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-o
ESTADO LATINO-AMERICANO
PERANTE A
MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL1
gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAN
LÚCIO FERNANDO OUVER COSTILLA* R E S U M OO te x to a b o rd a a n o v a s itu a ç ã o d o E s
-ta d o m o d e rn o - d o p o d e r p o lític o , n u m
s e n tid o a m p lo - fa c e à s tra n s fo rm a ç õ e s
s o c ia is e à s g ra n d e s m u d a n ç a s a c o n
-te c id a s n o c a p ita lis m o g lo b a liz a d o d o
fin a l d e s é c u lo . A s re fle x õ e s fo ra m
e la b o ra d a s le v a n d o e m c o n s id e ra ç ã o a
n a tu re z a d o fe n ô m e n o n o s p a ís e s e c o
-n o m ic a m e -n te m a io re s d a A m é ric a L a
ti-n a (A rg e n tin a , B ra s il, C h ile , M é x ic o ,
V e n e z u e la ), a b o rd a n d o e m u m o u tro
m o m e n to a a n á lis e d a s itu a ç ã o d o s p a
-ís e s a n d in o s , d a A m é ric a C e n tra l e d o
C a rib e .
• D o u to r, p ro fe s s o r d a U N A M - U n iv e
r-s id a d e N a c io n a l d o M é x ic o .zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
este trabalho abor-do a nova situação do Estado moderno do poder político, num sentido amplo - face às transformações sociais e às grandes mudanças aconte-cidas no capitalismo globa-lizado do final de século. O escrito foi feito pensando na natureza do fenômeno nos países economicamen-te maiores da América Lati-na (ArgentiLati-na, Brasil, Chile, México, Venezuela), dei-xando para um outro mo-mento a análise da situação dos países andinos, da América Central e do Caribe.
A intenção também é refletir sobre as conseqüências históricas das políticas e das me-didas que os países grandes da região da Amé-rica Latina têm aplicado durante vinte anos para se inserir na globalização: ajuste estrutural, apli-cação dum modelo de especialização produti-va industrial exportadora, mercados financeiros emergentes, rebaixamento do preço da rnão-de-obra, paraísos fiscais, transnacionalização fragmentada de áreas locais, reforma do Esta-do, privatizações, redemocratização, etc.
A análise busca refletir sobre os limites, as contradições e as possibilidades das políti-cas que concebem uma inserção positiva dos países da América Latina na globalização, conduzida e apoiada pelo Estado e pela socie-dade. As colocações são feitas após profundas mudanças nas sociedades da região, processo que já demora duas décadas e permite algu-mas apreciações críticas - num momento em que até o Banco Mundial propõe uma
segun-da onsegun-da de reformas do Es-tado para diminuir alguns dos problemas ainda não re-solvidos ou criados pela pri-meira onda.
O meu enfoque do Estado abrange o poder burocrático, as instituições do sistema político e as pró-prias lutas entre grupos so-ciais quando elas incidem nas relações de domínio político.
Para mim, Estado é algo mais que o aparelho executivo de administração
pública isolado. É onmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAc o n ju n to d e in stitu iç õ e s c e n tr a liza
-d a s -d e p o -d e r , -d e -d ir e ç ã o e -d e -d o m ín io p o lític o n a so c ie d a d e , assim como a própria correla-ção social de tais instituições perante as dire-trizes da acumulação de capital.
O E sta d oé a n te s d e tu d o u m a r e la ç ã o d e d o m ín io e n tr e c la sse s e g r u p o s so c ia is. O p o d e r e xp r e ssa e ssa r e la ç ã o n o â m b ito d o in te -r e sse c o m u m , c o m o u m a d e fin iç ã o g e r a l d e d o m ín io . Daí que se expresse nas instituições sociais de participação, representação e medi-ação política, assim como nos órgãos de direi-to, segurança, propaganda, e cultura política. O seu estudo é relevante devido ser uma insti-tuição - conjunto centralizado de instituições - de poder político, cuja concentração de po-der social e capacidade dirigente e dominante na sociedade são maiores. Também pelo fato de que ainda hoje todas as questões importan-tes da sociedade sempre passam por uma defi-nição do Estado ou por lutas dentro ou contra o Estado, embora na realidade sejam lutas en-tre as grandes ou pequenas classes sociais pela
manutenção, aumento ou diminuição de seu poder, sua hegemonia e da sua dominação.
Sabemos que existem outros enfoques do Estado que o entendem exclusivamente como uma instituição burocrática administra-tiva, e que consideram que seu papel é exe-cutar de maneira centralizada as políticas que resultam do jogo de forças sociopolíticas no sistema político. Tal visão do Estado dificulta entender duas questões: primeiro, que o Es-tado mesmo é um poder concentrado e cen-tralizado maior e diferente dos outros poderes fragmentados existentes na sociedade. Nesse plano é a sede real do poder político, poder que se manifesta nas políticas, projetos e ins-tituições dominantes; segundo, que o Estado sintetiza todas as lutas sociais pelo poder que se produzem na sociedade moderna, além de ele mesmo expressar, qualificadamente, uma relação de dominio entre classes (relação de capital).
A
GLOBALlZAÇÃO E A MUNDIALlZAÇÃO DE CAPITALFalar hoje de globalização é uma refe-rência necessária nas ciências sociais.
o
nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp r o cesso d e g lo b a liza çã o p a -r ece se-r a ssu n to o b -r ig a tó -r io h o je em to d otip o d e p u b lica çã o o u d eb a te. P o r ma is q u e a p a la vr a ven h a se d esg a sta n d o , a r ea lid a d e so cio eco n ô mica e cu ltu r a l d este p r o cesso n ã o p o d e ser elu d id a p o r cien tista s so cia is in ter essa d o s em co m-p r een d er ta n to a n a tu r eza d a s n o va s fo r ma s d e p r o d u çã o e co n su mo q u a n to
a s ca r a ter ística s d o s a g en tes en vo lvid o s ("Editorial", in: So cied a d e e E sta d o , vol.
xi, ngfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA2 1, janeiro-junho 1996. Departa-mento de Sociologia da Universidade
de Brasilia, p. 5).
A idéia básica é que o mundo todo vi-rou o espaço de referência para a produção e para as transações comerciais, financeiras e até informáticas, culturais e políticas. Mas nem todos os cientistas têm a mesma idéia do as-sunto. Torna-se necessário determinar com
pre-8 R E V IS T A D E C lt:N C IA S S O C IA IS v . 28 N .1 /2 1997
cisão o conteúdo desse fenõmeno que amea-ça vir a r d e ca b eça p a r a b a ixo to d o oco n h eci-men to d o mu n d o so cia l q u e tín h a mo s a té o s n o sso s d ia s (Ianni, 1996).
A imagem da globalização projetada pelos grandes meios de comunicação de mas-sas fala de desmanchamento das fronteiras fi-nanceiras, econõmicas e comerciais dos países, duma nova organização mundial da produ-ção - internacionalizaprodu-ção produtiva - de uma modernização radical das empresas em todos os lugares, do acesso generalizado a objetos de consumo, à informação e à intercomu-nicação mundial, duma flexibilidade trabalhis-ta que muda o papel do trabalhador, dum novo desenvolvimento sociocultural guiado por uma nova "weltenchauung" (visão do mundo) na qual os homens viram universais na sua relação social, tu d o so b a so mb r a a co n -ch eg a n te d o s va lo r es a b so lu to s e eter n o s d a li-b er d a d e d e mer ca d o e d o E sta d o p o lítico d emo cr á tico lib er a l.
Na verdade, a imagem "globalizada" da globalização é a unilateralização "boa" de um fenômeno contraditório, cujos efeitos negati-vos nem sempre são reconhecidos pelos pro-pagandistas das novidades. De fato, a crítica do fenômeno tem demonstrado que a globalização põe na mesa a dominação mun-dial duma nova oligarquia industrial e finan-ceira, uma relação econômica preferentemente entre os países desenvolvidos, uma margina-lização nacional da maioria dos países subde-senvolvidos, uma nova exclusão social de amplos setores de pobres e desempregados, a submissão do mundo ao poder político, finan-ceiro e militar dos Estados Unidos, a extensão da irracionalidade na exploração da natureza pelos interesses industriais e uma maior alie-nação dos homens ao consumo suntuoso (San-tos, 1993; Sousa San(San-tos, 1995).
co n co r r ên cia a mb ien ta l q u e a celer a essesp r o -gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
c e s s o szyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(Ianni, 1993', p. 23/24). Mas, o que é a globalização do ponto de
vista mais rigoroso duma perspectiva fundamen-tada na crítica da economia política? É um fenô-meno multilateral que se baseia sobretudo numa nova forma de organização da economia mundi-al, que pode ser conceituada junto a François Chesnais com a noção de mundialização do ca-pital:fa la se, n a ver d a d e, n u ma n o va co n fig u r a -çã o d o ca p ita lismo mu n d ia l e n o s meca n ismo s q u e co ma n d a m seu d esemp en h o e su a r eg u la çã o (Chesnais, 1996, p. 13).
Com efeito, a globalização é uma reestruturação econômica, política, cultural e comunicacional do mundo, conseqüência da mundialização do capital, quer dizer, uma nova organização do capitalismo de finais de século.
Tr a ta -se d e u m d a d o está g io d e d esen vo lvimen to d o ca p ita lismo , q u e se ca r a cter iza p o r u m a p r o fu n d a men to d a co n cen tr a çã o d o ca p ita l e d e u ma n o va fo r ma d e o r g a n iza çã o d a s emp r esa s, p elaCBAfin a n c e ir iz a ç ã o e p ela fr a g men ta
-çã o ... é a n tes d e tu d o u m p r o cesso q u e o co r r e n o p la n o d a o r g a n iza çã o in d u s-tr ia l, co mo r esp o sta d efen siva d a s em-p r esa s mu ltin a cio n a is a o fim d a o n d a
la r g a d e exp a n sã o ca p ita lista o co r r id a n o in ício d o s a n o s 70(Marques, 1996).
Na nova forma do capitalismo o pro-cesso de internacionalização vai mais longe que o que acontece no plano do comércio exte-rior: inclui uma integração horizontal e verti-cal dos capitais (pela fusão, absorção e troca dos grandes capitais) e das bases industriais e financeiras, até então predominantemente na-cionais - o que não significa que a concorrên-cia desapareça.
Para Ruy Mauro Marini, a mundialização de capital é uma reafirmação da lei do valor num espaço mundial e já não mais nacional:
A g lo b a liza çã o n ó s a en ten d e-mo s co e-mo u ma r ea fir ma çã o d a s ten -d ên cia s eco n ô mica s fu n d a men ta is, e, em p a r ticu la r , d a lei d o va lo r , q u e
vi-n h a m sen d o o b sta cu liza d a s p o r u ma sér ie d e p r á tica s eco n ô mica s e p o líti-ca s, q u e d ificu lta va m op r o cesso d e cir -cu la çã o d e mer ca d o r ia s e ca p ita is. O b stá cu lo s q u e p a r tia m d a s p r á tica s d e mo n o p ó lio , p o r exemp lo , o u d a s p o líti-ca s p r o tecio n ista s ... A g lo b a liza çã o é u m p r o cesso eco n ô mico q u e leva à b u s-ca d e fo r ma s d e in teg r a çã o eco n ô mi-ca ... (Marini, 1993, p.l0).
No mesmo sentido, Sotelo delimita tal reestruturação como a quarta fase do processo da internacionalização do capital:
Na eta p a d o imp er ia lismo co n -temp o r â n eo 0 9 4 5 -1 9 8 2 ) ver ifica -se a in ter n a cio n a liza çã o d a p r o d u çã o e d o p r o cesso d e tr a b a lh o a p a r tir d o seg u n -d o P ó s-g u er r a . A n o ssa h ip ó tese é q u e a p a r tir d a cr ise d a d éca d a d e o iten ta , a fo r ma q u e a ssu me a in ter n a cio n a
liza çã o d o ca p ita l n a ép o ca co n temp o r â -n ea é a g lo b a liza çã o eco -n ô mica , mesma q u e n ó s en ten d emo s co mo a q u a r ta fa se d a in ter n a cio n a liza çã o d o ca p ita l, o n d e se ver ifica a g en er a liza çã o d o â mb ito d e vig ên cia d a lei d o va lo r n u ma esca la u n iver sa l (Sotelo, 1996, p. ).
A acumulação mundial de capital do-mina de maneira crescente e submete todos os processos nacionais e locais de acumulação às suas diretrizes. Isso, seja via submissão pe-las corpo rações transnacionais dos processos produtivos, comerciais e financeiros mais atra-sados, seja pela terceirização, seja pelo isola-mento planejado dos concorrentes, e até pela violência contra as empresas ou os núcleos sociais e políticos que resistem. O resultado é a queda das médias e pequenas empresas não produtivas e não integradas; a incorporação subordinada de alguns países e regiões; a ex-clusão e marginalização de outros e o enfra-quecimento do poder sindical e contratual dos operários. O fenômeno da mundialização do capital e da organização produtiva não impe-de que, em níveis locais e nacionais, alguns processos econômicos de acumulação e
cado continuem tendo uma grande presença e importância, com uma expressiva participação de forças capitalistas ou trabalhistas locais, embora subordinados à dinâmica mundial.
A maioria dos estudiosos concorda com a idéia segundo a qual dois fenômenos pos-sibilitaram a mundialização do capital: primei-ro, a reestruturação produtiva, organizativa, trabalhista e de gestão do capitalismo con-temporâneo. Isso foi obtido a partir da revo-lução tecnológica-informática-eletrônica, da centralização do capital que resulta da interpenetração, por fusão ou compra entre os oligopólios industriais e financeiros mun-diais; da apropriação do valor baseada no planejamento, organização e administração mundiais das empresas transnacionalizadas, e pela exploração concomitante de um novo trabalhador intelectual no mundo da produ-ção e da organizaprodu-ção empresarial, junto à mão-de-obra barata e semi-analfabeta dos países
subdesenvolvidos.nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E ssa cr ise vem sen d o en fr en ta d a a tr a vés d e u m p r o cesso d e r eestr u -tu r a çã o p r o d u tiva , q u e se fa z a co m-p a n h a r d e n o va s tecn o lo g ia s, q u e p er mitem u ma p r o d u çã o flexível ca p a z d e sa tisfa zer a s n o va s exig ên cia s d o mer ca d o .... E ssa r eestr u tu r a çã o d o p r o -cesso d e p r o d u çã o d e mer ca d o r ia s, d e seu s elemen to s técn ico s, p a sso u a exig ir u ma n o va fo r ma d e co n tr a ta çã o e g er en cia men to d a fo r ça d e tr a b a lh o ...CBA
É n esse co n texto d e r eestr u tu r a çã o P r o
-d u tiva q u egfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo s n eo lib er a is en co n tr a m mu n içã o p a r a d ifu n d ir su a d o u tr in a e
seu s p r o g r a ma s d e p o lítica eco n ô mica (Teixeira, 1996, p. 214, 215).
o
segundo fator foi a reestruturação dos Estados, feita através dos mecanismos de ajus-te estrutural e reforma do Estado, o que facili-tou a expansão dos capitais financeiros e industriais e a implantação de seu domínio político e econômico mundial.Concluindo tudo o que foi dito até aqui, podemos dizer que a mundialização do capi-tal é uma nova fase do capicapi-talismo (sem dúvida
10 R E V IS T AD E C I~ N C IA S S O C IA IS v .2 8 N .1 /2 1997
uma continuação e superação do imperialis-mo do início do século e do imperialisimperialis-mo do Pós-guerra), na qual a universalização da lei do valor vence as barreiras nacionais, e a con-centração e centralização do capital e da pro-dução se fazem sem os obstáculos e limites tradicionais do Estado nação.
A reorganização produtiva tem sido dirigida pelo capital financeiro, o que permi-tiu os processos de venda, compra e fusão dos capitais empresariais. Com as bolsas de valo-res o capital financeiro conseguiu uma auto-nomia relativa surpreendente, até chegar a ser um fenômeno dominante no desenvolvimento econômico mundial.
Neste artigo nos limitaremos a estudar os rebatimentos políticos da mundialização do capital, embora isso não signifique que o fe-nômeno fique reduzido à economia e à políti-ca. No âmbito sociocultural e das comunicações a globalização tem uma dinâmica própria :U m d o s elemen to s ca r a ter ístico s d a g lo b a liz a ç ã o n a ú ltima eta p a d o p r o cesso d e in ter n a cio -n a liza çã o d o ca p ita l é a u tiliza çã o ma ssiu a q u e a ssu mem o s sistema s d e co mu n ica çã o e in fo r -ma çã o . O mesmo a co n tece co m a id eo lo g ia e o p en sa men to (Sotelo, 1996, p. 25).
A cultura tem sua própria dinâmica que uma vez que começa a caminhar leva para ro-tas singulares inimagináveis e influi na própria reprodução social, assim como na dinâmica econômica e política.
Também no âmbito da cultura se pre-cisa um enfoque complexo da globalização, incluindo o local como espaço de resistência e de reformulação da tendência homoge-neizante: Oq u e p a r ece cla r o é q u e n ã o se tr a
-ta d e co n sid er a r o g lo b a l e o lo ca l co mo d ico to mia sep a r a d a n o esp a ço o u n o temp o , e sim q u e o sp r o cesso s d e g lo b a liz a ç ã o e lo ca li-za çã o sã o in d isso ciá veis n a fa se a tu a l (Featherstone, 1996, p. 11).
procurarem uma aproximação das economias, do poder e das culturas, e um desmanchamento de fronteiras que se vislumbra como o grande caminho da evolução (ou da revolução) hu-mana. Esta mundialização humanista, todavia, seria oposta e contrária à globalização tal como hoje existe.
As
MUDANÇAS NO DOMíNIO POLÍTICOCom a mundialização do capital muda-ram as relações de dominação; o polo econõ-mico e político dominante no mundo passou a ser o grande capital transnacional: os
oligo-pólios mundiais.nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAAs co r p o r a çõ es mu ltin a cio n a is e oca p ita l fin a n ceir o er g u em-se co mo a s en
ti-d a ti-d es su p r a n a cio n a is ca p a zes d e r eu n ir a fo r -ça p o lítico -eco n ô mica d o g r a n d e ca p ita l n u ma esca la p la n etá r ia (Sotelo, 1996, p. 28).
Os oligopólios são a expressão maior do processo de centralização e concentração do capital; eles dominam e dirigem a acumula-ção mundial. A sua força cresceu, nos últimos vinte anos, na mesma proporção em que se reorganizou a economia mundial, enfraqueceu o poder dos capitalistas locais e a força dos trabalhadores associados diminuiu.
A concorrência de grandes fundos de pensão na especulação financeira tem leva-do muitos pesquisadores a pensar que o capital financeiro atual está disperso, desa-gregado, fragmentado e que não existe um centro que domine a dinâmica da mundia-lização do capital. Esquecem dados funda-mentais que mostram a grande concentração e centralização do capital nas grandes corporações transnacionais:
D e fa to , sã o a s g r a n d es co r p o -r a çõ es mu ltin a cio n a is a s q u e d o min a m a s g r a n d es emp r esa s n o mu n d o ca p ita -lista a tu a l. C o m efeito , a s emp r esa s tr a n sn a cio n a is co n tr o la m o q u e é o
n ú cleo d u r o d o p r o g r esso tecn o ló g ico e os ciclo s d a s in o va çõ es em in d ú str ia s mu n d ia is co mo a d e semico n d u to r es, eletr ô n ica e teleco mu n ica çõ es.CBAÉ a ssim q u e n a meta d e d a d éca d a d e o iten ta , ca lcu la -se q u e 24 emp r esa s tr a n
s-n a cio s-n a is g er a mgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA7 5 % d a p r o d u çã o mu n d ia l ... Além d e tu d o , este p r ed o
mí-n io d a s g r a n d es co r p o r a çõ es mu l-tin a cio n a is éop r o d u to d o s p r o cesso s d e co n cen tr a çã o e cen tr a liza çã o d o ca p ita l d o p er ío d o a n ter io r . P r o d u zse, a tr a -vés d e fu sõ es, co mp r a e ven d a d e co mp a n h ia s, a q u isiçõ es e a co r d o s d e co -o p er a çã -o . N-o s E sta d -o s U n id -o s d a Amé-r ica d o No r te, en tr e 1985 e 1991 a p a r ticip a çã o d o s cin co ma io r es g r u p o s emp r esa r ia is p u lo u d e q u a se 8 0 % p a r a q u a se 9 7 % n o r a mo d o s eletr o d o mésti-co s; n o seto r d e tr a n sp o r te osa lto fo i d e 6 1 % p a r a 7 5 % ...E o q u ea co n tecea q u i se r ep ete co m ma io r fo r ça n o s seto r esfi-n a esfi-n ceir o , b a esfi-n cá r io e d o s ser viço s, o esfi-n d e a s g r a n d es co r p o r a çõ es têm a ssen ta d o su a h eg emo n ia e seu s n eg ó cio s. A co n -cen tr a çã o e cen tr a liza çã o d e ca p ita l é a in d a ma io r n a Amér ica La tin a p o r p a r te d a s co r p o r a çõ es e d a s g r a n d es
emp r esa s mo n o p o liza d a s ...(Sotelo, 1996, p.32/33).
As ciências sociais têm muito a fazer ainda para conhecer os principais grupos in-dustriais-financeiros e para entender as carac-terísticas dos oligopólios: quem são, onde estão, onde investem e como dominam.
Assim, em seu r ela tó r io d e 1 9 9 4 , a D ivisã o so b r e F ir ma s Tr a n sn a cio n a is d a U NC TAD en u mer o u a existên cia d e q u a se 3 7 mil mu ltin a cio n a is, p a r a es-cla r ecer , tr ês p á g in a s a d ia n te, q u e o es-sen cia l d a a n á lise ir ia se limita r a o s cem g r u p o s ma is tr a n sn a cio n a is ... E m 1 9 9 0 , esses cem g r u p o s co n cen tr a va m em su a s mã o s cer ca d e u m ter ço d o mo n ta n te to ta l mu n d ia l d e IE S; p o ssu ía m a tivo s d e va lo r a cu mu la d o d a o r d em d e 3 ,2 tr ilh õ es d e d ó la r es, sen d o cer ca d e 4 0 % situ a d o s fo r a d o p a ís d e o r ig em. Sã o , co m p o u ca s va r ia çõ es, os mesmo s q u e en co n tr a mo s n a lista d o s 3 0 0 ma io r es g r u p o s in d u str ia is d o mu n d o , p u b lica d a
a n u a lmen te p ela r evista Fortune, e q u e fig u r a m, a o la d o d o s g r a n d es b a n co s e
in stitu içõ es fin a n ceir a s, en tr ezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAos mil ma io r es g r u p o s mu n d ia is, cu jo in ven
-tá r io co stu ma ser feito p ela r evista Business Week. E ssa s sã o a s mu ltin a cio n a is d e ver d a d e (Chesnais, 1996, p.72,73).
Não obstante a complexidade que os oligopólios têm adquirido e a diversificação das suas inversões, ainda é possível reconhecer neles o ramo originário das suas atividades. Para exemplificar, a seguir listamos os mais importantes. Entre os do ramo de petróleo, estão: Ro ya l D u tch Sh ell, E xxo n , Br itish P etr o leu m,CBAM o b il, E lfA q u ita in e ; provenientes do ramo dos automóveis estão: F o rd , G en er a l M o to r s, F ia t, Vo lkswa g en , To yo ta , com raízes no ramo da informática e da eletrônica: IBM , P h ilip s E lectr o n ics, M a tsu sh ita E lectr ic, Siemen s, So n y, M itsu b ish i, G en er a l E lectr ics, Alca tel Alsth o m; do ramo da química: D u P o n t, Ba yer , Rh ô n e P o u len c, BASF , F er r u zi M o n ted iso n , do ramo agro-alimentar, se encontram: Nestlé, U n ilever , P h ilip s M o r r is , de mecânica pesada: Asea Br o wn Bo ver i; de comércio: M itsu i; da imprensa e editorial: News C o r p o r a tio n , de ta-baco: Ba t In d u str ies.
O grau de domínio que os grupos oligopólicos têm obtido na produção em seu ramo é muito significativo: nos automóveis 12 empresas respondem por 78% da produção mundial; em processamento de dados, 10 em-presas respondem por 100%; em material mé-dico, 7 empresas respondem por 90%; em produtos petroquímicos: (polipropileno), 8
em-presas respondem por 50gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA% ; em polistireno, 8 empresas respondem por 69%; em peças de
vidro para automóveis, 7 empresas respondem por 88%, e em pneus, 6 empresas respondem por 85% da produção mundial.
Os grupos oligopólicos têm origem e base nacionais, embora seu alcance e dimen-são atual sejam claramente mundiais.
... a co mp a n h ia mu ltin a cio n a l in va r ia velmen te co meço u p o r se co n sti-tu ir co mo grande empresa n o p la n o n a cio n a l, oq u e imp lica , a o mesmo tem-p o , q u e ela é r esu lta d o d e u m tem-p r o cesso ,
12 R E V IS T A D E C i~ N C IA S S O C IA IS v . 2 8 N .1 /2 1 9 9 7
ma is o u men o s lo n g o e co mp lexo , d e co n cen tr a çã o e cen tr a liza çã o d o ca p ita l, e q u e, fr eq ü en temen te, se d iver sifico u , a n tes d e co meça r a se in -ter n a cio n a liza r ; q u e a co mp a n h ia mu ltin a cio n a l tem u ma origem nacio-nal ,d e mo d o q u e osp o n to s fo r tes e fr a -co s d e su a b a se n a cio n a l e a a ju d a q u e tiver r eceb id o d e seu E sta d o sã o co mp o -n e-n tes d e su a estr a tég ia e d e su a co mp etitiu id a d e; q u e essa co mp a n h ia é, em g er a l, um grupo, cu ja fo r ma ju r íd i-ca co n temp o r â n ea é a d e h o ld in g in ter -n a cio -n a l; e p o r fim, q u e esse g r u p o a tu a em esca la mu n d ia l e tem estr a tég ia s e u ma o r g a n iza çã o esta b elecid a s p a r a isso(Chesnais, 1996, p. 73).
Em segundo lugar, são grupos técnicos financeiros não atados a urna indústria ou ramo determinados, ainda que tenham origem neles.
No ca so d e u m g r u p o in d u str ia l, a va lo r iza çã o - e p o r ta n to oa u men to d o ca p ita l, d e u m p er ío d o a o u tr o , b a -seia -se, em p r imeir o lu g a r , n a o r g a n i-za çã o e n o a cio n a men to d a fo r ça d e tr a b a lh o a ssa la r ia d a n a p r o d u çã o (ta n -to d e mer ca d o r ia s co mo d e ser viço s). E m seg u n d o lu g a r , a b r a n g e o p er a çõ es h o je ca d a vez ma is n u mer o sa s, ejetu a d a s n o s mer ca d o sfin a n ceir o s. H á a in d a o u tr a s fo r ma s d e va lo r iza çã o , q u e têm o r ig em n a a p r o p r ia çã o d e r eceita s, fo r a d e q u a lq u er in ter ven çã o n a p r o d u çã o (Chesnais, 1996, p. 81).
Com o desenvolvimento dos grupos oligopólicos, a nova forma de gestão global das empresas, a reorganização administrativa mundial, a reestruturação produtiva, a flexibilização do trabalho, as novas comuni-cações internacionais e os centros financeiros, não são somente questões
capí-tal, como foi dito, tem ramificações na indús-tria, no comércio, nos serviços e nas finanças simultaneamente) que, embora, se caraterizem por fenômenos de interpenetração e fusão, têm um grau de fragmentação e concorrência entre eles.
Os oligopólios são um poder na pro-dução e nas finanças, em primeiro lugar. Po-rém, nas indústrias, no mercado, nos bancos e nas bolsas de valores, determinam o movimento global da economia, do Norte ao Sul e da América à Ásia, passando pela Europa; deci-dem os principais investimentos internos e externos, tanto diretos como indiretos; dirigem a dinâmica econômica mundial, os centros de ciência e pesquisa, e também a inclusão e a
exclusão nessa dinâmica de trabalhadoresgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA,
empresas e países. Os capitalistas oligopólicos transnacionais são a nova classe forte na globalização. O que não quer dizer que já te-nham deixado de existir outras classes domi-nantes, embora subordinadas, nos países de capitalismo atrasado.
Os próprios capitalistas nativos da Amé-rica Latina, que antes protegiam seu direito à acumulação e à dominação nacional, tiveram que decidir entre concorrer ou subordinar-se. E decidiram ser melhor ficar como parceiros menores, associados, como se pode constatar na unanimidade com que têm adotado as po-líticas de ajuste estrutural neoliberal.
Com a mundialização do capital, qua-se não há mais lugar para capitais nacionais fortes. O capital foi reformado pelos oligopólios transnacionais, via o processo de concentração e centralização de capital. Eles dominam os processos de acumulação, em-bora essa acumulação desenvolva-se princi-palmente nos países da Tríade (Estados Unidos, Europa, Japão) e áreas e países in-corporados ou integrados. Nos países inseri-dos de forma subordinada (Brasil, Argentina, Chile, México, República Dominicana), o ca-pital oligopólico absorve, concorre ou dissol-ve o capital nacional e local. Nos países ainda não inseridos, a dinâmica econômica vira autárquica e reduzida (Peru, Bolívia, Colôm-bia, América Central, etc) e a tendência à marginalização internacional é maior.
o
PAPEL POLíTICO DO ESTADOCom relação às expressões institucio-nais da dominação, é lugar comum considerar que a globalização enfraquece e afeta direta e negativamente o Estado nacional (Ianni, 1993; Panitch, 1994; Oliver Costilla, 1994; Sader, 1995; Marques, 1996).
O filósofo Manfredo Araújo de Oliveira diz que na globalização o Estado se tem
torna-do desnecessário para o capital: ...nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAtr a ta -se d a a r ticu la çã o , em n ível mu n d ia l, d o p r ó p r io p r o
-cesso p r o d u tivo , q u e, a ssim, se fa z ca p a z d e u ma a çã o ca d a vez ma is g lo b a l, to r n a n d o o E sta d o n a cio n a l d esn ecessá r io p a r a o ca p ita l (Oliveira, 1996, p. 164).
No mesmo sentido, o economista José Soares Teixeira fala da propagação da idéia da mo r te d o E sta d o , situação que resultaria da transnacíonalização do sistema capitalista de produção: D e so r te q u e, a ssim sen d o , d izem, a tr a sn a cio n a liza çã o d o sistema ca p ita lista d e p r o d u çã o r ep r esen to u a mo r te d o E sta d o , istoCBA
é , seu p o d er d e fa zer p o lítica s eco n ô mica s e so cia is d e fo r ma a u tô n o ma e so b er a n a (Teixeira, 1966, p.196).
O que aconteceu com o Estado nacio-nal em geral, e com os nossos Estados latino-americanos em particular, a partir das grandes mudanças do capitalismo de final de século XX? O próprio capital teria por acaso substitu-ído o Estado Político? Desapareceu a política como esfera social própria e relativamente au-tônoma, ainda que fetichizada? Acabou a dife-rença fenomênica entre economia (o mercado) e política (o Estado)? A economia realmente assimilou (ingeriu) a política?
As coisas são, na realidade, mais intri-cadas. Esses gigantescos oligopólios industri-ais e financeiros precisam dos Estados nacionindustri-ais para desenvolver a sua dominação. Eles não têm a centralização política, a burocracia ad-ministrativa, os aparelhos de segurança, edu-cação e propaganda, as instituições, projetos e mediações políticas, ideológicas ou culturais, necessários ao exercício do poder político. Por isso também na globalizaçào eles precisam dos Estados "previamente reformados e adequados" à sua dominação.
Os próprios oligopólios se associam e desenvolvem algumas instituições de coorde-nação e de elaboração de políticas gerais a serem executadas pelos Estados. Eles desenham as novas políticas econõmicas e sociais mun-diais de ajuste estrutural e reforma do Estado, mas não as detalham nem as executam. Os oligopólios desenvolvem sua dominação e sua hegemonia através dos Estados nacionais dos países industrialmente desenvolvidos, sede desses oligopólios, e dos Estados nacionais "reformados" dos países subdesenvolvidos. Eles precisam das burocracias executivas dos Esta-dos e Esta-dos grupos e partiEsta-dos políticos nacio-nais e internacionacio-nais, que defendem e projetam o programa ideológico e político neoliberal.
A reflexão feita permite delimitar me-lhor o sentido possível da idéia de Manfredo Araújo de Oliveira, segundo a qual o Estado nacional na globalização é desnecessário para o capital (Teixeira, 1996, p. 164).
Em que sentido realmente o Estado nacional torna-se desnecessário para o capital? Só no sentido de que o capital não precisa mais do Estado para organizar diretamente a produção e o mercado, nem para inserir eco-nomicamente os sistemas produtivos locais na economia mundial. Uma interpretação unila-teral que sustente a idéia de que a dominação dos oligopólios transnacionais não precisa do
Estado nacional está errada. Os oligopólios não substituem os Estados, nem fazem sempre po-lítica pública e não participam abertamente da representação política nos Estados. Assim, a idéia de morte do Estado só pode ser entendi-da no sentido de que os Estados nacionais não
podem desenvolver políticas autônomas enmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAso -beranas, nunca num sentido absoluto.
Apesar dos oligopólios não acederem nem conduzirem diretamente o poder políti-co, a sua influência sobre o Estado se faz via seu domínio sobre a acumulação de capital, e sobre o dinamismo dos negócios, assim como através de seu poder sobre as novas burocra-cias executivas dos Estados, autonomizadas, centralizadas, fechadas e hierarquizadas, que têm acedido ao poder nos dois últimos decê-nios, na qualidade de elites tecnocratas com um programa neoliberal. O ajuste estrutural e
14gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAR E V IS T A D E 0 1 :N C IA S S O C IA IS v.2 8 N .1 /2 1 9 9 7
a reforma do Estado fazem parte da estratégia de domínio dos oligopólios financeiros nos anos noventa (Fiori, 1993).
As oligarquias mundiais, via o Banco Mundial e o grupo "dos Sete", desenharam e condicionaram a reforma do Estado como um meio de garantir o êxito da política de mu-danças neoliberais, e as burocracias a incor-poraram ao seu programa político. Isso explica o famoso paradoxo político de que a reforma neoliberal, de redução do Estado, seja pro-movida pelas próprias burocracias do Estado CFiori, 1993).
Os oligopólios transnacionais dominam socialmente, embora o poder político esteja nas mãos das grandes burocracias políticas do Es-tado, especialmente dos poderes executivos. O poder político dirige as instituições e impõe as suas decisões, seja impondo-se autoritaria-mente, seja pela via de negociações com múl-tiplas formas de representação e participação políticas que conformam as nossas democraci-as. Essas formas democráticas são verdadeiras ("ilusões" verdadeiras), mas não têm a mesma capacidade de decisão que as obscuras buro-cracias fechadas, modernizadas pela técnica e protegidas pela separação entre economia e política no capitalismo.
Além do controle político e de segu-rança, as burocracias do Estado moderno to-maram para si as determinações sociais que têm a ver com a dinâmica econômica, isto é, com a regulação social da acumulação de ca-pital.CBAÉ n o p r o g r a ma eco n ô mico e n a s p o lítica s eco n ô mica s (e so cia is) d o E sta d o q u e se esco n -d e a r ea lfilia ç ã o o lig o p ó lica d o E sta d o mo d er -n o . Daí a importância dos Ministros da Economia, Fazenda, Indústria e Comércio nos corpos burocráticos de hoje. Sem dúvida, na maioria dos países do mundo o poder executi-vo tem nas suas mãos, em maior ou menor grau, a política econômica geral, de investi-mentos, cambial, de juros, de empréstimos, de gastos sociais, de impostos, de exceções fis-cais, de comércio interior e exterior, de contratação e pagamento das dívidas interna e externa, etc.
desenvolvi-dos e os organismos financeiros transnacionais. O novo Estado reformado latino-americano é um Estado que compartilha suas decisões bá-sicas com tais organismos políticos e financei-ros. Nas últimas duas décadas tem surgido na região um poder estatal supranacional emer-gente, ainda que não tenha sido estabelecido formalmente. Algumas das funções de caráter nacional dos Estados latino-americanos passa-ram para esse novo Estado transnacional emer-gente, cuja sede são os Estados Unidos da América do Norte.
Embora caiba ainda às burocracias exe-cutivas definir a política econômica e o con-trole da governabílidade dos segmentos subordinados e excluídos da sociedade, as re-formas do Estado, feitas nas últimas duas dé-cadas, tiraram das suas mãos parte importante da regulamentação da acumulação, além da propriedade de um patrimônio público subs-tantivo de valor estratégico, formado por em-presas públicas gigantescas. Daí se explica o fato de que as burocracias dos Estados moder-nos não tenham posto a reforma do Estado à discussão pública. Nessa determinação nem os parlamentos normalmente interferem. Nos ca-sos inusitados e escassos em que os Estados têm colocado para discussão e decisão da po-pulação alguns aspectos do ajuste estrutural ou da reforma neoliberal - como foi o caso das privatizações de empresas públicas no Uru-guai, ou da importação livre de produtos agropecuários, na França - o resultado tem sido que a população rejeita a reforma.
A dominação dos oligopólios transna-cionais nas sociedades modernas, a suposta "morte do Estado" e "a desnacionalização do Estado" têm levado alguns sociólogos a fala-rem do advento da era da neoligarquização política do Estado moderno (Ruiz, 1995), cuja conseqüência seria o predomínio crescente de um novo autorítarismo do Estado, via uma política cada vez mais fechada e, em alguns casos, mais repressiva. De fato, seria também a morte da política como tal, substituída pelo
domínio oligárquico transnacionalizado:nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
...a mo d er n a p o lítica b u r g u esa co n siste so men te em cr ia r a s co n d içõ es
p a r a o livr e flu xo d o ca p ita l ... P o lítica , n o s temp o s a tu a is, é u ma técn ica d e a d min istr a çã o , a p a r en temen te n eu tr a , a ser viço d a s exig ên cia s selva g en s d o ca p ita l in ter n a cio n a l. Sen d o a ssim 'é fá cil g o ver n a r ': b a sta seg u ir , sem ma io
-r es in o va çõ es, or eceitu á r io p r o p o sto p elo C o n sen so d e Wa sh in g to n , co m o má xi-mo d e fr ieza e in sen sib ilid a d e so cia l q u e ta l ta r efa exig e, co mo a liá s, já fizer a m a n ter io r men te C h ile, Ar g en tin a , M éxi-co e Bo lívia (Apresentação de Celso Frederico, em Teixeira, 1996).
A idéia da neoligarquização da política está errada se tomada ao pé da letra. A política institucional é muito complexa, inclusive quan-do seus horizontes são a governabilídade e o controle social. Na verdade, a política é muito mais que uma técnica de administração; é uma forma de garantir a governabilídade. Além dis-so, a intensa vida política nacional dos Esta-dos latino-americanos também tem seus fundamentos nas forças sociais internas, cuja existência surge diariamente de processos de reprodução e de acumulação locais de capital, que a mundialização não dissolveu, e que não pode eliminar, porque são o fundamento da economia das grandes maiorias de trabalha-dores não vinculados diretamente com as em-presas transnacionais. Na sociedade moderna, o Estado não pode ser oligárquico no sentido de excluir da política as grandes massas. Ele tem que trabalhar com elas.
Não obstante, com as mudanças na or-ganização produtiva e na gestão das empresas, tem surgido uma tendência ao enfraquecimento da influência política dos sindicatos e dos par-tidos políticos trabalhistas de massas. A globalização levou à queda a dominação polí-tica social democrata ou populista nacional, aliança sociopolítica serni-corporativa, dirigida pelo Estado, que integrava os trabalhadores do campo e da Cidade, via sindicatos e partidos de massas, à condução política nacional, alicerçada no capitalismo de Estado.
Hoje a sociedade moderna vive uma realidade na qual as forças trabalhistas
nacio-nais organizadas têm menor presença política.gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Do lado do povo trabalhador a informalidade e o desemprego têm levado a que a vida dos partidos políticos e dos sindicatos nacionais seja cada dia mais fraca. Esta tendência é mais forte nos países de capitalismo atrasado que nas sociedades de capitalismo desenvolvido, como facilmente pode se ver na política inter-na dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Fran-ça onde os trabalhadores ainda têm uma forte presença.
Não obstante, na América Latina, uma análise cuidadosa da vida política real dos paí-ses demonstra a existência e a importância, ainda, de uma intensa luta política entre parti-dos e personalidades nacionais, situação que é evidente durante as crises políticas ou a cada quatro ou seis anos, em disputas eleitorais significativas.
Como entender, então, que a vida po-lítica cresça, se os elementos dominantes do poder econômico são cada vez menores? Para entender isso, precisamos lembrar que a polí-tica e a economia são duas esferas distintas na sociedade. As próprias oligarquias transna-cionais precisam ainda do Estado político (Chesnais, 1996) para completar no âmbito político o seu domínio econômico. Os gru-pos multinacionais têm a ver com os assuntos da economia e não diretamente com os as-suntos políticos. A manutenção dessa diferença é uma condição de sucesso da institucionalidade estatal e da ideologia do-minante do neoliberalismo, sobretudo na globalização, que gera uma maior exclusão social e nacional, mas que mantém a fé no Estado político.
DEMOCRACIA E RELAÇÕES DE DOMíNIO POLÍTICO
Como foi dito, o fato de as burocracias políticas executivas dos Estados se apropria-rem da política econômica e social não quer dizer que os regimes políticos tenham virado ditaduras. O contrário é certo. Temos ante nos-sos olhos uma re-dernocratização no mundo que já dura dez anos (Borón, 1994). Como se pode explicar que a re-dernocratízação não tenha colocado limites às políticas neoliberais
16gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAR E V IS T A D E C ttN C IA S S O C IA IS v. 2 8 N .1 /2 1 9 9 7
e antipopulares das burocracias estatais da América Latina?
A re-dernocratízação da vida política, expressa na volta das instituiçôes civis e na participação política de movimentos sociais, partidos políticos e cidadãos envolve grandes camadas da sociedade. Como explicar, então, a fraqueza da democracia perante o autori-tarismo das burocracias executivas e face ao domínio mais geral dos oligopólios?
A seguir, alguns elementos que podem
contribuir para explicar o fenômeno:nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
P r imeir o , a separação que prevalece ainda hoje entre política e economia. Muitas questões políticas básicas não são colocadas pela sociedade civil na mesa da discussão pú-blica pelo fato de que ela acha que pertencem a uma outra esfera de decisões, à esfera da relação entre os indivíduos e o mercado. O fetichismo de mercado e o fetichismo do Esta-do têm se tornaEsta-do ainda mais fortes com a globalização (Marx, O ca p ita l, tomo I, vol. I,
1857; Holloway, 1984, Teixeira, 1996).
O fetichismo do Estado se manifesta na separação entre política e economia, e na exis-tência duma cidadania separada dos interes-ses sociais e alienada da luta em torno da acumulação de capital. Isso possibilita que os órgãos públicos - onde se manifesta a vida democrática da sociedade e que são sede da luta política institucional- voltem as costas para os assuntos econômicos e sociais.
O fetichismo do Estado está presen-te na idéia de que na sociedade moderna o poder político vem exclusivamente do voto dos cidadãos e das lutas pela hegemonia ideológica. A cidadania é uma forma socio-política que isola os indivíduos das problemáticas sociais que têm origem na individualização das mercadorias e dos seus vendedores. Ela nega a vida real da sociedade, faz uma abstração política que esconde as grandes contradições de socie-dades evidentemente desiguais e injustas.
locais não democráticos, vinculados ao Estado nacional hegemônico. Historicamente, apare-ce como um fenômeno que faz culto às elites como encarnação do interesse geral e consi-dera as massas como sustentação pré-política do poder. A concentração de renda e poder e uma ampla exclusão social e política mantêm um patrimonialismo e um clientelismo perma-nentes, nos quais o "cidadão" plebe ou massa, é usado pelas elites para fins eleitorais e de legitimação. Nesse fetichismo peculiar o po-der das elites também produz a separação entre política e economia: a política real faz parte das elites e não das massas; estas são excluí-das da vida política e só são convoca excluí-das para rituais eleitorais. Os pobres ficam fora da po-lítica real, mas são necessários para o ritual formal da sanção eleitoral da mesma maneira que estão excluídos do mercado de trabalho, mas participam do mercado em geral como
informais.nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Ter ceir o , a democracia política também se acha enfraquecida pela oposição entre as limitadas prerrogativas parlamentares e as gran-des atribuiçôes das burocracias executivas na sociedade moderna. Os parlamentos latino-americanos têm sido excluídos das decisões de políticas econômica e social pelas novas tecnocracias do poder executivo. Com a redemocratização do Estado tem aparecido uma dinâmica política aberta e livre nos órgãos públicos, e por isso as tecnocracias têm opta-do por diversas formas novas de imposição das suas decisões: medidas provisórias no Brasil e Argentina; encontros políticos privados en-tre tecnocratas, empresários e operários, fora dos espaços públicos de discussão política democrática, no México, novas leis a d h o c para as reformas do Estado, no Peru, etc.
Q u a r to , na América Latina a democra-cia moderna é fraca, uma vez que sua existên-cia é condicionada pelas brutais relações de dominação existentes nas sociedades da região. Tais relações se expressam na ideologia soci-al, nas múltiplas relações sociais opressoras entre a classe dominante e os dominados, na própria relação política das elites parlamenta-res com o povo. Essas relações impedem con-tinuamente que os "de baixo" desenvolvam
poder real. Pablo González Casanova, soció-logo mexicano dedicado a estudar as variadas expressões da dominação nas sociedades da região, demonstra com rigor como é que no dia a dia o poder dominante na sociedade im-pede o desenvolvimento dos oprimidos, em contraposição ao discurso paternalista que fala de melhoramentos nas comunidades na saú-de, na escolaridasaú-de, na moradia, no emprego, etc. O autor centra seu estudo no que ele con-sidera a grande distância entre o poder eleito-ral e o poder real dos oprimidos (González Casanova, 1993). Os oprimidos não utilizam a democracia para a sua própria libertação pelas relações de domínio social e político nas quais estão inseridos.
Q u in to , pela história política ocidental e latino-americana as burocracias têm um po-der especial: elas têm se assumido como re-presentantes auto nomeadas do interesse geral da sociedade, na mais pura forma hegelíana. na região é marcante a idéia de que as buro-cracias são expressão incontestável do interes-se geral, como era refletido por Hegel. As próprias burocracias atuam difundindo essa ilu-são na sua intervenção pública.
Sexto , na América Latina a democracia
é pobre na maioria dos casos porque ela exis-te num conexis-texto de crises do Estado que limi-tam as suas possibilidades políticas.
As
CRISES DO ESTADO NA GLOBALlZAÇÃOEm geral, a mundialização do capital tem contribuído para agravar tr ês tip o s d ifer en tes d e cr ises d o E sta d o que já vinham se gestando na região latino-americana nos últimos vinte anos. A América Latina vive hoje a conjunção de três crises diferentes e inter-relacionadas. A crise da soberania e da autonomia nacionais na defini-ção das políticas econômicas e sociais internas, a crise do Estado interventor e a crise das insti-tuições políticas representativas.
A)
A
CRISE DA AUTONOMIA E DA SOBERA-NIA POLÍTICAComo refere o economista Teixeira
(996), o novo Estado neoliberal é incapazgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de desenvolver políticas autônomas e sobe-ranas. A crise da soberania política vem do enfraquecimento relativo do Estado, na sua determinação das políticas econômicas e so-ciais, perante os organismos financeiros transnacionais e face os oligopólios rnul-tinacionais (crise que não é reconhecida pe-los Estados reformadores neoliberais) (González Casanova, 1990; Sader, 1995).
A crise da soberania política do Estado
é realmente transcendental:nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a d esn a cio n a liza çã o d o E sta d o , u m cer to esva zia men to d a ca p a cid a d e d e r eg u la çã o d o E sta d o so b r e a eco n o -mia p o lítica n a cio n a l. D a d a aCBAd o m i-n â i-n cia d a s co n d içõ es tr a n sn a cio n a is, p o r u m la d o , e lo ca is p o r o u tr o , a fu n
-çã o d o E sta d o p a r ece ser ma is a d e me-d ia r en tr e ela s me-d o q u e, a cima d ela s ... E le p a ssa a ser o execu to r , sem g r a n d e
in icia tiva , d e p o lítica s d e r eg u la çã o d e-cid id a s tr a n sn a cio n a lmen te co m o u sem a su a p a r ticip a çã o . Op a p el d o E sta d o é a q u i cr u cia l, n ã o co mo in icia d o r e sim co mo execu to r d e p o lítica s (Sousa San-tos, 1995, p. 13).
Aqui, é Holloway quem explica bem o fenômeno: o Estado é uma expressão fetichizada da relação de capital. Sob o do-mínio do grande capital financeiro trans-nacional o Estado nacional é um mediador pobre, quase mais um administrador do in-teresse geral do capital que representante da sociedade nacional. Tal mediador paupér-rimo não tem mais poder (soberania, auto-nomia) face o grande poder dos organismos financeiros transnacionais e os Estados das potências mundiais.
A desnacionalização esquece o direito elementar dos povos das sociedades latino-americanas de gerar seus próprios destinos. Ainda que seja feita pela via das burocracias políticas dos Estados, coloca em questão os direitos históricos e políticos, das populações, de dirigirem o Estado com suas próprias deci-sões (como iniciadoras de políticas e não só como executoras).
18gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAR E V IS T AD E O ~ N C IA S S O C IA IS v . 2 8 N .1 /2 1 9 9 7
Tudo isso mostra uma profunda crise de hegemonia burguesa na América Latina, na medida em que a classe dominante capitalista é uma classe subordinada, não soberana, e é essa condição que tem aberto espaço para o surgimento de ump ro to -E s ta d o tr a n sn a cio n a l n o r te-a mer ica n o , co o r d en a d o r d a s p o lítica s eco n ô mica s e so cia is n a Amér ica La tin a , base-ado nas políticas dos Estbase-ados Unidos da Amé-rica e na influência dos organismos comerciais (OCDE, ALCA), financeiros (FMI, BM, BID), políticos (ONU, OEA, Grupo de Santa Fé, Gru-po dos Sete) e ideológicos transnacionais (Co-missão Trilateral) que atuam no continente americano.
A queda da soberania política - ainda que seja nas questões econômicas e sociais, além das políticas referidas ao narcotráfico e à segurança - tem gerado reclamos essenciais do direito à autodeterminação política de povos que não podem facilmente aceitar a sua nuli-dade política, num momento em que a exclu-são social aumenta. Atrás de dois dos mais importantes movimentos sociais e políticos da América Latina, nos últimos anos, está a rei-vindicação da soberania nacional (tentativa de golpe dos militares de esquerda na Venezuela, surgimento da guerrilha do Exército Zapatista de Libertação Nacional do México, e tc ),
B)
A
CRISE DO ESTADO INTERVENTORO modelo do Estado interventor teve profundas implicações políticas:
A d istr ib u içã o d a r iq u eza se fa -zia med ia n te a co r d o s co letivo s seg u n d o
o s q u a is ca p ita l e tr a b a lh o a co r d a va m
r a d o E sta d o , c u ja le g itim a ç ã o e r a a sse -g u r a d a , p o r u m la d o m e d ia n te u m a p o lític a d e su b síd io sCBAà a c u m u la ç ã o d e
c a p ita l e , p o r o u tr o , a tr a vé s d e u m a p o -lític a d e b e m -e sta r so c ia l, fu n d a d a e m m e d id a s c o m p e n sa tó r ia s: se g u r o d e se m -p r e g o , tr a n s-p o r te su b sid ia d o , e d u c a ç ã o
e sa ú d e g r a tu ita s, e n tr e o u tr a s c o isa szyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
(Teixeira, 1996, p. 213/14).
No Brasil, o capitalismo sob interven-ção estatal gerou o milagre econômico durante a ditadura militar, embora sem as caraterísticas econômicas e sociais das sociedades desen-volvidas. O modelo de Estado interventor aqui se desenvolveu a partir da superexploração do trabalho duma indústria suntuosa e para ex-portação (Marini, 1975), em condições de populismo nacionalista primeiro, e depois de ditadura militar (da burocracia militar como mediadora), e sem as políticas sociais dos ou-tros Estados fordistas que tentaram se aproxi-mar dos Estados de bem-estar. Na so c ie d a d e b r a sile ir a a in te r ve n ç ã o e sta ta lf o i e str u tu r a l-m e n te in c a p a z d e p r o p ic ia r u m m ín im o d e b e m -e sta r m a te r ia l p a r a a g r a n d e m a io r ia d a p o p u la ç ã o (Teixeira, 1996, p. 221).
A crise econômica de meados dos anos setenta teve repercussões políticas substanci-ais. Afetou o coração da política dos Estados onde o regime político se desenvolveu a partir do modelo interventor, como foi o caso da democracia na Venezuela, na Costa Rica e no México. No Brasil, o golpe militar já tinha aca-bado com muitas das caraterísticas do Estado interventor, embora mantivesse uma forte afir-mação estatal e um certo controle da econo-mia nacional.
Na América Latina, a crise do Estado interventor apareceu quando o gasto público do Estado já não podia ser mantido no nível dos anos do pós-guerra. Na base estão vários fenômenos novos: uma prolongada queda do crescimento econômico ("a década perdida"), uma prolongada inflação, a elevação dos ju-ros da dívida externa e interna, a demanda de pagamento pontual dos credores da dívida, a rejeição social ao patrimonialismo e a corrup-ção nas empresas estatais, o acesso ao poder
de novas burocracias tecnocráticas que aderi-ram à ideologia neoliberal do ajuste fiscal, aber-tura dos mercados e privatização das empresas estatais. No fundo, está também o processo de deterioração do modelo fordista de desenvol-vimento do capitalismo em meados da década de setenta: o modelo, com as suas variações nos diversos países da América Latina, existiu no Brasil, Argentina, México, Venezuela, Costa Rica e Bolívia.
No Brasil, o fordismo existiu a partir dum capitalismo industrial estatalmente regu-lado, e enfraqueceu-se nos anos oitenta via a reestruturação produtiva das indústrias e uma crise fiscal (Fiori, 1993; Teixeira, 1996).
Em âmbito mundial foi a crise do fordis-mo que exigiu a necessidade duma mudança radical nos pactos políticos entre capital e tra-balho e levou à mundialização do capital.
A queda do Estado interventor, com as políticas de ajuste estrutural e reforma do Esta-do, gerou uma "desestatização do Estado" (Sousa Santos, 1995). Isso aconteceu realmen-te no que concerne a regulação econômica direta da acumulação de capital e sobretudo nas políticas sociais do Estado.
A o u tr a g r a n d e tr a n sfo r m a ç ã o d o E sta d o é a d e se sta tiza c ã o d o E sta -d o . C o n siste n u m a n o va a r tic u la ç ã o e n tr e a r e g u la ç ã o e sta ta l e n ã o e sta ta l, e n tr e op ú b lic o eop r iva d o , u m a n o va d ivisã o d o tr a b a lh o r e g u la tó r io e n tr e o E sta d o ,om e r c a d o e a c o m u n id a d e . Isto o c o r r e , ta n to n o d o r n in io d a s p o lític a s e c o n ô m ic a s, c o m o so b r e tu d o n o d o m í-n io d a s p o lític a s so c ia is, p e la tr a n s-fo r m a ç ã o d a p r e vid ê n c ia e sta ta l
(se g u r a n ç a so c ia l e sa ú d e , e tc ..) e m p r e -vid ê n c ia r e sid u a l e m in im a lista ... u m a fo r m a d e r e g u la ç ã o m a is in te r d e -p e n d e n te , m e n o s h ie r á r q u ic a e m a is
d e sc e n tr a liza d a , m a s ta m b é m m e n o s d istr ib u tiva e m a is p r e c á r ia (Sousa San-tos, 1995, p. 14).
A crise do Estado interventor deu lugar ao Estado neoliberal, Estado que expressa as
grandes mudanças na correlação de forças en-gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tre capital e trabalho; que cristaliza o novo domínio do grande capital financeiro, e que voltou a priorizar seu papel de garantir os ne-gócios e as relações de mercado; que deixa livre o capital, mas continua aprisionando o trabalho, condicionando o preço baixo dos salários. Na situação de exclusão social cres-cente e de enfraquecimento dos sindicatos, a "desestatização" do Estado significa sua entre-ga quase absoluta aos interesses da acumula-ção de capital e da especulaacumula-ção financeira, assim como a queda das responsabilidades sociais que faziam parte das obrigações do in-teresse coletivo dos Estados. O novo Estado latino-americano não pode mais esconder que o poder público é a dominação geral do grande capital transnacionalizado e que, nas condi-ções atuais, o pólo dominado tem enfraqueci-do o suficiente para não ter um peso político substantivo na acumulação de capital. As rela-ções sociais voltam a um prirnitivismo exage-rado, onde a superexploração do trabalho combina com a expansão incontrolável do desemprego e da informalidade e onde o ca-pital financeiro reina sobre todas as coisas.
c)
A
CRISE DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO ESTADOAs instituições políticas do Estado na América Latina têm duas situações caraterísticas diferenciadas, que acontecem em maior ou menor grau nos países da região. Uma é de crise política pela ausência de vida democráti-ca representativa real nas relações políticas institucionais. Em alguns países, isso chega a ser uma crise aberta (México, Peru, Guatemala, Cuba). Outra, vem da pobreza e dos precários resultados das instituições políticas liberais da própria democracia representativa, face aos grandes problemas sociais e nacionais (Argen-tina, Brasil, Colõmbia, Venezuela, EI Salvador). O caso dos regimes políticos hoje em aberta crise política (México, Venezuela, Peru, Cuba) é basicamente um problema de que a própria burocracia do Estado não aceita a de-mocratização da vida política e ela mesma co-loca impedimentos a uma transformação
democrática substantiva, face a uma evidentegfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
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recuperação dos movimentos sociais e políti-cos pela democracia, particularmente no Mé-xico e na Venezuela.
A institucionalidade política baseada no partido (ou partidos) de Estado, corporativismo, clientelismo, patrimonialismo, violência políti-ca, etc, própria dos Estados de compromisso (Gramsci), sofreu um enfraquecimento históri-co e ainda não se tem criado nesses países uma institucionalidade moderna, fundada em eleições legítimas, abertas à luta política real entre partidos, representatividade dos órgãos legislativos e judiciais, Estado de direito, auto-nomias políticas e culturais, cidadania desen-volvida, etc.
No terreno das instituições e da organi-zação política, paradoxalmente, o desenvolvi-mento e a estabilização do regime político democrático têm sido maiores nos países que tiveram um regime militar nas décadas anteri-ores (Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Bolí-via, EI Salvador) que nos países com o antecedente direto de um regime social-demo-crático fordista, como é o caso da Venezuela, da Costa Rica e do México. Caso à parte ainda são países que não fizeram transformações ra-dicais no seu modelo de desenvolvimento oligárquico militarista (Peru, Colõmbia e Guatemala).
O que houve nos países da América do Sul foi uma retomada democrática, domi-nada ideológica e politicamente pela procu-ra conservadoprocu-ra de estabilização econômica e governabilidade (Oliveira, 1994), que pa-rou e postergou as demandas de melhora-mento social e muitos dos processos de participação popular. Nessas sociedades está
em processonmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAu m aCBAf o r t e d is p u ta p o lític a institucional entre duas forças: as
conserva-doras que defendem os projetos da grande burguesia modernizante e transnaciona-lizadora e as que têm como bandeira os pro-jetos políticos democrático-populares. O poder hoje fica nas mãos das tecnocracias neoliberais, dominantes no Brasil, Argenti-na, Chile e Bolívia, embora a pressão do cen-tro-esquerda continue ainda presente.
ingovernabilidade potencial não está nas mãos do povo que demanda transformações sociais, mas nas mãos das equipes neoliberais dos go-vernos que ignoram as necessidades sociais e colocam em perigo a continuidade da demo-cracia pela exclusão das políticas sociais uni-versais de emprego, salários, saúde, etc, e pela fraqueza das instituições políticas democráti-cas, que separam os grandes problemas eco-nômicos e sociais do povo da luta política parlamentar (Borón, 1994, Oliveira, 1995).
O problema da direção política é ainda o problema fundamental da política interna dos países do Cone Sul. A tecnocracia modernizante pegou do Banco Mundial o programa de esta-bilização monetária (ajuste estrutural, privati-zação, liberalização, ajuste fiscal, limites salariais, reestruturação produtiva, abertura aos capitais estrangeiros e reforma do Estado), embora seu acesso ao poder tenha sido feito por meio duma propaganda política eleitoral que pega as aspiraçôes conservadoras do pró-prio povo trabalhador: políticos carisrnáticos, maior democracia representativa formal, esta-bilização monetária (à custa do aumento da dívida pública interna), modernização de in-dústrias (via investimentos de transnacionais dos países desenvolvidos), renovação dos con-tratos trabalhistas (via flexibilidade de traba-lho e novas leis do emprego), etc. Os programas eleitorais dos partidos populares não oferecem alternativas imediatas nem uma pro-posta própria e diferente de mundialização. Além disso, quase todos têm aceito o progra-ma de ajuste estrutural monetarista.
O programa dos trabalhadores ainda não tem definição econômica singular, mas a experiência política tem mostrado que existem muitos elementos novos para definir uma po-lítica própria na luta pela hegemonia, desde os acordos de renovação produtiva com parti-cipação dos trabalhadores ("o acordo das montadoras de carros", Oliveira, 1993) até as
políticas de nova cidadania com direitos sociais:nmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a u m e n to s sa la r ia is, r e sp a ld a d o s e m in -c r e m e n to s d a p r o d u tivid a d e , -c o m p o lí-tic a s so c ia is p ú b lic a s vig o r o sa s, q u e in c lu a m u m a p o lític a d e r e n d a s (p o
litic a d e r e n d a m ín im a , a u m e n to siste m á tic o d o sa lá r io m ín im o , se g u r o d e -se m p r e g o , m e lh o r ia d a se g u r id a d e so c ia l) e p o lític a s so c ia is n o se n tid o e s-tr ito (a u m e n to d a e sc o la r id a d e , c o m -b a teCBAà e va sã o e sc o la r , m e lh o r ia d a q u a lid a d e d o e n sin o , a m p lia ç ã o e u n ive r sa liza ç ã o d o a c e ssoà sa ú d e , e tc ) (Oliveira, 1995, p. 65).
A questão é que, na visão neoliberal do reinado do mercado, o programa anterior não teria viabilidade, dado que precisa de um financiamento estatal que o grande capital não aceita. E na verdade, além do incremento com-binado da produtividade, tal programa exige um desenvolvimento organizativo dos traba-lhadores e um Estado democrático subordina-do à população trabalhadora. Para isso o programa tem que se afastar do monetarismo e só seria possível pelo desenvolvimento polí-tico dos assalariados.
o
HORIZONTE DA LUTA PELA AFIRMAÇÃO DA DEMOCRACIA POlÍTICANo mundo atual, a participação e a luta política ainda não têm um horizonte mundial; a maioria dos problemas tem alcance nacio-nal, salvo situações ou condições excep-cionais. Os conflitos de hegemonia são conflitos entre forças políticas locais, cujo conteúdo entrelaça interesses nacionais com interesses internacionais.
Nos Estados latino-americanos dos anos noventa existem fatores econômicos, sociais e políticos que tornam muito difícil uma estabi-lidade hegemônica da democracia: a contradi-ção entre a política neoliberal e o crescimento da pobreza das massas, a grande exclusão so-cial, o desemprego, a quebra de aliança da burocracia política com as forças tradicionais dos trabalhadores sindicalizados e dos cam-poneses, o peso dos novos fatores negativos que muitas vezes têm uma forte vinculação com os grupos políticos de poder: sistemas de corrupção, narcotráfico, contrabando; políticos locais envolvidos com tráfico de drogas,
arma-mentos, militares golpistas, etc (Borón, 1994).gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Embora seja importante colocar os pro-blemas que a situação social e econômica gera para a democracia, e mostrar que é possível outra concepção social de democracia (Borón, 1994, p. 94), na luta pela afirmação da demo-cracia política, a abordagem a partir do inte-resse dos assalariados e empregados teria que colocar o problema de como eles podem apro-veitar a luta pela ampliação democrática para se organizar e para desenvolver a sua própria hegemonia com novas concepções.
A crítica atual do Estado latino-ameri-cano tem que partir da inevitabilidade do pro-cesso de reestruturação capitalista para discutir como os trabalhadores dos países da região podem participar da mundialização, desenvol-vendo uma concepção própria sobre uma globalização progressista, direcionada pelos trabalhadores. A proposta é uma alternativa que avance na democratização do Estado, apro-fundando a soberania das comunidades de ci-dadãos e trabalhadores, desenvolvendo uma política autônoma para participar dos novos processos produtivos e se opondo ao patrimonialismo de Estado e à exclusão social e nacional, própria do domínio do capital.
Até hoje os trabalhadores da América Latina têm desenvolvido as seguintes políticas face à globalização:
a) uma aceitação passiva das políticas hemisféricas de ajuste neoliberal (o caso do apoio popular ao conservadorismo político elei-toral, que se contradiz com a luta social de resistência às políticas econômicas após as elei-ções - o que aconteceu com os presidentes Collor de Melo, Fujimori, Zedillo e Banzer):
b) uma busca para voltar ao Estado nacional popular de capitalismo de Estado, agora com mais democracia de base, embora com uma direção tecnocrática e uma propo-sição de regulação estatal e políticas sociais universais;
c) uma reforma política visando um aprofundamento do Estado democrático, ba-seado num poder dos cidadãos trabalhado-res, organizados numa democracia de base e que lutem para que um novo poder democrá-tico transforme a situação dos trabalhadores
numa nova mundialização.gfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAÉ o caso dos
no-2 no-2 R E V IS T A D E O ~ N C IA S S O C IA IS v . 2 8 N .1 /2 19 9 7
vos movimentos políticos: movimento dos sem- terra, movimento da cidadania, movimen-to dos partidos políticos de esquerda (Brasil), movimento pela democracia e contra a vio-lência, lutas guerrilheiras (México), movimento pela nova democracia e luta da Causa Radical (Venezuela), etc.
A concepção cidadã da política faz parte de diversas opções ideológicas e políticas. No plano político, a questão da democracia pode ser vista como a coexistência de lutas conjun-tas pela participação individual e coletiva e pela representação e canalização da luta social no Estado. Desfetichizar a democracia não é sair do terreno das lutas políticas nem da cidada-nia. É a luta combinada e conjunta pela influ-ência nos assuntos do Estado dos cidadãos e dos que vivem da venda da sua força de traba-lho. A luta pela hegemonia trabalhista tem dois rostos unidos: o rosto cidadão e o rosto classista. O reducionismo do passado tem apa-gado um dos dois rostos. janos é o Deus que dirige a política no mundo contemporãneo.
Hoje se impõe o processo da rnundia-lização do capital, o que não quer dizer que a mundialização só possa existir na sua forma neoliberal atual. Os programas políticos base-ados (a) numa participação conservadora do povo ou (b) numa proposição de capitalismo de Estado "nacional popular", de um novo estatismo perante a dominação econômica e política das classes e dos grupos econômicos e tecnocráticos transnacionalizados e transna-cionalizantes, ante uma fraca resistência dos trabalhadores, interessados mais em conservar o emprego do que em entender e participar com a sua própria política da reestruturação do capitalismo, há poucas possibilidades de se gerar essa nova mundialização.
uma direção que coloque no centro o desenvol-vimento político e organizativo do modesenvol-vimento dos que vivem de seu salário, onde o Estado seja somente uma expressão política do novo domí-nio do trabalho sobre o capital, sem fetichismos e sem substituição dos cidadãos e dos trabalha-dores pelos órgãos burocráticos autônomos.
A questão é, portanto, imaginar o rosto de uma nova institucionalidade política demo-crática, para uma nova mundialização, que as sociedades de trabalhadores possam desenvol-ver no século que se aproxima.
NOTA
1 Este trabalho surgiu no transcurso das
mi-nhas leituras teóricas, discussões acadêmicas e viagens de estudo, realizadas nos três últi-mos semestres na Pós-graduação em Socio-logia e na graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Ceará, Brasil, apoi-adas tanto pela CAPES, Brasil, como pela Fa-culdade de Ciências Políticas e Sociais e pela Direção de Assuntos de Pessoal Acadêmico (DGAPA) da UNAM, México.
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