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Nota Técnica nº 16/2014 (25 de novembro de 2014)

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Nota Técnica nº 16/2014

(25 de novembro de 2014)

Pensões por morte de servidor público federal. Três benefícios advindos de diferentes vínculos estatutários. Dois beneficiários. Divisão igualitária do todo.

Possibilidade. Artigo 225 da Lei 8.112/1990.

1. Introdução

Consultam-nos sobre a possibilidade de concessão de três benefícios de pensão por morte, a serem divididas entre dois beneficiários – cônjuge e companheira –, no caso de servidor falecido que mantinha três vínculos estatutários.

A instituição de pensões por morte dos servidores públicos federais segue as regras específicas contidas na Lei nº 8.112/1990, as quais serão objeto de análise a seguir, a fim de se concluir qual o direcionamento oferecido pela legislação nesse sentido.

2. Mérito

A Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que versa sobre regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, logo quando estabelece no artigo 217 os beneficiários das pensões vitalícias, coloca expressamente o cônjuge e o companheiro que comprove união estável dentre os beneficiários. Vejamos:

Art. 217. São beneficiários das pensões:

I - vitalícia:

a) o cônjuge;

b) a pessoa desquitada, separada judicialmente ou divorciada, com percepção de pensão alimentícia;

c) o companheiro ou companheira designado que comprove união estável como entidade familiar;

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Em seguida, dispõe que havendo habilitação de mais de um titular à pensão vitalícia ocorrerá a divisão do valor em partes iguais entre os habilitados:

Art. 218. A pensão será concedida integralmente ao titular da pensão vitalícia, exceto se existirem beneficiários da pensão temporária.

§ 1º Ocorrendo habilitação de vários titulares à pensão vitalícia, o seu valor será distribuído em partes iguais entre os beneficiários habilitados.

Quando mais abaixo trata da hipótese de existirem múltiplas pensões, advindas de diferentes vínculos estatutários, traz a importante vedação que constitui o ponto chave da discussão. O artigo 225 oferece ao beneficiário das pensões o direito de optar por no máximo duas pensões, vedando que perceba cumulativamente mais de duas. Note-se:

Art. 225. Ressalvado o direito de opção, é vedada a percepção cumulativa de mais de duas pensões.

Desse artigo depreende-se que no caso de haver três pensões disponíveis e apenas um beneficiário, esse precisará abrir mão de uma delas a fim de manter as outras duas. A vedação é clara: não pode um beneficiário perceber mais de duas pensões.

Isso de nenhuma forma significa que não pode haver a instituição de três pensões advindas de diferentes vínculos que o servidor falecido possuía, uma vez que a vedação se refere ao beneficiário e não ao instituidor da pensão.

Significa apenas que as três pensões não poderão ser percebidas por um beneficiário.

Assim, nada impede que havendo três pensões deixadas por um ex-servidor e dois beneficiários que a elas fazem jus, com iguais cota-partes, seja pago o equivalente a uma pensão e meia (1,5) a cada um dos beneficiários.

Perceba-se que nesse caso nenhum dos beneficiários estaria desrespeitando o disposto no artigo 225 citado, haja vista ser muito claro que nenhum deles percebe cumulativamente mais de duas (2) pensões.

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A possibilidade de essa divisão se dar entre cônjuge e companheira, hoje perfeitamente depreendida da combinação dos artigos 217 e 218 da Lei 8.112/1990, é pacífica desde a publicação da Súmula nº 159 do extinto Tribunal Federal de Recursos, a qual já em 1984 dispunha:

TFR Súmula nº 159 - 06-06-1984 - DJ 13-06-84

Divisão da Pensão Previdenciária entre a Esposa e a Companheira - Legitimidade

É legitima a divisão da pensão previdenciária entre a esposa e a companheira, atendidos os requisitos exigidos.

Confirmando exatamente o aqui exposto tem-se o acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região publicado em 24/03/2009 nos autos da Apelação Cível nº 1999.34.00.009255-5, que merece ser analisado com atenção.

A ação, em resumo apartado, trata do seguinte: o servidor mantinha três vínculos estatutários, sendo dois com a União (Ministério da Saúde e Ministério das Relações Exteriores) e um com o Governo do Distrito Federal. Quando faleceu, foram instituídos três benefícios de pensão por morte. O servidor havia tido um casamento e uma união estável. Sua ex-esposa se habilitou para o recebimento de duas das pensões, abrindo mão da terceira. Sua ex-companheira, por sua vez, se habilitou primeiramente para perceber essa terceira pensão. Ficaram por algum tempo recebendo dessa forma: ex-esposa com 2 pensões e ex- companheira com 1 pensão, o que desde aí já demonstra a possibilidade de dois beneficiários perceberem três pensões advindas de um ex-servidor.

O litígio iniciou quando a ex-companheira, inconformada com sua desvantagem, procurou à Justiça com a pretensão de receber, além do que já recebia, 50% do valor das outras duas pensões que a ex-esposa vinha percebendo integralmente. O Juiz da 4ª Vara Federal do Distrito Federal, após deferir a antecipação de tutela, julgou procedente o pedido da ex-companheira.

Após a sentença, a ex-companheira passou a receber uma pensão inteira e mais duas pensões pela metade, enquanto para ex-esposa restaram apenas duas metades.

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A ex-esposa, agora em desvantagem, apelou ao TRF1. Julgando a apelação, a Segunda Turma desse egrégio Tribunal percebeu que a sentença recorrida dava à ex-companheira direito a perceber cumulativamente três pensões (uma integralmente e duas pela metade), o que, aí sim, feria o artigo 225 da Lei 8.112/1990. A sentença, então, foi reformada para ordenar que a ex- companheira optasse por uma das duas metades e abrisse mão da outra. Diante disso, a metade renunciada se reverteria em favor da ex-esposa, por força do artigo 223 da mesma lei, que dispõe:

Art. 223. Por morte ou perda da qualidade de beneficiário, a respectiva cota reverterá:

I - da pensão vitalícia para os remanescentes desta pensão ou para os titulares da pensão temporária, se não houver pensionista remanescente da pensão vitalícia;

Desse modo, chega-se a uma condição isonômica, como exige o artigo 218 citado mais acima, e em plena consonância com o artigo 225, cerne da questão: cada uma das mulheres perceberia uma pensão por inteiro e outra pela metade, confirmando-se aí, com efeito, o exposto inicialmente.

Leiamos, então, a ementa desse muitíssimo esclarecedor acórdão:

PREVIDENCIÁRIO E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR. PENSÃO POR MORTE. DIVISÃO. ESPOSA E EX-COMPANHEIRA. POSSIBILIDADE.

DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. TRIPLA CUMULAÇÃO. ART. 225 DA LEI Nº 8.112/90. IMPOSSIBILIDADE. OPÇÃO ENTRE DUAS PENSÕES.

DIVISÃO DOS VALORES DEPOSITADOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

1. A inexistência da união estável à época do óbito do servidor não impede a concessão da pensão por morte à sua ex-companheira, bastando, para que se configure tal direito, a comprovação da relação de dependência econômica entre ela e o instituidor do benefício.

2. Por outro lado, a prova dos autos é farta acerca da relação de dependência econômica entre a autora e o servidor que veio a falecer, com documentos que atestam o longevo pagamento de pensão alimentícia, cabendo ainda realçar que a própria viúva do instituidor dos benefícios, maior interessada na rejeição da pretensão autoral, reconheceu a procedência desta, chegando a entabular acordo - não homologado judicialmente - voltado ao rateio das pensões.

3. Cabendo à Justiça Federal deliberar apenas acerca das pensões custeadas pela União, não se mostra equivocado o comando sentencial que determina o rateio equitativo destas (duas, na

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espécie), a despeito de a autora já estar percebendo idêntico benefício custeado pelo Governo do Distrito Federal.

4. Todavia, proibindo o art. 225 da Lei nº 8.112/90 a cumulação de mais de duas pensões, impõem-se a autora o ônus de renunciar a uma das cotas-partes dos três benefícios instituídos, o mesmo ocorrendo em relação ao valor correlato dos depósitos judiciais efetuados, que será revertido em favor da litisconsorte passiva da União Federal.

5. Recíproca a sucumbência e isenta a União do pagamento das custas processuais, metade do valor destas será custeado pela parte autora, cabendo à segunda demandada o ônus de adimplir o equivalente 25%

desta parcela acessória da condenação.

6. Honorários advocatícios arbitrados em R$5.000,00, a cargo da União.

7. Juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação em relação às parcelas a ela anteriores, e de cada vencimento, quanto às subsequentes, aplicáveis apenas em relação às competências que não foram objeto de depósito judicial.

8. Correção monetária de acordo com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal.

9. Apelações da União e de sua litisconsorte passiva desprovidas.

10. Remessa oficial a que se dá parcial provimento.

(AC 1999.34.00.009255-5/DF, Rel. Desembargadora Federal Neuza Maria Alves Da Silva, Segunda Turma,e-DJF1 p.183 de 24/03/2009)

3. Conclusão

Diante da breve análise apresentada, com forte alicerce provido pelo douto Tribunal Regional da 1ª Região, revela-se inequívoca a plena possibilidade de percepção de três benefícios de pensão por morte, advindos de um mesmo servidor, por dois beneficiários legítimos, em especial cônjuge e companheira, beneficiados com cota-partes iguais, equivalentes a uma pensão e meia cada, seguindo com retidão o disposto na legislação pátria.

É como opinamos. SMJ.

Florianópolis, 25 de novembro de 2014.

Luís Fernando Silva OAB/SC 9.582

Charles Braga Alves Estagiário de Direito

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