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EXPERIMENTO EM CASA-DE-VEGETAÇÃO PARA VERIFICAR O DESENVOLVIMENTO DE CULTURAS EM NEOSSOLO QUARTZARÊNICO (QUARTZIPSAMMENT).

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EXPERIMENTO EM CASA-DE-VEGETAÇÃO PARA VERIFICAR O DESENVOLVIMENTO DE CULTURAS EM NEOSSOLO QUARTZARÊNICO

(QUARTZIPSAMMENT).

Autores: Iraci Scopel-Universidade Federal de Goiás(UFG)-iraciscopel@gmail.com; Dimas Moraes Peixinho-UFG-dimaspeixinho@yahoo.com; Marluce Silva Sousa-IBGE-mss_geo@hotmail.com;

Zilda de Fátima Mariano-UFG-zildamariano@hotmail.com; Régia Estevam Alves-UFG-regiaestevam@gmail.com; Douglas Freitas-UFG-doug20106@gmail.com.

RESUMO

Observa-se no Sudoeste Goiano, a partir de 1980, o perigoso alastramento de manchas sem vegetação, em Neossolos Quartzarênicos-RQ. Para investigar o problema, implantou-se, em casa-de-vegetação, experimento para obter dados sobre o desenvolvimento das culturas de soja, milho, sorgo, arroz e braquiária+estilosantes em RQ. Foi coletado solo em Serranópolis(GO) e incubado com calcário no laboratório, conforme recomendação para elevar o pH a 5,5-6,0. Metade deste solo(40kg) foi adubado com NPK, de acordo com recomendação da Embrapa, e a outra metade não foi adubado; após 40 dias de incubação, colocou-se o solo em vasos(V) de 2kg, com 4V por cultura, totalizando 40V + (4V com Latossolo Vermelho Eutroférrico(LE)). Utilizou-se o LE, com a cultura do milho, como padrão. Durante os 35 dias de condução do experimento, irrigou-se ambos os tratamentos e as culturas, em dias alternados, com o equivalente à precipitação média dos meses de maior precipitação da região. A água excedente foi recolhida para análise de nutrientes lixiviados. Foram feitas medições da parte aérea e do sistema radicular e análises da água recolhida e do solo antes e depois do experimento. Em ambos os tratamentos as culturas germinaram e cresceram com pouco vigor, apresentando em geral, folhas cloróticas, com melhor desempenho, entretanto, para o solo adubado. Provavelmente, o excesso de água, recolhida sob o vaso, repercutiu fortemente na parte aérea e no sistema radicular das culturas. Após 35 dias, a maior parte do sistema radicular encontrava-se no recipiente, sob o solo, e utilizado para recolhimento da água de percolação. As perdas por lixiviação foram maiores no solo adubado. Palavras-chave: Solos arenosos; desenvolvimento de culturas; experimento em casa-de-vegetação

ABSTRACT

It is observed from1980, in Goiás Southwest State (BR), the dangerous development of soil spots without vegetation, in Quartzipsamments soils-RQ. To investigate this problem, it was implanted, in vegetation house, an experiment to get data on the development of the soybean, maize, sorghum, rice and Brachiaria sp.+Stilosanthes sp. in RQ. It was collected soil in Serranópolis (GO-BR) and incubated with calcareous rock in the laboratory, as recommendation to raise pH at 5,5-6,0. Half of this soil (40kg) was fertilized with NPK, in accordance to Embrapa recommendation, and the other half it was not fertilized; after 40 days of incubation, the soil it was put in vases (V) of 2kg, with 4V by culture, totalizing 40V + (4V with Oxisoil (LE)). The LE was used, with the culture of maize, as standard. During the 35 days of experiment conduction, one irrigated both the treatments and the cultures, in alternated days, with the equivalent of the bigger average precipitation of the rainy months of the region. The exceeding water was collected for analysis of leached nutrients. Measurements of the aerial part and of the root system and analyses of the collected water and of the soil before and after the realized experiment were made. In both treatments the cultures had germinated and grown with little vigor, presenting yellow leaves in general, with better performance, however, for the fertilized soil. Probably, the water excess, collected under the vase, had strong influence in the aerial part and in the root system of the cultures. After 35 days, most of the root system met in the container, under the soil, and used for collects the percolating water. The leaching losses had been bigger in the fertilized soil.

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Keywords: Quatrzipsamment soils; cultures development; experiment in vegetation house

Introdução

A partir da década de 1970, no contexto da “modernização da agricultura”, ocorreram transformações significativas no Cerrado como um todo e no município de Serranópolis/GO especialmente. A partir da década de 1980, principalmente, as áreas de terras arenosas do município de Serranópolis, pertencentes à bacia do Rio Verde/Paranaíba/Paraná, antes marginalizada pelo processo produtivo local, em razão do baixo nível técnico disponível, começaram a ser desmatadas e exploradas com pecuária ou, simplesmente, abandonadas.

A inovação tecnológica, com o uso de uma gramínea resistente e adaptável como a braquiária, possibilitou a formação de pastagens em condições adversas. Todavia, o manejo inadequado da terra e a alta pressão de pastejo determinaram o seu esgotamento, em poucos anos de uso, sendo muitas áreas posteriormente abandonadas. Estas áreas de pastagens abandonadas, aquelas que foram desmatadas e abandonadas e, ainda, aquelas que servem como pastagem, mas encontram-se em alto estágio de degradação atingem milhares de hectares na bacia do Rio Verde, especialmente na bacia de seu afluente, o Ribeirão Douradinho. A degradação destas áreas evidencia-se pela presença de muitas incisões erosivas lineares, com voçorocas de grande porte, baixa capacidade de suporte da pastagem, assoreamento e seca de cursos d’água e grandes áreas com solo exposto, que têm sido denominadas de “areais”.

Estas áreas degradadas, relacionadas ao uso com pastagem, são mais antigas e de maior dimensão, entretanto, considera-se que o caso mais grave de degradação no Sudoeste de Goiás, com os areais mais expressivos da bacia do Rio Verde, está relacionado a um caso específico.

No início da década de 1980, quando os baixos preços destas terras arenosas tornaram-nas atrativas, investidores paulistas adquiriram cerca de 14 mil ha, área que abrange parte das microbacias do Ribeirão Sujo e do Ribeirão das Pedras, ambos afluentes da margem direita do Rio Verde, com o objetivo inicial de investir na pecuária. Entretanto, atraídos pelos vultosos financiamentos e incentivos governamentais para a produção de álcool (Proálcool), os empresários planejaram e implantaram a empresa Goálcool - Destilaria Serranópolis Ltda.

As áreas foram desmatadas por volta de 1985, realizando-se a quebra da vegetação com correntão, enleiramento, queima e gradagem, sem a construção adequada de curvas de nível. Apesar da ausência destas práticas, houve aplicação de fertilizantes de correção e manutenção, com a mistura NPK, correção com cloreto de potássio, fosfatos e calagem, antes do plantio da cana-de-açúcar. Embora os solos arenosos (Neossolos Quartzarênicos) apresentem fortes limitações ao uso agrícola com grande deficiência de fertilidade, deficiência de água, suscetibilidade à erosão e impedimentos à mecanização, a cana-de-açúcar, por ter uma enraizamento profundo e ser uma cultura perene,

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apresenta-se como uma daquelas que poderia trazer menor degradação à terra, comparativamente às culturas anuais, quando devidamente manejada. Todavia, as inúmeras limitações do solo e as exigências conservacionistas, a curto prazo, tendem a aumentar a demanda por investimentos, elevando os custos da produção.

A produtividade das safras da GOálcool foi baixa, não atingindo as expectativas previstas, principalmente a partir da 9ª safra (1991), quando havia grande quantidade de áreas com cana em final de ciclo vegetativo e com baixo stand. Além disso, algumas glebas foram simplesmente abandonadas e a falta de financiamento inviabilizou o aumento do potencial produtivo da área agrícola assim como o suprimento da demanda da indústria. Em 1997 foi realizada a décima quinta e última safra que, com a baixa produção, determinou o fechamento em definitivo da destilaria. O auge e o declínio da produção da GOálcool estão intimamente ligados ao ciclo do Proálcool, o que permite inferir que o empreendimento não tinha sustentação fora dos subsídios que o programa oferecia, além do alto custo de produção em solo arenoso.

Neste solo desgastado pela produção de cana-de-açúcar foi implantada pastagem, com manejo inadequado, de modo que em algumas áreas as sementes de braquiária sequer chegaram a germinar, tendo início o desenvolvimento de pequenas manchas de areia descoberta, de dezenas de metros quadrados. As pastagens foram arrendadas a pecuaristas, ou mesmo utilizadas pelo grupo anterior, aplicando-se uma pressão de pastejo acima da capacidade de suporte da pastagem, dando continuidade ao processo de degradação.

As evidências indicam que, com o tempo, tanto os nutrientes quanto a matéria orgânica do solo (MOS) foram facilmente lixiviados e/ou usados pela pastagem, já que as sementes a partir de certo momento não mais germinaram, deixando o solo exposto. Além disso, muitas sementes que brotaram morreram devido ao calor excessivo do solo arenoso, justamente pela falta de água, fato que foi agravado pela ausência de árvores distribuídas pelas pastagens. A ausência de espécies nativas nestas áreas impossibilitou, também, a reposição, pelo menos em parte, da MOS, como acontecia no sistema natural e a geração de sementes para a revegetação.

Por volta de 1996, cinco anos após a implantação de pastagens, já apareciam claramente, na paisagem, manchas de areia de centenas de metros quadrados. Os areais iniciais podem ter sido originados da não fixação da braquiária quando a pastagem, submetida ao superpastejo, pisoteio, à deficiência de nutrientes e de água na estação seca, somadas à falta de agregação das partículas do solo, carente de matéria orgânica, apresentou lastimável estágio de degradação. Estes areais foram sendo ampliados pelos processos erosivos e, atualmente, atingem mais de 1300 ha somente no município de Serranópolis (SCOPEL; PEIXINHO; SOUSA, 2005).

Os estudos, até o momento, indicam a ampliação desta degradação, tanto nestas áreas onde foi cultivada cana, já que se encontram abandonadas, como naquelas de pastagem devido à falta de

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conhecimento e disponibilidade técnico/financeira de alguns produtores, à falta de interesse de tantos outros produtores e, talvez, ao desconhecimento técnico/científico por parte do poder público.

Como parte da investigação do problema, implantou-se experimento em campo e em casa-de-vegetação para se obter dados do desenvolvimento das culturas de soja, milho, sorgo, arroz e braquiária+estilosantes em RQ. O objetivo, ainda preliminar deste trabalho é apresentar dados do experimento conduzido em casa-de-vegetação. Em um contexto mais amplo e a médio prazo, espera-se verificar a viabilidade técnica e econômica da produção agrícola nesses solos, que representam 15% dos solos do Cerrado brasileiro, fornecendo alternativas para os produtores da região, ou mesmo, se for o caso, indicar a necessidade de preservação parcial ou total dessas áreas.

Material e Métodos

A área de estudo, como um todo, é o Cerrado (ou Savana) brasileiro, domínio morfoclimático de aproximadamente dois milhões de quilômetros quadrados, dominado por planaltos de estrutura complexa, dotados de superfícies aplainadas de cimeira e planaltos sedimentares (AB'SÁBER, 1996) recobertos por formações florestais, campestres e, principalmente, savânicas (RIBEIRO; WALTER, 1996). Os trabalhos específicos foram desenvolvidos no sudoeste do estado de Goiás, na borda setentrional da bacia sedimentar do Paraná, denominada Planalto do Rio Verde. A região é caracterizada por rochas sedimentares, intercaladas com derrames de basalto de idade predominantemente Mesozóica, que formam chapadas de amplos interflúvios, originalmente recobertos por cerrado ralo. Sob um clima caracterizado pelas estações seca e chuvosa durante o ano, os solos predominantes são aqueles derivados do basalto e do arenito, predominando Latossolos argilosos nos chapadões e, nos vales ou depressões, solos muito arenosos chamados de Areias Quartzosas (RADAMBRASIL, 1983) ou Neossolos Quartzarênicos, denominação atual da EMBRAPA (1999). Na Figura 1, observa-se o Mapa de Solos do sudoeste de Goiás.

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Procedeu-se, inicialmente, ao levantamento bibliográfico sobre a apropriação do Cerrado brasileiro e do sudoeste de Goiás, especificamente, a partir da década de 1970. Realizaram-se, a seguir, trabalhos de campo e levantamento de dados sobre as condições topográficas, geológicas, geomorfológicas, vegetacionais e climáticas dos solos com textura areia e areia franca, em geral classificados como Neossolos Quartzarênicos Órticos (EMBRAPA, 1999) ou Areias Quartzosas distróficas na classificação anterior.

Quanto ao experimento em casa-de-vegetação (Figura 02), foi coletado solo em Serranópolis e incubado com calcário no laboratório, conforme recomendações para elevar o pH a 5,5-6,0. Metade deste solo (40kg) foi adubado com NPK, de acordo com recomendação da Embrapa (1997) e a outra metade não foi adubada; após 40 dias de incubação, colocou-se o solo em vasos(V) de 2 kg, com 4V por cultura, totalizando 40V + 4V com Latossolo Vermelho Eutroférrico(LE). Utilizou-se o LE, com a cultura do milho, como padrão. Durante os 35 dias de condução do experimento, irrigou-se ambos os tratamentos e as culturas, em dias alternados, o equivalente à precipitação média da região para os meses de maior precipitação, tentando simular a quantidade de água no solo durante os meses de maior índice pluviométrico. A cada dois dias, nos primeiros 25 dias de condução do experimento eram adicionados a cada vaso cerca de 140 ml de água. Após isso, até o final do experimento, adicionou-se água em menor volume, procurando-se manter o solo úmido. A água excedente, recolhida sob o vaso, foi submetida à análise para detecção dos nutrientes lixiviados. Foram feitas medições e cálculos da parte aérea e do sistema radicular e análises do solo antes e depois do experimento. Algumas observações são resultados de trabalhos de campo, de entrevistas feitas junto aos agricultores e de análises de laboratório.

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Caracterização dos solos arenosos degradados de Serranópolis:

Os Neossolos Quartzarênicos são solos com seqüência de horizontes A-C ou A, AC, C sem contato lítico dentro dos primeiros 50 cm de profundidade, apresentando textura areia ou areia franca nos horizontes até, no mínimo, 150 cm de profundidade a partir da superfície do solo ou até um contato lítico (EMBRAPA, 1999). São essencialmente quartzosos, tendo nas frações areia grossa e areia fina 95% ou mais de quartzo, calcedônia e opala e, praticamente, ausência de minerais primários alteráveis, isto é, menos resistentes ao intemperismo.

No Cerrado brasileiro, os Neossolos Quartzarênicos (RQ) estão associados, sobretudo, aos arenitos Botucatu (Juro-cretáceo) e ao grupo Bauru (Cretáceo). Estes arenitos afloram nas superfícies dissecadas do Planalto Central. Os RQ são classificados, na sua maior parte, como Neossolos Quartzarênicos órticos, ou hidromórficos, estes geralmente associados aos Gleissolos e aos Neossolos Flúvicos.

No Quadro 1 e nas Figuras 3 e 4 encontram-se resultados das análises das amostras de solos das áreas degradadas no sudoeste de Goiás, bem como alguns resultados estatísticos, obtidos a partir destes dados. Nos doze locais de coleta das amostras há pouca variação de textura até 1,20 m de profundidade, tratando-se pois de Neossolos Quartzarênicos (observações feitas em amostras coletadas com trado e pela descrição do perfil - Quadro 3).

Figura 3: Média, mediana, desvio padrão, limites de confiança de 90% e valor mínimo e máximo do resultado das análises químicas das amostras de solo da área de estudo (resumo do Quadro 1).

Os níveis de Al3+ no solo variam de 0,30 a 0,90Cmc.dm-3. Segundo Volkweiss e Ludwick (1976), a quantidade absoluta é menos significativa para as plantas do que o valor “m”, ou saturação da CTC com Al3+. Segundo esses autores, para a maioria das culturas do sul do Brasil, um valor de 20

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a 25% é o limite de toxidez de Al3+. Para culturas, como a alfafa, o limite pode chegar a 4%. Na área de estudo os valores chegam a 28%. Em profundidade, com a diminuição do Ca, Mg, K e da matéria orgânica, a saturação chega a 52% (Quadro 1), prejudicando ainda mais a penetração das raízes.

Os níveis de Ca e Mg, na área de estudo, em geral são baixos. Como algumas dessas áreas já foram adubadas, pelo menos no período anterior a 1996, a quantidade existente desses elementos deve-se à adubação e, provavelmente, à matéria orgânica. Os níveis de K, < do que 20mg.dm-3, em geral, são limitantes. Os níveis de P (Quadro 1) também são muito baixos (limitantes) a baixos, mesmo considerando-se que algumas áreas tenham sido recentemente adubadas (COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO RS/SC, 1989, p. 22).

Quadro 1: Análise de amostras de Neossolos Quartzarênicos Órticos de 0 a 20 cm de profundidade, na área de estudo.

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Figura 4: Média, mediana, desvio padrão, limites de confiança entre 5 e 95% e valor mínimo e máximo(*) do resultado das análises químicas e físicas das amostras de solo na área de estudo. (MOS=matéria orgânica do solo)

Quanto à textura, todas as amostras, inclusive dos diversos horizontes do perfil descrito (Quadro 3), contêm mais de 90% de areia, muito pouco silte e argila, enquadrando-se praticamente todas na classe “areia”, possuindo área superficial específica, representada por 50% dos constituintes, entre 0,1 e 0,01m2.g-1 e, mais de 40%, entre 0,01m2.g-1 e 10m2.g-1 (RESENDE et al., 2002). A predominância da constituição mineralógica é de quartzo, produto da meteorização dos sedimentos eólicos da Formação Botucatu (RADAMBRASIL, 1983). Portanto, são solos com muito baixa atividade elétrica na superfície dos seus constituintes, confirmada pela baixa CTC, entre 0,53 e 4,83Cmolc/dm3. Esses indicadores são ainda mais baixos com o decréscimo da matéria orgânica (Quadro 3), cujos valores também são muito baixos (EMGOPA, 1988, p. 33; COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO RS/SC, 1989, p. 22) e estão entre 4,30 e 15,79g.kg-1.

Os valores de densidade do solo (Ds) estão entre 1,50 e 1,65 g.cm-3; de densidade de partículas (Dp), entre 2,60 e 2,75g.cm-3 e de porosidade total (Pt), entre 30 e 35%, valores comuns para esta classe de solos, não apresentando indícios de compactação (Quadro 2). Deduz-se, pela constituição desse solo, pelas taxas de infiltração de água, muito rápidas, > 254 mm.h-1 (KOHNKE, 1968, p. 30) e por pesquisas nessa classe de solos (SILVA SOUZA et al., 1973; SCOPEL, 1977), que a porosidade total é essencialmente devida aos macroporos. É normal, nesses solos, quando não hidromórficos, o fornecimento de teores suficientes de O2 às raízes das plantas. Por outro lado, resultados de pesquisa em solos arenosos indicam uma permeabilidade à água rápida, >160mm.h-1 (KOHNKE, 1968, p. 31), indicativo também da sua baixa capacidade de retenção de água e, portanto,

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de água disponível (SCOPEL, 1977). Para solos arenosos da região central do Brasil foram obtidos valores de 36 e 68mm de capacidade de água disponível (CAD) para 1m e 2m de profundidade de solo, respectivamente (SPERA et al., 1999). Para culturas anuais, onde quase sempre mais de 80% das raízes encontram-se nos primeiros 20 cm de solo, o pH ácido e o baixo conteúdo de nutrientes em profundidade, é razoável inferir-se que a não ocorrência de chuvas, num prazo de 4-6 dias, poderá resultar em deficiência hídrica e comprometimento no rendimento da cultura (MACEDO et al., 1998).

A precipitação pluviométrica média da região é de 1600mm (SCOPEL et al., 1995), concentrada nos meses de outubro a maio. Na região de estudos pode ocorrer número significativo de veranicos no período chuvoso, comprometendo a previsão de rendimentos economicamente compensadores (Quadro 2). Observa-se um grande número de períodos sucessivos de cinco dias sem chuva nos vários postos de observação pluviométrica, que circundam a região, representando alto risco para culturas anuais plantadas em Neossolos Quartzarênicos não hidromórficos, uma vez que a CAD desses solos é muito baixa (SPERA et al., 1999). No Quadro 2, é importante considerar que nem todos os locais tem o mesmo número de anos de observação.

Nos meses de início e fim do período chuvoso aumentam os períodos de dez e quinze dias sucessivos sem chuva, representando um risco maior para as culturas anuais nos estádios iniciais e intermediários de desenvolvimento da planta. Em alguns locais de ampla ocorrência de Neossolos Quartzarênicos (Naveslândia e Rio Doce, por exemplo), ocorre número relativamente grande de veranicos de dez dias nos meses em que as culturas estão no período reprodutivo e de formação de colheita, aumentando o risco de elevadas perdas.

Portanto, a opção pela ocupação parcial dessas áreas com atividades agrícolas pode ser mais satisfatória quando se considera a importância da água para os seres vivos, relativamente à quantidade e distribuição da precipitação, armazenamento de água no solo, evapotranspiração e balanço hídrico.

Por outro lado, as chuvas de alta intensidade e duração, comuns no Cerrado no período chuvoso, e as características desses solos implicam em manejos específicos para o controle da erosão. Na Figura 5 observam-se danos provocados à área pelo tipo de uso e manejo da década de 1980, após a retirada da vegetação do cerrado, implantação de cana-de-açúcar e posteriormente pastagem.

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Figura 5: Áreas degradadas em forma de ‘areais’ no município de Serranópolis/GO.

Resultados do experimento em casa de vegetação:

No Quadro 4 observa-se que o solo utilizado para o experimento é muito pobre. O pH é ácido, o teor de Alumínio, embora pequeno, representa mais de 50% de saturação da CTC. O teor de matéria orgânica é muito baixo não atingindo nem 1%. No solo sob Cerrado verifica-se um teor ligeiramente mais alto de matéria orgânica, uma soma de bases mais elevada e um teor de Alumínio mais baixo. A CTC é pouco mais baixa talvez devido ao menor conteúdo de argila que, em ambos os solos, não atinge 5%.

Após a correção e adubação houve em alguns vasos um aumento no pH e na soma de bases; entretanto os valores são bastante baixos, inesperados em relação à adubação efetuada, podendo ter havido, no entanto, lixiviação muito acentuada dos nutrientes. Houve um pequeno incremento na matéria orgânica do solo, mas ainda muito baixo para ter um significado maior.

A água recolhida sob o vaso indicava, em alguns casos, volume relativamente grande, sugerindo um excesso de umidade no solo.

Quadro 4 Resultados das análises do solo utilizado no experimento antes e após correção e adubação e do solo sob Cerrado.

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No quadro 5 estão resumidos alguns dados das plantas e lavoura cultivadas em casa-de-vegetação. Observa-se, salvo raras exceções, que os parâmetros de plantas analisados apresentam melhor desempenho quando sob adubação. O peso seco das folhas e o volume radicular são exemplos disso. A soja foi a cultura que apresentou baixo rendimento nos parâmetros analisados quando comparada com as plantas sem adubação. A análise estatística dos resultados será apresentada em trabalho ainda em elaboração.

Quadro 5 e 6 Dados das culturas com e sem adubação no experimento em casa-de-vegetação

*Obs. Os valores apresentados como consórcio nesta tabela são referentes à estilosantes/braquiária. Quadro - 6

*Obs. Os valores apresentados como consórcio nesta tabela são referentes à estilosantes/braquiária. Em ambos os tratamentos as culturas germinaram e cresceram com pouco vigor, apresentando em geral, folhas esclerosadas, com melhor desempenho, entretanto, para o solo adubado. Provavelmente, o excesso de água recolhida sob o vaso repercutiu fortemente na parte aérea e no sistema radicular das culturas. Após 35 dias, a maior parte do sistema radicular encontrava-se no recipiente, sob o solo, e utilizado para recolhimento da água de percolação. As perdas por lixiviação foram maiores no solo adubado.

Tratamento Número de plantas Altura do colmo (cm) Inserção Foliar (cm) Comprimento foliar (cm)

Sorgo com adubação 3 60,25 15,25 45,00

Sorgo sem adubação 2 51,50 12,75 38,75

Consórcio com adubação 3/4 23,00/05,87 06,37/05,87 16,62/13,33 Consórcio sem adubação 2/3 14,62/05,62 02,75/05,62 11,63/17,12

Soja com adubação 4 31,25 17,75 13,50

Soja sem adubação 3 33,75 16,50 17,25

Arroz com adubação 4 35,50 11,25 24,25

Arroz sem adubação 3 34,00 10,00 24,00

Milho com adubação 4 53,50 13,25 40,25

Milho sem adubação 3 41,25 08,25 33,00

Tratamento Área foliar (cm2) Peso seco das folhas (mg) Diâmetro do caule (cm)

Sorgo com adubação 1068,43 2,65 3,3

Sorgo sem adubação 424,11 0,92 2,9

Consórcio com adubação 164,39/88,84 3,58/3,54 1,95/1,25

Consórcio sem adubação 155,06/103,32 3,28/3,29 2,00/1,45

Soja com adubação - 1,40 5,0

Soja sem adubação - 0,9 5,0

Arroz com adubação 103,11 0,73 1,2

Arroz sem adubação 217,9 0,5 1,2

Milho com adubação 749,94 2,58 2,3

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*Obs. Os valores apresentados como consórcio nesta tabela são referentes à estilosantes/braquiária.

Quadro 7: O experimento no LE está sendo repetido para confirmar alguns dados não esperados. Tratamento Comprimento radicular (cm) Volume radicular (cm3) Peso seco da raiz (mg) Volume de água retida (ml)

Sorgo com adubação 48,25 13,75 7,87 0

Sorgo sem adubação 48,25 6,75 3,26 193,3

Consórcio com adubação 36,00 16,0 6,52 80,0 Consórcio sem adubação 36,50 13,5 6,41 137,6

Soja com adubação 34,00 4,0 1,0 35,0

Soja sem adubação 39,00 4,0 1,20 48,0

Arroz com adubação 38,75 14,0 14,0 5,0

Arroz sem adubação 33,25 6,0 3,45 73,3

Milho com adubação 42,00 26,0 9,53 0

Milho sem adubação 42,75 21,25 9,76 78,0

Amostra Soja CA Pastagem SA Pastagem CA Sorgo SA

Cálcio (ppm) 404,8 74,19 184,9 100,2

Magnésio (ppm) 47,2 10,65 29,52 17,18

Potássio (ppm) 36,98 4,86 114,1 9,54

Fósforo (ppm) 0,13 0,05 0,26 0,04

Enxofre (ppm) 53,21 11,29 27,37 15,77

Amostra: Latossolo Arroz AS Arroz CA Soja AS

Cálcio (ppm) 177,3 81,04 248,8 71,55

Magnésio (ppm) 8,48 10,85 41,98 1,07

Potássio (ppm) 3,4 0 1,67 0

Fósforo (ppm) 0 0,08 0,15 0,11

Enxofre (ppm) 0,03 19,34 41,23 14,62

Amostra: C3CA C4SA C4CA

Cálcio (ppm) 135,2 104,7 221,6

Magnésio (ppm) 25,94 12,19 23,35

Potássio (ppm) 36,3 0 0

Fósforo (ppm) 0,12 0,08 0,18

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Conclusões

Os dados obtidos conduzem às seguintes conclusões:

1 As culturas desenvolveram melhor nos vasos com adubação, porém, muito aquém do esperado; 2 Houve um acentuado crescimento radicular nos vasos adubados, contrastando com os sem adubação; 3 A lixiviação dos nutrientes foi intensa nos vasos adubados, mostrando a provável grande perda de adubo, em condições de lavoura, quando adicionado a esta classe textural de solo;

4 Pelo estado geral das culturas, observou-se forte influência negativa do excesso de água, provavelmente interferindo no estado geral das plantas com possível exceção para o arroz, uma vez que o mesmo é tolerante ao excesso de água;

5 Pela quantidade de raízes que ultrapassaram o limite inferior do solo no vaso, supõe-se que tenha havido, além do excesso de água, um volume insuficiente de solo para o cultivo das plantas;

6 Recomenda-se a repetição do experimento, utilizando-se um maior volume de solo e uma quantidade de água condizente com as necessidades das culturas.

Referências bibliográficas

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