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A Escola e o Abuso Sexual Infantil

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¹ Pedagoga pelo Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé - UNIFEG.

² Psicóloga pela PUC-Campinas,SP. Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Docente do Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé - UNIFEG.

A Escola e o Abuso Sexual Infantil

Paula Fernanda Arena Silva¹ paula.arena@yahoo.com.br

Malu Alves de Souza² malusouza@oi.com.br

Resumo

Este artigo discorre sobre a sexualidade infantil, enfatizando os limites entre atitudes naturais e abusivas, e destaca a importância em capacitar profissionais que contribuam para as ações da escola frente ao abuso sexual infantil, no sentido de prevenção e esclarecimento a todos os alunos, encaminhamento e providências cabíveis da instituição aos que estão sendo ou já foram vítimas de abuso. Procura, também, elucidar a parte legal e fornecer estatísticas sobre o tema proposto, na perspectiva de Williams (2009), Sanderson (2008) e outros estudiosos das problemáticas que envolvem as crianças, por meio de uma pesquisa teórica.

Palavras- chave

Abuso Sexual; Escola; Sexualidade Infantil

Introdução

O presente artigo propõe o fortalecimento do papel da escola em relação ao abuso sexual infantil, o principal objetivo refere-se ao foco da instituição escolar como um local propício para orientação, detecção, encaminhamento e apoio à criança abusada sexualmente. O tema foi escolhido com a finalidade de compreender a necessidade e a importância de sua abordagem no âmbito

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2 escolar, ao conceber a instituição escolar e seus professores como elementos integrantes da vida da criança, com a função de orientá-la e acompanhá-la durante sua permanência na instituição.

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizada uma pesquisa bibliográfica e teórica, que tem como principal objetivo conhecer e analisar as diferentes contribuições científicas, seguindo a metodologia de Baffi (2002) que define a pesquisa teórica como um ato dedicado a reconstruir teorias, conceitos, ideias, com o objetivo de aprimorar fundamentos teóricos. Buscou-se analisar diferentes abordagens e visões sobre sexualidade, abuso sexual infantil e escola, tais como Freud (1926), Suplicy (1983), Brino (2003), Shaffer (2005). Elaborado a partir de leituras, o artigo aborda a sexualidade infantil, e também compreende o trabalho e a responsabilidade da escola frente ao abuso sexual infantil, dando ênfase aos subsídios que os educadores e a escola possuem para lidar com a questão proposta.

O Desenvolvimento da Sexualidade na Criança

Constitui-se em um equívoco pensar que a pulsão sexual somente manifesta-se na fase da puberdade do ser humano, ausentando-se durante a sua infância (Freud, 1926). A sexualidade infantil inicia seu desenvolvimento a partir dos primeiros dias de vida de uma criança, despertada pelo prazer dos primeiros contatos com a mãe, e segue se manifestando de acordo com sua interação com o meio, relações familiares e a cultura na qual está inserida, de diferentes modos, como a exploração de seu próprio corpo e observação do corpo de outras pessoas, alterando-se a cada fase de sua infância. A sexualidade de uma criança relaciona-se com seu desenvolvimento emocional e perdura de seu nascimento até a fase da puberdade (LDB,1997).

O desenvolvimento da sexualidade faz parte das etapas comuns na vida de uma criança. Muitos pais e professores não se sentem à vontade para conversar e responder as perguntas sobre sexo com os pequenos, muitas vezes por medo, constrangimento ou até mesmo por fatores culturais (SANDERSON, 2004).

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3 Porém, como fontes de exemplos para as crianças, devemos, não só ter atitudes positivas em relação ao seu corpo e a sua sexualidade, como também fornecer informações adequadas para um entendimento saudável sobre o assunto. Para proteger e prevenir que uma criança sofra abuso sexual é necessário fazê-la entender e conhecer a sexualidade, adaptando o tema de acordo com sua idade e desenvolvimento (SHAFFER, 2005).

Segundo Suplicy (1983), criar um ambiente no qual a criança perceba que a sexualidade não é assunto proibido, de maneira saudável e natural, é de suma importância para que estas se sintam à vontade para perguntar.

Criança que tem idade para perguntar, tem idade para ouvir a resposta. Não faz mal se não entender toda a resposta. Você estabelece um clima que permitirá a ela perguntar de novo. Quando você responde a uma pergunta sobre sexo, é mais importante o jeito como você transmite (voz, postura) do que o que você fala. .(SUPLICY, 1983, p.36)

A escola não deve ser a única a abordar temas como a educação sexual com crianças, pois existem referências que consideram que somente a família pode fazê-lo e a escola deve atuar como uma instituição continuadora dessas referências, prestando informações mais completas a respeito da sexualidade, esclarecendo e corrigindo as possíveis distorções acerca do tema que estas podem ter (SUPLICY,1983).

Apesar de alguns profissionais escolares tentarem ignorar, ocultar ou reprimir a sexualidade nas crianças, baseados na idéia de que o tema deva ser tratado exclusivamente por suas famílias, e fora do âmbito escolar, é inevitável aceitarem que manifestações sexuais afloram em todas as faixas etárias (PCN, 1997). Além disso, professores com o preparo adequado são facilitadores da informação e como a finalidade consiste em transmitir à criança informações corretas sobre sexualidade, estes devem relacionar o sexo a um ato de afeto, que implica em respeito mútuo, responsabilidade e prazer (SUPLICY,1983).

Os temas sexuais, ao serem tratados juntamente com a criança, devem ser discutidos sob orientação e acompanhamento dos profissionais da educação, já que a descoberta da sexualidade não pode ser seguida de uma inibição sexual, mas sim de acompanhamento e explicação por parte do professor e da escola, pois seu desenvolvimento acarretará em aspectos sociais e cognitivos. A educação é o meio mais eficaz para orientar e preparar a criança para a vida social posterior.(DONIZETE, 2010, p.11)

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4 Para que uma criança possa desenvolver sua sexualidade de modo sadio e sem traumas, faz-se necessário que o professor assuma sua responsabilidade de auxiliar no processo de desenvolvimento da mesma, levando a ela conhecimentos saudáveis e naturais no que diz respeito à sexualidade (DONIZETE, 2010).

A Caracterização do Abuso Sexual Infantil e as Penalidades Cabíveis

Diversas obras literárias e artigos científicos definem e caracterizam o abuso sexual infantil. Essas definições vão desde falas eróticas ou sensuais que envolvam um ou mais adultos e um ou mais menores de dezoito anos de idade, até chegar ao estupro seguido de morte (FORWARD e BUCK, 1989)

Segundo Sanderson (2008), existem quatro principais categorias de abuso que uma criança pode sofrer que são, respectivamente, o abuso físico, o abuso emocional, a negligência e o abuso sexual.

Abreu e Phebo têm uma definição bastante utilizada atualmente no Brasil para definir o abuso sexual infantil:

Situação em que uma criança ou adolescente é usada para gratificação sexual de um adulto, baseado em uma relação de poder que pode incluir desde carícias, manipulação de genitália, mama ou ânus, voyeurismo, pornografia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem utilização de violência física.(ABREU E PHEBO apud WILLIAMS e ARAÚJO, 2011, p.22)

Nos dias atuais, as crianças passaram a ser consideradas sujeitos de direitos, que se desenvolvem e merecem proteção integral, conceito esse que foi introduzido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, e nos aspectos judiciais trouxe um novo enfoque e um considerável avanço. (CRAMI, 2002)

O estatuto da criança e do adolescente defende, em vários trechos, a preservação e o respeito integral à criança, como podemos constatar nos artigos 17 e 18 da mesma que dispõe:

Art. 17º – O direito ao respeito que consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,

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abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, doa valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais;

Art. 18º – É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ECA, 1990)

O Brasil ainda mantém muitas falhas em seu sistema de leis no que se refere às penalidades cabíveis ao abusador sexual de crianças e adolescentes. Por não possuir uma lei específica contra tal criminoso (CRAMI, 2002), o que podemos observar são referências ao crime na Constituição Federal, no artigo 227, que designa à família o dever de assegurar as necessidades básicas de sobrevivência de uma criança colocando-a a salvo de negligência, exploração e violência, entre outros, sob ameaça de “punir severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente” (Constituição Federal, 2008). Já o Código Penal enquadra o abusador de menores em três crimes, que são: Artigo 218: corrupção de menores (pena de um a quatro anos de reclusão); Artigo 214: Atentado violento ao pudor (pena de seis a dez anos de reclusão); e Artigo 213: Estupro (pena de seis a dez anos de reclusão), e precedido de morte da vítima (pena de 12 a 30 anos de reclusão) (CÓDIGO PENAL, 1940).

Abuso Sexual Infantil – Os Sintomas e a Responsabilidade da Escola

Por volta dos anos 80, com a crescente preocupação de pais e professores acerca de riscos relacionados à relação sexual, aumentou a demanda por orientação sexual no âmbito escolar. Tema antes considerado desconfortável pela maioria dos pais e responsáveis de alunos, atualmente, passou a ser reivindicado pelos mesmos, tanto pelo reconhecimento de sua importância na vida de uma criança, como também pela dificuldade que esses pais tem de falar acerca do tema abertamente com seus filhos em casa.(PCN,1997)

[...] considerou o envolvimento da instituição educacional como lugar de cuidado integral à criança, não se restringindo apenas à educação formal, ou seja, a adoção de uma visão ampliada de educação, na medida em que extrapola o papel de transmissora de conhecimentos e além do de formadora de valores, assume, adicionalmente, um papel de proteção à criança trabalhando em sintonia com as leis brasileiras de

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proteção à infância e à adolescência (BRASIL,2004 apud WILLIAMS E ARAÚJO,2009, p124)

O crescente movimento dos direitos da criança e da preocupação com sua saúde física e mental são a origem de um interesse cada vez maior a respeito de abuso sexual infantil por parte dos profissionais envolvidos. (Furniss apud Amazarray e Koller,1998). Mas, infelizmente, o que observamos é um despreparo generalizado e tratamento inadequado nos casos de abuso sexual infantil que envolve todos esses profissionais, sejam eles da área de saúde, educadores e juristas, o que obviamente se estende às instituições escolares, hospitalares e jurídicas (CRAMI,2002).

O trabalho de Orientação Sexual também contribui para a prevenção de problemas graves como o abuso sexual e a gravidez indesejada. As informações corretas aliadas ao trabalho de autoconhecimento e de reflexão sobre a própria sexualidade ampliam a consciência sobre os cuidados necessários para a prevenção desses problemas. Finalmente pode-se afirmar que a implantação de Orientação Sexual nas escolas contribui para o bem-estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura. (PCN, 1997)

Apenas algumas palavras presentes no artigo nº 245, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), já evidenciam o tipo de providência que um professor, gestor ou responsável por menores deve tomar ao se deparar com uma suspeita ou confirmação de abuso sexual infantil, assim como as consequências de sua omissão do fato:

Art. 245º. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus tratos contra criança ou adolescente: Pena- multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. (WILLIAMS e ARAÚJO, 2009 p.23)

A escola é uma das principais instituições consideradas ideais para detecção, intervenção e encaminhamento em casos de abuso sexual infantil, visto que casos de abuso fora do âmbito familiar da vítima são minoria (Flores,1998). Porém, para que a escola possa ser de grande valia nesse tipo de intercorrência, é essencial que professores sejam capacitados e informados com relação aos conhecimentos básicos, legislação referente ao tema e direitos da criança e do adolescente. Todo esse preparo é fundamental, pois há relatos de crianças cada vez menores sendo abusadas, fato constatado após pesquisas que comprovaram

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7 que, do primeiro contato sexual até a revelação do abuso, decorre muito tempo (WILLIAMS E ARAÚJO, 2009).

Um dos fatores de dificuldade na percepção da violência é a própria vítima conseguir relatar esse abuso por, em determinada idade, não possuir ainda condições cognitivas e verbais para contar o que sofreu. Portanto, profissionais treinados identificariam mais precocemente os indícios de abuso e poderiam intervir a tempo de minimizar os danos causados por ele (BRUNO, WILLIAMS, 2003).

A omissão e/ou conivência por parte do professor pode caracterizar-se como um crime tanto quanto o próprio abuso sexual, como especifica o artigo quinto do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, ECA, 1990)

A violência por abuso sexual geralmente não deixa marcas físicas, mas professores sensíveis aos sintomas comumente apresentados pela criança abusada podem adiantar o diagnóstico desses casos (Brino e Williams, 2003). A essa sensibilidade damos o nome de “feeling”, no sentido de percepção, impressão associada à afetividade (CRAMI, 2002).

Geralmente, crianças que foram abusadas apresentam diversos problemas sérios, entre eles: dificuldades acadêmicas, ansiedade emocional e relações conturbadas com professores e pares. Além do agravante que, quando abusada física e sexualmente, a tendência da criança é ir mal na escola e em alguns casos, por consequência da hostilidade e agressão sofridas, essa criança pode vir a criar problemas no âmbito escolar (BAGLEY et al apud SHAFFER, 2005).

É comum que a criança abusada tente comunicar a violência de algum modo, seja ele sutil, com alteração de comportamento ou de suas manifestações artísticas (SANDERSON, 2004) até chegar a um modo de expressão mais agressivo e sexualizado como masturbação em público e introdução de objetos em suas partes íntimas (SHAFFER, 2005). Já as crianças menores costumam contar histórias em que o abuso está envolvido, usando de instrumentos como

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8 fantoches, bonecos, ou mesmo dando maior ênfase ao tema em suas brincadeiras espontâneas. (CRAMI, 2002).

Embora um único distúrbio emocional não indique que a criança sofre o abuso sexual, vários sinais combinados observados em uma criança podem ser motivo de preocupação. Estes estão agrupados nas seguintes categorias: 1-Efeitos Emocionais; 2- 1-Efeitos Interpessoais; 3-1-Efeitos Comportamentais; 4-Efeitos Cognitivos; 5-4-Efeitos Físicos e 6-4-Efeitos Sexuais. Cada uma dessas categorias é caracterizada pelos sintomas representados. Professores atentos e preparados conseguem absorver esses sinais como indício de perturbação à criança que o demonstra, como a quebra da barreira do silêncio comumente causada por ameaças, apavoramento, constrangimento ou culpa por parte da vítima (SANDERSON, 2004).

Alguns desses sintomas são exemplificados no conjunto de sinais indicativos abaixo:

- Comportamento agressivo, mau desempenho escolar, raiva, fuga da escola, vergonha excessiva, perturbações no sono, medo do escuro, poucas relações com colegas ou companheiros, mudança no apetite. - Práticas de delito, tendências suicidas, depressões, toxicomania, alcoolismo, prostituição infanto juvenil, gravidez precoce.

- Regressão ao estado de desenvolvimento anterior.

- Comportamento sexual inadequado para a sua idade. Sendo que a criança e o adolescente apresentam conhecimento ou comportamento sexual, não compatível ao seu desenvolvimento infantil.

- Medo de certa pessoa, de ficar sozinha em algum lugar ou com alguém. - Não quer mudar de roupa em frente a outras pessoas.

- Dor ou inchaço, lesão ou sangramento nas áreas genitais ou anais, infecções urinárias, secreções vaginais ou penianas, baixo controle dos esfíncteres, erupções na pele, vômitos e dores de cabeça sem qualquer explicação médica. Pode apresentar DSTs (Doenças Sexualmente transmissíveis), sêmen na boca, genitais e roupa. (CRAMI,2002 p.48)

A Escola e a Prevenção do Abuso Sexual em Crianças

O ambiente escolar é apenas um dos órgãos que devem atuar no campo de prevenção ao abuso sexual infantil, por este se tratar de um “problema multidisciplinar e que requer a estreita atenção e cooperação de uma ampla gama

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9 de diferentes profissionais e com diferentes tarefas” (FUMISS, 1993 apud AMAZARRAY e KOLLER, 1998).

Trabalhar com toda a comunidade também é uma boa alternativa, visto que prevenção e segurança das crianças é uma responsabilidade que todos os adultos devem compartilhar e ter como prioridade. O abusador não é um monstro enviado de outro planeta, ele é produto da sociedade e é ela toda que deve assumir a responsabilidade por ambos, autor e vítima do abuso sexual. (SANDERSON, 2004)

Atualmente, a realidade escolar, no que diz respeito a programas de prevenção acerca do abuso sexual infantil, é desesperadora. Simplesmente não há registros no Brasil de programas dessa espécie (Williams e Brino,2009). O que pudemos observar recentemente foi uma iniciativa do Governo Federal, que editou e distribuiu um guia escolar para o corpo docente, que auxiliaria na identificação dos sinais do abuso e exploração sexual infantil, porém ainda não foi vinculado ao material nenhum programa específico para auxílio na sua interpretação, deixando-a a critério dos profissionais que viriam a utilizá-lo (BRINO e WILLIAMS, 2003).

Um treinamento adequado aos profissionais de educação acerca do abuso sexual em crianças constituiria- se em quatro componentes básicos:

Apresentar informações básicas sobre o abuso sexual, ressaltar a severidade do problema, apresentar estratégias efetivas de prevenção e apresentar métodos para detecção e manejo de casos de abuso sexual.(BEHANA E KOBLINSKY, 1984 apud BRINO E WILLIAMS, 2003, p.2)

Todos esses quatro componentes têm o intuito de garantir que as ações e os procedimentos corretos sejam adotados por esses profissionais em caso de denúncia e encaminhamento do abuso. Como quinto componente, porém não menos importante, seria fundamental incluir nas capacitações o conhecimento integral dos aspectos legais, no caso do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRINO E WILLIAMS, 2003).

Programas de educação sexual dentro do âmbito escolar são certamente uma boa maneira de alertar as crianças acerca de atitudes propícias de um abusador, pois estas estarão mais informadas a respeito de toques inapropriados

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10 e outros avanços sexuais que podem vir a sofrer. Além disso, esse tipo de iniciativa cria vínculos entre a criança e a escola, dando aos alunos maior confiança em contar algo que tenha sofrido para o seu professor. (SHAFFER, 2005)

Atitudes ultrapassadas como o medo de conversar com crianças sobre abuso sexual e ideias inadequadas sem nenhum conhecimento adquirido precisam ser contestadas e substituídas por conhecimentos mais acurados, para que a sociedade e a equipe escolar movam-se da comum atitude de reação para a prevenção acerca do tema em questão. O acesso ao conhecimento correto e a capacitação de professores fazem com que estes capacitem crianças a prevenir o abuso sexual em si próprias. (SANDERSON, 2004) Segundo Williams e Araújo (2009), um programa de prevenção completo para levar uma criança ao conhecimento e a habilidade de se proteger incluiria materiais impressos, dramatizações, leituras, discussões e material audiovisual, além de conceitos concretos e o envolvimento de exposição comportamental.

Os pais podem, efetivamente, ensinar a pré-escolares habilidades necessárias, além de reconhecer e responder a gestos sexuais inapropriados. Entretanto, pais de crianças pré-escolares precisam de consultoria e encorajamento por profissionais para terem uma instrução completa. Adicionalmente ao envolvimento da pré-escola, programas envolvendo a família também, precisam ser desenvolvidos e avaliados. Os programas que combinem a instrução de professores e dos pais, incluindo as estratégias de exposição comportamental e modelos, parecem demonstrar maior efetividade. (WURTELE e COL.,1991: WURTELE e COL.,1992 em WILLIAMS E ARAÚJO,2009, p115)

Em uma capacitação em que o tema é abordado, consideram-se três níveis de prevenção ao abuso sexual, que são respectivamente: o papel dos profissionais e de toda a sociedade envolvida na prevenção; o papel do educador frente aos casos de abuso sexual e os procedimentos do professor diante de suspeitas ou casos confirmados, baseando-se no ECA e efetivando os devidos encaminhamentos (WILLIAMS E ARAÚJO, 2009).

É cada vez mais evidente a necessidade de implantar programas com profissionais comprometidos e ligados aos serviços de prevenção ao abuso sexual, pela acessibilidade destes às famílias da criança, além do fator econômico, como constatou-se ser mais viável investir em ações preventivas, que tem como base programas escolares, do que com os gastos com atendimento

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11 clínico para as vítimas do abuso, assim como atendimento a seus familiares, até a reabilitação dos próprios agressores.

Uma das justificativas para considerarmos a escola como instituição ideal para detecção e intervenção de casos de abuso sexual é a proximidade que esta tem com as crianças, além do considerável tempo que interage com as mesmas. Uma prova do papel vital do educador em casos de denúncia de violência sexual contra crianças, foi a constatação de que em 44% dos casos analisados, o professor era o primeiro a saber, e em 52% dos casos analisados, o educador foi o primeiro adulto a saber (BRINO E WILLIAMS, 2003). Isso demonstra o benefício de iniciativas de projetos dessa natureza nas escolas, junto ao envolvimento de educadores como agentes de prevenção, em que o resultado é a ocorrência da revelação do abuso pela criança.

Crianças que Sofrem ou já Sofreram Abuso Sexual – Qual o Papel da Escola?

Assim como é importante que professores tenham capacitação para entender e prevenir o abuso sexual infantil, é também de suma importância que esses mesmos professores sejam devidamente instruídos para reconhecer sinais de abuso sexual em crianças, pois quanto mais cedo o problema é identificado, menores as chances do sofrimento da vítima aumentar e maior a certeza de que ela receba a ajuda necessária (SHAFFER, 2005) .

Um estudo feito por Brino e Williams (2003) mostrou que os professores apresentam-se como uma das profissões menos capacitadas e informadas no que se refere ao abuso de crianças e após pesquisa e estudos com os mesmos, chegou-se à conclusão de que a maioria deles não possui o domínio das informações contidas no ECA, pois ao serem questionados sobre as atitudes cabíveis a eles após detectarem sinais de abuso, somente 15,8% fariam o que prevê o ECA, a denúncia. Em contraposição, a maioria desses mesmos educadores demonstraram possuir capacidade para relatar ao menos um

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12 comportamento apresentado pela criança sexualmente abusada. Acredita-se que o acesso a outras fontes de informação como livros, artigos e cursos preencheriam um pouco da lacuna criada na formação e no acesso à informação dos professores (BRINO E WILLIAMS, 2003).

Professores que reconhecem os sinais do abuso precisam também conhecer a maneira correta de relatar o fato aos órgãos legais cabíveis e às instituições apropriadas de proteção á criança e ao adolescente. (Shaffer,2005).Por se tratar de um tema sigiloso e extremamente delicado, deve haver por parte da escola, o encaminhamento aos profissionais sensíveis ao assunto e devidamente capacitados a lidar com ele. (CRAMI,2002) Capacitações adequadas devem trabalhar também com os educadores suas principais dúvidas sobre como fazer a denúncia; quais os procedimentos corretos para esta; quais as consequências e o que ocorre com a vítima após a denúncia e, caso esta não seja feita, o que pode acontecer com a criança. (WILLIAMS E ARAÚJO, 2009)

Ainda hoje, existem professores que ocultam suas denúncias acerca de abuso sexual, atitude que estes justificam por desconforto ou conflitos emocionais, pedido de sigilo pela própria criança, falta de informação quanto ao procedimento a ser adotado pela polícia, até receio sobre o nível de informações que possuem e o medo da reação da família da vítima (BRINO e WILLIAMS, 2003)

Considerações Finais

Baseado nas informações apresentadas, concluiu-se que a sexualidade faz parte do desenvolvimento natural do ser humano, desde a sua primeira infância. Assim, faz-se necessário instruir a criança para que ela saiba diferenciar e identificar os limites entre a sua própria curiosidade em relação ao seu corpo e o de outras pessoas, das atitudes consideradas suspeitas, desrespeitosas e abusivas, tanto daquelas que partem da criança para os demais, quanto das de outras crianças, jovens e/ou adultos contra essa criança e seu corpo.

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13 Dentre todas as instituições pelas quais uma criança passa, a escola mostra-se como a que possui maior oportunidade para orientação, descoberta e apoio à criança em relação ao abuso sexual, devido a relevância do papel que desempenha na vida de uma criança. Aliado a seus principais objetivos, os quais destacam-se a transmissão de informações seguras por meio da credibilidade e confiança conquistadas com seus alunos, a instituição escolar pode oferecer segurança quando quiserem tirar suas dúvidas e falar sobre qualquer assunto, inclusive abuso sexual.

Vale ressaltar que, para que este objetivo seja alcançado com êxito, é fundamental que os profissionais e toda a equipe escolar possuam a devida qualificação e informação a respeito do assunto em questão.

A resposta para os nossos questionamentos, em todos os sentidos, leva-nos a um único caminho: a educação. Não somente no âmbito escolar, mas em tudo o que engloba o ser humano, em toda a sua essência e com resultados positivos por toda sua vida.

Referências:

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