A REGULAÇÃO DO COMÉRCIO
INTERNACIONAL E A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC)
Gonçalo Santos de Oliveira Nº003138 11-12-2012
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O GATT
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Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia
Acordo comercial temporário
Proposta de uma Organização Internacional do Comércio recusada pelo Congresso dos EUA
GATT permanece em atividade com uma estrutura organizativa provisória
Código de conduta aplicável às relações económicas internacionais
Imposição de um certo número de princípios e regras disciplinadoras
Quadro provisório regulador da liberalização do comércio internacional
Base multilateral e não discriminatória
A OMC
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Resultados da Uruguay Round (1986-1994)
extensão do campo de ação a domínios antes não abrangidos (serviços, propriedade intelectual, produtos agrícolas, têxteis)
criação de um estatuto institucional e processual para enquadrar as regras substantivas do acordo revisto e ampliado, através da
aprovação do diploma relativo à OMC
Acordo que cria a OMC (entrada em vigor a 1 de Janeiro de 1995)
minimalista
dispõe apenas sobre aspetos de enquadramento institucional
em anexo e parte integrante do acordo estão os instrumentos jurídicos que materializam as obrigações e direitos dos membros da organização
O Acordo que cria a OMC
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Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia
Acordo que cria a OMC
Anexo 1a
Acordo sobre o comércio de mercadorias (GATT
1994)
Anexo 1b
Acordo sobre o comércio de serviços (GATS)
Anexo 1c
Acordo sobre aspectos de propriedade intelectual
relacionados com o comércio (TRIPS) Anexo 2
Sistema de regras sobre a resolução de litígios (DSU) Anexo 3
Mecanismo de revisão das políticas comerciais (TPRM) Anexo 4
Acordos Plurilaterais de Comércio (estes apenas se impõe a uma parte dos membros ² os seus signatários)
Aspetos institucionais da OMC
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Tem atualmente 157 membros
Os membros são os Estados e seus representantes governamentais ² carácter inter-governamental
Exceção: territórios aduaneiros que tenham total autonomia na conduta de relações comerciais internacionais
Principais Órgãos:
Conferência Ministerial
Conselho Geral
Órgão de Resolução de Litígios (DSB) e Órgão de Revisão das Políticas Comerciais (TPRB) como
transformações do Conselho Geral
Princípios Gerais da OMC
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Concessões multilaterais para a redução dos direitos
aduaneiros (Art. II GATT)
Principio da nação mais favorecida que estabelece que os produtos importados de um membro têm direito a um
tratamento pelo menos tão favorável como aquelo que é concedido a produtos de outros países (Art. I GATT)
Obrigação de tratamento nacional, ou seja, um pais do GATT está impedido de discriminar contra produtos
estrangeiros em beneficio de produtos nacionais (Art. III GATT)
Liberdade de movimentação de produtos (Art. IV GATT)
Exemplos de regras que se impõe aos seus membros
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Limitações na aplicação de taxas ou medidas de efeito
equivalente a tarifas (licenciamento, documentação, certificação, inspeção, quarentena, fumigação, etc.)
Proibição de quotas e limitações nas licenças de importação (Art.
XI GATT)
Regras de avaliação do valor dos produtos e inspeção (Art. VII GATT)
Regras para a atribuição de subsídios pelo Estado (Art. 2 SCM)
Empresas estatais são disciplinadas pelo principio de não- discriminação (Art. XVIII GATT)
Regras sobre as regulações técnicas (TBT)
Disciplina as regras sanitárias (SPS)
Regras sobre direitos de propriedade intelectual (Anexo 2 TRIPS)
Exceções
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Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia Suspensão de obrigações:
Anti-dumping (Art. VI GATT)
CVDS (Art. VI GATT)
Balança de pagamentos (Art. XII e XVIII GATT; Art. XII GATS)
Industrias nascentes (Art. XVIII GATT)
Proteção de emergência (Art. XIX GATT)
Clausulas específicas
Isenções (Art. X OMC)
Exceções permanentes:
Medidas para proteger a moral, a saúde e recursos naturais (Art.
XX GATT; Art. XIV GATS)
Segurança nacional ( Art. XXI GATT; Art. XIV GATS, Art. 73º TRIPS)
Renegociação ou modificação dos prazos (Art. XXVIII GATT; Art. XXI GATS)
Memorando de Entendimento sobre as regras que regem a resolução de litígios
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As partes em conflito deixam de poder bloquear a adoção do relatório do painel de peritos incumbida da análise do caso
Adoção do relatório do painel a menos que o Órgão de Resolução de Litígios (ORL ² DSB) decida, por consenso, no sentido da sua rejeição
A notificação formal por uma das partes da decisão de recorrer, no que respeita às questões de direito referidas no relatório do painel às interpretações jurídicas ai desenvolvidas, obsta à
adoção do relatório do painel.
O relatório do Órgão incumbido de apreciar o recurso (Órgão de Recurso ² Apellate Body) será também adotado, salvo se o ORL, por consenso, decida no sentido da sua rejeição
Memorando de Entendimento sobre as regras que regem a resolução de litígios
(Cont.)
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Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia Regra do consenso negativo torna improvável bloqueios e
reforça a segurança e previsibilidade nas relações comerciais internacionais
Caso um membro não assegure a conformidade com a medida considerada incompatível (num prazo razoável), pode-se
acordar uma compensação satisfatória
Na falta deste, a parte queixosa pode solicitar autorização ao ORL, em relação ao Estado Membro, para suspender a
aplicação de concessões ou outras obrigações (primeiro no sector onde ocorreu a violação e só depois noutros) ² Sanções comerciais retaliatórias
Processo bem definido, com prazos para cada fase e dotado de um quase automatismo
Processo de resolução de litígios
(Understanding the WTO, P.59,2011)
Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia
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Processo de resolução de litígios (Cont.)
(Understanding the WTO, P.59,1995 )
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Portugal e a OMC
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Imperativo da conformidade das disposições do ordenamento jurídico nacional com as regras da OMC já se traduziu na
expressa revogação de uma norma publicada posteriormente à entrada em vigor dos acordos
Reconhecimento na Constituição da República Portuguesa (CRP) do primado do direito internacional sobre o ordenamento
jurídico português (ao nível da lei ordinária) ² Nº 2 do Art. 8º da CRP
Revogação da norma também como forma de evitar uma
confrontação no âmbito do mecanismo de resolução de litígios da OMC ² os EUA em Abril de 1996 tinham apresentado
queixa contra Portugal sobre esse preceito ao abrigo do mecanismo atrás referido (DS37)
EUA ² Gasolina (DS2)
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Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia Data do painel:
10 de Abril de 1995 (Venezuela)
31 de Maio de 1995 (Brasil)
Partes:
Queixosos ² Brasil e Venezuela
Ofensor ² EUA
Medida em causa: $´UHJUDGD*DVROLQDµLQFOXtGDQR86&OHDQ$LU Act estabelecia regras para a composição da gasolina diferentes para a gasolina nacional e gasolina importada com a justificação de reduzir os efeitos das emissões de gases da Gasolina e assim prevenir a poluição do ar.
EUA ² Gasolina (DS2) (cont.)
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Produto em causa: gasolina importada e gasolina nacional
Conclusões do Painel/OR:
Violação do Art. II do GATT (principio de tratamento nacional) pois tratava a gasolina importada desfavoravelmente em comparação com a gasolina nacional
Não pode ser incluida no âmbito do Art. XX GATT, pois apesar de ter uma justificação válida (protecção ambiental), a mesma é
LQYiOLGDDRVHUGLVFULPLQDWyULDHXPDUHVWULFomR´GLVIDUoDGDµDR comércio internacional
Aplicação:
Os EUA no prazo estabelecido corrigem a medida incompatível (19 Agosto 1997)
UE ² Hormonas (DS26 e DS 48)
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Data do painel:
20 de Maio de 1996 (EUA)
16 de Outubro de 1996 (Canadá)
Partes:
Queixosos ² EUA e Canadá
Ofensor ² Comunidades Europeias (UE)
Medida em causa:
Proibição de importação de carne e derivados tratadas com certas hormonas com a justificação de proteção da saúde dos consumidores
Produto em causa: carne e derivados de carne tratados
com hormonas de crescimento
UE ² Hormonas (DS26 e DS 48) (cont.)
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Conclusões do Painel/OR:
Não obrigatoriedade de seguir as recomendações e
´VWDQWDUGVµLQWHUQDFLRQDLV636$UW² reversão da decisão do painel
Responsabilidade de provar é de quem acusa (SPS Art.
3.1, 3.2 e 3.3) ² reversão da decisão do painel
Violação do Art. 5.1 SPS pois a medida não se baseia numa avaliação de risco válida (sem fundamento
científico), mas permite à UE realizar essa avaliação de riscos
A medida é arbitrária e injustificada, mas não é GLVFULPLQDWyULDRXXPDUHVWULomR´GLVIDUoDGDµDR
comércio (Art. 5.5 SPS) ² reversão da decisão do painel
UE ² Hormonas (DS26 e DS 48) (cont.)
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Aplicação:
A UE, no prazo estabelecido, não conseguiu provar que a
proibição era cientificamente justificada mas continuou com a proibição.
1999 - Os EUA em resposta retaliaram através da imposição de sanções comerciais (tarifas ad valorem de 100%) em certos
produtos da UE (carne e derivados, queijos, pão torrado, frutas, sumos, mostarda, etc.) ao abrigo das regras da OMC.
2003 - UE declara que cumpriu com a avaliação de riscos exigida e que prova cientificamente o perigo das hormonas.
Considerou que foram cumpridas as suas obrigações e estaria em conformidade com as regras da UE. EUA discordam e
mantêm as sanções.
UE ² Hormonas (DS26 e DS 48) (cont.)
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2005 - A UE inicia novo processo de resolução de litígios para remover as medidas retaliatórias. Do processo
resultou uma decisão que não alterava o status quo.
2008 ² UE inicia outro processo contra os EUA e Canadá sobre o mesmo assunto.
2009 ² É assinado um Memorando de Entendimento entre os EUA e Portugal após revisão das sanções retaliatórias (aumento). Este estabelece um plano com 3 fases que
permite que carne sem hormonas entre no mercado único
europeu com um limite quantitativo que vai aumentando. Os
EUA por sua vez vão diminuindo as suas sanções.
Principais debates da regulação do comércio internacional
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Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia 'HFLV}HVGR25/HGR2UJmRGH5HFXUVRVmR´OHLVLQWHUQDFLRQDLVµ"
O efeito legal do relatório do painel: obrigação de obedecer?
Ou só obrigação de compensar e sofrer sanções comerciais retaliatórias?
Pode um governo ter uma interpretação própria do que é
necessário para proteção do ambiente ou dever ser imposto por um órgão internacional?
Ativismo ou Prudência Judicial?
2VUHFXUVRVGD20&VmRVXILFLHQWHVSDUDHVWD´MXGLFLDOL]DomRµ"
Determinação dos factos ao nível nacional?
O perigo dos casos de não violação
A OMC é uma verdadeira ordem legal?
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Há quem defenda que sim pois tem um conjunto de regras OHJDLVTXHIRUPDPXPVLVWHPDHTXH´JRYHUQDPµXPFHUWD comunidade. Tem dois atributos que parecem essenciais:
regras válidas e mecanismos de imposição dessas regras.
Há quem discorde e contraponha que a OMC não pode criar direitos para si própria porque não é um Estado.
Apenas os indivíduos (os Estados) o podem fazer. Não há
um verdadeiro mecanismo coercitivo para a imposição das
decisões adotadas pelo ORL, podendo-se pôr em duvida o
poder real da instituição incumbida de regular o comércio
internacional.
Constituição do Comércio Internacional?
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Gonçalo Oliveira/LM105/Direito da Economia
Problemas:
Não há uma legislatura mundial
Os órgãos da OMC não têm autonomia legislativa ou capacidade de regulamentar
Não há uma separação de poderes
Não está expressamente declarado que as obrigações são diretamente aplicáveis (efeito direto)
Não declara ser uma constituição
Desafios
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Comércio e Ambiente
Comércio e Investimento
Comércio e Regulação da Concorrência
Comércio e Direitos Laborais
Comércio Eletrónico