A C Ó R D Ã O (2ª Turma) GMMHM/lrv/nt
I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.015/2014.
DANOS MORAIS. FALTA GRAVE DO
EMPREGADOR. FRAUDE DE ATESTADO MÉDICO. VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA. Por
observar possível violação dos arts. 187 e 422 do Código Civil, deve ser
provido o agravo de instrumento para
determinar o processamento do recurso de revista. Agravo de instrumento
provido.
II – RECURSO DE REVISTA. INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.015/2014.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INTERRUPÇÃO DO PRAZO RECURSAL. TEMPESTIVIDADE DAS CUSTAS PROCESSUAIS. RECOLHIMENTO ANTES
DA PUBLICAÇÃO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. DESERÇÃO NÃO CONFIGURADA.
Consoante inteligência da Súmula 245 do TST e do art. 789, § 1º, da CLT, constitui ônus da parte efetuar e comprovar o recolhimento do depósito recursal e das custas processuais no prazo alusivo ao recurso. Os arts. 897-A, §3º, da CLT e 1.026 do NCPC (art. 538 do CPC/1973) dispõem que a interposição de embargos de declaração interrompe o prazo para a interposição
de outros recursos. No caso,
verifica-se que a reclamante opôs
embargos declaratórios contra a
sentença, os quais foram acolhidos para prestar esclarecimentos e publicados em 11/05/2015. A jurisprudência desta Corte entende que apenas na hipótese intempestividade e irregularidade de representação processual dos embargos de declaração opostos é que não ocorre a interrupção do prazo recursal. Tendo em vista que os embargos de declaração
foram acolhidos para prestar
esclarecimentos, houve a interrupção do prazo recursal. Considerando que o recurso foi interposto ainda na vigência do CPC/1973, o prazo para interposição do recurso ordinário, recolhimento e comprovação das custas e
do depósito recursal findou em
19/05/2015. Acrescente-se que a
jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que a interposição do recurso antes da publicação da sentença de embargos de declaração não enseja a sua extemporaneidade. Portanto, a antecipação da interposição do recurso ordinário e do recolhimento custas
processuais não enseja a sua
intempestividade. Diante de todo o exposto, tem-se que a sentença de embargos de declaração foi publicada em 11/05/2015. Em razão da interrupção, o prazo recursal se findou 19/05/2015. Ao passo que a reclamada interpôs o recurso
ordinário e recolheu as custas
processuais respectivamente em
06/01/2015 e 06/04/2015, razão pela qual não há falar em deserção do recurso. Precedentes. Recurso de
revista não conhecido.
RESCISÃO INDIRETA. FALTA GRAVE DO EMPREGADOR. FIXAÇÃO DA DATA DE EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. Os artigos 4º,
471, 483, §3º, 496 da CLT e 187, 422 e 927 do CC não tratam estritamente da fixação de data de extinção do contrato de trabalho, razão pela qual não se constata violação direta de preceito de lei federal, nos termos do art. 896, "c", da CLT. Precedentes. Recurso de
revista não conhecido.
DANOS MORAIS. FALTA GRAVE DO
EMPREGADOR. FRAUDE DE ATESTADO MÉDICO.
VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
Incontroverso nos autos que a reclamada fraudou atestado médica a fim de impedir que a empregada retornasse ao trabalho. A conduta da reclamada caracteriza ato
ilícito que afronta os arts. 187 e 927 do Código Civil, configurando prejuízo moral in re ipsa, uma vez que restringe o direito constitucional ao trabalho,
acarretando dano à esfera
extrapatrimonial do trabalhador, além de ofender o princípio da boa-fé
objetiva. Com efeito, a boa-fé
objetiva, prevista nos arts. 113, 187 e 422 do Código Civil, deve reger todas as relações contratuais, inclusive a
trabalhista, traduzindo-se num
comportamento ético das partes, que
devem agir em conformidade com
parâmetros razoáveis de lealdade e boa-fé. Assim, ao adulterar documento médico para impedir o regresso da empregada ao trabalho, a reclamada
extrapolou os limites do poder
diretivo, incorrendo em violação de princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho, da boa-fé objetiva, o que enseja a devida reparação, nos termos dos artigos 5º, V e X, da Constituição Federal. Precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-1001168-95.2014.5.02.0471, em que é Recorrente
MARIA JOSÉ MARQUES DE SOUZA e Recorrido CONDOMÍNIO EDIFÍCIO ITAMARATY.
Trata-se de agravos de instrumento interpostos contra decisão mediante a qual foi denegado seguimento aos recursos de revista. O recorrido apresentou contraminuta ao agravo de instrumento e contrarrazões ao recurso de revista.
É o relatório.
V O T O
I – AGRAVO DE INSTRUMENTO
Conheço do agravo de instrumento, uma vez que
atendidos os pressupostos de admissibilidade.
1 – DANOS MORAIS. FALTA GRAVE DO EMPREGADOR. FRAUDE DE ATESTADO MÉDICO. VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
A Presidência do TRT 2ª Região negou seguimento ao recurso de revista pelos seguintes fundamentos:
“PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR/EMPREGADO / INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
Alegação(ões):
- violação do(s) artigo 1º, inciso I, IV; artigo 3º, inciso IV; artigo 5º, inciso V e X, da Constituição Federal.
- violação do(a) Código Civil, artigo 187; artigo 927; artigo 422. Sustenta que a simples constatação da fraude e adulteração de documento médico para impossibilitar a recorrente de retornar ao trabalho é fato que demonstra, como a própria decisão diz, violação ao princípio da boa-fé e, ato contínuo, enseja o dano moral in re ipsa.
Consta do v. Acórdão:
Da indenização por danos morais Com razão.
Embora tenha o reclamado incorrido na hipótese do artigo 483, "d", da CLT, ao violar o princípio da boa-fé objetiva, consoante tópico transato, o pleito de indenização por danos morais, alicerçado em suposta obstaculização do retorno da reclamante ao trabalho, não merece acolhimento, pois reconheceu a autora, em depoimento pessoal que, "quando compareceu em consultas no médico da empresa, dizia que 'não tinha condições de trabalhar porque estava travada'" (Id 66bcb5c, destaquei).
Dou provimento.
A discussão acerca de eventual dano moral in re ipsa é exegética, combatível com apresentação de tese oposta, que não restou demonstrada. Ressalte-se que, se uma norma pode ser diversamente interpretada, não se pode afirmar que a adoção de exegese diversa daquela defendida pela parte enseja violação literal a essa regra, pois esta somente se configura quando se ordena exatamente o contrário do que o dispositivo expressamente estatui.
Do mesmo modo, não se pode entender que determinada regra restou malferida se a decisão decorre do reconhecimento da existência, ou não, dos requisitos ensejadores da aplicação da norma.
No caso dos autos, o exame do decisum não revela a ocorrência apta a ensejar a reapreciação com supedâneo na alínea "c", do artigo 896, da CLT.
DENEGO seguimento quanto ao tema.”
A reclamante alega, em síntese, que a constatação da fraude de documento médico para impossibilitar o seu retorno ao trabalho viola o princípio da boa-fé, ensejando o dano moral in re ipsa. Aponta violação dos arts. 1º, I e IV, 3º, IV, 5º, V e X, da CF; 187 927 e 422 do Código Civil.
Analiso.
O juízo de admissibilidade negou seguimento ao recurso de revista, sob o fundamento de que a norma não foi violada.
Por observar possível violação dos 187 e 422 do Código Civil, dou provimento ao agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista.
II – RECURSO DE REVISTA
Satisfeitos os pressupostos comuns de
admissibilidade, examino os específicos do recurso de revista.
1 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INTERRUPÇÃO DO PRAZO RECURSAL. TEMPESTIVIDADE DAS CUSTAS PROCESSUAIS. RECOLHIMENTO ANTES DA PUBLICAÇÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DESERÇÃO NÃO CONFIGURADA.
1.1) Conhecimento
Ao analisar o recurso ordinário quanto ao tema em destaque, o TRT assim decidiu:
“VOTO
Conheço do recurso, eis que presentes os pressupostos de admissibilidade.
A preliminar de não conhecimento arguida em sede de contrarrazões não colhe, já que os embargos declaratórios opostos pela reclamante interromperam o prazo para interposição de recurso ordinário por qualquer das partes, consoante artigo 538, do CPC, de modo que, publicada a decisão dos embargos no DEJT de 11/05/2015 (Id eafc911), não configura deserção o recolhimento de custas e sua comprovação nos autos pelo reclamado somente em 06/04/2015, ainda que interposto o recurso ordinário e comprovado o depósito recursal em 06/01/2015.”
A reclamante alega, em síntese, que o recolhimento das custas processuais somente fora comprovado após a interposição do apelo ordinário e fora do prazo recursal. Aponta violação dos arts. 789, § 1º, e 895, I, da CLT; 5º, II e LIV, da CF.
Analiso.
O Tribunal Regional afastou a alegação de deserção do recurso ordinário do reclamado sob o fundamento de que a oposição dos embargos declaratórios pelo reclamante interrompeu o prazo para interposição de recurso ordinário. Assentou que o recurso ordinário e o depósito recursal foram realizados em 06/01/2015, sendo que o recolhimento e comprovação das custas ocorreram em 06/04/2015 e a publicação dos embargos em 11/05/2015.
Consoante inteligência da Súmula 245 do TST e do art. 789, § 1º, da CLT, constitui ônus da parte efetuar e comprovar o recolhimento do depósito recursal e das custas processuais no prazo alusivo ao recurso.
Por outro lado, os arts. 897-A, §3º, da CLT e 1.026 do NCPC (art. 538 do CPC/1973) dispõem que a interposição de embargos de declaração interrompe o prazo para a interposição de outros recursos. No caso, verifica-se que a reclamante opôs embargos declaratórios contra a sentença, os quais foram acolhidos para prestar esclarecimentos e publicados em 11/05/2015.
Com efeito, a jurisprudência desta Corte entende que apenas na hipótese intempestividade e irregularidade de representação processual dos embargos de declaração opostos é que não ocorre a interrupção do prazo recursal.
Cito os precedentes:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA - DESCABIMENTO. RECURSO ORDINÁRIO. INTEMPESTIVIDADE. EMBARGOS DECLARATÓRIOS NÃO CONHECIDOS. O não conhecimento dos embargos declaratórios decorre da ausência dos pressupostos extrínsecos de admissibilidade, quais sejam, intempestividade e irregularidade de representação. Evidenciada a intempestividade do apelo, não houve a interrupção do prazo recursal, na forma do art. 1.026 do CPC. Agravo de instrumento conhecido e desprovido" (AIRR-533-17.2016.5.19.0010, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, DEJT 29/05/2020).
"A)AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMADO (ITAÚ UNIBANCO S.A.). ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. INTEMPESTIVIDADE. NÃO CONHECIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DE INTERRUPÇÃO DO PRAZO RECURSAL. CONHECIMENTO E NÃO PROVIMENTO. I. De acordo com o art. 538 do CPC/73, os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos. Além disso, o art. 897-A, §3º, da CLT, dispõe que " Os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição de outros recursos, por qualquer das partes, salvo quando intempestivos, irregular a representação da parte ou ausente a sua assinatura " (destaques acrescidos). II . Tem-se, assim, que o não atendimento no caso dos autos dos requisitos de admissibilidade dos embargos declaratórios, qual seja, o da representação processual, acarreta o seu não conhecimento, obstando ao reconhecimento de qualquer de seus efeitos, tal como o de interromper o fluxo do prazo para a interposição de outros recursos. III. Agravo de instrumento de que se conhece e a que se nega provimento . (AIRR-325-30.2012.5.01.0283, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 15/05/2020).
RECURSO DE REVISTA DA EXEQUENTE. LEI 13.467/2017. EXECUÇÃO. DECISÃO REGIONAL QUE NÃO CONHECE DO AGRAVO DE PETIÇÃO POR INTEMPESTIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO CONHECIDOS POR AUSÊNCIA DOS VÍCIOS
INDICADOS. INTERRUPÇÃO DO PRAZO RECURSAL.
TRANSCENDÊNCIA. No caso, o Juízo da execução não conheceu dos
embargos de declaração opostos pela exequente, porque ausentes os vícios dos arts. 897-A da CLT e 1.022 do CPC, e o eg. TRT não conheceu do agravo de petição, por intempestivo, sob o entendimento de que aqueles embargos de declaração não conhecidos não interromperam o prazo recursal. A decisão regional contraria a jurisprudência pacificada nesta c. Corte Superior, no sentido de que a decisão que não conhece dos embargos de declaração por ausência dos vícios dos referidos dispositivos legais equivale ao exame do mérito do apelo e de pressuposto intrínseco do recurso, circunstância que conduz ao seu desprovimento e implica a interrupção do prazo recursal. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-66101-51.2013.5.17.0006, 6ª Turma, Relator Ministro Aloysio Correa Da Veiga, DEJT 14/02/2020). Desse modo, tendo em vista que os embargos de declaração foram acolhidos para prestar esclarecimentos, houve a interrupção do prazo recursal.
Considerando que o recurso foi interposto ainda na vigência do CPC/1973, o prazo para interposição do recurso ordinário, recolhimento e comprovação das custas e do depósito recursal findou em 19/05/2015.
Acrescente-se que a jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que a interposição do recurso antes da publicação da sentença de embargos de declaração não enseja a sua extemporaneidade.
Cito o precedente:
"EMBARGOS. TEMPESTIVIDADE DO RECURSO ORDINÁRIO. INTERPOSIÇÃO ANTES DA PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Não mais se cogita de recurso intempestivo, por prematuro, ou seja, interposto antes da publicação da decisão recorrida, pois a Súmula 434 do TST restou cancelada (DEJT divulgado em 12, 15 e 16.06.2015), ante pronunciamentos recentes do Supremo Tribunal Federal, no sentido da impropriedade de se apenar a parte pela pronta iniciativa de exercer a faculdade de interpor recurso. De qualquer forma, para os casos de recurso ordinário, na pendência de publicação de sentença de embargos de declaração, opostos por quaisquer das partes, a jurisprudência firmada pela egrégia Subseção já afastava a incidência da aludida Súmula 434 do TST, ante as peculiaridades de que se revestem as intimações na primeira instância. Merece reforma acórdão embargado que mantém a intempestividade de recurso ordinário interposto antes da publicação da sentença de embargos de declaração. Precedentes. Embargos de que se conhece e a que se dá provimento." (E-RR -
856-28.2012.5.02.0465, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento: 04/02/2016, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 12/02/2016)
Portanto, a antecipação da interposição do recurso ordinário e do recolhimento custas processuais não enseja a sua intempestividade.
Diante de todo o exposto, tem-se que a sentença de embargos de declaração foi publicada em 11/05/2015. Em razão da interrupção, o prazo recursal se findou 19/05/2015, ao passo que a reclamada interpôs o recurso ordinário e recolheu as custas processuais respectivamente em 06/01/2015 e 06/04/2015, razão pela qual não há falar em deserção do recurso.
Não conheço.
2 – RESCISÃO INDIRETA. FALTA GRAVE DO EMPREGADOR. FIXAÇÃO DA DATA DE EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO.
2.1) Conhecimento
Ao analisar o recurso ordinário da reclamada quanto ao tema em destaque, o TRT assim decidiu:
“Da rescisão do contrato de trabalho - justa causa
Prospera, em parte, a irresignação.
Aflora dos autos que a reclamante foi admitida pelo reclamado, como faxineira, em 1º/04/1999 e, em razão de moléstia não relacionada ao trabalho, manteve-se afastada, em gozo de auxílio doença previdenciário, no período de 10/06/2000 a 07/04/2008, ao final do qual se apresentou ao reclamado, deixando, todavia, de retornar ao trabalho, pois considerada inapta por médico do trabalho em 14/04/2008 (Atestado de Saúde Ocupacional - ASO sob Id 6ba1048).
Já em 23/06/2014, quando novamente examinada, foi considerada apta ao trabalho, com restrições para esforços físicos e agachamentos(ASO e relatório sob Id 9172729).
Entrementes, em 25/06/2014, a mesma médica do trabalho que a avaliara dois dias antes, Dra. Maria Nanci Garcia de Galarraga, sem proceder a novo exame clínico ou solicitar exames adicionais, emitiu novo ASO, considerando-a inapta(Id 29c4bab).
(...)
De outra parte, andou bem o juízo a quo ao decretar a rescisão do contrato de trabalho por falta grave patronal, pois, em que pese o depoimento
da reclamante de que "não tinha condições de trabalhar porque estava travada" (Id 66bcb5c), deixou o reclamado de cumprir as obrigações do contrato (artigo 483, "d", da CLT), violando o princípio da boa-fé objetiva, que rege qualquer relação contratual (artigo 422, do Código Civil c/c artigo 8º, da CLT), ao pressionar a médica do trabalho a alterar o seu parecer.
É o que se depreende da alegação da defesa de que, ao receber o ASO datado de 23/06/2014, concluindo pela inaptidão da reclamante ao trabalho, "o Reclamado fez contato com o emitente do atestado para verificar se a alta previdenciária tinha sido apresentada, oportunidade em que a empresa entendeu por bem em chamar a Reclamante para novo exame, emitindo assim novo documento que atestava sua inaptidão" (Id 5e14157, destaquei).
Outrossim, a testemunha apresentada pelo reclamado, a já citada Érica Correa de Mendonça, admitiu, ainda, que, "ao receber tal documento 'achou
muito estranho' tais restrições e foi ao consultório do médico do trabalho para que este esclarecesse tais restrições; que em conversa com a depoente tal médico, o mesmo que havia atestado a aptidão ao trabalho com restrições, disse que iria solicitar um relatório atual do médico atual da reclamante" (Id 66bcb5c), afirmação que, somada ao depoimento da médica responsável pela emissão dos ASOs, no sentido de que "fez o segundo atestado, indicando que a autora estava inapta porque foi lhe informado que no condomínio em que ela trabalhava não haveria atividade compatível com as restrições de não agachar e não realizar esforços físicos; que esta informação sobre a impossibilidade da reclamante trabalhar com as restrições foi dada pela recepção do serviço médico onde a depoente trabalha" (Id be0521d), apenas confirma que a alteração do ASO não se deu
por convicção médica.
Nada obstante, tenho que a rescisão indireta há de ser decretada em 25/06/2014, quando emitido o novo atestado e caracterizada a falta grave patronal, e não em 03/09/2014, "data da audiência em que, pelas
declarações prestadas, observou-se a impossibilidade de continuidade do liame empregatício", como decidiu a Origem, restando, de conseguinte,
indevidos os salários alusivos ao período de 26/06/2014 a 03/09/2014. Dou parcial provimento.”
A reclamante alega, em síntese, que o pleito inicial era para reintegração ao emprego, com pedido sucessivo de rescisão indireta. Aduz que a data a ser considerada como término da relação de emprego nos casos de rescisão indireta fundada nas alíneas “d” e “g” é a data da sentença que decretar a rescisão contratual. Aponta violação dos arts. 4º, 471, 483, §3º, e 496 da CLT e 187, 422 e 927 do Código Civil.
Analiso.
O Tribunal Regional deu provimento parcial ao recurso para fixar a data da rescisão contratual no momento da configuração da falta grave cometida pelo empregador, em 25/06/2014.
Os artigos 4º, 471, 483, §3º, 496 da CLT e 187, 422 e 927 do Código Civil não tratam estritamente da fixação de data de extinção do contrato de trabalho, razão pela qual não se constata violação direta de preceito de lei federal, nos termos do art. 896, "c", da CLT.
Cito os precedentes:
"RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. DATA DE TÉRMINO DO VÍNCULO TRABALHISTA. Permanece ilesa a literalidade do art. 483, "b", "d", "f" e § 3º, da CLT, o qual, conquanto verse sobre as hipóteses legais de rescisão indireta do contrato de trabalho, não trata especificamente da data do término da relação empregatícia, objeto da discussão ora tratada nos presentes autos. Inteligência do art. 896, "c", da CLT ). Recurso de revista não conhecido" (RR-1001264-83.2016.5.02.0716, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria Da Costa, DEJT 13/12/2019).
"RECURSO DE REVISTA. DATA DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO (alegação de violação ao artigo 483, §3º, da Consolidação das Leis do Trabalho). Não demonstrada a violação à literalidade de preceito de lei federal, não há que se determinar o seguimento do recurso de revista com fundamento na alínea “c” do artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho. Recurso de revista não conhecido. (RR-1300-36.2005.5.03.0091, 2ª Turma, Relator Ministro Renato De Lacerda Paiva, DEJT 30/03/2010).
Ante o exposto, não conheço.
3 – DANOS MORAIS. FALTA GRAVE DE EMPREGADOR. FRAUDE DE ATESTADO MÉDICO. VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA.
3.1) Conhecimento
Ao analisar o recurso ordinário da reclamada quanto ao tema em destaque, o TRT assim decidiu:
“Da indenização por danos morais Com razão.
Embora tenha o reclamado incorrido na hipótese do artigo 483, "d", da CLT, ao violar o princípio da boa-fé objetiva, consoante tópico transato, o
pleito de indenização por danos morais, alicerçado em suposta obstaculização do retorno da reclamante ao trabalho, não merece acolhimento, pois reconheceu a autora, em depoimento pessoal que, "quando compareceu em consultas no médico da empresa, dizia que 'não tinha condições de trabalhar porque estava travada'" (Id 66bcb5c, destaquei)
Dou provimento.”
A reclamante alega, em síntese, que a constatação da fraude de documento médico para impossibilitar o seu retorno ao trabalho viola o princípio da boa-fé, ensejando o dano moral in re ipsa. Aponta violação dos arts. 1º, I e IV, 3º, IV, 5º, V e X, da CF; 187, 927 e 422, do Código Civil.
Analiso.
Incontroverso nos autos que a reclamada fraudou atestado médica a fim de impedir que a empregada retornasse ao trabalho. A conduta da reclamada caracteriza ato ilícito que afronta os arts. 187 e 927 do Código Civil, configurando prejuízo moral
in re ipsa, uma vez que restringe o direito constitucional ao trabalho,
acarretando dano à esfera extrapatrimonial do trabalhador, além de ofender o princípio da boa-fé objetiva.
Com efeito, a boa-fé objetiva, prevista nos arts. 113, 187 e 422 do Código Civil, deve reger todas as relações contratuais, inclusive a trabalhista, traduzindo-se num comportamento ético das partes, que devem agir em conformidade com parâmetros razoáveis de lealdade e boa-fé.
Assim, ao adulterar documento médico para impedir o regresso da empregada ao trabalho, a reclamada extrapolou os limites do poder diretivo, incorrendo em violação dos princípios fundamentais da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho, da boa-fé objetiva, o que enseja a devida reparação, nos termos dos artigos 5º, V e X, da Constituição Federal.
Cito os precedentes:
NDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ADESÃO AO PAI-50. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. O princípio da boa-fé objetiva (art. 422 do Código Civil), inerente a todos os contratos, impõe um padrão ético de conduta às partes na relação obrigacional. Partindo-se do princípio da
boa-fé objetiva e, levando em consideração as premissas fáticas registradas pelo Tribunal Regional, de que "Restou ainda provado que pouco tempo
depois - menos de quatro meses - a empresa lançou o PEA- Plano de Estímulo ao Afastamento, com vantagens financeiras superiores ao PAI-50, embora antes do encerramento do prazo de adesão, o banco tenha assegurado que não haveria proposta semelhante no futuro, notícia veiculada no correio eletrônico - órgão de comunicação do banco - conforme noticia o reclamante, mais precisamente à fl. 09 da exordial, fato este não controvertido pela defesa" e que "Não é falsa a premissa de que a declaração do banco, afirmando que não mais editaria propostas semelhantes, fez induzir os seus empregados - e, particularmente, o reclamante - a aderir ao PAI-50" , bem como "que pouco tempo depois da edição desse plano o banco instituiu outro com mais vantagens para os demais empregados, fato que causou prejuízo ao reclamante, pois aderira ao plano anterior confiando nas declarações do banco" , constata-se que o
Banco do Brasil, ao induzir o empregado a aderir ao PAI-50, por fazê-lo acreditar que não haveria outro Plano de Incentivo à Dispensa, incorreu em violação do princípio da boa-fé objetiva, pois se pautou por critérios pouco éticos para persuadir o empregado a aderir ao PAI-50, comportamento esse desleal, que resulta na quebra de confiança entre as partes. Desse modo, havendo nexo de causalidade entre o dano sofrido pelo reclamante e a culpa do Banco configura-se ato ilícito a ensejar indenização, diante da quebra do princípio da boa-fé objetiva, aplicável a todos os contratos. Assim, o v. acórdão recorrido não violou a literalidade dos arts. 5º, X, e 7º, XXVIII da Constituição Federal e 927 do CCB. Precedentes. (AIRR-390558-33.2010.5.05.0000, 3ª Turma, Relator Ministro Alexandre De Souza Agra Belmonte, DEJT 28/08/2015).
II - RECURSO DE REVISTA RESCISÃO DO CONTRATO DE
EMPREGO. DIREITO LEGAL DO EX-EMPREGADO À
MANUTENÇÃO DO PLANO DE SAÚDE. OMISSÃO DA
EMPREGADORA EM OFERTAR A FACULDADE AO EMPREGADO. INOBSERVÂNCIA DA BOA-FÉ OBJETIVA CONTRATUAL. DEVER LEGAL E NORMATIVO. COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. DEVIDA. 1. Trata-se de Recurso de Revista fundamentado na alínea "c" do artigo 896 da Consolidação das Leis do Trabalho. 2. A contenda primária a ser decidida é definir se cabe à empregadora oportunizar ao empregado despedido a opção de manter o plano de saúde, ou se é esse (empregado) quem deve expor à empresa sua opção em mantê-lo. A interpretação perpassa pelo teor do artigo 30 da Lei Federal nº 9.656/98. Entende o autor que a obrigação é da empresa, que foi omissa, o que resultou em danos morais. 3. No caso, é incontroverso o fato de a reclamada ter excluído o autor do plano de saúde no momento da rescisão contratual, bem como é incontroverso que a empresa não apresentou ao autor qualquer possibilidade de ele optar por continuar com o plano de saúde, arcando com o custo.
Considerando esses fatos, tem-se que assiste razão ao autor. 4. De fato é ônus da empresa comunicar ao seu empregado, no momento da rescisão contratual, acerca da possibilidade de manter seu plano de saúde, desde que o obreiro arque com os correspondentes custos. Essa é conclusão se extrai na interpretação do artigo 30 da Lei Federal nº 9.656/98, em combinação com o sua regulamentação disposta no artigo 10 da Resolução Normativa DC/ANS nº 279 de 24.11.2011, e essa é a interpretação que coaduna com o princípio da boa-fé objetiva, que rege todo e qualquer contrato (artigos 187 e 422, do Código Civil), bem como com o princípio do dever de informação que dele decorre e que é inerente a toda e qualquer relação de emprego. 5. Cediço que o princípio da boa-fé objetiva se traduz em lealdade e confiança entre os contratantes, que devem sempre estar presentes nos negócios jurídicos, mormente num contrato de emprego. O empregador, no trato com seu empregado (e vice-versa), deve guardar o respeito e a ética que se espera de toda empresa séria. Frise-se que um contrato de emprego não se lastreia apenas e tão somente nos deveres principais (de dar, de fazer ou de não fazer), mas também se pauta nos deveres jurídicos anexos de conduta (decorrentes da aludida boa-fé objetiva), tais como a lealdade, a confiança, o dever de informação e etc. 6. Nesse contexto, a empresa, ao não observar a sobredita obrigação legal, a boa-fé objetiva e o seu princípio correlato do dever de informação, culminou por praticar ato ilícito, tal como dispõe o referido artigo 187 do Código Civil, sendo o dano moral corresponde "in re ipsa" (mormente que o autor, como se infere do acórdão Regional, ficou sem o plano de saúde), o que enseja a correspondente indenização por dano moral, a teor do artigo 927, do Código Civil, de modo que deve conhecido e provido o Recurso de Revista, para se seja restabelecida a sentença que condenou a empresa na compensação por danos morais, arbitrado no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 7. Recurso de Revista conhecido e provido." (RR-8200-93.2014.5.13.0009, 1ª Turma, Relatora Desembargadora Convocada Luiza Lomba, DEJT 18/12/2015).
Ante o exposto, conheço por violação dos arts. 187 e 422 do Código Civil.
3.2 - Mérito
Conhecido por violação dos arts. 187 e 422 do Código Civil, dou provimento ao recurso de revista para restabelecer a sentença que condenou a reclamada ao pagamento da indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade: I - dar provimento ao agravo de instrumento do reclamante por possível violação dos arts. 187 e 422 do Código Civil, determinando o processamento do recurso de revista, a reautuação dos autos e a intimação das partes e dos interessados para seu julgamento, nos termos dos arts. 935 do CPC e 122 do RITST; II –
conhecer o recurso de revista apenas quanto ao tema “DANOS MORAIS. FALTA GRAVE DE EMPREGADOR. FRAUDE DE ATESTADO MÉDICO. VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA”, por violação dos arts. 187 e 422 do Código Civil, e, no mérito, dar-lhe provimento para restabelecer a sentença que condenou a reclamada
ao pagamento da indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Brasília, 24 de fevereiro de 2021.
Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)
MARIA HELENA MALLMANN
Ministra Relatora