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A SINGULARIDADE DO TRABALHO DAS MULHERES NOS EMPREENDIMENTOS ECONÕMICOS E SOLIDÁRIOS NO MARANHÃO ABSTRACT

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A SINGULARIDADE DO TRABALHO DAS MULHERES NOS EMPREENDIMENTOS ECONÕMICOS E SOLIDÁRIOS NO MARANHÃO

Aurora Amélia Brito de Miranda1

RESUMO

Apresento os resultados da pesquisa sobre o trabalho das mulheres maranhenses nos Empreendimentos Econômicos Solidários, tendo em vista, que foi a primeira vez que a questão de gênero foi analisada na pesquisa “Mapeamento de Empreendimentos Econômicos, solidários, Entidades de Apoio e Políticas Públicas de Economia Solidária no MA, CE, PI e RN”, realizada no período de 2010 a 2013.

Palavra-chave: Gênero. Trabalho. Empreendimentos Econômicos e Solidários.

ABSTRACT

Present research results concerning the work of women in Maranhão solidarity economic enterprises, with a view, which was the first time that the issue of gender was analyzed in the research "Mapping of Economic Developments, supportive, Entities Support and Public Policy Economics solidarity in MA, CE, IP and RN "held in 2010-2013 period.

Keywords: Gender. Work. Economic Solidarity Ventures.

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1. INTRODUÇÃO

Neste artigo apresento o resultado pesquisa intitulada “Mapeamento de Empreendimentos Econômicos, solidários, Entidades de Apoio e Políticas Públicas de Economia Solidária no MA, CE, PI e RN”, coordenada regionalmente pelo núcleo UNITRABALHO/MA, no período de 2010-2013. Aqui analiso uma parte da pesquisa, especificamente, a que se refere à singularidade da participação das mulheres nos Empreendimentos Econômicos e Solidários no estado do Maranhão.

De acordo com Gaiger (2003), a expressão empreendimentos econômicos solidários foi introduzida pelas formulações de L. Razeto, acerca das formas de economia popular. São organizações econômicas que buscam superar a subsistência em busca de melhorar à qualidade de vida, em certos casos propiciando margens de acumulação e crescimento econômico graças a práticas e valores como a solidariedade, a cooperação e a autonomia (Gaiger, 2003).

Gaiger (2003) passou a utilizar o termo economia solidária como empreendimentos econômicos solidários, que compreende,

as diversas modalidades de organização econômica, originadas da livre associação dos trabalhadores, com base em princípios de autonomia, cooperação, eficiência e viabilidade. Aglutinando indivíduos excluídos do mercado de trabalho, ou movidos pela força de suas convicções, à procura de alternativas coletivas de sobrevivência, os empreendimentos econômicos solidários desenvolvem atividades nos setores da produção ou de prestação de serviços, da comercialização e do crédito. (Gaiger, 2003, p.135)

O termo empreendimentos econômicos solidários foi também adotado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES/Ministério do Trabalho e Emprego, a partir de 2003.

Conforme Gaiger (2003), esses empreendimentos apresentam-se sob forma de grupos de produção, associação, cooperativas e empresas de autogestão e combinam suas atividades econômicas com ações de cunho educativo e cultural, valorizando o sentido da comunidade de trabalho e o compromisso com a coletividade social em que se inserem.

Assim, as características desses empreendimentos estão baseadas numa outra racionalidade produtiva, no qual o solidarismo é o maior sustentáculo dos empreendimentos, ao gerarem resultados materiais efetivos e ganhos extra econômicos, como qualidade de vida aos trabalhadores e à satisfação de objetivos culturais e político.

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Ao analisarmos a economia solidária evidenciando as qualidades emancipatórias e promissoras das alternativas de produção econômica, na perspectiva designada por Boaventura Santos, de “hermenêutica das emergências, não implica que se renuncie à análise rigorosa e à crítica das alternativas analisadas (SANTOS, 2002)”.

As possibilidades e virtudes da economia solidária ou dos empreendimentos econômicos solidários não estão determinadas, não são dadas, mas constituem tendências e possibilidades, que podem se efetivar com maior ou menor intensidade, a depender das condições objetivas e subjetivas em que se encontram cada empreendimento. O êxito depende, não apenas do cenário em que se desenvolvem, mas do investimento que nessas experiências se fizer.

Além do mais os diferentes aspectos da produção, distribuição e consumo na economia solidária devem ser entendidos como comportamentos tendenciais e não como madura e completa manifestação do que efetivamente existe na realidade, ou seja, devem ser tratados como tendências que apontam para identidades em formação.

O Maranhão participou do primeiro Mapeamento dos Empreendimentos Econômicos Solidário realizado em 2005, em que o Núcleo UNITRABALHO/UFMA mapeou 567 empreendimentos em 71 municípios. Em 2007, foi ampliado o número de empreendimentos para 793, em 86 (oitenta e seis) municípios maranhenses. (Costa, 2007). Em 2010-2013, foram mapeados 1.383 empreendimentos entre revisitados e novos, sendo que foram validados pelo Comitê Gestor da Economia Solidária no Maranhão 838 EES2, a partir das características definidas na pesquisa como produção coletiva, comercialização coletiva, valores baseados na solidariedade, de natureza supra familiar e com atividades permanentes. Ainda foram mapeados 107 Entidades de Apoio à economia solidária e 08 Políticas Públicas de Economia Solidária, em 115 municípios do Estado do Maranhão. De 838 empreendimentos, 399 já constavam na base de dados anterior realizada em 2005-2007, e outros 439 novos empreendimentos foram incluídos neste Mapeamento.

A questão de gênero foi abordada pela primeira vez nesta pesquisa, a partir de

um formulário complementar, preenchido apenas pelos

empreendimentos em que existiam mulheres trabalhando, que fossem sócias e/ou não‐sócias. Um formulário com 09 (nove) questões que visavam identificar: responsáveis pelo cuidado com filhos (as) menores e demais dependentes da família; atividades domésticas pelas quais as mulheres são responsáveis; políticas de apoio e programas para

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o segmento; renda obtida nos empreendimentos; atividades específicas só para as mulheres nos empreendimentos e uma questão específica para as mulheres que atuam na área rural, sobre a situação da terra em que vivem.

2. A SINGULARIDADE DO TRABALHO DAS MULHERES NOS EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS E SOLIDÁRIOS NO MARANHÃO.

Antes de entrar nos dados da pesquisa, é importante deixar evidente, o entendimento da categoria gênero. Parto do princípio de que o feminino e o masculino não são apenas noções biológicas ou naturais, mas uma construção sócio - cultural.

Neste sentido, concordo com Ficher (2006, p. 31), quando afirma que o termo gênero tem significado diferente do conceito de gênero:

Como termo, gênero refere-se a uma distinção por sexo desprovida de conteúdo de uma construção social complexa. Como conceito, traduz uma relação social entre homens e mulheres. Importa à sua compreensão que não são as características sexuais, mas a forma como são representadas e valorizadas que vai constituir o que é masculino e o que é feminino numa dada sociedade e num dado momento histórico.

Desta forma, o gênero deixa de ser sinônimo de “mulher” e demarca o aspecto da relação, onde mulheres e homens são definidos em termos recíprocos e nenhuma compreensão deles pode ser alcançada por estudos separados (SCOTT, 1991).

É com este olhar que analiso os dados da referida pesquisa. No Maranhão estão envolvidos com a economia solidária 65.567 trabalhadores (as) sócios (as) dos empreendimentos, sendo 32.951 do sexo masculino, o que equivale 51% dos homens e 32.616 do sexo feminino, o que equivale a49% das mulheres.

Quanto à situação atual de funcionamento do empreendimento, 96% dos EES estava em funcionamento no momento da pesquisa; 3% estava em reestruturação e 1% em implantação. Em relação à area de atuação, 78% dos EES atuam na zona rural; 13% deles estão localizados em áreas rurais e urbanas; e apenas 9% em áreas urbanas.

A presença feminina ocupa, assim, 49% do total de sócios nos empreendimentos. Em relação às mulheres com participação ativa, além de 12.146 trabalhadoras sócias presentes em 632 EES, os empreendimentos pesquisados contam ainda com a participação de 551 trabalhadoras não sócias em 106 EES. As informações a seguir, representam os 637 EES que contam com a participação ativa do trabalho feminino, independente da forma de participação, sócias ou não sócias.

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Pesquisas desenvolvidas sobre gênero e trabalho analisam as transformações ocorridas no mundo do trabalho e suas repercussões sobre a situação feminina (HIRATA, 2002). A inserção da mulher no mercado de trabalho, se efetiva de forma precária e subordinada. E assim, o capital passa a incorporar para seus fins, saberes e funções femininas, histórica e culturalmente construídas durante séculos. E a mulher passa a realizar dupla e até tripla jornada de trabalho, na maioria das vezes, contando apenas com a solidariedade de amigos, vizinhos e parentes. Ou seja, a mulher passa a trabalhar fora, mas continua com as obrigações domésticas.

Para a maioria das mulheres de 38% dos EES, durante o período em que estão realizando as atividades no EES (Tabela 1), são vizinhos, parentes ou amigos que ficam responsáveis pelo cuidado com filhos (as) menores e demais dependentes da família (pessoas idosas, doentes e/ou com necessidades especiais); os (as) filhos (as) menores e/ou demais dependentes de mulheres de 26% dos EES ficam sozinhos em casa; para a maioria das mulheres de 19% dos EES, isto não se aplica; os filhos e dependentes das mulheres de somente 4% dos EES contam com creches, pré-escola e escola.

Assim, é imprescindível a luta por políticas públicas, relacionadas com educação na primeira infância, creche, pré-escola e escola, principalmente na zona rural.

Tabela 1. Responsável pelo cuidado com filhos (as) menores e demais dependentes da família.

Fonte: Relatório Pesquisa Mapeamento EES/UFMA; SIES/MTE, 2010-2013.

No caso das mulheres que levam os (as) filhos (as) menores e/ou dependentes para o EES no período de trabalho (Tabela 02), predomina a situação onde cada mãe (sócia) cuida de seus próprios filhos em 47% dos EES; em 14% dos EES predomina a situação onde as próprias mães (sócias) se revezam para cuidar dos (as) filhos (as) menores e / ou dependentes no EES; e, em 47% dos EES, a situação não se aplica.

Creche / Pré-escola / Escola. 23 4%

Maridos/companheiros das mulheres do EES 35 5%

Não se aplica / não há predominância. 121 19%

Os (as) filhos (as) menores e/ou demais dependentes ficam sozinhos (as).

164 26%

Os (as) filhos (as) menores e/ou demais dependentes são levados para o EES.

48 8%

Pessoas contratadas (babás, acompanhantes etc.).

04 1%

Vizinhos (as), parentes ou amigos (as). 242 38%

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Somente 6% dos EES dispõem de local apropriado para receber os (as) filhas (as) menores e/ou dependentes no período de trabalho das mulheres.

Tabela 2. Situação predominante de mulheres do EES que levam os (as) filhos (as) menores e /ou dependentes para o EES no período de trabalho.

Fonte: Relatório Pesquisa Mapeamento EES/UFMA; SIES/MTE, 2009-2013.

Em relação às atividades domésticas pelas quais as mulheres são responsáveis (tabela 3), a pesquisa constatou que as mulheres de 97% dos EES são responsáveis pelas tarefas de cozinhar, lavar e/ou passar roupa e limpar sua casa; as mulheres de 93% dos EES são as principais responsáveis por cuidar dos (as) filhos (as) menores e / ou demais dependentes; as mulheres de 89% dos EES são as responsáveis por acompanhar os filhos (as) e /ou demais dependentes em atividades escolares, atendimentos de saúde, etc; abastecimento e manutenção doméstica (provisão de água ou alimentos, cuidar dos animais domésticos, pagamento de contas, etc.) são as principais atividades desenvolvidas pelas mulheres de 68% dos EES; somente em 3% dos EES esta questão não se aplica.

Tabela 3. Atividades domésticas pelas quais as mulheres são responsáveis.

Fonte: Relatório Pesquisa Mapeamento EES/UFMA; SIES/MTE, 2009-2013. Situação predominante de mulheres do EES que levam os (as) filhos (as) menores e/ou dependentes para o EES no período de trabalho

EES %

As próprias mães (sócias) se revezam para cuidar dos (as) filhos (as) menores e/ou dependentes no EES

91 14%

Cada mãe (sócia) cuida de seus (suas) filhos (as) menores e/ou dependentes no EES

245 38%

Não se aplica 297 47%

O EES dispõe de pessoa contratada para cuidar dos (as) filhos (as) menores e/ou dependentes das sócias

01 0%

EES dispõe de pessoa voluntária para cuidar dos (as) filhos (as) menores e/ou dependentes das sócias

03 6%

Total Geral 637 100%

Atividades domésticas pelas quais são responsáveis EES %

Cozinhar / Lavar e/ou passar roupa / Limpar a casa 619 97%

Cuidar dos (as) filhos (as) menores e/ou demais dependentes 591 93% Acompanhar os (as) filhos (as) e/ou demais dependentes em

atividades escolares, atendimentos de saúde, etc.

565 89% Realizar atividades de abastecimento e manutenção doméstica

(provisão de água ou alimentos, cuidar dos animais domésticos, pagamento de contas, etc).

436 68%

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Para a maioria das mulheres de 20% dos EES, a renda obtida com a atividade econômica no EES é a menor parte da renda familiar; para as mulheres de 13% dos EES, a renda obtida é a maior parte da renda da família; em 8% dos EES, a renda obtida pelas mulheres compõe de forma igualitária com outros (as) membros (as) a renda da família; em 4% dos EES, a renda obtida pelas mulheres é a única fonte de renda da família. 55% dos EES não visam renda ou outra situação onde as situações acima não se aplicam.

Como as mulheres de forma geral, entram no mercado de trabalho para realizar tarefas secundárias, que não exige o uso da força física, esta passa ser a justificativa para a utilização de um rendimento menor ou diferenciado. Entretanto, não dá para fazer a relação com os EES, pois a questão de rendimento menor ou diferenciado, não foi utilizada no questionário sobre a participação das mulheres nos EES.

Quanto o acesso das mulheres aos Programas ou Políticas de apoio (Tabela 4), as mulheres de 6% dos EES tiveram acesso ao Programa de Aquisição de Alimentos – PAA ou do Programa Nacional de apoio à Agricultura Familiar – PRONAF MULHER. As mulheres de 4% dos EES tiveram acesso ao Programa de Qualificação Social e Profissional ou educação profissionalizante; as mulheres de 1% dos EES tiveram acesso ao Programa de Organização Produtiva das mulheres rurais ou à Assistência Técnica, Extensão e Incubação; as mulheres de 2% dos EES tiveram acesso a outro Programa de Crédito / financiamento; e as mulheres de 74% dos EES não tiveram acesso a nenhum dos programas/políticas de apoio à produção e/ou comercialização listados.

Conforme os dados da tabela 04, os Programas/políticas de apoio, ainda são muito reduzidos, principalmente, quando se referem às políticas específicas para as mulheres.

Tabela 4. Programas / políticas de apoio.

Programas/políticas de apoio EES %

Projetos Produtivos apoiados pela Secretaria Especial de Mulheres – SPM

02 0%

Programa de Organização Produtiva das Mulheres Rurais 06 1%

Assistência Técnica, Extensão, Incubação. 07 1%

Outro Programa de Crédito/Financiamento. 12 2%

Qualificação Social e Profissional ou Educação Profissionalizante.

24 4%

Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar – PRONAF Mulher.

37 6%

Programa de Aquisição de Alimentos PAA 40 6%

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Fonte: Relatório Pesquisa Mapeamento EES/UFMA; SIES/MTE, 2009-2013.

No universo de 560 EES, formados por homens e mulheres, em 9% ou 48 deles existem atividades, funções e tarefas dentro do EES que são realizadas exclusivamente por mulheres – seja por todas ou só por algumas mulheres do EES, mas que são responsabilidade apenas do sexo feminino.

Em relação ao tipo de atividade, em 67% ou 32 destes EES há atividades relativas à produção – colheita, cultivo, beneficiamento, manufatura, produção industrial etc. – que são realizadas exclusivamente por mulheres; em 15% destes EES, as atividades dentro do EES ligadas à comercialização e vendas de produtos/serviços são realizadas exclusivamente por mulheres; em 13% dos EES, as atividades relativas à prestação de serviços são realizadas exclusivamente por mulheres; em 10% dos EES, apenas mulheres do EES desempenham atividades no próprio empreendimento ligado às áreas de administração, gestão, contabilidade, financeiro, secretaria etc.; e em 10% dos EES, apenas mulheres do EES desempenham atividades ligadas à manutenção e serviços gerais no próprio EES, por ex.: limpeza, zeladoria, elétrica, etc.

A área de atuação dos empreendimentos econômicos solidários no Maranhão é majoritariamente rural. E nesse cotidiano, as mulheres participam tanto da produção, como da transformação dos produtos em alimento. Assim, o processo envolve a participação da mulher na produção da roça e nas atividades de casa, que em princípio, são espaços públicos e privados respectivamente. Concordo com Ficher quando argumenta (2006, p.43) que,

embora interdependentes, a convivência entre essas esferas, se efetiva, numa relação de dominação/subordinação. O âmbito privado se constitui sustentáculo do espaço público, legitimado como lugar de supremacia masculina.

A relação dos espaços público e privado é muito peculiar, no caso da mulher no meio rural. Onde a produção e reprodução, diz respeito, respectivamente à produção de

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bens materiais e à reprodução de indivíduos sociais. E na divisão sexual do trabalho, ao homem cabe o exercício da produção, e à mulher o da reprodução.

E assim, embora esta pesquisa, como outras, confirmem, a participação da mulher na produção, – colheita, cultivo, beneficiamento, manufatura, produção industrial etc. – esta fica subsumido no doméstico, considerado não trabalho, visto como extensão de suas atribuições de mãe/esposa/dona de casa. Pois, essas são atividades invisíveis e não consideradas como trabalho, porque ainda prevalece principalmente no âmbito rural, a concepção de que, o trabalho feminino é flexível, as mulheres tem autonomia para fazer o seu próprio horário; o trabalho na roça é na maioria das vezes familiar ou sob administração de um considerado chefe, o que retira das mulheres a responsabilidade pela produção; e, como também, as mulheres conseguem conciliar o tempo entre o trabalho doméstico e agrícola, o que, significa, na concepção dominante, reduzir o número de horas na roça e assim, descaracterizar a participação da mulher na produção.

Assim, o trabalho da mulher rural é embutido no doméstico, considerado como ajuda e contabilizado como tarefa familiar. Dificultando o reconhecimento do valor do trabalho agregado nas atividades desenvolvidas pelas mulheres do campo.

O que acarreta maior consequência da invisibilidade do trabalho da mulher rural se expressa no que se refere ao exercício da cidadania, ou seja, a negação de direitos como o de sindicalização, a posse da terra, aposentadoria, extensão rural, participação em programas de desenvolvimento rural, entre outros. Embora esta situação venha se modificando nos últimos anos, mas ainda precisa avançar muito, principalmente no nordeste do Brasil. É preciso ampliar a luta pelos direitos sociais e políticos, inclusive direitos condizentes com sua condição feminina, como creche, por exemplo, pois conforme apresentado na tabela 02, predomina em 38% dos empreendimentos, a mãe (sócia) que cuida de seus (suas) filhos (as) menores e/ou dependentes no EES.

No que se refere à situação da terra, em (543) EES que atuam em área rural e contam com o trabalho de mulheres (Tabela 05), em 70% destes EES as famílias possuem terra, mas não o título da terra; em 13% destes EES, os títulos estão em nome dos casais; em 11% dos EES, as famílias não possuem terra; outra situação registrada por 3% dos EES é quando os títulos das terras onde as mulheres vivem e trabalham estão em nome dos respectivos maridos/companheiros; em 2% dos EES, os títulos da terra estão em nome das mulheres que trabalham no EES; e, em 1% dos EES, os títulos da terra estão em nome de outros parentes das mulheres ou parentes de seus maridos/companheiros.

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Fonte: Relatório Pesquisa Mapeamento EES/UFMA; SIES/MTE, 2009-2013.

De acordo com os dados da tabela 05, 70% das famílias dos EES possuem terra, mas não o título, e somente em 2%, os títulos da terra estão em nome das respectivas mulheres dos EES. Portanto, é imprescindível política agrária e agrícola para os trabalhadores homens e mulheres que sobrevivem no campo e, também, continuar o processo de luta para que a mulher também possa obter o título da terra.

3. CONCLUSÃO

A área de atuação dos empreendimentos econômicos solidários continua sendo majoritariamente rural. A forma predominante de organização continua sendo as associações, seguidas de grupo informal e cooperativas. A maioria das atividades econômicas relaciona-se às atividades agropecuárias.

As principais dificuldades enfrentadas pelos que estão construindo o campo da economia solidária residem na comercialização, acesso ao crédito, péssima qualidade das estradas, comunicação precária, falta de apoio e assessoria e ausência/debilidade das políticas governamentais.

Quanto à singularidade do trabalho das mulheres nos EES, as principais dificuldades residem na falta de Políticas Públicas de educação na primeira infância, políticas agrárias e agrícolas e principalmente, a invisibilidade do trabalho da mulher no meio rural.

A mulher rural precisa ser reconhecida como trabalhadora rural, o que possibilita a luta pela terra, pela aposentadoria e, principalmente o acesso aos programas de desenvolvimento rural. Pois conforme o resultado da pesquisa, a maioria das mulheres, ou

Situação da terra EES %

As famílias não possuem terra 59 11%

As famílias possuem terra, mas não o título da terra. 381 70% Os títulos da terra estão em nome das respectivas

mulheres do EES.

12 2%

Os títulos da terra estão em nome de outros parentes das mulheres ou dos cônjuges.

07 1%

Os títulos da terra estão em nome dos casais. 69 13%

Os títulos da terra estão em nome dos cônjuges das respectivas mulheres do EES.

15 3%

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74% das mulheres dos EES não participam de programa ou política de apoio específica para as mulheres.

É fato que as mulheres têm conquistados avanços no que se refere á participação no espaço público, mas é preciso ampliar esta luta, pois é no movimento de luta pela terra, que se efetiva o aprendizado político para que as mulheres consigam romper a subordinação de gênero que historicamente foi imposta como natural à sua condição.

REFERENCIAS

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Sistema Nacional de Informação Solidária - SIES. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.mte.gov.br. Acesso em 16 maio. 2014. BARBOSA, Rosângela Nair de Carvalho. A economia solidária como política pública: uma tendência de geração de renda e ressignificação do trabalho no Brasil. São Paulo: Cortez, 2007.

COSTA, Cândida da. Relatório de Pesquisa Mapeamento dos empreendimentos

econômicos solidários e entidades de apoio no estado do Maranhão 2005-2007.

FISCHER. Izaura Rufino. O protagonismo da mulher rural no contexto da dominação. Recife. Fundação Joaquim Nabuco, Massangana, 2006.

GAIGER, Luiz Inácio. Empreendimentos Econômicos Solidários. In: CATTANI, Antônio David (Org). A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003.

HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho: um olhar voltado para a empresa e a sociedade. São Paulo. Boitempo, 2002.

Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria Nacional de Economia Solidária. Sistema

de Informações em Economia Solidária – SIES. 2009/2010. Vol. 1. Guia de Orientações e

Procedimentos do SIES. Brasília, 2009.

RAZETO, Luís. Economia de Solidariedade e organização popular. In: GADOTTI, M.;

SANTOS. Boaventura de Sousa (org). Produzir para viver: os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

Referências

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