ESTADO DO PIAUÍ
CÂMARA MUNICIPAL DE TERESINA
PALÁCIO SENADOR CHAGAS RODRIGUES Assessoria Jurídica Legislativa
Av. Marechal Castelo Branco, 625 – Bairro Cabral – 64000-810 – Teresina (PI) CNPJ nº 05.521.463/0001-12
1 PARECER AJL/CMT Nº 064/2013
Teresina (PI), 05 de abril de 2013.
Assunto: Projeto de Lei Ordinária nº 053/2013 Autor: Ver. Teresa Britto
Ementa: “Institui a obrigatoriedade de manutenção de equipes de brigada profissional,
composta por bombeiro civil, nos estabelecimentos que esta lei menciona, no âmbito do Município de Teresina, e dá outras providências”.
Conclusão: Parecer favorável.
I – RELATÓRIO:
A insigne Vereadora Teresa Britto apresentou Projeto de Lei que “Institui a obrigatoriedade de manutenção de equipes de brigada profissional, composta por Bombeiro Civil, nos estabelecimentos que esta lei menciona, no âmbito do Município de Teresina, e dá outras providências”.
Em sua justificativa, a autora ressalta a importância do Bombeiro Civil Profissional como um componente essencial na segurança contra incêndio, bem como para a consecução da proteção à vida, ao meio ambiente e ao patrimônio em geral, deixando o Corpo de Bombeiros livre para as ações comunitárias.
É, em síntese, o relatório.
Seguindo nova sistemática do processo legislativo e por orientação e provocação do Departamento Legislativo, esta Assessoria Jurídica Legislativa foi instada a emitir parecer jurídico.
II – DA NOVA SISTEMÁTICA NO PROCESSO LEGISLATIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DE TERESINA E A POSSIBILIDADE DE MANIFESTAÇÃO DA ASSESSORIA JURÍDICA LEGISLATIVA:
Ab initio, impende salientar que a emissão de parecer por esta Assessoria Jurídica Legislativa não substitui o parecer das Comissões especializadas, porquanto essas são
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2 compostas pelos representantes do povo e constituem-se em manifestação efetivamente legítima do Parlamento. Dessa forma, a opinião jurídica exarada neste parecer não tem
força vinculante, podendo seus fundamentos serem utilizados ou não pelos membros desta Casa.
De qualquer sorte, torna-se de suma importância algumas considerações sobre a possibilidade e compatibilidade da nova sistemática adotada para o processo legislativo no âmbito desta Casa de Leis de Teresina.
A Resolução Normativa n°. 036/2011, a qual dispõe sobre as atribuições dos Assessores Jurídicos Legislativos, assim estabelece em seu art. 9º, §1º, inciso I:
Art. 9° Ficam criados 05 (cinco) cargos de Assessor Jurídico Legislativo,
privativos de bacharéis em Direito, dentro do Quadro Efetivo de Pessoal da Câmara Municipal de Teresina, a serem providos na forma do que dispõe o art. 37, I e II, da Constituição Federal e 75, I e II, da Lei Orgânica do Município de Teresina.
§1° São atribuições dos Assessores Jurídicos Legislativos:
I – emitir pareceres, por escrito, das proposições que tramitam no
Departamento Legislativo, quando lhes forem solicitados, bem como,
prestar assessoria e consultoria à Presidência, Mesa Diretora e as Comissões Permanentes e Especiais;[...] (grifo nosso)
Assim sendo, a referida Resolução estabelece expressamente a possibilidade de emissão de parecer escrito sobre as proposições legislativas, exatamente o caso ora tratado.
A sistemática ressalte-se, não é exclusividade de Teresina, sendo adotada por diversas outras Câmaras Municipais brasileiras.
Ainda assim, a opinião técnica desta Assessoria Jurídica Legislativa é estritamente jurídica e opinativa, não podendo substituir a manifestação das Comissões Legislativas especializadas, pois a vontade do Parlamento deve ser cristalizada através da vontade do povo, aqui efetivada por meio de seus representantes eleitos. E são esses mesmos representantes que melhor podem analisar todas as circunstâncias e nuances (questões sociais e políticas) de cada proposição.
Por essa razão, em síntese, a manifestação deste órgão de assessoramento jurídico, autorizada por norma deste Parlamento Municipal, serve apenas como norte, em caso de concordância, para o voto dos edis mafrenses, não havendo substituição e obrigatoriedade
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3 em sua aceitação e, portanto, não atentando contra a soberania popular representada pela manifestação dos Vereadores.
III – ADMISSIBILIDADE:
Inicialmente, observa-se que o projeto está redigido em termos claros, objetivos e concisos, em língua nacional e ortografia oficial, devidamente subscrito por sua autora, além de trazer o assunto sucintamente registrado em ementa, tudo na conformidade do disposto nos arts. 99 e 100, ambos do Regimento Interno da Câmara Municipal de Teresina - RICMT.
Observa-se, ainda, que a autora articulou justificativa escrita, atendendo ao disposto no art. 101 da mesma norma regimental.
A distribuição do texto também está dentro dos padrões exigidos pela técnica legislativa, não merecendo qualquer reparo.
Destarte, nenhum óbice de ordem técnico-formal existe, daí porque merecer a matéria toda consideração da edilidade no tocante a tais aspectos.
IV - ANÁLISE SOB O PRISMA LEGAL E CONSTITUCIONAL:
De relevo absolutamente indiscutível é a matéria proposta, posto que realmente necessária a existência do Bombeiro Civil Profissional como um componente essencial na prevenção e combate a incêndio, promovendo, por conseguinte, a proteção à vida, ao meio ambiente e ao patrimônio em geral.
Nesse sentido, a Lei nº 11.901/2009, a qual dispõe sobre a profissão de Bombeiro Civil e dá outras providências, define o referido profissional, em seu art. 2º, como aquele que, habilitado nos termos desta Lei, exerça, em caráter habitual, função remunerada e exclusiva de prevenção e combate a incêndio, como empregado contratado diretamente por empresas privadas ou públicas, sociedades de economia mista, ou empresas especializadas em prestação de serviços de prevenção e combate a incêndio.
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4 A necessidade do aludido profissional justifica-se, portanto, em virtude do desaparelhamento e da quantidade insuficiente de homens no Corpo de Bombeiros do Estado do Piauí, somada à inexistência de hidrantes na estrutura de nossa Capital para utilização nos casos de incêndios e outros desastres naturais. Constata-se, assim, o interesse local apto a justificar a competência do Município para legislar sobre a matéria ora tratada.
Insta ainda ressaltar que a proposição legislativa em análise, a qual visa instituir no âmbito do Município de Teresina a obrigatoriedade de manutenção de equipes de Brigada Profissional compostas por Bombeiros Civis nos estabelecimentos especificados em seu bojo, não configura intervenção indevida na iniciativa privada, haja vista que o presente projeto de lei objetiva assegurar o interesse da coletividade, aqui materializado no direito à segurança.
Sobre o tema, o art. 170, caput, da Constituição da República prevê o seguinte:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (grifo nosso)
Não se trata, portanto, de interferência desarrazoada por parte do Estado, uma vez que esse não gera encargos excessivos à iniciativa privada de modo a dificultar ou mesmo inviabilizar o setor econômico. A intervenção do Estado pauta-se na proteção do interesse coletivo, estando direcionada a realizar a justiça social.
Como bem esclarece Dirley da Cunha Júnior, em sua obra “Curso de Direito Constitucional”:
A partir da Constituição de 1934, todas as demais Constituições brasileiras pautaram-se pela positivação de uma ordem econômica essencialmente intervencionista, adjetivada pela proteção do interesse coletivo e direcionada para o mesmo fim: realizar a justiça social. (CUNHA JÚNIOR,
Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 3ª ed. Juspodivm, 2009). (grifo nosso)
No mesmo sentido, Dirley da Cunha Júnior e Marcelo Novelino afirmam o seguinte: Como modo de garantir uma ordem econômica que assegure a todos existência digna e a efetividade dos princípios da atividade econômica, a Constituição consagrou entre nós um modelo de Estado intervencionista, capacitando-o a intervir na ordem econômica sempre que necessário ao bem-estar social e à concretização daqueles valores. (CUNHA JÚNIOR,
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Dirley da; NOVELINO, Marcelo. Constituição Federal para Concursos. 3ª ed. Juspodivm,2012. p. 862) (grifo nosso)
Corroborando tal entendimento, tem-se ainda o julgado proferido pelo Supremo Tribunal Federal – STF, na ADI nº 1.950/SP, in verbis:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 7.844/92, DO ESTADO DE SÃO PAULO. MEIA ENTRADA ASSEGURADA AOS ESTUDANTES REGULARMENTE MATRICULADOS EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO. INGRESSO EM CASAS DE DIVERSÃO, ESPORTE, CULTURA E LAZER. COMPETÊNCIA CONCORRENTE ENTRE A UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS E O DISTRITO FEDERAL PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO. CONSTITUCIONALIDADE. LIVRE INICIATIVA E ORDEM ECONÔMICA. MERCADO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA. ARTIGOS 1º, 3º, 170, 205, 208, 215 e 217, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.
1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1988 define opção
por um sistema no qual joga um papel primordial a livre iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais.
2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global normativo para o Estado e para a sociedade, informado pelos preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170.
3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela
empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem pertinente apenas à empresa.
4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto [artigos 23, inciso V, 205, 208, 215 e 217 § 3º, da Constituição]. Na composição entre esses princípios e regras há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público primário.
5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de complementar a formação dos estudantes.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (Processo:ADI 1950 SP; Relator(a): Eros Grau; Julgamento: 02/11/2005; Órgão Julgador: Tribunal Pleno) (grifo nosso)
Portanto, estando em perfeita harmonia com o comando normativo pátrio supramencionado, merece o projeto de lei em comento toda consideração da edilidade teresinense.
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6 V – CONCLUSÃO:
Por essas razões, esta Assessoria Jurídica Legislativa opina pela POSSIBILIDADE JURÍDICA da tramitação, discussão e votação do projeto de lei ordinária ora examinado.
É o parecer, salvo melhor e soberano juízo das Comissões e Plenário desta Casa Legislativa.
CRISTIANNE DOS SANTOS MENDES
ASSESSORA JURÍDICA LEGISLATIVA MATRÍCULA 06855-1/CMT