Semana Inaugural do Curso de
Serviço Social 2016.2
“Questão Social”:
particularidades no Brasil
SANTOS, Josiane Soares. Questão Social: particularidades no Brasil. São Paulo: Cortez, 2012, Coleção Biblioteca Básica do
Serviço Social, V.6.
Curso de Serviço Social
Objetivo da Obra
O livro
“Questão Social”: particularidades no Brasil
torna-se
uma obra básica no sentido amplo, no que tange ser a temática
da
“questão social” eixo estruturante da direção social do
SANTOS, Josiane Soares.
Questão Social: particularidades
no Brasil.
São Paulo: Cortez, 2012, Coleção Biblioteca Básica
do Serviço Social, V.6.
Currículo Vitae
Josiane Soares Santos
É graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Sergipe- UFS (1996), possuí
Mestrado e Doutorado em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
(2000 e 2008), respectivamente, é Professora do Departamento de Serviço Social da
Universidade Federal do Sergipe nos níveis de graduação e pós-graduação e Militante com inserção política na categoria desde o movimento estudantil (1993-1995), passando pela Presidência do CRESS em Sergipe (1999-2002) e pela direção regional da ABPESS (2008-2010) com livros e textos publicados em periódicos especializados com contribuições ao debate da temática “questão social” a partir de supostos ontológicos sociais, suas particularidades na formação social brasileira e sua relação com o Serviço Social e mais recentemente agrega contribuições ao debate da questão ambiental.
Introdução
Em todos os quadrantes do capitalismo a “questão social” se põe visível, porém as análises que vão desvelar seus conteúdos e conceitos são diversas. (p.17)
As análises que tomam a “solidariedade” e a “coesão social” como um marco não consideram os determinantes econômicos e históricos e, por conseguinte,
naturalizam suas expressões não fazendo parte, portanto da postura teórica e metodológica que a autora propõe para o entendimento da “questão social”. (p.18)
Introdução
Num avançar de seu introito, a adoção das aspas na referência a “questão social”,
foi também destacada pela autora, não só para denotar cuidado na utilização do conceito haja vista a origem conservadora da expressão, que não traz as premissas subjacentes à lei geral da acumulação capitalista, mas também para afirmar que a “questão social” não pode ser tratada como uma categoria – no sentido marxiano, como forma de ser, de determinação da existência, posto que da “questão social” a existência real são de suas expressões. (p.18)
Entre essas advertências introdutórias, é preciso ainda dizer que tratarei da “questão social” no Brasil tendo como foco central sua expressão sob a forma do desemprego. (p.19)
Sumário do Livro
Capítulo I
– Elementos para entender a concepção e a gênese da “questão
social”
Capítulo II
– Modo de produção, formação social e alguns marcos históricos
sobre o Brasil.
Capítulo III
– Particularidades do capitalismo na formação social brasileira.
Capítulo IV
– Particularidades da “Questão Social” no Brasil.
Capítulo V
– Aproximações à “Questão Social” no Brasil contemporâneo.
Capítulo VI
– Determinantes do desemprego nos anos de 1980 e 1990.
Capítulo VII
– Apontamentos sobre as tendências ao enfrentamento do
desemprego como expressão da
“questão social” no Brasil contemporâneo.
Capítulo I
– Elementos para entender a concepção e a gênese
da
“questão social”
No primeiro capítulo, Josiane Santos estabelece três eixos de análise que permitem
vislumbrar o processo histórico do nascedouro da “questão social”:
1 - A acumulação primitiva do capital e a “pré-história” da “questão social”
2 - O modo de produção especificamente capitalista e a gênese da “questão social”
Capítulo I
– Elementos para entender a concepção e a gênese
da
“questão social”
1 - A acumulação primitiva do capital e a “pré-história” da “questão social”- os
fenômenos constitutivos da questão social - pauperismo e a luta do proletariado contra a burguesia- tem seu marco histórico em 1830 nos levando a pré-história do capitalismo configurado a partir da expropriação dos camponeses de suas terras no último terço do século XVI, no início do século XVII para transformá-las em pastagem para as ovelhas. (p.30)
Capítulo I
– Elementos para entender a concepção e a gênese
da
“questão social”
2 - O modo de produção especificamente capitalista e a gênese da “questão social”- o capitalismo chega ao século XIX estruturado a partir da grande indústria
tendo o tear e a máquina a vapor como base técnica; o processo de pauperização cresce com mulheres e crianças trabalhando em fábricas com as condições aviltantes de moradia e trabalho criando uma nova sociabilidade com alta taxa de natalidade, promiscuidade sexual, prostituição e alcoolismo. (p.35)
Capítulo I
– Elementos para entender a concepção e a gênese
da
“questão social”
3 - A dinâmica política inerente a “questão social”- as primeiras manifestações dos trabalhadores contrárias à exploração capitalista ocorreram antes de 1830 e se caracterizaram por motins e rebeliões sem liderança; o movimento “ludista” ocorrido na primeira década do século XIX de destruição das máquinas ilustra esse momento; o “cartismo” ocorrido entre 1839 e 1847 foi representado por inúmeras manifestações de massa - greve geral 1842 e três milhões de assinatura para a “Carta do Povo”-; Guerra Civil de Junho de 1948 que se constituiu no divisor de águas na constituição da “questão social” e, a Comuna de Paris em 1870, quando os trabalhadores tomam o poder de Paris por três meses
. (p.39)
Capítulo II
– Modo de produção, formação social e alguns marcos
históricos sobre o Brasil.
No segundo capítulo, a autora apresenta um diferenciação conceitual entre “modo de produção” e “formação social”, sendo a primeira “um conceito teórico: uma representação esquemática, ideal, das diversas formas de organização da vida material e social, bem como das bases estruturais de sua transformação” (p 48). O conceito de “formação social” toma em consideração, para além do
conhecimento da estrutura e modus operandi do “modo de produção” vigente e as particularidades do mesmo no processo histórico de uma determinada sociedade. Neste caso em particular é reconhecer e conhecer o “modo de produção capitalista” na “formação social brasileira”. (p.48)
Capítulo II
– Modo de produção, formação social e alguns marcos
históricos sobre o Brasil.
A autora prossegue o capítulo apresentando uma retrospectiva não apenas cronológica dos períodos históricos da formação social brasileira, mas navega do
Brasil Colônia (1500-1822), passando pelos Períodos Monárquicos (1822-1889), a
República Velha (1889-1930), o Primeiro Governo Vargas (1930-1945), Período Republicano Democrático (1945-1964) e Ditadura Militar (1962-1985) inventariando suas particularidades sem perder de vista o eixo que os une: forte presença da exploração e escoamento primeiramente das riquezas da terra, num momento pré-capitalista e posteriormente numa exploração do capital sobre o trabalho marcado por uma economia agroexportadora e uma herança de genocídio indígena e escravidão africana. (p.54)
Capítulo III
– Particularidades do capitalismo na formação social
brasileira
.
No terceiro capitulo, a autora apresenta a partir de três pressupostos:
1 - o caráter conservador da modernização efetuada pelo capitalismo brasileiro que nunca realizou transformações estruturantes, mantendo a raiz da expropriação partir do modelo de latifúndio de monocultura extensiva tendo em vista a exploração; (p.95) 2 - os processos de “revolução passiva” com a exclusão do povo dos processos decisórios tendo sempre por parte dos governantes uma certa “antecipação aos possíveis problemas”; (p.112).
3 - e, a centralidade da ação estatal no trato da “questão social” se antevendo e atuando ou como um agente de desestruturação da participação popular ou pela ação repressora para manutenção da ordem vigente. (p. 120).
Capítulo IV
– Particularidades da “Questão Social” no Brasil.
No quarto capítulo, tomando por base uma perspectiva crítica e da totalidade, Santos procura analisar as “particularidades” que a “questão social” assume no capitalismo brasileiro, focalizando sua análise dentre as expressões concretas da questão social, na questão do desemprego. (p.133)
Para tanto, considerando à compreensão das formas de exploração do trabalho pelo capital, procura particularizar a realidade de formação social brasileira, a
constituição do “mercado de trabalho” e do “regime de trabalho”, incluindo os
Capítulo IV
– Particularidades da “Questão Social” no Brasil
.
De forma minuciosa esta autora apresenta as características que a formação do mercado de trabalho assume no Brasil entre os anos 1930 e 1970, tendo os seus marcos regulatórios instituídos no período conhecido como “industrialização
restringida” e posteriormente redimensionados na “industrialização pesada”, especificamente após 1964. ( p.137)
Segue com reflexões quanto ao contexto do pós-30, quando a “questão social” deixa de ser “caso de polícia” se tornando “caso de política”. No entanto, os
direitos trabalhistas não eliminam as ações de repressão aos trabalhadores no processo histórico brasileiro, que não se deram apenas por violência física, mas também pelo paternalismo e o mandonismo. Segundo autora, cultura esta alimentada, principalmente durante a Era Vargas, pela legislação do trabalho como se fossem “dádivas” do Estado e não consequência de suas primeiras lutas
Capítulo IV
– Particularidades da “Questão Social” no Brasil.
Nesse contexto, destaca a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o imposto sindical, radicalização na proibição das greves, que combinaram o tratamento legal ao aumento do controle sob os sindicatos, e assim, da coerção. Ressalta a alteração no tratamento conferido a “questão social” a partir da criação
da Justiça do Trabalho, que passa a arbitrar os conflitos com poderes normativos. Diante a proibição do direito de greve, toda a reivindicação coletiva resultava em dissídios, arbitrados pela justiça do trabalho.
Segundo a autora, no Brasil diferente do que aconteceu nos países centrais, o
“fordismo” não foi acompanhado de garantias sociais, devido a um desenvolvimento tardio e esporadicamente democrático.
Capítulo IV
– Particularidades da “Questão Social” no Brasil.
Finaliza este capítulo argumentando que a alteração nos direitos trabalhistas instituídos pela ditadura, como supressão da lei da estabilidade consiste no determinante do desemprego estrutural presente desde o “fordismo a brasileira”.
Dessa forma, existe um aprofundamento da flexibilidade e precariedade, onde durante toda a sua obra a autora adverte que estes não são fenômenos novos, mas marcas de um processo histórico anterior que ainda se faz presente no contexto contemporâneo.
Capítulo
V
– Aproximações à “Questão Social” no Brasil
contemporâneo.
No capítulo cinco, a autora prossegue com as argumentações apresentadas no capítulo anterior e realiza reflexões sobre alguns dos aspectos da atual crise capitalista, como o esgotamento do padrão de acumulação fordista, considerado segundo ela como um ciclo “expansivo” de desenvolvimento da economia capitalista e início de um ciclo de “estagnação”, caracterizado pela acumulação flexível do capital.
Apresenta em linhas gerais o quadro da atual crise capitalista, permitindo uma análise sobre como a “crise do fordismo” se expressa no Brasil, enquanto crise do padrão de desenvolvimento do capitalismo adotado entre os anos 1950 e 1970..
Capítulo
V
– Aproximações à “Questão Social” no Brasil
contemporâneo.
A autora apresenta alguns aspectos que caracterizam a crise capitalista, tais como: o eesgotamento do padrão de acumulação fordista em meados dos anos 1970, as diretrizes de desregulamentação estatal, a ausência de barreiras estatais para o movimento do capital, a centralização e concentração capitais, marcando a mundialização, a terceirização de setores da produção e da comercialização.
Pontua também algumas diferenças entre o fordismo clássico e o « fordismo a brasileira.
Capítulo
V
– Aproximações à “Questão Social” no Brasil
contemporâneo.
Aborda que no contexto das décadas de 1980 e 1990 houve a ampliação dos espaços democráticos, criação de centrais sindicais. Apesar disso, não foram revertidas as características históricas do regime de trabalho no Brasil.
Desta forma, Santos encerra este capítulo ratificando que o passado ainda se faz presente, apesar de algumas análises no interior e fora do Serviço Social
atribuindo a flexibilização como um fenômeno novo decorrente do neoliberalismo e da acumulação flexível do capital, a autora defende que na realidade o que ocorre é um aprofundamento da flexibilidade nas relações de trabalho, como formas de exploração do trabalho já existentes no processo histórico.
Capítulo VI
– Determinantes do desemprego nos anos de 1980 e
1990.
No capítulo seis, a autora procura destacar as características distintas do desemprego durante os anos de 1980 e 1990.
Busca analisar que nos anos 1980, o fator determinante da crise capitalista foi a crise do ‘padrão desenvolvimentista’, devido a reformulação no desempenhos dos papéis do setor produtivo estatal, capital internacional e capital nacional. Existe assim, nesse período um aumento na instabilidade dos empregos, devido as oscilações das atividades produtivas.
Capítulo VI
– Determinantes do desemprego nos anos de 1980 e
1990.
Na década de 1990, a autora destaca o desemprego como resultante das medidas neoliberais, desenvolvidas no país. Essas medidas foram implementadas pelo governo Collor de Melo, tendo como foco a estabilização da economia por meio da adoção de políticas clássicas de combate a inflação. Foi aperfeiçoada durante os dois mandatos do governo FHC e durante o governo Lula foi mantida como uma espécie de patrimonio nacional responsavel por estabilizar a economia e vencer a inflação.
A autora registra que o desemprego e a pobreza crescem, tendo como determinantes a histórica concentração de renda, mas também os efeitos da política de estabilização. Neste contexto crescem as formas de violência como resposta pública « a questão social .
Capítulo
VII
–
Apontamentos
sobre
as
tendências
ao
enfrentamento do desemprego como expressão da
“questão social”
no Brasil contemporâneo.
O sétimo capítulo, a autora chama a atenção que somente analisando os determinantes sócio historicos da questão social, que o Serviço Social pode se apropriar de estratégias para o seu enfrentamento que evitem a tendência atual que vêm sendo utilizada no âmbito público e privado de ‘assistencialização da questão social’.
Procura apresentar algumas preocupações ao tratamento atualmente do desemprego no Brasil, associado a pobreza e exclusão social.
Capítulo
VII
–
Apontamentos
sobre
as
tendências
ao
enfrentamento do desemprego como expressão da
“questão social”
no Brasil contemporâneo.
Por último, Santos finaliza o debate desta obra, realizando reflexões sobre a dimensão investigativa da profissão de Serviço Social, elencando como os desafios postos a esta profissão, o aprofundamento dos estudos e análises sobre a ‘questão social’ brasileira que devem ser desveladas não apenas pelas agências de formação, como também nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais de trabalho do Serviço Social.
Como você percebe o debate
acerca da “questão social” no
trabalho do Assistente Social?
Referências Bibliográficas
ANTUNES, Ricardo L.C. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a
negação do trabalho, São Paulo, Boitempo, 2009.
JUNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia, 1ª Edição, São Paulo, Companhia das Letras, 2011.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social : uma análise do serviço social
no Brasil-pós 64, São Paulo, Cortez, 1996.
RIBEIRO, Darcy . O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo : Cia das letras, 1995.
SANTOS, Josiane Soares. Questão Social: particularidades no Brasil. São Paulo: Cortez, 2012, Coleção Biblioteca Básica do Serviço Social, V.6.