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A ESCOLA AMERICANA PRESBITERIANA DE CURITIBA ( )

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Academic year: 2021

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A ESCOLA AMERICANA PRESBITERIANA DE CURITIBA (1892-1917)

Eneida Ramos Figueiredo1/USP

O presente trabalho, objetiva a elucidação do magistério feminino no cenário educacional em Curitiba, o papel educativo da mulher na Escola Americana Presbiteriana de Curitiba, fundada em 1892 pelas missionárias Mary Dascomb e Elmira Kuhl, iniciando suas atividades como filial da Escola Americana Presbiteriana de São Paulo.O Período foi delimitado considerando o inicio das atividades da escola em 1892 até a morte de suas fundadoras em 1917. Este trabalho não se estenderá a todo período de funcionamento da escola americana, pois está vinculado a minha pesquisa de doutorado “Missionárias Educadoras Protestantes: Mary Dascomb e Elmira Kuhl (1865-1917). Nesta pesquisa remeto-me ao resgate do papel educativo da mulher nas escolas protestantes, suas histórias de vida abordando aspectos pessoais e profissionais destas educadoras permeando o cotidiano escolar dos lugares onde exerceram o magistério - Brotas, Rio Claro, Botucatu, São Paulo e Curitiba – para apreciar o significado de ser professora protestante no cenário educacional brasileiro no final do século XIX e inicio do século XX e o legado educacional que elas deixaram para a educação nacional. É importante ressaltar que a localização destas escolas ocupava pontos estratégicos dentro do contexto sócio-político e econômico da província de São Paulo.

“ a Igreja Presbiteriana tinha ocupado os pontos do território paulista considerados chaves para uma ‘invasão evangélica’ : São Paulo, Campinas, Brotas, Lorena, ou seja, os grandes centros e as chamadas “ bocas- de- sertão” . (Barbanti, 1977, p.158).

O trabalho ancora-se em fontes secundárias e principalmente em fontes primárias: ofícios, fotos, cartas, relatórios, diários... Resgatando e construindo as trajetórias pessoais e profissionais das missionárias educadoras, suas atuações na educação e sociedade local através de vestígios e sinais referentes à temática Histórias de Vida, História das Mulheres e das Instituições Escolares inseridas no campo epistemológico da História da Educação Brasileira.

1 Trabalho financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo.

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O objetivo deste texto é de expor um esboço preliminar de articulações estabelecidas entre as leituras realizadas e parte das fontes primárias coletadas.Ressaltando que a abordagem não está completa, são apenas algumas interlocuções com as fontes, as quais, por tratarem da história de vida das mulheres que sofrem a omissão da história, da falta de dados, e na maioria das vezes estar em arquivos particulares, requerem uma dedicação mais específica e delicada dependendo da disponibilidade de seus proprietários, boa vontade e até mesmo a conquista da confiança dos mesmos.

Uma notável característica das missões norte-americanas foi o envio de missionárias-educadoras para atuar nas escolas presbiterianas. Essas missionárias, que já participavam ativamente na sociedade americana como educadoras, trouxeram uma bagagem de sólida formação acadêmica e métodos de ensino inovadores para a época, como o método intuitivo e a coeducação dos sexos, exercendo assim uma certa influência para modernização do sistema educacional brasileiro:

Quanto aos professores, a presença, desde o início das atividades escolares, de pessoal especializado para o magistério, credenciava os colégios protestantes americanos quanto à eficiência e seriedade de seu trabalho. Em particular, a vinda de “school marms”, professoras missionárias diplomadas nos estados Unidos e freqüentemente com vários anos de experiência no magistério público e particular, foi uma constante (Barbanti, 1977, p. 164).

As primeiras missionárias educadoras enviadas pela Junta de Missões Estrangeiras do Norte dos Estados Unidos foram Mary Dascomb e Elmira Kuhl, que possuíam formação pedagógica de nível superior e foram as que mais se destacaram no campo educacional no interior paulista e na região de Brotas:

Horace Manley Lane, do Mackenzie College afirmou que “a história da educação protestante no Brasil não pode ser escrita sem que a cada página venham estampados os nomes de Miss Mary e Miss Ella”. (Goldman, 1961, p.251-53).

Elmira Kuhl nasceu em Copper Hill, Nova Jersey, em 13 de janeiro de 1842. Formou-se professora e começou a lecionar em sua cidade natal, abrindo em 1870 uma escola particular que logo se tornou famosa. Aos 35 anos foi nomeada para o trabalho missionário no Brasil em 1874. Logo após sua chegada trabalhou na escola evangélica fundada pelo Reverendo J. F. Dagama, na cidade de Rio Claro (Presbitério, 1874). Em 1878, transferiu-se para São Paulo com o propósito de trabalhar na Escola Americana, ocupando o cargo de vice-diretora no internato de meninas anexo (Lessa, 1938, p. 153). No ano de 1886, Kuhl estava na

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direção do Internato de meninas localizado à rua São João nº 70 ( id. Ibid, p. 257). Nesse período conheceu e trabalhou com Mary Dascomb. Partiram para Curitiba no ano de 1892, com o intuito de dirigir uma filial da Escola Americana, o que fizeram por vinte e cinco anos. As duas educadoras passariam juntas boa parte de suas vidas e foram grandes amigas e companheiras nas missões educacionais:

Miss Kuhl (1842-1917) foi companheira inseparável de Miss Dascomb, companheiras na vida e na morte, ambas falecidas aos 75 anos. Exerceu a missão pedagógica no Brasil desde 1874, primeiro no Rio Claro e depois em São Paulo, Botucatu e Curityba. Foram heroínas da Escola Americana ( id. ibid., p. 122).

Mary Dascomb, filha de missionários e educadores, nasceu em 1842 em Province, Rhode Island. Concluiu seu curso universitário em 1860, no Oberlin College, cidade de Oberlin, Ohio, lugar em que passou sua infância e adolescência. Começou a lecionar em Joliet Illions, em Elyria e Canton, Ohio, sendo convidada a vir ao Rio de Janeiro como professora da família do cônsul norte-americano. Ai permaneceu por dois anos e meio, regressando depois aos Estados Unidos. Em 1868, a convite de Rev. Simontom, voltou ao Brasil como força missionária da Igreja Presbiteriana. Retornou aos Estados Unidos, por conta da doença de seus pais, permanecendo por quatro anos, até a morte destes; neste período lecionou na Welleley. Quando seus pais morreram, voltou novamente ao Brasil.

Em 1871, estava em São Paulo trabalhando na Escola Americana, ministrando aula mista a dez meninos e meninas (Lessa, 1938, p. 86). Ali permaneceu por pouco tempo, tendo logo que ir assumir a direção da Escola Paroquial de Brotas:

quando o Reverendo J. F. Dagama chegou a Brotas, no estado de São Paulo, (a 3ª igreja fundada no Brasil) em 1872 para ocupar o lugar do Reverendo R. Lenington, Miss Dascomb, moça de trinta anos já estava dirigindo a Mission School. Também prestou serviço em São Paulo, Botucatu, Rio Claro e no Rio de Janeiro (Goldman, 1961, p.253).

Em um relatório de 7 de agosto de 1874 Dagama informa que: “a escola de Rio Claro contava com 172 alunnos de ambos os sexos. Neste mesmo relatório relata a chegada de Elmira Kuhl a Rio Claro “fui a cidade do Rio de Janeiro para conduzir ao seu destino a Snrª Elmira Kuhl”(manuscrito, relatório João Fernandes Dagama, ao Presbitério do Rio de Janeiro, de 1874). Na Ata dos membros comungantes da Igreja Presbiteriana de Rio Claro do dia 20 de julho de 1873, consta adesão de Mary Dascomb e de Elmira Kuhl no dia 1º de novembro de 1874, confirmando as informações do relatório de Dagama de 1874.

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No ano de 1891, Dascomb encontrava-se em Botucatu dirigindo a escola paroquial, juntamente com Elmira Kuhl, Miss Nannie e Miss Hough (Lessa, 1938, p349).

È interessante observar que a escola de Botucatu foi fundada pelo reverendo Landes e foi dirigido por Mary no ano de 1891 e logo em seguintes os dois encontravam-se em Curitiba iniciando a Escola Americana de Curitiba. Esta é uma questão intrigante que pretendo pesquisar e analisar. Qual a ligação que se estabeleceu entre as duas escolas ou até mesmo se estavam formando uma rede de escolas ligadas a Escola Americana de São Paulo?

A Escola Americana de Curitiba foi fundada em 16 de janeiro de 18922, na rua Comendador Araújo nº 28, pelas missionárias educadoras protestantes norte-americanas Mary Parker Dascomb e Elmira Kuhl. Nas atas da Igreja Presbiteriana de Curitiba, organizada em 1º de julho de 1888 pelo reverendo G. A. Landes consta que, no dia 06 de novembro de 1892 o Reverendo Landes recebeu como membros, vindos da Igreja de São Paulo as missionárias educadoras Mary Parker Dascomb e Elmira Kuhl. Os Annais da Igreja da 1ª Igreja Presbiteriana de São Paulo confirmam que no ano de 1892 Dascomb e Kuhl iniciaram os trabalhos da Escola Americana de Curitiba ( Lessa, 1938, p.410).

Segundo o Pastor Oswaldo S. Emrich3 as missionárias chegaram em Curitiba no final do ano de 1891 com missão de fundar um colégio:

Por resolução da missão, vieram para Curitiba, no final deste ano (1891), com a finalidade de iniciar um colégio, as missionárias Miss Elmira Kuhl e Miss Mary P. Dascomb, notáveis educadoras, com passagem marcante pelas cidades do Rio de Janeiro, Brotas, Botucatu e São Paulo...Foram as pioneiras educadoras presbiterianas em Curitiba, fundadoras da Escola Americana local, projetando o seu nome e influência neste estado, na formação moral e intelectual e notáveis líderes da Cultura e política paranaense.

2 “Escola americana- sita a rua Comendador Araújo e fundada em 16 de janeiro de 1892, dirigida por pelas

professoras Mary Dascomb e Elmira Kuhl. Sua matrícula é de 150 alunnos, sendo do sexo masculino 50 e do feminino 100.” (Arquivo Público do Estado do Paraná, ref. 353.3, p. 23). Mas, segundo Geysa (2003, p,58), a Escola Americana foi fundada em 25 de janeiro de 1892. Esta é uma a ser comprovada ou refutada no decorrer da pesquisa.

3 Pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Curitiba que escreveu um trabalho ainda não publicado intitulado

“Histórico da Igreja presbiteriana de Curitiba. Primeiro centenário (1888-1988).” Hoje ele é responsável pelo arquivo histórico da Igreja, que me recebeu, fornecendo-me fontes muito importantes e dando-me importantes informações como a do arquivo particular da Escola Americana que encontrasse em poder da família do reverendo Belmiro César que comprou a Escola Americana em 1935. Embora já tenha estabelecido contatos amistosos com a família, ainda não consegui realizar pesquisa neste arquivo, que será realizada em breve de acordo com a disponibilidade de seus proprietários.

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A participação de Miss Dascomb e Miss Kuhl na Igreja Presbiteriana de Curitiba constituiu um dos marcos principais na consolidação e expansão da comunidade presbiteriana, principalmente pelo padrão de vida cristã que testemunharam às gerações que tiveram o privilégio de conviver com estas queridas irmãs (Emrich, 1988, 19).

No entanto, há uma contradição nas informações da data de chegada das missionárias em Curitiba e da fundação da Escola Americana, pois Henrique Hack afirma que as missionárias foram para Curitiba em janeiro de 1892:

Em 1892, duas professoras, Miss Kuhl e Miss Dascomb foram para Curitiba, em Janeiro, e fundaram uma escola, seguindo o sistema pedagógico da Escola americana de são Paulo. O começo foi coroado de êxito e conseguiram matricular 66 alunos. Durante 23 anos, as duas professoras administraram a escola, que se tornou uma fonte de irradiação da mensagem presbiteriana na cidade e circunvizinhança.” ( Hack, 2000, p. 42).

Está contradição nas informações das datas, será uma questão que pretendo responder, comparando informações fundamentadas em fontes oficiais.

No relatório apresentado ao SR. Caetano Alberto Munhoz, Secretario do Interior, Justiça e Instrução Publica pelo Dr. Victor Ferreira do Amaral e Silva, superintendente Geral do Ensino Publico do Estado em 1º de novembro de 1893 é relatado a “existência da Escola Americana dirigida pelas Exmas. Snras. D. Mary Dascomb e D. Elmira Kuhl.” (relatório apresentado ao SR. Caetano Alberto Munhoz, Secretario do Interior, Justiça e Instrução Publica pelo Dr. Victor Ferreira do Amaral e Silva, superintendente Geral do Ensino Publico do Estado em 1º de novembro de 1893, Arquivo Público do Estado do Paraná, ref. 353.3, p. 13).

A Escola Americana Presbiteriana de Curitiba iniciou suas atividades, como filial da Escola Americana Presbiteriana de São Paulo. No relatório de 31 de dezembro de 1900 realizado pelo Inspetor Octávio Ferreira do Amaral e Silva consta na Relação dos Colégios particulares de Curitiba: “Escola Americana- sita a rua Comendador Araújo e fundada em 16 de janeiro de 1892, dirigida pelas professoras Mary Dascomb e Elmira Kuhl. Sua matrícula é de 150 alunnos, sendo do sexo masculino 50 e do feminino 100.” (Arquivo Público do Estado do Paraná, ref. 353.3, p. 23).Podemos observar que o sexo feminino era a grande maioria, a causa deste fato é uma das questões que procurarei responder no decorrer da

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pesquisa. No relatório de 31 de dezembro de 1905 consta nos estabelecimentos de Ensino Particular que a “Escola Americana conta com 150 alunos” (Arquivo Público do Estado do Paraná, ref. 353.3, p. 41).Em 1906 contava com 180 alunos tendo como diretora Miss Elmira Kuhl (Arquivo Público do Estado do Paraná, nº 699, p. 14).

Julio Andrade Ferreira transcreve em seu Livro História da Igreja Presbiteriana do Brasil, vol.1, um boletim intitulado The Brazilian Bulletin,1989, que faz propaganda da Escola Americana, provavelmente escrita pelas missionárias, descrevendo sua estrutura e até aspectos do cotidiano escolar:

"Não quer você visitar a Escola Americana de Curitiba? Venha amanhã às nove horas de manhã e eu a mostrarei antes que ela se abra às nove e meia. Nossa casa, agora tão agradável, tem experimentado a vida, como aqui se diz. Um alemão construiu esse prédio para escola. É bem construído; tem, diferentemente de outras casas brasileiras, uma parte básica em que se vêem arcos bem fortes, que suportam o edifício. Serviu, tal construção, para sala de dança; foi, depois, usado para fábrica de sabão, de cuja situação suja e cheia de graxa a veio salvar miss Kuhl. Essa tarefa não foi nada fácil. Limpar, pintar, caiar as paredes foi simples em comparação com a drenagem de sujeira no quintal, e a reestruturação do mesmo e seu embelezamento, bem como a feitura do jardim. Os vizinhos, europeus, olhavam com suspeita a drenagem de canos. Podiam eles ter esgotos, por que não nós? Lógico que miss Kuhl logo ficou com calo de sangue na mão; mas com paciência imperturbável, amabilidade e firmeza foi ganhando a parada. Construiu uma varanda de incalculável valor para as garotas nos dias de chuva. A escada íngreme foi substituída por outra com patamar, de modo que as alunas tenham menos probabilidade de quebrar o pescoço. Nosso senhorio, alemão, está tão convencido de nossa conveniência como arrendatários que, embora a criançada se espalhe às centenas pela propriedade, ele é quase que o único senhorio na cidade que não tem aumentado o aluguel. O ano passado forrou três grandes salas com tábuas para evitar que alguém fosse morto por causa dos grandes pedaços de estuque que caíam inesperadamente.

Olhemos estas filas silenciosas de pequeninos simpáticos esperando no corredor para marcharem através da rua para o primário. O belo comportamento deles é devido a miss Effie Lenington que, com voz suave e maneiras mansas, realiza inexoravelmente tudo o que quer. Aqui vem uma pequena professora primária para conduzí-las, dona Maria Augusta. Ela é uma jóia. Perfeita como aluna, ela é a mesma como professora; uma firmeza otimista leva estes pequenos malandros a uma atividade em perfeita ordem.

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"Entremos na sala de visita. Não parece casa de morar? Os móveis são muito velhos; das nossas próprias casas. As paredes cheias de livros fazem-na muito atraente – as enciclopédias e outros livros velhos de nossos pais; alguns, porém, são novos, comprados aqui e outros mandados por amigos generosos de nossa pátria... Esta estante de revistas ilustradas e encadernadas serve muito para as aulas de geografia e para a sociedade missionária, como também para divertir e instruir as famílias que se reúnem aos sábados à noite para ensaiar os hinos. Veja a grande bandeira como 'portiere' no grande corredor. As estrelas e as listras (a bandeira americana) são a primeira coisa que se vê quando se entra em nossa casa.

"Percorramos as grandes salas de aula, altas, arejadas, bem iluminadas, enfeitadas com quadros interessantes, colhidos de muitos lugares. Da varanda podemos apreciar as brincadeiras no quintal. Olhemos o jardim além, com centenas de rosas, cravos, lírios de toda espécie, dálias, e outras maravilhas.

Quantas crianças vem cedo para a aula. Orgulho-me de seu zelo. Algumas vêm as sete horas, pois o estudo, em muitas casas é quase sempre impossível. Em nossa mesa de estudo, os grandes dicionários e livros de referência com espaço, tranqüilidade, e flores, fazem do estudo um prazer.

As classes intermediárias dirigidas por nossa admirável dona Bertha, formam-se em fila no salão nobre para tomar parte nos hinos, cânticos. Há uma marcha rápida...

"Vocês tem interesse de estudar as aulas? Alemão, com a graciosa e competente fraulein Mathilde; francês e português com o senhor Raposo. e inglês, matemática, histório, geografia...

Não estudam eles bem e não parecem bem espertos? Nosso estudo bíblico está a acabar agora. É o único ensino religioso que muitos deles recebem e não pode deixar de impressioná-los.

Depois do jantar, às 4 horas, as moças fazem rápido passeio; ou, se chover, um jogo de bola ou de sacos de feijão. Voltam às pressas para ouvir a leitura de algum livro dos clássicos. Depois, na grande sala de estudo, passasse a hora agradável, silenciosa, ocupada, em estudo das obrigações escolares, seguida de um chá e de uma noite grande de descanso. No inverno e no verão, levantamo-nos às seis horas: tomamos café, fazemos ginástica, temos vintes minutos para devoções pessoais, uma lufa-lufa para arrumarmos a casa toda muito bem." ( The Braziliam Bulletin, 1898, pág.116; apud, Ferreira, 1992, p. 524-526).

Geysa em sua dissertação de mestrado descreve a estrutura da Escola Americana de Curitiba, currículo, metodologia...E segundo a autora (2003, p.58):

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Inicialmente, seguindo a organização da escola matriz de são Paulo, o trabalho foi dividido em Três níveis: Primário, Intermediário e Secundário. O Primeiro semestre foi iniciado com matrícula de 55 alunos, sendo 5 deles internos. No segundo semestre, a matrícula subiu para 70 alunos.a escola adquiriu rápida projeção em Curitiba (2003, p. 59)

O mobiliário da escola era procedente de Nova York distinguindo-a das demais escolas de Curitiba. O material utilizado na escola também era oriundo dos Estados Unidos, contrastando com a falta e a precariedade dos materiais das escolas da época, conferindo a escola americana à imagem de renovada:

As paredes cheias de livros fazem-na muito atraente- as enciclopédias e outros livros velhos de nossos pais, alguns, porém, são novos, comprados aqui, e outros mandados por amigos generosos de nossa pátria...Esta estante de revistas ilustradas e encadernadas serve muito para as aulas de geografia e para a sociedade Missionária, como também para divertir e instruir as famílias que se reúnem aos sábados à noite para ensinar os hinos. (The Braziliam Bulletin, 1898, apud Ferreira, 1992, p,525).

O corpo docente da escola, segundo Geysa, quando iniciou suas atividades era composto por membros da Igreja:

O Primário estava sob a supervisão da Srta. Bella Carvalhosa, filha do Pastor da Igreja de Curitiba. No primeiro semestre, o Intermediário e o Secundário foram reunidos sob os cuidados de Miss Dascomb, auxiliada pelo Reverendo Modesto Carvalhosa, como professor de Português, e pelo Dr. Custódio T. Raposo, também membro da Igreja, como Professor de Francês. No segundo Semestre, com o aumento de matrículas, uma nova turma foi aberta e uma professora, a D. Castorina Ramires, foi contratada para trabalhar sob a supervisão imediata de Miss Kuhl. Mary Dascomb, além de supervisionar a Escola Secundárias, lecionava, álgebra, História Sagrada, História Universal, Inglês e Português, e ainda encarregava de traduzir histórias e outras lições para o Português (2003, p.32-3).

As matérias, do curso primário, compreendiam o ensino de: Leitura, caligrafia, aritmética (as quatro operações fundamentais); história sagrada, história natural (equivalente a ciências), alemão, francês, desenho, lições de coisas, ginástica, trabalhos manuais e poesia.

Escola Americana de Curitiba adotava padrões de racionalização, assim como as outras escolas presbiterianas, havia uma preocupação em se padronizar, a medida do possível, as escolas adotando o mesmo modelo de organização pedagógica, mesmo calendário

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escolar, livros didáticos, padronização das normas disciplinares. Seguia a orientação e organização da escola matriz de São Paulo. Inicialmente o trabalho foi dividido em três níveis: primário, intermediário e secundário. As lições eram graduadas e progressivas, adotavam uma estrutura seriada, seguindo o modelo do ensino intuitivo, considerado a base do ensino moderno.

Assim como na Escola Americana de São Paulo, o ensino era ministrado em português. No entanto, alguns alunos ingressavam sem saber falar a língua portuguesa, como os italianos, poloneses e principalmente os alemães, pois em suas casas falava-se apenas a língua de seu país de origem. Para resolver este problema e atrair mais alunos alemães a escola passou a ofertar no primeiro ano do curso primário as mesmas aulas ministradas em alemão, adequando as disciplinas à sua clientela. Nas pequenas escolas paroquiais (Figueiredo, 2001), ou nos grandes colégios de ensino secundário (Barbanti, 1977), a pedagogia era voltada para formar seus alunos para a vida prática, transmitindo conhecimentos científicos, morais e práticos para uma vida de trabalho honrado e honesto. A metodologia ministrada fundamentava-se no método intuitivo, científico e prático, que já era utilizado nos Estados Unidos. A aplicação do método intuitivo para o ensino da leitura e escrita envolviam a utilização de diversos recursos materiais, tais como: o quadro negro, letras impressas em papelão para a manipulação das crianças, a lousa individual, livros de leitura, jornais, entre outros. O princípio fundamental do ensino era a proposição de atividades que visassem estimular e desenvolver os sentidos, educando os olhos, o ouvido, o tato,... Nos relatórios pastorais, consta que a Brazil Mission fornecia livros para serem utilizados nas aulas.

A formação acadêmica, a metodologia trazida dos Estados Unidos pelas missionárias somando com as experiências acumuladas em suas trajetórias pelas escolas paroquiais e grandes colégios no Brasil, serão questões que vão direcionar as próximas abordagens. Outra questão pertinente que observei é a pouca informação sobre Elmira Kuhl, destacando-se sempre a atuação de Mary Dascomb deixando Elmira em segundo plano, nos bastidores. Isto estaria relacionado à formação acadêmica? A personalidades diferentes? Experiências ou aptidões?...

Mary Dascomb era cheia de energia e possuía uma conversa cativante. Versada na literatura moderna e nos grandes movimentos mundiais, emitia

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opiniões positivas sobre temas sociais, literários, políticos e pedagógicos. Tinha um coração expansivo e generoso. Elmira Kuhl era calma, quieta, mas alegre, muito paciente e reservada em suas opiniões, mas firme em conservá-las tenazmente. Com grande prudência e mansidão, diligente e conscenciosa em seu trabalho, metódica e sistemática em negócios, possuía grande capacidade administrativa e uma determinação inabalável (Matos, 1998, p.106 ).

A atuação das missionárias como diretoras, professoras no cotidiano escolar e contribuições para o desenvolvimento do ensino, do ser professora protestante, das práticas educativas e do cotidiano escolar, adquire relevância por possibilitar a elucidação do magistério feminino e de sua importância histórica no cenário educacional Curitibano no final do século XIX e inicio do século XX, resgatando o legado educacional que deixaram para a educação da região. Essas duas notáveis mestras que nasceram no mesmo ano (1842), faleceram ambas aos 75 anos em 1917, Mary Dascomb em Curitiba e Ella Kuhl em Nova York, antes que a notícia da morte de uma pudesse alcançar a outra viva.

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RELATÓRIO apresentado ao Sr. Caetano Gilberto Munhoz. D.D.Secretário do Interior, Justiça e Instituição Pública pelo Dr. Victor Ferreira do Amaral e Silva Superintendente geral do Ensino Público do Estado em 1º Novembro de 1893. ref. 353.3 – 2223 – 1893 – 1894 Arquivo Público do Estado do Paraná.

RELATÓRIO Apresentado ao ilustre cidadão Caetano Gilberto Munhoz D.D. Secretário do Interior, Justiça e Instituição Pública Pelo Dr. Victor Ferreira do Amaral e Silva Superintendente Feral do Estado em 29 de Setembro de 1894. ref. 353.3 – 2223 – 1893 – 1894 Arquivo Público do Estado do Paraná.

RELATÓRIO Apresentado ao Sr. Caetano Gilberto Munhoz D.D. Secretário do Interior, Justiça e Instrução Pública pelo Dr. Victor Ferreira do Amaral e Silva Superintendente Geral do Ensino Público do Estado em 1º de Novembro de 1893. ref. 353.3 – 2223 – 1893 – 1894 Arquivo Público do Estado do Paraná.

RELATÓRIO.Apresentado ao Exmo. Sr.Dr. José Pereira Santos Andrade Governador do Estadodo Paraná pelo Bacharel Antônio Augusto de Carvalho Chaves Secretário dos Negócios do Interior, Justiça e Instrução Pública em 1º de Setembro de 1897.pág. 13 a 19. ref. 353.3 – 2223 – 1893 – 1894 Arquivo Público do Estado do Paraná.

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RELATÓRIO apresentado pelo Inspetor Escolar da capital ao Exmo. Sr. Dr. Diretor Geral da Instrução Pública em 31 de Dezembro de 1905. ref. 353.3 – 2223 – 1893 – 1894 Arquivo Público do Estado do Paraná.

RELATÓRIO apresentado ao Governador do Estado Exmo Sr. Dr. Francisco Xavier da Silva, pelo Dr. Octávio Ferreira do Amaral e Silva – ref.353.3. p.223 – 1900 – p. 22, 23 e 24 .

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