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TERCEIRIZAÇÃO: avanço ou retrocesso?

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Academic year: 2021

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TERCEIRIZAÇÃO: avanço ou retrocesso?

Maria Alice de Carvalho Sousa1 Ingrid Stephanie de Sousa2 Irislândia Pereira de Sousa Lima3 Brenda Belisário Rodrigues4 Maurício Silva Martins5

RESUMO: A terceirização é uma prática profissional, da qual o objetivo é a redução de custos e “melhoria” da qualidade de prestação de serviços e bens. É notável a crescente flexibilização das relações de trabalho no país. Foi apenas no início da década de 1990 que se instituiu por intermédio do Enunciado n. 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), a previsão de terceirização para atividades-meio e, em 1998 foi proposto o Projeto de Lei n. 4.302/98, cuja previsão da extensão da terceirização às atividades-fim foi incorporada, em 2004, ao Projeto de Lei n. 4.330/04. A pesquisa realizada tem como objetivo desenvolver uma reflexão acerca da terceirização contida na Lei 13.429/2017 (antigo PL 4.302/1998) que regulamenta a prática da terceirização de atividade-fim e as relações de trabalho dela sequentes, considerando o momento atual, no qual têm debates acerca dos impactos, bem como as possíveis vantagens e desvantagens para a classe de trabalhadores. A metodologia utilizada para realização desse trabalho foi através de pesquisas bibliográficas, legislação, doutrina e jurisprudência trabalhista. O resultado da pesquisa mostra um retrocesso aos direitos e garantias conquistados pela classe trabalhadora, uma vez que em relação à terceirização ainda necessita de muita atenção jurídica, tanto para as empresas, quanto para os trabalhadores.

Palavras-chave: Terceirização. Trabalhadores. Lei 13.429/2017. 1 INTRODUÇÃO

Atualmente, as empresas adotaram uma espécie de discurso único visando tornarem-se mais competitivas. Neste panorama de crise e de desafios impostos pela abertura da economia brasileira e pela globalização, as empresas pretendem conquistar seu espaço no mercado mundial. E para obter o esperado sucesso empresarial no mercado, se utilizam de algumas estratégias como a terceirização (LEIRIA, 2006).

1

Discente do IV período diurno, do curso de Direito, do Instituto de Educação Superior Raimundo Sá. (maria-alice04@hotmail.com)

2 Discente do VI período diurno, do curso de Direito, do Instituto de Educação Superior Raimundo Sá. (ingridstephanie13@hotmail.com)

3

Discente do IV período diurno, do curso de Direito, do Instituto de Educação Superior Raimundo Sá. (limairislandia179@gmail.com)

4 Discente do IV período diurno, do curso de Direito, do Instituto de Educação Superior Raimundo Sá. (brendalara0711@gmail.com)

5 Discente do IV período diurno, do curso de Direito, do Instituto de Educação Superior Raimundo Sá. (mauricio10martins@hotmail.com)

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A terceirização aparece como uma das formas de flexibilização trabalhista, tendo como objeto, uma forma estratégica de gestão capaz de garantir essencialmente a redução de custos e o aumento do lucro. Sendo assim, a presente pesquisa tem como objetivo apresentar o fenômeno da terceirização, analisando o Projeto de Lei 4.330/04, e o Projeto de Lei nº 4.302/98 levantando questionamentos quanto a este modelo de contratação. O Projeto de Lei que libera a terceirização para todas as atividades da empresa (PL 4.302/98) foi aprovado pelo presidente Michel Temer em março deste ano. A principal mudança prevista pela lei é a possibilidade das empresas contratarem funcionários terceirizados para atividades-fim, isto é, a principal área de atuação de um local. Até o momento, a terceirização só era permitida em atividades-meio, ou seja, aquelas que contribuem para a realização das tarefas de outros funcionários.

O instituto da terceirização é o resultado transitório de um processo dinâmico de enfrentamentos, entre o individuo e a coletividade, que reflete a coexistência de tendências e contra tendências, identificáveis a partir da compreensão dos mecanismos gerativos operantes em uma realidade objetiva diferenciada e estratificada, fortemente influenciada por conhecimentos e práticas prévias de construção social (BHASKAR, 1979; 2014; HAMLIN, 2000; FLEETWOOD, 2004; O’MAHONEY e VINCENT, 2014).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A TERCEIRIZAÇÃO: surgimento e características Segundo Sergio Pinto Martins (2012, p. 8)

Terceirização deriva do latim tertius, que seria o estranho a uma relação entre duas pessoas. Terceiro é intermediário, o interveniente. No caso, a relação entre duas pessoas poderia ser entendida como a realizada entre o terceirizante e o seu cliente, sendo que o terceirizado ficaria de fora dessa relação, daí, portanto, ser terceiro. A terceirização, entretanto, não fica restrita a serviços, podendo ser feita também em relação a bens ou produtos. Consequentemente, a terceirização consiste na contratação de terceiros para a realização de determinadas atividades que não estão integradas como objeto principal das empresas, ou seja, quando uma empresa em vez de executar seus serviços diretamente com seus empregados, contrata outra empresa, para que esta realize com seus funcionários sob sua responsabilidade, podendo ser compreendida tanto para produção de bens como de serviços. Entretanto faz-se necessária a distinção da terceirização da atividade e a terceirização da mão de obra, a primeira diz respeito à empresa e a segunda diz respeito ao serviço.

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A terceirização surgiu como uma forma de dinamizar e especializar os serviços nas empresas, trata-se de uma determinada ―contratação que vai agregar a atividade-fim de uma empresa, normalmente a que presta os serviços, à atividade-meio de outra.(MARTINS, 2015, p. 10).

Mauricio Godinho Delgado (2015, p. 473), consigna em seus ensinamentos que:

Para o Direito do Trabalho terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a relação econômica de trabalho da relação jus trabalhista que lhe seria correspondente. Por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo produtivo do tomador de serviços sem que se estendam a este os laços jus trabalhistas, que se preservam fixados com uma entidade interveniente. A terceirização provoca uma relação trilateral em face da contratação de força de trabalho no mercado capitalista: o obreiro, prestador de serviços, que realiza suas atividades materiais e intelectuais junto à empresa tomadora de serviços; a empresa terceirizante, que contrata este obreiro, 19 firmando com ele os vínculos jurídicos trabalhistas pertinentes; a empresa tomadora de serviços, que recebe a prestação de labor, mas não assume a posição clássica de empregadora desse trabalhador envolvido.

A terceirização se diferencia do contrato de trabalho por ser compreendida como em sua forma de relação triangular, já o contrato de trabalho possui natureza bilateral, firmado apenas entre empregado e o empregador. Segundo Sergio Pinto Martins ―A natureza da terceirização é de um contrato de prestação de serviços. A terceirização não tem natureza trabalhista, mas é uma forma de gestão da mão de obra, em decorrência muitas vezes da reestruturação da empresa. (MARTINS, 2015, p. 12)

A terceirização está caracterizada em diversos aspectos, todos definidos pela jurisprudência através da Súmula 331 do TST, que estabelece quais são as hipóteses em que a pratica de terceirização será permitida no país. Dividida em terceirização lícita e terceirização ilícita. Entretanto, é necessário estabelecer uma distinção entre elas, para que assim, haja uma complementação da Súmula 331 do TST.

Assim, Sergio Pinto Martins (2015, p. 160) distingue que:

A terceirização legal ou licita é a que observa os preceitos legais e relativos aos direitos dos trabalhadores, não pretendendo fraudá-los, distanciando-se da existência da relação de emprego. A terceirização ilegal ou ilícita é a que se refere a locação permanente de mão de obra, que pode dar ensejo a fraudes e a prejuízos aos trabalhadores.

A terceirização licita é composta por quatro grandes grupos. Em primeiro lugar, diz respeito às atividades-meio e atividade-fim do tomador. Conforme preconiza Mauricio Godinho (2015, p. 489):

Atividades-fim podem ser conceituadas como as funções e tarefas empresariais e laborais que se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, compondo a essência dessa dinâmica e contribuindo

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inclusive para a definição de seu posicionamento e classificação no contexto empresarial e econômico. São, portanto, atividades nucleares e definitórias da essência da dinâmica empresarial do tomador de serviços. Por outro lado, atividades-meio são aquelas funções e 20 tarefas empresarias e laborais que não se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador de serviços, nem compõem a essência dessa dinâmica ou contribuem para a definição de seu posicionamento no contexto empresarial e econômico mais amplo. São, portanto, atividades periféricas à essência da dinâmica empresarial do tomador dos serviços.

O trabalho temporário é uma modalidade de terceirização expressamente prevista pela Lei nº 6.019/74, que serve para atender a substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços, como no trabalho temporário. (Súmula 331, I)

2.2 IMPACTOS DA LEI 13.429/2017 (ANTIGO PL 4.302/1998) PARA OS TRABALHADORES

Em 23 de março de 2017, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 4.302/1998, alterando dispositivos da Lei nº 6.019, de 1974, que trata do trabalho temporário em empresas urbanas e dispõe sobre as relações de trabalho nas empresas de prestação de serviços a terceiros. Em 31 de março, o projeto foi sancionado com três votos pela presidência da República, tornando-se a Lei 13.429/2017.

O debate em torno da regulamentação da terceirização vinha sendo discutido na sociedade brasileira e no Congresso Nacional desde 2011, por meio, principalmente, do Projeto de Lei 4.330/2004. A regulamentação da terceirização foi integrada às alterações da Lei 6.019/1974, que se tornou o Projeto de Lei 4.302/1998, onde o objetivo inicial era tratar apenas do trabalho temporário. Esse é o primeiro destaque ao se analisar a Lei 13.429/2017. Devido à relevância e complexidade do tema e aos diversos impactos, a regulamentação da terceirização deveria ser tratada em lei específica, cujo conteúdo tentasse abarcar os diversos elementos envolvidos nas relações entre contratantes e terceiros, entre os terceiros e os empregados e entre a contratante e os terceirizados.

A “Lei da Terceirização” alterou alguns dispositivos da lei de 1974 e acrescentou outros artigos dispondo sobre o serviço terceirizado:

“Art. 4º A. Empresa prestadora de serviços a terceiros é a pessoa jurídica de direito privado destinada a prestar à contratante serviços determinados e específicos.

§ 1o A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para realização desses serviços.

§ 2o Não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante.”

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Ocorre a quarteirização quando a empresa contratada subcontrata outras empresas para prestar os serviços. Antes não havia regras prevendo essas situações. Agora, a lei expressamente autoriza a subcontratação de outras empresas que serão responsáveis pela contratação, remuneração e direção do trabalho (Art. 4º A, § 1º). Pela nova lei, exceto nos casos de trabalho temporário, a regra é a invalidade da existência de subordinação e de reconhecimento de vínculo empregatício. (Art. 4º A, § 2º)

“Art. 4º B. São requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros:

I - prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ); II - registro na Junta Comercial;

III - capital social compatível com o número de empregados, observando-se os seguintes parâmetros:

a) empresas com até dez empregados - capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais);

b) empresas com mais de dez e até vinte empregados - capital mínimo de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais);

c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados - capital mínimo de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais);

d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados - capital mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais); e

e) empresas com mais de cem empregados - capital mínimo de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).”

Os requisitos exigidos são imprecisos e insuficientes, antes não havia regulamentação sobre a exigência de capital social mínimo. A nova lei estabeleceu exigências de capital social mínimo conforme a quantidade de empregados.

“Art. 5ºA. Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços determinados e específicos.

§ 1o É vedada à contratante a utilização dos trabalhadores em atividades distintas daquelas que foram objeto do contrato com a empresa prestadora de serviços.

§ 2o Os serviços contratados poderão ser executados nas instalações físicas da empresa contratante ou em outro local, de comum acordo entre as partes. § 3o É responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou local previamente convencionado em contrato.

§ 4o A contratante poderá estender ao trabalhador da empresa de prestação de serviços o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado.

§ 5o A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciárias observará o disposto no art. 31 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991.”

A lei autoriza que pessoa física terceirize os serviços que ela presta. Nesse caso, uma pessoa jurídica poderia terceirizar um serviço que presta para uma empresa contratante,

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resultando numa cadeia quase sem fim de subcontratações que dificultará a fiscalização do cumprimento da legislação trabalhista, fiscal e previdenciária. Com isso, aumentará em grande quantidade o risco de fraudes, de sonegação, precarização e comprometimento da qualidade dos produtos e serviços. Em relação à equiparação das condições de trabalho entre os terceirizados e os trabalhadores próprios, a Lei menciona que isso é apenas uma faculdade da contratante e estabelece a responsabilidade subsidiária da contratante pelas obrigações trabalhistas relacionadas ao contrato de prestação de serviços durante o período em que ele vigorar.

“Art. 5º B. O contrato de prestação de serviços conterá: I - qualificação das partes;

II - especificação do serviço a ser prestado;

III - prazo para realização do serviço, quando for o caso; IV - valor.”

Não se prevê garantias contratuais, entre elas, comprovação periódica, pela prestadora de serviços, da quitação de obrigações previdenciárias e trabalhistas. Também não se instituem mecanismos para verificar e/ou assegurar a quitação mensal da folha de pagamentos pela contratada.

“Art. 9º. O contrato celebrado pela empresa de trabalho temporário e a tomadora de serviços será por escrito, ficará à disposição da autoridade fiscalizadora no estabelecimento da tomadora de serviços e conterá:

I - qualificação das partes;

II - motivo justificador da demanda de trabalho temporário; III - prazo da prestação de serviços;

IV - valor da prestação de serviços;

V - disposições sobre a segurança e a saúde do trabalhador, independentemente do local de realização do trabalho.

§ 1o É responsabilidade da empresa contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o trabalho for realizado em suas dependências ou em local por ela designado.

§ 2o A contratante estenderá ao trabalhador da empresa de trabalho temporário o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela designado.

§ 3o O contrato de trabalho temporário pode versar sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a serem executadas na empresa tomadora de serviços.”

Antes, apenas eram passíveis de terceirização serviços de vigilância, limpeza e conservação, além dos serviços especializados ligados a atividade-meio do tomador. Agora, qualquer atividade empresarial pode ser terceirizada (atividades inerentes, acessórias ou complementares da empresa tomadora)

“Art. 19 A. O descumprimento do disposto nesta Lei sujeita a empresa infratora ao pagamento de multa.

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Parágrafo único. A fiscalização, a autuação e o processo de imposição das multas reger-se-ão pelo Título VII da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1o de maio de 1943.” “Art. 19 B. O disposto nesta Lei não se aplica às empresas de vigilância e transporte de valores, permanecendo as respectivas relações de trabalho reguladas por legislação especial, e subsidiariamente pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943.”

“Art. 19 C. Os contratos em vigência, se as partes assim acordarem, poderão ser adequados aos termos desta Lei.

A Lei exclui as empresas de vigilância e transporte de valores, mas não deixa claro se as regras se estendem ou não ao setor público e ao trabalho doméstico. Esse vácuo normativo traz insegurança jurídica para empresas e trabalhadores, limita a penalidade por descumprimento de cláusulas contratuais ao pagamento de multa pela prestadora de serviços, mas não estabelece parâmetros para fixação da penalidade, caso esteja em vigor um contrato de prestação de serviços, a adesão às regras estabelecidas na Lei 13.429/2017 é facultativa, “se as partes assim acordarem”.

Até então, a terceirização era regulada na Súmula 331 do TST e condenava a terceirização na atividade-fim da empresa. Alice Monteiro de Barros (2010, p. 453) afirma:

Tanto a Justiça do Trabalho como o Ministério Público não têm medido esforços no combate à terceirização de serviços ligados à atividade-fim da empresa fora dos limites traçados pela Súmula n. 331 do TST. Entre os malefícios da terceirização em atividade-fim das empresas encontram-se a violação ao princípio da isonomia, a impossibilidade de acesso ao quadro de carreira de empresa usuária dos serviços terceirizados, além do esfacelamento da categoria profissional.

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada para realização desse trabalho foi através de pesquisas bibliográficas, legislação, doutrina e jurisprudência trabalhista.

4 RESULTADOS

Em prejuízo dos princípios constitucionais, da moralidade e da impessoalidade previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, não há dúvida que a aprovação da lei 13.429/2017 em sua terceirização sem limites precariza as relações de trabalho.

Valdete Souto Severo em seu artigo intitulado como ―Terceirização o perverso discurso do mal menor (2015, p. 9), que:

Os impactos da terceirização são muitos e de várias ordens. A começar pelo fato de que a terceirização quebra a noção de relação de trabalho, que tanto a Constituição quanto a CLT albergam e que qualificam como uma relação

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entre dois sujeitos: empregado e empregador. Esse disfarce permite uma quebra da própria noção de proteção e estimula a fraude (hoje já verificada) na contratação de pessoas como se fossem empresas (a chamada Pejotização).

A maioria dos empreendedores tem a terceirização como uma alternativa eficaz de flexibilização empresarial, trazendo maior qualidade, produtividade, competitividade ao mercado e maiores satisfações para os clientes em geral. A terceirização possui seus pontos positivos e negativos, porém, as empresas que se utilizam corretamente da terceirização obtêm mais vantagens do que desvantagens, desde que respeitem as normas legais vigentes.

A seguir mencionam-se as vantagens da terceirização, sob o aspecto administrativo (empregador) e sob o empregado:

Em primeiro lugar a busca de alternativas para o melhoramento da qualidade do produto e do serviço vendido para a satisfação dos clientes e da produtividade, necessitando assim de uma maior especialização nos serviços a serem prestados que resultaria na obtenção de um controle de qualidade total dentro da empresa. Tendo os administradores como objetivo básico, a diminuição dos encargos trabalhistas e previdenciários, além da redução do preço final do produto ou do serviço prestado. Assim como, redução dos custos fixos desde que não comprometa a qualidade do produto ou do serviço, onde eliminara os desperdícios gerando eficiência e eficácia; destinação dos recursos para empresas de tecnologia para criação de novos produtos; a diminuição do espaço ocupado na empresa melhorando as condições de segurança e saúde, tanto dos empregados como do material, reduzindo assim, acidentes no trabalho e, em consequência, proporcionando um mecanismo de proteção ao próprio trabalhador. (MARTINS, 2012, p. 32)

Sobre as desvantagens relativas à terceirização sob o aspecto administrativo, são motivos:

[...] a não continuação das atividades prestadas a uma determinada empresa, devido à rotatividade dos empregados; independência entre a empresa contratada e a terceirizada, quando há escassez na capacitação operacional; dificuldade na consolidação de parcerias entre as empresas; burocracia na formalização dos contratos; desrespeito com os direitos trabalhistas; conservadorismo e resistência; lide entre os sindicatos; custo dispendioso nas demissões; fornecedores sem a qualificação desejada. (MARTINS, 2012, p. 33) Sob o aspecto do trabalhador, é possível apontar as vantagens e desvantagens oriundas da terceirização: Como vantagens, pode-se destacar a implementação do sonho de adquirir e trabalhar em seu próprio negócio, deixando de ser empregado para ser patrão; independência na prestação de serviços; motivação para produzir, tendo em vista que o negócio é seu e o desenvolvimento do seu lado empreendedor, ou seja, a produção de algo por conta própria. (MARTINS, 2012, p. 34)

Diante disso, é preciso perceber que qualquer redução de direitos sociais implica, em última análise, piora das condições sociais de vida da maior parte da população, o que significa retroceder em relação ao projeto de sociedade que temos previsto na constituição de

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1988, promover um retrocesso que certamente terá custos históricos que hoje sequer conseguimos projetar integralmente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aprovação da lei 13.429/2017 apesar de sua contribuição e importância, tem sido insuficiente para regular uma matéria tão complexa, sobretudo diante das pressões realizadas pelos setores patronais, que enxergam a terceirização como modalidade adequada aos atuais padrões de competitividade existentes no mercado e lutam por sua liberação difusa.

Os movimentos sociais e as centrais sindicais vêm se manifestando contra, elencando vários prejuízos que a terceirização trará aos seus direitos historicamente conquistados, dentre eles: a possibilidade de redução salarial, abolição da equiparação salarial, benefícios concedidos através de acordos e convenções coletivas de trabalho, enfraquecimento dos sindicatos, maior dificuldade de reinserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, aumento das possibilidades de fraudes, prejuízo à saúde e segurança do trabalhador, além disso, uma política efetiva para geração de empregos depende da economia aquecida e da redução dos encargos sociais sobre a folha de pagamento – situação que não está abrangida na nova lei.

Portanto, com qualquer forma de precarização nas relações de trabalho, seja na terceirização de atividade-meio ou atividade-fim. No âmbito público ou privado, implicaria o retrocesso social que a Constituição Federal coíbe. A função do Estado é zelar pelo devido cumprimento da Constituição.

Porém, aceitar formas de terceirização ilícita implica aprovar o retrocesso social, aumentando os males provocados pela interferência de terceiros na exploração da força de trabalho.

REFERÊNCIAS

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Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm. Acesso em 06 de maio, 2017.

BRASIL. Súmula 331 do TST. Dispõe sobre Contrato de prestação de serviços. Disponível em: . Acesso em 06 de maio, 2017.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho – Recurso de Revista (TST, RR 226/89.3, Ac. 1ª T., 2.608/89). Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br. Acesso em 29 de abril de 2017.

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BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho – Recurso de Revista (TST-RR- 261242/96.4). Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br. Acesso em 29 de abril de 2017.

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015. GRUNWALD, Astried Brettas. Terceirização: a flexibilidade em prol do desenvolvimento jurídico-social. Disponível em: www.jus.com.br. Acesso em 30 de abril de 2017.

JUNIOR, José Cairo. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. Revista, ampliada e atualizada. Bahia, 2015.

Lei nº 13.429, de 31 de março de 2017. Disponível em:

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LEIRIA, Jerônimo Souto. Gestão da Terceirização & Gestão de Contratos Porto Alegre: Leiria & Pietzsch Editora Ltda.,2006.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

MARTINS, Sergio Pinto. A terceirização e o Direito do Trabalho. 12. ed. rev. E ampl. - São Paulo: Atlas, 2012.

MARTINS, Sérgio Pinto. A Terceirização e o Direito do Trabalho. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2014.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 27. ed. Ver e atual. São Paulo: LTr, 2001.

PEREIRA, Leone. Terceirização – Aspectos atuais e polêmicos. Revista dos Tribunais, São Paulo, 2015 Disponível em Acesso em: 01 de maio de 2017.

SEVERO, Valdete Souto. Terceirização: o perverso discurso do mal menor. Disponível em Acesso em: 30 de abril de 2017.

VIANA, Marcio Túlio. A Terceirização Revisitada: Algumas Críticas e Sugestões Para o Tratamento da Matéria. In: Revista do Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo:

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ZYLBERSTAJN, Hélio. Promover os Terceiros Para Ser os Primeiros. ÉPOCA, São Paulo, ed. nº 879, pp. 70-72.

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