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COMPORTAMENTOS ADEQUADOS E INADEQUADOS EM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS ATRAVÉS DE INSTRUMENTO INFORMATIZADO.

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965 COMPORTAMENTOS ADEQUADOS E INADEQUADOS EM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA: CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS ATRAVÉS DE INSTRUMENTO INFORMATIZADO.

Silvia Aparecida FORNAZARI1 Bruna Zolim CANALI2 Celina Sayuri NAKAMURA3 Francislaine Flâmia INÁCIO4 Marcio Francisco DIAS5

Universidade Estadual de Londrina – UEL – Londrina/PR PROEX

Introdução

O projeto que está sendo realizado no Instituto Londrinense de Instrução ao Trabalho para Cegos (ILITC) tem como população de estudo pessoas com necessidades educacionais especiais múltiplas, no caso cegueira e déficit intelectual. Uma diversidade de definições sobre a deficiência múltipla é encontrada na literatura. De forma geral, a deficiência múltipla é entendida como a associação de duas ou mais deficiências (TEIXEIRA e NAGLIARE, 2008). Assim como acontece com as pessoas com deficiência mental severa ou profunda, pessoas cegas, com déficits sensoriais ou mesmo com deficiências múltiplas emitem um número elevado de comportamentos inadequados.

Pessoas com necessidades educacionais especiais podem apresentar problemas de comportamento desde sua infância, os quais nem sempre são submetidos a controle efetivo (FORNAZARI, 2005). São considerados inadequados aqueles comportamentos que fogem do padrão normativo da sociedade, comportamentos-problema, que são indesejados e contribuem para a estigmatização social da pessoa com deficiência mental severa, profunda ou múltipla. Os comportamentos inadequados mais comuns e que serão abordados neste trabalho são: (a) agressão - comportamentos que tem a função de machucar, lesar ou destruir; (b) autolesão - comportamentos que produzem lesões no próprio corpo do indivíduo que os emite; (c) birra - conjunto de comportamentos como chorar, gritar, jogar objetos, atacar pessoas, entre outros; (d) estereotipia - comportamentos repetitivos sem função aparente; e (e) comportamento relacionado à sexualidade - comportamentos referentes à exposição, manipulação dos órgãos sexuais em si ou em outro, além da masturbação em lugar impróprio. Tais comportamentos dificultam a interação com a sociedade e o convívio familiar tende a ficar difícil, pelo fato de as pessoas ao redor não saberem o que fazer quando são emitidos comportamentos

1Doutora em Educação Escolar pela UNESP- Araraquara/SP e Mestre em Educação Especial pela UFSCar – São Carlos/SP. Docente do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina, UEL – Londrina/PR.

Endereço: Rua Madre Leônia Milito, 1325, Bloco A, Apto 14, Cond. Morada do Sol, Gleba Palhano, CEP 86050-270, Londrina/PR. E-mail: silfornazari@yahoo.com.br

2 Discente do 2º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, bruna.canali@gmail.com

3 Discente do 3º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, cel_yuri@hotmail.com

4 Discente do 3º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, francislainefi@gmail.com

5 Discente do 2º ano do curso de Psicologia, Universidade Estadual de Londrina, marciof.dias@hotmail.com

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966 considerados inadequados, contribuindo ainda mais para a estigmatização social daqueles que os apresentam.

Comportamentos inadequados, de uma forma ou de outra, são sempre resultado da história de vida, ou, mais precisamente de acordo com a análise comportamental, são o resultado da história de reforço e punição das pessoas com deficiência mental, ou seja, da história de aprendizagem operante de um indivíduo desde o seu nascimento (BAUM, 1999). Portanto, a análise das contingências em que tais comportamentos ocorrem são fundamentais para tratamentos efetivos dos mesmos, possibilitando maior integração em vários segmentos sociais, bem como a redução da ocorrência desses comportamentos.

Outro fator relevante a ser considerado é o repertório fundamentalmente limitado apresentado por esta população (SAUNDERS, 1996; FORNAZARI, 2000, 2005). Além da redução de comportamentos inadequados é de fundamental importância a instalação de novas habilidades que sejam requeridas como adequadas e importantes para o seu desenvolvimento cognitivo, físico e social, além de sua inserção social. Um procedimento que possibilita a obtenção desses objetivos é o Procedimento de Reforçamento Diferencial de Comportamentos Alternativos (DRA), que consiste em liberar o reforço depois de uma ou mais ocorrências de um comportamento particular, que pode ser ensinado ou treinado, e que não necessariamente seja incompatível com o comportamento indesejado.

Os métodos de que dispõem os profissionais que trabalham com a Educação Especial, muitas vezes, são insuficientes para que consigam atingir de fato seus alunos com deficiências. É aqui que a Análise do Comportamento traz, efetivamente, imensas contribuições ao trabalho do educador. A análise experimental do comportamento é uma área da Psicologia que tem desenvolvido procedimentos eficientes na redução de comportamentos inadequados e contribuído para o aumento na produtividade de trabalho em pessoas com deficiência mental severa ou múltipla (FORNAZARI, 2000, 2005).

Foram desenvolvidos vários procedimentos que visam modificar e/ou alterar a freqüência de certos comportamentos, como os vários procedimentos de arranjos de contingências reforçadoras em relação ao comportamento e outros eventos são conhecidos coletivamente como esquemas de reforçamento. Os procedimentos de reforçamento diferencial: o procedimento de reforçamento diferencial de outros comportamentos (DRO), o reforçamento diferecial de comportamentos incompatíveis (DRI), o reforçamentos de baixos índices do comportamento (DRL) e o DRA, que será utilizado neste trabalho, devido aos benefícios já citados.

Dessa forma, a necessidade de capacitar os profissionais que trabalham com essa demanda se torna indispensável para que o mesmo possa alcançar independência, isto é, ser inserido na sociedade e poder usufruir de seus direitos civis e conseqüentemente ter uma melhor qualidade de vida. O profissional, além da formação acadêmica, necessita de habilidades para entender os comportamentos emitidos por essas pessoas e potencializar o seu desenvolvimento social, cognitivo e físico. Nesse aspecto afirmam Del Prette e Del Prette (no prelo):

(...) os agentes educativos precisam contar com diferentes recursos, não apenas materiais ou físicos, mas também pessoas em termos de habilidades e conhecimentos sobre o quê fazer e como proceder junto às pessoas com necessidades educativas especiais de modo a promover a aprendizagem acadêmica mas, principalmente no caso da inclusão, o desenvolvimento socioemocional desses educandos. (p. 5)

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967 Manejo de comportamento não significa a privação da liberdade do indivíduo. Todo comportamento é controlado por estímulos, embora muitas vezes estes não estejam claramente determinados (SKINNER, 1998). Na educação não pode ser diferente. Falar em arranjar contingências é afirmar o caráter planejado do ensino formal, o qual cuidadosamente programado possibilita agilizar e maximizar as mudanças comportamentais pretendidas, as quais, se deixadas ocorrer naturalmente, podem ser bastante demoradas ou mesmo não ocorrer.

Um comportamento é emitido com base no que fora aprendido de sua conseqüência no passado, sendo desta maneira um comportamento voltado para o futuro. De acordo com Skinner (2000, p.52), “[...] motivos e propósito são, na melhor das hipóteses, efeitos dos reforços”. Desta forma, os comportamentos ocorrem por terem sido reforçados em situações anteriores, e terem passado a fazer parte do repertório comportamental da pessoa. Nesse ponto tem-se a importância de se fazer a analise funcional para saber quais variáveis estão controlando o comportamento e, dessa forma, intervir de modo a modificar e alterar a função de tais variáveis. Analisar as contingências das quais um comportamento é função torna-se, portanto extremamente importante no controle comportamental. Todorov (1985, p.75) auxilia analisando o conceito de contingência tríplice na análise do comportamento humano, definindo contingência como “um instrumento conceitual utilizado na análise de interações organismo-ambiente”.

Tem-se, então, que o treinamento da habilidade de realizar análise funcional não deve ser limitado apenas aos psicólogos. É justificado que os outros profissionais utilizem-se dessa ferramenta da psicologia para que possam desenvolver um trabalho mais eficaz (FORNAZARI, 2005). Portanto, oferecer aos profissionais um conhecimento acerca das questões referentes à análise funcional, capacitando-os a identificar as contingências que estejam atuando em cada situação específica, e agir de acordo com o procedimento de DRA visando reduzir os comportamentos inadequados e ao mesmo tempo treinar comportamentos adequados de participação nas atividades propostas, irá contribuir muito para a adaptação do deficiente no social, assim como ajudará também o profissional a identificar a função dos comportamentos inadequados e intervir nestes comportamentos de forma a promover uma melhor qualidade de vida para estes deficientes.

Além do trabalho em reduzir os comportamentos inadequados, o profissional pode generalizar o conhecimento adquirido a partir desse trabalho para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência. Como por exemplo, contribuindo para o desenvolvimento de repertório relacionado às habilidades sociais e/ou cognitivas, no que se refere às atividades cotidianas, as quais podem ser classificadas em atividades de vida diária (AVD’s) e/ou as atividades de vida prática (AVP’s). Entende-se por AVD’s atividades como escovar os dentes, vestir e retirar roupas, usar o banheiro, pentear os cabelos, calçar os sapatos, alimentar-se adequadamente, entre outras. E AVP’s são consideradas como atividades que são mais úteis à vida social como andar de ônibus, limpar a casa, saber manusear dinheiro, usar o telefone, cozinhar, entre outras. O portador de deficiência possui um repertório limitado, sendo portanto essencial a disposição de novas habilidades para seu desenvolvimento e inserção social.

Este estudo traz a preocupação acerca da capacitação dos profissionais para melhorar o seu desempenho profissional a partir de uma pequena contribuição que a teoria da Análise Comportamental pode oferecer a essa demanda. Serão trabalhados dois perfis de profissionais neste instituto: da área pedagógica (professores de diversas áreas); e também da área clínica,

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968 que conta com fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e profissionais da saúde de modo geral.

Objetivos:

Gerais: Capacitar profissionais a trabalhar de forma a reduzir comportamentos inadequados e aumentar comportamentos adequados de crianças com deficiência múltipla (cegos com déficit intelectual) ou deficiência visual.

Específicos:

- Capacitar os profissionais da instituição, a utilizar procedimentos da análise experimental do comportamento, visando reduzir os comportamentos inadequados apresentados por seus alunos, e conseqüentemente estimular uma maior emissão de comportamentos adequados. - Verificar a adequação da utilização do software como instrumento de treinamento em Análise do Comportamento Aplicada, bem como relativas às alterações realizadas no conteúdo e metodologia deste instrumento.

- Possibilitar aos discentes o contato com a população estudada e as questões relacionadas à mesma.

- Possibilitar aos discentes o desenvolvimento de habilidades do fazer científico, como a confecção de relatórios, postura profissional, atenção às necessidades da comunidade, entre outras.

Método

Participantes: Profissionais das diversas especialidades que atuam no ILITC, e atendem crianças com necessidades educacionais especiais, especificamente cegueira e déficit intelectual.

A instituição conta com dois modelos de atendimento distintos: Saúde e Educação.

A equipe da área da saúde é constituída por: 2 psicólogos, 1 terapeuta ocupacional, 4 fisioterapeutas (um deles coordena o atendimento por 20 horas semanais), 1 fonoaudióloga, 1 pedagoga e 1 assistente social.

A equipe da área educacional conta com os seguintes profissionais: 1 diretora, 1 coordenadora pedagógica (20 horas), 1 responsável pelo setor de material, 1 professora de Orientação e Mobilidade / Educação Física, 1 professor de Educação Física, 10 professores regentes.

Ainda, são funcionários do ILITC, 1 secretária, 2 secretárias administrativas, 1 merendeira, 3 auxiliares de serviços gerais e 2 bibliotecários,

A instituição atende 147 alunos no total, dos quais 57 têm diagnóstico de déficit intelectual associado à deficiência visual. A instituição relata ainda, que embora apenas 57 alunos tenham o diagnóstico, acredita-se que cerca de 80 alunos apresente algum déficit intelectual. Os problemas de comportamento são uma queixa comum nesta população, e os profissionais acabam tendo muita dificuldade para atuar com esses alunos.

Local: Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho com Cegos – ILITC.

Instrumento: O software “Ensino a Professores”.

O software utilizado foi elaborado em Delphi para a tese de doutoramento de Fornazari (2005), consiste em uma janela central com uma pergunta, e nos quatro cantos da tela aparecem quatro janelas com as respostas (Figura 1).

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969 Figura 1 – Exemplo de tela da 1a. Etapa do software.

O conteúdo do software foi modificado, adequando-se às duas áreas profissionais, pedagógica e clínica. Ele é apresentado em três etapas, com referências a:

Etapa 1- Conceitos da Análise do Comportamento: 28 conceitos de Análise do Comportamento, sendo: Fase A – definição e nome dos conceitos e; Fase B – definição e nome dos conceitos com exemplos cotidianos.

Etapa 2- Análise Funcional do Comportamento: Descrições de comportamentos que podem ocorrer em sala de aula com quatro opções de funcionalidade deste comportamento. Etapa 3- Reforçamento Diferencial de Comportamentos Alternativos (DRA): Descrições de situações em sala de aula que poderiam ocorrer envolvendo problemas de comportamento e a atuação do profissional utilizando os procedimentos aprendidos.

Cada etapa divide-se em três momentos: pré-teste, treino e teste. Em todas as etapas, a fase de pré-teste consiste na apresentação de 50% das questões construídas. O pré-teste apresenta informações em uma janela central que, ao ser clicado apresenta quatro alternativas de opções de escolha, sendo que apenas uma alternativa é a correta. O participante deve escolher uma alternativa que é armazenada no banco de dados do software. Esse procedimento é repetido de acordo com o número de apresentações programado para cada etapa, arbitrariamente na escolha das questões e aleatoriamente em sua apresentação. Há uma tela para cada questão e as opções não são ambíguas ou muito claras, no sentido de dar dicas sobre a resposta. A porcentagem de acertos não é apresentada ao participante, e nem estímulos indicativos de acerto ou erro, e ele passa obrigatoriamente pela fase de treino.

Na fase de treino são apresentadas informações na janela central da tela que, ao ser clicada com o mouse, apresenta quatro alternativas de opções de escolha, e novamente apenas uma é correta. Após escolher uma das alternativas, caso o participante acerte, aparece um estímulo indicativo de acerto, caso contrário aparece um estímulo indicativo de erro. Esse procedimento é repetido utilizando todos os aspectos programados, até que a profissional obtenha um critério de 90% de acertos, quando passa para a fase de teste.

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970 Figura 2 – Telas que demonstram a fase de treino. Ao clicar sobre a janela com a resposta

correta, o estímulo indicativo de acerto ou erro aparece em uma janela central.

Na fase de teste, são apresentadas novamente 50% das questões programadas, e assim como na fase de pré-teste, aparece uma informação na janela central, e quando o treinando clica com o mouse, seguem-se quatro alternativas nas janelas nos cantos da tela. As respostas não produzem estímulos indicativos de acerto ou erro. Caso o critério de 90% de acertos seja obtido, ele segue para a próxima etapa, caso contrário, volta à fase de treino e teste até chegar ao critério pré-estabelecido de 90% de acertos.

O software apresentado é absolutamente semelhante ao utilizado por Fornazari (2005), porém uma alteração foi programada com o objetivo de melhorar a interação das profissionais com o material a ser aprendido. Nas sessões de treinamento, foi utilizado o procedimento de fading in. Ou seja, ao clicar sobre a janela central, aparecia apenas a alternativa correta em uma das janelas, e ao clicar sobre esta alternativa correta, apareciam as outras alternativas incorretas, induzindo o participante ao acerto. Esta alteração teve o objetivo de colocar o software mais em conformidade com as características expostas por Skinner (1972), para uma aprendizagem adequada e eficaz. Dentre tais requisitos encontra-se a necessidade de que o aprendiz percorra uma seqüência cuidadosamente programada de pequenos passos, que possam ser dados sem esforço e sem erros. Este é o objetivo da utilização do fading para esta versão do software.

Procedimento: O projeto será desenvolvido em duas etapas, para possibilitar sua execução: ETAPA 1 – capacitação dos profissionais que atuam na instituição, especificamente na área da saúde.

ETAPA 2 – capacitação dos profissionais que atuam na instituição, especificamente na área da educação.

O procedimento, que se repetira para cada uma das etapas citadas acima, constitui-se em duas fases:

FASE 1 – Preparação: Nesta fase, serão realizadas filmagens da atuação dos profissionais em interação com os alunos, antes que qualquer intervenção seja efetuada. As filmagens serão iniciadas uma semana antes da aplicação do software, e constituirão a linha de base.

FASE 2 – Intervenção: A Fase 2 contará da aplicação do software, sessões de treinamento e uma sessão de encerramento, com filmagens concomitantes da atuação dos profissionais, verificando a influência do treinamento.

O software trará os conceitos básicos essenciais para a execução do procedimento, incluindo situações cotidianas da vida de qualquer pessoa, assim como situações mais específicas de sala de aula. Através do software, os profissionais serão treinados a realizar uma análise funcional

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971 adequada e através desta, aplicar corretamente o procedimento de DRA, com o objetivo de aprender a atuar no sentido de possibilitar a redução da emissão de comportamentos aberrantes e inadequados pelos alunos e, concomitantemente, aumentar a emissão de comportamentos adequados e de trabalho. Sessões de treinamento serão realizadas após a aplicação do software como suporte para a atuação das profissionais.

As sessões de vídeo-feedback consistem em mostrar o conteúdo do software, explicar o porquê das respostas serem erradas ou corretas, mostrar exemplos de interação entre profissional e aluno nas filmagens e esclarecer dúvidas. Portanto, elas só acontecerão depois de completado o treino com o software.

Os dados serão coletados através de uma filmadora. Uma vez em posse das fitas de vídeo, elas serão assistidas ao lado de um computador que terá instalado o software EthoLog 2.25 (OTTONI, 2000). Esse programa registra os comportamentos previamente selecionados para depois serem analisados.

A análise da efetividade do treinamento será feita mediante os dados registrados automaticamente através do software “Ensino a Professores” e os dados registrados com a utilização do software EthoLog 2.25. Esses dados serão analisados intra e inter participantes, através de gráficos e tabelas.

Resultados

O projeto se encontra na etapa das filmagens prévias, ou seja, antes da aplicação do software

“Ensino a professores”. O conteúdo do software já foi adaptado e corrigido. A seleção de professores da área clínica já foi feita e os termos de consentimento já foram assinados.

Discussão

A família e a sociedade de um modo geral acreditam que os professores ou os profissionais que cuidam de seus filhos, como fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo etc. devem dar conta de todos os problemas que estes apresentem, desconsiderando a gravidade da casuística, a formação desses profissionais, os objetivos da instituição, a adequação do modelo adotado para o processo ensino-aprendizagem, assim como as dificuldades individuais de cada aluno e/ou paciente. Esses são fatores primordiais que devem ser considerados, especialmente frente à questão da inclusão/integração de pessoas com deficiência. Os métodos de que dispõem os profissionais muitas vezes são insuficientes para que estes consigam de fato atingir seus clientes/alunos com deficiências, principalmente no caso daqueles com deficiência mental ou múltipla que apresentam comportamentos inadequados (Fornazari, 2005).

O presente estudo tem por objetivo a capacitação dos profissionais do ILITC para lidar com os alunos que possuem deficiências múltiplas, na maioria dos casos cegueira e déficit intelectual, por meio do software desenvolvido para Fornazari (2005), com adaptações de conteúdo, das sessões de vídeo-feedback e da transcrição do comportamento dos profissionais em relação aos alunos. O procedimento utilizado baseia-se no DRA, reforçamento de comportamentos diferenciais alternativos, através do qual, por meio de reforço para os comportamentos alternativos emitidos, busca-se diminuir a freqüência da emissão dos comportamentos inadequados e aumentar a freqüência dos comportamentos considerados adequados para que assim esses alunos possam ser mais bem aceitos pela sociedade e, em alguns casos, terem condições de inserção no mercado de trabalho.

Utilizando software desenvolvido para ensinar aos profissionais do ILITC conceitos relacionados à Análise do Comportamento, espera-se que os mesmos, através da aprendizagem sem erro, entendam melhor estes conceitos por meio de simulações de

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972 situações cotidianas e, assim, consigam lidar melhor com os alunos e suas limitações. Além disso, com as sessões de vídeo-feedback, os profissionais, que já estarão aplicando os conceitos que aprenderam, poderão ver sua própria atuação e refinar a utilização dos conceitos e procedimentos aprendidos para cada nova situação. Dessa forma, eles poderão verificar na prática quais as mudanças nas contingências ambientais que produzem alterações no repertório comportamental dos alunos pois, de acordo com Skinner (2000, p. 52), “a probabilidade de uma pessoa responder de determinada maneira por causa de uma história de reforço operante muda à medida que as contingências mudam”.

A escolha pelo procedimento de DRA justifica-se por ser este uma alternativa bem mais eficaz na seleção e no desenvolvimento de repertórios comportamentais eficientes e adequados se comparado aos de punição – que, sabe-se, apresenta resultados satisfatórios apenas quando o estímulo punitivo está presente; e aos de extinção, eficaz apenas em diminuir a ocorrência do comportamento indesejado, mas ineficaz em selecionar e proporcionar a ocorrência de respostas satisfatórias a determinado contexto. De acordo com Sidman (2001),

(...) não precisamos punir para evitar ou impedir as pessoas de agirem mal. Podemos alcançar o mesmo fim com reforçadores positivos, sem produzir os indesejáveis efeitos colaterais da coerção. Uma maneira de impedir que as pessoas façam algo sem puni-las é oferecer-lhes reforçadores positivos por fazerem alguma outra coisa.

(p. 248).

Este esquema de reforçamento, além de reduzir comportamentos indesejados e ao mesmo tempo instalar ou manter comportamentos adequados, é de imensa importância para pessoas com deficiência mental ou múltipla, considerando que estas geralmente apresentam um repertório comportamental bastante limitado.

Considerando a redução da estigmatização social com relação a essas pessoas, reduzir os comportamentos inadequados é muito importante, mas por outro lado, garantir uma produtividade que possibilite uma verdadeira melhora em sua qualidade de vida é fundamental. Produtividade aqui pode ser entendida não apenas como a profissionalização dessas pessoas, mas como uma produtividade para as tarefas cotidianas, inclusive para a sua própria sobrevivência.

É importante que os profissionais capacitados aprendam de maneira eficaz a realizar uma análise funcional dos comportamentos de seus alunos e/ou pacientes para a aplicação do esquema de reforçamento em DRA, utilizando para o manejo de comportamentos inadequados e generalizando o conhecimento para outras situações como no treino das já citadas atividades de vida diária (AVD) e das atividades de vida prática (AVP).

Deve-se destacar ainda a efetividade do software utilizado que, através de um procedimento de emparelhamento com o modelo, torna o treinamento eficaz e econômico, abrindo portas para a capacitação dos demais profissionais em contato com alunos com necessidades especiais, sejam quais forem as suas necessidades e o contexto no qual se encontram, bastando adequar o conteúdo a ser inserido no programa.

Esse trabalho envolve a conscientização dos educadores e dos profissionais de áreas afins, assim como de pais e da comunidade em geral, a respeito da possibilidade de desenvolvimento das pessoas com necessidades educacionais especiais severas, profundas ou múltiplas e da utilização da tecnologia educacional e procedimentos da Análise Funcional do Comportamento para essa finalidade. Um trabalho nesse sentido poderia efetivamente trazer

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973 melhoria na qualidade de vida da população, assim como a redução do preconceito e da estigmatização social.

Conclusão

Os resultados do estudo de Fornazari (2005) demonstraram, primeiramente, a efetividade do procedimento de DRA na redução dos comportamentos inadequados e no desenvolvimento e na instalação de comportamentos adequados nos participantes (alunos/usuários e instrutores). Conseqüentemente, também se pôde verificar a importância do treinamento com os instrutores para a aquisição de procedimentos que possibilitem respostas efetivas no manejo de comportamentos inadequados, que possibilitem atuação eficaz no trabalho com os seus alunos e/ou pacientes.

Assim, com base nos procedimentos de Fornazari (2005) espera-se que o trabalho a ser realizado no ILICT possibilite, através da utilização do software e das sessões de vídeo- feedback, uma contribuição para que os profissionais da Educação Especial tenham subsídios para fazer uma analise funcional e assim intervir de modo que os comportamentos inadequados diminuam através da aprendizagem de comportamentos alternativos. Isto, de certa forma, proporcionará uma maior integração destes deficientes visuais e intelectuais no seu meio social, contribuindo, assim, para uma melhor qualidade de vida destes e de todos que vivem ao seu redor.

Referências

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