A EFICÁCIA DA DINAMOMETRIA NA AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR DE DIABÉTICOS EM RELAÇÃO AO TESTE DE FORÇA MANUAL
Nathalia Ulices Savian¹, Alessandra Madia Mantovani¹, Andressa Carvalho Visconde², Alessandra Kelly de Oliveira², Elisa Bizetti Pelai³, Priscila Pagotto³, Edna Maria Carmo4, Cristina Elena Prado Teles Fregonesi4
¹ Aluna de Pós‐Graduação Strictu sensu de Fisioterapia Geral da FCT/UNESP, Presidente Prudente, SP. 2 Aluna de Graduação de Fisioterapia da FCT/UNESP, Presidente Prudente, SP. 3 Alunas de Pós‐Graduação Latu sensu de Fisioterapia da FCT/UNESP, Presidente Prudente, SP. 4 Profa. Dra. do Departamento de Fisioterapia da FCT/UNESP, Presidente Prudente, SP.
RESUMO
O objetivo do estudo foi comparar a FM de plantiflexores e dorsiflexores do tornozelo em neuropatas, por teste manual e dinamometria. Método: A pesquisa contou com 45 sujeitos: GC, grupo controle (n=20) e GD, grupo diabético (n=25). Foi realizado o teste manual, que possui graduação de 0‐5 seguido do teste por dinamometria. A estatística foi realizada por teste de Kolmogorov‐Smirnov e análise de variância paramétrica e não paramétrica. Utilizou‐se o teste de Tukey como pós‐teste, com 5% de significância. Resultados: O GC (63,5±6,3 anos – 17 mulheres e 8 homens) obteve nível 5 em todos os testes de FM manual, já o GD (64,9±6,5 anos – 13 mulheres e 7 homens) obteve 4,2±0,9. Na dinamometria a força do membro não dominante resultante no GC e GD foi, respectivamente, plantiflexão = 23,4±10,3 kg; dorsiflexão = 10,8±5,7 kg e plantiflexão
= 15,7±8,6 kg; dorsiflexão = 6,7±3,7 kg. Após comparação entre GC e GD, obteve‐se, para os movimentos de PF e DF, os respectivos p‐valores 0,0104 e 0,0076. O teste de FM manual não foi sensível aos déficits de FM em diabéticos nos movimentos dos tornozelos comparado à dinamometria.
Palavras‐chave: força muscular; métodos de avaliação; diabetes mellitus.
INTRODUÇÃO
A força muscular é a habilidade que um grupo muscular possui de exercer tensão através de um esforço voluntário, isto é, a capacidade do tecido muscular em gerar tensão de forma ativa.
Para essa finalidade, os músculos devem se contrair seja para realizar um movimento ou simplesmente para manter os ossos alinhados visando o equilíbrio postural. Este conceito ocupa um importante lugar no conhecimento cinesiológico, tanto no campo avaliativo como terapêutico (MARQUES, 2009; SAPEGA, 1990).
Em um âmbito geral, a necessidade de avaliação da força muscular ocorre, entre outros fatores, porque a quantidade de força exercida por determinado músculo reflete diretamente em seu desempenho motor global, uma vez que a atrofia e a fraqueza muscular podem estar associadas aos déficits de equilíbrio e coordenação motora (CARVALHO E SOARES, 2009; Shumway e Woollacott, 2006).
Nesse sentido, a avaliação da força muscular torna‐se importante também para selecionar melhores condutas de tratamento e acompanhar a progressão clinica de indivíduos com enfermidades, por exemplo o diabetes mellitus, que pode levar à fraqueza muscular e consequentemente a desequilíbrios corporais.
Em pesquisas laboratoriais, medidas de força podem ser realizadas através de dinamômetros isométricos ou células de carga, sendo métodos válidos e confiáveis. Este método mostrou‐se eficaz à utilização clínica, por ser rápido e facilmente oferecer uma avaliação quantitativa da força de sujeitos com perturbações neurogênicas periféricas (KILMER et al., 1997).
O teste muscular é fundamental no exame físico a fim de contribuir para o diagnóstico diferencial no prognóstico e tratamento de distúrbios neuromusculares (KENDALL, et al., 2007)
As provas de função muscular têm a finalidade de avaliar o grau de força muscular, sua exploração cuidadosa e o registro correto auxiliam na detecção precoce das lesões nervosas periféricas, útil para o diagnóstico e para indicar um programa adequado de exercícios.
Na clínica, é muito comum utilizar testes manuais de força muscular, por serem de simples e rápida aplicação. Contudo, cientificamente, tais testes apresentam baixa confiabilidade, uma vez que dependem do avaliador e não conseguem detectar pequenas alterações da força, por serem classificados com variáveis discretas.
OBJETIVO
Objetivo do estudo foi comparar a força muscular de plantiflexores e dorsiflexores do tornozelo em neuropatas, por teste manual e dinamometria.
Metodologia
Foi desenvolvido no Laboratório de Estudos Clínicos em Fisioterapia da FCT/UNESP e aprovado pelo comitê de ética local (processo nº: 36/2009). Contou com 45 sujeitos divididos em dois grupos: GC, grupo controle com 20 indivíduos e GD, grupo diabético com 25 indivíduos.
Os critérios de inclusão para o GC foram: ‐ ausência de diagnóstico médico, diabetes mellitus, sedentários ou fisicamente ativos, porém não atletas; ter sensibilidade somatossensitiva podálica preservado, ou seja, responder à até 2,0g de pressão no teste de sensibilidade (BRASIL, 2008a; BRASIL, 2008). E para o GD foram: DM confirmado por diagnóstico médico e suspeita de neuropatia periférica; sedentários ou fisicamente ativos, porém não atletas; perda sensitiva no dermátomo dos nervos tibiais e fibulares de ambos os pés confirmadas pelo teste de estesiometria apresentando sensibilidade apenas aos monofilamentos maiores ou igual a 10g de pressão ou anestesia, em pelo menos um ponto (BRASIL, 2008).
Foram utilizados como critérios de exclusão: presença de úlceras plantares na ocasião de realização dos testes, amputação de membros inferiores, diagnóstico de outra doença neurológica, ter déficit visual ou vestibular importante e não‐corrigido e incapacidade de compreensão para realização dos testes.
Os dois grupos passaram pelas mesmas avaliações, inicialmente foram coletados os dados pessoais dos participantes, posteriormente realizou‐se o teste de força manual dos dorsiflexores e plantiflexores, o qual possui graduação de zero a 5 pontos indicando mínimo e máximo de força respectivamente. (KENDAL, 2007). Seguido pelo teste de força muscular por dinamometria, com dinamômetro digital isométrico (DD‐300, INSTRUTHERM®), adaptado a um equipamento (pequena mesa de dois andares) idealizado e confeccionado no Laboratório de Estudos Clínicos em Fisioterapia (LECFisio) da FCT/UNESP. (CAMARGO et al, 2009)
A estatística foi realizada por teste de Kolmogorov‐Smirnov e análise de variância paramétrica e não paramétrica. Utilizou‐se o teste de Tukey como pós‐teste, com 5% de significância.
RESULTADOS
O GC foi composto por 17 mulheres e 8 homens com idade media de 63,5±6,3 anos, já o GD foi composto por 13 mulheres e 7 homens com idade média de 64,9±6,5 anos obteve nível médio de 4,2±0,9.
Para os testes de força muscular manual nas situações de dorsiflexão e plantiflexão nos membros inferiores direito e esquerdo, obteve‐se em GC nível 5 classificado‐ o como máximo. Já no GD o nível obtido foi de 4,2±0,9 classificando‐ o de moderado à máximo.
Na dinamometria a força do membro não dominante resultante no GC e GD foi, respectivamente, plantiflexão = 23,4±10,3 kg; dorsiflexão = 10,8±5,7 kg e plantiflexão = 15,7±8,6 kg; dorsiflexão = 6,7±3,7 kg. Após comparação entre GC e GD, os dados apresentados mostraram‐
se significativos nos movimentos avaliados e os p‐valores são, respectivamente: platiflexão direita igual a 0,0002, plantiflexão esquerda igual a 0,0104, dorsiflexão direita igual 0.0330 e dorsiflexão esquerda igual 0.0076.
DISCUSSÃO
As manifestações sensório‐motoras crônicas são as mais comuns na neuropatia diabética, sendo que as sensoriais aparecem precocemente e são mais pronunciadas nos membros inferiores, acometendo também, em casos mais severos, os dedos e as mãos (BOULTON et al.,
2004). O acometimento dos nervos motores dos membros inferiores no indivíduo diabético determina hipotrofia muscular, deformidades e pontos de pressão anormais; o comprometimento dos nervos sensitivos manifesta‐se por distúrbios da sensibilidade nas extremidades podendo chegar à anestesia alterações biomecânicas e zonas anômalas de descarga de peso tornando essa população um grupo mais susceptível a lesões ulcerativas graves com grandes tendências de infecções (BORGE et al., 2007, PORNUNCIÚLA et al., 2007).
Segundo os dados analisados, foi possível confirmar a alteração de força muscular nos indivíduos com diabetes, a qual se justifica pela hipotrofia muscular e sua associação com as demais manifestações clinica.
Nesse sentido, é possível inferir que os testes de força manual mostraram‐se insensíveis aos defictis de força muscular em indivíduos com diabetes nos movimentos de dorsiflexão e plantiflexão. Isso pode ser justifica pela dependência que o teste apresenta em relação ao avaliador, sendo sua classificação subjetiva e relativa à percepção do mesmo.
De maneira oposta, os testes de força muscular pela dinamometria mostraram‐se eficaz na detecção das alterações de força muscular nos indivíduos com alterações da sensibilidade e motora (neuropatia periférica). Nesse sentido, a confiabilidade do teste permite melhor precisão nas avaliações, assim como na busca por melhores intervenções permitindo um adequado acompanhamento do quadro evolutivo dos indivíduos.
Sabe‐se que o tratamento precoce é a única forma de prevenção da neuropatia periférica, sendo necessária monitoração da sensibilidade e da força muscular, minimizando assim, a partir de medidas profiláticas ou reparadoras do processo, a instalação de incapacidades (CORRÊA et al., 2006).
CONCLUSÃO
O teste de FM manual, embora muito utilizado, neste estudo, não foi sensível aos déficits de FM em diabéticos nos movimentos dos tornozelos comparado à dinamometria. Ainda, pode indicar que déficits de FM não são detectados na rotina clínica.
REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. Manual de prevenção de incapacidade. 1.ed. Brasília, 2008a. 125p.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Guia para o Controle da hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
Camargo, M.R; et al. Dinamometria do grupo dorsiflexor do tornozelo: adaptação da técnica.
Revista Eletrônica de Fisioterapia da FCT‐ UNESP. v.1, n.1 p.107‐123, 2009.
Carvalho J, Soares JMC. Envelhecimento e força muscular – uma breve revisão. Rev Port Ciên Desp. 2004; 4(3): 79‐93.
Corrêa, C. M. de J.; IVO, M. L.M. HONER,R. Incapacidades em Sujeitos com Hanseníase em um centro de referência do centro‐oeste Brasileiro entre 2000‐2002. hansen Int. v 31. n 2. p. 21‐8.
2006.
Kendall, F. P. Músculos: Provas e Funções. 5 ed. São Paulo: Manole, 2007. 528p.
Kilmer, D. D.; MCCRORY, M. A.; WRIGHT, N. C.; ROSKO, R. A.; KIM, H. R.; AITKENS, S. G. Hand‐held dynamometry in persons with neuropathic weakness. Arch Phys Med Rehabil 1997;78: 1364‐8.
Marques MAC. A força. Alguns conceitos importantes. Lecturas EF y deportes. [periódico on line].
2002; 8(46). Disponível em: < http://www.efdeportes.com/efd46/forca.htm>. [2009 abr 09].
Sapega, A. Muscle performance evaluation in orthopaedic practice. J Bone Joint Surg. 1990; 72 (10): 1562‐1574.
Shumway‐Cook A, Woollacott MH. Controle Motor: Teoria e Aplicações Práticas. Barueri: Manole, 2003.