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1.º Aula Teórica de Direito Constitucional SUMÀRIO: Apresentação; Introdução ao estudo do Direito Constitucional O estatuto do Poder Político

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1.º Aula Teórica de Direito Constitucional

SUMÀRIO: Apresentação;

Introdução ao estudo do Direito Constitucional O estatuto do Poder Político

”O Direito Constitucional é a parcela da ordem jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto Poder”.

Prof. Jorge Miranda

A Ciência do Direito Constitucional

A Ciência do Direito Constitucional é a ciência jurídica do Estado, a disciplina que tem por objecto o Estado, mas este enquanto mediatizado pela Constituição. Ao Direito Constitucional em sentido objectivo (conjunto de normas jurídicas) corresponde o Direito Constitucional em sentido subjectivo (conhecimento dessas normas).

A Ciência do Direito Constitucional não é senão a ciência jurídica ou Jurisprudência aplicada ao Direito Constitucional, ou ainda, o ramo da Ciência do Direito que estuda a Constituição material e a Constituição formal.

Noção de Constituição: Conjunto de normas e princípios fundamentais que regem a matéria dos elementos do Estado, isto é, o Povo, o Território e o Poder Político, definem os fins e as funções do Estado, prevendo, concomitantemente, os respectivos mecanismos de revisão e de garantia.

Perspectivas material e formal da Constituição

Perspectiva material: é a definição atendendo ao conteúdo da Constituição, ao seu objecto ou função. Nesta perspectiva, traduz-se no conjunto de normas que disciplina essas matérias essenciais da existência do Estado.

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A Constituição material consiste, assim, no estatuto jurídico do Estado, correspondendo a um Poder Constituinte material, como poder do Estado de se dotar desse estatuto, de se auto-regular, segundo uma determinada ideia de Direito.

Perspectiva formal: Atende à posição das normas constitucionais em face das demais normas do ordenamento jurídico, sendo a Constituição formal o complexo de normas formalmente qualificadas de constitucionais e revestidas de força jurídica superior às restantes normas. A Constituição formal constitui assim o conjunto de normas que são elaboradas, que são criadas através de um processo específico de feitura.

A esta perspectiva corresponde um Poder Constituinte formal enquanto faculdade do Estado de atribuir tal forma e tal força jurídicas a certas normas.

Relevância da distinção:

Normalmente quando falamos em Constituição, referimo-nos à Constituição formal, isto é, ao conjunto de normas jurídicas que foram objecto, pelo menos no caso português, de um processo autónomo de elaboração distinto do processo legislativo ordinário. Portanto, ao estudarmos o Poder Constituinte, o poder de criar a Constituição ou o poder de revisão da Constituição, bem como quando analisarmos a fiscalização da constitucionalidade, estaremos no âmbito da Constituição formal.

Por outro lado, a relevância do conceito de Constituição material estará em destaque quando estudarmos os limites materiais da revisão da Constituição. Estes limites correspondem à Constituição em sentido material, isto é, quando dentro de uma Constituição formal, a portuguesa, se verifica que há certas matérias que são intocáveis. Por outras palavras, quando observamos que dentro da Constituição há um núcleo duro que não deve ser tocado, sob pena de subverter o sentido da Constituição, estamos perante a Constituição em sentido material.

A Constituição em sentido instrumental:

A Constituição instrumental corresponde ao documento onde se inserem ou depositam as normas constitucionais; Será aquele texto único, denominado

“Constituição”, ou elaborado como tal.

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Não coincide com a Constituição material, porque na Constituição instrumental podem estar inseridas normas que não são constitucionalmente materiais e, em sentido contrário, muitas das normas materiais não estarem na Constituição instrumental.

Por outro lado, não coincide com a Constituição formal, porque esta tem que ser escrita, mas não tem que estar num texto só.

Ex.: As sete Leis Fundamentais da Espanha franquista correspondiam a uma Constituição formal, mas não a uma Constituição em sentido instrumental.

ALGUMAS CLASSIFICAÇÕES DAS CONSTITUIÇÕES

1. Uma classificação que diz respeito à sua revisibilidade (defendida entre nós pelo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo), distingue entre constituições:

a) Flexíveis – quando não se conhecem limites à sua revisão, nem de forma, nem de tempo, nem de matéria, nem de circunstância;

b) Rígidas – quando se conhecem limites de tempo e de forma à sua revisão.

Só pode ser revista por um processo formal específico, diferente do processo de feitura das leis e pode ser revista num determinado prazo de tempo (Portugal – 5 anos);

c) Hiper – rígidas – quando se conhecem limites materiais e circunstanciais (artigos 288º e 289.º CRP), isto é, não pode ser revista na vigência do estado de sítio ou de emergência e reconhece certas matérias que são intocáveis na Constituição.

Esta distinção não era inicialmente feita. O primeiro a fazê-la foi um constitucionalista inglês, James Bryce, que distinguiu apenas entre constituições rígidas e flexíveis. Atendeu apenas ao facto de haver, ou não, limites formais.

Ex. A Constituição britânica, na parte que não é revista, é flexível e, mesmo na parte escrita, entendeu-se que pode ser alterada pelo Parlamento por um projecto igual ao da feitura ordinária das leis;

Ex. A Constituição Americana é uma constituição que da óptica de James Bryce é uma constituição rígida, pois só pode ser revista através de um processo

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qualificado que envolve os Estados Federados e votações complexas pelo Congresso.

2. Outra classificação diz respeito ao papel do Costume, ou seja, há sistemas constitucionais em que o costume tem um papel fundamental: é o caso da Inglaterra. São sistemas essencialmente costumeiros ou consuetudinários, isto é, sistemas em que a fonte, a forma de criação de normas constitucionais é essencialmente o Costume - uma prática reiterada, acompanhada da convicção da obrigatoriedade das normas.

A maior parte dos sistemas da Europa continental são sistemas em que prevalecem as normas escritas, são sistemas subsidiariamente consuetudinários, isto é, o costume tem um papel secundário, uma vez que o maior número de normas constitucionais é constituído por normas constitucionais escritas.

Podemos ainda observar sistemas mistos, em que o costume e a Constituição escrita têm um papel relativamente equilibrado.

Note-se que entre a maior parte dos sistemas contemporâneos, o costume tem um papel apagado. Por definição, o Direito escrito não tolera o costume, visto se tolerasse, negava-se a si mesmo. Se a lei anuísse que o costume vale tanto como a lei, admitia a sua própria ineficácia e, portanto, uma boa parte da doutrina entende que não há costume constitucional relevante, ou seja, não deve ser admitido.

Prof. Marcelo Rebelo de Sousa distingue entre três tipos de costume constitucional:

1) Costume Secundum Legem – conteúdo idêntico a uma norma escrita.

Normalmente não é considerado relevante, pois tem o mesmo conteúdo de uma norma escrita. No entanto, o Prof. Rebelo de Sousa tem um entendimento diverso, na medida em que pode acontecer esta situação excepcional: em sociedades muito divididas, uma parte dessa sociedade acata uma determinada norma, não por ser norma escrita, mas como norma consuetudinária, sem que os próprios saibam que existe uma norma escrita com aquele conteúdo. Sendo assim, permite que, em casos excepcionais, possa haver costume secundum legem que se formou e é aplicado autonomamente.

2) Costume Contra Legem – conteúdo oposto a uma norma jurídica constitucional. Mas, há um problema que aflora do costume contra legem, admitindo que o costume possa provocar a caducidade de leis, neste caso de

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normas constitucionais. O Prof. Rebelo se Sousa entende que é possível, entendendo também que possa haver costume contra-legem no nível constitucional.

Aliás, na opinião deste Professor, na nossa experiência constitucional há exemplos de como o costume constitucional contra-legem é relevante.

Ex. Na primeira versão da nossa Constituição os programas de governo teriam que ser socialistas. Ora, nenhum dos governos em exercício durante da primeira versão da Constituição respeitou esta norma constitucional e, nem por isso tal foi considerado inconstitucional. Tornou-se uma prática reiterada de conteúdo oposto à norma da Constituição;

Ex. O regime económico, quer na primeira versão, quer na segunda versão da Constituição previa um regime económico de transição para o socialismo. A prática foi consistentemente a de um regime económico capitalista.

3) Costume Praeter Legem – a doutrina normalmente toma este costume por relevante, isto é, a doutrina tolera que o costume possa produzir efeitos se respeitar uma matéria que deva ser justificada por normas de direito. O costume praeter legem é aquele que é mais pacificamente aceite pela doutrina.

3. Uma terceira classificação de constituições foi elaborada por um autor austríaco chamado Karl Loewenstein que sustenta a seguinte distinção entre constituições:

Normativas – Aquelas constituições em que há correspondência entre a letra e a prática constitucional. A constituição normativa é aquela que é respeitada.

Nominais – Nestas constituições há disparidade entre o texto e a prática constitucional. Nominal é aqui sinónimo de implícito, pois o que está no texto da Constituição não corresponde necessariamente à prática constitucional.

Semânticas – São constituições destinadas a não serem cumpridas. Não só a prática é diversa da letra, como assim se passa com o conhecimento de quem criou a Constituição, ou seja, o legislador constituinte.

Ex. Constituição de 1933.

O Dr. Salazar criou uma Constituição que, em larga medida, não era para ser cumprida, nomeadamente em matéria de Direitos Fundamentais.

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2.º Aula Teórica de Direito Constitucional I

SUMÀRIO: Noção de Poder Constituinte As Constituições Portuguesas

Poder Constituinte: é a faculdade de um Povo definir o seu futuro através da feitura de uma Constituição. É uma manifestação suprema de Soberania, pois trata-se da opção de uma determinada colectividade em consagrar uma ordem estrutural da sua vida em comum: uma Ordem Jurídica e uma Ordem Política.

O Poder Constituinte funda uma ordem de domínio: Jurídica e Política.

Os poderes constituídos são manifestação concreta dos órgãos do poder político.

São poderes fundados pelo Poder Constituinte, porquanto o Poder Constituinte é o poder fundador, criador, o pai desses poderes.

Em consequência, enquanto o Poder Constituinte é uma faculdade subordinante, os poderes constituídos são faculdades subordinadas ao primeiro.

É a Constituição, enquanto conjunto de normas jurídicas, que conforma o estatuto do poder político e o estatuto da sociedade; é a sua relação com esse poder que determina o modo como os diversos órgãos do poder político podem funcionar.

O Poder Constituinte pode compor-se em duas variantes:

1. Poder Constituinte formal , enquanto poder de decretação de normas com força e forma de normas constitucionais, conferindo uma supremacia hierárquica ou sistemática à Constituição material.

2. Poder Constituinte material , este definido como faculdade de auto- conformação da ordem jurídica e política de um Estado, segundo uma determinada ideia de Direito que é o elemento decisivo, nuclear da noção de Poder Constituinte material.

Há um determinado valor com consequências jurídicas que está subjacente ao Poder Constituinte;

É a moldura jurídica que vai traduzir em normas constitucionais essa mesma ideia de Direito, esse mesmo valor jurisdicional;

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Ele emerge sempre em momentos de ruptura que suplicam uma Carta com a forma Constitucional. Esta Carta pode ser de natureza diversa:

1. Ligada à fundação de um Estado;

2. Ligada a uma ruptura revolucionária, a um momento revolucionário;

3. Ligada à ruptura da própria ordem constitucional – Transição constitucional (passagem para uma nova ordem constitucional).

Portanto, procura-se dar corpo à ideia de DIREITO gerada pelo Poder Constituinte material. É um processo, visto existirem uma ou mais autoridades competentes para a génese das normas constitucionais e essas autoridades acabarem por desenvolver um conjunto de actos que se sucedem de forma encadeada e lógica e que desembocam num acto final. Este acto final é o chamado acto constituído.

Este processo específico é denominado Processo Constitucional, isto é, trata-se de uma sequência de actos com uma lógica própria e com um fim determinado.

A Constituição acaba muitas vezes por ser legitimada através do próprio processo constituinte.

Os processos constituintes contemporâneos acabam por ser formas procedimentais de legitimação do estatuto do poder político.

OS LIMITES DO PODER CONSTITUINTE

Será que o poder constituinte é um poder ilimitado, ou será que é um poder sujeito a certas pautas / balizas?

É uma questão muito controversa, pois os OITOCENTISTAS defendiam que ele era uma realidade ilimitada. Defendiam que era uma realidade autónoma, independente de qualquer outro poder, e um poder omnipotente, isto é, que não estava subordinado a qualquer outro.

DECISIONISTAS: mais tarde, na 1ª metade do Sec. XX, as teorias decisionistas alemãs (Karl Schwett) defendiam uma teoria idêntica, no âmbito da ausência de poderes limitadores do Poder Constituinte.

Sustentavam a ideia de que o povo era o único sujeito do Poder Constituinte e este era a legítima manifestação da soberania de determinado povo. Como tal, o acto constituinte resultava de uma decisão politica fundamental e era uma ordem fundadora e soberana.

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Estas teorias foram contrariadas por outras teorias diversas, como por exemplo as doutrinas do DIREITO NATURAL.

O Prof. Jorge Miranda defende a existência de limites importantes ao Poder constituinte:

1. Limites Transcendentes : são limites fixados pelo Direito natural, da natureza supra positiva que vinculavam o Direito positivo e que limitariam o poder constituinte;

2. Limites Imanentes: conjunto de pautas que resultariam não só do Poder Constituinte, mas também da própria ordem jurídica positiva. Por exemplo:

aspectos relacionados com a forma de Estado;

3. Limites Heterónomos : isto é, quando temos uma constituição que se encontra vinculada a outras ordens jurídicas diferentes:

Ex.: Certas regras de Direito internacional público; constituições externas, por exemplo, a Constituição canadiana que tinha alguns aspectos ditados pela ordem constitucional britânica.

Estamos, portanto, perante limites exteriores ao próprio ordenamento jurídico.

O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, por seu turno, tem uma posição própria que deriva da sua matriz ESTRUTURALISTA. O Prof. Rebelo de Sousa concebe limites ao poder político, mas estes limites derivam das próprias estruturas da sociedade, do Estado e do poder.

Não defende a existência de poderes omnipotentes, como defendiam as ideias oitocentistas, porque qualquer sociedade encontra-se marcada por um conjunto de valores, de opções ideológicas, um conjunto de vectores de evolução social e económica e, portanto, todas estas realidades acabam por ser corporizadas no processo constituinte e, assim, a Constituição é limitada, condicionada por essas mesmas realidades.

O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa é ainda contra a teoria do poder constituinte ser limitado sob o ponto de vista jurídico, e isto porque o poder constituinte se fosse limitado nesse prisma, pressuporia a faculdade das normas da Constituição originária serem declaradas inconstitucionais por violação de um outro ordenamento jurídico que seria exterior, mas que na realidade não existe.

Assim, a inconstitucionalidade das normas constitucionais estará relacionada com os limites do poder constituinte e, mesmo na Alemanha, onde se fazem grandes

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referências ao Direito natural, os tribunais alemães têm contestado muito esta possibilidade, resistindo a declararem inconstitucionais as normas da Constituição.

Ainda na óptica deste professor há também uma grande fragilidade no que toca aos limites imanentes e mesmo relativamente aos limites heterónomos, na medida em que nestas situações existe uma auto-limitação do próprio poder, pois este é livre de adoptar este tipo de comportamento.

Ex.: Os Direitos Fundamentais dos cidadãos estão vinculados à Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Ou seja, esta submissão só existe quando o País assim o quer e a Constituição o designa. Há pois uma auto-limitação. A nossa Constituição está limitada pela Declaração Universal.

Formas de Exercício do Poder Constituinte

1- Formas democráticas: Existe um livre consentimento do Povo, como sujeito do Poder Constituinte na feitura das normas constitucionais;

2- Formas autocráticas – Essa intervenção do Povo ou está condicionada ou se encontra ausente;

3- Formas mistas – Encontramos aspectos de uma e de outra.

1- Formas Democráticas:

a) Formas representativas – que decorrem da aprovação de uma Constituição através de uma Assembleia Constituinte;

b) Formas directas – têm lugar nas Constituições dos Cantões Suíços: uma assembleia popular aprova o texto da Constituição. São os próprios cidadãos e não os seus representantes que intervêm na feitura da Constituição;

c) Formas referendárias – Há uma assembleia representativa que aprova o texto constitucional ele será posteriormente submetido a referendo. Ex.

Constituição Espanhola de 1978.

2 – Formas Autocráticas:

a) Formas Monocráticas – aquelas que resultam da decisão de uma só pessoa. Ex.: outorga monárquica; formas cesaristas;

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b) Formas Convencionais – quando há uma assembleia não eleita pelo Povo que decreta uma norma constitucional. Ex.: Assembleia vanguardista popular;

3 - Formas Mistas:

Têm uma componente complexa onde concorrem vontades de natureza autoritária e democrática. As formas plebiscitárias que são consideradas autoritárias pelo Prof. Marcelo. Todavia, são consideradas pela maioria dos autores como mistas. Ex.: Constituição francesa de 1958 que foi plebiscitada porque foi elaborada por um órgão não representativo e, depois, foi submetida à vontade popular.

Outra forma mista é a forma Pactícia. Ex.: Constituição de 1838.

AS CONSTITUIÇÕES PORTUGUESAS

O Constitucionalismo Português Breves Notas:

1- O Constitucionalismo Português surge pela via revolucionária – É um corte com o absolutismo monárquico, em 1820 e 1834;

2- As Constituições são o resultado do condicionalismo e do contexto histórico português, consequência de factores políticos, económicos, culturais e sociais que as enformam;

3- A evolução é uma evolução de rupturas, como, aliás, acontece nos países de tradição latina:

- A Constituição de 1822 é o resultado da revolução de 1820;

- A Constituição de 1838 é o resultado da revolução de 1836;

- A Constituição de 1911 é o resultado da revolução de 1910;

- A Constituição de 1933 é o resultado da revolução de 1926;

- A Constituição de 1976 é o resultado da revolução de 1974;

- A única excepção é a Carta Constitucional, ainda que o Acto Adicional de 1852 seja consequência da revolução de 1851;

4- O constitucionalismo, ainda que seja um fenómeno de Direito Público, reflecte-se e projecta-se em todo o ordenamento jurídico.

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Os Períodos da história constitucional portuguesa:

1- Constitucionalismo Liberal:

 Constituições de 1822, Carta Constitucional de 1826 (porque outorgada pelo monarca), Constituição de 1838 e de 1911.

Corresponde ao Estado Liberal, consagrando as ideias liberais:

Garantias dos Direitos e Liberdades; Separação de Poderes;

liberalismo político e económico.

Sub-períodos (óptica do Prof. Jorge Miranda):

a) Instauração do Liberalismo (1820-1851) – período de convulsão e de antagonismo político, com divergência entre liberais e absolutistas;

entre vintistas e cartistas;

b) Regeneração (1851-1891) - pacificação à luz da Carta, com o Acto Adicional de 1852, pelo progresso material e desenvolvimentista (Fontismo) e pelo Rotativismo partidário;

c) Crise da monarquia constitucional (1891-1910) – subsequente ao ultimato britânico de 1890 (mapa cor-de-rosa), ao golpe republicano de 1891 e à crise financeira;

d) Primeira República (1910-1926) .

2- Constitucionalismo Autoritário ou Corporativo:

 Constituição de 1933. No plano jurídico-constitucional, duas fases:

a) De 1926 a 1933 – Ditadura militar, com hiato constitucional;

b) 1933-1974 – Vigência da Constituição de 1933.

Características do regime:

- Anti-liberal;

- Anti-parlamentar;

- Corporativo.

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3- Constitucionalismo Democrático:

 Constituição de 1976.

 Três fases político-constitucionais:

1) De 25 de Abril a 11 de Março de 1975;

2) De 11 de Março a 25 de Novembro de 1975;

3) De 25 de Novembro de 1975 em diante.

 No plano jurídico-constitucional, duas fases:

1) De 1974 a 1976 – Fase pós-revolucionária, com processo de formação da nova Constituição;

2) Desde 1976 – Fase de vigência do regime constitucional

Aspectos da formação das Constituições:

1- Constituição de 1822 – Preparada pelas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes, de Janeiro de 1821 a 23 de Setembro de 1822. O Rei apenas aceitou e jurou;

2- Carta Constitucional de 1826 – Redigida e outorgada pelo Rei D. Pedro IV, é o resultado da autolimitação do poder absoluto do monarca;

3- Constituição de 1838 – Elaborada pelas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes, foi sancionada pela Rainha D. Maria II, adquirindo, à imagem da Constituição francesa de 1830, um carácter pactício;

4- Constituição de 1911 – Elaborada de Junho a Agosto desse ano, sendo decretada a 21 de Agosto de 1911, pela Assembleia Nacional Constituinte;

5- Constituição de 1933 – O projecto é elaborado pelo Governo, e aprovado em plebiscito;

6- Constituição de 1976 – Elaborada e decretada pela Assembleia Constituinte.

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CONSTITUIÇÃO DE 1822 1ª vigência: 1822-1823

2ª Vigência: 1836-1838 (depois da revolução de Setembro)

A Constituição de 1822 é obra das Cortes Constituintes, eleitas proporcionalmente entre os eleitores em Portugal, Brasil e territórios portugueses de Além-Mar.

Primeiramente, foram aprovadas as Bases da Constituição, que serviram de orientação para os trabalhos da Assembleia, e posteriormente redigidos os preceitos constitucionais.

A Fonte de inspiração do texto constitucional foi a Constituição espanhola de 1812, vulgo Constituição de Cádis, seguindo a influência das ideias liberais e revolucionárias francesas.

A Constituição dedica o Título I aos Direitos e Deveres individuais. Logo no artigo 1º estão consagradas “a liberdade, segurança e propriedade de todos os Portugueses”.

O elenco de Direitos contempla a criação “em todos os lugares do Reino (…) de escolas suficientemente dotadas, em que se ensine a mocidade Portuguesa de ambos os sexos a ler, escrever e contar e o catecismo das obrigações religiosas e civis”. O gozo de direitos políticos fica condicionado à posse de habilitação literária, por forma a promover a alfabetização.

A união real entre Portugal e o Brasil fica expressa na instituição do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. O artigo 20º definia a “Nação Portuguesa”

como sendo “a união de todos os portugueses de ambos os hemisférios”.

Os órgãos comuns são o Rei, as Cortes e o Conselho de Estado. O poder legislativo é atribuído à assembleia e o poder executivo ao monarca. O Rei tinha, no entanto, bastantes restrições de poder, não podendo vetar ou sancionar leis.

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CARTA CONSTITUCIONAL DE 1826 1ª vigência: 1826-1828;

(Interrupção do regime legitimista de D. Miguel: 1828-1834) 2ª Vigência: 1834-1836;

3ª Vigência: 1842-1851;

Continuação da vigência: 1852-1910 (alterada pelo Acto Adicional de 1852)

A Carta é obra do Rei D. Pedro IV, redigida pessoalmente pelo monarca entre 24 e 29 de Abril de 1826, no Palácio do Rio de Janeiro, dias antes de abdicar da coroa portuguesa para a sua filha D. Maria.

O documento foi impresso com a designação de Carta ao invés de Constituição, pois foi outorgada pelo monarca e não votada pela assembleia.

Teve por Fonte a Constituição Brasileira de 1824 (o grito do Ipiranga foi a 7 de Setembro de 1822), embora com diferenças: o Senado Brasileiro é electivo e vitalício, a Câmara dos Pares é composta por pares hereditários e vitalícios, nomeados pelo Rei.

O Prof. Marcello Caetano classificava-a como a Constituição mais monárquica do seu tempo.

Aos três poderes clássicos (Legislativo, Executivo e Judicial) aditou o Poder Moderador “é a chave de toda a organização política e compete privativamente ao Rei, como Chefe Supremo da Nação”.

Deste, resultam poderes para o monarca:

- Nomear os Pares;

- Sanção dos decretos das Cortes;

- Dissolução da Câmara dos Deputados;

- Nomeação e demissão dos Ministros.

A Carta cria um Parlamento bicameral, com uma Câmara dos Deputados electiva, por sufrágio indirecto e censitário, e a Câmara dos Pares, hereditária e vitalícia.

Os Actos Adicionais de 1852 e 1885 contribuíram para restringir o poder do Rei.

Por costume constitucional, apareceu a figura do Presidente do Conselho de Ministros.

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As diferenças para o sistema britânico são as seguintes:

a) O Governo na Grã-Bretanha depende do Parlamento, em Portugal do Rei;

b) O Governo não tem a duração da legislatura, podendo começar no termo de uma legislatura e demitir-se a meio da seguinte;

c) O Governo não tem de ter maioria se suceder a outro a meio da legislatura;

d) O Governo ao invés de resultar das eleições, vence quase todas as eleições;

e) A dissolução é a forma de encerrar a legislatura, em Portugal é o resultado de uma crise política.

O funcionamento do sistema tinha consequências ao nível da produção legislativa, designadamente na elaboração de leis estando a Câmara dos Deputados dissolvida, pelos chamados decretos ditatoriais e na concessão de Bills de Indemnidade, pela Câmara seguidamente eleita.

O sistema foi muito criticado, como ficou patente na poesia satírica de João de Deus:

“Há entre El-Rei e o povo Por certo um acordo eterno:

Forma El-Rei Governo novo, Logo o povo é do Governo

Por aquele acordo eterno Que há entre El-Rei e o povo.

Graças a esta harmonia, Que é realmente um mistério,

Havendo tantas facções, O Governo, o Ministério, Ganha sempre as eleições!”

Era o rotativismo partidário atípico: Não era quem ganhava as eleições que subia ao poder, mas quem subia ao poder que ganhava as eleições.

Apesar de tudo, o sistema funcionaria bem, com liberdade, estabilidade e progresso até cerca de 1891, entrando em dificuldades com o ultimato e a crise financeira.

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A CONSTITUIÇÃO DE 1838, A SETEMBRISTA Vigência: 1838-1842

 É uma constituição Pactícia, resultando do acordo entre as Cortes e a Soberana D. Maria II, que a sancionou.

 Constitui um compromisso entre os textos de 1822 e 1826, estando mais próximo da Constituição de 1822, pois reafirma a soberania nacional e elimina o Poder Moderador.

Estabelece a Câmara dos Senadores.

 Inspira-se na Constituição francesa de 1830, à imagem do Rei dito burguês Luís Filipe de Orleães, estabelecendo uma monarquia liberal.

A CONSTITUIÇÃO DE 1911 1ª Vigência: 1911-1918; alteração sidonista (1918) 2ª Vigência: 1918-1926;

 Estabelece uma nova forma de governa: a República. Inspirou-se na Constituição Suiça e na Constituição Brasileira de 1891, recuperando os Princípios da Constituição de 1822 e vendo na república a expressão dessas ideias.

 Enuncia “Direitos e garantias individuais”, mas incoerentemente não prevê o sufrágio universal. A lei especial que regularia essa matéria atribuía o direito de voto a cidadãos do sexo masculino que saibam ler e escrever. Não prevê igualmente o Direito à greve.

Sistema de governo:

- Poder Legislativo: Congresso da República com duas câmaras: Câmara dos Deputados e Senados, ambas eleitas por sufrágio universal;

- Poder Executivo: Presidente da República (eleito pelo Congresso) e Ministros. O Presidente da República não pode dissolver o Congresso nem vetar leis;

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- É um sistema parlamentar atípico, porque o PR não pode dissolver o Congresso.

Provocou imensas crises de governos e de Presidentes, apesar do peso do Partido Democrático;

- A Constituição de 1911 foi a primeira na Europa a prever a apreciação da constitucionalidade pelos tribunais;

Alteração da 1918: A ditadura de Sidónio Pais (O Presidente-Rei) introduziu, pelo Decreto nº 3997, de 30 de Março de 1918, as seguintes alterações:

1- Sufrágio universal para todos cidadãos de sexo masculino maiores de 21 anos;

2- Composição do Senado com dupla representação: territorial e profissional;

Eleição do PR por sufrágio directo e possibilidade de reeleição;

3- Confere ao PR a chefia das FA.

Não resistiu ao assassinato de Sidónio Pais, sendo restabelecida a Constituição de 1911 na integridade.

CONSTITUIÇÃO DE 1933 Vigência: 1933-1974

Resulta da revolução de 28 de Maio de 1926, sendo o maior interregno constitucional o período chamado de “Ditadura militar”. Em 1928 toma posse como Ministro das Finanças Oliveira Salazar, dando início ao Estado Novo.

O projecto de constituição é elaborado por uma comissão governamental e submetido a plebiscito nacional, em Março de 1933, com os seguintes resultados:

A favor – 719.364 votos; Abstenções – 487.364; Contra – 5.995. As abstenções contaram como votos a favor.

Características:

- Corporativismo: Nova ordem económica e social assente na solidariedade de interesses das classes sociais. Concede a participação política aos “elementos estruturais da Nação” e não apenas aos indivíduos;

- Carácter autoritário, mas não totalitário, em virtude da limitação da soberania pela Moral e pelo Direito;

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- Consagração de vários Direitos Sociais, como a protecção da família; a educação ou a cultura;

- Estado representativo sem Partidos: Limitação da actividade dos Partidos, cuja formação estava sujeita à autorização de uma autoridade administrativa;

- Dimensão económica da Constituição: é a primeira a estabelecer directrizes de actuação do Estado na área económica (contrário aos espírito liberal das precedentes)

- Em síntese, é Anti-liberal, anti-parlamentar, anti-democrático.

Sistema de Governo:

Estabelece como Órgãos de Soberania: O Chefe de Estado, a Assembleia Nacional, o Governo e os Tribunais.

 O Chefe de Estado é eleito por sufrágio directo por sete anos, podendo ser reeleito, pode, designadamente:

- Nomear o Presidente do Conselho e os Ministros;

- Convocar e dissolver a Assembleia Nacional;

- Promulgar as leis e exercer o direito e veto;

 Assembleia Nacional : representação nacional, com competência para fazer leis, velar pela Constituição;

 Governo : o Presidente é nomeado e demitido pelo PR. Referenda actos do PR, elabora decretos-lei.

Órgãos auxiliares: Câmara Corporativa – representantes das autarquias e dos interesses sociais. Compete-lhe elaborar pareceres (de bom nível técnico), funcionando como 2ª Câmara;

Conselho de Estado – órgão de consulta do Presidente da República.

- O sistema de governo é Representativo Simples de Chanceler

Referências

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