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Processo

0372/10.9BESNT

Data do documento 9 de dezembro de 2021

Relator

Francisco Rothes

SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO | FISCAL

Acórdão

DESCRITORES

Revista > Apreciação preliminar > Cppt

SUMÁRIO

I – O recurso de revista excepcional previsto no art. 285.º do CPPT não corresponde à introdução generalizada de uma nova instância de recurso, funcionando apenas como uma “válvula de segurança” do sistema, pelo que só é admissível se estivermos perante uma questão que, pela sua relevância jurídica ou social, se revista de importância fundamental, ou se a admissão deste recurso for claramente necessária para uma melhor aplicação do direito, incumbindo ao recorrente alegar e demonstrar os requisitos da admissibilidade do recurso.

II - Nos termos do n.º 4 do art. 285.º do CPPT, «[o] erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa não pode ser objecto de revista, salvo havendo ofensa de uma disposição expressa de lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixe a força de determinado meio de prova».

III - Tendo as instâncias respeitado o entendimento de que, em ordem a responsabilizar subsidiariamente o gerente pelas dívidas exequendas da sociedade provenientes de impostos ao abrigo do disposto no art.

24.º da LGT, compete à AT demonstrar o efectivo exercício da gerência e de que não existe presunção legal que permita à AT inferir o exercício da gerência de facto da gerência de direito, o n.º 4 do art. 285.º do CPPT expressamente veda ao Supremo Tribunal Administrativo, em sede de recurso excepcional de revista, sindicar o julgamento da matéria de facto por estas efectuado, designadamente quando, com base em regras de experiência (presunção judicial), inferiram a gerência de facto da gerência de direito e das demais circunstâncias do caso.

TEXTO INTEGRAL

Apreciação preliminar da admissibilidade do recurso excepcional de revista interposto no processo n.º 372/10.9BESNT

Recorrente: A…………

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Recorrida: Autoridade Tributária e Aduaneira (AT)

1. RELATÓRIO

1.1 A acima identificada Recorrente, inconformada com o acórdão proferido pelo Tribunal Central Administrativo Sul em 25 de Março de 2021 (Disponível em http://www.dgsi.pt/jtca.nsf/- /e9de3dbaf5fc0eec802586af002c8b0f.) – que, negando provimento ao recurso por ela interposto, manteve a sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, que julgou parcialmente procedente a oposição deduzida contra uma execução fiscal que, instaurada contra uma sociedade, reverteu contra ela por ter sido considerada responsável subsidiária pela dívida exequenda –, dele interpôs recurso para o Supremo Tribunal Administrativo, ao artigo do disposto no art. 285.º do Código de Procedimento e de Processo Tributário (CPPT), apresentando as alegações de recurso, com conclusões do seguinte teor:

«1.ª – O artigo 150.º, n.º 1 do CPTA prevê que pode haver, excepcionalmente, recurso de revista para o STA “quando esteja em causa a apreciação de uma questão que, pela sua relevância jurídica ou social, se revista de importância fundamental ou quando a admissão do recurso seja claramente necessária para uma melhor aplicação do direito” - V. Supra n.º 1;

2.ª – No caso em apreço coloca-se a questão de saber se o gerente de direito que outorga procuração a terceiro para o exercício da gerência facto de uma sociedade, ou seja, para o substituir na prática de actos de administração ou representação da sociedade (devedora originária), deve, ou não, ter legitimidade enquanto responsável subsidiário sem a Autoridade Tributária na instrução do processo pelo órgão de execução fiscal averiguar se efectivamente o gerente de direito exercia de facto a gerência para a qual foi nomeado, bastando a emissão de procuração sem sustentar a prática material de um único acto de gerência pela Recorrente, para efeitos do preenchimento dos pressupostos para que possa operar a reversão contra si, nos termos do disposto no artigo 24.º, n.º 1, alínea b) da LGT. - V. Supra n.ºs 2 a 9;

3.ª – O acórdão recorrido incorreu em erro de interpretação e subsunção dos factos e do direito, em clara violação de lei substantiva, tanto mais que assentou e foi fruto de um desacerto ou de um equívoco, razão pela qual, no nosso entendimento, não deve manter-se, sendo, o presente recurso, absolutamente necessário para uma melhor aplicação do direito. - V. Supra n.ºs 10 a 17;

4.ª – O entendimento sufragado no acórdão recorrido (e na sentença de primeira instância) concede à Administração Tributária um estatuto privilegiado e desproporcionado em face do sujeito passivo subsidiário, em clara violação do princípio da proporcionalidade a que alude o artigo 18.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa com afloramentos no artigo 266.º daquele diploma fundamental, no artigo 55.º da LGT e artigo 46.º do Código de Procedimento e Processo Tributário, uma vez que os meios adequados para a prossecução do interesse público devem ser os que menos sacrifício comportarem para os particulares. - V. Supra n.ºs 18 a 20;

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5.ª – Encontrando-se preenchido o segundo pressuposto enunciado em epígrafe, conclui-se que o recurso de revista deverá ser admitido, uma vez que é necessário para uma melhor aplicação do direito nos termos do artigo 150.º, n.º 1 do CPTA. - V. Supra n.ºs 21 a 23;

6.ª – A decisão recorrida integra erro de julgamento de direito, por errada interpretação e aplicação da lei, e por violação de lei, mais precisamente da disposição dos artigos 24.º, n.º 1, al. b) e 74.º, n.º 1, ambos da LGT e do artigo 342.º, n.º 1, do CC, aplicável ex vi do artigo 2.º, al. d), da LGT, uma vez que era à Administração Tributária que competia o ónus da prova sobre o preenchimento dos pressupostos da reversão do processo de execução fiscal contra a Recorrente, sendo certo que é manifesto que da matéria de facto considerada provada não resulta que a Administração Tributária realizou a referida prova. - V.

Supra n.ºs 26 a 28;

7.ª – A douta decisão recorrida enferma de julgamento de direito, por errada interpretação e aplicação da lei e por violação de lei ao considerar que a Recorrente tem legitimidade enquanto responsável subsidiário, tendo violado o disposto nos artigos 24.º, n.º 1 e 74.º, n.º 1, ambos da LGT e do artigo 342.º, n.º 1, do CC, aplicável ex vi do artigo 2.º, al. d), da LGT. - V. Supra n.ºs 29 a 36.

NESTES TERMOS,

Deverá conceder-se provimento ao presente recurso de revista e, em consequência, revogando-se a decisão do Tribunal Central Administrativo Sul e julgando-se a oposição à execução como procedente, com as legais consequências».

1.2 A Fazenda Pública não apresentou contra-alegações.

1.3 A Desembargadora relatora no Tribunal Central Administrativo Sul ordenou a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Administrativo.

1.4 Recebido o processo neste Supremo Tribunal, foi dada vista ao Ministério Público e a Procuradora-Geral- Adjunta absteve-se de emitir parecer por considerar que «[a]o Ministério Público não compete emitir Parecer sobre a admissão ou não admissão do Recurso de Revista, mas apenas quanto ao seu mérito e só no caso de o Recurso de Revista ser admitido».

1.5 Cumpre apreciar, preliminar e sumariamente, e decidir da admissibilidade do recurso, nos termos do disposto no n.º 6 do art. 285.º do CPPT.

* * *

2. FUNDAMENTAÇÃO

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2.1 DE FACTO

Nos termos do disposto nos arts. 663.º, n.º 6, e 679.º do Código de Processo Civil (CPC), aplicáveis ex vi do art. 281.º do CPPT, remete-se para a matéria de facto constante do acórdão recorrido.

*

2.2 DE FACTO E DE DIREITO

2.2.1 DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO

2.2.1.1 Decorre expressa e inequivocamente do n.º 1 do art. 285.º do CPPT, assim como do n.º 1 do art.

150.º do Código de Processo dos Tribunais Administrativos (CPTA), a excepcionalidade do recurso de revista. Em princípio, as decisões proferidas em 2.ª instância pelos tribunais centrais administrativos não são susceptíveis de recurso para o Supremo Tribunal Administrativo; mas, excepcionalmente, tais decisões podem ser objecto de recurso de revista em duas hipóteses: i) quando estiver em causa a apreciação de uma questão que, pela sua relevância jurídica ou social, assuma uma importância fundamental ou ii) quando a admissão da revista for claramente necessária para uma melhor aplicação do direito.

Ou seja, o recurso de revista excepcional não corresponde à introdução generalizada de uma nova instância de recurso, funcionando apenas como uma “válvula de segurança” do sistema, pelo que só é admissível se estivermos perante uma questão que, pela sua relevância jurídica ou social, se revista de importância fundamental, ou se a admissão deste recurso for claramente necessária para uma melhor aplicação do direito, incumbindo ao recorrente alegar e demonstrar os requisitos da admissibilidade do recurso.

2.2.1.2 Como a jurisprudência também tem vindo a salientar, não basta ao recorrente invocar a existência de erro de julgamento no acórdão recorrido, incumbindo-lhe também alegar e demonstrar a excepcionalidade susceptível de justificar a admissão do recurso, i.e., que se verificam os referidos requisitos de admissibilidade da revista, que a questão que coloca ao Supremo Tribunal Administrativo assume uma relevância jurídica ou social de importância fundamental ou que o recurso é claramente necessário para uma melhor aplicação do direito (cf. art. 144.º, n.º 2, do Código de Processo dos Tribunais Administrativos e art. 639.º, n.ºs 1 e 2, do CPC, subsidiariamente aplicáveis).

2.2.1.3 Na interpretação dos conceitos a que o legislador recorre na definição do critério qualitativo de admissibilidade deste recurso, constitui jurisprudência pacífica deste Supremo Tribunal, que «(…) o preenchimento do conceito indeterminado de relevância jurídica fundamental verificar-se-á, designadamente, quando a questão a apreciar seja de elevada complexidade ou, pelo menos, de complexidade jurídica superior ao comum, seja por força da dificuldade das operações exegéticas a

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efectuar, de um enquadramento normativo especialmente intricado ou da necessidade de concatenação de diversos regimes legais e institutos jurídicos, ou quando o tratamento da matéria tem suscitado dúvidas sérias quer ao nível da jurisprudência quer ao nível da doutrina. Já relevância social fundamental verificar- se-á quando a situação apresente contornos indiciadores de que a solução pode constituir uma orientação para a apreciação de outros casos, ou quando esteja em causa questão que revele especial capacidade de repercussão social, em que a utilidade da decisão extravasa os limites do caso concreto das partes envolvidas no litígio. Por outro lado, a clara necessidade da admissão da revista para melhor aplicação do direito há-de resultar da possibilidade de repetição num número indeterminado de casos futuros e consequente necessidade de garantir a uniformização do direito em matérias importantes tratadas pelas instâncias de forma pouco consistente ou contraditória – nomeadamente por se verificar a divisão de correntes jurisprudenciais ou doutrinais e se ter gerado incerteza e instabilidade na sua resolução a impor a intervenção do órgão de cúpula da justiça administrativa e tributária como condição para dissipar dúvidas – ou por as instâncias terem tratado a matéria de forma ostensivamente errada ou juridicamente insustentável, sendo objectivamente útil a intervenção do STA na qualidade de órgão de regulação do sistema» (Cf., por todos, o acórdão deste Supremo Tribunal Administrativo de 2 de Abril de 2014, proferido no processo n.º 1853/13, disponível em http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/- /aa70d808c531e1d580257cb3003b66fc.)

.

2.2.1.4 Cumpre também ter presente que, como decorre do n.º 4 do art. 150.º do CPTA (hoje, com correspondência no 285.º do CPPT), «[o] erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa não pode ser objecto de revista, salvo havendo ofensa de uma disposição expressa de lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixe a força de determinado meio de prova».

2.2.1.5 Cumpre verificar se o recurso pode ser admitido para melhor aplicação do direito – que foi o requisito de admissibilidade ao abrigo do qual foi deduzido o presente recurso de revista – relativamente à questão que a Recorrente enunciou como sendo a de saber «saber se o gerente de direito que outorga procuração a terceiro para o exercício da gerência facto de uma sociedade, ou seja, para o substituir na prática de actos de administração ou representação da sociedade (devedora originária), deve, ou não, ter legitimidade enquanto responsável subsidiário sem a Autoridade Tributária na instrução do processo pelo órgão de execução fiscal averiguar se efectivamente o gerente de direito exercia de facto a gerência para a qual foi nomeado, bastando a emissão de procuração sem sustentar a prática material de um único acto de gerência pela Recorrente, para efeitos do preenchimento dos pressupostos para que possa operar a reversão contra si, nos termos do disposto no artigo 24.º, n.º 1, alínea b) da LGT».

2.2.2 O CASO SUB JUDICE

2.2.2.1 Estamos perante uma oposição à execução fiscal que, no que ora nos interessa, foi julgada

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improcedente por as instâncias terem considerado que estava demonstrada a gerência de facto da Opoente – cuja prova constitui ónus da Fazenda Pública – e ora Recorrente com base na circunstância de esta, na qualidade de gerente (de direito) da sociedade originária devedora, que resulta do registo comercial, ter emitido uma procuração a terceiros para, em seu nome, representarem e administrarem a sociedade.

A sentença proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra, relativamente à questão que enunciou como a «[d]a ilegitimidade decorrente do não exercício da gerência de facto» e enfrentando a questão de saber se o facto de a Opoente ter outorgado procuração a terceiros para o exercício dos seus poderes de administração e representação da sociedade originária devedora é, por si só, suficiente para que se considere que não exerceu a gerência de facto, respondeu negativamente; pelo contrário, considerou que

«a representação não exclui a proximidade real entre o representado e a vida da sociedade: amplia-a, permitindo-lhe uma proximidade que as limitações físicas à partida lhe vedariam» e que a própria outorga da procuração «constitui mesmo um indicador adicional da proximidade real entre o gerente de direito e a vida da sociedade. De que, longe de se alhear da mesma, procura exercer a gerência mesmo quando não pode estar fisicamente presente»; mais considerou que o entendimento contrário àquele que sustenta

«levaria a uma solução profundamente iníqua», na medida em que o «mandante não poderia ser responsabilizado subsidiariamente porque o mandato inviabilizava à partida uma certa forma de proximidade exigida com a vida da sociedade; e o mandatário não poderia ser responsabilizado porque, embora tivesse essa proximidade, exercia os poderes do mandante e em nome deste», ou seja, «[c]om um simples contrato ou uma simples procuração se frustravam assim os desígnios do legislador»; considerou ainda que «[c]aberia, por isso, à Oponente, nos termos gerais, vir aos autos com factos concretos que permitissem ao Tribunal concluir que, a despeito dos indícios de um exercício efectivo da gerência que a própria procuração contém, a procuração não foi emitida para o exercício da gerência, mas para a desvincular dela. Isto é, que subjacente à vontade declarada na procuração estava uma vontade real de renunciar à gerência. Que depois da sua emissão se desinteressou dos actos de gerência (daquele e de outros que porventura lhe estivessem confiados). Ou que emitiu a procuração porque lhe fora exigido por quem exercia a gerência de facto. Mas nada alegou neste sentido».

A Opoente recorreu dessa sentença para o Tribunal Central Administrativo Sul. No que ora releva, considerou que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra tinha omitido pronúncia «sobre a questão do ónus da prova do órgão de execução fiscal sobre o exercício efectivo das funções de gerente de facto pela Recorrente», bem como que a sentença padece de erro de julgamento quanto à responsabilidade subsidiária pelas dívidas exequendas provenientes de impostos, que assacou à ora Recorrente.

O Tribunal Central Administrativo Sul, pelo acórdão ora recorrido, julgou improcedente a invocada nulidade, considerando que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra apreciou essa questão e decidiu-a no sentido de «não ser de afastar o exercício da gerência, antes pelo contrário, atento o facto de ter sido emitida procuração a favor [dos terceiros, aí nomeados], a quem a Recorrente conferiu amplos poderes para actuar em nome da sociedade».

No que respeita ao erro de julgamento, o Tribunal Central Administrativo Sul entendeu que a sentença recorrida «não merece reparo e que a sua fundamentação exaustiva corresponde ao que reiteradamente a

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jurisprudência dos Tribunais Superiores tem dito em casos como aquele que aqui nos ocupa, ou seja, quando o gerente de direito outorga procuração a terceiro para o exercício da gerência facto de uma sociedade, ou seja, para o substituir na prática de actos de administração ou representação da sociedade (devedora originária), como aqui manifestamente aconteceu»; em síntese, considerando que a gerência de facto constitui requisito da responsável subsidiária dos gerentes – não bastando para responsabilização destes a gerência de direito – e que a AT não beneficia de qualquer presunção relativa ao exercício da gerência de facto, designadamente não podendo presumi-la a partir da gerência de direito, referiu, no entanto, que a inexistência de presunção legal nesse sentido «não tem como corolário que o Tribunal com poderes para fixar a matéria de facto, no exercício dos seus poderes de cognição nessa área, não possa utilizar as presunções judiciais que entender, com base nas regras da experiência comum», designadamente, que «com base na prova de que o revertido tinha a qualidade de gerente de direito e demais circunstâncias do caso, nomeadamente as posições assumidas no processo e provas produzidas ou não pela revertida e pela Fazenda Pública, o Tribunal que julga a matéria de facto pode concluir que um gerente de direito exerceu a gerência de facto, se entender que isso, nas circunstâncias do caso, há uma probabilidade forte (certeza jurídica) de essa gerência ter ocorrido e não haver razões para duvidar que ela tenha acontecido», como tem vindo a afirmar desde há muito o Supremo Tribunal Administrativo (V.g., os seguintes acórdãos da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

- do Pleno, de 28 de Fevereiro de 2007, proferido no processo com o n.º 1132/06, disponível em http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/-/95ea45b1b46109a88025729d005875f5;

- de 10 de Dezembro de 2008, proferido no processo com o n.º 861/08, disponível em http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/-/b3fff1ad6e751ece8025752300525073, este citado expressamente no acórdão recorrido.).

Vem a Opoente, agora, interpor recurso excepcional de revista desse acórdão.

Sustenta, em síntese, que, para que a AT se desincumba do ónus da demonstração de que o gerente de direito exercia a gerência de facto – demonstração imprescindível para que possa responsabilizar o gerente pelas dívidas da sociedade por impostos ao abrigo do disposto no art. 24.º da Lei Geral Tributária (LGT) – não lhe basta invocar a outorga pelo gerente de direito de procuração a terceiro, a quem confere poderes para a administração e representação da sociedade em seu nome, antes sendo ainda necessário que a AT demonstre a efectiva prática material de actos de gerência pelo gerente de direito.

2.2.2.2 Salvo o devido respeito, o que a Opoente pretende não é senão a reapreciação do julgamento da matéria de facto efectuado pelas instâncias.

Na verdade, como bem salientaram quer o Tribunal Administrativo e Fiscal de Sintra quer o Tribunal Central Administrativo Sul, é à AT, enquanto exequente, que compete demonstrar a verificação dos pressupostos que lhe permitam a reverter a execução fiscal contra o gerente da sociedade originária devedora e, entre eles, os respeitantes à existência da gestão de facto, de acordo com a regra geral de quem invoca um direito tem que provar os respectivos factos constitutivos – cf. art. 342.º, n.º 1, do Código Civil (CC) e art. 74.º, n.º 1, da LGT. É que não há presunção legal que faça decorrer da qualidade de gerente de direito o efectivo exercício da função (A única presunção consagrada no art. 24.º, n.º 1, da LGT,

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é a presunção de culpa dos gestores pela falta de pagamento das dívidas tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega tenha terminado no período do exercício do seu cargo, que consta da alínea b).).

Ora, só quem tem a seu favor uma presunção legal escusa de provar o facto a que ela conduz (art. 350.º, n.º 1, do CC).

No entanto, como também realçaram as instâncias, nada obsta a que, provada que esteja a nomeação do oponente para a gerência de direito, o juiz, com base nesse facto e noutros, revelados pelos autos, e fundando-se nas regras da experiência, presuma que o oponente exerceu de facto a gerência. Como ficou dito no acórdão de 10 de Dezembro de 2008 da Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo, proferido no processo com o n.º 861/08, expressamente invocado no acórdão recorrido,

«eventualmente, com base na prova de que o revertido tinha a qualidade de gerente de direito e demais circunstâncias do caso, nomeadamente as posições assumida no processo e provas produzidas ou não pelo revertido e pela Fazenda Pública, o Tribunal que julga a matéria de facto pode concluir que um gerente de direito exerceu a gerência de facto, se entender que, nas circunstâncias do caso, há uma probabilidade forte («certeza jurídica») de esse exercício da gerência ter ocorrido e não haver razões para duvidar que ele tenha acontecido».

Tal presunção, porque não está prevista na lei, é meramente judicial. Como é sabido, há presunções legais, que são as que estão previstas na lei, e presunções judiciais, também denominadas naturais ou de facto, simples ou de experiência, que são «as que se fundam nas regras práticas da experiência, nos ensinamentos hauridos através da observação (empírica) dos factos» (Cf. ANTUNES VARELA, J. MIGUEL BEZERRA e SAMPAIO E NORA, Manual de Processo Civil, 2.ª edição, pág. 502.) (cf. arts. 350.º e 351.º do CC).

Dito de outro modo, o juiz pode concluir com base em presunção judicial, como concluiu o Tribunal Central Administrativo Sul, «que a Recorrente, na qualidade de sócia-gerente da sociedade executada, constituiu dois procuradores conferindo-lhes amplos poderes para a prática de actos de gestão, em nome e representação da sociedade, exercendo, assim, a gerência de facto da devedora originária, ainda que indirectamente».

Ora, o julgamento relativo à gerência de facto e ao concreto funcionamento dessa presunção judicial não pode ser sindicado por este Supremo Tribunal em sede de recurso excepcional de revista porque a tanto obsta o disposto no n.º 4 do art. 285.º do CPPT, que expressamente afirma que «[o] erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa não pode ser objecto de revista, salvo havendo ofensa de uma disposição expressa de lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixe a força de determinado meio de prova».

O recurso não pode, pois, ser admitido por se não verificarem os respectivos requisitos de admissibilidade.

2.2.3 CONCLUSÃO

Preparando a decisão, formulamos as seguintes conclusões:

I - O recurso de revista excepcional previsto no art. 285.º do CPPT não corresponde à introdução

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generalizada de uma nova instância de recurso, funcionando apenas como uma “válvula de segurança” do sistema, pelo que só é admissível se estivermos perante uma questão que, pela sua relevância jurídica ou social, se revista de importância fundamental, ou se a admissão deste recurso for claramente necessária para uma melhor aplicação do direito, incumbindo ao recorrente alegar e demonstrar os requisitos da admissibilidade do recurso.

II - Nos termos do n.º 4 do art. 285.º do CPPT, «[o] erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da causa não pode ser objecto de revista, salvo havendo ofensa de uma disposição expressa de lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixe a força de determinado meio de prova».

III - Tendo as instâncias respeitado o entendimento de que, em ordem a responsabilizar subsidiariamente o gerente pelas dívidas exequendas da sociedade provenientes de impostos ao abrigo do disposto no art.

24.º da LGT, compete à AT demonstrar o efectivo exercício da gerência e de que não existe presunção legal que permita à AT inferir o exercício da gerência de facto da gerência de direito, o n.º 4 do art. 285.º do CPPT expressamente veda ao Supremo Tribunal Administrativo, em sede de recurso excepcional de revista, sindicar o julgamento da matéria de facto por estas efectuado, designadamente quando, com base em regras de experiência (presunção judicial), inferiram a gerência de facto da gerência de direito e das demais circunstâncias do caso.

* * *

3. DECISÃO

Em face do exposto, os juízes da Secção do Contencioso Tributário deste Supremo Tribunal Administrativo acordam, em conferência da formação prevista no n.º 6 do art. 285.º do CPPT, em não admitir o presente recurso.

*

Custas pela Recorrente.

*

Lisboa, 9 de Dezembro de 2021. – Francisco Rothes (relator) - Aragão Seia – Isabel Marques da Silva.

Fonte: http://www.dgsi.pt

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