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CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA ENTRE PASTORES PROTESTANTES ATRAVÉS DO IPAQ.

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(1)

CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

PEDRO GALOZA DE AZEVEDO

CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA ENTRE PASTORES PROTESTANTES ATRAVÉS DO IPAQ.

S

ÃO

P

AULO

, 2019

(2)

PEDRO GALOZA DE AZEVEDO

CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA ENTRE PASTORES PROTESTANTES ATRAVÉS DO IPAQ.

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ISSERTAÇÃO APRESENTADA À

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AULO

, 2019

(3)

Bibliotecário Responsável: Eliezer Lírio dos Santos – CRB/8 6779 A994c Azevedo, Pedro Galoza de

Classificação do nível de atividade física entre pastores protestantes através do IPAQ / Pedro Galoza de Azevedo – 2019.

56 f.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2019.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Bitun Bibliografia: f. 53-56

1. Pastor 2. Sedentarismo 3. Atividade física 4. Espiritualidade

5. Cuidado coma saúde I. Bitun, Ricardo, orientador II. Título

LC BV4011

(4)
(5)

À Deus pela saúde e suporte em todos os momentos da minha vida até aqui.

À minha esposa Marina e filha Lis, minhas maiores incentivadoras. À vocês duas todo o meu amor.

Aos meus pais Robson e Ione, exemplos de vida para mim.

À minha irmã Mariah e meu cunhado Wallace. Amo vocês.

Ao meu amigo e mentor Ricardo Costa, obrigado pelo suporte e apoio.

À amada Igreja Presbiteriana Vinhedo, um povo que amo.

À Universidade Mackenzie por essa oportunidade.

Ao querido Doutor Ricardo Bitun pelo apoio e dedicação nessa etapa.

(6)

Religião, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2019.

RESUMO

A vida do pastor acontece à partir de uma rotina de trabalho altamente exigente, chegando a alcançar cargas horárias acima do comum se comparada com outras atividades profissionais. Temos percebido um cenário preocupante da vida de pastores no que diz respeito a sua saúde, seja física ou emocional. A prática regular de atividade física comprovadamente previne e trata eficazmente muitas doenças, sejam físicas ou emocionais. Diante disso, o presente estudo objetivou classificar um grupo de pastores através do questionário IPAQ quanto ao nível de atividade física entre ativo, insuficientemente ativo ou sedentário.

Após a aplicação do questionário num grupo de 30 pastores, com idade média de 36 anos, observou-se que 18 estão classificados como sedentários, 7 como insuficientemente ativos e 5 como ativos. Concluímos com esse estudo que necessita-se de uma ênfase maior do assunto entre pastores e líderes religiosos, uma vez que o cuidado com o corpo tem relação direta com a espiritualidade e saúde integral.

Palavras-chave: Pastor, Cuidado com a Saúde, Sedentarismo, Atividade Física,

Espiritualidade.

(7)

Religião, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2019.

ABSTRACT

The life of the pastor happens from a routine of work highly demanding, reaching to reach hourly loads above the common one when compared with other professional activities. We have seen a worrying scenario in the lives of pastors regarding their health, whether physical or emotional. Regular practice of physical activity has proven to effectively prevent and treat many diseases, whether physical or emotional. Therefore, the present study aimed to classify a group of pastors through the IPAQ questionnaire regarding the level of physical activity between active, insufficiently active or sedentary. After applying the questionnaire to a group of 30 shepherds, with a mean age of 36 years, it was observed that 18 are classified as sedentary, 7 as insufficiently active and 5 as active. We conclude with this study that a greater emphasis of the subject is needed between pastors and religious leaders, since the care with the body has direct relation with the spirituality and integral health.

Keywords: Pastor, Health Care, Sedentary, Physical Activity, Spirituality.

(8)

2 A VIDA E SAÚDE DO PASTOR PROTESTANTE...10

2.1 A ROTINA DE TRABALHO...11

2.2 SAÚDE EMOCIONAL DO PASTOR...14

2.3 BURNOUT E VIDA PASTORAL...20

3 O PASTOR E O CUIDADO COM O CORPO...27

3.1 ESPIRITUALIDADE E O CORPO...27

3.2 SAÚDE FÍSICA E ESPIRITUAL DO PASTOR...30

4 SEDENTARISMO E ATIVIDADE FÍSICA...32

4.1 SEDENTARISMO E DOENÇAS CARDIOVASCULARES...36

4.2 SEDENTARISMO E SAÚDE EMOCIONAL...39

4.3 ATIVIDADE FÍSICA E PROMOÇÃO DA SAÚDE FÍSICA E EMOCIONAL...42

5 PESQUISA E RESULTADOS...46

CONSIDERAÇÕES FINAIS...50

REFERÊNCIAS...53

(9)

INTRODUÇÃO

A vida de um líder religioso pode muitas vezes ser vista pelos outros de uma forma diferente do que de fato se passa. Não é incomum a literatura que aponta para a realidade por detrás de homens e mulheres que decidem se dedicar aos cuidados dos outros através da vocação pastoral, e em algum momento se esquecem do cuidado de si. As consequências deste fato tem se desdobrado em fatores muitas vezes físicos e ou emocionais.

Nesse sentido Paulo Audebert Delage, discorrendo sobre as tensões existentes no ministério pastoral diz:

Tenho percebido a necessidade de muitos pastores em terem alguma direção quanto à saúde em suas distintas expressões, mas pouco se pode achar de forma específica e escrita, fazendo com que muitos acabem naufragando em enfermidades e falta de saúde seja física, econômica, espiritual, moral, familiar, emocional, afetiva ou acadêmica.

Muitos pastores e pastoras estão gritando por socorro, embora boa parte deles “grite em seu silêncio” devido ao medo de se expor e não haver compreensão por parte do rebanho e, até mesmo, execração e repulsa. Por causa disso não são curados, devido a isso ficam cada vez mais enfermos, como consequência adoecem os que estão perto de si (cônjuges, filhos e a própria igreja).

Diante deste fato existe uma necessidade de se buscar ferramentas e meios para uma efetiva intervenção que possa minimizar os impactos da rotina e do ministério pastoral, de maneira que a saúde do pastor possa estar em equilíbrio para que sua atuação seja efetiva e colha bons resultados, sem que isso venha a prejudicar a si mesmo ou os que estão ao seu redor.

__________________________

1DELAGE Paulo Audebert (organizador). Pastor: cuidado com sua saúde. Bauru, SP – Editora Nossa Missão 2015.

(10)

Na busca por tratamentos ou métodos preventivos de tais doenças que têm afetado a vida de pastores e pastoras, a ênfase em terapias e até utilização de medicamentos encontram destaque. Certamente a multiplicidade é um fator importante para o êxito de tratamentos dessas dimensões de disfuncionalidade, mas não devem se limitar a esses métodos.

A prática regular de atividades físicas, o que faz com que o indivíduo deixe de ser sedentário demostra prevenção e parte importante de tratamento de diversas doenças, sejam físicas ou emocionais. A questão é que quando se trata de religião a ênfase na “saúde da alma” equivocadamente exclui a atenção e o cuidado com o corpo. Há dificuldade em se obter materiais e literaturas que discorram sobre a saúde física e emocional de pastores e líderes religiosos atrelado ao cuidado com o corpo. A mordomia cristã deve incluir também a atenção e cuidados com a saúde do corpo.

Diante disso, o presente estudo tem como objetivo classificar pastores

quanto ao nível de atividades físicas através do Questionário IPAQ. Uma vez

que alma e corpo não devem ser tratados em oposição, e que o cuidado com a

saúde do corpo reflete na saúde física e emocional, faz-se necessário perceber

se essa tem sido uma realidade no cotidiano de pastores.

(11)

2 A VIDA E A SAÚDE DO PASTOR PROTESTANTE

Vivemos numa sociedade que tende a negligenciar e ignorar os limites da vida e da saúde, principalmente quando o assunto é produtividade – trabalho. E essa realidade tem afetado pessoas das mais variadas frentes de atividades profissionais e de trabalho, incluindo líderes religiosos, e sendo mais específico – pastores e pastoras protestantes.

Paulo Audebert Delage

1

diz que:

Há pastores e pastoras gemendo e chorando em vez de estarem alegres e felizes no exercício do pastoreio, devido à compreensão de que eles e elas são seres humanos igualmente carentes de cuidados e pastoreio humanos, necessitados de auxílio e suporte a fim de terem boa saúde e poderem, assim, conduzir de forma saudável um rebanho igualmente sadio.

Essa constatação é percebida no dia a dia de muitos pastores e pastoras que se dedicam ao cuidado do próximo, negligenciando o cuidado consigo mesmo, e as consequências têm sido trágicas para famílias e igrejas.

__________________________

1DELAGE Paulo Audebert (organizador). Pastor: cuidado com sua saúde. Bauru, SP – Editora Nossa Missão 2015.

(12)

2.1 – A ROTINA DE TRABALHO.

Seria possível mensurar a rotina de trabalho de um pastor? Quanto tempo um pastor se dedica às atividades relacionadas a vocação pastoral? Em sua rotina, quais são as atividades peculiares? Essas são algumas questões relacionadas ao trabalho pastoral que encontram muitas variações, à começar pelas características variantes de cada realidade local.

A rotina de pastores e líderes cristãos é, no mínimo, intensa. Uma “lista básica” de atribuições inclui visitação; aconselhamento conjugal e familiar;

assistência a enfermos; funerais; reuniões administrativas; gerenciamento de conflitos; estudo, preparo e apresentação de sermões e capacitações; estudos bíblicos; evangelismo; pequenos grupos; construções e reformas; representação da igreja junto à comunidade; mobilização para projetos sociais, e a relação não acaba aqui.

Pastores que exercem o ministério em grandes cidades tendem a ter um ritmo diferente de pastores que se encontram em cidades menores. O tamanho da igreja também é um fator determinante na rotina. Outra variável pode ser o fato de um pastor trabalhar sozinho, ou como parte de uma equipe, onde as atividades são distribuídas entre um colegiado de pastores.

2

__________________________

2SILVA, Jetro Ferreira da. O burnout pastoral na perspectiva da teologia prática: definições, causas e prevenção. São Paulo, 2006. Tese (doutorado) – Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora Assunção.

(13)

Nessa rotina de trabalho na maioria das vezes centrada no pastor, os dias são tomados por variadas formas de atuação e sem uma divisão ordenada de carga horária. As atividades pastorais normais do dia a dia envolvem horas em escritórios, comumente chamados de gabinetes pastorais.

Nesse local o pastor se envolve em aconselhamentos, na maioria das vezes dos próprios membros da igreja local. Durante um único dia de aconselhamento o público pode ser totalmente variado, com atendimentos a adolescentes passando por suas crises relacionadas a idade, ou a casais enfrentando problemas conjugais, ou ainda, pessoas enfrentando enfermidades, perdas ou dificuldades financeiras – tudo dentro de um único dia. Em um mesmo dia o pastor pode participar de um ofício fúnebre pela manhã, e celebrar uma comemoração de aniversário, na parte da noite.

Além das atividades de atendimentos, aconselhamentos e visitações, a rotina de trabalho do pastor também envolve longas horas de estudo. O estudo pode variar entre leituras bíblicas e aprofundamento teológico, a fim de que se possa preparar o sermão, além da leitura de livros que variam de densas obras teológicas à literatura contemporânea. Após toda a carga de leitura o pastor precisa organizar as ideias e o conteúdo, transformando todas as informações coletadas em um sermão didático e atrativo para a congregação que o ouve domingo após domingo. Alguns especialistas em Homilética, definem que em linhas gerais são necessárias 20 horas para o preparo de um bom sermão.

3

__________________________

3

ibid

(14)

Então, percebe-se que uma rotina semanal normal de um pastor de igreja local envolve atendimentos aos membros da igreja, aconselhamentos, visitas, comemorações e momentos de acolhimento, além de horas dedicadas ao preparo do sermões e estudos. Mas não para por aí. Pastores também são os responsáveis em administrar os recursos da igreja local, na maioria das vezes tendo o seu nome à frente dessa área. É certo que em grande parte das igrejas organizadas em denominações históricas ou mesmo as estabelecidas de maneira independente, quando seguem um mínimo padrão de organização, constituem um conselho de pessoas que gerem os recursos, mas o que não exime o pastor como sendo a figura de maior visibilidade.

A partir dessas três áreas básicas de atuação pastoral, aconselhamentos, preparo de estudos e sermões, e administração da igreja local, a carga semanal de trabalho que pode facilmente ultrapassar as 40 horas normais de um trabalhador comum. Soma-se a essa rotina, o fato de que nos finais de semana o pastor não pode simplesmente desligar o computador e descansar, pois é justamente nesses dias que os encontros comunitários acontecem.

4

__________________________

4ibid

(15)

É de praxe que o pastor então descanse em um dia da semana.

Tradicionalmente esse dia é a segunda-feira, o que tem variado de local para local. Um fator peculiar da geração contemporânea em comparação à gerações passadas é a presença inevitável do avanço tecnológico. Com isso, a disponibilidade outrora atrelada a um espaço físico e hora marcada agora extrapola os limites do tempo. Em qualquer lugar e a qualquer hora o pastor pode ser acionado.

É fato que a rotina semanal de trabalho de um pastor requer alta carga de trabalho e performance, o que faz com que muitas vezes inevitavelmente sua saúde integral acaba sendo negligenciada, o que tem afetado negativamente a vida de homens e mulheres que um dia dizem ter sido “chamados por Deus” para exercerem o sagrado ministério pastoral, o que ao longo do tempo atraiu estudos direcionados a diferentes áreas relacionadas a saúde.

2.2 – SAÚDE EMOCIONAL DO PASTOR

Em 1997 o psiquiatra Francisco Lotufo Neto desenvolveu uma pesquisa na área da saúde emocional em ministros religiosos. De acordo com o médico, trabalhos de certa forma pertinentes ao tema em questão foram elaborados nos Estados Unidos e Europa. A seguir citam-se resumidamente alguns trabalhos entres outros reportados por esse pesquisador

5

:

__________________________

5LOTUFO NETO, F. Psiquiatria e religião: a prevalência de transtornos mentais entre ministros religiosos. São Paulo, 1997. Tese (livre docência) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Departamento de Psiquiatria. Disciplina de Psiquiatria.

(16)

MOORE (1936), bispo católico e psiquiatra quis conhecer a saúde mental de clérigos e religiosos a partir de pesquisas realizadas nos sanatórios e asilos católicos e não-católicos dos Estados Unidos. Os resultados apontaram para uma incidência sempre superior de demência precoce e comportamento maníaco-depressivo entre as freias; alcoolismo, psicose maníaco-depressiva e paranoia entre sacerdotes, quando comparados com a da população internada.

MORGAN (1958) observou, entre ministros internados nos hospitais públicos norte-americanos, casos de reação psicótica involutiva, esquizofrenia, depressão agitada, reação maníaco-depressiva, distúrbios de personalidade e alcoolismo, entre outros.

LA BORIA (1958) constatou que 70% dos 446 sacerdotes que receberam atendimento em um hospital psiquiátrico de Brescia (Itália) apresentaram sintomas de fobia obsessiva.

BLIZZARD (1956) entrevistou 690 ministros protestantes, identificando sintomas de estresse ligados à carga excessiva de trabalho, descontentamento com a quantidade de responsabilidades administrativas, e pressão interna por parte dos membros das igrejas relacionadas aos desejos e expectativas depositadas nos ministros.

6

__________________________

6ibid

(17)

BLAIN (1958) faz uma extensa lista dos fatores de estresse na vida dos pastores, chegando a esses principais: desprestígio do ofício, falta de privacidade, problemas de relacionamento com a equipe, apelos constantes de ajuda por parte da comunidade, acúmulo de funções e consequente esgotamento, perda de energia e irritação.

JOHNSON (1970) em seu estudo identifica os riscos emocionais para os ministros: crise de identidade, perfeccionismo, complexo de prioridade, complexo de mártir, sensação de não pertencer (sensação de isolamento).

No Brasil, Lotufo Neto desenvolveu sua pesquisa objetivando estudar a prevalência de transtornos mentais entre ministros religiosos protestantes, residentes na cidade de São Paulo. Sua mostra foi composta por 207 ministros, sendo 87 batistas, 52 presbiterianos, 19 metodistas, 6 da Assembléia de Deus e 43 de outras igrejas independentes.

O trabalho do Dr. Lotufo Neto se propôs a verificar a correlação entre a

prevalência dos transtornos mentais com a orientação religiosa, e os fatores de

estresse da vida pastoral. Partindo deste objetivo, a pesquisa observou entre

outras constatações que “os clérigos estão sujeitos a um perfil de fatores

estressantes peculiar, que inclui exigência de vida sem falhas, disponibilidade

constante, sobrecarga de trabalho, mediação frequente de conflitos e pouco

reconhecimento social e financeiro do seu trabalho”. Os indivíduos que

responderam o questionário tinham idade média de 44,7 anos (68,6% entre 30

e 60 anos). As respostas indicaram que 22% apresentavam sintomas

psiquiátricos no período da pesquisa (estado atual); 68% já haviam apresentado

antes (durante a vida antes), e 73% ao longo da vida (durante a vida toda).

(18)

Dentre os 207 ministros religiosos que responderam ao questionário, 40 indivíduos foram aleatoriamente selecionados para uma entrevista mais aprofundada. A prevalência global de transtornos mentais entre os 40 ministros entrevistados (quando considerado o período todo da vida do ministro) foi de 47%, quando a prevalência entre a população de São Paulo é de 31% na média (homens e mulheres). “Depressão foi o diagnóstico mais frequente entre ministros religiosos (16,4%)”. Dentre outras conclusões de Lotufo Neto, destaca- se aqui a seguinte: Ministros religiosos cristãos não católicos residentes em São Paulo, têm uma prevalência aumentada de transtornos afetivos e ansiosos, e menor de abuso e dependência de álcool e drogas.

7

A psicologia tem desenvolvido estudos voltados para a saúde emocional de pastores devido a um elevado número de transtornos relacionados ao aspecto psicológico. A psicóloga Roseli M. Kühnrich de Oliveira (2007) abordou especificamente a pessoa do pastor, desenvolvendo a tese de que há um risco elevado de um pastor “ferir-se emocionalmente” no exercício do ministério, uma vez que os mesmos assumem um relevante papel de cuidadores em meio a um

“amplo sistema de saúde mental e comunitária, acessível e menos burocrático do que, em geral, são os órgãos governamentais”.

8

__________________________

7ibid

8OLIVEIRA, Roseli M. Kühnrich de. Cuidando de quem cuida: um olhar de cuidados aos que ministram a Palavra de Deus. 3. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2007.

(19)

Oliveira aborda o que ela chama de as patologias que se apresentam como reverso do cuidado (não-cuidado). Assim, em sua pesquisa, a autora entrevistou os pastores, dando a eles voz, e constando sintomas preocupantes em uma parte considerável dos entrevistados. Entre as respostas, aparecem queixas como cansaço, desilusão, desânimo, irritabilidade constante, e até mesmo constatação de síndrome de burnout (exaustão ligada à função ocupacional). Isto nos remete à reflexão sobre as chamadas patologias do cuidado.

A autora cita três tipos de patologias do cuidado: a negação, a obsessão e o descuido. A negação do cuidado remete o cuidador à perda dos parâmetros e de limites normais ao corpo. O ritmo excessivamente ativista na tarefa pastoral pode levar a descuidos com alimentação, sono, lazer, descanso, privacidade, entre outros. Por sua vez, o cuidado excessivo pode levar o cuidador a perder- se “no enfoque entre o cuidado de si mesmo e do outro, passando a se proteger de tal forma que prejudica o seu exercício profissional e suas próprias relações”.

4

Por outro lado, o exercício do ministério pastoral pode gerar um estresse positivo: eustresse – “o bom estresse, causando atividade, satisfação, alegria, cânticos, e outras manifestações variadas”. No entanto, Oliveira constatou sintomas de estresse patológico entre os pastores, que pode ser identificado pela palavra distresse. Utiliza-se esta palavra “quando há perdas, lesões, marcas, travamentos, verdadeiros ‘apagões’ da personalidade”.

9

__________________________

9ibid

(20)

Assim como o estresse emite sinais característicos de euforia, homeostase e bem-estar, o distresse também emite seus típicos sinais de alerta:

cansaço prolongado, desmotivação e tristeza. Constatou-se também entre os pastores, nítidos sintomas da síndrome de Burnout, uma doença normalmente confundida com o estresse.

10

Embora o componente da espiritualidade seja um elemento gerador de saúde, na vida do pastor há muito desgaste em função das demandas constantes, tanto pessoais, quanto da família e comunidade, havendo uma correlação entre exaustão emocional, física e espiritual. Uma cilada perigosa também deve ser levada em consideração: a idealização da figura do pastor pela comunidade de fiéis. Isto pode levar o pastor a dois extremos complicados:

mostrar-se muito humano ou mostrar-se muito indiferente. Ao revelar-se humano, ele expõe as fraquezas típicas da humanidade, o que pode decepcionar suas ovelhas carentes de um protetor. Por outro lado, se optar por esconder suas emoções e fragilidades, isola-se e afasta-se do rebanho, podendo ser confundido como alguém que não se importa, um ser superior aos mortais. Sobre a imagem que os fiéis têm de seus pastores, Oliveira percebeu que as idealizações ocorrem em duas vias e que por vezes os pastores são induzidos a se comportar de acordo com as expectativas da igreja.

11

__________________________

10ibid

11ibid

(21)

2.3 – BURNOUT E VIDA PASTORAL

A Síndrome de Burnout pode afetar diferentes profissionais em qualquer faixa etária, contudo algumas atividades profissionais estão em maior zona de risco.

Áreas de assistencialismo, professores e profissionais de saúde são mais propensos a desenvolverem a síndrome.

12

França caracteriza o Burnout e sua predominância

13

:

[...] sintomas e sinais de exaustão física, psíquica e emocional, em decorrência da má adaptação do indivíduo a um trabalho prolongado, altamente estressante e com grande carga tensional. Acompanha-se de sentimento de frustração em relação a si e ao trabalho. Embora já tenha sido descrita em várias e diferentes profissões, sua incidência é predominante entre os profissionais que trabalham na área de ciências humanas, particularmente, enfermeiros, médicos e assistente sociais.

A síndrome de Burnout surge em consequência da tensão emocional crônica a partir do contato com outras pessoas, sobretudo, em cuidado, em situações que exigem atenção permanente e grande responsabilidade. Aqueles que cuidam, precisam se cuidar. Esse é o recado que a síndrome de Burnout passa aos cuidadores em geral – não ignorem sua saúde física e mental.

__________________________

12RONCATO, L. Fontes de estresse ocupacional, coping e resiliência em psicólogas clínicas no ambiente de consultório (Dissertação de mestrado, 2007).

13FRANÇA, H. H. (1987). A síndrome de burnout. RBM- Revista Brasileira de Medicina, 44,197- 199.

(22)

Benevides-Pereira

14

aponta que características pessoais podem ser facilitadores do desencadeamento do Burnout, tais como: idade, nível educacional, estado civil, personalidade, as características do trabalho, o tempo de profissão, se o trabalho é por turnos ou noturno, se há sobrecarga de trabalho, como se dá a relação profissional-cliente, o tipo de clientela, o relacionamento entre colegas de trabalho, o nível de satisfação no trabalho, o nível de suporte organizacional, se há muita pressão no trabalho. Características sociais tais como suporte familiar, suporte social, a cultura em que o individuo está inserido também devem ser consideradas. Cada fator precisa ser considerado nessa equação, e por isso, é tão singular o desenvolvimento do Burnout em cada pessoa, e demanda ações terapêuticas singulares.

Profissionais que atuam diretamente ajudando outras pessoas possuem níveis de stress maiores, são profissões de maior desgaste, com maior risco de transtornos mentais. Contessa

15

e Maslach

16

estudaram minuciosamente os cuidadores, gente que cuida de gente: médicos, policiais, sacerdotes, enfermeiros, professores e assistentes sociais. Embora não tenha pesquisado sacerdotes diretamente, concluiu que

17

:

O religioso que deve ser fonte de refúgio e apoio para todos os que buscam ajuda, a qualquer hora, e que não tenha ninguém a quem se dirigir quando tem um problema pessoal, é também um sujeito que está em perigo.

__________________________

14 BENEVIDES-PEREIRA. A. M. T. (org.) (2002). Burnout: quando o trabalho ameaça o bem- estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo.

15CONTESSA, G. L’operatore sociale cortocircuito: la burning-out syndrome in Itália,. Animazione Sociale, p. 29-41, 1981-1982.

16MASLACH, C. La síndrome del burnout; ill prezzo dell’aiuto agli altri. Assisi; Cittadella Editrice, 1992.

17 ibid

(23)

Pastores estão em zona de perigo emocional ao exercerem sua vocação.

Morais

18

cita Ciarrocchi e Wicks que em sua pesquisa chamaram o fenômeno do esgotamento físico e emocional em sacerdotes de “cansaço da compaixão”. O trabalho dos ministros religiosos, profissionais que lidam permanentemente com a dor humana, situações de carência e desgaste de outras pessoas, foi ampliado com relação aos anos anteriores. O trabalho ordinário se encheu de complexidade e desafios, ampliando a responsabilidade do ministro pelo outro, portanto, investigar o atual cansaço do ministro religioso e sua capacidade de enfrentamento se reveste de urgência, levando em conta que há pouco material em língua portuguesa e em contexto brasileiro que trate do assunto dentre as ciências humanas.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o stress é uma das maiores ameaças à saúde humana do século XXI. Toda ação de um profissional cuidador, ou as muitas ações do seu dia a dia, podem levar ao stress e ao Burnout, gerando uma lacuna entre esforço e recompensa. Os cuidadores, são aqueles que atuam sobre ‘poder de existir’ do outro, possibilitando a ampliação das possibilidades do ser humano, envolvendo atenção, zelo, preocupação, ocupação, responsabilidade e envolvimento afetivo, envolve a totalidade de uma pessoa, é um processo de total imersão na condição humana, e não raro, essa imersão pode levar ao sofrimento de quem cuida.

__________________________

18 MORAIS, Maria de Fátima Alves de . Stress, burnout, coping em padres responsáveis pela formação de seminaristas católicos. Tese de doutorado em ciências da religião apresentada na Pontifícia Universidade Católica De São Paulo. São Paulo, 2008. p.13

(24)

O profissional-pastor é alguém imerso no cuidado do outro e dentre as múltiplas denominações evangélicas há diversos olhares para a função, sua ordenação, as atividades que são atribuídas a ele, etc. Embora dentre os protestantes exista uma premissa de igualdade entre todos com o chamado

“sacerdócio universal”, o exercício da liderança pastoral ainda é uma tarefa desafiadora. Para Weber

19

há, além das responsabilidades humanas, uma transcendentalidade no ofício, aonde a vocação que se manifesta na atuação do trabalho se torna a única maneira de viver sendo aceito por Deus, e assim, passa a ter não apenas um caráter humano, mas se mistura a uma missão divina a que o ser humano tem que se submeter.

Ademais, Carlotto e Câmara

20

apontam que, no Brasil, toda profissão de ajuda, tem maiores expectativas sociais depositadas, uma espécie de cobrança de que sejam sempre efetivos e sempre apresentem proximidade do público alvo. Nakano

21

vai defender que ministros religiosos deveriam ser incluídos dentro da categoria de profissionais de ajuda porque a variedade de papéis e tarefas que eles desenvolvem, é um tipo de trabalho diretamente ligado ao ser humano.

__________________________

19Weber, M. (1967) A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira.

20CARLOTTO, Mary Sandra; CAMARA, Sheila Gonçalves. Propriedades psicométricas do Maslach Burnout Inventory em uma amostra multifuncional. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 24, n. 3, p. 325-332, Sept. 2007 .

21NAKANO, E. F. M. Burnout, Discurso do sujeito coletivo e aspectos psicossociais em pastoras e pastores. 2017, 138f. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

(25)

Na Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério de Trabalho e Emprego

22

, o pastor evangélico é categorizado como ministro de culto religioso, somando as seguintes atribuições: realizar liturgias, celebrações, cultos e ritos;

dirigir e administrar comunidades; formar pessoas segundo preceitos religiosos das diferentes tradições; orientar pessoas; realizar ação social na comunidade;

pesquisar a doutrina religiosa; transmitir ensinamentos religiosos; praticar vida contemplativa e meditativa; e apoio.

Sonnentag

23

desenvolve um estudo com pastores protestantes e esposas, revelando a incapacidade do ministro de não se desligar dos pensamentos do trabalho e sua dificuldade em estabelecer limites espaciais e tecnológicos entra casa e trabalho. Leva-se em conta ainda a “casa pastoral, lugar onde em algumas denominações o pastor mora, próximo à igreja, o que torna a diferenciação de limites espaciais quase impossível.” O que dizer dos limites pessoais, de privacidade e familiares, tantas vezes negligenciado nesse contexto. O autor utiliza-se do conceito de Distanciamento/Destacamento Psicológico para retratar o distanciamento mental quando não se está no trabalho. É uma necessidade de distanciamento físico-mental da pessoa- trabalho, e estes autores demonstraram que carga de trabalho elevada, dissonância emocional e poucos limites espaciais entre trabalho e não trabalho foram negativamente associados com o distanciamento do trabalho no período em que os pastores não estavam trabalhando.

__________________________

22Classificação Brasileira de Ocupações. Ministério do Trabalho e Emprego. Brasília, 3 ed, 2001.

23SONNENTAG. A, Kuttler.I &Fritz.C. Job Stressors, emotional exhaustion, ande need for recovery: A Multi-source study on the benefits of psychological detachment. Journal of Vocational Behavior 76 (2010).

(26)

Também apontaram que pouco distanciamento psicológico do trabalho mantém a mente das pessoas como que num estado de conexão o tempo todo com o trabalho, situação e comportamentos preocupantes.

De acordo com Parker

24

num estudo realizado na Austrália com 200 pessoas, desde rabinos, ministros, pastores, padres, freiras, capelães e conselheiros pastorais, 30% deixam o trabalho nos primeiros 5 anos, sendo que a maioria nos primeiros 3 anos. Num estudo realizado nos Estados Unidos

25

, 50% deixam o trabalho.

Como observamos, todo profissional de ajuda está em risco, e o profissional-pastor tem atribuições de cuidado-ajuda, somados a um contexto específico que aumenta a sua carga emocional e de trabalho, sua vulnerabilidade precisa ser considerada.

O trabalho em contexto brasileiro ocupa, pelo menos, um terço do dia, oito horas diárias, dois turnos do dia. O ministro religioso, por vezes, trabalha full time; pode receber um telefonema de urgência na madrugada, e fica, portanto, o tempo todo em alerta.

__________________________

24PARKER, P.D & Martin, A.J. Clery Motivation and Occupational Well-being: Exploring a Quadripolar Model and Its Role in Preticting Burnout and Engagement.Journal Relig. Health (2011).

25JACKSON-JORDAN. E.A.Clery Burnout and Resilience: A Review of the Literature. J Pastoral Care Counsel. 2013.

(27)

Evers e Tomic

26

revelam em sua pesquisa que pastores possuem altos níveis de exaustão emocional quando comparados com outras profissões de ajuda. Jackson-Jordan

27

apontam em sua revisão de literatura sobre Burnout e resiliência, em ministros religiosos, a predominância dos seguintes temas: a qualidade de suas habilidades interpessoais, como se dão os relacionamentos com pessoas fora do contexto religioso, o estabelecimento de relacionamentos com um mentor, a existência de alta expectativa sobre o clero, a espiritualidade pessoal e a habilidade de construir limites para uma saúde emocional sustentável.

Pesquisas têm apontado para resultados preocupantes: (1) Doolittle

28

desenvolve um estudo com 358 líderes religiosos cristãos e encontra 13% com relatos de Burnout, 23% com depressão e 45% com alto ou moderado nível de exaustão emocional; (2) Oliveira (2004) pesquisa 18 pastores da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil), encontrando 5,6% que se disseram estressados e exaustos; 66,7%, apesar de se sentirem bem, disseram-se sobrecarregados; 58,8% se sentem cuidadores, e apenas 35,5% se sentem cuidados; (3) Santos (2014) pesquisou pastores presbiterianos no estado de MG e identificou aspectos ligados à exaustão emocional, despersonalização, perda de significado no trabalho, baixa realização profissional.

__________________________

26EVERS W & Tomic W. Burnout Among Dutch Reformed Pastors. Jounal of Psychology and Theology, N 4 pp 329-338, 2003.

27ibid.

28DOOLITTLE, B.R 2010. The impacto f behaviors upon burnout among parish-based clery. The Journal os Religion and Health, 49(1), 88-95)

(28)

3 O PASTOR E O CUIDADO COM O CORPO

Na vida de um pastor, líder religioso, o cuidado com a “saúde espiritual” é visto como fundamental – e de fato é. Mas tal ênfase não deveria se atrelar à negligência do cuidado com a saúde física. Esse é um fator atrelado a possibilidades diversas.

O exercício físico é citado em 1 Timóteo 4:8

29

: “O exercício físico é de pouco proveito; a piedade, porém, para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida presente e da futura.”

Apesar de em momento algum do texto bíblico apontar para a falta da necessidade do cuidado com o corpo à partir do exercício físico, existem aqueles que justificam tal postura enfatizando a necessidade e melhor proveito da dedicação às “coisas espirituais” – a piedade.

3.1- ESPIRITUALIDADE E CORPO

A fé e a devoção ao corpo de Cristo contribuíram para elevar o corpo a uma alta dignidade, fazendo dele um sujeito na história. Corpo magnificado do Filho encarnado, do encontro do Verbo com a Carne, o Corpo glorioso de Cristo da Ressurreição, o corpo torturado do Cristo da Paixão, cujo símbolo é em toda parte a cruz, que lembra o sacrifício pela redenção da humanidade. O corpo limitado da grande legião dos santos, o corpo maravilhoso dos eleitos no Juízo Final.

30

__________________________

29A Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Editoria Vida, 2003.

30VIGARELLO, Georges. História do Corpo. 5 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012, Volumes I, II, III.

(29)

Entretanto, existe uma divergente imagem do corpo, semelhantemente cheia de sentido, que é a imagem do ser humano pecador. O corpo depreciado do ser humano pecador era, também, entendido como o caminho para a perdição. Delumeau

31

bem disse que “o pecado e o medo, o medo do corpo, principalmente o medo do corpo da mulher, aparecem como uma ladainha sob forma de precauções ou de condenações”. Uma ambiguidade atravessa o discurso cristão sobre o corpo e as imagens que ele representa, por meio de um duplo movimento de enobrecimento e de menosprezo do corpo.

A dificuldade em definir o corpo em sua totalidade atravessa toda a filosofia. Existe uma dualidade que permeia a ideia de corpo em contraposição à alma que vai de Platão a René Descartes com esse paralelismo.

32

Essa dualidade permeou praticamente todo o pensamento filosófico da época e, logicamente, influenciou o pensamento cristão que assimilou, em partes, essa dificuldade de entendimento do corpo como um todo. “Coube ao platonismo o gesto teórico de fundação da oposição entre corpo e psique. Para Platão, há antítese e antagonismo entre corpo e psique; esses dois extremos seriam contrários um ao outro.”

33

__________________________

31DELUMEAU, Jean. Le péche et la peur – La culpabilisation em Occident, XIII-XVIII siècles.

Paris: Fayard, 1983.

32GONÇALVEZ, Humberto Maiztegui. Uma abordagem teológico-antropológica da sexualidade na Bíblia. In: CALVANI, Carlos Eduardo (org). Bíblia e Sexualidade – abordagem teológica, pastoral e bíblica. São Paulo: Fonte Editorial, 2010.

33CARDIM, Leandro Neves. Corpo. São Paulo: Globo, 2009.

(30)

Platão (427-347 a.C.) entendia o mundo material como uma reprodução imperfeita e uma imitação malfeita do mundo ideal. O mundo das ideias que era perfeito, eterno, incorruptível e divino. Para Platão, a alma (espírito) se relaciona com as ideias puras e pertencentes a Deus, entretanto, o corpo estava ligado ao mal, que veio mais tarde a ser identificado com Satanás, ou seja, o corpo como prisão da alma e habitação do mal. No entendimento de Platão, os objetos concretos e as coisas visíveis eram apenas reflexos de sua verdadeira essência que era invisível – o mundo do pensamento é que era real.

Em Descartes (1569-1650), pai da filosofia moderna, há uma oposição bem nítida entre a coisa pensante e a coisa externa (corpo). Temos um espírito que se manifesta no fato de sermos seres pensantes, mais real e mais fácil de reconhecer do que a existência corporal, e temos um corpo que obedece aos princípios, regras e leis da mecânica. O corpo humano é considerado por ele a máquina mais perfeita criada pelas mãos de Deus. É possível conceber alma e corpo como realidades distintas e independentes. “Para Descartes, o corpo deve ser apresentado em uma dupla perspectiva: ao mesmo tempo vivo e inerte, o corpo que sou e o corpo que tenho”

34

Percebe-se que o corpo traz consigo diferentes interpretações e se mostra terreno ainda indefinido no que tange a sua representação, sendo, portanto, palco para as mais diversas interpretações e consequentemente para futuras análises.

__________________________

34ibid

(31)

3.2- SAÚDE FÍSICA E ESPIRITUAL DO PASTOR

Originalmente citado na Sátira X do poeta romano Juvenal, a expressão Men sana in corpore sano, possui vários significados. Provavelmente, o mais citado em nossos dias se refira ao sentido de equilíbrio na saúde física e espiritual, isto é, para se ter uma mente (espírito) saudável, é precisa ter um corpo saudável.

Conta-se a lenda que quando o mestre indiano Butao, também chamado de Ta Mo, um renomado teórico do budismo chegou à China por volta da Dinastia Wei do Norte (386-557 AD), o imperador construiu um templo para abrigá-lo, e ele sendo abado do templo, direcionava os monges à prática de longas horas de meditação. Percebendo que os monges cochilavam durante as horas de estudo e meditação, elaborou uma série de exercícios para fortalecer fisicamente seus discípulos, objetivando a melhora do rendimento nos estudos. Essa série de exercícios deram origem a arte marcial Kung Fu, e seria chamado de Kung Fu do Templo Shaolin. Observa-se que para manter a saúde mental-espiritual é necessário ter uma boa base de saúde física.

35

Um pastor, que por hábitos de vida, comete excessos, tanto em alimentos, bebida ou falta de exercício físico não demonstra ter domínio próprio, e acaba ficando desacreditado na admoestação e cuidado com o outro.

__________________________

35DELAGE Paulo Audebert (organizador). Pastor: cuidado com sua saúde. Bauru, SP – Editora Nossa Missão 2015.

(32)

A promoção e manutenção da saúde do pastor não pode ser vista de forma diferente às demais atividades profissionais. A parte disciplinar é essencial nesse quesito, pois a manutenção ou melhora da saúde baseia-se essencialmente em mudanças de hábitos e estilos de vida. Não existe “fórmulas mágicas” para resguardar a saúde. Hábitos saudáveis são o “segredo”. Para tal, é necessário transformar em hábito o nosso estilo de vida, e isso requer disciplina. Assim como buscar a Palavra de Deus todos os dias, é de suma importância para a espiritualidade, práticas intencionalmente voltadas para a saúde do corpo, são essenciais para o êxito em questão.

36

__________________________

36ibid

(33)

4 SEDENTARISMO E ATIVIDADE FÍSICA.

Cerca de 70% da população adulta mundial não atinge os níveis mínimos para a prática de atividade física recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), fazendo com que o sedentarismo seja considerado um dos grandes problemas de saúde pública na sociedade atual. Mais de 1,4 bilhão de adultos em todo o mundo não praticam atividades físicas suficientes. É o que revela a primeira pesquisa feita para estimar tendências globais sobre o hábito de se exercitar, realizado pela Organização Mundial da Saúde através de um levantamento feito entre 2001 a 2016. Como consequência dessa inatividade física populacional, há um considerável impacto negativo socioeconômico, à partir dos altos custos gastos anualmente relacionados ao tratamento de patologias, que possivelmente seriam evitadas ou minimizadas em caso de um estilo de vida no qual a prática regular de atividades físicas fosse priorizado e levado a sério.

37

A inatividade física ou sedentarismo é fortemente relacionada à incidência e severidade de um vasto número de doenças crônicas. Assim sendo, a prática regular de atividade física torna-se uma das ferramentas terapêuticas mais importantes na promoção quanto na prevenção de saúde.

38

__________________________

37BOOTH, F.W.; GORDON, S.E.; CARKSIBM C.J.; HAMILTON, M.T. Waging war on modern chronic diseases: primary prevention through exercise biology. Journal of Applied Physiology, Bethesda, v.88, n.2, p.774-87, 2000.

38KATZMARZYK, P.T.; JANSSEN, I. The economic costs associated with physical inactivity and obesity in Canada: an update. Canadian Journal of Applied Physiology, Champaign, v.29, n.1, p.90-115, 2004.

(34)

Estudos epidemiológicos demonstram que a inatividade física tem importante relação com a incidência de doença arterial coronariana, infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial, câncer de cólon, câncer de mama, diabetes do tipo II e osteoporose, além de, doenças relacionadas às emoções como depressão, ansiedade e alteração de humor. É uma realidade bastante difundida em estudos sobre os benefícios da atividade física regular na prevenção e combate de doenças relacionadas a emoção.

38

Recentes achados sugerem que a inatividade física é um componente agravante do estado geral de saúde também em crianças e adolescentes acometidos por um significativo número de patologias, incluindo as cardiovasculares, renais, endocrinológicas, neuromusculares e osteoarticulares.

Tem sido cada vez mais recorrente também entre crianças e adolescentes da geração atual, o aumento de casos relacionados a obesidade infantil, realidade distante em gerações passadas.

39

__________________________

38ibid.

39 GUALANO, B.; SÁ PINTO, A.L.; PERONDI, B.; LEITE PRADO, D.M.; OMORI, C.; ALMEIDA, R.T.; SALLUM, A.N.; SILVA, C.A. Evidence for prescribing exercise as treatment in pediatric rheumatic diseases. Autoimmunity Review, Amsterdam, v.9, n.8, p.569-73, 2010.

(35)

As trágicas consequências do sedentarismo também estão associadas a característica nutricional dos nossos dias. O ambiente moderno, mudou drasticamente a maneira como nos alimentamos e nos atentamos para a questão. Com o avanço das revoluções industriais e tecnológicas, o alimento tornou-se abundante e a todo o momento disponível. A atividade física, crucial nos tempos remotos, tornou-se dispensável. O homem, outrora fisicamente ativo e nômade, tornou-se sedentário até mesmo por não mais ter que usar da atividade física para a obtenção do alimento. Os substratos energéticos (glicogênio e triglicérides) estocados no músculo esquelético e tecido adiposo, que flutuavam constantemente em função do ciclo “caça/jejum- alimentação/repouso”, tornaram-se estáveis, e muitas vezes em níveis elevados, uma vez que, não há a necessidade do mesmo desprendimento energético de outrora.

40

Como consequência, condições como síndrome metabólica e obesidade emergiram de maneira significativa em nossa geração, aonde existem cada vez mais evidências clinicas e experimentais que suportam a teoria de que o descompasso entre o metabolismo humano de eras passadas em contato com o ambiente pobre em atividade física experimentado pelo homem moderno é a causa das pandemias de doenças crônicas que afligem as sociedades atuais.

41

__________________________

40 AMARAL, Sidnei, et al. “The influence of resistance training variables in reducing body weight in obese and overweight”. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, vol.9, no.47, 2015.

41 CHAKRAVARTHY, M.V.; BOOTH, F.W. Eating, exercise, and “thrifty” genotypes: connecting the dots toward an evolutionary understanding of modern chronic diseases. Journal of Applied Physiology, Bethesda, v.96, n.1, p.3-10, 2004.

(36)

Estima-se que a obesidade seja uma realidade presente na vida de 18,9%

da população brasileira. Já o sobrepeso atinge mais da metade da população, 54%. Entre a população jovem, do período de 2007 a 2017, houve um aumento de 110% de obesos. Esse índice foi quase o dobro da média nas demais faixas etárias (60%). No mesmo período, o sobrepeso foi ampliado em 26,8%. Esse movimento foi maior também entre os mais jovens (56%), seguidos pelas faixas de 25 a 34 anos (33%), 35 a 44 anos (25%) e 65 anos ou mais (14%). Com todo o avanço tecnológico cada vez mais presente na sociedade contemporânea, estudos demonstram que a maior parte da população tem se tornado dependente da tecnologia, e consequentemente diminuído o consumo de energia corporal durante as atividades diárias, que antes eram realizadas fisicamente e que agora são operacionalizados por aparelhos e máquinas, aumentando a incidência de sedentarismo.

42

O ritmo de vida, principalmente nas grandes cidades tem sido fator determinante para o padrões que favorecem ao consumismo e trabalho excessivo. Isso tem feito com que a sociedade, ao se acostumar a esse ritmo, deixe de lado a preocupação com a “máquina” mais importante: o próprio corpo humano.

43

__________________________

42Disponível:http://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2018-06/obesidade-atinge-quase-um- em-cada-cinco-brasileiros-mostra-pesquisa.ACESSO EM 17 DE SETEMBRO DE 2018.

43 HALLAL, Pedro Curi et al. Evolução da pesquisa epidemiológica em atividade física no Brasil:

revisão sistemática. Rev. Saúde Pública. 2007, v. 41, n. 3, pp. 453-460.

(37)

Algo que deve ser entendido com atenção, é a necessidade de compreender de maneira correta a perspectiva de uma prática regular de atividade física que seja suficiente para alterar o quadro de sedentarismo no indivíduo, e não apenas um entendimento equivocado acerca do assunto. Neste sentido, a atividade física é definida como qualquer movimento corporal decorrente de contração muscular, com dispêndio energético acima do repouso que, em última análise, permite o aumento da força física, flexibilidade do corpo e maior resistência, com mudanças, seja no campo da composição corporal ou de performance desportiva. A prática de atividade física regular demonstra a opção por um estilo de vida mais ativo, relacionado ao comportamento humano voluntário, onde se integram componentes e determinantes de ordem biológica e psico-sócio-cultural.

44

4.1 – SEDENTARISMO E DOENÇAS CARDIOVASCULARES.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são responsáveis por 30% do total de mortes no mundo. Em 2009, a projeção da OMS era de que esse grupo de doenças se tornasse a primeira causa de morte em todos os países em desenvolvimento à partir de 2010. Hoje em dia, é consenso que as doenças cardiovasculares representam a principal causa de morbimortalidade no Brasil e no mundo.

45

__________________________

44CASPERSEN, C.,Powell,K. & Christenson, G. (1985). Physical activity, exercise, and physical fitness: definitions and distinctions for health-related research. Public Health Reports, 100, 126–

131.

45MEN M.J., Azevedo. Prevenção das doenças cardiovasculares através da adoção de hábitos saudáveis no cotidiano, 2009.

(38)

Este cenário epidemiológico preocupa por implicar em diminuição da qualidade de vida das populações, além de custos elevados e crescentes para governo, sociedade, família e indivíduos. E o sedentarismo tem uma importante relação com o desenvolvimento destas chamadas doenças cardiovasculares. O agravamento de doenças cardiovasculares que mais acomete a população são as doenças coronarianas, os acidentes vasculares encefálicos, a insuficiência cardíaca e doença reumática cardíaca. Vale ressaltar que mais de 80% dos casos de morte por doenças cardiovasculares estejam associados a fatores de risco já conhecidos. Fatores estes que se enquadram numa perspectiva comprovada de altos índices de relação com esse tipo de doença, e que continuam numa escala crescente de incidência.

Dentre esses fatores já conhecidos, são considerados mais importantes os fatores que apresentam alta prevalência em muitas populações; os que têm impacto independente e significante no risco para doenças isquêmicas e acidente vascular cerebral; e os modificáveis ou passíveis de controle. Por apresentarem esses três critérios de relevância, a ênfase para o controle tem sido direcionada para o controle do diabetes mellitus, da obesidade, do sedentarismo, do uso do tabaco, da hiperlipidemia e da hipertensão arterial. Os riscos de fatores modificáveis são aqueles que podem sofrer alterações à partir da intervenção medicamentosa ou por mudanças de hábitos na vida do indivíduo, apresentando relação direta entre tais mudanças e a melhora do quadro.

46

__________________________

46BRAGA, Beatriz Braga; EYKEN, Van Dell’Orto; MORAES, Claudia Leite. Prevalência de fatores de risco para doenças cardiovasculares entre homens de uma população urbana do Sudeste do Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(1):111-123, jan, 2009.

(39)

Dentre os fatores de risco modificáveis, a hipertensão arterial é considerada como a mais importante a ser solucionada no combate a doenças isquêmicas e acidente vascular cerebral. O tabagismo também se encontra no grupo de fatores de rico modificável. A estimativa é a de que esse hábito seja a principal causa de morte evitável no mundo em função de sua atuação como precursor de diversas patologias e sua alta prevalência, que de acordo com a OMS, chega 1/3 da população mundial adulta.

47

Mas outro fator ainda se destaca como um fator modificável e importante para a diminuição e controle da incidência de doenças cardiovasculares, que é a mudança no estilo de vida de um indivíduo sedentarismo para um estilo de vida fisicamente ativo. A estimativa é de que o sedentarismo, ainda que de forma dependente de outros fatores, seja responsável por 22% das doenças isquêmicas do coração, e um fator diretamente relacionado com a obesidade e o sobrepeso, que já atinjam 1 bilhão de pessoas no mundo.

48

Um estilo de vida sedentário se destaca como importante fator de risco coronariano mais comum, por ser um problema vivenciado por grande parte da população, sendo apontado como um dos mais sérios agravantes para a saúde cardiovascular.

__________________________

47 ibid

48OLIVEIRA, Dayane Cavalcante; et al. Educação em Saúde na Prevenção de Doenças Cardiovasculares. Revista Diálogos Acadêmicos, 2016.

(40)

Estudos recentes mostram que indivíduos sedentários têm o dobro de chances de desenvolvimento de doenças coronarianas quando comparados a sujeitos fisicamente ativos. Além disso, a probabilidade de infarto agudo do miocárdio neste grupo de pessoas é maior do que a observada em pessoas saudáveis, sobretudo durante a prática de atividade física e na presença de fatores de risco associados, como as cardiopatias.

49

4.2 – SEDENTARISMO E SAÚDE EMOCIONAL

Sobre “Saúde Emocional, de acordo com a Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição "oficial" de saúde mental ou emocional

50

:

Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a “saúde mental” é definida. Saúde mental ou emocional é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a “ausência de transtornos mentais”.

__________________________

49ANDRADE, J.P. et al. National Physician Qualification Program in Cardiovascular Disease Prevention and Integral Care. Arq Bras Cardiol. 2013.

50Disponível:http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1059.

Acesso em 10 de setembro de 2018.

(41)

De acordo com a Secretaria Nacional de Saúde do Brasil

51

:

Saúde Emocional é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem contudo perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro.

O indivíduo passa por inúmeras e complexas transformações ao longo da vida, desde o nascimento. Estas transformações estão ligadas aos aspectos fisiológicos, ambientais, sociais, psicológicos e aos hábitos de atividades do dia a dia. Dependendo de como o indivíduo interage com essas transformações, principalmente a saúde emocional pode ser afetada. Essas transformações sofridas ao longo da vida, podem levar à doenças, tanto físicas quanto psicológicas, e dentre elas a depressão, comumente conhecida como “Mal do Século”, por se encontrar em forte evidência na atualidade.

A depressão vem sendo cada vez mais estabelecida em nossos dias, com incidência em diferentes faixas etárias. Todavia, deve-se definir depressão à partir dos critérios clínicos propostos pelas áreas afins, do que de fato se trata a depressão.

__________________________

51ibid

(42)

Para, a depressão pode ser definida como

52

:

Designação genérica dos estados de baixo tono psíquico, em geral relacionado com a afetividade, e que se caracteriza pela baixa de humor, o abatimento, a melancolia profunda, muitas vezes acompanhada da sensação de mal-estar físico e de sentimentos como falta de coragem, desânimo, falta de auto-confiança, inércia, sentimento de pesar e pessimismo sistemático.

Os sintomas mais comuns de déficit na saúde emocional são: humor depressivo caracterizada pela sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa, redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis, fadiga ou sensação de perda de energia, diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões, alterações do sono (mais frequentemente insônia, podendo ocorrer também hipersonolência), alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também aumento do apetite).

53

É muito comum que o tratamento proposto para as doenças de ordem emocionais na maioria das vezes receba ênfase no uso de medicamentos ou terapias ocupacionais clínicas.

Na psiquiatria, a depressão é diagnosticada como transtorno, sendo percebida a partir da presença de sintomas que se manifestam com uma determinada duração, frequência e intensidade, aonde o principal tratamento seria a medicalização associada, em alguns casos, à psicoterapia cognitivista.

__________________________

52WEINBERG, R.S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artemed Ed. 2001.

53Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-IV(Trad. Cláudia Dornelles,4ed.

rev. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002.

(43)

Todavia, já é de comprovado reconhecimento científico o fato de que o estilo de vida do indivíduo, quando apresenta características de sedentarismo pode colaborar para o desencadeamento de alteração de humor e relação direta com a saúde emocional.

4.3 - ATIVIDADE FÍSICA E PROMOÇÃO DA SAÚDE FÍSICA E EMOCIONAL A prática regular de atividade física é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como um dos mais importantes comportamentos promotores de qualidade de vida.

54

Seja no indivíduo ou na comunidade, a prática de atividade física tem evidenciado efeitos benéficos, uma vez que, ao reduzir fatores de riscos na saúde do indivíduo, aumenta sua participação ativa na sociedade, apresentando- se como uma atividade benéfica para a saúde, acessível, pouco dispendiosa e sem potencial negativo.

55

Knoschel e colaboradores apresentaram uma sistemática revisão sobre os efeitos cognitivos e comportamentais da prática regular de atividade física em doentes psiquiátricos, salientando que a regularidade na prática implica em significativos benefícios aos pacientes.

56

__________________________

54WEINBERG, R.S. & GOULD, D. Foundations of sport and exercise psychology 4rd Ed..

Champaign, IL: Human Kinetics, 2007.

55Baptista, F., Silva, A., Santos, D., Mota, J., Santos, R., Vale, S., Ferreira, J., Raimundo, A., &

Moreira, H. Observatório Nacional da Actividade Física e Desporto. Livro Verde da Actividade Física. Lisboa: Instituto do Desporto de Portugal, 2011.

56KNOCHEL, C. Et al. Cognitive and behavioural effects of physical exercise in psychiatric patients. Progress in neurobiology, 2012.

(44)

Os artigos revistos apontam através dos seus dados, para melhorias no aumento da qualidade de vida e redução de sintomatologias psicopatológicas.

Sugerem ainda que, a prática de atividades físicas regulares funcionam de forma preventiva em intervenções terapêuticas, fomentando a diminuição de sintomas de depressão e ansiedade, além de melhoria de funções cognitivas.

57

Há consenso científico sobre estudos epidemiológicos relacionando a atividade física como meio de promoção, prevenção e cuidados à saúde, sendo que diversos achados demonstram que populações fisicamente ativas têm regressão de fatores de risco associados às patologias crônicos-degenerativas e aumento da longevidade

58

. A prática regular de atividade física também auxilia na prevenção de doenças coronarianas, ao ponto do Ministério da Saúde preconizar a realização de atividade física no controle da hipertensão arterial.

Ao deixar de ser sedentário, o indivíduo diminui em 40% o risco de morte por doenças cardiovasculares e, associada a uma dieta adequada, é capaz de reduzir em 58% o risco de progressão do diabetes mellitus tipo II, demonstrando que uma pequena mudança no comportamento pode provocar grande melhora na saúde e qualidade de vida. Atualmente, está comprovado que quanto mais ativa é uma pessoa menos limitações físicas ela tem.

59

__________________________

57ibid

58WEINBERG, R.S. & GOULD, D. Foundations of sport and exercise psychology 4rd Ed..

Champaign, IL: Human Kinetics, 2007.

59REBELATTO, José Rubens et al. Influência de um programa de atividade física de longa duração sobre a força muscular manual e a flexibilidade corporal de mulheres idosas. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 10, n. 1, 2006.

(45)

Dentre os inúmeros benefícios que a prática de exercícios físicos promove, um dos principais é a proteção da capacidade funcional em todas as idades, principalmente nos idosos. Além disso, é importante ressaltar que no Brasil, o sedentarismo apresenta alta prevalência, causando custos elevados, tanto diretos quanto indiretos, para o sistema de saúde.

60

A prática regular de atividade física é uma estratégia preventiva primária, atrativa e eficaz, para manter e aprimorar o estado de saúde física e psíquica em qualquer idade.

Estudos também apontam para a importância da prática regular de atividades físicas no aspecto comportamental, trazendo benefícios psicológicos em curto prazo (diminuição da ansiedade e do estresse) e em longo prazo (alterações positivas na depressão moderada, no estado de humor e na auto- estima). Mais recentemente, tem-se demonstrado uma importante relação entre a intensidade de atividades físicas e a resposta imunológica, tendo a literatura sido invadida por diversos estudos que evidenciam menor prevalência de alguns tipos de câncer em grupos de pessoas mais ativas.

61

A prática regular de atividade física também demonstra uma importante participação de tratamento quando a saúde emocional é afetada proporcionando benefícios físicos e psicológicos como a diminuição da insônia e da tensão, e o bem-estar emocional, além de promover benefícios cognitivos e sociais ao indivíduo.

62

__________________________

61NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4.a ed. rev. e atual. Londrina: Midiograf; 2006.

62SILVEIRA, L. D et al. Níveis de depressão, hábitos e aderência à programas de atividades físicas de pessoa com transtorno depressivo. 2001. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina, 2001.

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