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AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 505865382.2015.4.04.7000/PR
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA 9ª REGIÃO/PR RÉU: CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA
SENTENÇA
1. Tratase de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal em face dos réus acima mencionados, cujo escopo é fazer cessar a diferenciação entre os licenciados e bacharéis em educação física para fins de exercício profissional.
Em síntese, defendeu a ilegalidade das restrições administrativas, estipuladas mediante resoluções, ao exercício da atividade de educação física eis que a lei não prevê essas hipóteses. Assim, estaria havendo atentado ao livre exercício profissional.
Disse estarem presentes os requisitos para concessão de tutela antecipada.
Juntou documentos, e requereu:
Diante do exposto, o Ministério Público Federal requer:
a) a concessão de tutela antecipada, inaudita altera pars, determinandose ao Conselho Regional de Educação Física da 9ª Região – CREF9/PR que suspenda a prática de atos que possam restringir a atuação dos profissionais licenciados em Educação Física, em especial, que efetive a supressão da anotação “Atuação: Educação Básica”, sob pena de multa pecuniária diária.
b) a citação dos réus, pelos seus representantes legais, para, querendo, responderem a presente ação, sob pena de revelia;
c) a produção de todos os meios de prova admitidos em direito, não obstante a inicial já esteja instruída com provas préconstituídas no Inquérito Civil Público n. 1.25.008.000837/201204;
d) a dispensa do pagamento de custas e emolumentos e outros encargos, em vista do disposto no artigo 18 da Lei n. 7.347/85;
e) a condenação, em caso de descumprimento das obrigações contidas no provimento final, com fulcro no artigo 11 da Lei n. 7.347/85, em multa a ser fixada pelo prudente arbítrio desse respeitável Juízo Federal;
f) a declaração da ilegalidade e inconstitucionalidade do artigo 3° da Resolução do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) em afronta aos preceitos da Lei 9.696/1998 e aos artigos 5º, inciso XIII, e 22, inciso XVI, da Constituição Federal. g) a condenação do Conselho Regional de Educação Física da 9ª Região – CREF9/PR a descontinuar a restrição na atuação dos profissionais licenciados em Educação Física e, em especial, que efetive a supressão da anotação “Atuação: Educação Básica” da Cédula de Identidade Profissional.
Deu à causa o valor de R$ 1.000,00(um mil reais).
Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Paraná 3ª Vara Federal de Curitiba
2. Indeferido o pedido de tutela antecipada, e determinada a citação dos réus.
3. Devidamente citado o CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA contestou a ação(evento 11).
Em preliminares, sustentou a ilegitimidade passiva.
No mérito, defendeu a diferenciação, sob o argumento de exercício de dever de polícia, e das peculiaridades da formação de cada profissional.
Juntou documentos, e requereu:
Protesta por todas as provas em Direito permitidas e a vista do exposto, espera a sua acolhida por ser de Direito e Justiça, seja julgada improcedente a Ação, com a condenação do Autor nas custas, verbas honorárias, cumpridas as necessárias formalidades legais.
4. Devidamente citado, o CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA 9ª REGIÃO/PR contestou a ação.
Em preliminares, sustentou a ocorrência de coisa julgada.
No mérito defendeu as restrições e diferenciações, tendo em vista a formação de cada profissional.
Juntou documentos, e requereu:
Diante do exposto, requerse a Vossa Excelência:
a) PRELIMINARMENTE, requer a extinção do processo sem julgamento de mérito, nos termos do art. 267, inciso V (Coisa Julgada) do Código de Processo Civil, conforme ora exposto.
b) No MÉRITO, a total improcedência da presente ação, condenando o Ministério Público Federal nas custas e despesas processuais e honorários advocatícios;
c) A declaração confirmando a área de atuação de cada curso, Licenciatura e Bacharelado, conforme as Resoluções do Conselho Pleno do Ministério da Educação, bem como da Nota TécnicaExplicativa da área de atuação, demais legislação em vigor e vasta jurisprudência;
d) A declaração de que o CREF9/PR agi dentro da estrita legalidade no exercício do Poder de Polícia atribuído constitucionalmente, não praticando qualquer ato ilegal e/ou inconstitucional;
e) A declaração da área de atuação a qual, cada profissional está apto a exercer a sua profissão no campo da Educação Física, em conformidade com sua formação profissional (Bacharel ou Licenciatura);
f) Protestase o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito, especialmente a prova documental.
5. Houve réplica(evento 22).
6. Vieram conclusos para sentença em 03/02/2016.
Fundamentação Preliminares Coisa Julgada
Pessoalmente, entendo que, de fato, não haveria legitimidade da DEFENSORIA PÚBLICA FEDERAL para ajuizamento de ações civis públicas fora do âmbito de proteção
FEDERAL quando defende direito individual de parte específica(o que é comum em ação de medicamentos).
De todo modo, a discussão teria de ser veiculada nos autos da primeira ação, e não nesta. Julgado o mérito da outra ação, aqui cumpre apenas verificar em que limite a coisa julgada se dá e para tal, existe o art. 16 da Lei 7.347/1985:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendose de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
A sentença anterior, nos autos 504534144.2012.4.04.7000 não foi por insuficiência de provas, mas adentrou o mérito como se verifica:
Dispõe o art. 5º, XIII, da Constituição da República:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XIII é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
Assim, a lei pode determinar limites à liberdade para o exercício de profissão.
Dito isso, verifico que a profissão de educação física foi regulamentada pela Lei 9696/98.
Segundo os artigos 1º e 2º de referida lei:
Art. 1º O exercício das atividades de Educação Física e a designação de Profissional de Educação Física é prerrogativa dos profissionais regularmente registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física.
Art. 2º Apenas serão inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais de Educação Física os seguintes profissionais:
I os possuidores de diploma obtido em curso de Educação Física, oficialmente autorizado ou reconhecido;
II os possuidores de diploma em Educação Física expedido por instituição de ensino superior estrangeira, revalidado na forma da legislação em vigor;
III os que, até a data do início da vigência desta Lei, tenham comprovadamente exercido atividades próprias dos Profissionais de Educação Física, nos termos a serem estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação Física.
Deste modo, para o exercício de atividades relacionadas à prática de educação física, fazse necessária a conclusão de curso superior na área e inscrição junto ao Conselho Regional respectivo.
A Lei 9394/96, ao tratar dos cursos superiores, estabelece distinção entre cursos destinados à formação superior em graduação, também denominado bacharelado (art. 44, II), e os destinados à licenciatura (art. 62), sendo tal distinção também aplicada aos profissionais da área de educação física.
A diferença entre licenciatura e bacharelado no âmbito da educação física é tratada na Resolução n. 7/2004 do Conselho Nacional de Educação. Dispõe o art. 4º de referida resolução:
Art. 4º O curso de graduação em Educação Física deverá assegurar uma formação generalista, humanista e crítica, qualificadora da intervenção acadêmicoprofissional, fundamentada no rigor científico, na reflexão filosófica e na conduta ética.
§1º O graduado em Educação Física deverá estar qualificado para analisar criticamente a realidade social, para nela intervir acadêmica e profissionalmente por meio das diferentes manifestações e expressões do movimento humano, visando a formação, a ampliação e o enriquecimento cultural das pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável.
§2º O Professor da Educação Básica, licenciatura plena em Educação Física, deverá estar qualificado para a docência deste componente curricular na educação básica, tendo como referência a legislação própria do Conselho Nacional de Educação, bem como as orientações específicas para esta formação tratadas nesta Resolução.
Destarte, verificase que bacharelado e licenciatura são formações distintas, tendo cada qual seu âmbito próprio de atuação.
Dito isso, os licenciados em educação física não podem, portanto, exercer atividades privativas de bacharel em educação física sem prévia formação específica.
Neste sentido, colaciono os seguintes precedentes:
MANDADO DE SEGURANÇA. ENSINO SUPERIOR. EDUCAÇÃO FÍSICA.
LICENCIATURA E BACHARELADO. ÁREA DE ATUAÇÃO. REGULAMENTAÇÃO. 1. As resoluções questionadas nada mais são do que exercício do poder regulamentar, não incorrendo em limitação ao exercício profissional, posto que a limitação foi estabelecida na Lei 9.394/96, quando diferenciadas as áreas de atuação. 2. Os cursos de bacharelado e licenciatura plena foram ofertados conjuntamente até 15/10/2005, a partir dessa data os cursos de Licenciatura em Educação Física e Bacharelado em Educação Física passaram a constituir graduações diferentes. 3. O curso superior na modalidade de licenciatura visa apenas à formação de docentes para atuarem na educação básica, não habilitando o profissional para o exercício outras atividades na área. 4. Para averiguarse a habilitação profissional não basta o cumprimento de carga horária superior ao limite mínimo estabelecido, é necessário comprovarse que a grade curricular cursada corresponde às diretrizes fixadas e ao perfil exigido do profissional. 5. Apelação improvida. (TRF4, AC 501281388.2011.404.7000, Terceira Turma, Relator p/ Acórdão Fernando Quadros da Silva, D.E. 21/06/2012) (Sem destaque no original)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. ANTECIPAÇÃO
DE TUTELA. ATIVIDADE PROFISSIONAL. VEROSSIMILHANÇA. NÃO
COMPROVAÇÃO. 1. O deferimento da antecipação da tutela é cabível quando os requisitos legais autorizadores verossimilhança do direito alegado e perigo na demora, consoante se depreende da leitura do art. 273, caput e inc. I, do CPC, estejam comprovados de plano. 2. O título em Educação Física Licenciatura admite apenas que o profissional ministre aulas na educação básica, sendo necessário o título de bacharel para o exercício de outras atividades. (TRF4, AG 500169702.2012.404.0000, Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Luís Alberto D'azevedo Aurvalle, D.E. 25/04/2012) (Sem destaque no original)
Deste modo, ausente o fumus boni iuris necessário para a concessão da medida liminar pleiteada.'
Como bem ressaltado, ainda, no parecer ministerial, à vista das diferenças substanciais quanto à duração mínima e quanto ao conteúdo curricular de cada curso, não há direito do graduado em licenciatura em obter o registro perante o Conselho Profissional na categoria de bacharel ou licenciatura plena, uma vez que a inscrição do profissional no respectivo Conselho deve ser de acordo com a sua formação.
POR TAIS FUNDAMENTOS, julgo improcedente o pedido.
Deixo de condenar a autora ao pagamento de honorários e custas processuais, nos termos do art. 18 da Lei n° 7.347/85.
Publiquese. Registrese. Intimemse.
Logo, não há como fugir da coisa julgada. Aponto, aliás, que o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL participou da ação, e não interpôs recurso da sentença.
Dispositivo
505865382.2015.4.04.7000 700003039435 .V2 MHZ© MHZ
Decreto a extinção do feito sem resolução de mérito, em razão da coisa julgada nos autos 504534144.2012.4.04.7000(art. 485, V, do CPC).
Sem custas e sem honorários(art. 18 da Lei 7.347/1985).
Publiquese. Registrese. Intimemse.
Documento eletrônico assinado por MARCUS HOLZ, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 700003039435v2 e do código CRC 2a29b302.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): MARCUS HOLZ Data e Hora: 01/03/2017 15:11:31