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A Viabilidade Econômica da Criação de Caititus (Tayassu tajacu): um estudo de caso

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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

1 A VIABILIDADE ECONÔMICA DA CRIAÇÃO DE CAITITUS (TAYASSU

TAJACU): UM ESTUDO DE CASO

apgomes@ufv.br

APRESENTACAO ORAL-Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável RÔMULO JOSÉ SOARES MIRANDA; ROBERTO SERPA DIAS; ADRIANO

PROVEZANO GOMES; GIOVANA FIGUEIREDO ROSSI.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA - MG - BRASIL.

A Viabilidade Econômica da Criação de Caititus (Tayassu tajacu): um

estudo de caso

Grupo de Pesquisa: Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável Resumo: Este trabalho teve por objetivo avaliar a viabilidade econômica da implantação de um projeto para a criação comercial de caititus (Tayassu tajacu) em uma propriedade rural do estado de Minas Gerais. Para isso, foram considerados apenas os valores de uso direto do bem ambiental em questão. Uma análise mais ampla, para determinar o verdadeiro valor econômico do bem deveria considerar também os demais valores a ele associados (de uso indireto, de opção e de existência). Os resultados obtidos apontam para a viabilidade econômica da atividade, que apresenta-se como uma alternativa interessante de geração de emprego e renda para a propriedade e para região de seu entorno.

Palavras Chaves: caititus; criação comercial; viabilidade econômica.

Abstract: This paper intends to evaluate the viability of the implantation of a project for the commercialization of the collared peccary (Tayassu tajacu) in the rural propriety of the Minas Gerais State. Thus, it takes on just the values of direct use of the envinronmental good considered. A wide analysis, to settle the true value of the good should also consider the others its values associated (of indirect use, of option, and of existence). The results obtained indicates the viability of the activitie that shows up like an interesting option of the creation of employment and input for the propriety and its region surrounded.

Key Words: Collared Peccary (Tayassu tajacu); commercialization; viability

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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,

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2 A criação de animais silvestres da fauna brasileira tem sido considerada por vários autores1, como uma alternativa viável de diversificação de produção e de renda para produtores rurais. Além disso, essa atividade apresenta diversas vantagens indiretas como a redução da destruição de áreas de matas e menor necessidade de fiscalização e proteção ambientais.

A criação de caititus (Tayassu tajacu) em áreas antes destinadas à agricultura e pecuária ou em processo de regeneração pode ser importante economicamente, na medida em que já existe o hábito de consumo da carne desses animais pela população interiorana e um mercado para esse produto, principalmente em grandes centros urbanos, demandantes de carnes exóticas.

Nesse contexto, a Fazenda Engenho D’Água2 - cuja área era antes destinada a atividades agropecuárias - encontra-se atualmente em avançado processo de regeneração de sua vegetação natural, optando assim pela produção econômica de animais silvestres.

A seleção das espécies de animais silvestres a serem exploradas economicamente levou em consideração características como adaptabilidade, rusticidade e potencial de produção, iniciando-se com a criação de pacas (Agouti paca). Atualmente a criação comercial de caititus está sendo estudada.

O caititu, conhecido vulgarmente como porco do mato, ou ainda como catetos, é encontrado em uma grande variedade de habitats, que vão desde o semi-árido às florestas tropicais. Além de sua carne – alta fonte de proteína animal – seu couro possui elevada demanda no mercado internacional (SANTOS et al, 2009).

A espécie adapta-se facilmente às condições de cativeiro (FRANCISCO, 1982) e por consumir uma ampla variedade alimentos3, muitos deles produzidos tradicionalmente no entorno da Fazenda Engenho D’Água, apresenta-se como uma das mais indicadas para serem introduzidas como atividade comercial.

Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi verificar a viabilidade econômica de implantação de um criatório comercial de caititu na referida propriedade.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo de viabilidade econômica e financeira, elaborado a partir de planilha técnica de produção e manejo fornecida pela Fazenda Engenho D’Água, considera os gastos referentes à implantação de uma unidade de criação comercial de caititus em regime semiconfinado, com 3 reprodutores e 18 matrizes.

A criação, estabelecida na propriedade supracitada, contaria com uma estrutura de quatro piquetes com área total aproximada de 2.340 m², cobertura conjugada, bebedouros do tipo concha e bretes de contenção em tela campestre.

Além da estrutura física necessária à criação dos caititus, representada pelo galpão, o manejo desses animais exige ainda diversos equipamentos, bem como demanda

1 Ver Nogueira Filho & Nogueira (2000), Argolo (2002), Lourenço et al. (2008) e Santos et al. (2009). 2

Localizada no município de Ouro Preto – MG. 3

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3 obra para seu trato diário, limpeza e higienização das dependências e cuidados com a saúde dos animais, através de assistência técnica especializada.

Diante do objetivo de se avaliar a viabilidade de investimento em um criatório comercial de animais silvestres, mais especificamente de caititu, foram realizadas algumas análises e calculados indicadores nesse sentido. Dentre os indicadores, pode-se destacar os seguintes:

Custos Fixos: O custo fixo total (CFT) compreende aqueles valores que não variam, independentemente da quantidade produzida (q), ao passo que o custo fixo médio (CFMe) é inversamente proporcional à produção. Assim, à medida que se aumenta a quantidade produzida, o montante de custos não se altera, muito embora haja maior diluição desse valor sobre a produção. Dentre os principais custos fixos identificados no criatório de caititus, pode-se citar a depreciação das instalações e a mão-de-obra.

q CFT CFMe=

Custos Variáveis: O custo variável total (CVT) é aquele que varia diretamente com a quantidade produzida (q). O custo variável médio (CVMe) representa a razão entre o montante do custo variável total e a quantidade produzida. No caso da criação de caititus, lista-se, dentre outros custos variáveis, os gastos com chipagem e alimentação.

q CVT CVMe=

Custo do Capital: O custo do capital é de fundamental importância, uma vez que afeta diretamente a rentabilidade do investimento. Representa o quanto o investidor deixa de receber ao investir seu capital na atividade de criação de caititus ao invés de alocar seus recursos para outra atividade ou aplicar, por exemplo, no mercado financeiro.

A taxa utilizada na presente análise para se calcular o custo do capital empregado é de 6% ao ano, comumente utilizada para investimentos privados (equivalente, aproximadamente, ao rendimento da caderneta de poupança). Entretanto, por se tratar de um empreendimento de caráter ambiental, pode ser considerada alta. Diversos são os estudos que defendem uma taxa próxima de zero, o que não penalizaria as futuras gerações.

Taxa Interna de Retorno: É a taxa de juros máxima que o investimento poderá suportar sem se tornar inviável, ou seja, a taxa de juros que iguala o Valor Presente Líquido (VPL) a zero. 0 ) 1 ( + = −

= t o i i i i r C B Em que: i

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i

C é o valor nominal dos custos no período i, i=1,2,3,...,t;

r é a taxa de desconto que reflete o custo de oportunidade do capital; e t é o tempo de duração do projeto.

Tempo de Retorno do Capital: Representa o período de tempo necessário para que os saldos anuais gerados pelo empreendimento paguem completamente o capital investido na sua implantação. Trata-se de uma informação importante da liquidez do investimento.

Valor Presente Líquido: É o somatório do fluxo de caixa descontado, ao longo do horizonte do investimento. O fator de desconto é a taxa real de juros, que representa os custos de oportunidade do capital. Um investimento pode ser considerado viável quando seu valor líquido presente for positivo.

= + − = t o i i i i r C B VPL ) 1 ( ) (

Relação Custo-Benefício: É o somatório das entradas de recursos no caixa do projeto dividido pelo montante investido. Quanto maior for a RBC, mais atraente o projeto será considerado, pois a relação demonstra o retorno para cada unidade monetária investida no projeto. O critério utilizado para consideração de “viabilidade do projeto”, é uma RBC maior ou igual à unidade.

= = + + = t i i i t i i i r C r B RBC 0 0 ) 1 ( ) 1 ( 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O plantel considerado é de 3 reprodutores e 18 matrizes que, após estabilizado, geram um número médio de 31 filhotes anualmente, o que ocorre a partir do ano 3 quando o total de animais atinge 52 exemplares. Conforme a Tabela 1, o período de análise considerado compreende-se do ano 0 ao ano 10, assim não há necessidade de se efetuar a reposição das matrizes bem como dos reprodutores, uma vez que estes encontram-se em condições perfeitas de fertilidade e capacidade reprodutiva.

Tabela 1 - Evolução e Estabilização do Plantel

CATEGORIAS ANO ANO ANO ANO ANO ... ANO ANO1

Reprodutores 3 3 3 3 3 ... 3 3

Matrizes 18 18 18 18 18 ... 18 18

Crias 26 29 31 31 31 ... 31 31

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Vendas 0 26 29 31 31 ... 31 62

Fonte: Dados da pesquisa.

Hellgreen (1984) observou que a reprodução dos caititus é sensível ás suas condições nutricionais. De modo geral, de acordo com as características da espécie, cada matriz tem normalmente 2 partos ao ano, uma vez que a gestação é de cerca de 135 dias, com o cio ocorrendo logo após o parto. Muito embora haja boa ocorrência de gêmeos, o estudo desconsidera esse fato, bem como adota uma taxa de fertilidade modesta de forma a compensar possíveis natimortos ou óbitos. Assim, estão previstos 26 partos no ano 0, com um filhote em cada parto. O número de crias aumenta no ano 1 para 29 e, no ano seguinte, atinge 31 animais e estabiliza-se.

Na Tabela 1 ainda está discriminado o número de animais comercializados anualmente. É importante destacar que, como esperado, no ano inicial da atividade não há vendas e todos os animais nascidos em um ano são comercializados no ano seguinte, quando alcançam o peso ideal e maior aceitação comercial. A exceção verifica-se no ano 10, quando, em virtude do fim da análise, se considera a venda de todos os filhotes do ano 9 acrescidos daqueles nascidos no mesmo ano.

A partir das vendas dos caititus, iniciadas no ano 1, é possível estimar a receita proveniente de sua comercialização. O preço unitário de venda, baseado nos preços médios praticados no mercado, é calculado em R$ 500,00. Desta forma, como se observa na Tabela 2, há uma tendência crescente de receita, verificada a entre os anos 0 e 3, quando se estabiliza. Isto ocorre como função direta do número de animais nascidos e comercializados, como descrito na Tabela 2.

Tabela 2 – Evolução das Receitas da Comercialização dos Caititus (em R$)

Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 ... Ano 9 Ano10

Vendas 0 26 29 31 31 ... 31 62

Receita 0,00 13.000,00 14.500,00 15.500,00 15500,00 ... 15.500,00 31.000,00 Fonte: Dados da pesquisa.

Estimadas as receitas de vendas, é preciso que se faça um levantamento dos custos, para assim analisar a relação entre as entradas e saídas de recursos. Alguns custos não foram considerados como impostos e taxas, bem como o aluguel ou aquisição da terra – o investidor é o dono da propriedade e utilizará terras marginais – e os gastos de aquisição dos animais para a formação do plantel, pois estes devem ser cedidos pelos órgãos competentes após captura em áreas onde causem danos. Todos os custos identificados estão discriminados nas tabelas a seguir.

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6 Tabela 3 – Discriminação dos Custos estimados para o ano 0

Custos de Produção – Ano 0

Discriminação Unidade Quantidade Valor (R$) Total (R$)

1.1.Custo Operacional Efetivo 9.699,28

1.1.1. Mão-de-obra p/ manejo 2.328,70

Contratada horas 730 3,19 2.328,70

1.1.2. Medicamentos 500,00

Medicação unidade 1 120,00 120,00

Assistência Veterinária unidade 1 300,00 300,00

Exames laboratórios unidade 1 80,00 80,00

1.1.3. Alimentação 5.894,58

Alimentação - Adultos cabeças 21 173,37 3.640,77

Alimentação - Filhotes cabeças 26 86,69 2.253,81

1.1.4. Outros Materiais 676,00

Chipagem cabeças 47 12,00 564,00

Materiais de limpeza unidade 1 20,00 20,00

Ferramentas duráveis unidade 1 40,00 40,00

Conjunto de EPI unidade 1 52,00 52,00

1.1.5. Transporte 300,00

Transporte de animais unidade 1 300,00 300,00

1.2. Custo Operacional Total 10.087,24

Custo Operacional Efetivo 9.699,28

Depreciação do Galpão R$/ano 1/25 9.699,00 387,96

1.3. Custo Total 10.692,47

Custo Operacional Total 10.087,24

Remuneração do Capital % 6 10.087,24 605,23

CUSTO TOTAL (CT) 10.692,47

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7 Tabela 4 – Discriminação dos Custos estimados para o ano 1

Custos de Produção – Ano 1 R$ -

Discriminação Unidade Quantidade Valor (R$) Total (R$)

1.1.Custo Operacional Efetivo 9.651,34

1.1.1. Mão-de-obra p/ manejo 2.328,70

Contratada horas 730 3,19 2.328,70

1.1.2. Medicamentos 500,00

Medicação unidade 1 120,00 120,00

Assistência Veterinária unidade 1 300,00 300,00

Exames laboratórios unidade 1 80,00 80,00

1.1.3. Alimentação 6.154,64

Alimentação Adultos cabeças 21 173,37 3.640,77

Alimentação Filhotes cabeças 29 86,69 2.513,87

1.1.4. Outros Materiais 368,00

Chipagem cabeças 29 12,00 348,00

Materiais de limpeza unidade. 1 20,00 20,00

Ferramentas duráveis unidade 0 40,00 0,00

Conjunto de EPI unidade 0 52,00 0,00

1.1.5. Transporte 300,00

Transporte de animais unidade 1 300,00 300,00

1.2. Custo Operacional Total 10.039,30

Custo Operacional Efetivo 9651,34

Depreciação do Galpão R$/ano 1/25 9.699,00 387,96

1.3. Custo Total 10.641,66

Custo Operacional Total 10.039,30

Remuneração do Capital % 6 10.039,30 602,36

CUSTO TOTAL (CT) 10.641,66

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8 Tabela 5 – Discriminação dos Custos estimados para os anos 2, 4, 6, 8 e 10

Custos de Produção – Anos 2, 4, 6, 8 e 10 R$ -

Discriminação Unidade Quantidade Valor (R$) Total (R$)

1.1.Custo Operacional Efetivo 9.940,71

1.1.1. Mão-de-obra p/ manejo 2.328,70

Contratada horas 730 3,19 2.328,70

1.1.2. Medicamentos 500,00

Medicação unidade 1 120,00 120,00

Assistência Veterinária unidade 1 300,00 300,00

Exames laboratórios unidade 1 80,00 80,00

1.1.3. Alimentação 6.328,01

Alimentação Adultos cabeças 21 173,37 3.640,77

Alimentação Filhotes cabeças 31 86,69 2.687,24

1.1.4. Outros Materiais 484,00

Chipagem cabeças 31 12,00 372,00

Materiais de limpeza unidade. 1 20,00 20,00

Ferramentas duráveis unidade 1 40,00 40,00

Conjunto de EPI unidade 1 52,00 52,00

1.1.5. Transporte 300,00

Transporte de animais unidade 1 300,00 300,00

1.2. Custo Operacional Total 10.328,67

Custo Operacional Efetivo 9.940,71

Depreciação do Galpão R$/ano 1/25 9.699,00 387,96

1.3. Custo Total 10.948,39

Custo Operacional Total 10.328,67

Remuneração do Capital (6%) % 6 10.328,67 619,72

CUSTO TOTAL (CT) 10.948,39

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9 Tabela 6 – Discriminação dos Custos estimados para os anos 3, 5, 7 e 9

Custos de Produção – Anos 3, 5, 7 e 9

Discriminação Unidade Quantidade Valor (R$) Total (R$)

1.1.Custo Operacional Efetivo 9.848,71

1.1.1. Mão-de-obra p/ manejo 2.328,70

Contratada horas 730 3,19 2.328,70

1.1.2. Medicamentos 500,00

Medicação unidade 1 120,00 120,00

Assistência Veterinária unidade 1 300,00 300,00

Exames laboratórios unidade 1 80,00 80,00

1.1.3. Alimentação 6.328,01

Alimentação Adultos cabeças 21 173,37 3.640,77

Alimentação Filhotes cabeças 31 86,69 2.687,24

1.1.4. Outros Materiais 392,00

Chipagem cabeças 31 12,00 372,00

Materiais de limpeza unidade. 1 20,00 20,00

Ferramentas duráveis unidade 0 40,00 0,00

Conjunto de EPI unidade 0 52,00 0,00

1.1.5. Transporte 300,00

Transporte de animais unidade 300,00

1.2. Custo Operacional Total 10.236,67

Custo Operacional Efetivo 9.848,71

Depreciação do Galpão R$/ano 1/25 9.699,00 387,96

1.3. Custo Total 10.850,87

Custo Operacional Total 10.236,67

Remuneração do Capital % 6 523,19

CUSTO TOTAL (CT) 10.850,87

Fonte: Dados da pesquisa.

Pode-se notar que as Tabelas 3, 4, 5 e 6 se diferem devido ao fato de em períodos alternados haver ou não a aquisição de ferramentas duráveis e equipamentos de proteção individual, cuja vida útil é de dois anos. Outra importante diferença está relacionada aos gastos com chipagem dos animais, que no primeiro ano (ano 0) são de 47 chips, ou seja, todo o plantel, enquanto nos anos seguintes a quantidade de chips adquiridos é igual ao número de nascimentos, uma vez que as matrizes e os reprodutores já se encontram devidamente identificados.

A taxa de depreciação considerada é de 4% ao ano, ou seja, há expectativa de total depreciação das instalações num período de 25 anos, o que extrapola o horizonte de tempo considerado no estudo (10 anos), possibilitando por outro lado a inclusão na análise de um valor residual correspondente a 3/5 do total gasto na construção.

A necessidade de trabalho é reduzida, uma grande vantagem da criação de animais silvestres, e resume-se à manutenção da criação, fornecimento de alimentos e limpeza das

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10 instalações, comedouros e bebedouros, possibilitando inclusive o emprego de mão-de-obra familiar ou de assalariados da propriedade.

O valor da mão-de-obra utilizado na análise é igual ao salário mínimo mensal vigente (R$ 510,00) dividido pela jornada de trabalho de aproximadamente 40 horas semanais e multiplicado pelo total de horas necessárias para o desempenho satisfatório do empreendimento. Assim, o total destinado ao pagamento dos serviços de manejo dos animais e eventuais atividades é de, R$ 2.328, 70 ao ano, o que corresponde a R$ 3, 19 por hora trabalhada.

A relação de custos apresentada nas tabelas anteriores considera ainda a alimentação de um filhote como sendo equivalente à metade do consumo de um adulto. O valor foi determinado com base em dieta balanceada e enriquecida com verduras, legumes e outros alimentos produzidos na propriedade e em seu entorno, o que representa significativa redução de custos sem, entretanto comprometer a nutrição e o desenvolvimento dos caititus.

Ainda assim, a alimentação representa a maior parcela do custo na criação dos caititus, cerca de 64% do custo operacional efetivo. Por isso, os custos variáveis, em detrimento dos custos fixos, representarem um maior percentual na composição dos custos totais. Esse fato implica em uma maior necessidade de capital, para a manutenção da atividade, do que para os investimentos iniciais em estrutura física, o que deve ser encarado como fator positivo, uma vez que ao longo da atividade serão gerados recursos que podem ser reaplicados no próprio negócio.

A partir dos custos anuais considerados para a atividade, é possível estimar o montante a ser investido no ano 0, ou seja, o aporte inicial de capital necessário para o empreendimento, conforme valores descritos na Tabela 7.

Tabela 7 – Discriminação dos Investimentos e Gastos no Ano 0

Discriminação Valor (R$) Acumulado (R$)

Galpão 9.699,00 9.699,00

Mão-de-obra 2.328,70 12.027,70

Alimentação 5.894,58 17.922,28

Outros custos 1.476,00 19.398,28

Remuneração do Capital – 6% 1.163,89 20.562,18

Fonte: Dados da pesquisa.

Como se observa, o maior desembolso no ano inicial é referente à construção das instalações utilizadas para abrigar e confinar os animais, que representa quase metade do montante. Os demais custos estão relacionados ao manejo dos animais e são recorrentes ao longo de toda a atividade, com suaves variações.

A estrutura de custos, bem como a necessidade de capital, permite afirmar que o empreendimento demanda menos recursos que atividades afins, a exemplo da suinocultura, principalmente no que se refere às instalações físicas e equipamentos (NOGUEIRA FILHO & NOGUEIRA, 2000).

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11 Após a caracterização dos custos e a estimativa das receitas a serem auferidas com o criatório comercial de caititus, foi feita a análise dos indicadores de viabilidade, apresentados nas Tabelas 8 e 9.

Tabela 8 – Benefícios, Custos e Lucros Totais e Descontados (em R$)

An o Benefício Total Custo Total Lucro Líquido Benefício Descontad o Custo Descontad o Lucro Descontad o 0 - 20.562,18 - - 20.562,18 -1 13.000,00 10.641,66 2.358,34 12.264,15 10.039,30 2.224,85 2 14.500,00 10.948,39 3.551,61 12.904,95 9.744,03 3.160,92 3 15.500,00 10.850,87 4.649,13 13.014,10 9.110,60 3.903,50 4 15.500,00 10.948,39 4.5.51,61 12.277,45 8.672,15 3.605,30 5 15.500,00 10.850,87 4.649,13 11.582,50 8.108,40 3.474,10 6 15.500,00 10.948,39 4.551,61 10.926,89 7.718,18 3.208,71 7 15.500,00 10.850,87 4.649,13 10.308,39 7.216,45 3.091,94 8 15.500,00 10.948,39 4.551,61 9.724,89 6.869,16 2.855,74 9 15.500,00 10.850,87 4.649,13 9.174,43 6.422,61 2.751,81 10 36.819,40 10.948,39 25.871,01 20.559,76 6.113,52 14.446,24 Total 122.737,5 100.576,5 22.160,92

Fonte: Dados da pesquisa.

Os fluxos líquidos, como se observa, já se encontram positivos a partir do ano 1. A rentabilidade do investimento, representada pela razão entre o lucro líquido e as receitas é de 18,05%. Por sua vez, a relação benefício-custo representa o valor gerado na atividade em função de cada unidade monetária investida. Desta forma, um índice superior a 1 indica para um retorno satisfatório do capital, que no caso da análise efetuada foi de aproximadamente 22%. Logo, para cada R$ 1,00 aplicado na criação de caititus, nos moldes do projeto verificado na Fazenda Engenho D’Água, há a possibilidade de o investidor resgatar R$ 1, 22.

Outra vantagem de um índice benefício-custo superior a 1 é que este valor permite concluir que o Valor Presente Líquido (VPL) é positivo e a Taxa Interna de Retorno (TIR) é superior à Taxa Mínima de Atratividade (TMA), indicando para a viabilidade do projeto. Os valores apresentados na Tabela 9 corroboram a afirmação.

Tabela 9 – Indicadores de Viabilidade do Projeto

Indicador Desconto Resultado

Relação Benefício-Custo - 1,22

Valor Presente Líquido (VPL) 6% R$ 22.160,92

Payback Econômico (PBE) 6% 76 meses

Payback Simples (PBS) - 62 meses

Taxa Interna de Retorno (TIR) - 19,55%

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12 Outra importante informação a ser extraída da tabela anterior refere-se ao Payback ou Tempo de Retorno, que indica o tempo decorrido entre o investimento inicial e o momento em que o lucro líquido acumulado se igualam. Há distinção entre os conceitos de Payback Simples e Payback Econômico, sendo que o primeiro representa o valor nominal, baseado apenas nos fluxos de caixa ao preço nominal, enquanto o segundo considera a relação dos valores trazidos ao presente através de uma determinada taxa de desconto. Para o primeiro caso, o prazo de retorno do montante investido no ano 0 é de pouco mais de 5 anos e 2 meses, já em termos de valores reais, o período necessário seria de aproximadamente 6 anos e 4 meses. Ambos os prazos encontram-se dentro do período de tempo considerado do projeto, que é de 10 anos.

O projeto apresenta uma TIR de 19,55%, superior a inúmeros empreendimentos possíveis bem como à taxa de custo do capital ou de atratividade considerada, de 6% ao ano. Todos esses indicadores indicam para a viabilidade da criação comercial de caititus. O retorno médio anual investido, representado pela TIR remunera com folga o capital investido.

Deve-se lembrar ainda que a análise foi puramente econômica e financeira, não considerando, por motivos de dificuldade de estimação, os diversos benefícios ambientais advindos da atividade. Destarte, somente se considerou o valor de uso direto do bem ambiental, não levando em conta seu valor de uso indireto – como a redução da pressão sobre a caça e do impacto sobre a área protegida – assim como o valor de existência – derivado da preservação do referido elemento da fauna brasileira – e o valor de opção – proveniente da garantia de uso futuro (pelas gerações futuras) do bem ambiental preservado.

Por fim, o projeto apresenta-se dessa forma atraente, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, uma vez que compete com qualquer outro projeto privado que não gera nenhum dos benefícios acima citados.

4. CONCLUSÃO

O objetivo desse estudo de caso foi avaliar a viabilidade econômica da criação comercial de caititus (Tayassu tajacu) em uma propriedade rural, no estado de Minas Gerais.

Os resultados obtidos apontaram a atividade como uma alternativa interessante de geração de renda adicional, para a referida propriedade e de renda e emprego para o seu entorno, uma vez que os itens componentes da alimentação dos animais serão demandados nessa área.

Deve-se enfatizar, contudo, que no estudo não foram considerados os gastos para a aquisição dos animais, no início da atividade e os custos de aluguel da terra.

Além disso, vale destacar a alta participação do item alimentação no custo operacional efetivo, o que poderia inviabilizar a atividade, em regiões onde os itens componentes da dieta animal forem mais caros ou de mais difícil obtenção, que no local analisado. Como em todo estudo de caso, a generalização dos resultados obtidos deve ser feita com parcimônia.

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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,

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13 Porém, considerando que o objeto do estudo é um bem ou serviço ambiental, seu verdadeiro valor econômico deveria incorporar, além de seu valor de uso direto (considerado na análise), os seus demais valores – de uso indireto, de opção e de existência – o que aumentaria os valores monetários considerados como benefícios da atividade.

Portanto, pode-se depreender que, considerando a planilha de coeficientes técnicos adotada e os preços dos insumos e do produto utilizados, o projeto apresenta-se atrativo tanto do ponto de vista econômico quanto do ambiental.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FRANCISCO, A. L. Observações Preliminares sobre o Manejo do Caititu (Tayassu tacaju) em Criadouro. In: Anais do XII Congresso Brasileiro de Zoologia, Resumo 630:302-303, 1982.

HELLGREN, E. C. Demographic, Morphologic and Reproductive Status of a Herd of Collared Peccaries in South Texas. The American Midland Naturalist, s.l., 112 (2): 402-407, 1984.

LOURENÇO, R.F.S., DIAS, R.S., GOMES, A.P. A criação de paca (Agouti paca) como alternativa de diversificação de produção e renda em Minas Gerais. In: XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, Rio Branco-AC, 2008. 14 p.

NOGUEIRA FILHO S. L., NOGUEIRA, S. S. da C. Criação Comercial de Animais Silvestres: Produção e Comercialização da Carne e de Subprodutos na Região Sudeste do Brasil. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 31, n. 2 p. 188-195, abr-jun. 2000.

SANTOS, D., MENDES, A., NOGUEIRA, S. S. da C., NOGUEIRA FILHO S. L. Criação comercial de caititus (Pecari tajacu): uma alternativa para o agrinegócio. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 10, n. 1. p. 1-10, jan/mar, 2009.

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