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A tragetória dos camponeses e camponesas nas legislações de Angola

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Academic year: 2022

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A tragetória dos camponeses e camponesas nas legislações de Angola The trajectory of the peasants by the law of Angola

FRANKE, Natasha1; BEZERRA, Islandia2; ANJOS, Mônica de C. R.3 1.Graduanda em Nutrição/UFPR. E-mail: natasha.franke@gmail.com. 2.

Nutricionista. Doutora em Ciências Sociais. Departamento de Nutrição/UFPR. E-mail:

islandia@ufpr.br; 3. Nutricionista. Doutora Educação Científica e Tecnológica.

Departamento de Nutrição/UFPR. E-mail: monica.anjos@ufpr.br Seção Temática: 6. Políticas Públicas:

Resumo

O período colonial legou, para Angola, aterradora guerra civil. Como consequência, instaurou-se um imbróglio profundo acerca da exploração e apropriação da terra. Este trabalho é atrelado ao projeto “Experiências vividas, construídas e compartilhadas em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional: o papel das compras públicas no Brasil e em Angola“, e tem por fim analisar criticamente a trajetória do camponês angolano em relação às políticas públicas. Focando em legislações que discutem a ocupação da terra, o apoio à mulher do campo e o desenvolvimento de um comércio rural, nota-se a disparidade entre as leis e as demandas da agricultura familiar.

Palavras-chave: agricultura familiar; comércio rural; terras; mulher rural.

Abstract: The colonial age left for Angola, a terrifying civil war. As a result, brought up a deep problem about the exploitation and appropriation of land. This work is linked to the project "lived experiences, built and shared on Sovereignty and Food Security: the role of public procurement in Brazil and Angola," and aims to critically analyze the trajectory of the Angolan peasant in relation to public policy. Focusing on legislation to discuss the occupation of the land, support for rural women and the development of a rural trade, there is a disparity between the laws and the demands of family farming.

Keywords: family farming; rural trade; land; rural women.

Reconhecendo para melhor conhecer: Angola

Angola, assim como o Brasil, foi uma colônia de exploração portuguesa. Sua independência, alcançada somente em 1975, foi também o inicio de uma guerra civil que devastou o país até o inicio dos anos 90. A saída dos portugueses não apagou os anos de desconstruções sociais e políticas, das imposições econômicas e culturais. O partido político que assumiu o poder, e que está, até hoje, no comando do país, era de vocação socialista, mas as heranças deixadas por Portugal — uma

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economia já legitimada na divisão internacional do trabalho, que privilegiava as exportações, uma elite “ocidentalizada” despreparada para comandar, uma educação “desafricanizada” — levaram ao fracasso do socialismo angolano (UNESCO, 2010).

A guerra civil provocou intenso êxodo rural, destruição de infraestruturas e deixou os campos repletos de minas terrestres, mantendo isoladas as comunidades rurais que ali permaneceram. O seu fim, em 1991, deixou o país, que era autossuficiente na produção de alimentos, dependente de importar praticamente todos os itens básicos para alimentação de seu povo. A sociedade rural angolana é, em maioria, composta por camponeses que estão em constante conflito pelo direito à terra e à bens públicos. As terras, muitas vezes inférteis, tanto pelas questões da desertificação natural quanto da exploração inconsequente, aliadas à falta de conhecimento técnico, levam a uma produção debilitada de subsistência. (PAIN,2008).

A partir deste contexto e mediante a participação em um projeto de pesquisa

“Experiências vividas, construídas e compartilhadas em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional: o papel das compras públicas no Brasil e em Angola“, traz- se a problematização sobre a trajetória dos camponeses frente ao acesso às políticas públicas.

Metodologia

Para se chegar às legislações e marcos políticos em Angola foram submetidas buscas vias sites oficiais (de governo) e outros (de Organizações Não Governamentais – ONGs) mediante a leitura de relatórios e legislações e pela base de dados Periódico Capes na busca e artigos científicos, usando como palavras- chave: Angola, legislação, agricultura familiar, história, rural, agrário e camponês. A partir das leituras, foram sendo listadas as legislações pertinentes para que, a partir de uma leitura crítica, fossem feitas análises com referencia no contexto histórico-

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Resultados e discussões: conhecendo a trajetória camponesa em Angola O imbróglio sobre direito à terra teve sua primeira legislação aprovada em 1973, ainda no período colonial, onde os autóctones receberam a concessão de algumas terras. Com a independência, conseguiram recuperar territórios abandonados pelos portugueses, mas logo foram confiscados e nacionalizados pelo Estado, que em 92 aprovou sua primeira Lei de Terras de Angola (ANGOLA, Lei nº. 21, 1992).

Agricultores familiares foram estimulados a formar associações ou cooperativas e receberam a concessão por terras cadastradas e protegidas pela lei como terras comunitárias. Porém, a lei privilegiou fazendeiros e uma elite urbana, dando inicio à configuração latifundiária presente ainda hoje no país (SANTOS; ZACARIAS, 2010).

Mobilizações das comunidades rurais levaram a reforma da lei, que em 2004 reconhece e protege as comunidades rurais, isentando-as de taxas e garantindo a concessão perpétua das terras. Mesmo assim, verifica-se um número maior de concessões de terras para o setor privado do que a delimitação de terras das comunidades, o que resulta em conflitos diretos. Neste contexto, a mulher é prejudicada, tendo em vista as desvantagens nos processos de herança (SANTOS;

ZACARIAS, 2010) (ANGOLA, Lei nº.9, 2004).

A camponesa vem sendo assistida pelo Programa Nacional de Apoio a Mulher Rural, resposta ao processo de feminilização do campo, com a saída dos homens para as indústrias. Dialogando com ações do Programa de Desenvolvimento Comunitário (2008), Programas de Desenvolvimento Rural e Promoção do Comércio Rural e Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (2009). O discurso apresentado confere a impressão de manobra para atingir o desenvolvimento rural, onde a questão do empoderamento da mulher e seu reconhecimento na sociedade surgem como preocupações secundarias (ANGOLA, Decreto presidencial nº. 148, 2012).

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Desde 2005 são verificados marcos políticos que visam o desenvolvimento rural, mas é só em 2014 que o governo aprova a Estratégia Nacional de Comércio Rural e Empreendedorismo, com seu plano de ação Programa de Aquisição de Produtos Agropecuários (PAPAGRO), pensado de forma a integrar de diversos setores do governo, muitos com ações já existentes, com foco na agricultura familiar.

A estratégia engloba o fortalecimento do comércio, das cooperativas, do apoio técnico, além da recuperação e desenvolvimento de infraestruturas e diversificação da produção rural. O PAPAGRO prioriza a aproximação de agentes locais ao camponês, criando vínculos que venham a se perpetuar. A agricultura familiar sendo incentivada, deve gerar uma quantidade crescente de excedentes, garantindo o crescimento econômico e social (ANGOLA, Decreto presidencial nº.82, 2014).

A questão do planejamento dos fomentos está dividida em quatro áreas, sendo que apenas 10% do valor é objetivado para compras diretas do agricultor familiar. Os investimentos em infraestruturas e produtos de suporte à produção levam a uma reflexão sobre os reais agentes beneficiados pelo projeto. Sabe-se que todas as medidas garantem melhorias e são necessárias para promover o crescimento da agricultura familiar, mas é importante discutir os altos investimentos no setor privado (ANGOLA, Decreto presidencial nº.28, 2014).

Algumas conclusões

Consciente das limitações existentes nesta pesquisa, devido ao olhar sobre uma realidade desconhecida de forma empírica e das dissonâncias entre as legislações e as aplicações destas, vale concluir que é imprescindível uma aproximação do Estado com as bases, levando em conta as reais necessidades dos grupos que se pretende beneficiar.

As legislações encontradas por vezes não representam melhorias de caráter

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valorizar os saberes e culturas, o que poderia poupar custos com os setores privados. Além de que, em relação ao meio rural, as legislações sobre a terra e os créditos agrícolas promoveram o enriquecimento do agronegócio, que, segundo Pacheco, Leonor e Henriques (2011), não apresentou resultados que justificassem os investimentos do governo.

Referências

FAO, Food and Agriculture Organization of the United Nations. Faolex – legislative database of FAO Legal Office. Disponível em:

<http://www.fao.org/countryprofiles/index/en/?iso3=AGO> Acesso em: 13 março 2015 História geral da África, VIII: África desde 1935. Editado por Ali A. Mazrui e Christophe Wondji. Brasília: UNESCO, 2010. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000325.pdf>. Acesso em: 19 abril 2015.

PACHECO, F., LEONOR, S. C., HENRIQUES, P. D. Contribuição para o debate sobre a sustentabilidade da agricultura angolana. Universidade de Évora, 2011. Disponível em:

<http://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/9386/1/agricultura%20ela.pdf>. Acesso em:

18 abril 2015.

PAIN, R. S. As características da experiência socialista na agricultura de angola após a independência. OPSIS: Revista do Departamento de História e Ciências Sociais, 2008, Vol.8(10), p.181.

ANGOLA, República. – Lei de Terras; Programa Nacional de Apoio a Mulher Rural;

Estratégia Nacional de Comércio Rural e Empreendedorismo (ENCRE).

SANTOS, G., ZACARIAS, I. Pesquisa sobre diferendos e conflitos de terras e as formas da sua resolução. Angola, 2010. Disponível em: <http://www.adra-angola.org/wp-

content/uploads/2014/03/RELAT%C3%93RIO-DA-PESQUISA-S-DIFERENDOS-E- CONFLITOS-DE-TERRAS-E-AS-FORMAS-DA-SUA-RESOLU%C3%87%C3%83O- 01.4.2010.pdf>. Acesso em: 4 abril 2015.

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