ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DE EXTRATOS VEGETAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE FITOPATÓGENOS EM SEMENTES DE FEIJÃO CAUPI IN VITRO
Palavras-chave: Controle Alternativo; Vigna Unguiculata; Agente Etiológico.
RESUMO
A qualidade sanitária e fisiológica das sementes interferem diretamente no sucesso da lavoura, considerando que elas podem ser veículos de agentes fitopatogênicos que influenciam de forma significativa a germinação e vigor das mesmas. Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito in vitro de extratos alcoólicos de alho, cravo-da-índia e canela, sobre a micoflora de sementes de feijão-caupi. O estudo foi conduzido na Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA, no laboratório de Fitopatologia, no período de setembro de 2018. As sementes foram trazidas do município de Paragominas/PA, passadas por processo de assepsia e colocadas em placas de Petri contendo BDA e o extrato vegetal na concentração de 20%. As placas foram incubadas em câmara do tipo B.O.D, com fotoperíodo de 12 h (claro/ escuro) à temperatura de 25 ± 2ºC. Foram feitas avaliações diárias para saber a incidência de fungos nas sementes, tendo os resultados expressos em porcentagem de incidência de fungos. Os resultados obtidos foram submetidos à Análise de Variância e as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott (p-valor≤0.05).
Todos os tratamentos testados apresentaram significativo efeito antifúngico nas sementes avaliadas, quando comparados ao tratamento controle. Os extratos de alho, canela e cravo-da-Índia, a uma concentração de 20%, são eficientes quanto a inibição do crescimento micelial de fungos provenientes de sementes de feijão-caupi.
CAPÍTULO
6
Cássia Cristina
Chaves Pinheiro
UFV
Ana Karoliny Alves Santos
UDESC
Fernanda Sarmento de Oliveira Louzano
UFRA
Caroline Silva
FerreiraUFRA
Victor Fernando Galvão Bezerra
UFRA
Francisco Carlos de
Oliveira
UFRA
Leidiane Cristina Araújo da Silva
UESC
Samara Campos do Nascimento
UDESC
Fernando Sartori Pereira
UDESC
1. INTRODUÇÃO
O feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.), é uma das leguminosas mais consumidas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, representando importan- te fonte de proteína, energia, fibras e minerais, além de ser um gerador de emprego e renda (DUTRA et al., 2012). Entretanto, a cultura do feijão caupi pode ser acometida por diversas doenças que podem re- sultar na redução da produtividade causando gran- des prejuízos econômicos (NECHET et al., 2009).O controle dessas doenças tem se intensificado, sendo realizado basicamente através do emprego de defensivos químicos (VENTUROSO et al., 2010).
Estes produtos auxiliam de maneira eficaz o agri- cultor no alcance de altas produtividades. Porém, eles podem causar o surgimento de fitopatógenos resistentes às substâncias químicas utilizadas, além de se tornarem prejudiciais para o meio ambiente devido à poluição causada pelos resíduos (SCHWA- N-ESTRADA et al., 2000).
Atualmente, cresce o interesse pela busca de substi- tutos para estes produtos encontra nas plantas uma alternativa de interesse econômico e ecológico bas- tante promissor (SOUZA et al., 2007). A obtenção dos metabólitos secundários de plantas, bem como, a determinação da atividade biológica de suas molé- culas, poderá contribuir para a aquisição de maiores conhecimentos que reforçam a possível utilização como um método alternativo de controle de doenças de plantas (SCHWAN-ESTRADA et al., 2000).
As plantas medicinais representam uma importante fonte de substâncias fungitóxicas, as quais, quan- do comparadas com fungicidas de origem sintética, caracterizam uma proposta ecológica praticamente inofensiva ao meio ambiente (STANGARLIN et al., 1999). Estas substâncias são compostas do meta- bolismo secundário das plantas medicinais e podem ter ação antimicrobiana direta sobre o fitopatógeno ou ação indutora de mecanismos de resistência na planta (SCHWAN-ESTRADA et al., 2000). Em vista da propriedade inibitória de extratos vegetais so- bre o desenvolvimento de fungos patogênicos, o presente trabalho tem por objetivo avaliar in vitro o efeito do extrato de alho, cravo-da-índia e canela sobre o crescimento de fitopatógenos em sementes de feijão caupi.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para a obtenção de uma boa planta é necessá- rio o controle de sanidade e de qualidade da semen- te utilizada, pois, esta poderá servir como veículo de disseminação de diversos fitopatógenos, sendo as- sim, a obtenção de sementes isenta desses micror-
ganismos é necessária para o aumento da produtivi- dade (MENDES, 2005). De modo geral, vários danos podem ser provocados por patógenos, associados às sementes. Dentre eles, podemos citar a morte em pré-emergência, podridão radicular, tombamento de mudas, infecções latentes, etc. (NEERGAARD, 1979; MENDES, 2005) assim, a qualidade sanitária das sementes é um fator importante na germinação, podendo ocasionar perdas através da deterioração, anormalidades e lesões em plântulas (LAZAROTTO;
MUNIZ, 2010)
Extratos vegetais têm sido utilizados como métodos alternativos para inibir o desenvolvimento de fungos.
Silva et al. (2010) observaram que a combinação de extratos vegetais de alho e nim mostrou-se efi- ciente no controle de fitopatógenos em sementes de chorão.
3. METODOLOGIA
3.1 LOCALIZAÇÃO DO EXPERIMENTO
O ensaio foi conduzido no Laboratório Fitopatologia da Universidade Federal Rural da Amazônia-UFRA, campi de Belém, Pará (1° 27’ 31” S e 48° 26’ 04.5”O), durante o período de setembro de 2018.
3.2 PREPARO E MANUTENÇÃO DOS EXTRATOS
Na preparação dos extratos, foram utilizados 100 g do material vegetal bulbos de alho (Allium sati- vum L.); cravo-da-índia (Syzygium aromaticum) e folhas de canela (Cinnamomum verum) triturados em liquidificador contendo 250 mL de água destilada esterilizada (ADE) e 250 mL de álcool etanólico P.A., colocados em um recipiente de vidro e submetidos, por um período 96 horas, ao processo de extração por infusão. Posteriormente, os extratos foram filtra- dos através de papel de filtro esterilizado e mantidos em recipiente aberto, durante 72 horas, para favo- recer a evaporação do álcool. Após esse período o material foi submetido à radiação ultravioleta por 30 minutos (UV), de acordo com metodologia adaptada de Rodrigues et al. (2006).
3.3 OBTENÇÃO DAS SEMENTES
As sementes do feijão caupi cultivar BRS Tracua- teua utilizadas no estudo são provenientes do plantio comercial no município de Bragança/Pa. As mesmas foram submetidas za desinfestação com álcool 70%, hipoclorito a 100 ppm e lavadas com água destilada, após foram secas sobre papel filtro estéril.
3.4 TESTE DE ATIVIDADE ANTIFÚNGICA “IN
VITRO” DOS EXTRATOS VEGETAISAs sementes foram colocadas de placas de Petri contendo BDA (Batata-Dextrose-Ágar), e o extrato vegetal na concentração de 20%. Os tratamentos foram compostos de extrato de canela (T1), cravo- -da-índia (T2), alho (T3) e o controle- com ausência de extrato vegetal- (T4) cada um contendo cinco repetições. As placas foram incubadas em BOD (De- manda Biológica de Oxigênio), com fotoperíodo de 12 h (claro/ escuro) à temperatura de 25 ± 2ºC.
3.5 AVALIAÇÃO
A avaliação foi iniciada a partir de 24 horas da ins- talação do experimento. A da incidência de fungos nas sementes foi feita a partir da visualização dos fungos sobre as mesmas. O exame morfológico dos fungos foi feito ao microscópio, quando necessário, para a observação de detalhes morfológicos, com- parando-os com informações disponíveis na litera- tura (BARNETT; HUNTER, 1972).
3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados foram expressos em porcentagem de incidência de fungos (HENNING, 1994; GOULART, 1997). Os resultados obtidos foram submetidos à Análise de Variância e as médias foram comparadas pelo teste de Scott- Knott (p-valor≤0.05), utilizando- -se o programa SISVAR, versão 5.6 (FERREIRA, 2011).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os tratamentos T1, T2 E T3 tiveram efeito an- tagônico significativo sobre o crescimento de fun- gos fitopatogênicos, quando comparados com ao T4 (Figura 1).
Figura 1- Percentagem de inibição de fungos na presença de extratos vegetais. Médias com letras iguais não diferem
estatisticamente pelo teste de Scott-Knott (p ≤ 0,05).
Conforme a avaliação morfológica em microscópio realizada nas sementes de feijão caupi, verificou-se
que no tratamento T4, houve a presença de fungos do gênero Aspergillus sp., Curvularia sp., Rhizocto- nia sp,. Rhizopus sp., e Fusarium sp com incidência de 98%. Enquanto que nos tratamentos T1, T2 e T3 houve apenas a presença dos fungos Rhizoctonia sp e Aspergillus sp com incidência de 13%, 11% e 10%, respectivamente. Podemos observar a incidências dos fungos na figura 2.
Figura 2- Sementes de feijão caupi na presença dos extratos vegetais e o tratamento controle.
Fonte: própria.
Resultados semelhantes ao que está sendo rela- tado no presente estudo foram descritos por Silva (2009), utilizando extrato de alho (Allium sativum L.) no controle de A. niger em sementes de Caesalpinia ferrea, obtiveram resultados satisfatórios, reduzindo a incidência desse fungo em até 70%. O efeito fun- gitóxico do alho tem sido atribuído a compostos a base de enxofre sendo abalicina (dialiltiosulfinato), um composto instável formado pela ação enzimática da alinase sobre a aliina quando o dente de alho é triturado ou cortado, representante de 70% dos diferentes compostos existentes no alho. Quando este composto é produzido tem a capacidade de eliminar fungos e inibir o a colonização, devido sua ação antioxidante, que provoca uma reação instan- tânea com os grupos livres de tiol que penetram facilmente nas células biológicas e desativa suas enzimas (BUSINELLI et al., 2014).
Em outra pesquisa realizada por Costa et al. (2011) avaliou-se o efeito do óleo essencial de cravo sobre o crescimento micelial de Fusarium oxysporum, F.
solani, Rhizoctonia solani e Macrophomina. pha- seolina, verificando que na concentração 0,15%
ocorreu a total inibição do desenvolvimento das três primeiras espécies. Venturoso et al. (2011) verifica- ram que meios de cultura contendo os extratos de cravo-da-índia, alho e canela, concentração de 20%, foram os mais promissores sobre a redução do cres- cimento micelial dos fitopatógenos Aspergillus sp.,
Penicillium sp., Cercospora kikuchii, Colletotrichum sp., Fusarium solani e Phomopsis sp., destacando o extrato de cravo-da-índia, que inibiu completamente o desenvolvimento de todos os fitopatógenos tes- tados.
4. CONCLUSÕES
Os extratos alcoólicos de alho, folha de canela e cravo-da-índia na dose de 20% foram eficientes no controle de fitopatógenos em sementes de feijão caupi. Contribuindo assim, para estudos futuros e para o desenvolvimento de pesquisas envolvendo compostos bioativos obtidos de plantas medicinais.Agradecimentos
Agradecimento a CAPES pelo financiamento dessa pesquisa.