Franklin Joaquim Cascaes nasceu em 16 de outubro de 1908, na praia de Itaguaçu, no continente, bairro hoje pertencente ao município de Florianópolis, Santa Catarina. Filho de Joaquim Serafim Cascaes e Maria Catarina Cascaes, Franklin era descendente de açorianos; seus avôs paternos, inclusive, desenvolviam atividades típicas dessa cultura, como o trabalho na roça, a pesca, a produção de farinha e açúcar em engenhos e a criação de gado.
Seu pai achava que, por ser de família pobre, ele deveria trabalhar e não perder tempo indo para a escola. Foi por isso que Cascaes só começou a vida acadêmica perto de seus 20 anos e com 33, já se tornaria professor da Antiga Escola Industrial de Florianópolis. Essa carreira, aliás, durou por quase trinta anos.
Por volta de 1946, Franklin começou a realizar uma vontade antiga: percorrer a Ilha de Santa Catarina em busca de vestígios da cultura açoriana. Preencheu centenas de cadernos com histórias, rezas, hábitos e costumes tradicionais, sempre procurando respeitar o modo de falar do ilhéu. Mais tarde, dedicou-se à elaboração de peças de arte que retratavam histórias e personagens fantásticos, como as famosas bruxas.
Franklin Cascaes tentou expressar da melhor forma possível o que viu e o que sentiu enquanto trabalhava. Nas obras de temáticas místicas ele solta totalmente a imaginação criando um clima entre o impressionismo e o surrealismo. Os demônios símbolos da função negativa, as bruxas, assumem atitudes ameaçadoras e as mesmas metamorfoseiam-se nas coisas mais impensadas como pé de animais ou de pessoas, árvore, disco voador.
Sua obra é ao mesmo tempo conservadora e inovadora, ligada à tradição, mas com os novos elementos que surgem com o tempo. A inspiração da cultura popular vem dos acontecimentos corriqueiros. Franklin Cascaes trabalhava com a cultura do índio, do negro, do açoriano todos imigrantes que povoaram a Ilha de Florianópolis.
Franklin Cascaes faleceu em 15 de março de 1983, deixando toda a sua produção para o Museu de Arqueologia e Etnologia ou como também é conhecido Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral. Hoje, essa coleção leva o nome da esposa de Franklin, Elizabeth Pavan Cascaes, e conta com uma vasta biblioteca, produções audiovisuais, obras de arte, textos escritos à mão ou datilografados, correspondências, exemplares de jornais, entre outros.
Principais obras:
Contos• Balanço bruxólico;
• Nossa Senhora, o linguado e o siri;
• A Bruxa metamorfoseou o sapato do Sabiano; • Balé de mulheres bruxas;
• Mulheres bruxas atacam cavalos; • O Boitatá;
• Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.
Livros
• O Fantástico na Ilha de Santa Catarina (volumes 1 e 2); • 13 Cascaes.
Curiosidades:
1 - A obra de Cascaes hoje se encontra no Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral/UFSC. É composta de esculturas em argila
crua e gesso, sendo os adereços confeccionados em tecido, madeira, papel, metais, desenhos a bico de pena e grafite, e manuscritos.
2 - Os manuscritos compõem-se de 124 cadernos escolares pequenos, 22 cadernos grandes e 476 manuscritos em folhas avulsas e/ou agrupadas
numa quantidade máxima de 15 páginas, escritos à caneta esferográfica, caneta tinteiro e grafite. Também fazem parte desta coleção 114 documentos, entre os quais estão diários de classe, cadernos de recortes de jornais, provas de alunos, cadernos de aula, cadernos de visitas a exposições, cadernos de apontamentos de Elisabeth Pavan Cascaes.
3 - A produção de desenhos é composta por 1439 desenhos tombados em 941 suportes em papel, e em seus desenhos o artista abordou temas dos
mais variados. São trabalhos sobre a pesca, cultivos da mandioca, festas profanas e religiosas, arquitetura, bruxaria, boitatás, lobisomens, cotidiano, vendedores, mitologia marinha, processos políticos, especulação imobiliária.
4 - Franklin Cascaes frequentemente montava o presépio da Catedral e de outras igrejas e na Praça 15 de novembro.
5 - Cacaes dava vida as suas obras, em seus desenhos e esculturas é como que suas peças falassem, tudo estava em movimento, nenhuma figura
O Fantástico na ilha de Santa Catarina é a principal obra lançada de Franklin Cascaes, foi publicado originalmente em 1979.
O livro é dividido em 24 contos sobrenaturais que tem como foco principal a cultura açoriana da ilha de Santa Catarina. As histórias utilizam uma linguagem um tanto quanto engraçadas, as narrativas relatam casos dramáticos de crenças em figuras folclóricas como lobisomens, saci-pererê, e principalmente bruxas, que serviu de inspiração inclusive para o nome “ilha da magia”, pelo qual se conhece Florianópolis.
O livro também possui desenhos que retratam as lendas e superstições, em que o autor preserva uma linguagem fonética que busca retratar a fala cotidiana do povo.
O Fantástico na ilha de Santa Catarina releva também traços da cultura popular que misturam o lúdico, o profano e o religioso, tais como informações sobre as atividades de subsistência, a religião, os hábitos alimentares, entre outros costumes trazidos pelos colonizadores açorianos.
Os 24 contos escritos por Franklin Cascaes foram coletadas de relatos orais feitos pelo autor entre 1946 e 1976 pela ilha de Santa Catarina, cidades vizinhas e nas ilhas dos Açores, Madeira e Faial.
Nos dois volumes de O fantástico na ilha de Santa Catarina, Cascaes preserva os modos de dizer dos moradores da ilha para narrar os feitos das bruxas, as práticas das benzedeiras e o rico cenário de manifestações folclóricas que encontrou em suas andanças pela ilha. O livro possui um glossário da obra que ajuda a entender alguns termos utilizados no livro.
CUIDADO!!!!!
“Ninguém acredita em bruxas, mas que existem, toda gente tem absoluta certeza. Por isso, antes de falar nas bruxas, melhor é fazer uma oração de espanta-bruxedo para se proteger, pois falar de bruxa atrai a bruxa para si”. (Gelci José Coelho, mais conhecido como Peninha).
E, como um pouco de precaução não faz mal a ninguém, segue então:
A reza benzedeira para espantar bruxas
“Treze raio tem o sóli; Treze raio tem a lua; Sarta Diabo pro inferno; Que esta alma não é tua. Tosca marosca; Rabo de rosca; Vassoura na tua mão; Relho na tua bunda; E argulhão nos teus pés; Por riba do silvado; E por debaixo do telhado; São Pedro, São Paulo, São Frontista; Por riba da casa São João Batista; Bruxa tatara-bruxa; Tu não me entre nesta casa; Nem nesta comarca toda; Por todos os santos dos santos; Amém.”