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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ. Foro Central Comarca da Região Metropolitana de Curitiba 5ª Vara da Fazenda Pública SISTEMA PROJUDI SENTENÇA

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Dra. Patricia de Almeida Gomes Bergonse Página 1 de 15

SENTENÇA

Vistos e examinados estes autos de Mandado de Segurança em trâmite perante a 5ª. Vara da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, sob nº0000589-94.2015.8.16.0179 em que figuram como impetrantes PAULO ROBERTO GONGORA FERRAZ e OUTROS e como impetrado DIRETOR DA SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA e ESTADO DO PARANÁ, todos qualificados.

Dizem os impetrantes inicialmente, que são proprietários de veículo automotores, registrados perante o Departamento de Trânsito do Estado do Paraná. Narram ter se surpreendido com a edição do Decreto nº 12.832, publicado no Diário Oficial do Estado nº 9358 de

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19/12/2014, alterando o prazo para pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), com nova alíquota de 3.5%.

Contam que ao diligenciar para emissão administrativa dos boletos para pagamento, não obtiveram êxito, tendo assim seu direito violado.

Defendem não ter sido observado o princípio da anterioridade nonagesimal, ferindo-se a segurança jurídica, na medida em que o imposto sobre propriedade de veículo automotor é um tributo de fato gerador continuado, sendo devido anualmente, cujo fato se dá no primeiro dia de cada ano para os veículos adquiridos em anos anteriores. Assinalam que o artigo 2º, parágrafo 1º, alínea “e” da Lei nº 14.260/2003, dispõe que o fato gerador do imposto se dá no primeiro dia de cada ano em relação aos veículos automotores adquiridos em anos anteriores, não havendo que se falar em lançamento em abril de 2015.

Afirmam que possuem direito líquido e certo de ter liberados boletos de pagamento do IPVA, anteriormente ao fato gerador em abril do ano de 2015, sendo que o Decreto Estadual ora questionado, na

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prática, abre espaço para a discricionariedade da Administração Pública de captar recursos materiais para suprir suas necessidades financeiras.

Requereram a antecipação de tutela.

No mérito, requerem a concessão da segurança para que seja declarada a abusividade e ilegalidade do ato coator de cobrança do IPVA/2015 na forma do Decreto nº 12.832/2014.

Juntaram documentos. A liminar foi deferida.

Os impetrantes interpuseram embargos de declaração da decisão liminar.

O Estado do Paraná requereu seu ingresso na lide consoante artigo 7º., inciso II, da Lei Federal nº 12.016/2009.

O impetrado apresentou suas informações defendendo a ausência de direito líquido e certo dos impetrantes, eis que o Estado do Paraná estaria observando o princípio da anterioridade.

Sustenta que a Lei Estadual nº 18.371/2014 previu aumento da alíquota de 2,5% para 3,5% para veículos automotores registrados no DETRAN/PR ou cadastrados na SEFA/PR, adquiridos em

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anos anteriores. Que por se tratar de uma alteração realizada em dezembro de 2014, implicando em majoração do tributo, o Estado do Paraná precisou respeitar os princípios da anterioridade e da anterioridade nonagesimal. Que devido a Emenda Constitucional 42/2003, estabeleceu-se que o vencimento do tributo se daria em 1º. de abril de 2015.

Salienta que o fato gerador do IPVA para o exercício de 2015 relativo aos veículos adquiridos em anos anteriores, não é o dia 1º de janeiro de 2015, mas sim 1º de abril de 2015, razão pela qual não se poderia emitir boleto para pagamento com base no fato gerador de 2014.

Defende que o artigo 5º da Lei Estadual n. 18.371/2014, que alterou a data do fato gerador, já estava em pleno vigor e com eficácia imediata.

Aduz pela inexistência de previsão legal de que o fato gerador do IPVA deve necessariamente ocorrer no primeiro dia do ano, sendo que o art.116 do CTN autoriza que lei estadual discipline o momento da ocorrência do fato gerador dos tributos.

Assevera que o IPVA é ato de competência privativa da Administração Fazendária Estadual, de modo que o contribuinte não

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pode antecipar-se ao lançamento do Fisco e ao próprio cálculo do valor devido pelo seu titular, porque o fato gerador não ocorreu até aquele momento.

Sustenta que ao ter definido nova data de ocorrência do fato gerador, a Lei Estadual nº 18.371/2014, acabou tacitamente por revogar a regra da alínea “e” do § 1º do artigo 2º da Lei Estadual nº 14.260/2003, relativamente ao IPVA do ano de 2015 referente aos veículos adquiridos em anos anteriores.

Argumenta que foi mantida a alíquota de 2,5% para transferências a outras unidades da federação ocorridas até 31 de março de 2015 e veículos zero quilômetro (arts. 4º e 5º), não se tratando de situações correlatas.

Postula pela denegação da segurança.

O Estado do Paraná manifestou-se requerendo a suspensão da execução da liminar deferida.

Foi comunicada a concessão da suspensão da liminar pelo Exmo. Presidente do Tribunal de Justiça.

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No movimento Projudi 37.1, foi revogada a decisão liminar, bem como não foram conhecidos os embargos de declaração.

Com vista dos autos o representante do Ministério Público entendeu desnecessária sua intervenção.

Após, contados e preparados, vieram os autos conclusos para sentença.

É o relatório. Passo a decidir.

Cinge-se a controvérsia dos autos a questão da vigência ou não da Lei 18.371/2014, relativa à data da ocorrência do fato gerador pertinente ao Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

Pois bem, inicialmente cumpre verificar a ordem cronológica das legislações, a partir da Lei nº 14.260/2003, que estabeleceram normas diversas sobre o referido imposto, e que estão em discussão nos presentes autos.

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Lei n. 14.260 de 23 de dezembro de 2003 (...)

Art. 2º. O IPVA tem como fato gerador a propriedade de

veículo automotor e será devido anualmente. (...)

e) no primeiro dia de cada ano, em relação aos veículos automotores adquiridos em anos anteriores;

....

Art. 4º. As alíquotas do IPVA são:

II – 2,5% (dois e meio por cento) para os demais veículos automotores registrados no DETRAN/PR ou cadastrados na SEFA/PR.

Lei nº 16.735 de 27 de dezembro de 2010.

(Não efetuou alterações quanto a alíquota e data da ocorrência do fato gerador).

Lei 18.731 de 17 de dezembro de 2014. (...)

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Art. 4º. Introduz as seguintes alterações na Lei n. 14.260, de

22 de dezembro de 2003:

I. O inciso II do art.4º. passa a vigorar com a seguinte redação:

“ II – 3,5% (três e meio por cento) para os demais veículos automotores registrados no DETRAN/PR ou cadastrados na SEFA/PR.”;

(...)

Art. 5º. O fato gerador do imposto de que trata a Lei nº

14.260, de 2003, referente ao exercício de 2015, em relação aos veículos automotores adquiridos em anos anteriores, ocorrerá no dia 1º de abril de 2015.

§1º O IPVA de que trata o caput deste artigo terá seu vencimento em 1º de abril de 2015.

(...)

Art.6º. Esta lei entra em vigor na data da sua publicação,

produzindo efeitos a partir do 1º dia do quarto mês subsequente ao da publicação em relação ao art.1º, ao inciso I do art.4º. e ao art.7º.

(...)

Decreto 12.832 de 18 de dezembro de 2014

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(Estabeleceu normas sobre o tratamento tributário pertinente ao IPVA, entrando em vigor na data de sua publicação).

Ressalte-se que muito embora o impetrante tenha se manifestado na exordial especialmente quanto ao Decreto n. 12.832/2014, tem-se que o mesmo apenas regulamentou questões relativas a Lei 18.731/2014.

Verifica-se que a Lei 18.371/2014, entre outras questões, estabeleceu duas normas jurídicas: a) majorou a alíquota do IPVA; b) estabeleceu novo critério temporal de incidência.

Antes de serem analisadas as modificações, necessário discorrer acerca de dois dos princípios que deverão ser aplicados no caso: O primeiro, princípio da anterioridade, encontra esteio no artigo 104 do Código Tributário Nacional e no artigo 150, III, “b” da Constituição Federal, e estabelece que os dispositivos de lei entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorreu a instituição ou majoração de impostos, ressalvadas as exceções dispostas no próprio texto constitucional.

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O segundo, é o princípio da anterioridade nonagesimal, introduzido pela Emenda Constitucional 42/2003, que preconiza a verificação do transcurso de 90 dias da publicação da lei (art.150, III, “c”, CF).

Pois bem, é certo que nem todos os tributos precisam respeitar o princípio da anterioridade como é o caso, por exemplo, do Imposto sobre Importação. Contudo, o IPVA, não está entre as exceções constitucionais previstas, de modo que em relação ao mesmo, sempre se deve respeitar o princípio da anterioridade.

No que tange a anterioridade nonagesimal relativa ao IPVA, não necessitará ser respeitada, apenas se a alteração for referente à base de cálculo. Isto encontra-se expressamente previsto no artigo 150, §1º da Constituição Federal, in verbis:

1º - A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem

à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156,

I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

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Ressalte-se, que o artigo 150, III, “b” e “c”, no que se refere ao princípio da anterioridade do exercício e anterioridade nonagesimal, só se aplica no caso de instituição ou majoração de tributo. Assim, em se tratando de majoração de alíquota, estará sujeito à regra geral e deverá respeitar tanto a anterioridade do exercício, quanto os 90 dias.

No caso dos autos, quanto ao princípio da anterioridade do exercício, entendo ter sido observado pela autoridade impetrada, na medida em que tanto a Lei 18.731/2014, quanto o Decreto 12.832/2014, foram publicados no exercício anterior ao presente.

No que tange a anterioridade nonagesimal, verifica-se que a Lei 18.731/2014, dispôs expressamente que entraria em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir do 1º dia do quarto mês subsequente ao da publicação, em relação ao artigo 1º., ao inciso I do artigo 4º., e ao artigo 7º.

Assim, tem-se que a lei estipulou que passaria a vigorar na data de sua publicação, exceto, no caso do artigo 4º, inciso I, o

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qual dispôs quanto a majoração da alíquota, quando então passaria a vigorar em 01/04/2015.

Ao que se percebe, entendeu-se, que apenas o artigo relativo à majoração da alíquota (para o caso ora tratado), observaria o princípio nonagesimal, e que as demais alterações passariam a ter vigência imediata.

A meu entender, contudo, a alteração do critério temporal da hipótese de incidência deveria ter igualmente observado e cumprido o princípio nonagesimal, posto que é elemento matriz da incidência tributária1. Destaque-se que através do critério temporal que se

é possível compreender o instante em que ocorre o fato jurídico tributário. Assim sendo, tenho que o critério temporal de incidência, ou seja, a ocorrência do fato gerador no dia 1º de janeiro de cada ano, constante da Lei 14.260/2003 (mantido pela Lei 17.735/2010), permaneceu vigente até o dia 31 de março de 2015, em atenção ao princípio nonagesimal.

1 São elementos matriz da incidência tributária os aspectos material, temporal e espacial.

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Anote-se ainda, que muito embora a Lei 18.371/2014, tenha alterado dispositivos da Lei 14.260/2003, não revogou expressamente os dispositivos anteriores, de forma que se entende que o novo comando, relativo à hipótese de incidência temporal (fato gerador,) passou a ter força obrigatória, apenas após o período nonagesimal.

Importante frisar que antes do decurso da vacatio, a lei nova não terá efetiva força obrigatória, nem autoridade imperativa, mesmo que promulgada e publicada, por ainda estar em vigor a lei antiga.

Portanto, entendo que em observância ao período nonagesimal, que define a vigência do novo dispositivo, até o dia 31 de março de 2015, estaria ainda vigendo o disposto na Lei 14.260/2003, qual seja, 1º de janeiro.

Tanto é assim, que ao se pesquisar a legislação junto ao site da Secretaria da Fazenda do Estado do Paraná, verifica-se a afirmação de que a alíquota somente passaria a surtir efeitos a partir de 31.03.2014, justamente porque somente no dia 01.04.2015, ocorreria o fato gerador pela nova lei.

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Art. 4º - As alíquotas do IPVA são:

II - 3,5% (três e meio por cento) para os demais veículos automotores registrados no DETRAN/PR ou cadastrados na SEFA/PR.

Nova redação dada ao inciso II do art. 4º pelo inciso I do art. 4º da Lei 18.371/2014, produzindo efeitos a partir de 1º.04.2015.

Redação anterior dada pelo inciso I do art. 1º da Lei n. 16.735/2010, produzindo efeitos de 27.12.2010 até 31.03.2014: "I - 2,5% (dois e meio por cento) para os demais veículos automotores registrados no DETRAN/PR ou cadastrados na SEFA/PR." (grifo

meu)2

Desta forma, tem-se que vigia até 31/03/2015 a lei antiga e que determinava que o fato gerador do tributo era o dia primeiro de janeiro de cada ano.

Conclui-se assim, ter sido ferido o direito líquido e certo dos impetrantes ao lhes ser negada a possibilidade de pagamento do imposto de acordo com a regra que ainda vigia, estabelecida na Lei 14.260/2003.

Ante o exposto, CONCEDO A SEGURANÇA, julgando procedente o pedido inicial e de consequência extinto o processo com resolução do mérito, na forma do artigo 269, I do Código de Processo

2 http://www.sefanet.pr.gov.br/dados/sefadocumentos/12200314260.pdf

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Civil, para declarar a ilegalidade da cobrança do IPVA/2015 na forma do Decreto n.12.832/2014, até 31.03.2015.

Pela sucumbência condeno o Estado do Paraná ao pagamento das custas processuais de lei. Deixo de condená-lo em honorários advocatícios com fundamento no artigo 25 da Lei 12.016/2009 e Súmulas 512 do STF e 105 do STJ.

Recorro de ofício com fundamento no artigo 14 §1º. da Lei 12.016/2009.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Curitiba, data da assinatura digital.

PATRICIA DE ALMEIDA GOMES BERGONSE Juíza de Direito

Referências

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