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DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO ESTADO DE MINAS GERAIS DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ___ VARA CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE LAVRAS - MINAS GERAIS

U R G E N T E – PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

COLETIVA – art. 5°, LXXVIII, da CF

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO ESTADO DE MINAS GERAIS, com sede à Avenida do Contorno, nº 7.962/pilotis, Bairro Santo Agostinho, CEP n° 30.110-056, Belo Horizonte-MG, em litisconsórcio ativo com a DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, com sede à Rua João Pinheiro, n° 254 – Sala 101 – Fórum – Campo Belo/MG, CEP nº 37.200-000, por intermédio dos seus órgãos de execução, os Defensores Públicos que esta subscrevem, vêm, a presença deste Juízo, com fundamento na combinação do art. 1°, caput e inciso III, c.c. art. 5°, incisos LIV e LV e LVII, c.c. art. 3º, inciso I e III, todos da Constituição Federal, art. 139, III, do C.C., e amparadas pelo art. 2°, II, da Lei 7.347/85, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR, em face do

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA, Autarquia Federal, de regime especial, com escritório regional neste município de Lavras, à Av. Pedro Salles, nº 371, CEP nº 37.200-000, tel/fax: (35) 3821-1934 / 3821-1917, mediante as razões infra-arquitetadas:

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(i) – DA EXPOSIÇÃO FÁTICA:

A Autarquia Federal demandada, no desempenho das suas funções de fiscalização/regulação do meio-ambiente, vem instrumentalizando convênio com a Polícia Militar ( área ambiental ) de vários Estados, inclusive a do Estado de Minas Gerais, permitindo que esta, no ato de apreensão de algum animal de estimação da fauna silvestre em âmbito residencial, que exija a devida licença ambiental, lavre um auto de infração, aplicando, desde logo, sem parâmetro vinculado e fixo, mas discricionário e variável, multa pecuniária de alto valor, v.g, de R$1.000,00 ( Hum mil reais) por um pássaro.

No mesmo ato, os Policiais Estaduais indicam o prazo para oferta de recurso perante o IBAMA e, se o caso, lavram o respectivo TCO que se encaminha ao Juizado Especial Criminal Estadual, em regra.

Ocorre que em razão de inúmeras operações, agora abusivas e ilegais, como se verá, realizadas nesta região sul mineira12, as Postulantes vêm atendendo, pós-autuacão, administrativamente e criminalmente ( art. 5°, IX, da LC 80/94 ), cada qual na sua esfera, grande parcela destas pessoas, tidas como infratoras.

Tratam-se, em verdade, na maioria, senão a totalidade, de cidadãos de baixa renda, inexpressivo grau de escolaridade3, de má qualidade de vida e dignidade, criados em contexto de crença e convivência interiorana/rural, sem intenção comercial, de abate, reprodução ou estudo dos animais, que na concepção leiga dos direitos, acreditam ser possível criar, pelo erro de direito ( art. 139, I, do C.C. ), um ou outro tipo qualquer de animal sem potencial econômico da fauna silvestre, e não vários, em casa.

Pois bem! Diante desta vexata quaestio, e considerando que todas estas pessoas têm o direito a um julgamento segundo as balisas do devido processo legal, além de uma efetiva/eficiente defesa, é de se ponderar que o CONAMA, através da Resoluçãon° 394/07, estabeleceu os critérios para a determinação de espécies silvestres a serem criadas e comercializadas com animais de estimação ( cópia anexa ), dentro os quais se encontram todos aqueles apreendidos com os assistidos das Postulantes.

1 http://www.campobelonline.com.br/modules/news/article.php?storyid=2157

2 http://www.campobelonline.com.br/modules/news/article.php?storyid=2449

3Bens cujo valor, consoante laudo merceológico, expressa-se em pouco mais de um salário mínimo. Insignificância do eventual prejuízo. Inexistência de fato típico a reclamar punição. Agentes de nível cultural inexpressivo. Erro de proibição. Condutas que se encartam em contexto social que autorizaria a crença na licitude dos atos praticados.

Apelação improvida” (TRF 5ª R. – ACr 2.223 – PB – 3ª T. – Rel. Juiz Geraldo Apoliano – J. 13.04.2000).

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Extrai-se do art. 3°, da referida norma que, verbis:

“Art. 3o O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA, no prazo de seis meses, a partir da data de publicação desta Resolução, deverá publicar a lista das espécies que poderão ser criadas e comercializadas como animais de estimação, observado o disposto no art. 5o desta Resolução.

“§ 1o Quando da elaboração da lista das espécies de que trata este artigo, deverão ser ouvidos representantes de organizações públicas e privadas com notória especialidade na matéria, os estados, os municípios e a sociedade em geral, por meio de consulta pública.

“§ 2o A lista de espécies de que trata esta Resolução deverá ser revista periodicamente, no prazo máximo de dois anos.

‘§ 3o No caso de exclusão de espécies da lista, o órgão ambiental competente definirá os critérios e prazos a serem observados para o encerramento das atividades do criadouro desta espécie, aplicando-se o mesmo aos casos constituídos anteriormente à publicação desta Resolução”.

Verifica-se, pois, que a Autarquia-Ré obrigou-se a editar uma lista das espécies de animais que poderão ser criadas e comercializadas como animais de estimação, e o fez, senão veja-se4:

CONSULTA PÚBLICA

“Espécies da fauna silvestre que poderão ser criadas e comercializadas com a finalidade de animal de estimação

Conforme determina o Artigo 3º da Resolução Conama nº 394, de 6 de novembro de 2007, o Ibama está disponibilizando para consulta pública a lista prévia das espécies da fauna silvestre nativa que serão permitidas para a criação e comercialização, considerando os critérios estabelecidos no Artigo 4º.

As contribuições devem ser enviadas para o e-mail: fauna.sede@ibama.gov.br com as espécies a serem incluídas ou excluídas devidamente justificadas com base nos critérios estabelecidos pela Resolução Conama nº 394/2007. Somente serão analisadas as contribuições que estejam dentro dos critérios estabelecidos.

A consulta pública estará disponível para todos os interessados por 30 dias, até o dia 6 de abril de 2008.

Ao término deste prazo, o Ibama fará a análise de todo o conteúdo, objetivando editar uma lista que atenda aos anseios da sociedade brasileira.

1. Classe Aves 1.1 - Família Cardinalidae

Nome cientifico Nome comum

Cyanocompsa brissonii Azulão verdadeiro

4http://www.ibama.gov.br/fauna-silvestre/consulta-publica/

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Cyanocompsa cyanoides Azulão da Amazônia

Saltator maximus Tempera-viola

Saltator similis Trinca-ferro verdadeiro

1.2 - Família Fringillidae

Carduelis magellanica Pintassilgo

1.3 - Família Icteridae

Gnorimopsar chopi Graúna

1.4 - Família Psittacidae

Amazona aestiva Papagaio verdadeiro

Amazona amazônica Papagaio do mangue

Ara ararauna Arara canindé

Ara macao Arara canga

Ara chloropera Arara vermelha grande

Ara severa Maracanã-guaçu

Aratinga aurea Jandaia-estrela

Aratinga auricapilla Jandaia

Aratinga cactorum Periquito da caatinga

Aratinga jandaya Jandaia verdadeira

Aratinga leucophthalma Periquitão-maracanã

Aratinga solstitialis Jandaia

Aratinga weddellii Jandaia de cabeça azulada

Brotogeris versicolurus Periquito de asas amarelas Brotogeris chiriri Periquito de encontro amarelo Brotogeris cyanoptera Periquito-de-asa-azul

Brotogeris chrysopterus Periquito de asas douradas Brotogeris sanctihomae Periquito estrela

Deroptyus accipitrinus Anacã

Diopsittaca nobilis Maracanã-pequena

Forpus passerinus Tuim-santo

Guarouba guarouba Ararajuba

Graydidascalus brachyurus Curica-verde

Myiopsitta monachus Caturrita

Nandayus nenday Jandaia de cabeça negra

Orthopsittaca manilata Ararinha do buriti

Pionites leucogaster Marianinha-de-cabeça-amarela Pionites melanocephala Periquito de cabeça preta

Pionus menstruus Maitaca

Pionus maximiliani Maitaca-verde

Pionus fuscus Maitaca-roxa

Propyrrhura auricollis Maracanã-de-colar

Propyrrhura maracana Maracanã

Propyrrhura couloni Maracanã-de-cabeça-azul Triclaria malachitacea Araçuaiava

1.5 - Família Ramphastidae

Ramphastos toco Tucano

1.6 -Família Turdidae

Turdus rufiventris Sabiá-laranjeira

1.7 - Família Emberezidae

Paroaria coronata Cardeal

Sicalis flaveola Canário-da-terra

Sporophila angolensis Curió

Sporophila caerulescens Papa-capim

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Sporophila lineola Bigodinho

Sporophila maximiliani Bicudo

Sporophila nigricollis Coleiro-baiano

Zonotrichia capensis Tico-tico

2 - Classe Répteis 2.1 - Família Iguanidae

Iguana iguana Iguana

2.2 - Família Polychrotidae

Polychrus acutirostris Lagarto-preguiça

Polychrus marmoratus Papa-vento

Por-conseguinte, circunscrito ao conteúdo/parâmetro de animais estabelecidos pela lista prévia editada pelo IBAMA, inexiste justa causa para a lavratura de auto de infração doravante e, mais, perda de objeto dos procedimentos já instaurados para se apurar eventual responsabilidade administrativa pela falta de tipicidade material administrativa.

A similitude com a abolito-criminis é manifesta, bastando-se analisar a dicção literal do art. 2° e seu parágrafo único do C.P..

Outrossim, e reforçando a exegese supra, frise-se que na própria esfera penal, onde a ponderação dos valores ambientais é tida como superior, ultima-ratio, a legislação ambiental permite, através do art. 29, § 2°, a concessão do perdão judicial, em caso de guarda doméstica de animal não considerada em extinção, como, in-casu.

Por muito mais razão e substrato fático e jurídico há de se estancar qualquer procedimento/autuação de cunho administrativo em desfavor dos assistidos que envolva apreensão dos animais em epígrafe.

A-fortiori, e por analogia, litteris:

“[...} Dessa forma, para incidir a norma penal incriminadora, é indispensável que a guarda, a manutenção em cativeiro ou em depósito de animais silvestres, possa, efetivamente, causar risco às espécies ou ao ecossistema, o que não se verifica no caso concreto, razão pela qual é plenamente aplicável, à hipótese, o princípio da insignificância penal.5. A própria lei relativiza a conduta do paciente, quando, no § 2o. do art. 29, estabelece o chamado perdão judicial, conferindo ao Juiz o poder de não aplicar a pena no caso de guarda doméstica de espécie silvestre não ameaçada de extinção, como no caso, restando evidente, por conseguinte, a ausência de justa causa para o prosseguimento do Inquérito Policial, pela desnecessidade de movimentar a máquina estatal, com todas as implicações conhecidas, para apurar conduta desimportante para o Direito Penal, por não representar

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ofensa a qualquer bem jurídico tutelado pela Lei Ambiental.6. Ordem concedida, para trancar o Inquérito Policial 2006.83.00.002928-4 instaurado contra o paciente, mas abrangendo única e exclusivamente à apreensão das aves, não se aplicando a quaisquer outros inquéritos ou ações de que o paciente seja participante, em que pese o parecer ministerial em sentido contrário”. (HC 72.234/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 09.10.2007, DJ 05.11.2007 p. 307).

Se não há sequer fato típico, por estar desvestido em razão da exclusão dos animais escalonados na listagem ( elementar ), além da possibilidade do perdão judicial, denota-se uma impossibilidade jurídica de se adotar qualquer ato de persecução, pois, como se sabe, comportamento atípico não justifica, por razões óbvias, a utilização do Estado, de medidas de repressão administrativa.

Aliás, o próprio Estado mitiga a punição administrativa demonstrando o seu desinteresse, eis que o valor da multa ambiental nestes casos sempre é inferior ao piso estatuído pela MP n° 2176-79/015 e/ou Lei Federal n° 10.522/02, o que resulta no arquivamento do processo executivo, mas não o estigma da pessoa de estar sendo processada até ulterior alcance da prescrição intercorrente tributária.

Não se olvide, na oportunidade, que tais pessoas, jamais terão condições de adimplir tal débito sem prejuízo da própria subsistência.

Portanto, sob a conjectura harmônica e coerente de tais argumentos, a pretensão administrativa, pois, perdeu seu interesse, não sendo plausível sustentar qualquer imputação em desfavor dos assistidos que estão respondendo pela detenção de animais ampliados pela lista.

É num contexto humanitário que se propõe a presente demanda. Não com a finalidade de coibir o Poder de Polícia da Autarquia, mas para garantir a eficaz e eficiente ampla defesa dos assistidos em sede judicial coletiva com reflexos administrativos, retirando- lhes a malsinada pecha de infratores além da garantia de uma defesa consistente e eficiente.

5“[...] 1. Os autos de execução fiscal de débitos inscritos como Dívida Ativa da União, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 2.500, 00, devem ser arquivados, sem baixa na distribuição.

Aplicação do art. 20, da Medida Provisória nº 2.176-79, de 23.08.2001. 2. Apelação parcialmente provida. (TRF 1ª R. – AC 38000411798 – MG – 4ª T. – Rel. Des. Fed. I'talo Fioravanti Sabo Mendes – DJU 12.09.2003 – p. 174).

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Portanto, uma visão efetivamente ambiental/humanitária não pode desconsiderar que é o próprio homem, um ser na natureza, e como tal também deve ser preservado, especialmente no que determina o seu acesso à qualidade de vida e o respeito à sua dignidade humana.

Eliminando-se os procedimentos que envolvam tais animais, não só se esta garantindo um processo justo para os infratores, como viabilizando o deslocamento das instituições autoras no exercício eficiente de suas outroras atribuições.

( ii ) DAS EXPOSICOES DE ORDEM PÚBLICA:

DA LEGITIMIDADE ATIVA DAS AUTORAS DE PER SI E EM LITISCONSÓRCIO:

A Defensoria Pública, como instituição essencial à função jurisdicional do Estado, é incumbida de prestar orientação jurídica e a defesa - em todos os graus - dos necessitados em atenção e forma do art. 5º, LXXIV, da C.F.

Assim é porque o legislador constituinte originário visualizou que é na Defensoria Pública que a população carente teria como garantir o exercício da cidadania de maneira efetiva, em face dos acontecimentos concretos da vida lesivos de direitos e, assim, além dos direitos mínimos à dignidade da pessoa humana, teria a grande parcela pobre deste estado federado acesso e voz perante o próprio Estado.

Ter acesso e voz ativa perante o Estado de maneira real e concreta também é uma forma de exercício de poder pelo próprio povo realizado de maneira direta, com mecanismos constitucionais de controle e cobrança dos seus representantes. Esse é o canal proporcionado pela Defensoria Pública aos necessitados na forma da lei. Pois sim: Defensoria Pública é o carente ter acesso à informação jurídica integral e irrestrita ao Judiciário. É caminhar em conjunto com as demais instituições constitucionais para o desenvolvimento nacional. É batalhar no sentido de erradicar a pobreza e a marginalização.

A Defensoria Pública se posta como legítimo canal para o exercício e proteção dos direitos, para o exercício assim da democracia pelo pobre (art. 3º, e incisos da CF/88 c/c art. 3º da Lei Complementar Estadual 65/03).

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Desde a edição da Constituição Cidadã, é cediço que compete à Defensoria Pública a defesa plena dos necessitados, nos termos do artigo 5º, LXXIV, e 134 da Constituição Federal:

“Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV”.

Atualmente não há mais qualquer margem de dúvidas. A Lei nº 11.448/2007 alterou a redação do art. 5º da Lei nº 7.347/1985 para incluir expressamente dentre os legitimados para o ajuizamento de ação civil pública a Defensoria Pública. Não há mais qualquer espaço para contestar esta legitimidade que simplesmente contempla a independência da Instituição.

Segundo Fredie Didier Jr. e Hermes Zaneti Jr ( Curso de Direito Processual Civil – Processo Coletivo, Ed. Podivm, pág. 219 ):

"a nova redação do art. 5º da LACP (Lei 7.347/1985), determinada pela Lei n. 11.448/2007, prevê expressamente a Defensoria Pública (art. 5º, II, LACP) entre os legitimados para a propositura da ação civil pública. Atende, assim: a) a evolução da matéria, democratizando a legitimação, conforme posicionamento aqui defendido; b) a tendência jurisprudencial que se anunciava."

Importantíssimo firmar assim a consciência jurídica da verdadeira função e organização da Defensoria Pública no atual cenário Brasileiro. Vejamos as precisas descrições de MARÍLIA GONÇALVES PIMENTA:

“A instituição é dotada de autonomia perante os demais órgãos estatais, estando imune de qualquer interferência política que afete sua atuação. E, apesar do Defensor Público Geral estar no ápice da pirâmide e a ele estarem todos os membros da DP subordinados hierarquicamente, esta subordinação é apenas sob o ponto de vista administrativo. Vale ressaltar, ainda, que em razão deste princípio institucional, e segundo a classificação de Hely Lopes Meirelles, os Defensores Públicos são agente políticos do Estado (ALVES, Cleber Francisco e PIMENTA, Marília Gonçalves. Acesso à Justiça em preto e branco: retratos institucionais da Defensoria Pública. Editora Lúmen Júris. Rio de Janeiro. 2004 – pág.113).

Justamente em razão da autonomia e independência funcional, e no interesse coletivo-cooperativo federativo do bem comum dos assistidos é que se propõe a presente na forma de litisconsórcio, por extensão analógica do art. 5º, §5º, da Lei 7.347/85, verbis:

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"§5º Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direito de que cuida esta Lei."

Em que pese a disposição legal se dirigir ao Ministério Público, vez que à época ainda não havia sido aprovada a Lei n° 11.448/07, considerando que o tratamento constitucional dispensado à Defensoria Pública é igual ao dado para o Ministério Público, sendo ambas as instituições essenciais à função jurisdicional do Estado, tendo, inclusive, princípios institucionais idênticos, conclui-se que, também, é lícito às Defensorias Públicas, inclusive da União, realizarem litisconsórcio para a defesa dos interesses e direito.

Do exposto, não há como negar a legitimidade da Defensoria Pública para demandar ações civis públicas no intuito de se garantir a tutela dos direitos denominados metaindividuais, sobretudo por estar configurado interesse social relevante.

Denegar essa possibilidade implica em malograr, a um só tempo, três princípios constitucionais, quais sejam, a dignidade da pessoa humana, o da aplicabilidade direta e imediata de um direito fundamental, o do direito efetivo, eficiente e amplo direito de defesa, e o da inafastabilidade do controle jurisdicional.

DO CABIMENTO DO PROCESSO COLETIVO:

A Lei n° 7.347/85, que dispõe sobre a ação civil pública, mantém este objetivo, especificando os seus objetos de proteção em seu artigo 1º:

Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

I – ao meio ambiente;

[...]

IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo”;

Ora, os direitos coletivos fazem parte dos chamados interesses transindividuais ou metaindividuais, os quais são categorias intermediária entre o interesse particular e o interesse secundário do Estado. O interesse é metaindividual quando ultrapassa o círculo individual e corresponde aos anseios de todo um segmento ou categoria. Tais interesses podem ser difusos, coletivos ou individuais homogêneos. No caso em tela, trata-se de interesse individual homogêneo, uma vez que diz respeito a uma categoria determinável de

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indivíduos (os autuados em razão de apreensão de animais da fauna silvestre ) ligados por uma situação de fato (necessidade de defesa administrativa integral, gratuita e eficiente ).

Portanto, é patente a legitimidade ad causam da Defensoria Pública para o patrocínio de Ações Civis Públicas que visem proteger o direito ao ambiente de cidadania em que vivem, intimamente ligado à dignidade de vida, ostentado pelo enorme contingente de pessoas (de baixa renda) que serão atingidas pela lista editada pelo IBAMA, além do fim de malsinados processos administrativos revestidos, agora, de abusividade.

Não se esqueça, ademais, da eficiência da defesa coletiva da pretensão, principalmente por se tratar de infratores atendidos, integralmente, pela Defensoria Pública.

Sobre a conceituação dos direitos individuais homogêneos, averba RICARDO DE BARROS LEONEL que “são características destes interesses (individuais homogêneos): serem determinados ou determináveis seus titulares; serem essencialmente individuais; ser divisível o objeto tutelado; e surgirem em virtude de uma origem comum ou fato comum, ocasionando lesão a todos os interessados a título individual” (“Manual de Processo Coletivo”, RT 2000, pp. 108/109).

Características essas perfeitamente aplicáveis ao presente caso, onde temos um adensamento populacional característico, cujos direitos individualmente considerados de cada morador são francamente determináveis, assujeitados que estão ficarem estigmatizados por suposta ofensa ao meio ambiente e ainda respondendo a processo administrativo.

Conclui-se que é inarredável a possibilidade desta demanda coletiva, a sua necessidade, eficiência e conveniência da via eleita.

É neste contexto que se leva a Juízo uma demanda tão importante para a sociedade local.

Rogamos para tanto a máxima atenção dos contemporâneos princípios inerentes ao processo coletivo jurisdicional: o princípio do interesse de conhecimento do mérito (o interesse jurisdicional deve buscar ao máximo evitar as sentenças terminativas); princípio da prioridade na tramitação (que decorre da interpretação lógica do sistema e natureza do direito discutido); princípio da adequada representação presumida (os legitimados ativos são legalmente presumidos); o princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva, dos importantíssimos princípios da máxima efetividade do processo coletivo

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(abertura maior para o julgador buscar novos elementos de prova) e da máxima amplitude do processo coletivo (admite todos os tipos e formas de tutela jurisdicional num processo coletivo).

DA NECESSIDADE DA CONCESSÃO DE LIMINAR:

Fumus Boni Iuris

Os fatos supracitados, amplamente comprovados, initio-litis, por se referir exclusivamente à matéria normativa, demonstram que há uma exclusão da esfera de incidência de infração administrativa, gerando abuso na lavratura de autos de infração ambiental e manutenção no trâmite daqueles já existentes.

Enfim, verifica-se que está presente o fumus boni iuris necessário à concessão da medida liminar.

Periculum in mora

A integridade física, moral, a dignidade das pessoas autuadas que compõem a comunidade dos autuados está violada.

A alteração jurídica dos fatos e a exclusão do alcance da norma deixe antever tal ocorrência, pois estão, todos, estigmatizados pela geração de autuação abusiva e imputação de ilícito administrativo em inúmeros processos em trämite administrativo que podem sujeita- los a inúmeras sanções!

Portanto, verifica-se, também, que restou comprovado o periculum in mora, requisito para concessão da liminar.

DDOO TTEERRMMOO DDEE AAJJUUSSTTAAMMEENNTTOO DDEE CCOONNDDUUTTAA::

Importante ter em mente também a previsão do Art. 5º, §̕̕6º, da Lei 7.347/85 que preceitua que “os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”.

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Tal possibilidade indica a necessidade que após deferida a liminar seja designada audiência de conciliação, onde, pela via consensual, poderá ser tomado o termo de ajustamento de conduta, agora com valor judicial.

Assim, sem prejuízo do deferimento da antecipação de tutela, REQUER, desde logo, a designação de audiência de conciliação.

(iii) - DOS PEDIDOS:

Diante do exposto, requer:

I) A CONCESSÃO DE LIMINAR, inaudita altera pars, para que:

a) Seja determinada provimento de obrigação de não-fazer, em desfavor da Autarquia-ré, consistente na não autuação de pessoas que possuam em ambiente doméstico os animais descritos na lista prévia das espécies da fauna silvestre nativa que, agora, são permitidas para a criação e comercialização ante a exclusão da tipicidade administrativa, sustando, ainda, o trâmite de todos os procedimentos administrativos existentes, inclusive sanções, sob a mesma temática ( animais ), até ulterior julgamento final da ação.

b) Eventualmente, se mantida a atividade do Poder de Polícia, pede-se pela não aplicação de nenhuma sanção, mas a mera manutenção da posse do animal na condição de depositário, além da suspensão dos procedimentos administrativos, até decisão final, evitando-se maiores danos aos assistidos.

Após a apreciação do pedido liminar, seja designada audiência de conciliação para eventual composição via elaboração de termo de ajustamento de conduta.

II) a PROCEDÊNCIA dos pedidos, para que:

a) ratificada o pedido liminar, sejam anulados todos os autos de infração gerados pela apreensão dos animais agora liberados para criação ( conforme listagem supra ), com inibição de lavratura de novos, além da declaração da nulidade de todos processos administrativos e respectivas sanções, com efeito erga-omnes, em homenagem ao princípio da igualdade, julgando-se o processo com resolução de mérito.

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a1) eventualmente, se não restar possível o acolhimento do pedido principal supra, pede-se pela manutenção da apreensão dos animais escalonados, ficando o autuado como depositário, no caso de impossibilidade de liberação do animal ao seu habitat natural, mediante avaliação de técnico do IBAMA, ou, se houver interesse na regularização da posse por outro motivo, nesta hipótese, pelo prazo máximo de 30 (trinta) dias, o qual, se transcorrido inerte, implicará na entrega do animal ao IBAMA ou autoridade conveniada, impedindo-se, no entanto, ante a insignificância do fato, a aplicação de multa e instauração de processo administrativo no caso de entrega do animal após o indicado prazo.

b) a condenação do réu nos ônus da sucumbência em favor das Autoras.

c) Requerem a intimação do Ministério Público para intervir no processo como fiscal da lei e, querendo, integrar a presente lide como litisconsorte ativo, conforme art.

5º, §2º da Lei 7.347/85.

d) A marcha processual deverá transcorrer com observância das prerrogativas legais dos membros da Defensoria Pública - intimação pessoal do Defensor Público que atua perante este ilustre juízo e contagem em dobro de todos os prazos - nos termos do artigos 44, I, e 128, I, da Lei Complementar 80/94 c/c art. 74, I, da Lei Complementar Estadual n.º 65/03.

e) Provarão as Autoras o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, pelo depoimento pessoal do representante do Réu, sob pena de confessos, oitiva de testemunhas, a serem oportunamente arroladas, e pela juntada de documentos, inclusive através da expedição de ofícios.

f) Prequestionamento expresso e implícito6 de toda a matéria jurídica, normativa, e jurisprudencial exposta nos autos, para fins de acesso às instâncias superiores em sede recursal.

Atribui-se à causa o valor de R$10.000,00 (dez mil reais).

6 AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSO PENAL. A jurisprudência deste STJ assentou, pacificamente, a orientação de que é de se exigir o prequestionamento, ao menos implícito, para a viabilização do acesso à via excepcional. Agravo desprovido. ( STJ - Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 437411/PE (2002/0009980-6), 5ª Turma do STJ, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca. j. 17.09.2002, DJ 21.10.2002, p. 391).

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Termos em que pedem deferimento.

De Campo Belo para Lavras, 25 de abril de 2008.

Gustavo Roger Vieira Feichas

Defensor Público da União Defensor Público Substituto - DPMG Madep nº 0611-D/MG

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