• Nenhum resultado encontrado

TÓPICOS ESPECIAIS EM ANTROPOMETRIA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "TÓPICOS ESPECIAIS EM ANTROPOMETRIA"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

TÓPICOS ESPECIAIS EM ANTROPOMETRIA

Maria Fátima Glaner

Resumo

O objetivo deste artigo é nortear o leitor iniciante em antropometria/cineantropometria sobre as aplicações desta no desempenho desportivo, na saúde e na composição corporal, bem como fornecer noções sobre aspectos fundamentais a serem observados em técnicas de medição antropométrica e os possíveis erros em medição. Assim, dimensões antropométricas, que caracterizam o tamanho corporal, a proporcionalidade e a composição corporal, formam o conjunto para que o atleta atinja um alto desempenho. Por meio de medidas simples, como massa corporal e estatura, é possível monitorar o crescimento físico. Com o valor da divisão das medidas dos perímetros do abdômen e quadril, pode-se indicar o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A gordura corporal relativa (%G), obtida a partir da mensuração das dobras cutâneas, possibilita predizer o risco de doenças crônicas associadas ao excesso (obesidade) ou pouca (anorexia, subnutrição) dessa. No entanto, para que as medidas obtidas apresentem qualidade, devem ser obedecidas padronizações existentes, bem como devem ser minimizados ao máximo os erros durante as mensurações, observando para isso: precisão, fidedignidade, exatidão e validade.

Palavras-chave: antropometria, saúde, desempenho desportivo, medidas, cineantropometria.

INTRODUÇÃO

A antropometria é um termo de origem grega: anthropo caracteriza o homem e metry significa medida. Iniciou na Índia, Grécia antiga e Egito (século XXXV a XXII a.C.). Nesse período foi representada por trabalhos artísticos de pintores e escultores, com fins mais estéticos da forma humana que metrológicos. A partir do ano 1700, as medições de tamanho, forma e proporção do corpo humano foram feitas mais no sentido metrológico, com início do uso da análise estatística. Por volta do ano 1900, foram estabelecidos os locais de medição dos pontos

(2)

anatômicos. A partir desse momento as pesquisas passaram a ser marcadas por normatizações e um maior rigor metodológico, que formaram as bases para as padronizações atuais.

Desde 1970, estudos quantitativos de tamanho, forma, proporção, composição e maturação, em relação à função motora grossa, têm feito com que o termo antropometria venha sendo substituído gradativamente pelo termo cineantropometria, em que: kines significa movimento, anthropo caracteriza o homem e metry é a medida.

Assim, a cineantropometria passa a fazer a interface quantitativa entre estrutura e função.

Portanto, o objetivo deste breve artigo é nortear o leitor iniciante em antropometria/cineantropometria sobre as aplicações desta no desempenho desportivo, na saúde e na composição corporal, além de fornecer noções sobre aspectos fundamentais a serem observados em técnicas de medição antropométrica e os possíveis erros em medição.

APLICAÇÕES DA ANTROPOMETRIA

A antropometria é usada em várias áreas do conhecimento, dentre as quais estão: performance desportiva; saúde e composição corporal; ergonomia. Aqui são abordadas as duas primeiras. Boas sugestões de leitura sobre antropometria e ergonomia o leitor pode encontrar em Santos (1997); Rodriguez-Añez (2001) e Rodriguez-Añez

& Petroski (2003).

Antropometria no desempenho desportivo

As características antropométricas, associadas às demais (neurofisiológicas, motoras e psicológicas) possibilitam ao atleta uma máxima mobilidade em todos os sentidos, a fim de responder às exigências em situações de competição. As dimensões antropométricas, que caracterizam o tamanho corporal, a proporcionalidade e a composição corporal, formam o conjunto para que o atleta atinja um alto desempenho. ou seja, há uma interface entre estrutura e função, em que determinadas características antropométricas favorecem a execução de uma tarefa/técnica com maior eficácia.

(3)

Atletas de alto nível apresentam características antropométricas similares. Portanto, se existem atletas considerados com um tipo físico ideal para a modalidade, somente atletas com estas características podem chegar ou manter-se nesse grupo. Essas características antropométricas distintas, observadas em diferentes modalidades desportivas, têm surgido naturalmente ao longo do tempo ou por adaptação às demandas do treinamento desportivo atual.

Dessa forma, toda modalidade desportiva requer um tipo físico ideal. Em desportos coletivos, em uma mesma modalidade, podem ser exigidos atletas com diferentes tipos físicos. Por exemplo, no handebol, os extremas, direito e esquerdo, tendem a ser mais baixos devido à característica da posição, que requer atletas com maior agilidade. Em outras modalidades, como o ciclismo, a antropometria auxilia na construção de uma bicicleta adequada ao tipo físico do atleta.

Ou o atleta deve apresentar características antropométricas que se ajustem à bicicleta, no caso do bicicross.

A identificação do tipo físico ideal para uma modalidade pode ser obtida depois de traçado o perfil antropométrico do atleta aspirante e comparado com o perfil de atletas de alto nível. Entretanto, deve-se tomar cuidado para serem usados como referências dados publicados (coletados) no máximo nos últimos 10 anos, pois, nesse período, no treinamento desportivo de alto nível, ocorrem grandes avanços científicos, assim como podem ocorrer mudanças nas características antropométricas da população por causa da tendência secular.

As características, ou variáveis, antropométricas mais importantes vão depender da modalidade desportiva. Por exemplo, a envergadura é extremamente importante para um atleta de handebol.

Isso porque, quanto maior for ela, o raio de ação do atleta será maior e, também, será maior a aceleração que se pode dar à bola. Ela facilita ao goleiro cobrir uma maior área do gol. Já para um levantador de peso olímpico, quanto menor for a envergadura, melhor será o desempenho pelo fato de a distância em que o peso deve ser levantado fica menor, ou seja, ele transporta o peso em uma distância menor que o atleta que possui maior envergadura. Por outro lado, é uma variável que não afeta o desempenho de um atacante no futebol.

Portanto, é interessante identificar as características antropométricas de uma modalidade em questão e, a partir delas, buscar possíveis novos talentos para a modalidade. Uma das maneiras de verificar se o sujeito tem potencial para uma modalidade, além de

(4)

comparar somente os valores médios, é observar o quanto ele se afasta em relação a um grupo. Esse procedimento pode ser feito com o uso do cálculo do escores z. O escore z indica, em unidades de desvio- padrão, o quanto um sujeito se distancia em relação a um determinado grupo. Na seqüência é apresentado o procedimento para a obtenção deste escore. Para seu melhor entendimento, consultar livros de estatística básica (curva normal – escores padronizados).

Fórmula para obtenção do escore z:

em que:

Exemplo de cálculo - são apresentados os seguintes valores de envergadura (ENV) dos goleiros do Pan-Americano de Handebol Masculino, de 1994:

= 2,29

Um z = 2,29, na área sob a curva normal, corresponde a 98,90%

de área. Então, o melhor goleiro do Pan-Americano superou em 98,90%

os demais goleiros na variável envergadura.

Ao analisar as características antropométricas do melhor goleiro do Pan-Americano de Handebol Masculino de 1994, em relação aos valores médios dos demais goleiros (n = 14) da competição, Glaner (1999) observou que para ser o melhor goleiro do Pan-Americano foi necessário superar em pelo menos 82,38% (z = 0,93), 94,52% (z = 1,60), 98,90% (z = 2,29), 89,62% (z = 1,26), 77,04% (z = 0,74), 55,96%

(z = 0,15) e 92,51% (z = 1,44) os demais goleiros da competição nas variáveis massa corporal (MC), estatura (ES), envergadura (ENV), comprimento de membros inferiores (CMI), diâmetro rádio-ulnar (DRU), perímetro do antebraço (PA) e massa corporal magra (MCM), respectivamente. Além disso, foi preciso apresentar valores inferiores

s x z = x

x = um escore qualquer;

x

= média aritmética do grupo de referência; e s = desvio-padrão do grupo de referência

x = 208,7 cm (ENV do melhor goleiro no Pan-Americano – 1994)

x

ENV = 188,62 cm (média dos 14 goleiros no Pan-Americano – 1994) s = 8,76

76 , 8

62 , 188 7 , 208 −

=

z z

(5)

a 61,03% (z = -0,28), 85,77% (z = -1,07), 82,12% (z = -0,92) e 71,23%

(z = -0,56) em relação aos demais goleiros nas variáveis diâmetro palmar (DP), somatório de sete dobras cutâneas (X7), percentual de gordura (%G) e massa gorda (MG), respectivamente, conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Escores z das características antropométricas do melhor goleiro do Pan-Americano de 1994, em relação ao valor médio dos demais goleiros. Fonte: GLANER (1999).

Através da antropometria, vários aspectos podem ser monitorados na área da saúde. Simplesmente com a mensuração da MC e ES, pode ser acompanhado o crescimento físico. Os níveis de crescimento, de crianças e adolescentes, expressos através da estatura e massa corporal, são indicadores sensíveis ¾ internacionalmente aceitos ¾ para detectar as qualidades sociais, econômicas e políticas do ambiente no qual elas vivem (MARTORELL et al., 1975; GOPALAN, 1988). Por estes motivos, Tanner (1986) afirma que essas variáveis antropométricas podem ser usadas como o “espelho da sociedade”.

O crescimento pode ser monitorado por meio das curvas de crescimento, também conhecidas como posto percentil ou curvas percentílicas (P). Geralmente, valores entre P5 e P95 são considerados normais. Por exemplo, uma criança apresenta uma ES que corresponde ao P60; então, sua ES é maior que a ES de 60% das crianças que deram origem ao referencial usado, sendo considerado normal o crescimento dessa criança.

Internacionalmente, as curvas de crescimento mais usadas são as propostas por Kuczmarski et al. (2000), também conhecidas como as curvas de crescimento propostas pelo CDC/NCHS. Por outro lado, MARCONDES (1994)questiona a utilização de referenciais estrangeiros para avaliar o crescimento de crianças e adolescentes brasileiros: “até x = um escore qualquer;

x

= média aritmética do grupo de referência; e s = desvio-padrão do grupo de referência

MC M MG

%G X7

PA DR U DP

CM I

EN V ES MC

-2 -1 0 1 2 3

(6)

onde o crescimento do ser humano é tão biológico a ponto de minimizar os fatores ambientais e resultar em um único modelo em todo o mundo”?

Tanner (1986) afirma que o padrão de crescimento deveria ser desenvolvido com sujeitos etnicamente semelhantes e que tiveram oportunidade de desenvolver todo o seu potencial de crescimento, sem agressões ambientais que pudessem interferir negativamente neste potencial. Esses referenciais deveriam ser usados em pessoas da mesma população que deu origem a eles. Portanto, fica evidente que padrões de crescimento derivados de outras populações são inapropriados para o uso indiscriminado.

No Brasil, diferentes estudos tiveram por propósito descrever ou estabelecer padrões de crescimento, dentre os quais o mais usado como referencial em nível nacional é de MARCONDES (1982). Este estudo apresenta valores referenciais de crescimento do zero aos 20 anos, obtidos de crianças e adolescentes de Santo André – SP, de classe social mais elevada, as quais teriam se desenvolvido de acordo com as condições mais indicadas quanto ao aspecto nutricional e de condições gerais de vida. Contudo, Marcondes (1994) sugere a realização de estudos nas várias regiões brasileiras, no sentido de obter padrões regionais de crescimento.

O índice de massa corporal (IMC), obtido a partir da expressão matemática: IMC = MCkg¸ESm2, também pode ser usado como um indicador do desenvolvimento físico, podendo ser interpretado em função das curvas percentílicas. No entanto, este índice deve ser interpretado com cautela quando o propósito for avaliar a gordura corporal. Isso porque um sujeito com a musculatura desenvolvida pode ser classificado como obeso ou apresentar sobrepeso. Também, um sujeito com massa corporal baixa em relação à estatura pode ser classificado como normal e, no entanto, apresentar excessiva quantidade de gordura corporal em relação à sua massa corporal. No Quadro 1 são apresentados critérios de referência para avaliação da obesidade a partir do IMC em adultos.

Outras medidas antropométricas muito difundidas na área da saúde são os perímetros corporais, por apresentarem associação com a gordura visceral (SEIDELL et al., 1987) e, conseqüentemente, indicarem riscos à saúde. O resultado da divisão entre o perímetro do abdômen (PAB) e do quadril (PQ), conhecido como relação cintura/

quadril (Rc/q = PAB¸PQ), é o índice mais usado como indicador de possíveis doenças cardiovasculares. Quanto menor este índice, menor é o risco que o avaliado apresenta. Por exemplo, uma mulher de 50

(7)

anos de idade, que possui uma Rc/q = 0,82, apresenta um risco alto para a saúde (BRAY e GRAY, 1988), conforme critérios apresentados no Quadro 2.

Cabe ressaltar que as descrições para a mensuração do PAB, para a obtenção da Rc/q, são contraditórias. Na literatura são observadas as seguintes descrições: a) mensuração em nível da cicatriz umbilical;

b) 2,5 cm acima da cicatriz umbilical; c) no local de menor perímetro; d) no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. As medidas feitas nos locais “b” e “d” diferem muito pouco entre si. Queiróga (1998), em estudo de revisão, observou na literatura que o local mais usado é o

“d”, assim como o PQ é medido no local de maior protuberância glútea.

Quadro 1 - Classificação da gordura corporal em adultos a partir do índice de massa corporal (ICM).

Fonte: The Surgeon General’s Report on Nutrition and Health (U.S. Departament of Health and Human Services, 1988).

As dobras cutâneas são as medidas comumente mais usadas para estimar a gordura corporal, sendo esta expressa em termos relativos (%G). Todavia, o somatório das dobras cutâneas (DC) também é usado para indicar a distribuição da gordura corporal.

Geralmente são usados DC do tronco superior e tronco inferior (TSTI), ou tronco e membros (TM). Por exemplo: TSTI = (SE+TR)¸(AB+SI);

TM = (SE+AB)¸(TR+CX), em que: SE = DC subescapular; TR = DC tricipital; AB = DC abdominal; SI = DC supra-ilíaca; DC coxa. Os resultados dessas expressões matemáticas devem ser iguais ou inferiores a 1, indicando dessa forma uma distribuição equilibrada da gordura. Quanto mais distante de 1 for o resultado, há evidência de que uma das regiões (tronco ou membros) está com maior acúmulo de gordura do que a outra.

Classificação Mulheres Homens Normal 23 – 26 kg/m2 24 – 27 kg/m2

Moderadamente obeso 27 – 32 kg/m2 28 – 31 kg/m2 Severamente obeso > 32 kg/m2 > 31 kg/m2

(8)

Quadro 2 – Critérios de referência para a relação cintura/quadril (Rc/q) na indicação de riscos à saúde para homens e mulheres Idade (anos)

Fonte: BRAY e GRAY (1988).

O DC também é muito usado em equações de regressão para fornecer o %G. Existem mais de três centenas de equações. No entanto, devem ser observados diversos critérios na escolha de uma, como:

validade, fidedignidade, objetividade, menor erro-padrão de estimativa e ser originária da população em que vai ser aplicada. Observando esses critérios, no Brasil, as mais recomendadas, segundo Petroski (1995) e Glaner e Rodriguez-Añez (1999), seriam: para homens – Sloan (1967), Katch e Mcardle (1973), Jackson e Pollock (1978), Thorland et al. (1984), Guedes (1985), Petroski (1995); para mulheres – Sloan et al. (1962), KATCH e Mcardle (1973), Jackson et al. (1980), Petroski (1995).

Determinados níveis de %G estão associados a doenças crônico-degenerativas. Para minimizar riscos à saúde associados ao excesso de gordura (obesidade) ou à falta desta (subnutrição e anorexia), devem ser mantidos níveis adequados de gordura, conforme indicado no Quadro 3.

a Risco para doenças e desordens associadas com a má nutrição.

b Risco para doenças e desordens associadas com a obesidade.

Adaptado de LOHMAN (1992).

RISCO HOMENS MULHERES Muito baixoa < 5 %G < 8 %G

Abaixo da média 6 – 14 %G 9 – 22 %G Média 15 %G 23 %G Acima da média 16 – 24 %G 24 – 31 %G Muito altob ≥ 25 %G ≥ 32 %G

Risco para a saúde

Idade (anos)

baixo moderado alto muito alto

20 – 29 < 0,83 0,83 – 0,88 0,89 – 0,94 > 0,94 30 – 39 < 0,84 0,84 – 0,91 0,92 – 0,96 > 0,96 Homem 40 – 49 < 0,88 0,88 – 0,95 0,96 – 1,00 > 1,00 50 – 59 < 0,90 0,90 – 0,96 0,97 – 1,02 > 1,02 60 – 69 < 0,91 0,91 – 0,98 0,99 – 1,03 > 1,03 20 – 29 < 0,71 0,71 – 0,77 0,78 – 0,82 > 0,82 30 – 39 < 0,72 0,72 – 0,78 0,79 – 0,84 > 0,84 Mulher 40 – 49 < 0,73 0,73 – 0,79 0,80 – 0,87 > 0,87 50 – 59 < 0,74 0,74 – 0,81 0,82 – 0,88 > 0,88 60 – 69 < 0,76 0,76 – 0,83 0,84 – 0,90 > 0,90

(9)

TÉCNICAS DE MEDIÇÃO ANTROPOMÉTRICA

A antropometria, assim como outras áreas da ciência do movimento humano, requer o uso rigoroso de padronizações, sejam elas internacionais ou nacionais. As padronizações internacionais mais usadas são as descritas em Lohman et al., (1991); ROSS e Marfell-Jones (1991) e Norton e Olds (2000), sendo esta última respaldada pela International Society for Advancement in Kinanthropometry – ISAK. No Brasil, mais recentemente, a mais usada é a descrita em Petroski (2003).

As razões para usar uma ou outra padronização vai depender do contexto/objetivo no qual as variáveis antropométricas vão ser mensuradas. Quando os propósitos forem mensurar variáveis para comparar com valores referenciais já existentes, deve-se adotar a mesma padronização daquela utilizada quando do desenvolvimento daqueles valores referenciais, a fim de minimizar os erros de mensuração. A adoção de uma determinada metodologia permitirá fazer comparações locais, nacionais ou internacionais. Para isso, diferentes aspectos devem ser considerados, sendo eles: o avaliado, a coleta de dados, os equipamentos utilizados e as variáveis a serem mensuradas.

O avaliado

Os sujeitos a serem mensurados devem ser informados a respeito do propósito das mensurações a serem realizadas, bem como devem assinar um termo de consentimento livre e esclarecido. Estando o avaliado de acordo em ser mensurado, são feitas as demarcações dos pontos anatômicos e as medidas objetivadas. Estas são realizadas seguindo criteriosamente a padronização adotada, observando inclusive o uso de roupas adequadas e a postura do avaliado para facilitar a realização das medidas.

Coleta de dados

A coleta de dados, sempre que possível, deve ser realizada por duas pessoas: o avaliador auxiliado por um anotador. É fundamental que o anotador conheça a padronização adotada, a fim de verificar se a medida está sendo feita no ponto anatômico correto e se a seqüência está certa. Mesmo a coleta de dados sendo feita por duas pessoas,

(10)

ainda há possibilidade de ocorrerem erros de registro de dados. Muitos desses erros são devidos a uma má pronúncia do valor numérico pelo avaliador, ou por falta de atenção do anotador. Para minimizar esse tipo de erro, o avaliador deve pronunciar pausadamente o número (dado) a ser anotado, e o anotador deve repeti-lo antes de fazer a anotação, permitindo dessa forma um controle imediato da qualidade dos dados.

Cada variável deve ser mensurada pelo menos duas vezes, para possibilitar o controle de qualidade dos dados através da minimização dos erros em medidas antropométricas, conforme apresentado na seqüência. No entanto, as dobras cutâneas, segundo algumas padronizações, devem ser mensuradas mais de duas vezes, quando as duas primeiras medidas não forem coincidentes. A diferença entre as medidas não deve ultrapassar 5% (ver Quadro 4).

Equipamentos utilizados

Os equipamentos antropométricos mais comumente usados são: fita métrica, estadiômetro, balança, adipômetro para dobras cutâneas e paquímetros. A fita métrica é usada para medir os perímetros corporais e sua escala de medida deve ser em milímetros (mm), e com 7 mm de largura. Não é recomendado o uso de fitas metálicas, devido ao fato de não serem completamente maleáveis.

O estadiômetro é usado para medir a estatura e a altura tronco- cefálica, esta também denominada de altura sentada. Recomenda-se um estadiômetro com escala de medida em milímetros. Na falta desse equipamento, basta fixar uma fita métrica em uma parede lisa que forme um ângulo de 90o em relação ao chão. A fita deve estar a 90o em relação ao chão e sua escala de medida deve ser em mm.

A balança é o equipamento utilizado para mensurar a massa corporal; de preferência, sua escala de medida deve ser de 100 gramas.

Os adipômetros são usados para medir as dobras cutâneas.

Existem diferentes marcas no mercado.. As unidades de medida variam conforme o fabricante; os mais recomendados são o Harpenden e o Lange. Recentemente foi lançado o WCS, um adipômetro fabricado no Brasil pela Cardiomed: medicina, sports & fitness (Curitiba – PR), o qual apresenta qualidade igual à dos citados. No entanto, destaca-se que o adipômetro a ser adotado, quando o propósito for estimar a gordura corporal a partir das dobras cutâneas, deve ser igual àquele que foi usado quando do desenvolvimento das equações a serem usadas na

(11)

estimativa da gordura relativa. O mesmo deve ser observado quando o propósito for comparar os dados com outros já publicados.

Os paquímetros são usados para medir os ossos: o de hastes curtas serve para medir os diâmetros menores, como o bimaleolar; o de hastes longas mede os diâmetros maiores, como o biacromial, e comprimentos ósseos, como o radial-estilóide. O paquímetro de pontas rombas também é usado para medir a profundidade anteroposterior do tórax.

Todos os equipamentos a serem usados devem apresentar perfeitas condições de uso, além de serem aferidos por pessoas qualificadas, para garantir a qualidade dos dados. Em situações em que os mesmos avaliados são medidos periodicamente, deve-se utilizar o mesmo equipamento nas diferentes avaliações.

Variáveis a serem mensuradas

As variáveis a serem mesuradas vão depender do propósito em questão. Quando se trata de uma avaliação antropométrica completa, a ISAK (NORTON e OLDS, 2000) indica 38 variáveis a serem mensuradas, sendo: 9 dobras cutâneas, 13 perímetros, 10 comprimentos e 6 diâmetros ósseos. Quando o propósito for uma avaliação restrita, é recomendado pela ISAK: 9 dobras cutâneas, 5 perímetros e 2 diâmetros.

ERROS EM MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS

Mensurações feitas em dias seguidos, com pequeno intervalo onde não há possibilidade de ocorrerem alterações morfológicas, podem apresentar diferentes valores. Possivelmente, essas diferenças podem ser devidas à falta de consistência técnica do avaliador, desde que o equipamento esteja calibrado. Uma das maneiras de minimizar essa variabilidade técnica de medida, também chamada de erros em medidas antropométricas, é fazer o controle de qualidade dos dados através da precisão, fidedignidade, exatidão e validade.

Precisão

A precisão é determinada pela variabilidade observada em medi- das repetidas em um mesmo indivíduo. Cada avaliador apresenta uma

(12)

precisão diferente para cada variável mensurada. Para a maioria das variáveis antropométricas existem critérios de precisão, permitindo, dessa forma, ao próprio avaliador controlar seu desempenho.

Essa precisão é indicada pelo cálculo do erro técnico de medida (ETM), também definido como desvio-padrão das medidas repetidas.

O ETM é dado na mesma unidade de medida da variável mensurada, mas para melhor entendimento, é expresso em termos relativos (%ETM).

O ETM e o %ETM podem ser obtidos seguindo os passos 1 e 2:

Passo 1 - Calcular o erro técnico de medida pela seguinte fórmula:

.

em que: QME = quadrado médio do erro obtido a partir de uma análise de variância (ANOVA) de uma via (usada quando a variável for medida duas vezes).

Passo 2 - Calcular o erro técnico de medida relativo pela seguinte fór- mula:

sendo: média = valor médio ( ) da variável mensurada.

Exemplo de cálculo do ETM e %ETM.

Um avaliador mensurou duas vezes a dobra cutânea tricipital em 10 homens. A média dessas 20 mensurações é de 10,15 mm.

O QME obtido pela ANOVA de uma via é igual a 0,1217.

Dessa forma, este avaliador que apresenta um %ETM = 3,45%

possui uma excelente precisão em suas medidas (Quadro 4), porém pode não apresentar exatidão (para entender "exatidão", ler o item exa- tidão) quando comparado com outro avaliador altamente qualificado.

QME ETM =

. 100

% x

média ETM = ETM

n X X = Σ ÷

1217 ,

= 0

ETM ETM = 0 , 35 mm

%

% 45 , 3

% ETM =

(13)

Fidedignidade

A fidedignidade se refere à consistência dos escores em testagens repetidas, feitas por um único avaliador em um grupo de pessoas. É obtida através do cálculo do coeficiente de correlação de Pearson ou pelo coeficiente de correlação intraclasse ( a forma de calcular esses coeficientes é apresentada em qualquer livro de estatística básica). O coeficiente oscila de zero a um (0 a 1). Quanto mais próximo de 1, maior é a consistência dos escores em testagens repetidas. Contudo, a grande limitação está no fato de que, se o grupo for bastante heterogêneo nas variáveis antropométricas, mais próximo de 1 será o coeficiente. No entanto, o avaliador pode apresentar uma baixa precisão (%ETM elevado).

Exatidão

A exatidão se refere à diferença entre o valor real e o valor medido de uma variável qualquer. Contudo, muitas vezes não é possível saber qual é o valor real de uma variável antropométrica, como, por exemplo, o valor real de uma dobra cutânea. Isso porque não existe um equipamento que meça a dobra cutânea com absoluta precisão. Dessa forma, uma das possibilidades para determinar a exatidão é o avaliador comparar as suas medidas com aquelas obtidas por outro avaliador altamente treinado (qualificado), também denominado de avaliador critério de referência. As medidas obtidas pelo avaliador critério são consideradas como o valor real.

Um avaliador bem qualificado deve atender concomitantemente aos três aspectos: precisão, fidedignidade e exatidão. Por exemplo, um avaliador que apresente somente boa precisão e fidedignidade, porém baixa exatidão, não está apto a fazer mensurações, ou seja, obter dados com qualidade. Ao atender a esses três aspectos, o avaliador deve escolher equipamentos/testes válidos para medir as variáveis antropométricas.

Um avaliador, para ser considerado qualificado, deve apresentar no máximo os %ETM mostrados no Quadro 4, segundo recomendações da ISAK (PEDERSEN & GORE, 2000).

(14)

Validade

A validade consiste em saber se o equipamento/teste mede realmente o que se propõe medir. Dificilmente a validade será um problema em mensurações antropométricas, uma vez que as variáveis antropométricas são bem definidas e não são baseadas em conceitos abstratos (PEDERSEN e GORE, 2000).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAY, G.A.; GRAY, D.S. Obesity. Part I: pathogenesis. Western Journal of Medicine, v.149, p.429-441, 1988.

GLANER, M.F. Perfil morfológico dos melhores atletas Pan-Americanos de Handebol por posição de jogo. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, v.1, n.1, p.69-81, 1999.

GLANER, M.F.; RODRIGUEZ-AÑEZ, C.R. Validação de equações para estimar a densidade corporal e/ou percentual de gordura para militares masculinos. Revista Treinamento Desportivo, v.4, n.1, p.29-36, 1999.

GOPALAN, C. Stunting: significance and implication for public health policy. In. WATERLOW, J.C. (Ed.). Linear growth retardation in less developed countries. New York: Raven Press, 1988.

GUEDES, D.P. Estudo da gordura corporal através da mensuração dos valores de densidade corporal e da espessura de dobras cutâneas em universitários.1985. Dissertação (Mestrado) UFSM, Santa Maria, RS, 1985.

Variáveis %ETM

Dobras cutâneas ≤ 7,5%

Inter avaliador Comprimentos

(precisão / fidedignidade) Diâmetros ≤ 1,5%

Perímetros Dobras cutâneas ≤ 5,0%

Intra avaliador Comprimentos

(exatidão) Diâmetros ≤ 1,0%

Perímetros

(15)

JACKSON, A.S.; POLLOCK, M.L. Generalized equations for prediting body density of men. British Journal of Nutrition. v.40, p.497-504, 1978.

JACKSON, A.S. et al. Generalized equations for predicting body density of women. Medicine and Science in Sports Exercise. v.12, p.175- 182, 1980.

KATCH, F.I.; McARDLE, W.C. Prediction of body density from simple anthropometric measurementes in college-age men and women. Human Biology, v.45, n.3, p.445-454, 1973.

KUCZMARSKI, R.J. et al. CDC growth charts: Unites States. Center for Disease Control and Prevention / National Center of Health Statistics, 2000. Disponível em: http://www.cdc.gov/growthcharts.

LOHMAN, T.G. Advances in body composition: current issues in exercise science series. Monograph n.3. Champaing: Human Kinetics, 1992.

LOHMAN, T.G.; ROCHE, A.F.; MARTORELL, R. (Ed.) Anthropometric standardization reference manual. Champaing: Human Kinetics, 1991.

MARCONDES, E. Normas para o diagnóstico e a classificação dos distúrbios do crescimento e da nutrição – última versão. Clínica Pediátrica, v.4, p.307-326, 1982.

___. Desenvolvimento da criança: desenvolvimento biológico – crescimento. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria, 1994.

MARTORELL, R. et al. Normas antropométricas de crescimento físico para países en desarrollo? Nacionales o internacionales? Boletin de la Oficina Sanitaria Panamericana, v.79, n.6, p.525-529, 1975.

NORTON, K.; OLDS, T. (Ed.) Antropometrica. Rosario: Biosystem , 2000.

PEDERSEN, D.; GORE, C. Error en la medición antropométrica. In:

NORTON, K.; OLDS, T. (Ed.) Antropometrica. Rosario: Biosystem, 2000.

PETROSKI, É.L. Desenvolvimento e validação de equações generalizadas para a estimativa da densidade corporal em adultos.

Tese (Doutorado) UFSM, Santa Maria, RS, 1995.

___. (Org.) Antropometria: técnicas e padronizações. 2.ed. rev. e ampl.

(16)

Porto Alegre: E.L. Petroski, 2003.

QUEIRÓGA, M.R. Utilização de medidas antropométricas para determinação da gordura corporal. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v.3, n.1, p.37-47, 1998.

RODRIGUEZ-AÑEZ, C.R. A antropometria e sua aplicação na ergonomia. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. v.3, n.1, p.102-108, 2001.

RODRIGUEZ-AÑEZ , C.R.; PETROSKI, E.L. A antropometria nos postos de trabalho. In. E.L. PETROSKI (Org.) Antropometria: técnicas e padronizações. 2.ed. rev. e ampl. Porto Alegre: E.L. Petroski, 2003.

ROSS, W.D.; MARFELL-JONES, M.J. Kinanthropometry. In:.

MacDOUGALL, J.D. et al. (Ed.). Physiological testing of the high- performance athlete. 2nd ed. Champaign: Human Kinetics Books, 1991.

SANTOS, N. et al. Antropotecnologia: a ergonomia dos sistemas de produção. Curitiba: Gênesis, 1997.

SEIDELL, J.C. et al. Assessment of intra-abdominal and subcutaneous abdominal fat: relation between anthropometry and computed tomography. American Journal of Clinical Nutrition. v.45, p.7-13, 1987.

SLOAN, A.W. Estimation of body fat in young men. Journal of Applied Physiology, v.23, n.3, p.311-315, 1967.

SLOAN, A.W. et al. Estimation of body fat in young women. Journal of Applied Physiology. v.17, n.6, p.967-970, 1962.

TANNER, J.M. Use and abuse of growth standars. In: FALKNER, F. e.

TANNER, J.M. (Ed.). Human growth: a comprehensive treatise. 2nd ed. New York: Plenun Press, v.3, 1986.

THORLAND, W.G. et al. Estimation of body density in adolescent athletes.

Human Biology, v. 56, p. 439-448, 1984.

Referências

Documentos relacionados

Para avaliação da composição química da água da chuva, além dos pontos instalados nas Estações Capivari de Baixo, São Bernardo, Vila Moema e Meteorológica, adotou-se uma

Inscrições na Biblioteca Municipal de Ourém ou através do n.º de tel. Organização: Município de Ourém, OurémViva e grupos de teatro de associações e escolas do

O centro da cidade de Almada acolhe mais uma animada edição da Festa Verde, uma grande celebração feita por milhares de crianças de Escolas, Jardins de Infância e

Página TABELA 30 - Tempos de indução, manutenção e retorno, em minutos, das concentrações mais indicadas, em mg/L, para sedação e anestesia, de girinos de rã- touro

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Apothéloz (2003) também aponta concepção semelhante ao afirmar que a anáfora associativa é constituída, em geral, por sintagmas nominais definidos dotados de certa

A abertura de inscrições para o Processo Seletivo de provas e títulos para contratação e/ou formação de cadastro de reserva para PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR

Neste texto, Tatossian já demonstrava o domínio que tinha sobre os conceitos e sinalizava para alguns aspectos da fenomenologia que norteiam sua obra e anunciam de alguma forma