“NÃO MAIS EU, MAS O NOME DE DEUS”
ENUNCIATIVA EM FOLHETOS EVANGELÍSTICOS
RESUMO
Refletirá sobre a constituição da cena enunciativa em folhetos evangelísticos, tomando como ponto de partida a perspectiva de que enunciar al
intermédio do acontecimento que é a enunciação. Para subsidiar a análise, serão utilizad pressupostos teóricos desenvolvidos por Eduardo Guimarães, em sua
Acontecimento (2002), além de conceitos da Análise de Discurso acerca do discurso religioso.
INTRODUÇÃO
Sob uma perspectiva enunciativa, n
resposta, mas lançar uma via de reflexão sobre a constituição dos sentidos em folhetos evangelísticos
3doutrinação ligados às igrej
comprometer-se, pois não há neutralidade no uso dos signos. Pois o próprio ato de tomar a palavra implica a inserção do sujeito em um determinado lugar social demarcado pelo simbólico, na e pela linguagem. Desse modo,
1
Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Cooperação Acadêmica). Professora na Faculdade Fabra.
2
“Para maior glória de Deus", em latim. Também conhecido pelo acrônimo Jesus, cujos membros são comumente conhecidos como jesuítas.
3
Denomina-se folheto evangelístico que, por meio de argumentos, busca
nas ruas das cidades e nas casas, por membros de uma dada denominação, em atividades conjuntas de evangelismo pessoal. Pode-se afirmar, portanto, que os folhetos evangelísticos, no c
religiosas evangélicas, servem como meio de transmissão e de perpetuação dos valores e das crenças dessas instituições.
“NÃO MAIS EU, MAS O NOME DE DEUS”: A CONSTITUIÇÃO DA CENA ENUNCIATIVA EM FOLHETOS EVANGELÍSTICOS
Raquel Camargo Trentin
a constituição da cena enunciativa em folhetos evangelísticos, tomando como ponto de partida a perspectiva de que enunciar algo é engajar-se, na e pela linguagem, por intermédio do acontecimento que é a enunciação. Para subsidiar a análise, serão utilizad pressupostos teóricos desenvolvidos por Eduardo Guimarães, em sua
(2002), além de conceitos da Análise de Discurso acerca do discurso religioso.
Ad maiorem Dei gloriam...
Sob uma perspectiva enunciativa, nosso objetivo, neste trabalho, não
lançar uma via de reflexão sobre a constituição dos sentidos em desenvolvidos e distribuídos por órgãos de evangelização / ação ligados às igrejas evangélicas. Partiremos da idéia de que enunciar é se, pois não há neutralidade no uso dos signos. Pois o próprio ato de implica a inserção do sujeito em um determinado lugar social demarcado pelo simbólico, na e pela linguagem. Desse modo,
em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), por intermédio do PROCAD (Programa Nacional de
Professora na Faculdade Fabra.
“Para maior glória de Deus", em latim. Também conhecido pelo acrônimo AMDG, é o lema da Sociedade de Jesus, cujos membros são comumente conhecidos como jesuítas.
folheto evangelístico o gênero discursivo de cunho religioso, geralmente de curta extensão, em e, por meio de argumentos, busca-se persuadir o leitor a aderir ao credo evangélico. Costuma ser distribuído nas ruas das cidades e nas casas, por membros de uma dada denominação, em atividades conjuntas de
se afirmar, portanto, que os folhetos evangelísticos, no c
religiosas evangélicas, servem como meio de transmissão e de perpetuação dos valores e das crenças dessas
: A CONSTITUIÇÃO DA CENA ENUNCIATIVA EM FOLHETOS EVANGELÍSTICOS
Raquel Camargo Trentin
1a constituição da cena enunciativa em folhetos evangelísticos, tomando como , na e pela linguagem, por intermédio do acontecimento que é a enunciação. Para subsidiar a análise, serão utilizados os pressupostos teóricos desenvolvidos por Eduardo Guimarães, em sua Semântica do
(2002), além de conceitos da Análise de Discurso acerca do discurso religioso.
Ad maiorem Dei gloriam...
2, neste trabalho, não é dar uma lançar uma via de reflexão sobre a constituição dos sentidos em or órgãos de evangelização / Partiremos da idéia de que enunciar é se, pois não há neutralidade no uso dos signos. Pois o próprio ato de implica a inserção do sujeito em um determinado lugar social, demarcado pelo simbólico, na e pela linguagem. Desse modo, “a entrada no
em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em parceria com a
do PROCAD (Programa Nacional de
, é o lema da Sociedade de
o gênero discursivo de cunho religioso, geralmente de curta extensão, em
persuadir o leitor a aderir ao credo evangélico. Costuma ser distribuído
nas ruas das cidades e nas casas, por membros de uma dada denominação, em atividades conjuntas de
se afirmar, portanto, que os folhetos evangelísticos, no contexto das organizações
religiosas evangélicas, servem como meio de transmissão e de perpetuação dos valores e das crenças dessas
simbólico é irremediável e permanente: estamos comprometidos com os sentidos e o político” (ORLANDI, 2005
Mais decididamente, tomaremos o posicionamento significação de um enunciado
necessária a configuração da cena enunciativa, que distribui os lugares do dizer pela temporalização própria do acontecimento
estaria atrelada ao simbólico, e firmada no político que move os sen o indivíduo em locutor pelo acontecimento.
No que tange aos folhetos evangelísticos,
atividades institucionais das denominações protestantes principais a “proclamação das Boas
analisar os processos que constituem a cena enunciativa nesses folhetos.
Paralelamente, mostraremos que a cena enunciativa configurada erige embate político que são as práticas linguísticas pela (re) af
embate entre o religioso e o profano), estando na ba discurso.
Nossa reflexão se encaminhará
abordaremos os pressupostos básicos da proposta por Eduardo Guimarães,
conceito de ‘cena enunciativa’. Na segunda parte
4
No contexto religioso evangélico contemporâneo, o termo “protestante” é utilizado para designar todas as igrejas que professam a fé evangélica
reformadoras tradicionais (como é o caso dos batistas, dos luteranos, dos metodistas e dos presbiterianos)
simbólico é irremediável e permanente: estamos comprometidos com os sentidos e o (ORLANDI, 2005, p. 09).
Mais decididamente, tomaremos o posicionamento de que, para que haja a significação de um enunciado – este tomado enquanto acontecimento
necessária a configuração da cena enunciativa, que distribui os lugares do dizer pela temporalização própria do acontecimento. Logo, a constituição da cena enunciativa estaria atrelada ao simbólico, e firmada no político que move os sen
o indivíduo em locutor pelo acontecimento.
os folhetos evangelísticos, manifestação discursiva integrante das atividades institucionais das denominações protestantes
4(que tê
proclamação das Boas Novas” e a doutrinação dos fiéis
analisar os processos que constituem a cena enunciativa nesses folhetos.
Paralelamente, mostraremos que a cena enunciativa configurada erige
embate político que são as práticas linguísticas pela (re) afirmação do dizer (o embate entre o religioso e o profano), estando na base da legitimação des
Nossa reflexão se encaminhará da seguinte maneira: na primeira parte abordaremos os pressupostos básicos da Semântica do Acontecimento
ta por Eduardo Guimarães, que subsidiarão nossa análise, dand
e ‘cena enunciativa’. Na segunda parte, dialogaremos com a Análise de
No contexto religioso evangélico contemporâneo, o termo “protestante” é utilizado para designar todas as jas que professam a fé evangélica, e não a católica. Não indica, necessariamente, filiação com as igrejas reformadoras tradicionais (como é o caso dos batistas, dos luteranos, dos metodistas e dos presbiterianos)
simbólico é irremediável e permanente: estamos comprometidos com os sentidos e o
de que, para que haja a ntecimento – faz-se necessária a configuração da cena enunciativa, que distribui os lugares do dizer pela . Logo, a constituição da cena enunciativa estaria atrelada ao simbólico, e firmada no político que move os sentidos, que toma
manifestação discursiva integrante das (que têm como lemas
” e a doutrinação dos fiéis), procuraremos analisar os processos que constituem a cena enunciativa nesses folhetos.
Paralelamente, mostraremos que a cena enunciativa configurada erige-se do irmação do dizer (o se da legitimação desse
da seguinte maneira: na primeira parte, Semântica do Acontecimento (2002), que subsidiarão nossa análise, dando ênfase ao , dialogaremos com a Análise de
No contexto religioso evangélico contemporâneo, o termo “protestante” é utilizado para designar todas as
. Não indica, necessariamente, filiação com as igrejas
reformadoras tradicionais (como é o caso dos batistas, dos luteranos, dos metodistas e dos presbiterianos).
Discurso, a partir principalmente dos estudos de Orlandi (1987, 1996) e de Pedrosa sobre o discurso religioso
Buscaremos demonstrar discursivas religiosas tê
enunciativa, que confere legitimidade ao que é dito.
análise de como se dá a configuraçã folhetos evangelísticos
aventurados, que possui caráter interdenominacional, não filiado a uma instituição evangélica em particular; e
Bonita (RJ), dedicado à evangelização do público juvenil explanação dos conceitos
1. SOBRE O ACONTECIMENTO
1.1 CONCEITOS GERAIS
De acordo com Guimarães (2002), a análise do sentido da linguagem deve ter um foco enunciativo, localizando
significação de uma forma faz parte da constituição do sentido
5
PEDROSA, Cleide Emília Faye.
http://www.filologia.org.br/soletras/13/04.htm
Discurso, a partir principalmente dos estudos de Orlandi (1987, 1996) e de Pedrosa sobre o discurso religioso.
demonstrar, por meio desse diálogo, que as manifestações têm um modo bastante específico de configuração da cena , que confere legitimidade ao que é dito. Partiremos, então, par ise de como se dá a configuração da cena enunciativa do discurso religioso em
idealizados por dois órgãos de evangelização:
, que possui caráter interdenominacional, não filiado a uma instituição particular; e o Entre Jovens, ligado à Primeira Igreja Batista de Moça , dedicado à evangelização do público juvenil.
explanação dos conceitos-chave para a nossa reflexão.
SOBRE O ACONTECIMENTO
CONCEITOS GERAIS
Guimarães (2002), a análise do sentido da linguagem deve ter nunciativo, localizando-se no acontecimento do dizer. Logo, para deduzir a significação de uma forma faz-se necessário tomar seu funcionamento como sendo parte da constituição do sentido do enunciado. Além disso, deve
PEDROSA, Cleide Emília Faye. Discurso religioso: funções e especificidade http://www.filologia.org.br/soletras/13/04.htm (acessado em 04/11/2010).
Discurso, a partir principalmente dos estudos de Orlandi (1987, 1996) e de Pedrosa
5que as manifestações m um modo bastante específico de configuração da cena Partiremos, então, para a do discurso religioso em idealizados por dois órgãos de evangelização: Os Bem- , que possui caráter interdenominacional, não filiado a uma instituição
, ligado à Primeira Igreja Batista de Moça Vamos, agora, à
Guimarães (2002), a análise do sentido da linguagem deve ter se no acontecimento do dizer. Logo, para deduzir a se necessário tomar seu funcionamento como sendo do enunciado. Além disso, deve-se levar em
: funções e especificidades.
consideração que um enunciado apenas constitui
integra texto. E é justamente essa relação integrativa que dá o sentido da unidade.
Com isso, pode-se afirmar que a enunciação, enquant
linguagem, estabelece-se pelo funcionamento da língua, não devendo ser remetida a um locutor, a uma centralidade do sujeito. Este, por sua vez,
funcionamento da língua na qual enuncia
enquanto ser físico, nem meramente no mundo físico. Enuncia
afetado pelo simbólico num mundo vivido através do simbólico” (GUIMARÃES, 2002, p. 11).
Desse modo, o acontecimento não é um fato no tempo, mas, sim, o acontecimento temporaliza
linguagem; antes, o sujeito é tomado pela temporalidade do acontecimento. Todo acontecimento somente significa na medida
projeta sobre um futuro, ao mesmo tempo em que repor permite a significação. O passado
anteriores, mas rememorações de enunciações. O futuro, por sua vez, não é um depois, na ordem cronológica, mas uma “latência de futuro”, que projeta sen
acontecimento, indicando o porquê de o acontecimento recortar um passado como memorável.
Embora representado no presente pelo Locutor, tendo a ilusão de que está no cerne do estabelecimento da temporalidade, o sujeito, na verdade, é tomado pelo acontecimento da linguagem, que recorta um memorável e projeta um futuro que o consideração que um enunciado apenas constitui-se como tal na medida em que integra texto. E é justamente essa relação integrativa que dá o sentido da unidade.
se afirmar que a enunciação, enquanto acontecimento de se pelo funcionamento da língua, não devendo ser remetida a um locutor, a uma centralidade do sujeito. Este, por sua vez,
funcionamento da língua na qual enuncia-se algo. “Ou seja, não se enuncia nquanto ser físico, nem meramente no mundo físico. Enuncia
afetado pelo simbólico num mundo vivido através do simbólico” (GUIMARÃES, 2002,
Desse modo, o acontecimento não é um fato no tempo, mas, sim, o acontecimento temporaliza. E não é o sujeito que está na origem do tempo na linguagem; antes, o sujeito é tomado pela temporalidade do acontecimento. Todo acontecimento somente significa na medida em que configura um presente que se projeta sobre um futuro, ao mesmo tempo em que reporta a um passado que lhe O passado, no entanto, não é a lembrança de ocorrências anteriores, mas rememorações de enunciações. O futuro, por sua vez, não é um depois, na ordem cronológica, mas uma “latência de futuro”, que projeta sen
acontecimento, indicando o porquê de o acontecimento recortar um passado como
representado no presente pelo Locutor, tendo a ilusão de que está no cerne do estabelecimento da temporalidade, o sujeito, na verdade, é tomado pelo ntecimento da linguagem, que recorta um memorável e projeta um futuro que o se como tal na medida em que integra texto. E é justamente essa relação integrativa que dá o sentido da unidade.
o acontecimento de se pelo funcionamento da língua, não devendo ser remetida a um locutor, a uma centralidade do sujeito. Este, por sua vez, se constitui pelo se algo. “Ou seja, não se enuncia nquanto ser físico, nem meramente no mundo físico. Enuncia-se enquanto ser afetado pelo simbólico num mundo vivido através do simbólico” (GUIMARÃES, 2002,
Desse modo, o acontecimento não é um fato no tempo, mas, sim, o não é o sujeito que está na origem do tempo na linguagem; antes, o sujeito é tomado pela temporalidade do acontecimento. Todo em que configura um presente que se ta a um passado que lhe , no entanto, não é a lembrança de ocorrências anteriores, mas rememorações de enunciações. O futuro, por sua vez, não é um depois, na ordem cronológica, mas uma “latência de futuro”, que projeta sentido no acontecimento, indicando o porquê de o acontecimento recortar um passado como
representado no presente pelo Locutor, tendo a ilusão de que está no
cerne do estabelecimento da temporalidade, o sujeito, na verdade, é tomado pelo
ntecimento da linguagem, que recorta um memorável e projeta um futuro que o
faz significar. Ser sujeito, portanto, é falar da posição de sujeito. Como afirma Guimarães:
Visto que é a tempora
numa temporalização a envolver um passado, um presente e um futuro, pode afirmar que a linguagem é, acima de tudo
constitui-se no agenciamento, que distribui os papeis, que regula o que pode e o que não pode ser dito, sendo que são essas divisões e redivisões que identificam os sujeitos (NASCIMENTO, 2004).
espaço de lutas pelo dizer, mas regulamentado pelas políticas lingüísticas SILVA; FONSECA-SILVA
embasam-se no político, que “é a contradição de uma normatividade que estabelece (desigualmente) uma divis
(2002, p. 16).
1.2 A CENA ENUNCIATIVA: SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DOS LUGARES DE ENUNCIAÇÃO
. Ser sujeito, portanto, é falar da posição de sujeito. Como afirma
O acontecimento na linguagem não se dá no tempo, nem no tempo do locutor, mas é um acon
temporaliza: uma temporalidade em que o passado não é um antes, mas um memorável recortado pelo próprio acontecimento, que tem também o futuro como latência de futuro. O sujeito não fala no presente, no tempo, embora o locutor o represente as
enquanto afetado pelo interdiscurso, memória de sentidos, estruturada pelo esquecimento, que faz a língua funcionar. Falar é estar nesta memória, portanto não é estar no tempo (dimensão empírica) (2002, p. 14).
Visto que é a temporalidade enunciativa que toma o sujeito na linguagem numa temporalização a envolver um passado, um presente e um futuro, pode
mar que a linguagem é, acima de tudo, uma prática política
se no agenciamento, que distribui os papeis, que regula o que pode e o que não pode ser dito, sendo que são essas divisões e redivisões que identificam os sujeitos (NASCIMENTO, 2004). Logo, o espaço de enunciação será sempre um
ço de lutas pelo dizer, mas regulamentado pelas políticas lingüísticas
SILVA, 2007, p. 96). Para Guimarães, as relações sociais se no político, que “é a contradição de uma normatividade que estabelece (desigualmente) uma divisão do real e a afirmação dos que não estão incluídos”
A CENA ENUNCIATIVA: SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DOS LUGARES DE . Ser sujeito, portanto, é falar da posição de sujeito. Como afirma
na linguagem não se dá no tempo, nem no tempo do locutor, mas é um acontecimento que temporaliza: uma temporalidade em que o passado não é um antes, mas um memorável recortado pelo próprio acontecimento, que tem também o futuro como latência de futuro. O sujeito não fala no presente, no tempo, embora o locutor o represente assim, pois só é sujeito enquanto afetado pelo interdiscurso, memória de sentidos, estruturada pelo esquecimento, que faz a língua funcionar. Falar é estar nesta memória, portanto não é estar no tempo (dimensão empírica) (2002, p. 14).
que toma o sujeito na linguagem numa temporalização a envolver um passado, um presente e um futuro, pode-se , uma prática política. A enunciação se no agenciamento, que distribui os papeis, que regula o que pode e o que não pode ser dito, sendo que são essas divisões e redivisões que identificam os Logo, o espaço de enunciação será sempre um ço de lutas pelo dizer, mas regulamentado pelas políticas lingüísticas (SENA;
Para Guimarães, as relações sociais se no político, que “é a contradição de uma normatividade que estabelece ão do real e a afirmação dos que não estão incluídos”
A CENA ENUNCIATIVA: SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DOS LUGARES DE
Se enunciar é configurar um acontecimento na e pela linguagem, é ser constituído enquanto sujeito pela temporalidade
de acesso à palavra são constituídos pela especificações locais nos espaços de enunciação
precisamente, diríamos que a cena enunciativa distribui os lugares de enunciação (“aquele que fala” e “aquele para quem se fala”) no acontecimento, e que são constituídos pelos dizeres. Portanto, estudar a cena enunciativa é “considerar o próprio modo de constituição desses lugares pelo funcionamento da língua”
(GUIMARÃES, 2002, p. 23).
Vale ressaltar que daquele que enuncia –
origem do próprio dizer. Em outras palavras, o presente do dizer é representado por esse Locutor. Mas tal representação é dividida na medida em que estar na posição de Locutor requer sua inserção em lugares sociais, que delimitam o que deve ser dito e de que maneira pode ser
origem do que enuncia, é preciso que ele não seja ele próprio, mas um lugar social de locutor” (GUIMARÃES, 2002, p. 24).
Ou seja, o Locutor só pode assumir a voz, mediante a ilusão de que está na base da constituição do dizer
do sujeito em Locutor. Quem fala, o faz a partir de um lugar social historicamente determinado, que é apagado de maneira que o sujeito afirma
partir do esquecimento de que fala de um lugar social.
Se enunciar é configurar um acontecimento na e pela linguagem, é ser anto sujeito pela temporalidade própria do acontecimento, os modos de acesso à palavra são constituídos pela cena enunciativa. Logo, “cenas são especificações locais nos espaços de enunciação” (GUIMARÃES, 2002, p. 23).
precisamente, diríamos que a cena enunciativa distribui os lugares de enunciação (“aquele que fala” e “aquele para quem se fala”) no acontecimento, e que são constituídos pelos dizeres. Portanto, estudar a cena enunciativa é “considerar o o de constituição desses lugares pelo funcionamento da língua”
, p. 23).
Vale ressaltar que assumir a palavra implica o posicionamento no lugar – o do Locutor. Nesse lugar, representa
zer. Em outras palavras, o presente do dizer é representado por esse Locutor. Mas tal representação é dividida na medida em que estar na posição de Locutor requer sua inserção em lugares sociais, que delimitam o que deve ser dito e de que maneira pode ser dito. Logo, “para o Locutor se representar como a origem do que enuncia, é preciso que ele não seja ele próprio, mas um lugar social de locutor” (GUIMARÃES, 2002, p. 24).
Ou seja, o Locutor só pode assumir a voz, mediante a ilusão de que está na nstituição do dizer, se houver esse lugar social que possibilita a tomada do sujeito em Locutor. Quem fala, o faz a partir de um lugar social historicamente determinado, que é apagado de maneira que o sujeito afirma-se enquanto Locutor a
ento de que fala de um lugar social.
Se enunciar é configurar um acontecimento na e pela linguagem, é ser ópria do acontecimento, os modos . Logo, “cenas são
” (GUIMARÃES, 2002, p. 23). Mais precisamente, diríamos que a cena enunciativa distribui os lugares de enunciação (“aquele que fala” e “aquele para quem se fala”) no acontecimento, e que são constituídos pelos dizeres. Portanto, estudar a cena enunciativa é “considerar o o de constituição desses lugares pelo funcionamento da língua”
assumir a palavra implica o posicionamento no lugar o do Locutor. Nesse lugar, representa-se o dizer como zer. Em outras palavras, o presente do dizer é representado por esse Locutor. Mas tal representação é dividida na medida em que estar na posição de Locutor requer sua inserção em lugares sociais, que delimitam o que deve ser dito. Logo, “para o Locutor se representar como a origem do que enuncia, é preciso que ele não seja ele próprio, mas um lugar social
Ou seja, o Locutor só pode assumir a voz, mediante a ilusão de que está na
, se houver esse lugar social que possibilita a tomada
do sujeito em Locutor. Quem fala, o faz a partir de um lugar social historicamente
se enquanto Locutor a
2. A CONSTITUIÇÃO DA CENA ENUNCIATIVA NO DISCURSO RELIGIOSO:
ALGUNS DIÁLOGOS E REFLEXÕES
2.1 OS FOLHETOS EVANGELÍSTICOS COMO MANIFESTAÇÃO DO DISCURSO RELIGIOSO
As diversas instâncias sociais especificam diferentes modos apresentam sob a forma de discursos.
manifestações discursivas são estendidas à expressão da prática polít linguagem, em que nota
instituições religiosas.
Pode-se definir, então,
de Deus ou de seus enviados (profeta, pastor, padre), sendo essa sua principal característica (ORLANDI, 1996
lugar da onipotência do silêncio. E o homem precisa desse lugar para colocar (instituir) uma sua fala específica”
permeará decisivamente o nosso trabalho: “como o homem fala no dizer que ele coloca na voz de Deus?” (
Segundo Orlandi (1996 meio do desnivelamento, d
locutor está no plano espiritual (Deus) e
adoradores). Quanto aos modos de representação
representantes firma-se na relação simbólica em que o representante apropria
discurso de Deus. Disso deriva a “ultrapassagem”, que se assenta em dualismos O DA CENA ENUNCIATIVA NO DISCURSO RELIGIOSO:
ALGUNS DIÁLOGOS E REFLEXÕES
2.1 OS FOLHETOS EVANGELÍSTICOS COMO MANIFESTAÇÃO DO DISCURSO
s diversas instâncias sociais especificam diferentes modos
apresentam sob a forma de discursos. No espaço institucional da religião, as manifestações discursivas são estendidas à expressão da prática polít
linguagem, em que nota-se a frequente (re) afirmação das crenças
, então, o discurso religioso como aquele que faz ouvir a voz de Deus ou de seus enviados (profeta, pastor, padre), sendo essa sua principal
(ORLANDI, 1996 apud PEDROSA). Desse modo, na religião “Deu do silêncio. E o homem precisa desse lugar para colocar (instituir) uma sua fala específica” (ORLANDI, 1987, p. 8). Daí, fica
permeará decisivamente o nosso trabalho: “como o homem fala no dizer que ele coloca na voz de Deus?” (idem p. 8).
Segundo Orlandi (1996 apud PEDROSA), o discurso religioso legitima meio do desnivelamento, da assimetria na relação entre o locutor e o ouvinte locutor está no plano espiritual (Deus) e o ouvinte está no plano temporal (os adoradores). Quanto aos modos de representação, a voz que fala em seus
se na relação simbólica em que o representante apropria
discurso de Deus. Disso deriva a “ultrapassagem”, que se assenta em dualismos O DA CENA ENUNCIATIVA NO DISCURSO RELIGIOSO:
2.1 OS FOLHETOS EVANGELÍSTICOS COMO MANIFESTAÇÃO DO DISCURSO
s diversas instâncias sociais especificam diferentes modos de dizer, que se No espaço institucional da religião, as manifestações discursivas são estendidas à expressão da prática política que é a (re) afirmação das crenças que norteiam as
o discurso religioso como aquele que faz ouvir a voz de Deus ou de seus enviados (profeta, pastor, padre), sendo essa sua principal Desse modo, na religião “Deus é o do silêncio. E o homem precisa desse lugar para colocar 8). Daí, fica uma questão que permeará decisivamente o nosso trabalho: “como o homem fala no dizer que ele
, o discurso religioso legitima-se por
tre o locutor e o ouvinte – o
o ouvinte está no plano temporal (os
, a voz que fala em seus
se na relação simbólica em que o representante apropria-se do
discurso de Deus. Disso deriva a “ultrapassagem”, que se assenta em dualismos
(plano divino versus
reversibilidade, em que há a passagem de um plano ao outro: de cima para baixo, ou seja, de Deus para
quando o homem se alça a Deus (orações, petições).
Vale reiterar ainda que o intertexto é elemento primordial na constituição e significação do discurso religioso. Ou seja, “Todo discurso religioso (pe
natureza) tem a ver com outro discurso religioso” (CASTRO, 1987, p. 31). Logo, o discurso religioso se manifestaria a partir da remetência a um texto de origem, que pouco tem a ver com o contexto imediato da enunciação, constituindo sempre um dizer já dito, um redizer de significação divina
Fazendo um diálogo entre tais estudos sobre o discurso religioso, situados no âmbito da Análise de Discurso, e a concepção de cena enunciativa proposta por Eduardo Guimarães, poder
âmbito da religião, principalmente as cristãs, no acontecimento da linguagem
específicas. Assim sendo, “o locutor fala da perspectiva da Igreja
que é uma perspectiva inserida na perspectiva de Deus (enunciador 2). O locutor fala, portanto, da perspectiva de Deus”
No caso dos folhetos evang
um Locutor, que, tomado em sujeito pelo ac
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