Realização: IES parceiras:
TÍTULO: ACIDENTES COM TRABALHADORES EM UNIDADES FRIGORÍFICAS BRASILEIRAS: ANÁLISES E SUGESTÃO DE MELHORIAS
CATEGORIA: EM ANDAMENTO
ÁREA: CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA SUBÁREA: Engenharias
INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO EURÍPEDES DE MARÍLIA - UNIVEM AUTOR(ES): ÉRIKA MAYUMI OTUTUMI GALHARDI
1. RESUMO
Os frigoríficos brasileiros possuem relevância no mercado de exportação de carne. No entanto, esse ambiente concentra muitos acidentes de trabalho, principalmente do tipo típico, o qual ocorre durante o próprio expediente do funcionário. Para amenizar esses casos, existem legislação e Normas Regulamentadoras, como a NR 12 e NR 36, para padronização do nível de qualidade de vida dos trabalhadores. O objetivo desse trabalho é evidenciar a frequência com que esses acidentes ocorrem, salientando a importância de se ter uma gestão voltada para a diminuição dos índices. Os resultados preliminares obtidos evidenciam a evolução com que acidentes são notificados e as principais partes do corpo dos trabalhadores lesionadas. Essa pesquisa, ainda em fase de desenvolvimento, buscará analisar na prática as principais causas dos acidentes, buscando adequações de máquinas aos homens para garantir a segurança, em parceria com indústria que desenvolve equipamentos adaptados e que evitam tais ocorrências.
2. INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma grande representatividade no comércio mundial de carne bovina, detendo o maior volume de rebanho bovino do mundo para fins comerciais e teve uma receita de 7,59 bilhões de dólares e 1,8 milhão de toneladas exportadas em 2019 valores recordes para o setor, segundo dados do Beef Report (ABIEC, 2019). No entanto, concomitantemente ao crescimento econômico desse setor, emergem preocupações com qualidade do produto e de vida dos trabalhadores.
Segundo Cazelli (2012), um manejo inadequado tanto do animal ainda vivo, quanto da sua carne pós-abate influencia diretamente na produtividade e lucratividade do frigorífico, visto que o aparecimento de lesões e hematomas comprometem a qualidade do produto. É necessário também que os colaboradores estejam cientes e devidamente treinados acerca de todo o processo de manuseio, cortes e preparos, dos riscos dentro da câmara fria e das máquinas de moer, bem como toda a fábrica deve estar dentro dos requisitos das Normas NR12 de Segurança do Trabalho e NR 36 de Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados.
Nesse contexto de controle de higiene e segurança, tais normas são referência para padronizar o processamento das carnes bovinas e garantir a qualidade do produto e assegurar a vida e integridade dos trabalhadores. Segundo Galli e
colaboradores (2011, p. 15), a importância de se normalizar regras de segurança é de evitar acidentes de trabalho, controlar riscos e garantir o sucesso da produção.
3. OBJETIVOS
O objetivo principal do presente trabalho é de analisar a frequência de acidentes de trabalho em frigoríficos e elencar alguns tipos de acidentes mais comuns.
4. METODOLOGIA
O ferramental metodológico utilizado no que se refere ao alcance dos objetivos desse trabalho é o da pesquisa exploratória. Na visão de Gil (2002, p. 41), as pesquisas exploratórias objetivam trazer ao pesquisador maior intimidade com o problema, tornando-o mais claro e, inclusive, proporcionando ao pesquisador construir hipóteses. Tais pesquisas, pode-se afirmar, refina ideias e também novas descobertas.
Em relação à forma de abordagem, a pesquisa se enquadra como quantitativa, em que é possível tabular e quantificar informações para classificá-las e traçar análises (GIL, 2002).
Além disso, foi realizada uma revisão bibliográfica de artigos científicos acerca das palavras-chaves do contexto da pesquisa e foi feito um levantamento de informações no banco de dados Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. Por fim, para etapas futuras desse projeto, serão realizadas pesquisa de campo em frigoríficos, entrevistas e levantamento de dados, bem como análise comparativa.
5. DESENVOLVIMENTO
O ramo de atividade de uma empresa é classificado segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE. Para o presente trabalho, foram consideradas os CNAEs de classe 10.11-2, 10.12-1 e 10.13-9, que estão incluídos na categoria de abate e fabricação de produtos de carne. A tabela 1 expõe a descrição de cada uma dessas classes.
Tabela 1: Descrição das classes CNAE 1011, 1012 e 1013
CNAE Descrição
10.11-2 Abate de reses, exceto suínos
10.12-1 Abate de suínos, aves e outros pequenos animais 10.13-9 Fabricação de produtos de carne
Segundo a Lei Nº 8.213/91 (BRASIL, 1991), são classificados como acidentes de trabalho injurias aos trabalhadores que tenham ocorrido pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, “provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. Os acidentes de trabalho analisados nesta pesquisa dizem respeito ao acidente típico, o qual se enquadra nas lesões feitas pelo exercício do trabalho a serviço da empresa (VASCONCELLOS, 2009), isto é, o acidente ocorreu enquanto o trabalhador desenvolvia atividades referentes a sua jornada de trabalho.
6. RESULTADOS PRELIMINARES
Até o presente momento do estudo foi possível analisar os dados do INSS referentes aos acidentes com emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT, averiguando qual o maior fator de risco para os trabalhadores. Os resultados levantados se encontram a seguir:
Imagem 1: Evolução da frequência de acidente de trabalho típico em frigoríficos, por ano e CNAE
Fonte: Comitê de Dados Abertos do INSS (BRASIL, 2020)
Na Imagem 1, a evolução da frequência de emissão de acidentes de trabalho típicos em frigoríficos não possui muitas oscilações, tendo queda em sua quantidade apenas na categoria de reses (englobam-se bovinos) de 11,1%. Analisando esses dados, percebe-se que mesmo com normas regulamentadoras específicas para essa atividade econômica (NR 36), ainda há muitos trabalhadores que sofrem agravos no trabalho, sendo necessário o estudo da adequação do homem ao processo.
4.913 6.114 6.903 6.213 7.170 7.928 9.101 9.109 1.480 1.369 1.791 1.995 2016 2017 2018 2019 ANO
Reses, exceto suínos Suínos e aves Fabricação de produtos de carne
A tabela 2 expõe as 10 partes do corpo que apresentam maiores frequências de lesão de acidente típico dentro de frigoríficos. Percebe-se que os dois maiores detentores de acidentes se referem à região das mãos. Uma atividade que ocorre dentro dos frigoríficos que acarreta o aumento desse valor é a desossa, a qual é feita manualmente pelo operador com uma faca afiada. Se esse processo for realizado sem a utilização de Equipamento de Proteção Individual - EPI adequado (como uma luva de malha de aço, por exemplo), os riscos de acidente aumentam.
Tabela 2: Frequência dos membros do corpo mais atingidos por acidente típico em frigoríficos em 2019
Parte do corpo atingida Frequência de CATs registradas
Dedo 2979
Mão (Exceto Punho ou dedos) 953
Pé (Exceto Artelhos) 731
Antebraço (entre o punho e o cotovelo) 575 Olho (inclusive nervo ótico e visão) 462
Joelho 301
Cabeça, NIC 269
Braço (entre o punho a o ombro) 257 Face, partes múltiplas (qualquer
combinação das partes acima) 249
Ombro 234
Fonte: Comitê de Dados Abertos do INSS (BRASIL, 2020)
Vale ressaltar que durante a pandemia do Covid-19, o Supremo Tribunal Federal (STF) instaurou que alguns casos de trabalhadores infectados com Corona Vírus poderiam ser enquadrados como acidente de trabalho na classificação de doença ocupacional. Nesse âmbito, os frigoríficos se mostraram como detentores de casos da doença, visto que devido ao local ser fechado, com pouca circulação de ar e apresentar uma linha com vários funcionários, a situação se torna favorável à disseminação do vírus. No Sul, por exemplo, quase 11,5 mil funcionários de frigoríficos haviam se contaminado até julho deste ano e muitas empresas declararam surto do vírus. (SPERB; BARAN; TOLEDO, 2020)
As próximas etapas para este trabalho, o qual ainda está em situação de desenvolvimento, é estudar a NR 12 para adequar as máquinas aos processo de produção de carne, através de uma pesquisa aplicada a um frigorífico. Ademais, será necessário o compreendimento da NR 36 para integrar o processo de abate e processamento de carne ao trabalhador.
7. FONTES CONSULTADAS
ABIEC Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes. BEEF
REPORT: Perfil da Pecuária no Brasil. 2020. São Paulo, SP: ABIEC, 2020.
Disponível em: <http://abiec.com.br/publicacoes/beef-report-2020/>. Acesso em 17 de setembro de 2020.
ABIEC. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes. Exportações
de carnes bovinas encerram 2019 com recordes em volume e faturamento.
2020. Disponível em: <http://abiec.com.br/wp-content/uploads/Release-fechamento-2019_OK.pdf>. Acesso em: 26 de fevereiro de 2020.
BRASIL. Comitê de Dados Abertos do INSS. Comunicação de Acidente de
Trabalho – CAT. Brasília: Dataprev. 2020. Disponível em:
<https://dadosabertos.dataprev.gov.br/dataset/comunicacao-de-acidente-de-trabalho-cat>. Acesso em 09 de junho de 2020.
BRASIL. LEI Nº 8.213, DE 24 DE JULHO DE 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, DF. 1991.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em 13 de setembro de 2020.
Cazelli, L. O bem estar animal e seu efeito na qualidade da carne bovina. BEEFPOINT. 2012. Disponível em: <http://sites.beefpoint.com.br/mypoint/o-bem-estar-animal-e-seu-efeito-na-qualidade-da-carne-bovina/>. Acesso em 13 de setembro de 2020.
GALLI, A. et al. A importância da atualização das normas técnicas nas questões de saúde e a segurança dos trabalhadores. Revista Educação e Tecnologia, v. 11, 2011. Disponível em: <
http://revistas.utfpr.edu.br/pb/index.php/revedutec-ct/article/viewFile/1523/915 >. Acesso em: 13 de setembro de 2020.
GIL, A. C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2002.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. CONCLA - Comissão Nacional de Classificação: Brasília, DF. 2020. Disponível em:
<https://concla.ibge.gov.br/busca-online-cnae.html>. Acesso em 09 de junho de 2020.
SPERB, P.; BARAN, K.; TOLEDO, M. Ao menos 104 frigoríficos no Sul do país
registram contaminação de funcionários por Covid. Folha de S. Paulo, 2020.
VASCONCELLOS, M. C.; Pignatti, M. G.; Pignati, W. A. Emprego e Acidentes de
Trabalho na Indústria Frigorífica em Áreas de Expansão do Agronegócio, Mato Grosso, Brasil. In: Saúde Soc. São Paulo, v.18, n.4, p.662-672, 2009. Disponível
em: <https://www.scielo.br/pdf/sausoc/v18n4/10.pdf>. Acesso em 13 de setembro de 2020.