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Fausto Nilo faz poesia por metro quadrado, abrindo janelas para a arte

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Academic year: 2018

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F a u s t o N i l o t r a d u z

kjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a p o é t i c a d e s u a v i d a

p a r a o s a l u n o s d o c u r s o d e C o m u n i c a ç ã o

Social d a U F C .No d i s c u r s o c o n v i v e m j u n t a s a r q u i t e t u r a e

m l Í s l c a .

QPONMLKJIHGFEDCBA

E n tr e v is ta c o m o a r q u ite to e c o m p o

-s ito r F a u s to N ilo , d ia 0 7 /0 4 /9 4 . P r o d u ç ã o : C lá u d ia M o n te ir o . F r a n c in e id e M a r tin s e M a r llia A g u ia r

A b e r tu r a : E th e l d e P a u la R e d a ç ã o , e d iç ã o e te x to fin a l: E th e l d e P a u la e L ia n a F a r ia s P a r tic ip a ç ã o : C lá u d ia M o n te ir o .

E th e l d e P a u la , F r a n c in e id e M a r tin s , L ia n a F a r ia s , M a r llia A g u ia r e W a lb e r L im a F o to : A r q u iv o D iá r io d o

N o r d e s te

Fausto Nilo faz poesia por metro

quadrado, abrindo janelas para a arte

O

c o n s e lh e iro a c e rto u .

a

s e rtã o iria m e s m o v ira r m a r. M a r d e d ife re n te s á g u a s , m a s p ro fu n d id a d e id ê n tic a . M a r d e p o e s ia . E c o m o a n a tu re z a é s á b ia , a p ro fe c ia s e d e u e m lo c a l e x a to . A m e s m a c a s a o n d e n a s c e u o b e a to , e m Q u ix e ra m o b im , in te rio r d o C e a rá , te s te m u n h o u o n a s c im e n to d e u m o u tro h o m e m , ig u a lm e n te tra n s -fo rm a d o r, q u e g a n h a ria s o b re n o m e d e rio e in u n -d a ria a s c id a d e s d e fe ito s p o é tic o s . F a u s to N ilo C o s ta J ú n io r s e g u e p re d e s tin a d o . T u d o o q u e e le to c a v ira m a r d e e m o ç õ e s . Éa s s im q u a n d o c o m p õ e le tra s d e m ú s ic a e é a s s im q u a n d o fa z u s o a rtís tic o d a a rq u ite tu ra , m o d e la n d o o c o m p le x o e q u ilíb rio e n tre a s fu n ç õ e s fis ic a s e p s ic o ló g ic a s d o s e s p a ç o s u rb a n o s .

a

g a ro to q u e tin h a fix a ç ã o p o r d e s e n h a r c a -m in h ã o -- p a s m e m ! d e s e jo u s e r c a m in h o n e iro --ta lv e z n ã o in tu ís s e o ru m o d is --ta n te a s e tra ç a r. H o je , e le m e s m o a d ia n ta e m q u e c irc u n s tâ n c ia s tra fe g a : " F a z e r u m e d ifíc io p ra m im é tra fe g a r to d o o d ia , lá n o m e u c o lc h ã o , e m to d o s o s a m b ie n te s d e le , q u a n d o e u v o u d o rm ir" . Év e rd a d e . F a u s to v iv e s o b a d e p e n d ê n c ia a b s o lu ta e c o m p u ls iv a d a im a g in a -ç ã o . E p a ra d iá lo g o e n tre c ria d o r e c ria tu ra n ã o e x is te m m e s m o h o ra e n e m lu g a r.

a

a rq u ite to p re fe re v is ita r o b ra s n a c a la d a d a n o ite , q u a n d o o s ilê n c io é c o m p a n h e iro fíd e lís s im o e e v o c a c o n fis -s õ e -s e in -s p ira ç õ e -s la te n te s .

N a c a s a d a m e m ó ria d o p o e ta a in d a e s tã o d e p é a s p a re d e s d e u m te m p o e m q u e o s " c a n to re s d o rá d io " c o n q u is ta ra m a ju v e n tu d e b ra s ile ira . F a u s to e ra fã , T in h a c a d e rn o d e le tra s , a c o m p a n h a v a p e la re v is ta OC r u z e i r o a v id a d o s a rtis ta s e n ã o p o u p a v a e s fo rç o s p a ra te r e m m ã o s fo lh e tin s d e m ú s ic a s . A té h o je , s a b e d e c o r to d a a o b ra d e O rla n d o S ilv a . H e ra n ç a d e q u e m c e d o d e u o u v id o s a o re p e titiv o , p o ré m v a lio s o , re p e rtó rio v e ic u la d o n o s a lto fa la n -te s d a V o z d e C r i s t a l , ra d ia d o ra q u e p re m ia v a c o m m a is ritm o o c o tid ia n o p a c a to d e Q u ix e ra m o b im .

E m s e tra d u z in d o F a u s to N ilo , v ê -s e q u e u m s ó p e rs o n a g e m n ã o v in g o u a c o n te n to : o m ilita n te

p o lític o d a d é c a d a d e 6 0 , im e rs o n o a m b ie n te e fe rv e s c e n te d a re c é m -im p la n ta d a F a c u ld a d e d e A rq u ite tu ra d a U F C .

a

e n tã o e s tu d a n te tin h a a v e r-s ã o a p a r-s r-s e a ta r-s , n u n c a a p re n d e u a fa z e r d is c u rs o p a ra m a s s a , n ã o c o m u n g a v a c o m c e rto s e x tre m is -m o s d a a la in te le c tu a l e s q u e rd is ta , m a s c o n q u is -ta v a p e la " c a p a c id a d e a d m in is tra tiv a " . L o g o n a p rim e ira g e s tã o fre n te a o D ire tó rio A c a d ê m ic o , in v e s tiu n o a p a re lh a m e n to d e u m a d is c o te c a n a s e d e d a e n tid a d e .

a

lo c a l s e tra n s fo rm o u e m c e le iro a g lu tin a d o r d e id é ia s a rro ja d a s e b o a s m ú s ic a s . D e lá s u rg iu o c h a m a d o 'P e s s o a l d o C e a rá ' e o a in d a a c a n h a d o p o e ta F a u s to N ilo .

N a s p ro fu n d e z a s d e N ilo , c o n v iv e m h a rm o n i-o s a m e n te le itu ra s p lu ra is d a re a lid a d e . D e tu d o s u g a u m p o u c o , c o m o s e já n ã o b a s ta s s e tra g a r a g ra n d e z a d e u m s e n tim e n to n u m s im p le s s u s p iro p o é tic o . T e le v is ã o é v is ta c o m o ja n e la d e lo n g o a lc a n c e , o n d e s e d e b ru ç a im p re g n a d o d e c u rio s id a -d e . D a te la , v is lu m b ra e s e le c io n a d e n s a s s ig n ific a -ç õ e s e s té tic a s , d e v id a m e n te s u b lim in a d a s e m d e s -p re te n s io s a s im a g e n s d o c o tid ia n o . N o e s c u ro d o c in e m a , la n ç a o o lh o p o é tic o e e n x e rg a p a re n te s c o e n tre a a rq u ite tu ra e a s é tim a a rte , " s e n d o q u e a g e n te n ã o e s c re v e o s d iá lo g o s " o s d iá lo g o s s ã o e m o c io n a is " .

(2)

L

kjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

F a u s to N ilo re c e b e u a e q u ip e E n tre v is ta . à s 1 4 :4 0 h . e m s e u e s c ri-tó rio d e A rq u ite tu ra . D e in íc io p a re c ia re tra íd o . m a s lo g o d e s c o n tra iu -s e .

E m s u a s a la d e e s c ritó rio p re d o m in a m p re to e c in z a .Éa m p la . d e e s tilo d e a n . D o is q u a d ro s , c o m to n s e m v e rm e lh o . d e c o ra m a s p a re d e s .

F a u s to N ilo te m p a ix ã o p o r ja n e la s . N a s a la d e e s c ritó rio . u m ja n e lã c d e v id ro p e rm ite o b s e rv a r to d o o m o v im e n to d e tra n s e u n te s n a ru a .

4

PONMLKJIHGFEDCBA

F a u s t o N i l o

E n t r e v i s t a - F a u s t o , e n t ã o a g e n t e q u e r i a c o m e ç a r f a l a n d o e m t o m o d o s s e u s 5 0 a n o s , n é ? V o c ê f e z 5 0 a n o s a n t e s d e o n t e m . . . C l á u d i a , v o c ê j á s e l e c i o n o u a l g u m a p e r g u n t a , p o r q u e e u e s t o u u m p o u c o n e r v o s a ? !

E n t r e v i s t ag e n t e p e r c e b e u ,- N ã o ,a t r a v é sé o s e g u i n t e :d a s l e i t u r a sa

d o m a t e r i a l q u e a g e n t e c o n s e g u i u , q u e v o c ê é , c a r a c t e r i s t i c a m e n t e , u m a p e s s o a d u a l i s t a , n é ? U m a p e s s o a q u e t e m u m a c u l t u r a a m p l a , q u e g o s t a m u i t o d a c o i s a d o p a r a d o x o , a t é n a s s u a s m ú s i c a s , n é ? E p a r t i c i p o u d o m o v i m e n t o e s t u d a n t i l , m o r o u e m v á r i a s c i d a d e s , e t a l , e a g e n t e t á q u e r e n d o s a b e r , p r a c o m e ç o d e c o n -v e r s a , p e d i r a t u a a u t o d e f i n i ç ã o c o m o h o m e m , c o m o a r q u i t e t o , c o m o m ú s i -c o . C o m o v o c ê t á s e v e n d o , n o m o m e n t o d e h o j e , d e p o i s d e t e r p a s -s a d o p o r t o d a s e s s a s e x p e r i ê n c i a s ?

F a u s to N ilo B o m , e u s o u u m b ra -s ile iro típ ic o , d ig a m o s a s s im , d e o rig e m s e rta n e ja , n é ? E u a c h o q u e e s te tra ç o c o m o v o c ê fa lo u a í, m in h a p e rs o n a lid a d e é c h e ia d e a s p e c to s a p a re n te m e n te p a ra d o x a is , a s s im , e u m d e le s é e s s e : e u s o u u m a p e s s o a d e o rig e m s e rta n e ja , s o u n a s c id o e m Q u ix e ra m o b im ( 2 1 0 K m d e F o rta le -z a ), n a c a s a o n d e n a s c e u C o n s e lh e iro ta m b é m , (A n tô n io C o n s e lh e iro , líd e r re lig io s o q u e c o m a n d o u a R e v o lta d e C a n u d o s ) n é , q u e h o je a in d a é a c a s a d e p ro p rie d a d e n o s s a , d a m in h a fa m í-lia , e v i v i lá a té o s o n z e a n o s d e id a d e e , a o m e s m o te m p o , s o u u m a p e s s o a d e a lta d e p e n d ê n c ia , a s s im , d a v id a u rb a n a , n é ? E u a c h o q u e ja m a is re to m a ria a o s e rtã o , e m b o ra m in h a o rig e m s e ja d e lá . T e n h o m u ita s le m -b ra n ç a s , m a s s o u u m a p e s s o a d e c u ltu ra u rb a n a , n é ? E m b o ra s o fra , c o m o a m a io ria d a s p e s s o a s s o fre h o je c o m o s a s p e c to s a s s im m a is re s -tritiv o s d e s s a g ra n d e a v e n tu ra q u e n ó s e s ta m o s v iv e n d o , q u e é v iv e r e m c id a d e s s e m lim ite d e c re s c im e n to e d e m u ita p o b re z a n o B ra s il. M a s , m e s m o a s s im , s o u u rn a p e s s o a d e c u ltu ra u rb a n a , g o s to d e c u ltu ra u rb a -n a . E a c u m u lo e s s e s c o n tra s te s , n é , d e s s a c u ltu ra , c u ja d e s c riç ã o m a is o u m e n o s lin e a r d a m in h a fo rm a ç ã o v e m d e u m s u je ito d o in te rio r, a té o n z e a n o s d e id a d e , d e p o is a v id a n a c a p i-ta l m u ito p a re c id a c o m a q u e la c rô n ic a d e a lg u n s b ra s ile iro s d a m in h a id a d e p ra c im a , q u e é d e u m s u je ito q u e v e m d o in te rio r, q u e la rg a s u a c id a d e q u e rid a , c o m m u ita d o r n o c o ra ç ã o e q u e , a o m e s m o te m p o , s e n te q u e te m q u e s a ir, te m u rn a a tra ç ã o p o r u m a p o s s ib ilid a d e d e tra n s fo rm a r e s s a v id a a té e n tã o m u ito p e q u e n a d o in te rio r, m u ito s in g e la , p o r m n a v id a d e c id a -d e ... Q u e r -d iz e r, e u to m e i e s s a p ró p ria

..

in ic ia tiv a , e u , q u e fo rc e i a o s m e u s p a is p ra v ir p ra c id a d e , n ã o s e i n e m e x p lic a r p o r q u e , m a s fo i u m a d e c is ã o m in h a , a o s o n z e a n o s d e id a d e , e q u e v e m p ra c id a d e e p a s s a m il e x p e riê n -c ia s d o is o la m e n to ; d e u rn a p e s s o a d o in te rio r n u m a z o n a u rb a n iz a d a ... A c id a d e d e F o rta le z a , n e s s a é p o c a , e ra u m a c id a d e a lta m e n te m a rg in a li-z a d o ra , n é ? A c o n c e n tra ç ã o e ra ta n ta q u a n to a d e h o je , m a s e m te rm o s d e u rb a n o s e tin h a p ra tic a m e n te ... A ju v e n tu d e , e la n ã o tin h a e s p a ç o d e c o n ta to , e n tã o a g e n te tin h a p o u c a c h a n c e d e c o n v iv e r c o m a s jo v e n s d a c id a d e , p o rq u e e s s e lu g a r e ra u m c lu b e , e s s e s c lu b e s e ra m m u ito fe c h a -d o s , e e u n ã o e ra -d e n e n h u m a fa m ília fo rta le z e n s e , d e m a n e ira q u e o m e u c o tid ia n o a í, e o m e u la z e r, e ra fe ito c o m o u tro s a m ig o s ta m b é m d o in te -rio r, q u e fo rm a v a m u m a e s p é c ie d e g u e to s ...

" E u a c h o q u e ja m a is

re to m a ria a o s e rtã o ,

e m b o ra m in h a o rig e m

s e ja d e lá . T e n h o m u ita s

le m b ra n ç a s , m a s s o u

u m a p e s s o a d e c u ltu ra

u rb a n a ."

E n t r e v i s t a - I s s o m e n i n o , a i n d a ? F a u s to N ilo - É , is s o c o m tre z e , d o z e , p o r a í a s s im , n é ? E p re c o c e -m e n te , n a q u e la é p o c a - u m a c o is a a b s u rd a , e u o lh a n d o p ra trá s e d iz e n -d o is s o -- é q u e a g e n te c o m e ç a v a a b e b e r e a fu m a r m u ito c e d o . E n tã o , c o m d o z e a n o s d e id a d e , e u e ra u m b o ê m io já ... e n te n d e u ? S u p e re x -p e rie n te , e u e m e u s a m ig o s , n é ? E e s s a b o e m ia , e la s e d a v a n o b o te c o p o rq u e a c id a d e e ra m u ito p o b re d e e s p a ç o s d e c o n ta to , e d e e s p a ç o s d e la z e r, e s s a s c o is a s to d a s . E n tã o , o d iv e rtim e n to d e u m jo v e m e ra is s o a í. E , p re c o c e m e n te ta m b é m , fre q ü e n ta r a z o n a , n é ? (ris o s ) E u n ã o m e in c o m o -d o -d e -d iz e r is s o n a m in h a b io g ra fia . Q u e r d iz e r, fu i u rn b ra s ile iro q u e a tra v e s s e i m u d a n ç a s ra d ic a is d a c u l-tu ra , d ig a m o s a s s im , e s s a c u ltu ra d a c o n v iv ê n c ia e d a ... E n fu n : a tra v e s s e i e s s a s m u d a n ç a s c o m p o rta m e n ta is to d a s , a m u d a n ç a d a c id a d e , a m u -d a n ç a -d a m a n e ira -d e v iv e r. E u c o n h e c i a in d a -- e u te n h o re s to d a m in h a m e m ó ria , n o B ra s il, a n te s d a s o c ie d a -d e -d e c o n s u m o - u m B ra s il q u e s e a p ro v e ita v a o s o b je to s d e d é c im a v ia , n é ? Q u e r d iz e r, u m a la ta q u e , o ri-: g in a ria m e n te , e ra d e m a n te ig a , d e p o is

e ra c o p o , d e p o is v ira v a v d e -p o is ... E n fu n , e u v iv i e s s e B ra s il a in d a , n é ? U m B ra s il a g rá rio . U m C e a rá a g rá rio e ... E v i c h e g a r tu d o is s o n o B ra s il. C h e g a r a s o c ie d a d e d e c o n -s u m o , c h e g a r a in d ú s tria a u to m o b ilís tic a . C h e g a r a , d ig a m o s a s s im , te le v is u a lid a d e ... T u d o is s o e u s o u te s te m u n h a d a im p la n ta ç ã o d is s o a í. D ig a m o s a s s im , a s m u d a n ç a s d o c o m p o rta m e n to s e x u a l, a p ílu la , n é ? E n t r e v i s t a - O h o m e m à L u a . . . F a u s to i1 0 - O h o m e m à L u a

(3)

-E n t r e v i s t a F a u s t o N i l o

tsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

nagens assim bem antigos, daquela época: Capitão Marvin e tal. Então, aquilo pra mim foi uma mágica, por-que eu não conhecia ninguém em Quixeramobim que desenhasse tão bem. A minha mãe desenhava.

E n t r e v i s t a - A s u a p r i m a e r a d a

c a p i t a l ?

Fausto Nilo - Ela era da capital. E, por influência disso, eu descobri que eu também queria desenhar daquela maneira. E comecei a desenhar ... Da minha memória, que eu relembro, nessa época eu devia ter uns oito anos de idade, mais ou menos isso. Precisamente uns oito anos. E a partir daí eu passei a insistir em querer desenhar.

E n t r e v i s t a - D e s e n h a r o q u ê ?

Fausto Nilo - Bom, aí o desenho ... O meu desenho, minha espécie de desenho, era parecido com aquelas teses sobre origem da Arte, uma delas, que diz que o homem da ca-verna desenhava porque queria ter o bizonte, então desenhava o bizonte na ... Então, eu era louco por cami-nhão. O meu grande fascínio na infância, a primeira profissão que eu quis ser na vida era ter um caminhão e ser motorista.

E n t r e v i s t a - E n t ã o c o m o q u e , t a n t o

m o r a r n o s e r t ã o c o m o n a c i d a d e , t e r

u m a v i d a m a i s u r b a n a , r e f l e t e n o t e u

t r a b a l h o ?

Fausto Nilo -- Reflete de uma ma-neira interessantíssima, eu considero. Principalmente na música, mais do que na Arquitetura. Porque a Arqui-tetura, ela capitaliza da experiência sertaneja apenas a vivência regio-nal, digamos assim, poética e ambiental dos espaços culturais, digamos assim, né? Quer dizer, o que entra na Arquitetura da minha memória sertaneja é a cIimatologia, essa tradição da arquitetura popular do Ceará, né? A experiência dos espaços abertos, dos pátios, dos oitões, da sombra, da brisa ... Essas coisas todas compõem um pouco dos elementos que eu trabalho hoje na arquitetura de maneira transforma-da. Mas eu acho que o grande componente, quer dizer, a grande influência da parte sertaneja na par-te urbana do meu trabalho, que é a música popular, é essa mistura de uma memória -- dessa memória que eu estava descrevendo -- com as experiências posteriores de grande urbanização. Quer dizer, de repente eu sou um sujeito de Quixeramobim, com toda essa memória que eu falei, que vivi a cultura mais popular, né, no seu sentido mais amplo, quer dizer. .. eu vivi isso com intensidade

e com crença. Tudo que eu conheço de cultura popular não são coisas que eu fui pesquisar, são coisas que eu fui parte dela. Eu vivenciei ela, quer dizer, o meu conjunto de informações era aquele. Então, os meus amigos sabem que eu tenho um repertório muito grande de lembranças de can-ções populares brasileiras na cabeça. E tudo isso é por razão vivencial, e não por pesquisa. Eu sei toda a obra do Orlando Silva de cor. Eu canto todas as músicas, entendeu? Mas canto porque na minha cidade tinha um serviço de alto falante lá que tocava ...

Entrevista - A V o z d e C r i s t a l ?

Fausto Nilo -- A Voz de Cristal (hoje é a denominação de uma emissora de rádio na cidade), que duas vezes por dia ele animava coletivamente a cida-de. E ali as mensagens eram trocadas e tudo, e eu participava ativamente daquilo. Acompanhava, pela revista O Cruzeiro, a vida dos artistas do rádio ... Eu tinha caderno de letras, eu comprava revistas com letras de música. Decorava as letras e tudo. E essas músicas ... o Brasil era outro.

, 'O que entra na

Arquitetura da minha

memória sertaneja

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

é

a

climatologia. (...) A

experiência dos espaços

abertos, dos pátios, dos

oitões, da sombra, da

b .

nsa ...

"

Essas músicas ... um artista gravava duas músicas por ano. Essas músicas passavam muitos anos, repetidamen-te, sendo tocadas. Não tinha essa coisa de substituição. Eu vi isso nascer também. Eu sou da cultura anterior, né, da permanência, e sou também da cultura da substituição imediata,

né,

do evento.

Entrevista - E r a i s s o q u e e u i a f a l a r . E s s a m a n i f e s t a ç ã o d a c u l t u r a p o p u

-l a r q u e v o c ê v i v e n c i o u a i n d a t á m u i t o

p r e s e n t e t a n t o n a t u a m e m ó r i a . . .

Fausto Nilo -- Muito.

Entrevista -- ...c o m o n a t u a e x p r e s -s ã o a r t í -s t i c a e , a o m e s m o t e m p o , v o c ê

t a m b é m a d o r a o u r b a n o . E n t ã o d a í a

s u a c a r a c t e r i s t i c a d e p a r a d o x o , d o s

c o n t r a s t e s . C o m o é i s s o ?

Fausto Nilo - Éuma coisa que ... O que eu posso resumir dizendo para vocês é o seguinte: é uma coisa que

hoje em dia - hoje em dia, principal-mente, porque eu tenho mais consciência e domínio desse proble-ma -- eu valorizo muito ser brasileiro dessa composição emocional. Éurna coisa que eu valorizo muito. Mas naturalmente o degrau, quer dizer, a escada, o processo de mutação e de incorporação de novas experiências, ele tem momentos doloridos e mo-mentos muito... Por exemplo, a minha partida do interior, eu jamais esquecerei isso. No momento que o trem saiu, que eu vi a madrugada ali da cidade, aquelas pessoas que eu conhecia, e tal... Eu senti pro-fundamente. Então depois, você, de repente, tá ... já anos depois, já tô com trinta e tantos anos de idade, eu tô sozinho em Paris, num aparta-mento de um amigo e começo a pensar no Quixeramobim ... Éuma parada esse negócio.

Entrevista -- O q u e é q u e t i n h a , F a u s t o , n a c a b e ç a d o h o m e m s a i n d o

d e Q u i x e r a m o b i m ?

Fausto Nilo -- Rapaz, eu tinha uma idéia ... Eu, desde muito cedo ... eu, quando eu tinha sete anos, nós fize-mos uma migração para cá, a família toda. E moramos um ano. E eu tenho alguma memória desse período. Mas eu considero que eu cheguei na ci-dade mesmo depois. Foi aos onze anos. Essa primeira experiência foi muito limitada sobre a cidade de Fortaleza. Mas eu sempre tive, des-de muito pequenininho, eu sempre tive sonhos de que ... Quer dizer, eu fui um brasileiro que já nasci com a idéia... Os meus tios tinham ido embora pra São Paulo. Muitos vizi-nhos tinham ido embora ... Então, eu já nasci com a idéia de que eu nasci ali, mas que eu ia sair daquele lugar, isso eu sempre tive muitocedo.rnuito cedo.

Entrevísta --C o m o s e a q u e l e l u g a r n ã o t e c o u b e s s e ?

Fausto Nilo -: Era, era.

Entrevista - E s e r á q u e f o i p o r i s s o t a m b é m q u e t u s a í s t e d e F o r t a l e z a ,

f o s t e p a r a o s u l d o P a í s . . .

Fausto Nilo -- Da mesma forma, da mesma forma.

E n t r e v i s t a - E a g o r a v o l t a ?

Fausto Nilo - E agora volta. Porque eu tô cumprindo aquele circuito tra-dicional dos nordestinos, principalmente dos cearenses, né?

E n t r e v i s t a - J á c o m p l e t o u o c i c l o ?

Fausto Nilo - É.Quer dizer, reco-meça outro cicIo. Por exemplo: eu morei catorze anos e meio no Rio de Janeiro. Durante esses catorze anos

Dois dias antes da e n

-trevista (05.04). Fausto Nilo com pletou 50 anos. com em orados com festa entre am igos.

A equipe Entrevista

levou salgados e refri-gerantes.

CBA

E le não

provou nenhum salga-do e só tom ou um gole

de refrigerante após m uito tem po de con-versa.

Paradoxosfazem parte da vida do arquiteto e poeta.tbatizado Fausto Nilo Costa Júnior. m as. curiosam ente. seu pai não éFausto.

5

(4)

L

Fausto é m anso nos gestos e fala. C abelos

encaracolados e

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s o r r i s o

infantil com põem a im agem do poeta. que vestia cam isa cinza e calçajeans.

Fausto N ilo é do tipo que m o desvia o olhar ao responder às perguntas. D urante toda entrevista.

CBA

eleolhava para cada um alternadam ente.

odiscurso de Fausto tem ritm o crescente. o que torna difícil interrom

pê-10 nos m om entos de

tsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

divaqação poética.

6

F a u s t o N i / o a

e meio eu acredito que ... doze anos eu morei julgando que jamais volta-ria pro Ceará. Eu vinha muito de férias, mas eu não... não havia a menor possibilidade de cogitar de voltar. Eu tinha uma vida nova, já devidamente reconstruída no Rio de Janeiro. Tinha um ambiente profis-sional que era uma coisa que eu tinha sonhado muito com isso. Eu gostava dos amigos do meio que eu tinha lá. Eu tinha amigos também, digamos, não-profissionais, já amizades sóli-das ...

E n t r e v i s t a - N a m o r a d a s . . . ( r i s o s )

Fausto Nilo -- Não, não tinha namo-radas. Tive muitas.né? Mas no final eujá tava com a Sílvia, que é a minha mulher hoje. Quer dizer,já tinha me aquietado um pouco, já tava numa ... E mesmo nessa zona mais tranqüila do casamento, quando nasceu a pri-meira filha e tudo, eu não alimentava sonhos de retomo. E durante lUTI

periodo de um ano e pouco eu tive o primeiro lampejo de cogitar: "Será que voltasse pro Ceará, fazer Arqui-tetura lá ...T"Porque eu sempre achei que fazer Arquitetura, pra mim, aqui, era mais interessante... Eu nunca achei que fizesse sentido eu ir pro Rio de Janeiro fazer Arquitetura, eu fui pra lá fazer letra de música.

E n t r e v i s t a - P o r q u ê ?

Fausto Nilo -- Porque... Primeiro porque é uma cidade que, digamos assim, ela não tá requisitando, hoje em dia, pela sua dificuldade contextual. .. O tecido urbano do Rio de Janeiro, ela não demanda grandes obras. Ela demanda grandiosíssimas obras. E, para fazer grandiosíssimas obras, o percurso que eu teria que fazer para me afirmar e ter o crédito de ser contratado por uma grande obra revolucionária no Rio de Janei-ro era uma coisa que eu ia dedicar o que eu já tinha dedicado a vida toda aqui, parte da minha vida. Então, o desempenho arquitetônico, o conhe-cimento que eu tenho do meio ambiental, da cultura, de uma coisa que está totalmente por fazer é o Ceará. Eu sempre achei isso. É o Ceará. Então, eu desempenharia isso muito melhor. Então, no momento em que eu comecei a ter muita sau-dade da arquitetura, pra dividir um pouco com a música essa atividade de novo, né, e que as minhas filhas começaram a crescer e que eu come-cei a sentir as pressões do cotidiano da cidade com relação

à

dificuldade de uma família viver no Rio de Janei-ro hoje, com crianças e tudo isso ... Eu, que sou uma pessoa preguiçosa, que gosta de ficar em casa, assim ... não sou afeito a esses programas:

"Vai com as crianças pro parque porque elas estão precisando se di-vertir ... " Quer dizer, a cidade grande impõe muito, a supercidade impõe muito isso: você fazer programas para... Quer dizer: "A criança tem que cumprir três horas de recreação, então nós vamos agora pegar um trans-porte, vamos não sei pra onde ... " Aquilo começou a me aborrecer muito. E aqui nós temos uma estru-tura mais espontãnea, de parentesco. As crianças têm primos, têm tios, têm... E eu, realmente, sacrifiquei muito a minha vida no Rio de Janeiro por esse projeto de retomo. Nesse sentido, de achar que eu teria uma globalidade das minhas necessida-des melhor resolvidas, considerando também que, hoje em dia, é diferente do tempo que eu fui pra lá. Eu posso fazer minhas letras sem estar fisica-mente morando no Rio de Janeiro.

"Os meus amigos

sabem que eu tenho um

repertório muito grande

de lembranças de

canções populares

brasileiras na cabeça. ' ,

E n t r e v i s t a - - V o c ê e s t á e m

Q u i x e r a m o b i m , v o c ê e s t á s a i n d o d e

Q u i x e r a m o b i m a i n d a , n é ?

Fausto Nilo - Sim, sim ... Saí de Quixeramobim ...

E n t r e v i s t a - - C o m a i d é i a d e . . .

Fausto Nilo -- Ah, sim, urna idéia que eu tinha que ir para algum lugar. Eu achava que tinha que ir pro Rio de Janeiro também. No dia em que eu cheguei no Rio de Janeiro para mo-rar, eu me recordo que eu me emocionei muito porque eu... Nos anos 50 -- eu devia ter aí uns dez, onze anos de idade -, eu conhecia a cidade do Rio de Janeiro toda pelas revistas. Eu sonhava em ir pro Maracanã, morar ...

E n t r e v i s t a E r a o u t r o R i o d e J a n e i

-r o .

Fausto Nilo - Era outro Rio de Ja-neiro, que quando eu cheguei lá já não tinha mais. Já era outro.

E n t r e v i s t a - M a s e a s u a l u t a n o R i o

d e J a n e i r o p a r a p o d e r s e i m p o r n o

c a m p o d a m ú s i c a ?

Fausto Nilo - A minha luta não existiu. Eu tenho muita sorte, eu sempre digo isso pra ... Às vezes eu

digo isso lá em casa pra minha famí-lia: a gente precisa ter sorte também. E eu sou uma pessoa que ... eu tenho muita sorte, porque eu não tenho grandes frustrações na minha vida, aos 50 anos, e as coisas que eu me propus a realizar, se eu não realizei da maneira mais destacada possível, eu realizei com razoável resultado. E uma delas foi essa da música e fui muito ajudado por meus amigos, porque eu não tenho essa fortaleza toda de sair daqui pra lutar pra ser um letrista de música no Rio de Janeiro. Eu fui muito ajudado pelos meus conterrâneos, no começo, que eram cantores, e que precisavam ter textos na música deles e eu fui um dos letristas que, na época em que eles tavam desbravando lá o cami-nho fonográfico, eles precisavam muito do meu trabalho. E eu precisei muito da ajuda deles quando eles cantavam minhas músicas. E dessa maneira eu me profissionalizei como letrista, conheci outros parceiros não-cearenses e ampliei meu trabalho com outros intérpretes e parceiros. Mas graças ao trabalho realizado pelo Fagner, o Eduardo e o Belchior, que eram os "cantores do Ceará".

E n t r e v i s t a = l n c l u s i v e a s u a p r i m e i

-r a m ú s i c a v o c ê d e s c o b r i u p o r a c a s o ,

n ã o f o i i s s o ? V o c ê f o i n u m a l o j a d e

d i s c o s l á . . .

Fausto Nilo -- Foi, foi.

E n t r e v i s t a - D a M a r í l i a M e d a l h a .

Fausto Nilo -- Marília Medalha. Exatamente. Em Brasília.

E n t r e v i s t a - Q u e r d i z e r q u e t u d o n a

s u a v i d a é m u i t o p o r a c a s o ?

Fausto Nilo -- É, mas eu considero que são uns acasos ... Vocês não me tomem por excessivamente seguro porque eu não sou, não. Mas são uns acasos mais ou menos previsíveis. Eu sou uma pessoa muito moderada nos meus projetos. Sou ex-cessivamente autocrítico, também. Mas eu acho que eu sei os momentos certos em que uma coisa tem que prosseguir, ela tem que ir. Então, no momento em que eu decidi ser letrista eu já vinha me preparando pra isso e observando muito ...

E n t r e v i s t a - S e o F a g n e r n ã o t i v e s

(5)

e\lsta

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

F a u s t o N i l o

r e v i s t a - A I a s v o c ê s o n h a v a c o m

q u i l o , e m v e r a s u a m ú s i c a t o c a n d o

o r á d i o ?

tsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Fausto ilo -- Sonhava. Eu acredi-tava e acho que é impossível um artista trabalhar se não for dessa maneira. Quer dizer, você não pode perder o senso crítico. Acho que é muito ruim pro criador. Porque aí ele perde a capacidade de reflexo em relação ao destinatário da obra dele, que é um cidadão anônimo que você imagina quando tá escrevendo um livro, quando tá fazendo uma canção ou uma obra de Arquitetura. Mas é necessário ter ousadia e, ao mesmo tempo, ter noção de medidas, de limites, saber o melhor caminho, saber em que você rende mais, en-tendeu? Eu sou muito rigoroso com isso. Quer dizer, eu não vou preten-der realizar coisas no âmbito em que meu instrumental é mais deficiente. Eu procuro resolver no âmbito em que meu instrumental tá mais prepa-rado, né? Então sempre foi assim. Eu sabia que alguma coisa iria aconte-cer.

E n t r e v i s t a - A í . • . f o i u m d e l í r i o ,

e n t ã o , e s s e m o m e n t o , n é , d o F a u s t o

N i l o ?

Fausto Nilo -- Foi. Agora, pra mim, foi gradativo, porque eu sempre fui um sujeito muito ... Por exemplo, na minha sala do Liceu eu era admirado pelos meus amigos porque eu sabia desenhar. Então, um garoto que sabe desenhar... quer dizer, a sua vida muda. Eu não sou uma pessoa que tenha tido muitos amargores infan-tis, porque eu era muito querido, sabe? De isolamento, ou de sentir ... como é que a gente chama isso? Subestimado. Eu sempre tive uma auto-estima boa por isso. Eu era tí-mido, era muito tímido. Mas eu era muito seguro de que, quando eu fi-zesse meus desenhos, eu tava identificado. E isso acontecia nor-malmente, acontecia sempre. Então, no Liceu, eu já era muito conhecido pelos meus amigos porque eu dese-nhava. Eu queria ser um pintor, como se chamava na época. Não era artista plástico. Eu queria ser um pintor como o Antônio Bandeira era e como o Aldemir Martins era. Eu queria ir pro exterior. Eu sonhava com uma bolsa de estudos em Roma, com aquelas história dos pintores anti-gos, né? Eu sonhava muito com isso. Ir a Paris, ficar sentado num Café, ali, vendo os artistas em Montrnartre (bairro de Paris). Mesmo garoto, eu sonhava muito com isso.

E n t r e v i s t a - F a u s t o , v o c ê t i n h a

fa-l a d o d o q u e é o a c a s o , m a s v o c ê

f a l o u q u e t e m t a m b é m a h i s t ó r i a d o

a u t o r , d o c o m p o s i t o r o b s e r v a r , n é ?

V o c ê s a b e r o q u e e s t á a c o n t e c e n d o . . .

Fausto Nilo - Sim.

E n t r e v i s t a - . . . E n t ã o , v o c ê j á t i n h a

c o m e n t a d o q u e o b o m c o m p o s i t o r

t e m d e s e r u m b o m o u v i n t e . E n t ã o o

q u e p a s s a p r a g e n t e é q u e v o c ê s e

p r e o c u p a m u i t o c o m e s s a m ã o d u

-p l a , n é ? E n t ã o a í a g e n t e p e r g u n t a :

c o m o é a n o ç ã o d e c i d a d a n i a q u e

v o c ê t e m , q u e v o c ê m e s c l a , n é . . .

Fausto Nilo -- Isso, isso.

E n t r e v i s t a - . . . q u e v o c ê j o g a m u i t o

b e m t a n t o n a m ú s i c a q u a n t o n a A r

-q u i t e t u r a ? D e o n d e v e m e s s a n o ç ã o

d e c i d a d a n i a ?

Fausto Nilo - Eu acho que vem do senso de... A minha casa era uma casa ... Eu fui educado numa família do interior, mas com um senso muito rigoroso de respeito ao próximo. Eu diria até que, por parte da minha mãe, coin um tempero, digamos as-sim, porque não dizer, cristão muito

, 'Eu queria ser um

pintor. ( ...) Não era

artista plástico. Eu

queria ser um pintor

como o Antônio

Bandeira era e como o

Aldemir Martins era."

grande disso aí. A minha mãe é uma mulher, digamos, de grande popula-ridade na minha cidade pelas obras de dedicação que ela tem com os outros, especialmente com os po-bres, e tal. Hoje ela está esclerosada, mas é uma pessoa que cuja vida foi muito ... Ela sempre Quer dizer, a minha mãe enterrou muitos velhos, cuidou da última providência ...

E n t r e v i s t a - C o m o é o n o m e d a t u a

m ã e ?

Fausto Nilo - Hilda.

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Éuma mulher muito forte, uma mulher de uma

têmpora muito Uma sertaneja típi-ca, assim muito uma pessoa muito, nesse aspecto, é muito generosa. Então, eu fui educado por princípios. A minha casa é uma casa que tinha valores muito claros, muito defini-dos. Existia uma ética na nossa casa, . uma ética muito rigorosa. Então, essa ética se espelhava no trato com os empregados, no convívio com as pessoas, com os vizinhos, com as pessoas da rua. Enfim, com um

limi-te razoável de respeito. Eu acho que, por isso tudo, eu me formei sendo uma pessoa com um mínimo de sensi-bilidade social. Embora, tenha uma parte da minha biografia, digamos, do movimento estudantil até de ... Me considero até hoje uma pessoa de idéias de progresso social. Mante-nho isso até hoje. Sou um brasileiro que luto no meu trabalho, as minhas mensagens na Arquitetura e na mú-sica sempre são muito De maneira, digamos assim, muito Procurando sempre que elas tenham muita natu-ralidade, quer dizer, sem submeter a poética à propaganda. Nunca gostei de fazer isso e jamais farei, a propa-ganda de qualquer ordem, ideológica ou não. Mas sempre tentando de-monstrar que aquele trabalho que eu realizei vem de uma situação que tem referenciais sociais típicos bra-sileiros. E isso, eu acho que vem da minha experiência da família, de-pois passando pela Universidade ... Agora, curiosamente, uma dificulda-de muito grandificulda-de dificulda-de militância. Nunca tive. Sou muito preguiçoso, não te-nho fibra pra ser militante de nada e tal. Eu tenho firmeza do ponto de vista intelectual, mas não sou uma pessoa que tenha capacidade de me dedicar a uma obra de militância, nada. Eu tenho uma colaboração intelectual, sou mais disponível do ponto de vista intelectual.

E n t r e v i s t a - E n t ã o , c o m o é q u e f o i

e m

68,

q u a n d o v o c ê f o i p r e s i d e n t e d o D A (Diretório Acadêmico), v i c e p r e

-s i d e n t e d o D C E (Diretório Central

dos Estudantes)?

Fausto Nilo -- Em 68 aconteceu comigo ... Essa parte da minha bio-grafia ela acontece pelo seguinte: porque, em 64, eu já tinha compre-ensão política. Eu ia para a Praça do Ferreira (no Centro de Fortaleza). O lugar, digamos assim, da minha ... Mesmo nesse anonimato, de cara do interior, com meus amigos, a gente freqüentava ali o Abrigo e a Praça do Ferreira em tomo das discussões políticas. Nessa época eu já lia

aque-l e s j o m a i s , B r a s i aque-l U r g e n t e . Eu assisti pelo rádio, na Praça do Ferreira, com a multidão, o discurso do Jango (ex-presidente João Goulart deposto pelo golpe militar) na Central do Brasil (no dia 13 de março de 1964). O famoso discurso do Jango. Ali eu tinha, em 64, eu tinha vinte anos de idade. Então, eu já tinha minha com-preensãoda sociedade brasileira bem definida, né? Então, antes de entrar na Universidade, eu já tinha isso. Agora, ao entrar na Universidade ... a minha faculdade era nova e ela configurou-se rapidamente. Eu fui da primeira turma. Eu fui o

funda-•

L

Na fase de produção. aconversa com Fausto se estendeu por quase 2 horas. Ele apresentou m ais de 6 pastas com m aterial de jornal e revista

M arina.nova. entusiasm ou-sea filha m ais com o volum e de m aterial coletado sobre o pai. com entando: "Com o a vida do m eu paiégrande!"

Ele esteve porfora do Estado. RetornouI 4 anos àFortaleza em 89. onde reside com a esposa e duas filhas. num apar-tam ento na Aldeota.

7

(6)

o

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

bréruc 8 1/8z fO I um período de intenso fluxo

crranvo e

CBA

paz Interior. É quando nasce sua prim eira filha Elisa. do casam ento com Sílvia.

Foi m uito boêm io C onta-se que chegava em casa de m anhã com sacos de leite e pão em baixo do braço. Aquietou-se com o casam ento.

C om 20 anos ingressou na Faculdade de Arqui-tetura. tendo breves

ex-periências com o pro-fessor na U FC . em 7 I. e na U nS. em 76.

8ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

F a u s t o N i l a t a

dor, praticamente, da Faculdade de Arquitetura como aluno, né? Então, a gente tinha um espaço lá na facul-dade, que era o Diretório (Diretório Acadêmico), que eu fui também pre-sidente do Diretório. Mas eu fui porque eram só onze alunos, dos quais tinham quatro mulheres. E eu fui praticamente obrigado a ser por-que era um rodízio: "Agora é tu, vai!"(risos). Eu fui presidente do diretório da faculdade. Primeiramen-te do diretório da faculdade. Então a minha plataforma, que foi cumprida, era pegar todo o dinheiro, a verba que naquela época a gente recebia --e faz--er um convênio com as Lojas Vox (de venda de discos), de manei-ra que, no dia em que os discos chegavam, os caras telefonavam, a gente ia lá, trazia os discos e formava uma grande discoteca que nunca fe-chou. 'SÓ foi fechada no dia doAl-5

(13 de dezembro de 1968). E no dia doAl-5, que a Universidade foi in-vadida todos os discos desapareceram num dia só. E durante esses anos todos, ela nunca foi fechada, dia e noite e de madrugada. Aberta a todos os estudantes universitários, ás ve-zes contra a vontade de alguns colegas do pessoal da Aldeota (bairro mais nobre de Fortaleza), assim, mais com aquele sentido de privacidade, de coisa privada, assim, então dizia: "A faculdade é nossa, como é que vem gente da Medicina, vem gente não sei da onde. A gente chega lá e quer escutar um pouquinho a música e só tem pessoas estranhas e ta!!?" E eu, mesmo contra a vontade dessa mino-ria -- inúmeras assembléias nós fizemos pra isso --, eu mantive esse diretório aberto e criou-se uma tra-dição. E, mesmo depois da minha gestão, muitos outros presidentes mantiveram o diretório dessa ma-neira. E lá, graças a esse ambiente, se formou o chamado "Pessoal do Ceará", onde os compositores se encontraram. Quer dizer, houve uma época que você tinha vinte e tantos autores que não se conheciam antes, no Ceará, jovens que se encontraram nesse lugar. E daí surgiu a música do Ceará, surgiu a poesia do Ceará, tudo graças a esse lugar. Eu acho. Foi uma grande contribuição. Então, por con-ta desse trabalho -- que dava na viscon-ta de toda a Universidade e era uma grande novidade --, nós fazíamos teatro ... Tudo espontâneo, não era do currículo. Era coisa que a gente fazia por iniciativa nossa.

E n t r e v i s t a - V o c ê f e z t e a t r o ?

Fausto Nilo - Eu fiz cenário pra teatro. Eu nunca quis ser ator, não. Nessa época, eu fiz cenário. Então, por isso é que eu fui chamado pra ser

vice (vice-presidente do DCE) do Genoíno, porque eu tinha votos, eu era uma pessoa conhecida na Uni ver-sidade ...

E n t r e v i s t a - - O G e n o i n o N e t o , d o PT?

Fausto Nilo -- É, o nosso Genoíno (José

Genoíno

Neto, deputado fede-ral por São Paulo) meu conterrâneo também de Quixeramobim. Então, em 68, eles tinham que compor a chapa com pessoas que tivessem voto e eu tinha por esse lado aí, porque eu tinhajá uma liderança no pessoal dos artistas e tal, universitários e tal. E acho que eu entrei muito por isso, né? Mas fui um vice-presidente hor-roroso, porque eu participava das reuniões mas eu tinha horror a pas-seatas -- fui muitas vezes obrigado --, tinha horror àquelas grandes guer-ras, mas fui a todas elas. Sofrendo muito, mas fui. Então, quando se decidia que amanhã a gente ia en-frentar a polícia, eu não dormia de noite. Eu achava um horror, mas

, 'Quando se decidia

que amanhã a gente ia

enfrentar a polícia, eu

não dormia de noite.

( ...) Eu ia com muito

sofrimento. ' ,

sempre fui um sujeito que honrei muito as minhas decisões. Então eu ia. Eu ia com muito sofrimento, mas fui. E ... nunca aprendi a fazer discur-so para a massa. Tentei duas vezes e foi uma verdadeira tragédia, né? Então, eu me recordo que uma vez eu fui encarregado de fazer uma discur-so da campanha na Faculdade de Filosofia, que só tinha mulheres. E, ao chegar lá, encontrei uma grande amiga minhaque secharnava Gláucia Josino, que era uma figura muito engraçada. Eu disse: - "Gláucia, eu tô precisando fazer um discurso, que o pessoal me obrigou. Disse que eu tenho que fazer para aprender e para deslanchar e tal." -- "Ah, é um discurso?" -- "É. " -- "Então vamos fazer que eu chamo as meninas ... " E chamou: -- "Pessoal (Fausto bate palmas para imitar o gesto da cole-ga) ... " Aí juntamos na cantina, unla turma de garotas, e disse: "Olhe, eu vou apresentar a vocês aqui ... " Isso em 68, no auge da loucura, da por-rada e tudo, né? As lutas não eram mais reivindicatórias, eram lutas

políticas mesmo. Como se dizia na época. Aí ela dizia assim: "Pessoal, é o seguinte: o Fausto é candidato a vice-presidente do DCE e acho que todo mundo tem que votar nele. Ele vai falar agora, nós vamos ouvir, e tem que votar nele pela seguinte razão: olhe, esse rapaz tem uma ca-pacidade administrativa ... "(risos)

E n t r e v i s t a - - A i e l a f e z o

d i s c u r s o . . . ( r i s o s )

Fausto Nilo -- Fez o discurso, e um discurso -- ela não tinha nada a ver com política --, ela fez um discurso, quer dizer, ela vendeu imagem mi-nha, para as amigas dela da filosofia, de que eu era uma grande capacidade administrativa. Quer dizer, naquela época, o problema não era uma capa-cidade administrativa ... O problema era fazer os movimentos estudantis irem pra rua. E enfim, tudo aquilo que vocês sabem., Então é dessa maneira que eu entrei no movimento estudantil, só que muita gente da nossa geração, como era natural, estava envolvido com isso aí. Éra-mos uma minoria muito maior do que vocês hoje, com a opinião que vocês têm. Quer dizer, eu ... para você ter idéia, uma pessoa da minha geração, digamos, de toda a minha cidade, de todas as pessoas do Liceu que eu conheci ... Quer dizer, se eu juntasse todas os amigos que eu tive até 68, na minha experiência de vida, incluindo os conterrâneos e a minha origem, todo mundo, eu talvez en-contre cinco ou seis ... Não. Enen-contre dez pessoas que tinham as idéias políticas que eu tinha em 68. O res-tante todinho reagia e ignorava, igualmente os inimigos do movimen-to estudantil. Pra você ver como a densidade era pequena de jovens que tinham idéias políticas, digamos, de transformação, não é isso? Quer di-zer, configurando de outra maneira: se eu, em 68, saísse do âmbito da Universidade e fosse pro âmbito normal da minha vida, com inúmeros amigos que eu tinha, e começasse a falar em política, eles interrompiam e, com cinco minutos, diziam: "Va-mos falar de futebol porque esse assunto a ninguém interessa e nós não compreendemos o que você tá dizendo e nós somos contra isso."

E n t r e v i s t a - Q u e r d i z e r e n t ã o q u e

v o c ê e r a " c a b e ç a f e i t a " , n a q u e l a

é p o c a ?

(7)

F aus t o . i / o

tsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

.a e a minha turma passou a ser

do movimento estudantil e

artistas da Universidade. Ejunto

povo aí, eu fui até me formar, urante muito tempo.

E n t r e v i s t a - M a s e n t ã o c o m o é q u e

f o i a e s c o l h a d a A r q u i t e t u r a ?

Fausto Nilo - Não, a escolha de

arquitetura foi assim: eu comecei a

desenhar os caminhões. Então, meu

prazer era no dia em que eu olhava

pro desenho e achava parecido com

um caminhão real. A conquista era

essa. Então, eu fui aprimorando esse

desenho. Depois eu vim pra F

ortale-za, entrei no Liceu, cada dia

desenhando mais. Obsessivamente

desenhando, desenhando,

dese-nhando, desenhando jogador de

futebol, desenhando artista de

cine-ma, desenhando ...

E n t r e v i s t a - V o c ê é u m b o m d e s e

-n h i s t a ?

Fausto Nilo - Considero que sim. E

acho, muita gente que me conhece

acha que eu poderia ter seguido a

carreira plástica e eu interrompi,

porque no portão poético dela eu

tinha um aparato e tenho, mas eu não

prossegui porque eu fui para outra

derivação.

E n t r e v i s t a - E n t ã o , p e n s a n d o n e s s a

p a r t e , v o c ê é c a p a z d e . . .

Fausto Nilo - Eu desenho uma

pes-soa, se eu olhar pra você, por alguns

minutos, eu lhe desenho com

seme-lhança mesmo. Eu consigo fazer isso.

E n t r e v i s t a - E n t ã o , e u q u e r i a f a z e r

u m r e l a c i o n a m e n t o d i s s o c o m a

m ú s i c a t a m b é m . V o c ê d i s s e , c e r t a

v e z , q u e n ã o g o s t a m u i t o d e e s c r e v e r

a l e t r a s e m t e r a m ú s i c a . E n t ã o , a

l e t r a t á m u i t o l i g a d a à m e l o d i a p r a

f a z e r a m ú s i c a . V o c ê s e r i a c a p a z d e

d e s e n h a r s e m s e r p r a A r q u i t e t u r a ?

Fausto Nilo - Hoje? É, a pergunta

é superinteressante, porque você está

se referindo aí a essa descolagem da

integridade da obra, essa

decompo-sição, não é? Eu ... não. Eu desenho, eu planejo muito que vou fazer um período de desenho. Eu planejo muito que vou fazer isso. Mas o meu coti-diano tem adiado mui to isso, as outras

ocupações e tal. Nem sei se é isso,

que às vezes sobra tempo e você não

faz. Mas, eu faço muito quando

vi-ajo. Eu gosto de desenhar cidades.

Eu observo. Em vez de fotografar, eu

tenho muitos desenhos. Tenho

dese-nhos de Paris, tenho da Espanha,

tenho de Portugal, tenho da Bahia ...

E n t r e v i s t a - N u n c a p e n s o u e m f a z e r

u m a e x p o s i ç ã o c o m e s s e s d e s e n h o s

e s e l a n ç a r c o m o a r t i s t a p l á s t i c o ?

Fausto Nilo - Não, eu acho que não é o caso. Não é o caso. Porque eu considero que a Arte, pra mim, nesse sentido vale para todas as Artes -, ela ... Eu tenho apenas um patamar

no desenho, que é um desenho de

aplicação. Ele é um desenho

plasti-camente interessante, eu já dei de

presente a amigos e as pessoas

gos-tam, e tal. Eu desenhei minhas filhas

quando nasceram, todas duas. Mas

eu não... Eu acredito que eu teria

capacidade se eu resolvesse, agora,

me dedicar profundamente a uma

pesquisa, quer dizer ... a uma

pesqui-sa exaustiva do meu desenho para

ele ganhar uma categoria estética

compatível com o criador de Artes

Plásticas. Mas eu não seria, eu acho

que eu poderia sobrevi ver com o meu desenho talvez como um ilustrador,

como um desenho aplicado

al-gu-mas (enfatizando) vezes á

publicidade, não toda vida. Porque

tem um tipo de coisa que eu não tenho técnica, né? E seria capaz de aprender inúmeras técnicas, mas pra

, 'Muita gente que me

conhece acha que eu

poderia ter seguido a

carreira plástica ( ...),

mas eu não prossegui

porque fui para outra

derivação. "

ser um artista plástico dessa

manei-ra, com autonomia, quer dizer, um

desenho autônomo como invenção

criativa profunda, esteticamente

pro-funda, eu teria que malhar muito. Eu

reconheço que eu teria que malhar

muito.

E n t r e v i s t a - M a s , m e s m o s e m s e

l a n ç a r c o m o a r t i s t a p l á s t i c o , v o c ê

s a b e q u e , s e f i z e s s e u m a e x p o s i ç ã o ,

t e r i a u m p ú b l i c o .

Fausto Nilo - Teria. Mas acho que

teria por influência de eu ser conhe-cido por outras coisas, quer dizer... As pessoas poderiam até adquirir os

desenhos por essa razão, né? Quem

sabe um dia eu faço, mas eu tenho

evitado aplicar esse golpe, aié hoje.

E n t r e v i s t a - F a u s t o , t o m a n d o i s s o

c o m o p a r â m e t r o , v o c ê a c h a q u e o

s e u s u c e s s o c o m o a r q u i t e t o v e m

m u i t o p o r c o n t a d o t e u r e c o n h e c i

-m e n t o n a c i o n a l c o -m o -m ú s i c o , c o -m o

c o m p o s i t o r ?

Fausto Nilo - Não, eu acho que isso

atrapalhou no meu retomo. Isso

atra-palhou muito. Eu, agora, nesse

momento, nesses anos agora, nesse

dia em que nós estamos falando, é

que eu tô começando a recompor o

meu prestígio de arquiteto que tinha

quando eu fui ... Recém-formado, eu

fiz muitas residências aqui. Porque,

na época, o único tema possí vel de se fazer, como Arquitetura, era residên-cia. E, naquela época, você não tinha muita demanda de projetos de espa-ço público, que é esse que eu gosto,

de intervenção na cidade. Naquela

época o que se fazia era muita

resi-dência. Eu fiz muitas. Inúmeras.

Quando eu saí daqui, eu larguei um

mercado fantástico que eu já tinha,

pessoalmente. Eu era um arquiteto

muito requisitado. Eu ganhava

mui-to bem. Eu tinha muimui-tos trabalhos

como arquiteto. Muito prestígio.

E n t r e v i s t a - M a s j á c o m s u c e s s o ?

J á a r t i s t a ?

Fausto Nilo - Já ... Não, música não. Só de arquiteto. Então eu larguei isso

e fui ser letrista. Todo mundo, na

época, amigos, muitos me

aconse-lharam: "Você está fazendo uma

loucura. Você não devia fazer isso e tal". Mas, na realidade, eu fui por-queeu tinha esgotado as curiosidades com relação a ... Por exemplo: eu era muito bem recebido como arquiteto

em todo lugar, eu era muito

prestigiado, mas eu também achava

pouco. O elogio que havia para mim, como arquiteto, era uma coisa que eu

desconfiava muito. Porque eu sabia

que a cidade não tinha cultura

arquitetônica pra que eu passasse a

acreditar naquele elogio como sendo

uma medida real do meu talento.

Rigorosamente, é isso. Hoje, não.

Hoje eu acho que a gente tem

situa-ções diferentes na cidade, que é a

grande ... O trabalho crítico que você

pode fazer em Arquitetura é o espaço

público, essas coisas que eu tô

tes-tando, Praça do Ferreira, esse

negócio ...

E n t r e v i s t a - E n t ã o v o c ê t e m p r e f e

-r ê n c i a p o -r a l g u m t i p o d e t -r a b a l h o ?

C a s a s o u p r a ç a s . o u p r é d i o s c o m u

-n i t á r i o s q u e f u -n c i o -n e m p r a c i d a d e

i n t e i r a ?

Fausto Nilo - Não, eu acho que uma obra de arquitetura pode ter

dignida-de e importância estética, digamos

assim, como objeto cultural, ela pode

ter em qualquer coisa, desde uma

oficina de automóveis, um ...

Qual-quer coisa pode ter um caráter

arquitetônico interessante, um

mer-cado ... Enfim, eu não tenho esses

preconceitos temáticos, digamos

as-sim. Mas não há dúvida de que um trabalho onde você pode demonstrar,

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L

0 iI!'

Fausto Nllo trabalha há m ais de 20 anos com o

colega de faculdade

Delberg Poncede Leon.

Com ele assina boa partedos projetos

arqurte-•

tórucos

Q uantourbanísticosaos aspectosde

Forta-leza. Faustosepreocupa com a ocupação inade-quada da orla m arítIm a e carência de espaços públICO S para lazer

Fausto defendede que a rewtanzação doa idéia

Centro de Fortaleza

passe pelo retorno das

habitações e funções

adm inistrativas na área.

(8)

Para Fausto

CBA

Nüo.o m ais belo prédio de Fortaleza é o Theatro José de J'.JenC<lr.O m elhor"papo" é o do arquiteto e pro-fessor Uberal de Castro.

A paisagem m ais bela é Fortaleza vista da Praça do M irante (M orro de Santa Terezinha). ao cair da tarde. E não há nada m elhor que a brisa entre os m eses de julho e setem bro.

Sobre rum ores que o in-dicavam com o Secre-tário de Cultura. em 91 : "( ... ) Nilo quero. M inha fam ília não quer. Nilo vou" (DN. 02/03/91 )

10

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

F a u s t o N i l o t s t a

tsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

digamos assim, mais profundamente a... e até absorver criticamente o resultado de uma experiência ar-quitetônica espacial física e esteticamente profunda é o espaço público e suas fronteiras, quer dizer ... Aí, um arquiteto, hoje em dia, com bom desempenho, tem que se com-portar da seguinte maneira: qualquer objeto que ele cria na cidade, de edificação, tem que ter vínculos contextuais bem definidos e comen-tários claros dessa consciência. Quer dizer, você não pode chegar, hoje, com um objeto, como um E.T., e jogar numa situação urbana sem se antecipar à química final resultante

a

partir do dia que ele passa a existir nas pessoas e na configuração da cidade. Então hoje me interessa esse trabalho. Émuito mais complexo do que fazer uma casa unifamiliar, en-tendeu?

E n t r e v i s t a - F a u s t o , c o i n c i d i u a t u a v o l t a p r a F o r t a l e z a , e m 89, m a i s o u m e n o s , c o m o p e r í o d o q u e o T a s s o

(Tasso Jereissati, ex-govemador do Ceará e presidente do PSDB) t a v a s a i n d o e q u e l o g o d e p o i s v e i o o C i r o

(Ciro Gomes, atual governador do Ceará). A s s u m i u . E oJuraci (Juraci Magalhães, ex-prefeito de Fortale-za).F o i u m p e r í o d o d e t r a n s f o r m a ç ã o n o C e a r á , n é ? D i g a m o s a s s i m , a c i d a d e p a r t i u , c o m o p o d e m o s a t é

d i z e r , d e u m a c o i s a a s s i m m a i s a g r á

-r i a , d e u m a m e n t a l i d a d e m a i s

p r o v i n c i a n a p a r a u m a m e n t a l i d a d e

m a i s d e s e m o s t r a r a o m u n d o , n é ?

C o m o é q u e v o c ê a c h a q u e c o n t r i

-b u i u p a r a i s s o ?

E n t r e v i s t a - - E v o c ê e s t á fazendo p a r t e d i s s o .

Fausto Nilo --É.Aí há uma profun-da coincidência que me favorece, né? E eu me recordo ... Eu fui um dia, à uma hora da manhã -- o Caetano Veloso queria conhecer a Praça do Ferreira e nós fomos lá, eu, Sílvia, ele e a mulher dele --, era uma hora da manhã, estava deserto, né? E ele emocionou-se muito com a obra. Falou pra mim até que "Isso aqui é

t o q u i o r á " ,que é Tóquio com Ceará. Dizendo assim: que ele ficava con-tente de ver que havia um espaço público nordestino que ele pessoal-mente acha -- como eu também acho -- que nós temos que renovar a qua-lidade dos espaços públicos como também a qualidade de todos os benefícios públicos. Porque nós so-mos condenados a ter um sentimento de inferioridade por sermos pobres e miseráveis, e eu sou um cearense que não quero vivenciar esse tipo de experiência. Eu trabalho aqui ... O único sentido do meu trabalho aqui é no sentido de criar novas

qualida-•

des, demonstrar que as novas quali-dades dos artefatos de uso espacial da população podem contribuir com a renovação de conduta e com a, digamos assim ... Elevar a dignidade, o orgulho, restaurar os sentimentos de pertencer a um lugar com ... E isso, enfim, incluindo a sanidade cívica que está tão maltratada no cearense e no brasileiro. Então, eu acho que a nossa obrigação é criar objetos de qualidade, principalmente para os pobres e anônimos. Então ele (Cae-tano) compreendeu essa mensagem na Praça do Ferreira quando sentou no banco, quando viu toda a ... Quer dizer, é um projeto que contempla as nossas evocações, as nossas tradi-ções e a história do lugar. Mas ao mesmo tempo contempla as tendên-cias e aponta pro que poderá ser, embora seja unl pequeno fragmento que não é estrutural na si tuação total. E ele, nessa oportunidade, me falou assim: "Você ... " Eu não recordo qual é a frase, mas é como quem diz assim: "Você sabia que a hora era

"Você (arquiteto) não

pode chegar com um

objeto, como um E. T.

e jogar numa situação

urbana sem se

antecipar à química

final resultante."

essa, por isso que você voltou pra cá porque você tá influindo e você é uma pessoa importante nesse processo de ... " Mas eu, pessoalmente, acho que houve aí uma feliz coincidência e eu acho que eu posso ter des-cortinado, lá nas minhas dúvidas cariocas sobre o retomo, de que ago-ra sim, eu poderia voltar a curtir a cidade. Estávamos com mais proble-mas, quer dizer, eu teria mais campo pra trabalhar -- embora eu não deseje que ela tenha mais problemas, mas tá acontecendo com ela o que acontece, infelizmente, com a maioria das ci-dades -- e que eu poderia ser convocado a desempenhar esse tra-balho, né, eu poderia ter lugar para desempenhar esse trabalho. E, num momento da minha idade, da minha experiência... Porque, embora eu sendo letrista -- foram catorze anos que eu fiquei fazendo letra de música --, mas nunca deixei de formar em Arquitetura. Porque sempre achei que a Arquitetura e o Urbanismo

alimen-tavam muito a minha poesia e vice-versa. Eu acho que me transformei num arquiteto e num urbanista e numa pessoa interessada em cidades e me transformei numa pessoa muito mais capaz e melhor por conta da poesia. Foi uma das coisas que mais aumentou a minha capacidade de compreender o problema espacial. E hoje, isso praticamente está fundido.

E n t r e v i s t a - V o c ê c o n t i n u a c o m

a q u e l a m e n t a l i d a d e d e q u e a p a r t e

d a A r q u i t e t u r a q u e v o c ê m a i s g o s t a

é a c r i a ç ã o , p o r q u e é a p a r t e m a i s

p o é t i c a e a í é o n d e c r u z a c o m a

m ú s i c a e c o m a p o e s i a ?

Fausto Nilo -- Você diz a parte do projeto?

E n t r e v i s t a S i m , a c r i a ç ã o d o p r o -j e t o . . .

E n t r e v i s t a - E n ã o a c o m p a n h a r . . .

E n t r e v i s t a - . . . E n ã o a e x e c u ç ã o ?

Fausto Nilo -- Ah! não. Isso, se eu declarei, deve fazer algum tempo, porque eu mudei com relação a isso aí. (risos) Principalmente nessa eta-pa de retomo. Hoje em dia eu ... É

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