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Processo

435/10.0TCFUN-L1-7

Data do documento 23 de fevereiro de 2021

Relator

Cristina Silva Maximiano

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Execução > Subsídio de natal > Subsídio de férias > Penhora > Admissibilidade

SUMÁRIO

- Não tendo o devedor executado outros rendimentos, os subsídios de Natal e de férias que sejam inferiores ao montante legalmente fixado para o “salário mínimo regional” serão impenhoráveis, nos termos do art. 738º, nºs 1 e 3 do Código de Processo Civil.

TEXTO INTEGRAL

Acordam na 7ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa:

I - RELATÓRIO

A [.Artigos ..,Lda ] intentou contra B [ Cátia ….] e C [ João …] , a presente acção executiva de pagamento de quantia certa, nos termos da qual requer a cobrança coerciva da quantia de € 32.163,99 (€ 29.408,46 de capital em dívida e € 2.755,53 de juros de mora vencidos) e juros vincendos sobre o capital em dívida.

No Requerimento Executivo, alegou a Exequente que: em 03/09/2009, os Executados celebraram

"Reconhecimento e Compromisso de Pagamento de Dívida", mediante o qual reconheceram e assumiram o pagamento da dívida que a sociedade comercial “OC..., Lda” tem à Exequente, relativa ao pagamento de mercadorias para o exercício do seu comércio, no montante de € 29.408,46; os Executados assumiram o pagamento à Exequente daquele valor e de juros de mora à taxa de 9,5%, contabilizados desde 01/08/2009 até integral pagamento, que, à data de 26/07/2010, perfaz € 2.755,53; e os Executados não pagaram tais quantias.

Por requerimento de 9 de Dezembro de 2019 (sob a Referência Citius 3519893), a Exequente requereu que a execução prosseguisse contra D [ ...Promoção Imobiliária,S.A. ] , entidade patronal da Executada B, e contra E [....Turísticos, S.A.], entidade patronal do Executado C .

Para o efeito, alegou, em síntese útil, que: a Exmª Srª Agente de Execução notificou as referidas entidades patronais para procederem à penhora dos subsídios de férias e de Natal de cada um dos Executados,

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respectivamente, sem que as mesmas tenham comprovado a realização de tais penhoras.

Nesta sequência, a E e a D instauraram, por apenso a esta execução, Embargos de Executado - Apensos A e C, respectivamente.

A Exequente/Embargada deduziu Contestação no âmbito dos Apensos A e C.

Em 25 de Outubro de 2020 foi proferida nesta execução a decisão ora em recurso, sob a Referência Citius nº 49126373, com o seguinte teor:

“I — Por requerimento de 09 de Dezembro de 2019 (referência 3519893), que aqui se dá por integralmente reproduzido, veio a exequente requerer que a execução prosseguisse contra D.

Para o efeito alegou que a Solicitadora de Execução notificou esta entidade para proceder à penhora dos subsídios de férias e de Natal da executada B, no ano de 2017, sem que a mesma tenha comprovado ter realizado essa penhora.

Daqui resulta que a exequente reconhece que o vencimento líquido da executada é impenhorável por não ultrapassar o salário mínimo regional no ano em causa.

Urge, pois, aferir primeiro se a penhora dos mencionados subsídios de férias e de Natal era legalmente admissível, pois, na negativa, o empregador, ainda que se tenha remetido ao silêncio, não poderá ser considerado devedor de tais montantes em solidariedade com o(a) executado(a).

Questão que deveria ter sido suscitada pelo(a) Ex.mo(a) Senhor(a) Solicitador(a) de Execução ou não ter diligenciado por essa penhora.

Todavia, uma vez que se trata de questão de conhecimento oficioso dada a natureza da impenhorabilidade em causa, tendo a execução prosseguida contra o empregador, deverá ser objecto de decisão.

É de notar que a entidade empregadora em causa deduziu embargos à execução no apenso C, aos quais a exequente apresentou contestação pugnado pela sua improcedência.

Prevê o artigo 738.º do Código de Processo Civil:

«1 - São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos vencimentos, salários, prestações periódicas pagas a título de aposentação ou de qualquer outra regalia social, seguro, indemnização por acidente, renda vitalícia, ou prestações de qualquer natureza que assegurem a subsistência do executado.

2 - Para efeitos de apuramento da parte líquida das prestações referidas no número anterior, apenas são considerados os descontos legalmente obrigatórios.

3 - A impenhorabilidade prescrita no n.º 1 tem como limite máximo o montante equivalente a três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão e como limite mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento, o montante equivalente a um salário mínimo nacional.

4 - O disposto nos números anteriores não se aplica quando o crédito exequendo for de alimentos, caso em que é impenhorável a quantia equivalente à totalidade da pensão social do regime não contributivo.

5 - Na penhora de dinheiro ou de saldo bancário, é impenhorável o valor global correspondente ao salário mínimo nacional ou, tratando-se de obrigação de alimentos, o previsto no número anterior.

6 - Ponderados o montante e a natureza do crédito exequendo, bem como as necessidades do executado e do seu agregado familiar, pode o juiz, excecionalmente e a requerimento do executado, reduzir, por período que considere razoável, a parte penhorável dos rendimentos e mesmo, por período não superior a um ano, isentá-los de penhora.

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7 - Não são cumuláveis as impenhorabilidades previstas nos n.os 1 e 5. (…)».

Uma vez que tanto o subsídio de férias como o subsídio de Natal constituem vencimento, cada um deles encontra-se sujeito aos limites de impenhorabilidade, tendo-se de respeitar a impenhorabilidade do salário mínimo, considerando-se o subsídio de férias por si só e não enquanto somatório com o vencimento do respectivo mês. No fundo, o individuo recebe 14 vezes de vencimento num ano, correspondendo cada uma dessas vezes a uma mensalidade. Olvidar isso seria esquecer os fundamentos subjacentes à consagração legal, fruto de uma evolução paulatina do Direito do Trabalho, desses subsídios que se destinam a canalizar determinadas necessidades reconhecidas na lei, logo, igualmente dignas da tutela da impenhorabilidade — cf. ac. da RP de 28.06.2017, processo n.º 114/96.0TAVLG-A.P1, disponível in www.dgsi.pt.

Donde, tanto o subsídio de férias como o subsídio de Natal somente poderão ser penhorados se cada um ultrapassar ele próprio o salário mínimo regional.

Não ultrapassando o vencimento, naturalmente que esses subsídios não ultrapassam. Nem isso veio alegado pela exequente.

Face ao exposto, conclui-se que caso o empregador tivesse procedido à penhora quer do subsídio de Natal, quer ao subsídio de férias do(a) executado(a) teria praticado um acto ilegal.

Falece, pois, a pretensão da exequente de prosseguir a execução contra o empregador, faltando-lhe, por conseguinte, título executivo contra o mesmo.

Acresce que ainda que fosse passível de esses subsídios serem penhoráveis, o empregador somente seria responsável pelo pagamento daqueles em relação aos quais não tinha procedido a penhora e não em relação à totalidade da obrigação exequenda, ou seja, em relação ao subsídio de Natal de 2017, subsídio de férias e de Natal de 2018 e subsídio de férias e de Natal de 2019.

Assim, absolve-se o empregador D da instância e, consequentemente, ordena-se o cancelamento das penhoras de bens que lhe pertençam e a extinção da execução quanto ao mesmo.

Custas pela exequente.

*

II — Por requerimento de 09 de Dezembro de 2019 (referência 3519893), que aqui se dá por integralmente reproduzido, veio a exequente requerer que a execução prosseguisse contra E.

Para o efeito alegou que a Solicitadora de Execução notificou esta entidade para proceder à penhora dos subsídios de férias e de Natal do executado C, a Setembro de 2018, sem que a mesma tenha comprovado ter realizado essa penhora.

Daqui resulta que a exequente reconhece que o vencimento líquido da executada é impenhorável por não ultrapassar o salário mínimo regional no ano em causa.

Urge, pois, aferir primeiro se a penhora dos mencionados subsídios de férias e de Natal era legalmente admissível, pois, na negativa, o empregador, ainda que se tenha remetido ao silêncio, não poderá ser considerado devedor de tais montantes em solidariedade com o(a) executado(a).

Questão que deveria ter sido suscitada pelo(a) Ex.mo(a) Senhor(a) Solicitador(a) de Execução ou não ter diligenciado por essa penhora.

Todavia, uma vez que se trata de questão de conhecimento oficioso dada a natureza da impenhorabilidade

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em causa, tendo a execução prosseguida contra o empregador, deverá ser objecto de decisão.

É de notar que a entidade empregadora em causa deduziu embargos à execução no apenso C, aos quais a exequente apresentou contestação pugnado pela sua improcedência.

Prevê o artigo 738.º do Código de Processo Civil:

«1 - São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos vencimentos, salários, prestações periódicas pagas a título de aposentação ou de qualquer outra regalia social, seguro, indemnização por acidente, renda vitalícia, ou prestações de qualquer natureza que assegurem a subsistência do executado.

2 - Para efeitos de apuramento da parte líquida das prestações referidas no número anterior, apenas são considerados os descontos legalmente obrigatórios.

3 - A impenhorabilidade prescrita no n.º 1 tem como limite máximo o montante equivalente a três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão e como limite mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento, o montante equivalente a um salário mínimo nacional.

4 - O disposto nos números anteriores não se aplica quando o crédito exequendo for de alimentos, caso em que é impenhorável a quantia equivalente à totalidade da pensão social do regime não contributivo.

5 - Na penhora de dinheiro ou de saldo bancário, é impenhorável o valor global correspondente ao salário mínimo nacional ou, tratando-se de obrigação de alimentos, o previsto no número anterior.

6 - Ponderados o montante e a natureza do crédito exequendo, bem como as necessidades do executado e do seu agregado familiar, pode o juiz, excecionalmente e a requerimento do executado, reduzir, por período que considere razoável, a parte penhorável dos rendimentos e mesmo, por período não superior a um ano, isentá-los de penhora.

7 - Não são cumuláveis as impenhorabilidades previstas nos n.os 1 e 5. (…)».

Uma vez que tanto o subsídio de férias como o subsídio de Natal constituem vencimento, cada um deles encontra-se sujeito aos limites de impenhorabilidade, tendo-se de respeitar a impenhorabilidade do salário mínimo, considerando-se o subsídio de férias por si só e não enquanto somatório com o vencimento do respectivo mês. No fundo, o individuo recebe 14 vezes de vencimento num ano, correspondendo cada uma dessas vezes a uma mensalidade. Olvidar isso seria esquecer os fundamentos subjacentes à consagração legal, fruto de uma evolução paulatina do Direito do Trabalho, desses subsídios que se destinam a canalizar determinadas necessidades reconhecidas na lei, logo, igualmente dignas da tutela da impenhorabilidade — cf. ac. da RP de 28.06.2017, processo n.º 114/96.0TAVLG-A.P1, disponível in www.dgsi.pt.

Donde, tanto o subsídio de férias como o subsídio de Natal somente poderão ser penhorados se cada um ultrapassar ele próprio o salário mínimo regional.

Não ultrapassando o vencimento, naturalmente que esses subsídios não ultrapassam. Nem isso veio alegado pela exequente.

Face ao exposto, conclui-se que caso o empregador tivesse procedido à penhora quer do subsídio de Natal, quer ao subsídio de férias do(a) executado(a) teria praticado um acto ilegal.

Falece, pois, a pretensão da exequente de prosseguir a execução contra o empregador, faltando-lhe, por conseguinte, título executivo contra o mesmo.

Acresce que ainda que fosse passível de esses subsídios serem penhoráveis, o empregador somente seria

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responsável pelo pagamento daqueles em relação aos quais não tinha procedido a penhora e não em relação à totalidade da obrigação exequenda, ou seja, a partir da notificação em que a agente de execução informou para ser efectuada a penhora dos subsídios de Setembro de 2018 e reiterada em 2019, em relação ao subsídio de férias e de Natal de 2018 e subsídio de férias e de Natal de 2019.

Assim, absolve-se o empregador E da instância e, consequentemente, ordena-se o cancelamento das penhoras de bens que lhe pertençam e a extinção da execução quanto ao mesmo.

Custas pela exequente.”

Em 26 de Outubro de 2020, nos Embargos de Executado que constituem o Apenso A, foi proferida decisão, sob a Referência Citius nº 49121058, com o seguinte teor – para o que aqui interessa:

“Os autos principais encontram-se extintos por a executada, ora embargante, ter sido absolvida da instância.

Consequentemente a instância dos presentes embargos à execução encontra-se extinta por impossibilidade superveniente da lide nos termos do disposto no artigo 277.º, alínea e), do Código de Processo Civil, o que se julga e se declara.

Custas pela exequente, fixando-se o valor da causa no montante da acção principal executiva.”

Em 26 de Outubro de 2020, nos Embargos de Executado que constituem o Apenso C, foi proferida decisão, sob a Referência Citius nº 49121063, com o seguinte teor:

“Os autos principais encontram-se extintos por a executada, ora embargante, ter sido absolvida da instância.

Consequentemente a instância dos presentes embargos à execução encontra-se extinta por impossibilidade superveniente da lide nos termos do disposto no artigo 277.º, alínea e), do Código de Processo Civil, o que se julga e se declara.

Custas pela exequente, fixando-se o valor da causa no montante da acção principal Executiva.”.

Inconformada, a Exequente recorre da aludida decisão proferida nesta execução em 25 de Outubro de 2020, sob a Referência Citius nº 49126373, requerendo a anulação da mesma; terminando as suas alegações de recurso com as seguintes Conclusões:

“1º O objeto do presente recurso é o Despacho-Sentença, assinado em 25 de outubro de 2020, no processo executivo 435/10.0TCFUN, por ter decidido a absolvição da instância das entidades patronais dos primitivos executados B e C, respetivamente, D e E.

2º Nos autos principais executivos 435/10.0TCFUN, foi requerido pela ora recorrente que os mesmos corressem termos contra D e E.

3º A D deduziu Embargos de Executado, originando o apenso C dos autos executivos 435/10.0TCFUN.

4º A E deduziu Embargos de Executado, dando origem ao apenso A dos autos executivos 435/10.0TCFUN.

5º No apenso C dos autos executivos 435/10.0TCFUN, a recorrente apresentou Contestação.

6º No apenso A dos autos executivos 435/10.0TCFUN, a recorrente apresentou Contestação.

7º O Exmo. Senhor Juiz a quo, em cada um dos apensos C e A dos autos 435/10.0TCFUN, por Despacho- Sentença, datado de 26 de outubro de 2020, proferiu decisão.

8º O Exmo. Senhor Juiz a quo, nos autos principais executivos (435/10.0TCFUN), proferiu o Despacho- Sentença de absolvição da instância da D e E , ordenando o cancelamento das penhoras de bens e a

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extinção da execução.

9º O Exmo. Senhor Juiz a quo não proferiu nem juntou em cada um dos apensos -C e A- dos autos principais executivos (435/10.0TCFUN), o Despacho- Sentença assinado em 25 de outubro de 2020,

10º mal andado o Exmo. Senhor Juiz a quo.

11º O Despacho- Sentença, assinado em 25 de outubro de 2020, proferido pelo Exmo. Senhor Juiz a quo, junto nos autos principais executivos (435/10.0TCFUN), está ferido de nulidade.

12º O Despacho- Sentença, assinado em 25 de outubro de 2020, conhece de questões de que não podia tomar conhecimento.

13º O Despacho- Sentença elaborado pelo Exmo. Senhor Juiz a quo, assinado em 25 de outubro de 2020, tinha que ser proferido em cada um dos apensos C e A, dos autos principais de execução (435/10.0TCFUN).

14º O Despacho- Sentença elaborado pelo Exmo. Senhor Juiz a quo, assinado em 25 de outubro de 2020, não podia ter sido proferido nos autos principais de execução (435/10.0TCFUN).

15º O Exmo. Senhor Juiz a quo, incumpriu o seu dever de administrar devidamente justiça, nos termos do n.º 1, art.º 152º; n.º 1, art.º 154º, n.º 1, art.º 2º, todos CPC, por não ter elaborado Despacho- Sentença em cada um dos apensos C e A dos autos executivos-435/10.0TCFUN.

16º É em cada um dos apensos C e A dos autos executivos 435/10.0TCFUN que consta a fundamentação para que os autos executivos prossigam os seus termos contra a D e E , por responsabilidade solidária.

17º O Exmo. Senhor Juiz a quo devia ter juntado o Despacho-Sentença, assinado em 25 de outubro de 2020, em cada um dos apensos C e A, dos autos executivos 435/10.0TCFUN.

18º O Exmo. Senhor Juiz a quo ao ter juntado o Despacho- Sentença, datado de 26 de outubro de 2020, em cada um dos apensos C e A, mal andou.

19º O Despacho-Sentença, assinado em 25 de outubro de 2020, proferido pelo Exmo. Senhor Juiz a quo, nos autos principais de execução- 435/10.0TCFUN, está ferido de nulidade, nos termos da al d), n.º 1, art.º 615º CPC.

20º O Despacho-Sentença, assinado em 25 de outubro de 2020, proferido pelo Exmo. Senhor Juiz a quo, nos autos principais de execução- 435/10.0TCFUN-C, conheceu de questões de que não podia ter tomado conhecimento..

21º O Exmo. Senhor Juiz a quo, fundamentou o Despacho- Sentença, assinado de 25 de outubro de 2020, com a circunstância dos valores de cada um dos subsídios de férias e de Natal, auferidos por B e C , não ultrapassarem o salário mínimo regional.

22º O Exmo. Senhor Juiz a quo, no Despacho- Sentença, assinado de 25 de outubro de 2020, nos autos executivos 435/10.0TCFUN, considerou que cada um dos subsídios de férias e de Natal, auferidos por B e C, se encontravam sujeitos aos limites de impenhorabilidade.

23º A recorrente aceitou que os primitivos executados auferissem valores que não ultrapassassem o salário mínimo regional.

24º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter considerado que os valores de subsídios de férias e de Natal são impenhoráveis, in casu, por não ultrapassarem o salário mínimo regional.

25º À retribuição do respectivo mês, acresceram os valores dos subsídios de Natal e férias.

26º Os valores de subsídio de férias e Natal, dos primitivos executados, não devem ser considerados por si

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só.

27º Aos valores de subsídio de férias e Natal auferidos, deve somar-se a retribuição auferida do respetivo mês.

28º Os valores de subsídio de férias e Natal auferidos deviam ter sido penhorados pelas respectivas entidades patronais dos primitivos executados.

29º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter considerado que se o empregador tivesse procedido à penhora quer do subsídio de Natal, quer ao subsídio de férias do(a) executado(a) teria praticado um acto ilegal.

30º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo ao considerar que deve falecer a pretensão da exequente ao prosseguir a execução contra os empregadores, por falta de título executivo.

31º Nos meses em que B e C auferiram os subsídios de Natal e de férias, tiveram rendimento superior ao salário mínimo regional.

32º O Exmo. Senhor Juiz a quo apreciou incorretamente os factos para proferir o Despacho-Sentença, assinado em 25 de Outubro de 2020.

33º O Exmo. Senhor Juiz a quo não considerou as alegações produzidas em articulados das partes, nos apensos C e A dos autos executivos 435/10.0TCFUN.

34º Nenhuma das entidades patronais dos primitivos executados se opôs à sua obrigação de penhora de subsídio de férias e Natal, de cada um dos primitivos executados.

35º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter decidido no sentido em que o fez.

36º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter violado o disposto no n.º 3, art.º 738º CPC.

37º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter interpretado o n.º 3, art.º 738º, no sentido em que o fez no Despacho-Sentença, assinado em 25 de outubro de 2020.

38º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em não ter considerado as alegações escritas nos articulados dos apensos A e C dos autos executivos 435/10.0TCFUN.

39º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter considerado que “(…)ainda que fosse passível de esses subsídios serem penhoráveis, o empregador somente seria responsável pelo pagamento daqueles em relação aos quais não tinha procedido a penhora e não em relação à totalidade da obrigação exequenda, (…)”.

40º A falta de realização da penhora pela D e pela E, após notificação pela Senhora Agente de Execução, tem a consequência processual de prossecução dos autos executivos contra tais sociedades comerciais.

41º A falta de cumprimento da obrigação, pela D e pela E, após notificação da Senhora Solicitadora de Execução, “(…)reconhece a existência da obrigação, nos termos da indicação do crédito da penhora (…)”

(n.º 4, art.º 773º CPC).

42º A prestação, prevista no n.º 3, art.º 777º CPC, refere-se à quantia exequenda e despesas prováveis dos autos executivos.

43º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter decidido no sentido em que o fez a tal respeito,

44º As entidades patronais D e E, têm responsabilidade solidária com as obrigações de cada um dos primitivos executados nos autos de 1ª instância, respetivamente, B e C.

45º O Exmo. Senhor Juiz a quo ao ter decidido no sentido em que o fez violou o n.º 4, art.º 773º e n.º 3,

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art.º 777º, ambos do CPC.

46º O Exmo. Senhor Juiz a quo ao ter decidido no sentido em que o fez, devia ter interpretado em sentido diferente o n.º 4, art.º 773º e n.º 3, art.º 777º, ambos do CPC.

O Exmo. Senhor Juiz a quo julgou incorretamente concretos factos alegados no requerimento destes autos datado de 9 de dezembro de 2019 e nos articulados dos apensos A e C, dos autos executivos 435/10.0TCFUN,

48º tendo mal andado.

49º Mal andou o Exmo. Senhor Juiz a quo em ter absolvido D e E, da instância e consequentemente ter ordenado o cancelamento das penhoras de bens e a extinção da execução.”.

A Executada “E” apresentou contra-alegações, onde pugna pela improcedência do recurso.

A Executada “D” não contra-alegou.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

II - QUESTÕES A DECIDIR

De acordo com as disposições conjugadas dos arts. 635º, nº 4 e 639º, nº 1, ambas do Cód. Proc. Civil, é pelas conclusões da alegação do Recorrente que se delimita o objeto e o âmbito do recurso, seja quanto à pretensão do Recorrente, seja quanto às questões de facto e de direito que colocam. Esta limitação objectiva da actuação do Tribunal da Relação não ocorre em sede de qualificação jurídica dos factos ou relativamente a questões de conhecimento oficioso, desde que o processo contenha os elementos suficientes a tal conhecimento (cfr. art. 5º, nº 3 do Cód. Proc. Civil). De igual modo, também o tribunal de recurso não está adstrito à apreciação de todos os argumentos produzidos em alegação, mas apenas de todas as questões suscitadas que se apresentem como relevantes para conhecimento do respectivo objecto, exceptuadas as que resultem prejudicadas pela solução dada a outras (cfr. art. 608º, nº 2 do Cód.

Proc. Civil, ex vi do art. 663º, nº 2 do mesmo diploma). Acresce que, não pode também este Tribunal conhecer de questões novas que não tenham sido anteriormente apreciadas, porquanto, por natureza, os recursos destinam-se apenas a reapreciar decisões proferidas - cfr., neste sentido, Abrantes Geraldes, in

“Recursos no Novo Código de Processo Civil”, 5ª Ed., Almedina, 2018, p. 114-116.

Nestes termos, no caso em análise, as questões a decidir são as seguintes:

- existência de nulidade da decisão por enfermar da nulidade prevista na al. d) – excesso de pronúncia - do nº 1 do art. 615º do Cód. Proc. Civil (Conclusões do recurso sob os pontos 1º a 20º);

- mérito da decisão (Conclusões do recurso sob os pontos 21º a 49º).

III - FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

A decisão recorrida não especificou de forma discriminada a factualidade em que assenta, mas dela resulta que relevou os seguintes factos, constantes das peças processuais desta execução:

1 - A intentou, em 27 de Julho de 2010, contra B e C, a presente acção executiva de pagamento de quantia certa, para pagamento do montante de € 32.163,99 (€ 29.408,46 de capital e € 2.755,53 de juros de mora vencidos) e dos juros vincendos sobre o capital em dívida, dando à execução um documento escrito, intitulado "Reconhecimento e Compromisso de Pagamento de Dívida", no qual os Executados reconheceram e assumiram o pagamento da dívida que a sociedade comercial “Objectos Creativos, Lda”

tem à Exequente, relativa ao pagamento de mercadorias para o exercício do seu comércio, no montante de

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€ 29.408,46, e respectivos juros de mora;

2 – No âmbito desta execução, a Exmª Srª Agente de Execução notificou as empresas D e E , ambas com sede na Região Autónoma da Madeira, na qualidade de entidades patronais dos Executados B e C, respectivamente, para procederem à penhora dos subsídios de férias e de Natal de cada um dos Executados, respectivamente, tendo aquelas notificações sido recepcionadas em 29/07/2017 pela “D (…)”

e em 09/01/2018 pela E (…)”;

3 – Na sequência das notificações aludidas em 2., as mencionadas entidades patronais não comprovaram nos autos a realização das penhoras ordenadas nos subsídios de férias e de Natal de cada um dos Executados;

4 – A executada B – residente na Região Autónoma da Madeira – trabalha para a empresa D e aufere o salário mínimo regional vigente na Região Autónoma da Madeira;

5 – O executado C – residente na Região Autónoma da Madeira - trabalha para a empresa E e aufere o salário mínimo regional vigente na Região Autónoma da Madeira;

6 - Por requerimento de 9 de Dezembro de 2019 (sob a Referência Citius 3519893), a Exequente requereu que esta execução prosseguisse contra D, na qualidade de entidade patronal da Executada B, e contra E, na qualidade de entidade patronal do Executado C, alegando que: a Exmª Srª Agente de Execução notificou as referidas entidades patronais para procederem à penhora dos subsídios de férias e de Natal de cada um dos Executados, respectivamente, desde o ano de 2017, sem que as mesmas tenham comprovado a realização de tais penhoras;

7 – Na sequência do requerido em 6., a Exmª Srª Agente de Execução deu prosseguimento à execução contra as mencionadas D e E, na qualidade de executadas/entidades patronais;

8 - Na sequência do aludido em 7., foram penhoradas nesta execução contas bancárias tituladas por D e E;

9 – Notificadas das penhoras referidas em 8., a E e a D instauraram, por apenso a esta execução, Embargos de Executado – Apensos A e C, respectivamente;

10 - A Exequente/Embargada deduziu Contestação nos Apensos A e C, defendendo a improcedência dos Embargos de Executado.

IV - FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO

Cumpre apreciar as questões a decidir neste recurso pela sua ordem de análise e precedência lógica, começando pela invocada nulidade da decisão, com base no excesso de pronúncia.

O Mmº. Juiz a quo apreciou, nos termos do nº 1 do art. 617º do Cód. Proc. Civil, a referida nulidade de omissão de pronúncia, sustentando a decisão proferida e pugnando pela improcedência de tal nulidade - cfr. despacho proferido em 25/01/2021, sob a Referência Citius nº 49523626.

Apreciemos.

As decisões judiciais podem estar feridas na sua eficácia ou validade por duas ordens de razões: por erro (material) de julgamento (quer dos factos, quer de direito), sendo a respectiva consequência a sua revogação; por violação das regras próprias da sua elaboração e estruturação ou das que delimitam o respectivo conteúdo e limites do poder ao abrigo do qual são decretadas, que determinam a sua nulidade, nos termos do art. 615º do Cód. Proc. Civil.

Os fundamentos determinativos de nulidade da sentença encontram-se taxativamente enunciados no

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referido art. 615º do Cód. Proc. Civil e reportam-se a vícios puramente intrínsecos e formais desta peça processual, relativos à estrutura ou aos limites, ou seja, à actividade de construção da própria sentença.

Trata-se de vícios que “afetam formalmente a sentença e provocam a dúvida sobre a sua autenticidade, como é o caso da falta de assinatura do juiz, ou a ininteligibilidade do discurso decisório por ausência total de explicação da razão por que se decide de determinada maneira (falta de fundamentação), quer porque essa explicação conduzir logicamente a resultado oposto do adotado (contradição entre os fundamentos e a decisão), ou uso ilegítimo do poder jurisdicional em virtude de pretender resolver questões de que não podia conhecer (excesso de pronúncia) ou não tratar de questões que deveria conhecer (omissão de pronúncia)” - Abílio Neto, in “Novo Código de Processo Civil Anotado”, 2ª ed., Janeiro de 2014, p. 734.

Por sua vez, os erros de julgamento (error in judicando) respeitam a erros quanto ao julgamento da matéria de facto ou quanto à decisão de mérito explanada na sentença, decorrentes de uma deficiente análise crítica das provas produzidas (error facti) ou de uma deficiente aplicação do direito, ou seja, uma deficiente enunciação e/ou interpretação dos institutos jurídicos aplicados ao caso concreto (error juris), sendo que, esses erros, por não respeitarem já a defeitos que afectam a própria estrutura da sentença (vícios formais), nem aos limites do poder à sombra da qual a sentença é proferida, mas à matéria de facto nela julgada provada ou não provada ou ao mérito da relação controvertida nela apreciada, não a inquinam de invalidade, mas antes de error in judicando, atacáveis em via de recurso – Ac. STJ, de 08/03/2001, Ferreira Ramos, acessível em www.dgsi.pt.

De acordo com o disposto no art. 615º, nº 1, al. d) do Cód. Proc. Civil, a sentença é nula quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento.

Esta nulidade consubstancia a sanção para a violação do dever processual previsto no art. 608º, nº 2 do Cód. Proc. Civil, que determina que o julgador na sentença (e nos próprios despachos: cfr. art. 613º, nº 3 do mesmo diploma) “deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, excetuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras”, não podendo “ocupar-se senão das questões suscitadas pelas partes, salvo se a lei lhe permitir ou impuser o conhecimento oficioso de outras.”

Para o que aqui interessa, o excesso de pronúncia ocorre, pois, quando o juiz se ocupa de questões que as partes não tenham suscitado - e que não sejam de conhecimento oficioso -, sendo estas questões os pontos de facto ou de direito relativos à causa de pedir e ao pedido, que centram o objecto do litígio.

Conforme se refere no Acórdão do STJ de 06/12/2012, João Bernardo, à luz do princípio do dispositivo, há excesso de pronúncia sempre que a causa do julgado não se identifique com a causa de pedir ou o julgado não coincida com o pedido, não podendo o julgador condenar, além do pedido, nem considerar a causa de pedir que não tenha sido invocada. Contudo, como é enunciado no Acórdão do STJ de 15/12/2011, Pereira Rodrigues, quando o tribunal, para decidir as questões postas pelas partes, usar de razões ou fundamentos não invocados pelas mesmas, não está a conhecer de questão de que não deve conhecer ou a usar de excesso de pronúncia susceptível de integrar nulidade. A não concordância da parte com a subsunção dos factos às normas jurídicas e/ou com a decisão sobre a matéria de facto de modo algum configuram causa de nulidade da sentença – cfr. Acórdão do TRL de 17/05/2012, Gilberto Jorge – Acórdãos todos acessíveis

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em www.dgsi.pt.

No caso dos autos, é defendido pela apelante que existe excesso de pronúncia, porquanto, tendo sido criados os Apensos A e C, pela dedução de Embargos de Execução pela “E” e pela “D (…)”, respectivamente, a decisão ora sob recurso, “de apreciação dos fundamentos deduzidos pela ora recorrente para a prossecução da execução (435/10.0TCFUN) contra aquelas sociedades comerciais, devia ter sido deduzido nesses mesmos apensos”, “não nos autos principais executivos”; ou seja, a decisão recorrida conheceu “de questões de que não podia tomar conhecimento,” “devendo-as ter conhecido em cada um dos apensos C e A criados nesses autos executivos”.

Porém, adianta-se desde já, que, na decisão sob recurso, o tribunal a quo moveu-se nos estritos limites do objecto desta execução e do pedido aqui formulado pela Exequente em 09/12/2019 (sob a Referência Citius 3519893), de prosseguimento da execução contra as entidades patronais dos executados B e C, não se tendo excedido na pronúncia, nos termos acima enunciados.

Na verdade, na decisão sob recurso, o tribunal a quo limitou-se a apreciar uma questão que era do seu conhecimento oficioso, e que, não dependendo sequer da alegação de quaisquer factos, se resumiu a apreciar se o título dado à execução contra as executadas “E(…)” e “D(…)” apresentava ou não as características de que a lei faz depender a sua exequibilidade; ou seja, a decisão recorrida limitou-se a analisar as características e o teor do título executivo em que se fundava a execução contra aquelas executadas, verificando a sua conformidade com os critérios legais referentes à sua exequibilidade. E, tendo sido considerado que não existia, no caso, título executivo que legalmente legitimasse a execução contra aquelas executadas, foram as mesmas absolvidas da instância executiva e, em consequência, ordenado o cancelado das penhoras efectuadas e a extinção da execução quanto a tais executadas.

E, salienta-se, a questão apreciada na decisão recorrida referente à falta de título executivo é de conhecimento oficioso em sede da própria acção executiva, nos termos do disposto no art. 734º (que consagra a possibilidade de o juiz rejeitar oficiosamente a execução instaurada, até ao momento processual aqui definido, sempre que se aperceba da existência de questões que deveriam ter conduzido ao indeferimento liminar da execução) e na al. a) do nº 2 do art. 726º (que prevê a admissibilidade de indeferimento liminar da execução quando “seja manifesta a falta ou insuficiência do título”), ambos do Cód. Proc. Civil.

O que significa que, ao contrário do entendimento da apelante, a decisão recorrida não teve por objecto “a apreciação dos fundamentos deduzidos” pela ora apelante na Contestação dos Embargos de Executado que constituem os Apensos A e C “para a prossecução da execução”, mas a verificação de um pressuposto processual/requisito de admissibilidade legal para a existência da execução contra as entidades patronais dos executados.

Também ao contrário do entendimento da apelante, a decisão recorrida não violou o disposto nos arts. 2º, nº 1, 152º, nº 1 e 154º, nº 1, todos do Cód. Proc. Civil, porquanto tal decisão aprecia e pronuncia-se sobre uma questão fundamental desta execução (verificação de um pressuposto processual/requisito de admissibilidade legal para a existência da execução contra as entidades patronais dos executados:

existência de título executivo) e encontra-se fundamentada.

Acresce que, as questões suscitadas pela apelante em sede deste recurso atinentes às decisões finais que

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foram proferidas em 26/10/2020 nos Apensos A e C, sob as Referências nºs 49121058 e 49121063, não consubstanciam qualquer nulidade da decisão aqui recorrida, que não apreciou o mérito do objecto daqueles Apensos, tendo-se pronunciado apenas, como se viu, sobre um pressuposto legal fundamental desta execução referente à falta de título executivo.

Desta forma, ao pronunciar-se pela falta de título executivo, a decisão recorrida não conheceu de questão de que não podia tomar conhecimento nesta execução com o entendimento legal acima enunciado, sendo, desta forma, manifesto que não se verifica qualquer situação de excesso de pronúncia. Isto, obviamente, sem prejuízo da oportuna apreciação do mérito da decisão recorrida quanto à falta de título executivo (questão também suscitada neste recurso pela apelante), a efectuar infra.

Pelo exposto, não se verifica a nulidade da decisão recorrida prevista no citado art. 615º, nº 1, al. d), 2ª parte (excesso de pronúncia), do Cód. Proc. Civil, improcedendo, pois, nesta parte, a pretensão da apelante.

*

Quanto ao mérito da decisão recorrida:

Como decorre do disposto no art. 10º, nºs 4 e 5 do Cód. Proc. Civil, a acção executiva visa a implementação das providências adequadas à realização coactiva de uma obrigação que lhe é devida e tem por base um título, pelo qual se determinam o fim a e os limites da acção executiva. O título executivo é, pois, e nas palavras de Anselmo de Castro, in “A Acção Executiva, Singular, Comum e Especial”, ed.

1970, p. 10, “condição necessária da execução, na medida em que os actos executivos em que se desenvolve a acção não podem ser praticados senão na presença dele (...)” e “condição suficiente da acção executiva, no sentido de que, na sua presença, seguir-se-á imediatamente a execução”.

No caso que nos ocupamos, foi dada à execução contra as entidades patronais dos (iniciais) executados o título executivo judicial impróprio constituído no próprio processo executivo (cfr., neste sentido, José Lebre de Freitas, João Redinha e Rui Pinto, in “Código de Processo Civil Anotado”, Vol. 1º, Coimbra Editora, 1999, p. 93; José Lebre de Freitas e Armindo Ribeiro Mendes, in “Código de Processo Civil Anotado”, Vol. 3º, Coimbra Editora, 2003, p. 449 e 459; e José Lebre de Freitas, in “A Acção Executiva à luz do Código Revisto”, 2ª ed., Coimbra Editora, 1997, p. 55, nota 61-A) composto pela certificação das notificações feitas pela Exma Srª Agente de Execução às entidades patronais dos (iniciais) executados para procederem aos descontos nos subsídios de férias e de Natal dos seus trabalhadores (os iniciais executados) para pagamento da quantia exequenda e subsequente silêncio/incumprimento do ordenado por parte daquelas entidades patronais (cfr. arts. 703º, nº 1, al. d), 773º e 777º, todos do Cód. Proc. Civil).

A decisão recorrida, para negar exequibilidade ao aludido título executivo dado à execução contra as entidades patronais dos (iniciais) executados, baseia-se no entendimento de que, no caso concreto, os subsídios de férias e de Natal auferidos pelos executados B e C são impenhoráveis nos termos do art. 738º, nº 3 do Cód. Proc. Civil, por cada um daqueles subsídios – de per si considerado - não ultrapassar o salário mínimo regional. Donde, sendo impenhoráveis tais subsídios, não se formou o título executivo aludido pela ora apelante no seu Requerimento de 09/12/2019 (sob a Referência Citius 3519893).

Entende a apelante, pelo contrário, que: “os trabalhadores, num ano, auferem 14 vezes a retribuição pelo desempenho mensal do seu trabalho, sendo que em dois meses auferem valor superior ao da sua

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retribuição mensal”; assim, cada um dos valores de subsídio de férias e Natal não devem ser considerados por si só, mas enquanto somatório com a retribuição auferida do respectivo mês; ou seja, nos meses em que os iniciais Executados B e C “auferiram os subsídios de Natal e de férias, cada um desses valores acresceu ao valor da sua retribuição desse mês, pelo que nesses meses auferiram valor superior ao salário mínimo para a região autónoma, devendo tais créditos laborais serem penhorados nos termos e limites legais”.

Assim, a questão a decidir é a de saber se estão verificados os pressupostos legais para prosseguimento desta execução contra as entidades patronais dos Executados, o que depende de saber se são (im)penhoráveis os subsídios de Natal e de férias auferidos pelos iniciais Executados.

Apreciemos.

Estipula o art. 738º do Cód. Proc. Civil, sob a epígrafe “Bens parcialmente penhoráveis”, para o que aqui interessa:

“1 - São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos vencimentos, salários, prestações periódicas pagas a título de aposentação ou de qualquer outra regalia social, seguro, indemnização por acidente, renda vitalícia, ou prestações de qualquer natureza que assegurem a subsistência do executado.

2 - Para efeitos de apuramento da parte líquida das prestações referidas no número anterior, apenas são considerados os descontos legalmente obrigatórios.

3 - A impenhorabilidade prescrita no n.º 1 tem como limite máximo o montante equivalente a três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão e como limite mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento, o montante equivalente a um salário mínimo nacional.”.

Com pertinência para o caso dos autos - uma vez que os iniciais Executados vivem e trabalham na Região Autónoma da Madeira e aí recebem os respectivos vencimentos -, começamos por fazer notar que a citada norma do nº 3 do art. 738º do Cód. Proc. Civil, deve considerar-se como referindo-se também ao “salário mínimo regional”, vigente na Região Autónoma da Madeira – cfr., neste sentido, o Ac. do TRL de 02/11/2017, Pedro Martins (pese embora se referindo ao “salário mínimo regional” vigente na região Autónoma dos Açores); e o Ac. do TRL de 21/05/2020, Laurinda Gemas, ambos acessíveis em www.dgsi.pt.

Aliás, este entendimento é aceite de forma pacífica nestes autos.

De acordo com o citado art. 738º do Cód. Proc. Civil, são, em regra, impenhoráveis 2/3 da parte líquida da remuneração do executado, sendo, pois, a contrario, penhorável 1/3 da parte líquida dessa remuneração.

Porém, esta regra encontra duas limitações: uma, “destinada a proteger os interesses do exequente” (nas palavras de Marco Carvalho Gonçalves, in “Lições de Processo Civil”, 2ª ed., 2018, Almedina, p. 294): o montante impenhorável não pode ser superior ao montante equivalente a 3 salários mínimos nacionais à data de cada apreensão; a outra, visa “salvaguardar a situação económica e social do executado, à luz da exigência constitucional de proteção da dignidade da pessoa humana” (nas palavras do mesmo autor, in ob. e local cit.): o montante impenhorável - isto é, o rendimento disponível - não pode ser inferior ao montante equivalente ao salário mínimo nacional ou ao salário mínimo regional (se o executado residir e trabalhar nas Regiões Autónomas e aí receber a sua remuneração, como se disse) quando o executado não tenha outra fonte de rendimento, ou seja, o rendimento líquido ou disponível do executado não pode nunca ficar abaixo do montante equivalente ao salário mínimo nacional/regional; se isso acontecer, não pode ser

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efectuada a penhora do desconto no vencimento (a menos que o executado tenha outra fonte de rendimento) – supra citado Ac. do TRL de 21/05/2020.

Os subsídios de Natal e de férias estão previstos, respectivamente, nos arts. 263º, nº 1 e 264º, nº 2, ambos do Código do Trabalho, aprovado pela Lei nº 7/2009, de 12/02. Donde, consubstanciam direitos do trabalhador. Mesmo admitindo que tais subsídios não integram o conceito de vencimento ou salário em sentido estrito, é cristalino que os mesmos integram o conceito de vencimento ou salário em sentido amplo.

Assim sendo, é incontroverso que os subsídios de férias e de Natal podem, dentro dos limites legais, ser objecto de penhora. Importa, porém, concretizar tais limites.

A (im)penhorabilidade dos subsídios de férias e de Natal nos casos em que o rendimento periódico mensal é inferior ao salário mínimo nacional é questão controversa na Doutrina e Jurisprudência (todos os Acórdão abaixo mencionados são acessíveis em www.dgsi.pt):

Na doutrina, Paulo Ramos de Faria e Ana Luísa Loureiro, in “Primeiras Notas ao Novo Código de Processo Civil”, vol. II, 2014, Almedina, p. 260, sustentam que os subsídios de férias e de natal são impenhoráveis se eles mesmos forem de valor igual ou inferior ao salário mínimo nacional, quer sejam pagos numa única prestação (situação em que a soma desse subsídio com o vencimento corresponde, nesse mês, a um valor superior ao salário mínimo nacional), quer sejam pagos em duodécimos juntamente com o vencimento (situação em que, em cada mês, o trabalhador receberia um valor superior ao salário mínimo).

Em idêntico sentido, aponta o Acórdão do TRP de 28/06/2017, Pedro Vaz Pato – citado na decisão recorrida -, onde se sustenta que: “(…) os subsídios de Natal e de férias, que são direitos do trabalhador nos termos gerais (e não complementos facultativos), também estão garantidos pela legislação que garante o salário mínimo (ver artigos 263.º, 264.º e 273.º do Código do Trabalho). Também eles se incluem na garantia de uma subsistência tida por minimamente condigna. Ou seja, essa garantia de um salário mínimo e de uma existência minimamente condigna não diz respeito apenas a doze prestações mensais por ano, mas a catorze. Assim, os subsídios de Natal e de férias (de trabalhadores no ativo ou de pensionistas) que sejam inferiores ao montante legalmente fixado para o salário mínimo nacional serão, em qualquer caso, impenhoráveis, nos termos do artigo 738.º, nºs 1 e 3, do Código de Processo Civil.”.

Porém, ainda no mesmo Acórdão do TRP de 28/06/2017, salienta-se um segundo entendimento: “Mesmo que assim não se entenda, ou seja, se se entender que o montante garantido pela legislação do salário mínimo (com a consequente impenhorabilidade) corresponde apenas a doze prestações mensais, há que considerar o seguinte: se o montante das pensões auferidas for inferior ao salário mínimo nacional e a essas pensões acrescem subsídios de Natal e de férias, há que considerar o montante global desses rendimentos e dividi-lo por doze; e se o montante apurado com tal divisão for inferior ao montante legalmente fixado para o salário mínimo os referidos subsídios também serão impenhoráveis. É o que, claramente, impõe a ratio da norma que, em nome da salvaguarda da dignidade humana, impõe a impenhorabilidade de pensões inferiores ao salário mínimo nacional. À luz dessa ratio, não teria sentido admitir a penhora de um subsídio pago num só mês (altura em que, ocasionalmente, a soma da pensão e do subsídio poderá ser superior ao montante legalmente fixado para o salário mínimo), quando tal não seria admissível se esse subsídio fosse pago em duodécimos (pois, neste caso, já a soma da pensão e de

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cada um desses duodécimos será inferior ao montante legalmente fixado para o salário mínimo). Há que considerar a situação global do executado, não uma prestação isolada.”.

Sufragam este segundo entendimento mencionado no Acórdão a que vimos aludindo:

- o Acórdão do TRG de 18/04/2013, Isabel Rocha, onde consta do respectivo sumário: “I - O que releva para aferir da impenhorabilidade das prestações periódicas pagas ao executado a título de pensões ou de regalia social é o seu valor global e não fraccionado. II - Assim, se o rendimento anual do devedor, repartido pelos 12 meses do ano, não for inferior ao valor do salário mínimo nacional, nada obsta a que se proceda à penhorado 13º e 14º mês, na parte em que exceda aquele valor.”;

- o Acórdão do TRP de 08/03/2016, Maria de Jesus Pereira, onde se conclui: “Da enunciação daqueles princípios, sobressai que a penhora do subsídio na parte superior ao SMN e na proporção admissível, quer o subsídio seja pago numa única prestação, quer seja pago em duodécimos, não ofende o princípio da dignidade humana ínsito no artigo 1 da CRP como defendido pelo Tribunal Constitucional o qual, no Acórdão nº 546/01, se referiu “à globalidade das prestações recebidas” – cfr. também neste sentido Acórdão da RL de 12-06-2001 sumário, disponível no DGSI, AC. RG de 18-04-2013, proc. 537-A, disponível no DGSI e vide, ainda, Rui Pinto, obra citada, pág. pág. 507.”;

- o Acórdão do TRG de 25/10/2018, Margarida Sousa, onde se sumaria: “III - Não auferindo o oponente/executado uma pensão que, somada aos duodécimos dos subsídios de férias e de Natal a que tem direito, seja superior ao salário mínimo nacional, os referidos subsídios são impenhoráveis, nos termos do artigo 738.º, n.ºs 1 e 3, do Código de Processo Civil.”;

- o Acórdão do TRE de 12/09/2019, Jaime de Castro Pestana, de cujo sumário consta: “É impenhorável a pensão de reforma quando o correspondente rendimento anual (incluindo o subsídio de Natal e de férias), dividido por doze meses, apresenta um valor inferior ao salário mínimo nacional.”;

- o Acórdão do TRL de 21/05/2020, Laurinda Gemas, onde se conclui que, atento o limite previsto no nº 3 do art. 738º do Cód. Proc. Civil, “o rendimento mensal líquido ou disponível do executado, incluindo, quando seja caso disso, o valor duodecimal do subsídio de Natal, não pode nunca ficar abaixo do montante equivalente ao salário mínimo nacional ilíquido, à data da (pretendida) penhora; se isso acontecer, não pode ser efetuada a penhora.”;

- o Acórdão do TRP de 24/09/2020, Rodrigues Pires, de cujo sumário consta: “I - Para aferir da impenhorabilidade das verbas atinentes a subsídios de férias e de Natal que são recebidas pelo executado, que aufere uma pensão de montante inferior ao salário mínimo nacional, teremos que considerar o montante global dos seus rendimentos, onde se incluem tais subsídios, e dividi-lo por doze. II - Se o montante apurado com tal divisão for inferior ao salário mínimo nacional tais subsídios de férias e de Natal também serão impenhoráveis.”.

No Acórdão do Tribunal Constitucional nº 770/2014, de 12/11/2014, proferido ainda no âmbito do anterior Código de Processo Civil, de que foi Relatora Ana Guerra Martins, disponível in www.tribunalconstitucional.pt, decidiu-se “não julgar inconstitucional a norma extraída da conjugação do disposto na alínea b) do nº 1 e do nº 2, do artigo 824º do CPC, na parte em que permite a penhora até 1/3 das prestações periódicas, pagas ao executado que não é titular de outros bens penhoráveis suficientes para satisfazer a dívida exequenda, a título de regalia social ou de pensão, cujo valor não seja superior ao

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salário mínimo nacional mas que, coincidindo temporalmente o pagamento desta e subsidio de natal ou de férias, se penhore somando as duas prestações, na parte que excede aquele montante”.

Esta decisão, porém, não obteve unanimidade, tendo contado com os votos de vencido dos Conselheiros João Cura Mariano e Joaquim de Sousa Ribeiro, referindo-se na declaração de voto do primeiro, acompanhada pelo segundo, que: “No caso das pensões pagas mensalmente com direito a subsídio de férias e de Natal, a impenhorabilidade tem que salvaguardar qualquer uma das suas prestações, incluindo os subsídios, quando estas têm um valor inferior ao do salário mínimo nacional. E o facto de, nos meses em que são pagos aqueles subsídios, a soma do valor da pensão mensal com o valor do subsídio ultrapassar o valor do salário mínimo nacional, não permite que tais prestações passem a estar expostas à penhora para satisfação do direito dos credores, uma vez que elas, por serem pagas no mesmo momento, não deixam de ser necessárias à subsistência condigna do seu titular. Não é o momento em que são pagas que as torna ou não indispensáveis à subsistência condigna do executado, mas sim o seu valor, uma vez que é este que lhe permite adquirir os meios necessários a essa subsistência./ Aliás, quando o Tribunal Constitucional escolheu o salário mínimo como o valor de referência para determinar o mínimo de subsistência condigna teve necessariamente presente que o mesmo era pago 14 vezes no ano, circunstância que tem influência na fixação do seu valor mensal, tendo entendido que o recebimento integral de todas essas prestações era imprescindível para o seu titular subsistir com dignidade. Foi o valor dessas prestações, pagas 14 vezes ao ano, que se entendeu ser estritamente indispensável para satisfazer as necessidades impostas pela sobrevivência digna do trabalhador./ E se os rendimentos de prestações periódicas deixam de ter justificação para estar a salvo, quando o executado dispõe de outros rendimentos ou de bens que lhe permitam assegurar a sua subsistência, os subsídios de férias e de Natal não podem ser considerados outros rendimentos para esse efeito, uma vez que eles integram o referido mínimo dos mínimos. Os subsídios de férias e de Natal não são outros rendimentos diferentes da pensão paga mensalmente, mas o mesmo rendimento periódico, cujo momento de pagamento coincide com o das prestações mensais.” – sublinhados nossos, cujas considerações serão acolhidas infra.

Com pertinência para a questão de que nos ocupamos, no Acórdão do TRL de 27/02/2018, Higina Castelo, acessível em www.dgsi.pt, sustentou-se, no contexto da cessão do rendimento disponível, no quadro legal do instituto da exoneração do passivo restante – mas claramente transponível para a situação ora em apreciação -, o seguinte, com sublinhados nossos, cujas considerações serão acolhidas infra:

“Considerando a alusão do CIRE ao salário mínimo nacional – anterior designação da retribuição mínima garantida – importante referencial do mercado de emprego «na perspetiva do trabalho digno e da coesão social» (preâmbulo do DL 254-A/2015, de 31 de dezembro), partilhamos o entendimento de que, em geral e na falta de prova de despesas extraordinárias concretas, ao devedor insolvente deve ser garantido o equivalente àquele salário.

Sendo a remuneração mínima mensal garantida recebida 14 vezes no ano, e constituindo o salário mínimo anual 14 vezes aquele montante mensal (Art.s 263 e 264, n.º 2, do Código do Trabalho), o mínimo necessário ao sustento minimamente digno não deverá ser inferior à remuneração mínima anual.

Ou seja, se o tribunal, ao fixar o valor do rendimento necessário ao sustento minimamente digno, disser que será esse valor retido 14 vezes ao ano, então cada uma das parcelas não deverá ser inferior à

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remuneração mínima mensal garantida (atualmente € 580); se, o juiz, ao fixar o valor do rendimento indisponível disser que esse valor será retido 12 vezes ao ano, então esse valor não deverá ser inferior à retribuição mínima nacional anual (ou seja, € 580x14) a dividir por doze.

Esta perspetiva vai ao encontro do conceito de «Retribuição mínima nacional anual (RMNA)» definido no art. 3.º do DL 158/2006, de 8 de agosto, como «o valor da retribuição mínima mensal garantida (RMMG), a que se refere o n.º 1 do artigo 266.º do Código do Trabalho, multiplicado por 14 meses.

Os subsídios de férias e de Natal são parcelas de retribuição do trabalho e não extras para umas férias ou um Natal melhorados. A retribuição mínima nacional anual é constituída pela retribuição mínima mensal garantida multiplicada por 14, pelo que o salário mínimo nacional garantido mensalizado corresponde à retribuição mínima mensal garantida multiplicada por 14 e dividida por doze. É, no mínimo, deste valor médio mensal que o trabalhador dispõe para o seu sustento; e é este valor médio mensal que o Estado fixa como o mínimo necessário ao sustento minimamente digno.”.

Tomando posição sobre a questão e atendendo:

i) que o legislador, ao estabelecer no nº 3 do art. 738º do Cód. Proc. Civil, como limite mínimo indisponível para penhora, o valor correspondente ao salário mínimo nacional, teve em atenção essencialmente tutelar o direito à subsistência minimamente condigna do devedor executado (cfr., neste sentido, Acórdão do Tribunal Constitucional nº 177/2002, de 23/04, de que foi Relatora Maria dos Prazeres Beleza, in DR Iª Série A, 150, de 02/07/2002, acessível em www.tribunalconstitucional.pt: “(…) o salário mínimo nacional contém em si a ideia de que é a remuneração básica estritamente indispensável para satisfazer as necessidades impostas pela sobrevivência digna do trabalhador e (…) concebido como o “mínimo dos mínimos”; e Acórdão do STJ de 02/02/2016, Fonseca Ramos, acessível em www.dgsi.pt: “O salário mínimo nacional (…) deveria ser considerado o montante mínimo para acudir às despesas inerentes a uma vida que se pretende que seja vivida com dignidade, tendo em contas despesas, essas sim de sobrevivência, como são as relacionadas com a habitação, alimentação, vestuário, consumos de bens essenciais (água, luz, transportes) e assistência médica”);

ii) à natureza (de vencimento ou salário em sentido amplo) dos subsídios de férias e de Natal;

iii) ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (cfr. art. 1º da CRP); e,

iv) aos considerandos feitos na declaração de voto ao Acórdão do TC nº 770/2014, de 12/11/2014, acima citada;

não podemos deixar de acompanhar e perfilhar na íntegra o vertido no Acórdão desta Relação de 27/02/2018, acima citado, pelo que se entende que os subsídios de férias e de Natal dos devedores que auferem o salário mínimo nacional/regional estão compreendidos na garantia de remuneração do trabalho que satisfaz os mínimos exigíveis para que o devedor tenha uma subsistência condigna, devendo, por isso, aqueles subsídios ser considerados impenhoráveis.

O que significa que, no caso dos autos, não resultando demonstrado que os iniciais Executados B e C auferem qualquer outro rendimento, e recebendo, ambos, de vencimento o correspondente ao salário mínimo regional, forçoso é considerar os respectivos subsídios de férias e de Natal legalmente impenhoráveis.

Sendo aqueles subsídios legalmente impenhoráveis, são irrelevantes as alegações da apelante de que as

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entidades patronais dos iniciais Executados não se opuseram à penhora e que não foi considerado pelo tribunal a quo o invocado pelas partes nos articulados apresentados nos Apensos de Embargos de Executado.

Em suma, em face dos factos provados e da interpretação que damos ao disposto no art. 738º, nºs 1 e 3 do Cód. Proc. Civil, julgamos que a decisão recorrida deve ser mantida.

Considerando o exposto, e nos termos do art. 608º, nº 2, 2ª parte do Cód. Proc. Civil, aplicável ex vi do art.

663º, nº 2 do mesmo diploma legal, fica prejudicada a apreciação das demais questões suscitadas pela apelante.

*

As custas devidas pela presente apelação são da responsabilidade da apelante – cfr. art. 527º, nºs 1 e 2 do Cód. Proc. Civil e art. 1º, nºs 1 e 2 do Regulamento das Custas Processuais.

V. DECISÃO

Pelo exposto, acordam as juízas desta 7.ª Secção do Tribunal de Relação de Lisboa em julgar a presente apelação improcedente, e, em consequência, manter a decisão recorrida.

Custas pela apelante.

Lisboa, 23 de Fevereiro de 2021 Cristina Silva Maximiano

Maria Amélia Ribeiro Ana Resende

Fonte: http://www.dgsi.pt

Referências

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