Vinicius Delgado Amaral Pinto nº8522682
Medo: Uma análise social
É tido como dito popular que o medo é algo que deve ser superado por ser negativo, nos impedindo de ir além do que fazemos no nosso dia-a-dia. Apesar de ser algo correto de ser feito vez ou outra, analisar o medo de uma forma generalista assim é um erro gigantesco. O medo não é um sentimento puramente negativo, muito pelo contrário: O medo foi e ainda é uma ferramenta evolutiva que nos trouxe até onde estamos hoje em dia. Se hoje você está vivo, é por que um antepassado seu sentiu medo de um predador em potencial e o evitou, podendo assim sobreviver.
Tendo isso em mente, nesse texto apresentarei dados que corroboram para que a ideia errônea do medo como aspecto negativo da psique humana seja desfeito, bem como haja um maior intendimento sobre esse sentimento tão comum em nossas vidas cotidianas
A importância evolutiva
Ao analisar o medo como um estimulo externo e estudarmos as reações geradas no organismo de um individuo, podemos analisar uma determinada cadeia de acontecimentos que ocorrem para que haja uma resposta rápida e eficaz que garanta a sobrevivência. Essa é a explicação padrão sobre como funciona o medo biologicamente.
Mas afinal de contas, como se dá esse pocesso?
Há muito tempo acreditava-se que grande parte do estimulo principal da resposta à uma ameaça vinha da nossa amígdala, uma pequena estrutura localizada na base de nosso cérebro e que é responsável pela reação à estimulos adversivos. Entretanto, tal hipótese veio à cair após uma pesquisa realizada na Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, onde foi descoberta uma estrutura primitiva que gerava uma resposta semelhante no cérebro de répsteis, o que sugere que os dinossauros já sentiam uma espécie
de medo. Segundo o que se acreditava antes, isso não poderia ser verídico, uma vez que a amígdala é uma estrutura que começou a se desenvolver nos mamíferos.
Segundo a pesquisa relatada, os répteis possuem uma região no cérebro que discerne ações simples em momentos de risco, como lutar, fugir ou até mesmo manter-se estático.
Localização da Amígdala e Hipocampo no Cérebro
Uma estrutura que realize tal reação é de suma importância, uma vez que a parte do nosso cérebro que corresponde à reações racionais, o hipocampo, demora mais ao analisar os aspectos da situação de risco e quais seriam as possiveis medidas à serem tomadas.
Fobia – Quando o Medo se torna irracional
Como dito acima, o medo surgiu como um sentimento que serviu para garantir a sobrevivência e proliferação das espécies ao encarar uma situação de risco. Mas e quando esse medo torna-se irracional?
Um medo passa a ser encarado como fobia à partir do momento em que ele deixa de ser algo mensurável e passa a se apresentar em situações que não apresentam de fato um risco à vida do individuo. Ver uma cobra e sentir medo é natural pois a mesma pode ser venenosa e ameaçar a vida da pessoa. Entretanto, sentir medo ao ver simplesmente a foto de uma cobra
deixa de ser algo natural e passa ser irracional, podendo assim ser caracterizado como uma fobia.
Ofidiofobia ou Fobia de Cobras
Segundo pesquisas, existem mais de 300 fobias catalogadas, sendo que algumas das mais comuns são:
Aracnofobia (Medo de Aranhas)
Hemofobia (Medo de Sangue)
Acrofobia (Medo de Altura)
Claustrofobia (Medo de Lugares Fechado)
Misofobia (Medo de Germes)
Necrofobia (Medo da Morte)
Agorafobia (Medo de Multidões)
Nictofobia (Medo de Escuro)
Glossofobia (Medo de Falar em Público)
Ao analizarmos essas que são algumas das mais populares fobias, notamos que em sua grande maioria elas ainda remetem à instintos de sobrevivência, tendo em vista que em casos como a Aracnofobia e a Misofobia, o medo provém de uma ameaça de certa forma biológica, adaptada com o tempo do
que um homem primitivo sentia ao ser caçado por um predador, situação que mudou com o avanço da sociedade. Esse avanço social também acabou gerando novos medos e fobias, as chamadas Fobias Sociais, como a
Glossofobia e a Agorafobia, que hoje estão entre as fobias mais comuns.
Representação de uma pessoa com Fobia Social (Agorafobia)
Isso provavelmente se dá devido à costumes culturais que reprimem o individuo, fazendo com que este se sinta como se não fosse bom o bastante para efetuar determinadas ações sociais, como conseguir um companheiro(a), um trabalho ou até mesmo realizar uma apresentação na escola ou universidade. Tais pressões sociais acabam originando doenças que estão cada vez mais comuns em nosso cotidiano, como a Depressão, Ansiedade e Stress, que têm sua fonte ligada instrinsicamente às fobias sociais.
Porém, existem uma terceira fonte que deve ser citada quando se trata de origens de fobias. Pressões sociais e instintos de sobrevivência são ‘gatilhos’ comuns, que afetam todas pessoas de uma forma muito semelhante, porém existe uma outra fonte que é mais pessoal e portanto por gerar medos muito mais fortes e irracionais: Situações traumáticas.
Qualquer pessoa que se encontre no meio de uma mata e escuta o sibilar de uma cobra sentirá um arrepio na coluna e correrá para longe do perigo pois
essa situação é instintiva. Mas como racionalizar fobias como a Coulrofobia, também conhecida como Medo de Palhaços?
Palhaço do filme It
Tais medos normalmente vêm de uma situação onde a pessoa passa por um grande stress e o organismo acaba por assimilar o fator causador do stress como um objeto, caracteristica ou persona, de modo que no futuro, quando algo remetesse àquele momento, um gatilho se acionaria como se dissesse que você deveria evitar a situação para que não haja outro momento de stress. Essa “situação-gatilho” pode ocorrer de diversas formas, desde um pesadelo que a pessoa teve com uma situação, uma cena de um filme que à assustou quando criança ou até mesmo uma ocasião em que a criança tenha se envergonhado em público.
Situações traumáticas podem ser extensas e atingir as pessoas de formas que não são de facil cogitação para outros que apenas acompanham o ocorrido de forma externa. Tais situações podem gerar fobias que por muitos podem ser bizarras, das quais algumas são:
Filofobia (Medo de Borboletas)
Somnifobia (Medo de Dormir)
Caetofobia (Medo de Pêlos)
Afefobia (Medo de Ser Tocado)
Decidofobia (Medo de Tomar Decisões)
Cronofobia (Medo da Passagem de Tempo)
Onfalofobia (Medo de Umbigos)
Por caráter de curiosidade, a etimologia do sulfixo –fobia é derivada do Deus Fobos, filho de Marte da mitologia romana, que era responsavel por despertar medo e desespero em seus inimigos no campo de batalha durante as guerras de seu pai. Fobos també é conhecida como uma das luas que orbitam o planeta Marte.
Ilustração de Fobos, filho de Marte
Fobias Sociais – O medo retrocedendo a Evolução
Como visto anteriormente, o medo foi um dos fatores-chave para nos trazer ao patamar evolutivo em que nos encontramos. Entretanto, a forma em que nossa sociedade foi organizada com o tempo gerou novas fontes de medos e fobias que tornaram-se muito mais presentes em nosso cotidiano do que seria o ideal. Medos reais e primitivos nos trouxeram evolutivamente até o patamar onde nos encontramos, mas o que as fobias sociais têm para acrescentar em nossa evolução como espécie?
Ao analisarmos estruturas sociais e suas respectivas formações, podemos conceber que as diferenças de patamar social onde haja um grupo que impõe seus principios e valores à outro tende à gerar disturbios e fobias de cunho social em maior concentração e escala, como visto na pesquisa do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, onde foi comprovado que mulheres tendem à ter mais frequentemente disturbios como Glossofobia e Agorafobia, devido à forma como a sociedade enxerga a mulher dentro de seus estereótipos pré-definidos, dificultando às mesmas
de atingirem melhores salários ou cargos num determinado emprego, por exemplo.
Vale resaltar, entretanto, que Fobias Sociais e Timidez são dois pontos distintos. Como apresentado na pesquisa da Universidade de Coimbra, a Timidez pode ser caracterizada como uma caracteristica que vem de dentro da pessoa, como um traço de personalidade, uma vez que os disturbios de ansiedade social partem de traumas que tiveram por catalisador agentes externos ao indivíduo.
Exemplo de situação de pavor para alguém com Glossofobia
Conclusões
Através do que foi discutido e apresentado, concluimos que o medo é uma via de duas mãos. Por muitas vezes nos foi e ainda é necessário no âmbito de sobrevivência perante uma situação de risco onde nossa vida depende de uma reação rápida. Entretanto ainda o temos em ocasiões onde nossa única alternativa viável é o enfrentamento, uma vez que almejamos sempre a evolução, tanto como indivíduo quanto como espécie.