantados na UNED seguiram as tendências e os indicadores do desenvolvimento da região e o projeto inicial da escola, ofertando a educação profissional de modo a contribuir para o desenvolvimento da mesma.

Inaugurada em 18 de dezembro de 2007, a UNED iniciou suas atividades letivas com as primeiras turmas no dia 25 de fevereiro de 2008, ofertando sete turmas de quarenta alunos cada em seis diferentes cursos: Técnico em Operações Administrativas Integrado ao Ensino Médio, Técnico em Operações Comerciais Integrado ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, Técnico em Agropecuária Subseqüente ao Ensino Médio com habilitações em Agricultura, Zootecnia, Agroindústria e Técnico em Serviços Públicos Subseqüente ao Ensino Médio.

Do intenso contato estabelecido, desde o início das atividades, com a comunidade regional, identificou-se uma carência e forte demanda por cursos superiores, dada a inexistência na região Celeiro (Noroeste Colonial do Rio Grande do Sul) de Instituições Públicas de Ensino Superior, de modo que se passou a pensar em propostas de cursos desse nível que atendessem à demanda regional, sem implicar, no entanto, grandes investimentos na infraestrutura, que aproveitassem a disponibilidade de docentes já atuantes na instituição e que fosse sempre mantida a vocação regional pela agricultura. Optou-se então pela criação dos cursos Superiores de Tecnologia em Agronegócio e Tecnologia em Alimentos e de uma Licenciatura em Computação. Dada a rápida expansão do número de matrículas, tornou-se evidente a necessidade da ampliação das instalações da UNED, pois o número de salas de aula existentes ainda era o mesmo do projeto inicial da CEPROVALE.

Como o convênio firmado entre o então CEFET-BG e a Fundaturvo-DS constituía-se em um termo de cessão de uso do imóvel, havia o impedimento de encaminhar qualquer projeto de construção, uma vez que não são autorizadas construções em terrenos que não façam parte do patrimônio da União. Com isso, foi solicitada aos representantes da Fundaturvo a doação do terreno e das benfeitorias

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já existentes, o que aconteceu em 24 de novembro de 2008, quando foi assinada a escritura de doação da área da então UNED para a União.

Com a entrada em vigor da lei nº 11.892 que criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, sancionada em 29 de dezembro de 2008 pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a UNED de Santo Augusto passou a integrar o Instituto Federal Farroupilha, com reitoria em Santa Maria, saindo da condição de UNED para ser um campus do referido Instituto.

No primeiro semestre de 2009, dando prosseguimento à política de expansão do número de matriculas, foram criados mais três Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio, nas áreas de Agropecuária, Alimentos e Informática, perfazendo um total de quatro cursos nesta modalidade, incluindo-se o curso na área de Administração já existente.

Segundo dados do Departamento Pedagógico, no mês de junho de 2012, estudavam neste Instituto 434 alunos nos cursos técnicos na modalidade integrado ao Ensino Médio, que oferecia, também, cursos superior de tecnologia em Alimentos e Agronegócio; Licenciatura em Computação; Técnico em Comércio dentro do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA; duas pós-graduações, uma em Educação de Jovens e Adultos-EJA com ênfase em Educação no Campo e outra em Informática na Educação. Trabalha ainda com formação inicial continuada no programa PROEJA- FIC, Mulheres Mil e Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC. Deste total de 434 estudantes do técnico na modalidade integrado, 131 eram do curso de Técnico em Administração, 101 do Técnico em Agropecuária, 88 do Técnico em Alimentos e 114 do Técnico em Informática.

Observa-se que o IFFarroupilha – câmpus de Santo Augusto tem apresentado um crescimento na procura por seus cursos e está atendendo jovens e adultos de um número maior de municípios da região. Atualmente, através do PRONATEC, o atendimento de Jovens e Adultos em Cursos de Formação Profissionalizante tem assumido uma importância considerável, com a instalação de turmas na região e a abertura de vagas para a comunidade.

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1.3.2 O Município

Santo Augusto é um município situado na região Celeiro no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, sua extensão é de 468,0 km², tendo sua economia baseada na agricultura. Os principais produtos agropecuários são soja, trigo, milho e leite. Segundo dados do IBGE no ano de 2010 sua população total era de 13.968 habitantes, com 81,5 % residindo em domicílios urbanos. A densidade demográfica de 29,84 hab/km². A taxa de analfabetismo no ano de 2000 era de 11,05%, mas reduziu para 9,1% no ano de 2010. Apresenta um PIB per capita de R$ 18.210,11 no ano de 2010, inferior ao PIB per capita do RS (R$ 23.606,00) e do Brasil que era R$ 19.766,00 no mesmo período (FEE). Se aliarmos a esse indicador o índice de Gini, Santo Augusto apresenta um índice de 0,5793, superior ao do RS que era 0,492 (IBGE 2012), o que representa uma considerável concentração da renda e significa que os pobres são mais pobres ainda que o PIB per capita indica.

A região Celeiro do Rio Grande do Sul é formada por 21 municípios, conforme imagem a seguir.

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Figura 1. Municípios que pertencem ao COREDE Celeiro-RS.

Fonte Diário Oficial do Rio Grande do Sul – 10/01/2008

A população da região Celeiro tem decrescido a cada ano, fruto da migração para outros centros urbanos ou novas áreas de fronteira agrícola na região Centro-Oeste e Norte do país. Os jovens são a parcela da população que mais migra, uma vez que buscam alternativas de trabalho nos centros maiores e mais industrializados.

O público do Instituto é bastante diversificado, composto por jovens oriundos do meio urbano e rural de diferentes municípios da região, entre eles: Chiapetta, Inhacorá, Alegria, Nova Ramada, Campo Novo, São Martinho, São Valério do Sul, Coronel Bicaco, Tenente Portela, também pequenos municípios, com economia baseada na agricultura.

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2 JUVENTUDES, IDENTIDADES E SUBJETIVIDADES

É uma busca por ser diferente que nos torna iguais, na verdade também tem um lado de que, hoje há uma superioridade dos jovens, de eles se acharem superiores que outros seres vamos dizer assim, não há o sentimento de humildade, de você saber que tu é uma pessoa, que a Ana Maria é uma pessoa, que eu sou uma pessoa, que eu não sou mais do que ela, e ela não é mais do que eu, apesar de que eu sei uma coisa melhor do que ela e ela sabe uma coisa melhor do que eu. (Clarice)

Com esta fala da jovem Clarice como epígrafe, inicio este capítulo refletindo sobre a questão das identidades juvenis e alguns fatores que perpassam o ser jovem em nossos dias. Em um segundo momento, trato sobre a condição juvenil e analiso a partir das falas dos jovens o que é ser jovem nos dias atuais. Por fim, como se trata de jovens inseridos no meio escolar, especificamente no Ensino Médio, analiso esta etapa da escolarização e suas relações com a juventude.

2.1 Identidades juvenis

Ao longo da história, os seres humanos viveram muitas transformações sociais e culturais, que por sua vez afetaram seus comportamentos e a formação de suas identidades. Stuart Hall (2006, p.7), analisando a questão da identidade, lembra que a teoria social vem debatendo amplamente sobre o assunto, pois, segundo o autor, “as velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno”. Desta maneira, as identidades modernas estão sendo ‘descentradas’, ou ainda, “deslocadas ou fragmentadas”. O autor pondera que as sociedades modernas estão se transformando, “fragmentando desta forma as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade”, que, no passado, forneciam ao sujeito, “sólidas localizações como indivíduos sociais”. (HALL, 2006, p. 8-9).

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