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Maquinices: esculturas irônicas

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS. André Marcos da Silva Silva. MAQUINICES: ESCULTURAS IRÔNICAS. Santa Maria, RS 2017.

(2) 2. André Marcos da Silva Silva. MAQUINICES: ESCULTURAS IRÔNICAS. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Maria, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Artes Visuais.. Orientadora: Profª Drª Rebeca Lenize Stumm.. Santa Maria, 2017.

(3) 3.

(4) 4. André Marcos da Silva Silva. MAQUINICES: Esculturas Irônicas. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Maria, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Artes Visuais.. Aprovada em 23 de novembro de 2017.. ____________________________________ Rebeca Lenize Stumm, Profª. Drª (UFSM) (Presidente/Orientador). ___________________________________ Helga Correa, Profa. Drª (UFSM). _________________________________ Teresinha Barachini, Drª (UFRGS). Santa Maria, RS 2017..

(5) 5. AGRADECIMENTOS. Certamente agradeço de alma todos aqueles quem ajudaram diretamente ou indiretamente nesse caminhar, vejo a arte como obra coletiva, assim são tantos que temo cometer alguma injustiça em esquecer de mencionar alguém... Primeiramente, Marcia Righi, meu amor, companheira de todas as horas; A minha mãe Iraí Silva (in memóriam), ao meu pai Izabel Paim, por fazerem de mim quem eu sou. Aos meus irmãos Luciano Silva e Leonardo Douglas pela parceria, pelos momentos únicos em família; As amigos: Roberto Chagas, Catiuscia Dotto, Pablo Fronza, Alex Diogo Santos, Rogério Tolfo, Aline Arend por tudo que passamos e vivemos nesses tempos; Rebeca Lenize Stumm pela orientação, compreensão e amizade; Aos colegas, especialmente aos do grupo Momentos Específicos pelas vivências; Universidade Federal de Santa Maria- pela qualidade do ensino público e gratuito; Coordenação, docentes, discentes do PPGART- pelo estímulo à busca do conhecimento; Meu agradecimento especial a CAPES/FAPERGS- pela concessão de bolsa de estudos. Gratidão a todos que, de alguma forma, contribuíram para que este trabalho se realizasse, e não estão nominalmente citados..

(6) 6. RESUMO. MAQUINICES: ESCULTURAS IRÔNICAS. AUTOR: André Marcos da Silva Silva ORIENTADORA: Rebeca Lenize Stumm. A dissertação tem como proposta o processo de construção de Maquinices: esculturas irônicas, com uma relação de ironia ao quanto estamos envolvidos neste contexto homem-máquina, desta forma, através da arte contemporânea a criação de dispositivos-esculturas, que permitem ações participativas, em alguns casos, assim propondo uma solução fantástica para condições do mundo real, onde as máquinas que tanto fascinam, e contribuem com o desenvolvimento da sociedade, mas que também podem causar alienação e mal-estar. As maquinices seriam respostas artísticas as questões tão pertinentes a esse tempo que vivemos, onde o consumo desesperado, desperdício e desrespeito o meio ambiente podem ter resultados catastróficos, entretanto, soluções estão surgindo, maquinices buscam se inserirem como uma fonte de reflexão e consciência nessa conjuntura.. Palavras- chave: Arte Contemporânea. Arte e Visualidade.Escultura. Ironia. HomemMáquina..

(7) 7. ABSTRACT. MAQUINICES: IRONICS SCULPTURES. AUTHOR: ANDRÉ MARCOS DA SILVA SILVA ADVISOR: REBECA LENIZE STUMM. The dissertation proposes the process of construction of Maquinices: ironic sculptures, with an ironic relation to how much we are involved in this human-machine context, in this way, through contemporary art the creation of devices-sculptures, that allow participatory actions, in some cases, thus proposing a fantastic solution to real-world conditions, where machines that both fascinate and contribute to the development of society, but which can also cause alienation and malaise. The maquinices would be artistic answers the questions so pertinent to this time that we live, where the desperate consumption, waste and disrespect to the environment can have catastrophic results, however, solutions are emerging, maquinices seek to insert themselves as a source of reflection and awareness in this conjuncture.. Keywords: Contemporary Art. Art and Visuality. Sculpture. Irony. Man-Machine..

(8) 8. SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................09. 2. CAPÍTULO I. O CONTEXTO DO ARTISTA EM CONSTRUÇÃO.................11. 2.1. O maquineiro .............................................................................................................11. 2.2. A maquinice ...............................................................................................................25. 3. CAPÍTULO II. O PROCESSO DE PRODUÇÃO ................................................36. 3.1. Construindo Máquina(ices).........................................................................................36. 3.2. A máquina e o encontro com o outro .........................................................................42. 4. CAPÍTULO III. A AÇÃO .......................................................................................49. 4.1. Artista atua dentro da Maquinice................................................................................49. 4.2. Artista atua fora da Maquinice....................................................................................56. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................66 REFERÊNCIAS ........................................... ...........................................................71.

(9) 9. 1. INTRODUÇÃO Após longo período, finda mais uma fase da busca àquilo que poderia chamar de minha poética e na extensão dessa procura cheguei a resultados que me interessaram, pois percebo que os elementos que a integram, instigam e interagem com a vida, resultando num conjunto todo que proponho por obra. Enquanto pesquisa no Mestrado, houve o encontro com dois contextos: um, a vivência em Residências de Artistas, nas quais ocorreram encontros e relações com as pessoas que vivem e trabalham em intermediações com a arte, e o aperfeiçoamento resultante desse convívio; o segundo contexto é o da pesquisa individual que gerou uma importante transformação na forma de ver, sentir, refletir e conceber a poética. Estas relações abarcam tanto as minhas propostas artísticas quanto o entendimento das demais possibilidades de produções artísticas. Então a experiência do Mestrado parece estar muito além da pesquisa e produção dos trabalhos poéticos, existe também a experiência de estar inserido num meio de troca com os pares que carregam objetivos próximos, na busca de experimentações na arte, no fazer/pensar, no aprofundamento das trajetórias, na tentativa de entendimento e discussões desse nosso situar- se no momento contemporâneo. Foco a pesquisa naquilo que denominei de “maquinice1” algo que trato como “objetos escultóricos que propõem uma relação irônica entre o homem e a máquina”. Com isso a reflexão aqui elaborada visa responder algumas problematizações específicas encontradas para essa proposta miscigenada de homem-máquina-escultura. Acredito que a pesquisa trata de situações para pensar a arte por esse viés, ao misturar homem, máquina e ironia chegando a desdobramentos por meio de produção, reflexão e investigação, depurados na sintonia poética entre os trabalhos. Ao redesenhar uma metodologia apropriada para esta pesquisa, considero criar relações significativas entre a investigação prática, que envolve o conhecimento técnico e experimental do artista com os materiais, e ainda, contemplar a possibilidade de outros momentos, como o de relação da escultura com o espectador, quando este precisa também descobrir a escultura-máquina, criando outras formas de se relacionar com as propostas sugeridas pelo trabalho.. 1. Maquinice: neologismo criado para denominar o tipo de escultura irônica tratada durante pesquisa..

(10) 10. Dividido esta dissertação em três capítulos, no primeiro procuro contextualizar historicamente a pesquisa, correlacionando minha trajetória poética com a história da arte. No segundo capítulo busco estabelecer as relações do processo investigativo desenvolvido nessa pesquisa com as variantes de uma escultura-máquina; por fim, no terceiro capítulo procuro definir as atuações das pessoas com a maquinice, revisitando potencialidades que podem oferecer a compreensão deste acontecimento, como algo que ocorre no espaço/tempo entre relações homem-maquinice..

(11) 11. 2. CAPÍTULO I- O CONTEXTO DO ARTISTA EM CONSTRUÇÃO. 2.1. O Maquineiro. Enquanto reflito sobre minha trajetória artística e sobre esta pesquisa poética, percebo que a História da Arte apresenta certa aproximação com a trajetória que percorri em minha formação como ser que constrói aparatos e manipula os materiais. Assim, revisito os principais períodos históricos da arte para compor uma relação imaginária, e se hoje buscamos nos apresentar como artistas contemporâneos, percebo que lá́ atrás, uma significativa parcela da História da Arte foi em algum momento revisitada, durante o processo de formação acadêmico, se assim me permito dizer, permitindo importantes influencias aos trabalhos concebidos. Dessa maneira, a academia parece ter me oferecido caminhos de percepções da arte, como quando o traço expressivo do bastão de grafite afundou no papel aplicando não a forma, mas a essência do que era visto, mas era preciso quebrar com o óbvio, entre a realidade e fantasia, multifacetar o que era visto, absorver o tempo, absorver um conceito. Paralelo a isso, me vejo absorvendo o que era visto na máquina, a velocidade, a engrenagem. Indo além, me apropriei de objetos, das formas, daquilo que já estava pronto e incorporei ao trabalho, e novamente, indo mais além, distorci o tempo, por algo que parece e não é. Assim joguei com o olhar, com a possibilidade de dar sentido daquilo que incorpora o pensamento. “isso não é um cachimbo” (fig.01) - “isto não é uma máquina”... entretanto o processo continua, e essa mecânica também precisa ser rompida, agredida, e a tela dever receber esguichos de tinta, algo abstrato, a expressão que remete ao estado mental do maquineiro, a forma se desconstrói, se abstrai, são apenas harmonias, são apenas composições pictóricas, mas essa forma também não satisfaz mais, o prazer estético perdeu a narrativa, a arte está morta, busca-se um conceito, uma ideia como arte, uma máquina como fonte inspiradora, para se apropriar ou então melhor, criar uma máquina que sirva de arte, que consiga mesclar essa trajetória junto, algo irônico e puerial ao seu tempo, ao mesmo tempo, uma maquinice, também um de neologismo criado para contextualizar meus trabalhos, a fusão do radical máquina com uma sufixo de invencionices (maqui+nice) como se verá no decorrer da pesquisa poética, com seu humor e ironia..

(12) 12. Figura – 01 pintura de René Magritte, 1929. Fonte: http://g1.globo.com/pop-arte/blog/yvonne-maggie/post/isto-nao-e-um-cachimbo. Acesso 04/03/2017.. Mesmo nesse momento, refletindo sobre vida e trajetória, torna-se emocionante constatar que sempre via as máquinas com admiração e respeito e, principalmente com uma curiosidade destrutiva, afinal era preciso quebrar para ver o que tinha dentro. Algo que vai além de um procedimento poiético, pois remonta o aprendiz de construtor da infância, quando olhava meu pai inventando suas “próprias maquininhas” (inventonices com alguma finalidade utilitária), ficou a herança de pretender criar as minhas também. Quando eu era pequeno, ao contrários da maioria dos outros garotos conhecidos que colecionavam figuras de heróis ou esportistas, eu colecionava figuras de carros, invés de posters de jogadores de futebol, eu tinha um banner de um avião F15 com sua estrutura a mostra por dentro da fuselagem, como um raio-x que expõe as vísceras daquela aeronave, na parede do quarto, entre outras máquinas. Na adolescência, a fase dos ídolos de música, invés de bandas ou artistas eu tinha um posters de um modelo de teclado eletrônico. E o que era um “gosto”, uma “vocacão”, uma “paixão pessoal”, agora se reflete na forma de perceber e conceber a Arte, tanto no fazer quanto no pensar, algo que hoje reverberam em implicações que problematizam na forma de pesquisa, de uma profunda investigação pessoal no processo de definição dessas “maquinices”. Assim, ao propor o estudo das “maquinices”, busco um referencial que sempre esteve presente em meus pensamentos, tanto na forma de uma curiosidade científica, quanto algo inerente a minha formação como pessoa. Sou daquele tipo de curioso que nada tecnológico escapa aos olhos, sempre despertando a atenção para esse universo da ciência e tecnologia. Desde bem pequeno, buscava os livros de enciclopédia científica como meus preferidos,.

(13) 13. lembro de uma coleção chamada de Tecnirama (fig. 02 e 03), livros grandes, com uma tecnologia de ponta dos anos 60 talvez, e já ultrapassados na época em que eu lia, nos anos 80, mas que para mim marcou meu imaginário com possibilidades fantásticas, de um mundo futurista, moldando os processos de desenvolvimento cognitivos. E mesmo que a natureza e a caracterização da inteligência mudam significativamente com o passar do tempo (WEISS, 1998), algo de mecânica, tecnologia, de admiração as máquinas sempre se manteve latente em minhas lembranças. E hoje rememorando essas passagens, agora num tom retro-futuristas, me soa mais uma vez irônico saber que já estamos vivendo aquele futuro almejado nos livros de minha infância, e percebo essa influência agindo em meu pensamento, e poética. Figura 02 e 03 - Ilustrações de revista de época. Fonte: http://www.anosdourados.blog.br/2015/08/estante-de-livros-tecnirama.html. Acesso 04/03/2017.. A pesquisa vem dessa forma a contribuir com um aprofundamento poético nesse caminho. Antes disso, o trabalho com suportes tradicionais obtiveram uma visualidade que cumpria com uma expectativa, era o que o mercado de arte local esperava, e também, hoje percebo que inclinei minha formação em escultura na busca dos padrões desenvolvidos pela arte moderna. Minha primeira ruptura com os padrões de produção que se relacionavam com o Período da Arte Moderna aconteceu quando morei em São Paulo e trabalhei na 24 Bienal como mediador, momento em que me inseri, tanto no curso de formação, quanto durante a Bienal, em discussões que se davam cotidianamente sobre processos da Arte Contemporânea..

(14) 14. Nessa fase, a maioria de meus projetos e estudos foram pensados contemplando as discussões travadas na Bienal, entretanto, ao voltar para Santa Maria em 2006, e por ser um artista local atuante na cidade, recebi encomendas que, de certa forma, forçavam atender a expectativa de uma arte tradicional, focada no objeto de fácil inserção aos lugares destinados a arte de uma cidade do interior. Na cidade de Santa Maria, venho realizando trabalhos em grupo que já somam mais de 10 anos, este grupo se tornou um dos coletivos mais conhecidos e atuantes na cidade. Éramos chamados para executar grandes projetos para diversas instituições, feiras e obras públicas, além de inúmeros eventos e exposições, com destaque para o Simpósio Internacional de Esculturas de Santa Maria. Os Simpósios proporcionaram trocas de experiências e convivência com artistas de vastas atuações em outros países, contudo, a necessidade de um aprofundamento teórico e novas perspectivas para a poética individual, me conduziram ao aprofundamento no mestrado acadêmico. Considero hoje, que até esse momento do Mestrado nunca tinha mergulhado verdadeiramente de cabeça na arte, digo isso na condição de ir ao fundo, ao extremo de minha capacidade, de me expor vitalmente. Sei que esse raciocínio aflora outros desdobramentos, de cunho pessoal e psicológico, mas torna-se necessário esse afloramento na condição de entender e aprofundar os elementos que norteiam minha trajetória. E como repercute minhas idiossincrasias no desenvolvimento do pensar/fazer a minha arte. Contudo, vida e arte se misturam numa relação irônica com as máquinas, e a partir dessa miscigenação procuro encontrar o fundamental, algo que solucione essa exigência maior na forma de ver, pensar e criar as minhas esculturas. Assim, na integração com o domínio que tenho no trabalho com os suportes tradicionais da escultura em metal (fundição, soldagem, construção, etc.) procuro acoplar elementos das máquinas, que inserem na proposta a possibilidades dos movimentos e articulações, gerando ações, performances, participações que acionam dispositivos, em uma escultura que precisa do “outro” para “acontecer”, e mantendo como suporte básico a metalurgia na sua materialidade. A questão da mecanicidade, sempre esteve latente em meus trabalhos, (fig.04 e 05) de início como referência formal, emprestando formas e elementos, essa fase se deu durante minha formação acadêmica. Após concluir o bacharelado começo a introduzi os primeiros conceitos propriamente ditos, onde a escultura se complementava através um tema. Na maioria das vezes explorando as consequências das relações homem x máquina, contudo, foi no período de mestrando que essa relação veio se mesclando em uma escultura que se relaciona com o corpo, fazendo com que o corpo esteja presente como parte ativa na obra e.

(15) 15. propondo uma abordagem de questionamentos frente a essa combinação de tecnologia de aparência rudimentar na arte. Procuro mesclar o fazer artístico e a questão da tecnologia (mecânica), como também acontece na maioria de meus desenhos, onde vou desenhando e imaginando o traçado de uma máquina de plotter, e o próprio pensamento no momento de criação se faz com conceitos associados através de elementos mecânicos, interligados com a tecnologia presente em todos os dispositivos que vejo nos lugares. Assim, me permito a encontrar elementos mecânicos e os incorporar, imaginando possibilidades de produção de máquinas/esculturas com soluções vinculadas a uma problemática específica: as maquinices. Esses primeiros parágrafos, descrevem algumas das passagens pela qual passei no meu processo de formação artística, passagens essas que remetem por identificação com os períodos históricos da Arte que estudamos na academia. Também marcado pelo aprendizado e exercício de distanciamento que procuramos adquirir nesse processo pesquisa dentro da poética em artes, pois, de certa maneira continuamos a carregar conceitos que nos acompanham e parecem retornar em alguns trabalhos sob outros pontos de vista. Nesse primeiro momento de investigação, busco refletir sobre os suportes advindos da minha trajetória, da formação enquanto artista, das referências que cruzam a História da Arte e a História das tecnologias mecânicas. Percebo hoje que uma parcela importante dos trabalhos que produzi contém influencias que estão relacionadas as formas e imagens produzidas pelos artistas durante o movimento Futurista (fig.06), assim como no movimento que descende desse, o Vorticismo (fig.07). Percebo que “conceitos de maquinar2” se refletem em formas que parecem mecânicas, cheia de engrenagens, motores. Formas que parecem sugerir principalmente, o movimento das formas, a velocidade (pela forma aerodinâmica), a possibilidade de ação. Formas que sugerem a escultura como um objeto não representativa, mas que poderá́ atuar como uma máquina se somam as máquinas que estão por toda parte em nosso imaginário. Esta perspectiva abre para ampliar as possibilidades das esculturas produzidas nestas pesquisas e do entendimento da inserção destas no contexto da arte.. 2. Maquinar: Nesse texto, o uso tornou-se exclusivamente como transformar em forma de máquina. Embora sirva a outros significados irônicos como, planejar, idealizar, projetar, inventar, engendrar, forjar. A palavra maquinar também possui outros significados que não interessam a essa proposta, como por exemplos: chocar, delinear, armar, atentar, incubar, fabricar, traçar, entretecer, obrar, conluiar, engenhar, mancomunar, bolar. 4 enredar, conspirar, intrigar, tramar, urdir, etc... Fonte: https://www.sinonimos.com.br/maquinar/ acesso – 04/03/2017.

(16) 16. Figura 04 - Escultura, Mulher Máquina I, 2003, André Marcos (alumínio). Foto: André Marcos, 2016.. Figura 05 - Escultura, Mulher Máquina II, 2003, André Marcos (alumínio). Foto: André Marcos, 2016..

(17) 17. Figura 06- Escultura de Umberto Boccioni/1913 Figura 07 – Escultura The Rock Drill de Jacob Epstein's, 1913. Fonte: Civico Museo d’Arte Contemporanea, postado por Mario Almeida , acesso em 04/03/2017.. Desde a formação acadêmica em escultura, quando buscava o estudo de bibliografias da área de engenharia, também realizava um estágio informal numa tradicional fundição da cidade, produzindo arte funerária, placas comemorativas, troféus, etc., assim fui na prática adquirindo a capacitação necessária para dominar uma técnica de fundição, que na época havia pouquíssimas informações sobre ela, e apenas em rara literatura estrangeira, conhecida como lost-foam3, uma tecnologia que buscou-se uma aplicação específica, na tentativa de solucionar algumas adaptações as necessidades dos trabalhos desenvolvidos por essa técnica de fundição que estava começando a dominar. Acredito que o metal fundido remete a mesma materialidade que geralmente encontramos nas máquinas. As formas em metal sugerem e facilitam o movimento pela adequação a precisão das formas necessárias as máquinas, como rodas e engrenagens. O metal permite formas polidas, que se parecem facilitar o uso, serem limpas e agradáveis ao toque humano.. 3. Lost-foam – técnica de fundição onde o molde feito de espuma evaporável, geralmente Isopor, é perdido na fase de verter o metal fundido, permitindo a criação de apenas uma peça por original, criada por um artista plástico nos anos 60. Revista Fundição e Serviços, nº 78, p 67 - Aranda Editora..

(18) 18. Desta percepção podemos elencar as influencias do futurismo, podemos perceber o início da consciência social do homem com a máquina. Cito aqui o filme de Charles Chaplin (fig.08), homem performando correndo, mudando sua forma de agir para acompanhar os movimentos da máquina.. Figura 08 - Cena do filme Tempos Modernos. Fonte: http://www.redegeek.com.br/2014/04/29/ultrageek-144-tempos-modernos/ em 28/10/2017.. Encontramos aqui também relações com o que pode ser entendido como o início da performance. Segundo Glusberg (2005) “futuristas e dadaístas utilizavam a performance como um meio de provocação e desafio, na sua ruidosa batalha para romper com a arte tradicional”. Estas relações me provocam rever o que já produzi sob outra ótica, me dando conta das relações entre materiais, formas e aproximações com outro na arte. Esta pesquisa coloca como marcos iniciais os estudos sobre as técnicas nos movimentos da arte no século XX e na forma como as percepções artísticas iniciais obtiveram formação tanto pela academia quanto o mercado de arte local. No entanto ao buscar situar a produção em desenvolvimento precisamos nos ater também as mudanças, as técnicas e as novas possibilidades técnicas, que proporcionam hoje outras formas aproximações das pessoas com as máquinas. Voltando mais ainda no tempo, podemos perceber que as relações entre arte e técnica não são menos complexas do as que se estabeleceram entre sociedade e tecnologia. Historicamente, o surgimento das máquinas, provém dos primeiros instrumentos primitivos, ferramentas primitivas usadas para cortar, caçar, pintar, etc., entretanto a partir dos séculos.

(19) 19. XVIII (com os mestres relojoeiros) e sobretudo nos século XIX, o desenvolvimento intenso das máquinas causaram mudanças significativas na sociedade. Mudanças que vão muito além do trabalho com a máquina, mas para um trabalho que passa a ser cada vez mais mediado por ferramentas e máquinas. O uso coletivo de máquinas nas fábricas, nos transportes de carga, mas também nos deslocamentos das massas de pessoas, no entretenimento, momentos de descanso e em inúmeros aspectos do cotidiano (BRANDÃO, 2006). Dessa maneira, a vida do homem passa ser ordenada por uma crescente necessidade das máquinas, exigindo uma adaptação aos ritmos destas à sua presença em todos os lugares, provocando um desempenho maquinados nos modos de comunicação e relação com a máquina. Acredito que as máquinas foram criando códigos universais, hoje todos olhamos para algo redondo e sabemos que esta forma tem potencial pra girar, pode ter sido feita com esta função. Todos olhamos para uma manivela4 e sabemos que a forma remete ao toque da mão, podemos por a mão e a partir disso provocar que algo aconteça. Ferramentas produzidas para serem tocadas, geralmente possuem a dimensão da mão humana, com forma anatômica. De certa forma estamos todos coordenados por uma máquina representada pelo relógio5 que informa os horários coletivos, do trabalho, do ir e vir dos meios de transporte, modificando até mesmo o sentido de noite e dia. E o relógio, sendo uma máquina que está no pulso de uma grande maioria da população, obrigou o homem a alterar ou desconectar sua sensibilidade com o tempo vivido imediato. Não precisa mais olhar o sol e sim cada homem tem seu próprio sol-máquina no pulso que é a mesmo que todos os demais possuem, que trabalha sempre, faça chuva ou sol. Então o relógio torna-se uma máquina que passou a ser usado para orientar a passagem do tempo no cotidiano, podendo até a se sobrepor a gerencia do tempo vivido na realidade. Geriu nossa percepção da realidade, nosso próprio fluxo de trabalho, de existência, ações, pensamento e nossos padrões foram adaptados ao ritmo das máquinas, ao tempo das máquinas, como no Filme de Charles (fig.09) em que o homem corre no ritmo da máquina.. 4. manivela sf (fr manivelle) 1 Mec Parte de um eixo curvado em ângulo reto ou braço fixado em ângulos retos à extremidade de um eixo, para transmitir rotação a este ou receber dele um movimento circular. http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=manivela 5. relógio sm (gr horológion, pelo lat) 1 Instrumento que marca as horas, os minutos etc. 2 Qualquer instrumento para medição e indicação do tempo. http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- portugues&palavra=rel%F3gio.

(20) 20. Figura 09 - Cena do filme Tempos Modernos. Fonte: http://www.redegeek.com.br/2014/04/29/ultrageek-144-tempos-modernos/ acessado em 28/10/2017.. A história da arte, por não estar afastada da realidade, torna evidente essa tendência de maquinização da sociedade por meio de imagens, processos e do próprio uso da máquina nos trabalhos artísticos. Podemos observar inúmeras representações de máquinas, concentrandonos nas primeiras décadas do século XX, porém, William Turner (1775- 1851) (fig.10), buscando o registro dos efeitos da luz na atmosfera, foi provavelmente o primeiro artista a registrar uma máquina cortando a paisagem na pintura intitulada “Chuva, Vapor e Velocidade”, de 1844 (SCHAMA, 2010)..

(21) 21. Figura 10 - Pintura de William Turner, Chuva Vapor e Velocidade de 1844. Fonte https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/chuva-vapor-e-velocidade-william-turner/ acessado em 28/10/2017.. Segundo Marc Le Bot (1979), a introdução da realidade industrial no imaginário do século XIX teria se efetuado, com a obra de Bonhommé, com esse pintor mostrando paisagens rurais transformadas pela industrialização e, no interior das fábricas, as máquinas eram apresentadas com detalhes minuciosos, próprios da pintura realista (BRANDÃO, 2006). Adolph von Menzel (1815-1905) (fig.11), por outro lado, utilizou as estruturas metálicas das fábricas, as engrenagens emaranhadas e roldanas, a luz das fornalhas, como um cenário infernal para localizar a força e a angústia dos trabalhadores (BRANDÃO, 2006). Nesse contexto, a pintura do século XIX, em sua trajetória considerada realista, tenha surgido com a representação do trabalho mecanizado nas fábricas e a presença das máquinas em meio aos trabalhadores, o movimento artístico que primeiramente passou a permitir que as transformações do industrial produzissem mudanças temáticas e estéticas, e isso metade do século XIX foi o Impressionismo. Ao registrarem cenas urbanas noturnas, como cafés e cabarés, os impressionistas, mostravam seu encanto pelas luzes elétricas e pelos prazeres da modernidade florescente. Os trens, as estações, o vapor e a velocidade mostravam-se também presentes na sensibilidade impressionista..

(22) 22. Figura 11- Eisenwalzwerk (em alemão) O laminador de ferro, Adolph von Menzel. Fonte:. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Adolph_Menzel_-_Eisenwalzwerk_-_Google_Art_Project.jpg. acessado em 28/10/2017.. Certamente foi o Futurismo, principalmente em sua vertente italiana, com a figura singular de Marinetti, a primeira manifestação artística que aclamava abertamente a exaltação da técnica e de uma nova beleza provinda da máquina. Em seu primeiro manifesto, os futuristas já apontavam novas possibilidades aos aspectos da vida urbana, na idade do maquinismo, como modificação da sensibilidade artística (LE BOT, 1979). Em seu manifesto de 1909, os futuristas declaravam “o esplendor do mundo se enriqueceu com uma nova beleza: a beleza da velocidade”, promovendo uma nova forma que exaltava o poder das máquinas e a beleza do progresso técnico. “Queremos cantar o homem que conduz o volante”. O homem que, por si só, não representava o interesse e a busca deste movimento artístico. Com as tradicionais noções de tempo e espaço baseadas na realidade imediata em vigor na época sendo destruídas pela nova velocidade dos meios comunicação e de transporte, diminuindo as distâncias, alterando a experiência do trajeto a ser percorrido, pois, a experiência da viagem e da duração, sendo totalmente transformadas com os trens, os primeiros aviões e automóveis, A velocidade ganhou, no discurso futurista, o atributo divino da onipresença (VERDONE, 1994)..

(23) 23. O cubismo tinha possibilitado a reprodução simultânea da proximidade/distância, frente/perfil, mas os futuristas dariam um efeito muito mais amplo ao falar de “simultaneidade”. Surgia de uma fonte literária e buscava uma expressão plástica (FABRIS, 1987). O futurismo trazia em sua estética a perspectiva de valorização exagerada do poderio maquínico, aclamando proposições extremamente agressivas, como a exaltação da guerra, exaltando o espetáculo dos novos aparatos militares. A necessidade de encontrar uma expressão cultural para novos tempos de industrialização geraram o futurismo, contudo o erro foi considerar que o progresso da técnica se equiparava ao progresso do homem (BRANDÃO, 2006). Sendo, que para os futuristas, a beleza da velocidade era a nova beleza: “um automóvel de corrida com seu capô ornamentado com grossos tubos parecidos com serpentes de hálito explosivo... um automóvel que ruge é mais bonito que a Batalha de Samotrácia.” (BRANDÃO, 2006). Ao que parece, a história decretou o fim da mitologia passada em nome de um novo mito: o automóvel. O futurismo queria a adequação da arte ao novo ritmo da vida. O estilo deveria tornar-se rápido, impetuoso, turbilhonante como a vida moderna (BRANDÃO, 2006). Podemos agradecer aos Futuristas pelo culto a “máquina e a velocidade”, que definiu parte do agir, manipular e do consumir. As constatações realizadas pelos Futuristas foram pertinentes para a época, numa sociedade industrial que exigia rupturas com o passado tradicional, quando haviam perspectivas de guerras, o domínio sobre as velocidades e maquinações que decorrem de novas tecnologias. É nesse contexto, que as máquinas, o meio específico, nos servem como elemento de investigação para pensar as relações que temos construído ao longo do tempo com as formas de maquinas. Assim, da formação em escultura, o processo de conexão com as formas e materiais foi se construindo fertil para identificar as possíveis sementes para a realização desta pesquisa, consciente da forca que influencias e referencias trazem e se fazem parte da minha trajetória artística (fig. 12 e 13)..

(24) 24. Figura 12 - O autor trabalhando em projeto para página de livro arte, Residência Riveira. Foto: Denílson Corrêa, 2015.. Figura 13 – Trabalho Em Residência de Artistas – Bibliotecas de fronteiras – Rivera. Foto: Andre Marcos, 2015..

(25) 25. 2.2. A Maquinice Em uma palestra da professora Eliane Chiron6 durante as primeiras aulas do mestrado, foi proposto a nós, alunos do curso, um exercício de memória, onde, cada um a sua maneira, buscava em suas lembranças o “momento em que se viu ou sentiu artista pela primeira vez”. Num primeiro momento, uma atividade de descontração, que motivaria o entrosamento da turma, mas na seqüência, dada a forma como era conduzido o diálogo, desencavaria em alguns um sentimento esquecido, o de se descobrir na arte, ou descobrir arte em si. Naturalmente, a descoberta se torna um tanto pessoal e psicológica, e gerando amplos desdobramentos, mas na especificidade dessa narrativa, as motivações que encontrei, nas lembranças da minha infância, todas recaem sobre algum modelo de máquinas que influenciaram e modelaram meu imaginário, agregando a minha personalidade uma predileção pela mecânica, e o desenvolvimento de uma criatividade construtora. E talvez O Cômico dessa narrativa das condições da infância, foi falar o que esperavam de mim, pois, provoquei risos nos colegas ao informar que passei quase a juventude acreditando, e pior, alimentando a expectativa da família que possuía a vocação que seria um “engenheiro ou designer” (fig.14 e 15). Mas o excesso de fantasia me retirou desse trilho, me dando asas, assim me encontrei mesmo quando me vi artista, um escultor, dessa forma, poderia criar todas as “máquinas que sonhava”, e poderia deixar a imaginação fluir sem me preocupar com detalhes inerentes ao mundo real, como funcionalidade, custo e viabilidade técnica. Figura 14 – Desenhos de carros de minha criação, grafite e papel.. Foto: André Marcos, 2017. 6. Eliane Chiron é artista visual, professora Emérita na Universidade de Paris..

(26) 26. Figura 15 – Desenhos de carros de minha criação, grafite e papel.. Foto: André Marcos, 2017.. Hoje, as mesmas maquinices que me perseguem na produção artística, seja plástica ou literária, sempre estiveram lá no meu imaginário, povoado por algum tipo de máquina, de tecnologia, de robo, carro, avião ou espaçonave. Toda vida sonhei em construir algo, fazer máquinas fantásticas, viver num mundo tecnológico da ficção-cientifica, e essa “inspiração” vem se refletindo diretamente no que construo como criação artística. As maquinices partem da infância, entretanto, hoje, procuro como pesquisador explorar essa temática com uma metodologia bem específica, e assim busquei a ironia como uma estratégia de expor a concepção desses dispositivos criados como sugestões de maquinices, inspiradas nas relações com máquinas reais do mundo real, e que tanto fascinam, e contribuem com a desenvolvimento da sociedade, mas que também podem causar alienação e encaminhar o mundo para algum tipo de colapso, dada a grande dependência que estamos delas e também a probabilidade de que se algo sempre poderá falhar em suas engrenagens. Acredita-se, que a máquina trouxe ao homem as conseqüências positivas e negativas da revolução tecnológica, e que estão inserida, no cotidiano da humanidade que torna-se inviável a vida atual em sociedade sem esses mecanismos, e tão vitais e necessários que acabam extrapolando o uso para situações absurdas, exageradas, sufocantes. Essas situações se tornam importantes para essa pesquisa, quando a máquina ultrapassa a fronteira da utilização utilitária, vital e necessária, passando a ser um artefato de consumo inconseqüente, um dispositivo de aprisionamento, que pode gerar certa dependência, angústia, sofrimento. Há registros de novas doenças associadas ao uso excessivo de internet e celulares, ou imobilidades, pois há pessoas que não conseguem mais caminhar, dependentes de carros, ou então, a compulsão por adquirir o novo, a nova tecnologia, a escravidão das máquinas..

(27) 27. Meu envolvimento com a arte, e conseqüentemente com máquinas que permitem relações poéticas, com tendência a mecanizar os materiais e formas. Talvez robotizar seja uma influência que minha geração teve, seja pelos filmes que assistimos, pelos livros de ficçãocientifica, que investiram no imaginário de acreditar que um futuro cheio de tecnologias seria a salvação, o destino da humanidade estava entregue as máquinas. Ter consciência de o consumo de dispositivos tecnológicos é fruto de um modelo de capitalismo onde a necessidade é suplantada pelo incentivo ao consumo desde seus primórdios (fig.16). A moda incentiva a procurar pela última novidade, como se fosse uma fórmula necessária, nos sentirmos melhores, preencher parte de nosso vazio com objetos. Aí repousa o Irônico que penso relacionar com a produção de maquinices. Estando para mim, um estado irônico de questionamento do quanto estamos envolvidos neste contexto homemmáquina, se estamos nos auto-escravisando para obter dispositivos que em tese seria criado para buscar justamente o contrário, afinal as máquinas deviam nos dar mais tempo, e acabam dando mais trabalho e mais e mais para adquirir tais objetos. Reflito sobre este consumo, que gera uma necessidade urgente, paranóica, com ânsia de posse de novos dispositivos de todo o tipo e toda hora, seja de comunicação ou ferramentas automáticas para fazer aquilo que não temos mais tempo a perder. Assim, o simples ato de parar e passar um café se torna uma nova experiência seja uma cafeteira de café encapsulado com sabores do oriente, ou, novo modelo da Apple, a um custo maior, adicionando novas horas necessárias a mais de seu trabalho para desfrutar de tal benefício de um novo modo de preparar tal café. Aqui podemos ter em mente as propagandas com promessas de uma vida melhor, promessas profanadas em nome de todas as maquinas que deveríamos adquirir para viver melhor..

(28) 28. Figura 16 – Ilustrações de época. Fonte:. http://www.estadao.com.br/blogs/reclames-do-estadao/maquinas-de-costura-nos-anuncios-do-. estadao/ acessado em 28/10/2017.. Assim, a busca de novas experiências do homem contemporâneo, imergido na tecnologia e nas marcas dessa tecnologia, impulsiona a absorver sem muita reflexão toda a gama de dispositivos tecnológicos que possa adquirir, a sociedade do espetáculo está sempre a oferecendo uma nova fórmula de felicidade, velocidade e prazer, sem informar as consequências, as mais variadas, ao ambiente, ao próprio homem, físico, psico e moral, Então, acredito eu, que cabe aos artistas, utilizarem-se também destes mecanismos em suas obras, talvez como um espelho da realidade, mas criando a reflexão irônica de nossos modelos de maquinas e utensílios. Nesse contexto, procuro através das maquinices, com seu.

(29) 29. humor e ironia, trabalhar uma arte que aponte essa condição de relações entre pessoas e objetos, e minha pretensão que sejam as maquinices ferramentas para se relacionar na realidade, colocando-nos artista e público em situação de diálogo com a máquina. Um dos principais questionamentos a serem examinados nesse estudo seria a relação entre a ideia de máquina e a ideia do que o trabalho pode propor com a “maquinice”, como um dispositivo específico de trabalho ao dispositivo lúdico, no combinação entre função e poesia, entre alguma utilização que o imaginário reservou para tal objetos. Máquina que por definição significa um dispositivo que utiliza energia e trabalho para atingir um objetivo pré-determinado, já maquinice nesse contexto nasce de um neologismo pessoal, derivada de máquina, acrescida do sufixo nominal “ice” - que se junta a um adjetivo ou a um substantivo para dar origem a um novo substantivo. Sugere a qualidade ou o estado de algo, com uma conotação um tanto pueril. Para tanto há a necessidade de investigar no processo poiético, tanto as construções históricas dadas ao entendimento do que seja uma máquina, quanto as relações que a vivência, a memória e o imaginário pessoal foram elaborando ao longo da pesquisa. Também nessa etapa do processo, o conceito de “apropriação” começa a surgir com mais nitidez no trabalho, quando no próprio nome dado aos trabalhos já traz algo específico, por exemplo, incorporação = in-corpo/r-ação. Colocar algo em um corpo e acrescentar uma busca para a solução de um problema. Por um lado, é do fazer do artista poder dispor do que está no mundo, por outro, é da máquina, se aliar a uma função, providenciando a solução de algo que se quer executar. Uma maior atenção a essas reflexões foram dadas a partir dos trabalhos de residências, pois eles foram pensados já dentro desta investigação, seguindo o foco de pesquisa. Contudo, o amadurecimento de entendimento das propostas de maquinices seria algo que ainda está se construindo, não se deveria pensar que cada trabalho foi totalmente previamente pensado. Todos foram acontecendo no decorrer do processo, onde cada etapa mostrava uma pequena evolução no que poderia ser uma maquinice. Assim a busca do desenvolvimento para o trabalho se deu em cima de procedimentos poiéticos, com cada trabalho chegando cada vez mais perto do objeto procurado, daquela máquina irônica e poética investigada nessa pesquisa: a Maquinice de André. Como nos propõe Archer (2001) “quem examinar a arte dos dias atuais será confrontado com uma desconcertante profusão de estilos, formas, práticas e programas.” E prossegue nos afirmando que se torna cada vez mais difícil ter certeza de que alguma característica qualifica o que é ou não arte. A Arte Contemporânea permeia por um cenário de.

(30) 30. experimentações o qual nos gera a incerteza. Danto (2006) classifica este “cenário” como Pós-Histórico, ou seja, algo que surge da História da Arte, tendo consciência da narrativa desta, mas que permeia para uma realidade diferente da qual ainda não se compreende por completo sua estrutura e no qual “qualquer coisa jamais feita poderia ser feita”. Não possuímos, portanto, um distanciamento histórico que nos permita perceber com maior clareza o que realmente é sólido, assim como nos afirma Magalhães. “Tudo que é novo é mais complexo de se perceber nitidamente, de se relacionar (DOTTO apud MAGALHÃES, 2008). Não existe uma troca imediata. Produzindo, portanto a Arte Contemporânea um “desconforto” e um “estranhamento”. Estes acabam por originar um distanciamento em relação ao público, até mesmo por que, no momento em que vivemos em um mundo de praticidades em prol do aproveitamento do tempo, produzimos uma arte que exige exatamente tempo e atenção: reflexão. Por máquina, conhecemos um instrumento apropriado para realizar um movimento, assegurar ou por em ação alguns agentes naturais como o fogo, a água, o ar, etc. também, um sistema fabricado para executar uma determinada ação ao receber o comando necessário (MORAIS, 2015). Desde sistemas simples, podemos reconhecer uma máquina como uma roda, uma torneira, uma bicicleta, um moedor de carne ou um móbile de Calder (fig.17). Máquinas são exemplos de dispositivos, apesar da ausência de articulações mecânicas ou de motores, que nos parecem inseparável deste o princípio, e estas máquinas molda parte de nossas relações com o tempo e o espaço..

(31) 31. Figura 17 – Alexander Calder , Steel Fish, 1934, imagem Calder Foundation, New York.. Fonte: https://www.artsy.net/artwork/alexander-calder-steel-fish acessado em 29/10/2017.. E a tecnologia tomou conta de todos os aspectos de nossas vidas, entretanto, segundo (MORAIS, 2015) “vivemos, hoje, numa sociedade do descartável, da tecnologia descartável, do conhecimento descartável, da arte descartável e, no limite, do homem descartável”. Diante dos avanços da tecnologia, também a máquina primitiva recuou para o campo do objeto biográfico. Objetos protocolares seriam, hoje, as máquinas eletrônicas ou computadorizadas. Quanto mais sofisticadas, tecnologicamente, mais descartáveis se tornam as máquinas, enquanto um trabalho de tecnologia rudimentar, pode se tornar perene por se possibilitar ser refeito, mostrar do que e como é feito, mostrar-se acessível, acessível, frágil e forte. O termo máquina, deriva de eruditos da Renascença que adotaram a palavra machina com o seu sentido primitivo de "obra composta com arte", que a partir do século XVIII passou a significar artefato mecânico, invenção engenhosa (MORAIS, 2015). Engenho e arte, tendo na figura de Da Vinci (fig. 18), o maior referencial dessa conjugação..

(32) 32. Figura 18 – Máquina de vôo, Leonardo Da Vinci, 1490.. Fonte:. https://super.abril.com.br/historia/7-invencoes-de-da-vinci-muito-avancadas-para-a-epoca/. acesso. 04/03/2017.. Hoje, a atitude dos artistas diante da máquina tem oscilado entre adesão e crítica. Se ao mesmo tempo em que afirmam a máquina no que ela tem de positivo para o cotidiano do homem, os artistas a encaram como um estímulo à criatividade. No outro lado, os artistas parecem buscar evidenciar as perspectivas alienantes da máquina como fator de mecanização da vida e como incentivo ao consumo descomedido, ao desperdício. Para Morais (2015) os "apocalípticos" aproximam-se da atitude anárquica ou "destrutiva" do Dadá. Os otimistas veem na máquina uma fonte de prazer visual: luz e movimento, com extrapolações no campo sonoro e tátil. Os pessimistas como fonte de prazer intelectual - humor e ironia. Mas há casos em que essa oscilação entre adesão e crítica ocorre ao longo da produção de um mesmo artista, ou no interior de uma única obra. Vivemos numa época onde a tecnologia invadiu e se proliferou por todas as partes e necessidades do fazer, pensar, sentir, enfim, todas as faculdades e atribuições humanas, tornando-as direta ou indiretamente, invariavelmente amparadas por esses dispositivos tecnológicos, nos tornando um tanto híbridos numa transformação que se alastra por praticamente tudo o que conhecemos por civilização contemporânea. Meu primeiro contato com um computador, foi através de games, nos meados dos anos 80, de lá para cá, a mudança brutal alterou não só a sofisticação das máquinas de acesso aos jogos, mais muito de nossa maneira de nos relacionarmos com o computador. E nos colocamos diante da concepção e crítica por trás da tecnologia, ao nos cercarmos e servimos dela, de tal maneira que estamos todos “imergidos” em processos pelo qual, segundo Couchot o numérico penetra assim irresistivelmente na indústria, tanto no domínio da produção (robótica, etc.) como no dos produtos (eletrodomésticos, transporte, jogos, etc.) (2006:159)..

(33) 33. Os chips, microcircuitos integrados se proliferam no interior dos objetos mais banais. Lembro que para executar alguma tarefa, precisávamos digitar no teclado do velho IBM “linhas de comando”, algo como “Dir:/w” para saber o que havia instalado na máquina, hoje as “interfaces icônicas”, facilitam a vida de quem pouco entende de programação, o usuário comum, tornando o dispositivo amplamente acessível a todos, quase que indispensável, pois a informática gráfica interativa que a tela e o vídeo do computador, permitem visualizar os processos internos das máquinas, criando um tipo de diálogo, oportunizando o domínio da imagem através do pixel e a transformação da relação homem/máquina. Outra grande evolução deu-se na relação que mantemos com o tempo, numa ruptura radical provocada pelo numérico, Couchot propõe que, o tempo de síntese é um tempo aberto sem orientação particular sem fim nem começo (2006). Mas aqui, não podemos esquecer, que falamos de um trabalho que utiliza tecnologias rudimentares que se relaciona com o contemporâneo, onde somos diariamente usuários de tecnologias que desconhecemos seu funcionamento. Entretanto, relações de trocas, dialógicas, que instauram uma relação sem precedente entre homem e máquina. Assim uma nova matriz perceptual no sentido numérico e no sentido fisiológico se desenha, associada a uma nova corporeidade: metade – carne, metade – cálculo. O surgimento de cyborgs tem também a função da acoplar os sujeitos através das redes as quais se tornam espécies de próteses que prolongam o corpo e o transformam em seus comportamentos (COUCHOT, 2006). Modifica-se a relação: enunciação, transmissão e recepção; a “mensagem” não é mais cabida como termo, já que não há um sentido projetado de um ponto a outro, mas um propósito que se elabora no decorrer da troca através da interface. Surge assim uma hibridação entre o autor, o propósito veiculado pela máquina, a rede e o destinatário. Este tipo de reflexão tão aprofundada sobre o efeito das máquinas, não chegou a ser desenvolvido para as máquinas rudimentares, não houve tempo, ou seu efeito não era tão sentido. Um dos primeiros efeitos foi sem dúvida a mudança de sentido do tempo que foi melhor aproveitado para realizar o trabalho e o fascínio por algo que parecia fornecer um outro poder a quem detinha a tecnologia. No mundo virtual das máquinas as fronteiras se unem com o universo real do objeto, do sujeito e da imagem que se cria quando se olha para o objeto e se projeta o que potencialmente ele pode vir a realizar e assim pode se formar uma imagem em nossa cabeça do que podemos fazer com a máquina, para o encontro com a máquina tornam-se o lugar onde o objeto e o sujeito se conectam, se absorvem e se hibridam um no outro bem como o instante.

(34) 34. em que esta comutação ocorre. O conhecimento dos dispositivos da máquina real, somado ao desenvolvimento das linguagens das ferramentas que a agregam, computador foi o que permitiu a expansão da realidade virtual potencial da maquinice. Segundo Couchot, à medida que se ampliam, as técnicas interpõem, efetivamente, entre a ferramenta e matéria bruta, alguma coisa que existe na linguagem tradicional: a tela da linguagem (2006:194). Assim, podemos concluir que a relação com as máquinas se dá através de uma linguagem hibrida obtida na relação com as ferramentas e os conhecimentos das matérias e emissiva com a máquina, para que surjam as alterações resultantes tanto no aparelho operado7 - maquina quanto no humano operante, uma interatividade de conexão ampla, pois além das ações, o pensamento crítico de quem opera ou atua também sofre algum tipo de “movimentação”. Hoje, na escultura contemporânea, as tecnologias da informação estão amplamente difundidas e agregadas, o uso de computadores se faz profundamente necessário, tanto na etapa de projeto, desenhos em CAD, quanto na perspectiva de um produto acabado através de uma impressora 3D. Em muitos casos, os escultores apresentam apenas o projeto vetorizado de uma escultura ou instalação, e no momento seguinte, máquinas especializadas vão cortando e dobrando o aço como se fosse papel, com exemplos das obras de Richard Serra8 (fig.19), que enormes composições de aço Cortem são modeladas e encaixadas como se fossem brinquedos de Legos. Mas para que essas tecnologias alcancem os campos das artes é preciso que o artista se aproxime e descubra todos os potenciais de máquinas que a cada momento surgem mais sofisticadas. Conforme Couchot (2006), neste tempo, em que a arte está tão atrelada a ciência e a tecnologia, torna-se necessário que se mantenha as diferenças substituindo as certezas da ciência pelas incertezas da sensibilidade. No trabalho realizado,. Operar – Defecar, 2 - Fazer alguma coisa. 3 - Ter lugar. 4 - Ter lugar. 5 - Submeter(-se) a operação cirúrgica.6 Realizar, produzir.7 - Efetuar uma operação de cálculo, de química.8 - Efetuar manobras ou movimentos militares.9 - Colocar em funcionamento máquina, aparelho ou dispositivo.10 - Produzir ou ter um determinado efeito.11 - Fazer alguma coisa.12 - Submeter(-se) a operação cirúrgica.13 - Realizar, produzir.14 - Efetuar uma operação de cálculo, de química.15 - Efetuar manobras ou movimentos militares.16 - Colocar em funcionamento máquina, aparelho ou dispositivo.17 - Produzir ou ter um determinado efeito. Publicado em: 2016-09-24, revisado em: 2017-02-27 Disponível em: ‹https://dicionariodoaurelio.com/operar›. 7. Richard Serra é um escultor norte-americano. Para alguns críticos é considerado como um dos artistas mais importantes do pós-guerra. Recentemente tem feito trabalhos de grande escala em aço, mas já realizou obras com diferentes tipos de materiais industriais como borracha, chumbo e lâmpadas (fonte). In 1966 Serra made his first sculptures out of nontraditional materials such as fiberglass and rubber. Disponível em https://www.guggenheim.org/artwork/artist/richard-serra Acesso em: 13 Oct. 2017. 8.

(35) 35. podemos criar confusão nas certezas de como utilizamos os materiais e formas. O que antes, servia ligada a uma função, o artista joga com estas certezas e agora pode não realizar mais a mesma função. FIGURA 19 – - Shovel Plate Prop, 1969 de Richard Serra. ,. Fonte: https://www.guggenheim.org/artwork/3895, acesso 04/03/2017..

(36) 36. 3. CAP. II O PROCESSO DE PRODUÇÃO. 3.1. Construindo Máquina(ices). Dessa forma os trabalhos mais significativos e que causaram alguma mudança no processo de pesquisa, foram produzidos em oportunidades de Residências Artísticas, onde foram criadas as condições para uma reflexão sobre a ação, a partir da inserção em alguns contextos e comunidades. As principais residências realizadas foram: “São Marinho da Serra” (cidade de importância histórica), “Bibliotecas de fronteira” (duas, em países diferentes), “Metalteca” (ferro velho). Participei ainda dos eventos: “Descubra” (na UFSM) e RuídoGesto (encontro de performance) em Rio Grande. Esta foi uma das primeiras ações no mestrado. Considero que foi através da minha participação na Residência São Martinho que começou a surgir a estrutura de trabalho, onde a situação da cidade nos fez refletir sobre questões referentes a história, fronteira, memória, comunidade do interior do Estado, entre outros fatores que delimitavam a nossa percepção em relação ao espaço-tempo pertinentes àquele evento. Como eu vinha pensando nesse momento numa escultura “híbrida” com as “misturas de animais e máquinas” (fig. 20 e 21), sendo uma tendência que perdurou por quase todo o primeiro ano de pesquisa, ideia essa só abandonada posteriormente, quando o foco da pesquisa passou a ser apenas as “maquinices”. Contudo, nessa época eu me preocupava em encontrar uma solução conceitual para essa mestiçagem, junto, de principalmente uma solução estética, (que abordarei em capítulos seguintes), assim, minha pesquisa nesse momento se resumiria em “mesclar” formas e conceitos, planejando criaturas fantásticas, de temática tecnológicas. Um desses trabalhos, referente às maquinices, foi a ação para a Residência São Marinho, que consistia através de um detector de metal, demarcar possíveis objetos fictícios enterrados, deixando uma marca (a estaca com uma figura indicativa de referência) na superfície para que alguém cavasse, tal como quem procura algum tesouro perdido..

(37) 37. Figuras 20 e 21 – Propostas para a Residência de São Martinho. Foto: Aline Arend, 2014.. Verificamos também, através do desenho e marcações sugeria a existência de fósseis de híbridos entre máquinas e animais, tema esse abordado na minha pesquisa de mestrado naquele momento específico. Por conseguinte, jogando com locais históricos da cidade, onde fatos reais aconteceram, misturando ficção, história, folclore local, etc. Nessa experiência, a ação de “procurar” com detector de metal (fig. 22) atraiu mais, a curiosidade, do que as plaquetas indicativas, fator que chamou atenção para a ”acão performática”, ser mais significativa que o resultado “objeto de arte”, poderíamos atribuir aos desenhos nas plaquetas, principalmente com destaque para as crianças que parecem ter entendido melhor o espírito da proposta, faltando um pouco mais de interação com público, que observava de uma distância “segura”..

(38) 38. Figura 22 – Performance em Residência de Artistas – São Martinho. Foto: Aline Arend, 2014.. Portanto, dessa experiência ficou o interesse por propor e executar uma proposta específica para o local, onde mesmo em cidades do interior, existe uma certa visão crítica de algumas pessoas em relação a arte, com uma participação, mesmo que modesta. No entanto, nas discussões sobre arte com os colegas artistas em residência, que estavam também ali trabalhando em outras propostas, acabamos todos nos colocando a discutir arte, pontos de vista, defendendo e flexibilizando alguns pontos. Contudo, esses são trabalhos que fazem parte de um processo, onde cada um mantinha sua autonomia de criação dentro de sua linha de investigação, orientados sim, mas são buscas pessoais, adaptadas ao contexto do local, pensados para aquela ocasião, para depois serem discutidos e analisados com o grupo. Cada proposta partia de iniciativa autônoma dentro da trajetória de cada um. Na Residência Bibliotecas de Fronteira (Santana do Livramento- Brasil e Rivera – Uruguai) (fig. 23, 24 e 25), decidi trabalhar com a ideia de expor através do desenho/mapa questões que vinha pesquisando como as relações miscigenadas entre animal e máquinas com outros elementos pertinentes àquele momento. Foram relações de fronteira, linhas que separam culturas, a coexistência de espaço de vivencia comum entre dois lugares. Dessa maneira tive a oportunidade de pesquisar comparativamente entre o presente com o passado.

(39) 39. recente, pois as tecnologias e máquinas retratadas nos livros pesquisados nos dois países (Uruguai e Brasil) provinham de vários tempos e períodos. Figuras 23 e 24 – Grupo na Residencia Bibliotecas –Riveira, 2014. Foto: Rebeca Stumm, 2014.. Figura 25 – André no projeto da página do Livro-Arte/ na Residência Bibliotecas –Riveira. Foto: Rebeca Stumm, 2014.. A página concebida para um grande livro-arte9 procurava retratar, além de fragmentos da fronteira entre máquinas e motores com o orgânico dos animais, criando híbridos e ciborgues. Segundo Donna J. Haraway, no manifesto ciborgue:. 9. Livro-arte: essa Residência consistia na criação de um livro-arte, sendo que cada residente seria responsável por uma página, dando origem ao grande livro-arte que ficaria exposto nas bibliotecas, e cada membro colocaria sua pesquisa em sua respetiva página, unindo-se ao todo no final, onde o destaque era por nos aproximar com outras áreas do saber, pensar e refletir..

(40) 40. A ideologia biológico-determinista não é a única posicão disponível na cultura científica que permite que se argumente em favor da animalidade humana. Há um grande espaço para que pessoas com idéias políticas críticas contestem o significado da fronteira assim rompida. O ciborgue aparece como mito precisamente onde a fronteira entre o humano e o animal é transgredida (2009, p.05).. Contudo a página buscava também, as inquietações sobre as fronteiras humanas, determinadas, com linhas que dividem os povos, uma linha ora imaginária ou apenas um marco simbólico no meio do nada, ora representada por uma aduana e suas burocracias. E para a Exposição “Descubra” (UFSM- 2014) (fig. 26), depois de muitos projetos fracassados, acabei optando pela forma de uma aranha com potencial de ser inserido em lugares onde ela teria potencial de acomodação dada a mobilidade das pernas. Nessa etapa acaba acontecendo uma experiência, pois, o objeto performático participativo não apresenta nenhuma manivela, alça, alavanca, ou qualquer coisa que identificasse que a obra poderia ser tocada, girada, encontra-se apenas o objeto sujeito a ação do corpo, como um toque ou tapa que a peça girava em seu eixo. Essa condição surge pela necessidade de pesquisar uma se uma obra sem um conjunto táctil reconhecido e, ainda na “forma”, aparentemente repulsiva de aranha, se isso mantém o mesmo interesse de “tocar a obra” de outras, na tentativa de estabelecer um “objeto específico” a ser pesquisado. Figura 26 – Escultura móvel Aranha, Exposição “Descubra” – Santa Maria, 2014. Foto: André Marcos, 2014.. Procurou-se averiguar qual interesse participativo um trabalho que não aparenta ser feito para ser tocado apresenta. Entretanto, foi de fundamental importância para um.

(41) 41. amadurecimento daquilo que se buscava na pesquisa, pois, ficou entendido que “fechar” numa forma específica seria um erro, sem conexão com a conceitualização de Maquinice, pois parecia uma criatura, não uma máquina, e não abrangeria o contexto de Maquinice, o principal conceito investigado nessa pesquisa. Pare esse projeto foram planejadas quatro ideias pensadas para exposição, sendo cada uma descartada por um ou outro motivo, desses uma aranha robótica com movimento circular do tronco sobre as patas. Nesse momento o trabalho partiu para um foco mais específico, se fixando no tema aranha, como objeto de pesquisa, um animal que planeja, que trama, que define suas ações, contudo, indo numa direção conflituosa com o rumo geral da pesquisa. Neste momento, a ideia era que como este trabalho se justifica como arte propondo uma experiência estética e uma proposição reflexiva, ao causar alguma estranheza ou ação de deslocamento da normalidade, do simples pensamento que sofre alguma alteração ao se deparar com um objeto meio inseto meio máquina, porém, como foi percebido, acaba não se encaixando no rumo das maquinices, era mais um objeto estético, sem a ação direta do corpo, sem poder de causar o incomodo irônico buscado na pesquisa poética..

(42) 42. 3.2. A MÁQUINA E O ENCONTRO COM O OUTRO A consciência de estar ocorrendo uma relação da maquinice com o outro veio na Residê ncia Metalteca (ferro-velho na cidade de Santa Maria - RS) (fig.27), local que foi muito visitado no passado para a produção de peças de arte a serem realizadas sob encomenda e que durante a residência acabou sendo um local de grande estranhamento. Figura 27 – Selfie no ferro-velho, Residência Metalteca – Santa Maria. Foto: André Marcos, 2014.. Nesse estágio da pesquisa, já exigia um caminho definido para o trabalho, e relacionando com as questões dessa residência, que com certeza nos fazia pensar nas possibilidades pertinentes do descarte, da reciclagem, lixo, do transitório, etc., acabou que me fez literalmente parar e pensar lá com aqueles materiais. Entretanto, nós entramos num território onde dada a gama de possibilidades “formais” pela quantidade e diversidade de diferentes objetos, de formatos e materiais distintos, no entanto, os estudos anteriores, os encontros com pesquisadores que atuam na área da.

(43) 43. reciclagem, me fizeram questionar e rever as formas como nos relacionamos com os materiais e com o último destino de armazenamento do descarte. Procurei exercitar o olhar para tentar enxergar além da materialidade, tudo que está por trás da produção industrial (fig. 28), ou da continuidade depois do exercício funcional de cada máquina que lá fora descartada. Da química resultante desse descarte, a imaginação sobre máquinas que jazem, mas que em seu tempo tiveram uma real utilidade, um fazer pragmático, uma ação programada por um determinado período, que viabilizou sua “existência”, entretanto, no lugar de uma aposentadoria após anos de trabalho, um jogar fora, uma metáfora que pode suscitar relações. Figura 28 – Proposta no ferro-velho (detalhe), Residencia Metalteca – Santa Maria. Foto: André Marcos, 2014.. Minha iniciativa foi propor inicialmente um site especific (fig. 29), reconfigurando elementos do local para o local. O trabalho acabou constituindo-se no ponto de referência, onde o grupo se encontrava, o que chamava para a contribuição de todos. No decorrer do tempo, todos que viam algo metálico, carregavam para aquele local, pois a cada instante alguém surgia com algum elemento que pudesse se encaixar na composição, que terminou como uma possível performance ocasional, ou happening, dada a participação improvisada e coletiva. Entretanto, foi a partir desse momento que comecei a perceber o potencial performático inerente a pesquisa, partindo das características do local, me envolvendo numa.

(44) 44. proposta específica, que de certa maneira englobava o tema da investigação com a circunstância do momento, dos conceitos que estavam sendo discutidos e refletidos na ocasião em forma de ação, como o que fazer com lixo, com desperdício, como reutilizar, etc., percebi que essas interrogações adquiriam uma possível dimensão mais ampla na pesquisa. Existia ali um processo de busca, de seleção, separação das formas, materiais, aparências, reorganizadas de acordo com uma linha de pensamento, de uma reflexão sobre cada ação, e isso a veio a possibilidade daqueles materiais começarem a serem aderidos sobre corpo em movimentos efêmeros, de certa forma, essa matéria e o mural - cenário ganhava sentido com a influência do orgânico em ação. Figura 29 – Acontecimento no ferro-velho, Residência Metalteca – Santa Maria. Foto: André Marcos, 2014.. Começo a perceber outras possibilidades relativo ao orgânico como a ação/atuação do corpo na obra, pois uma máquina, ainda que autônoma, depende de um comando para iniciar suas atividades. Sua funcionalidade parte, de algum modo, de uma determinação humana. Assim, passei a compreender também as possibilidades performáticas incorporadas a.

(45) 45. proposta, percebendo a participacão do outro (fig. 30 e 31), a presença, a ação, a interação do corpo humano com a obra, pois, mais que construir uma obra, tornava-se preciso colocá-la para funcionar. Nesse trabalho, surgiu muitas oportunidades de experimentar com o improviso, combinando e recombiando partes que alteravam sua visualidade, sua filosofia, ao agregar um determinado objeto, esse objeto emprestava seu simbolismo através da forma ao trabalho, ou uma pessoa, fazendo gestos, trazia uma dinâmica, um gestual que também modificava a condição que víamos naquele determinado momento, quase como uma máquina viva, que reage a estímulos. Figura 30 – Proposta performance no ferro-velho, Residência Metalteca – Santa Maria. Foto: Rebeca Stumm, 2014..

(46) 46. Figura 31 – Proposta performance no ferro-velho, Residência Metalteca – Santa Maria. Foto: Adrieli Miller, 2014.. Hoje tanto público, quanto artista já estão desacomodados, participantes iniciaram um processo que tornava viva a obra que inicialmente parecia se tratar apenas de um mural de partes da máquina. Teve um momento que poderia chamar de Retorno ao Selfie do ferro-velho (fig. 32 e 33) pois, sempre busquei na arte a possibilidade de experimentar, tendo apenas a capacidade da imaginação como elemento que limitasse o estudo de projeto, claro que os resultados muitas vezes são insatisfatórios, naturalmente toda pesquisa pode ter um resultado incompreendido num determinado momento, e somente algum tempo depois, com mais vivência e conhecimento, passa a fazer sentido..

(47) 47. Figuras 32 e 33 – Proposta performance no ferro-velho, Residência Metalteca – Santa Maria. Foto: André Marcos, 2014.. Por alguns projetos prevalece incapacidade de pôr as ideias em prática, mas o tempo passa e podemos mudar a perspectiva para reconhecer algumas dessas possibilidades, num momento muito pessoal vivia essa real necessidade de me desfazer de algo, durante alguns períodos nas residências meus níveis de resiliência beirariam a zero, e, minha descartabilidade iminente tornara-se latente, poucas propostas e uma infinidade de abstrações. Era urgente partir para outro momento, para uma outra história, mesmo que naquele momento eu sempre afirmasse que procura arte no lixo... E “esse” olhar diferenciado, de fato, isso só ocorreu um ano depois da Residência Metalteca, quando voltei lá, e tinha passado por quase todo esse processo, e as maquinices já definidas como esculturas de acão participativa, com movimentos, engrenagens articulacão, daí sim, andando no meio da sucata, eu tive um insight, vivia meu zeitgeist, eu não mais procurava forma, procurava o conceito incrustrado de qualquer sucata, como um fóssil que não apenas traz uma forma ancestral, mas toda uma linha de estudo desencoberta pela imaginação, de nada importava sua estética, sua feiúra, sua ferrugem acusando que a há muito tempo fora descartado, e sim o que poderia vir a ser... A materialidade da escultura, que continua a me acompanhar, o alumínio, um metal, e isso simboliza certas condições, como o metal que normalmente mais recebe processos de reciclagem, dessa forma, uma peça de alumínio já foi muitas outras coisas antes, e certa ocasião eu adquiri um microscópio na sucata da UFSM, um equipamento bastante sofisticado em sua época, que despedacei-o todo e derreti, e enchi um molde, dando forma a uma.

Referências

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