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A utilização da inteligência de fontes abertas nas investigações policiais

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A UTILIZAÇÃO DA INTELIGÊNCIA DE FONTES ABERTAS NAS INVESTIGA-ÇÕES POLICIAIS

Pato Branco – PR 2018

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A UTILIZAÇÃO DA INTELIGÊNCIA DE FONTES ABERTAS NAS INVESTIGA-ÇÕES POLICIAIS

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato

Sensu em Inteligência de Segurança Pública, da

Universi-dade do Sul de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Especialista em Inteligência em Segurança Pú-blica.

Orientação: Prof. Cristiane Goulart Cherem, MSc.

Pato Branco – PR 2018

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A UTILIZAÇÃO DA INTELIGÊNCIA DE FONTES ABERTAS NAS INVESTIGA-ÇÕES POLICIAIS

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Segurança Pública e aprovado em sua forma final pelo Curso de Pós-Graduação

Lato Sensu em Inteligência de Segurança, da Universidade

do Sul de Santa Catarina.

Pato Branco – PR, 23 de julho de 2018.

_____________________________________________________ Professor orientador: Cristiane Goulart Cherem, MSc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________________ Prof. Giovani de Paula, DSc.

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A minha família, pelo incentivo irrestrito pela busca do conhecimento como uma das formas de se aprimorar como ser humano durante esta breve passagem. A professora de Administração, Janaina Cella, vinculada à Universidade Federal Tecnológica do Paraná, pelo incentivo e auxílio incondicional em todos os momentos. Ao Delegado de Polícia Civil do Es-tado do Paraná e professor de Direito, Leonardo Guimarães, e aos Investigadores de Polícia Civil do Estado do Paraná, Fernando Benelli e Marcos Barros de Oliveira, pelo apoio e com-preensão durante este percurso. Aos professores da Universidade do Sul de Santa Catarina, pela edificação do conhecimento ao longo do curso.

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O presente trabalho tem por objetivo estudar de que forma a inteligência de fontes abertas pode contribuir em uma investigação policial elaborada pela polícia judiciária. Para isso, re-correu-se à pesquisa em fontes bibliográficas, principalmente livros e artigos técnico-científi-cos nas áreas dos saberes ligados às ciências do direito, informática, gestão do conhecimento e matérias ligadas aos saberes policiais. Dessa forma, buscou-se elaborar um estudo sobre os aspectos relativos ao sistema brasileiro de inteligência e seu subsistema atrelado à segurança pública, bem como sobre os métodos investigativos vigentes. Também foram apurados os as-pectos relacionados às fontes de inteligência usuais e, naquilo que tange à inteligência de fon-tes abertas, procedeu-se a uma ampla análise com a abordagem de aspectos históricos, técni-cos e de seu ciclo de inteligência específico. Além disso, seu emprego foi exposto à atividade investigatória desenvolvida pela polícia civil e analisado o produto dessa interação. Outros-sim, foram estudados os procedimentos de gestão do conhecimento aplicados às fontes abertas de inteligência visando a compreensão de como se gera o conhecimento em uma organização.

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1. INTRODUÇÃO...6

2. DOS ASPECTOS RELACIONADOS À INTELIGÊNCIA E À INVESTIGAÇÃO CRIMINAL...8

2.1. O SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA...9

2.2. O SUBSISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA...10

2.3. DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL...11

2.4. A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO CAMPO POLICIAL...14

2.5. NUANCES CONCEITUAIS LIGADOS À INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA IN-TERNA, INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA, INTELIGÊNCIA POLICIAL E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL...15

3. DOS ASPECTOS RELACIONADOS ÀS FONTES ABERTAS DE INTELIGÊNCIA 20 3.1. APANHADO GERAL SOBRE AS FONTES DE INTELIGÊNCIA...21

3.2. A INTELIGÊNCIA DE FONTES ABERTAS E SUAS TECNICIDADES...22

3.3. A INTELIGÊNCIA DE FONTES ABERTAS E SUAS FONTES...24

3.4. AS FONTES ABERTAS DE INTELIGÊNCIA APLICADAS À INVESTIGAÇÃO POLICIAL...27

3.5. VALIDADE JURÍDICA DAS EVIDÊNCIAS COLETADAS A PARTIR DE FON-TES ABERTAS DE INTELIGÊNCIA...31

4. DA GESTÃO DO CONHECIMENTO...32

4.1. A ESPIRAL DO CONHECIMENTO DE NONAKA E TAKEUCHI...33

4.2. AS TRÊS ARENAS DO CONHECIMENTO...36

4.3. AS FORMAS DE AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO...37

4.4. O CICLO DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO OU CICLO DE INTELIGÊN-CIA 38 4.5. A FASE DE PROCESSAMENTO DO CPC...40

4.6. O CICLO DE PRODUÇÃO DE INTELIGÊNCIA EM FONTES ABERTAS...41

5. CONCLUSÃO...44

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1. INTRODUÇÃO

Uma das diversas questões contemporâneas que permeiam a atividade de Segu-rança Pública brasileira é a autuação eficiente e legal da Polícia Civil durante o procedimento investigatório. Essa questão especificamente se resume em compatibilizar a coexistência do binômio composto pela utilização completa dos mecanismos investigativos disponíveis em consonância com o respeito às garantias e direitos fundamentais plasmados pela Constituição Federal de 1988.

As atividades exercidas pelos membros das polícias judiciárias estaduais são, mui-tas vezes, desconhecidas do grande público, pois são elaboradas sob o manto da discrição, por meio de instrumentos próprios e fora dos holofotes da ostensividade. Sua incumbência, majo-ritariamente, é atuar repressivamente após a ocorrência de uma infração penal, ou seja, a essas instituições recai a responsabilidade de investigar a maioria dos tipos penais, trazendo aos procedimentos indícios de autoria e materialidade (ou comprovando sua inexistência), disse-cando a ocorrência de um crime ou contravenção penal com o objetivo de se apurar a verdade possível dos fatos.

Essa atuação das Polícias Civis em conformidade com o texto constitucional é im-prescindível ao estado democrático de direito. Ao mesmo tempo é uma atividade intrincada e delicada, pois, qualquer ato investigatório estatal pode culminar com a invasão da esfera de garantias e direitos constitucionais dos cidadãos, por menor que seja esse ato. Não se trata em momento algum, no decurso desse trabalho, afirmar que a persecução penal deve ser deixada de lado em reverência absoluta às garantias fundamentais, mas sim em se ressaltar e aplicar o cumprimento integral do texto constitucional, tanto do capítulo destinado à segurança pública, quanto do capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos.

Dessa forma, a investigação elaborada pelas polícias civis deve se valer de todo arcabouço legal de técnicas investigativas para fazer frente às diversas manifestações de cri-minalidade, impondo a utilização de meios eficazes para tanto, sem, porém, se extrapolar os limites legais. Para tanto, o presente trabalho estuda a utilização das fontes abertas (dados e informações disponíveis em diversos meios, principalmente na internet) como forma de incre-mento à atividade investigativa.

Para aventar maneiras de como essa prática pode ser desenvolvida, a pesquisa foi elaborada com a coleta de dados a partir da consulta e análise bibliográfica nas grandes áreas de conhecimento atinentes às ciências sociais aplicadas, à informática e às ciências jurídicas, além de saberes ligados às ciências policiais.

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Assim, o trabalho se desenvolve em três capítulos em que, primeiramente são es-tudados os aspectos relacionados à inteligência e à investigação criminal, apoiando-se na análise do regramento legal vigente e no posicionamento doutrinário pertinente a esse tema. No segundo capítulo passa-se ao estudo dos aspectos relacionados às fontes abertas de inteli-gência com esteio em artigos técnicos e científicos nacionais e internacionais escritos por agentes estatais e professores que desenvolvem pesquisas nessa área. Já no terceiro capítulo são abordados os assuntos relacionados à gestão do conhecimento e seu papel na construção de conhecimento em organizações genéricas (como empresas privadas, por exemplo) e naque-las que lidam com as especificidades da inteligência, sob o pálio de autores renomados nesse campo. Ao final desse capítulo também é tratado sobre o ciclo de inteligência genérico e aquele aplicado às fontes abertas.

Por fim, levou-se em conta na elaboração deste estudo a leitura da configuração do atual cenário de segurança pública nacional, marcado pela baixa resolutividade dos casos apurados por conta dos parcos investimentos em atividades investigativas e pela carência de recursos materiais e humanos nas instituições, características essas que, em certa parcela, fo-mentam a vertiginosa escalada da ocorrência de infrações penais por não apresentarem um mecanismo eficiente de repressão a elas.

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2. DOS ASPECTOS RELACIONADOS À INTELIGÊNCIA E À INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Com o processo de redemocratização nacional, o Sistema Brasileiro de Inteligên-cia (SISBIN) foi implementado em 7 de dezembro de 1999 por meio da Lei 9.883/99, que, dentre outras medidas, criou a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Segundo ZAVER-RUCHA (2008, p. 180) “assim como o SNI era o órgão central do Sistema Nacional de Infor-mações (SISNI), a ABIN passou a exercer o mesmo papel em relação ao Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN)”.

Nessa esteira, CEPIK (2009, p.33) explana que atualmente existem no Brasil “três sistemas de inteligência: o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), o Sistema de Inteli-gência de Defesa (SINDE) e o Subsistema de InteliInteli-gência de Segurança Pública (SISP)”. O Subsistema de Inteligência de Defesa não será estudado por não ser relevante à área de inte-resse desse trabalho.

No tocante à investigação criminal, o legislador constitucional de 1988 outorgou aos órgãos estatais de natureza policial (Polícias Civis e Polícia Federal) a prerrogativa de co-letar, mediante diligências próprias, toda sorte de evidências legais, indícios e informações que caracterizam o comportamento humano transgressor da norma penal tido como típico, ilícito e culpável.

Essas diligências próprias expressam-se por meio da investigação criminal que, no âmbito policial, são comandadas por delegado de polícia de carreira. São atos regulados por lei e que ocorrem sob a autorização e a fiscalização judicial e ministerial, objetivando a identi-ficação de provas e indícios de autoria, geralmente apuradas nos autos do inquérito policial ou em outros procedimentos, como o termo circunstanciado de infração penal e o boletim de ocorrência circunstanciado.

A partir da redemocratização do Brasil, logo no começo da década de 1990 foi possível observar o início de um trabalho visando à implementação estrutural e legal com vis-tas à mudança do paradigma da investigação policial até então desenvolvido. Contudo, na vi-são crítica apresentada por MISSE (2010a apud COSTA e OLIVEIRA, 2016, p. 162), apesar das inovações trazidas:

(...) a investigação criminal não se tornou mais técnica, baseada em provas periciais e procedimentos operacionais: a prisão em flagrante passou a desempenhar papel central na instrução criminal, substituindo a antiga ênfase na busca de testemunhas, produção de depoimentos e confissões.

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Oportunamente, frisa-se que este estudo ficará adstrito à atividade investigativa exercida pela polícia judiciária. Não serão abordadas as minúcias das investigações criminais elaboradas por outros órgãos (v.g. Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal) por carecerem de previsão constitucional e sólida disciplina legal, ou por extrapolarem a área primeira de interesse deste trabalho, como as investigações efetuadas em âmbito castrense atintes aos crimes próprios dos integrantes daquela carreira ou em âmbito legislativo (v.g. Co-missões Parlamentares de Inquérito). Contudo, nada impede instituições que atuem nessa área se utilizem da inteligência advinda das fontes abertas para seu intento.

2.1. O SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA

O SISBIN plasma seu objetivo em seu artigo 1º como “fornecer subsídios ao Pre-sidente da República nos assuntos de interesse nacional” (BRASIL, 1999). Para tanto, integra em seu bojo as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do país sob a coordenação da ABIN, estabelecida como seu órgão central.

O legislador, no §2º do artigo 1º dessa lei, conceituou a atividade de inteligência como sendo:

“a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos den-tro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial in-fluência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado” (op. cit.).

De acordo com CARPENTIERI (2017, p. 160), foi adotado um conceito “amplo de inteligência, que envolve, inclusive, o uso de fontes abertas”. Já o §3º desse mesmo artigo definiu contrainteligência como “a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa” (op. cit.).

Hodiernamente integram o SISBIN trinta e oito órgãos vinculados a dezesseis mi-nistérios, todos elencados no artigo 4º do Decreto 4.376 de 13 de setembro de 2002. O parág-rafo único desse artigo oferta a possibilidade dos órgãos estaduais fazerem parte do sistema e o artigo 5º determina que o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência será efetiva-do “mediante articulação coordenada efetiva-dos órgãos que o constituem, respeitada a autonomia funcional de cada um e observadas às normas legais pertinentes à segurança, sigilo profissio-nal e salvaguarda de assuntos sigilosos” (op. cit.), cabendo à ABIN a gerência desses procedi-mentos.

Além dessa função, como órgão central desse sistema, à ABIN também cumpre produzir conhecimentos relativos à segurança do Estado e da sociedade, como aqueles

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alusi-vos à defesa externa e à segurança interna, relações exteriores, desenvolvimento socioeconô-mico e científico-tecnológico, mediante o fornecimento de informações e conhecimentos ao Presidente da República e aos Ministros de Estado.

2.2. O SUBSISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

O Subsistema de Inteligência de Segurança Pública – SISP – foi criado por meio do Decreto Federal nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000, no âmbito SISBIN, com a finalidade de, segundo o artigo primeiro daquele diploma legal, “coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões neste campo” (BRASIL, 2000).

Já a regulamentação do SISP somente veio a ocorrer em 15 de julho de 2009 com a edição da Resolução nº 01, da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SENASP/MJ) e, em seu artigo 1º, estabeleceu que esse sistema:

Tem por objetivo fornecer subsídios informacionais aos respectivos governos para a tomada de decisões no campo da segurança pública, mediante a obtenção, análise e disseminação da informação útil, e a salvaguarda da informação contra acessos não autorizados (BRASIL, 2009).

Referente às agências de inteligência, a Resolução nº 01 reconheceu aquelas já existentes quando da sua edição, bem como aquelas do porvir, e as incorporou à Rede Nacio-nal de Segurança Pública (RENISP), preconizando seu funcionamento como sistemas de cap-tação, tratamento e difusão de dados, informações e conhecimentos em torno da atividade de inteligência de segurança pública, nos moldes da doutrina apropriada e na área da circunscrição ou de competência da instituição, observados os aspectos geográfico, competiti -vo, político-social, tecnológico, temporal, dentre outros, sob a orientação, coordenação e supervisão da Coordenação-Geral de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pú-blica (CGI/SENASP).

A vinculação da forma de atuação das agências de inteligência (AI) à DNISP é ex-pressa no artigo 6º da Resolução nº 01, 15 de julho de 2009, da SENASP/MJ in verbis:

As AI subordinam-se à chefia da unidade organizacional respectiva e a sua atua-ção sempre deverá obedecer as diretrizes contidas na DNISP e nas deliberações do Conselho Especial do Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (op. cit.).

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Esse regramento administrativo, por meio de seu artigo 7º, ainda atribuiu como prioridade às agências de inteligência a execução das atividades de informações e inteli-gência de segurança pública na área da circunscrição correspondente, cabendo-lhes ainda, planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência de se-gurança pública da área respectiva, obedecidas a política e as diretrizes superiores, e, além de outras, captar e difundir as informações de interesse à atividade de inteligência de segu-rança pública, observando-se a seguinte tripartição:

a) foco principal - Segurança Pública: crime organizado, tráfico de drogas, armas e explosivos, terrorismo, tráfico de seres humanos e de órgãos, homicídios, quan-do envolver ações de grupos de extermínio, encontro de cadáver, furto e roubo de veículos, roubo e furto de cargas, sequestros, crimes contra os meios de comuni-cação e transportes, fluxo migratório de infratores, movimentação em unidades prisionais, rebelião em unidades prisionais; roubo a banco, lavagem de dinheiro, corrupção, desvio de conduta policial e as ações criminosas que envolvam a parti-cipação de quadrilhas e bando, grupos, facções, seitas ou similares, seja no nível local ou em amplo espectro, além de outros assuntos de interesse da Atividade de Inteligência de Segurança Pública considerados úteis; b) foco secundário - Segu-rança Interna - fatos relativos à dinâmica social que possam atentar contra a segu-rança interna; c) foco político e administrativo - fatos relativos à demanda social (op. cit).

Assim, a partir da leitura do dispositivo se percebe que o SISP contempla a totali-dade das ativitotali-dades de segurança pública com penetração nos campos de polícia administrati-va e judiciária, criminalística e execução penal. Além disso, dedica-se especialmente ao con-trole interno dos órgãos componentes, uma vez que se preocupa em apurar desvios e crimes funcionais, como a corrupção, por exemplo. Por fim, além dessas tecnicidades, o SISP englo-ba também outras, como os fatos ligados à dinâmica social que podem ter reflexo na área de segurança.

2.3. DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

No Brasil, o procedimento investigatório obedece àquilo que está insculpido no artigo 144 da Constituição Federal de 1988 que atribuiu sua prática a duas instituições, Polícia Federal e Polícia Civil, sendo as competências divididas da seguinte maneira nos §§ 1º e 4º do retromencionado artigo da Carta Maior, como se confere:

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

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II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. (...)

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

As outras bases da atividade de polícia investigativa são encontradas no Código de Processo Penal (Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941), do artigo 4º ao artigo 23. Nele se observa que o inquérito policial é espécie do gênero investigação preliminar e situa-se na fase pré-processual. Leciona LOPES JÚNIOR (2016, p.65) que a investigação:

Constitui o conjunto de atividades desenvolvidas concatenadamente por órgãos do Estado, a partir de uma notícia-crime, com caráter prévio e de natureza preparatória com relação ao processo penal, e que pretende averiguar a autoria e as circunstâncias de um fato aparentemente delituoso, com o fim de justificar o processo ou o não pro-cesso.

Hodiernamente, o produto da investigação criminal é materializado pela polícia judiciária em quatro procedimentos específicos e legalmente definidos: inquérito policial, boletim circunstanciado de ocorrência, termo circunstanciado de infração penal e verifica-ção de procedência de informaverifica-ção.

Como é determinado pelo o artigo 4º1 do Código de Processo Penal, o inquérito é realizado pela polícia judiciária e nele se concentram todos os atos investigatórios em curso. CASTRO et al (2016, p. 62) complementa essa definição lecionando que o inquérito policial é “o instrumento, no direito processual penal, que legalmente materializa a investigação crimi-nal, presidida pela autoridade policial, nos termos do artigo 4º do Código de Processo Penal”.

Dessa forma, o inquérito policial essencialmente se presta a averiguar e compro-var os fatos constantes na notitia criminis2 para preparar o exercício da pretensão acusatória que futuramente será exercida na fase judicial. Na criteriosa doutrina de LOPES JÚNIOR (op. cit., p. 68), para consecução de seu objetivo legal, o inquérito policial:

Está limitado a demonstrar a probabilidade da existência do fato aparentemente pu-nível e a autoria, coautoria ou participação do sujeito passivo. Essa restrição recai sobre o campo probatório, isto é, os dados acerca da situação fática descrita na

notitia criminis. O que se busca é averiguar e comprovar o fato em grau de probabilida

-de.

1 Artigo 4º do Código de Processo Penal: “A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no

território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria”.

2 Notitia criminis é a ciência da autoridade policial acerca da ocorrência de um fato criminoso, podendo ser

dire-ta (quando o próprio delegado de polícia, investigando, por qualquer meio, descobre o acontecimento) ou indire-ta (quando a vítima provoca a sua atuação, bem como quando o promotor ou o juiz requisiindire-tar a sua atuação).

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Para tanto, as diligências investigatórias a serem executadas pela autoridade poli-cial (e seus agentes e auxiliares) estão descritas no artigo 6º do CPP. Importante frisar que o rol contido nesse artigo não é estanque, pois o artigo 13 desse Decreto-Lei menciona outros atos a serem praticados pela autoridade policial, alguns deles inclusive no curso da ação pe-nal.

Ao final das investigações a autoridade policial deverá relatar tudo o que foi apu-rado como uma espécie de contraprestação do Estado-investigador à sociedade e poderá pro-ceder ao indiciamento3 do investigado, de forma fundamentada, caso haja possibilidade e/ou probabilidade para tanto. Em ALVES (2016, p. 138) há o alerta de que todo indiciamento gera constrangimento à pessoa, uma vez que constará em sua folha de antecedentes tal registro, mesmo que o inquérito policial venha a ser arquivado pelo juiz: “por conta disso, o indicia-mento não é ato discricionário do delegado, que somente poderá procedê-lo se presentes indí-cios suficientes de autoria e prova da materialidade delitiva”.

Importante citar a existência de outro instituto investigatório e que é constante-mente negligenciado pelos operadores do direito. Trata-se da Verificação da Procedência da Informação, ou VPI, cuja previsão é expressa no artigo 5º, §3º, do CPP4. Aduz-se da leitura de CASTRO e COSTA (2018) que a VPI se encontra em um momento embrionário em que as di-ligências policiais são simples e devem ser documentadas em um simples relatório ou boletim de ocorrência, não se exigindo o nível de complexidade do inquérito propriamente dito.

Nessa fase não se permitem medidas invasivas como busca e apreensão domicili-ar, quebra de sigilo de dados e apreensão de bens5. Visualizada alguma prognose de justa cau-sa nescau-sa fase investigatória, autorizada estará a instauração de inquérito policial. Sua impor-tância para a dinâmica da atividade investigativa fica evidenciada especialmente na apuração do conteúdo de informações anônimas recebidas previamente à instauração (ou não) de algum procedimento específico.

Ademais, há legislações específicas que versam sobre o tema da investigação criminal, merecendo destaque a Lei nº 12.850 de 2 de agosto de 2013, que, dentre outras, dá a definição de organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal. Esse novel regramento colocou à disposição do Estado diversas técnicas especiais de investigação, a

3 Entende-se por indiciamento a comunicação formal feita pelo Estado ao investigado de que ele passou a ser, a

partir daquele momento, o principal suspeito da autoria da infração penal.

4 “Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública

poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das infor-mações, mandará instaurar inquérito”.

5 Em complemento, ver a íntegra do teor do acórdão do Supremo Tribunal Federal no Habeas Corpus 124.677.

Disponível em: <www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=15331905469&tipoApp=.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2018.

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exemplo da colaboração premiada, a ação controlada, a infiltração de agentes, o acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações, além de contemplar os métodos já conhecidos.

Na avalizada conceituação de LIMA (op. cit., p. 507) sobre esse instituto, essas técnicas especiais de investigação (ou meios extraordinários de obtenção de prova) são ferramentas que servem para “(...) a apuração e persecução de crimes graves, que exijam o emprego de estratégias investigativas distintas das tradicionais, que se baseiam normalmente em prova documental ou testemunhal”.

Dispondo sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia a Lei nº 12.830, de 20 de junho de 2013, trouxe uma ferramenta exitosa à investigação, ao prever no § 3º do artigo 2º que, “durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requi-sição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos” (BRASIL, 2013). Para GOMES (2015) essa requisição de acesso aos dados cadastrais e docu-mentações constantes em arquivos e bancos de dados de empresas, sem necessidade de repre-sentação ao Poder Judiciário para a efetividade do acesso a esses elementos de convicção no curso de um procedimento apuratório, se enquadra naturalmente às atribuições da autoridade policial.

2.4. A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO CAMPO POLICIAL

O âmbito policial, como extensão da atividade estatal, também necessita de atividade de inteligência adaptadas às suas peculiaridades, seja em sua esfera de ação estratégica, seja no campo operacional ou tático. Segundo SILVA (2013), o material produzido pelas unidades de inteligência permitirá ao tomador de decisão ter conhecimento sobre detalhes de atuação da criminalidade, o qual servirá ao emprego racional dos recursos humanos e materiais, bem como na adoção de estratégias de ação operacional adequadas ao cenário concreto.

No decurso natural, a profissionalização das atividades policiais se iniciou com a instituição de unidades de investigação especializada, o que ampliou as capacidades de detecção, vigilância e captura, interrogatório, perícia técnica e armazenamento de informações sobre segmentos populacionais e sobre infrações penais.

Nesses contornos de aperfeiçoamento, a inteligência policial buscou aprimora-mento no campo das atividades de inteligência elaboradas pelo Estado valendo-se da roupa-gem interdisciplinar e multifacetada dessa matéria, se apropriando das inovações tecnológicas

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trazidas consigo. Na visão de PAULA (2013, p. 80), os usos dessas novas tecnologias, princi-palmente as da informação e comunicação, bem como dos sistemas baseados em conhecimen-to:

(...) podem ter as mais variadas utilidades, afetar ‘todos os sentidos’ dentre as quais destacamos, no âmbito da segurança pública, as seguintes: investigação criminal, sistema de identificação criminal, perícias, sistema de informações policiais judiciá-rias, sistemas de informações de polícia administrativa, sistema penitenciário, defesa civil, inteligência policial, centro de operações de emergências, análise criminal, ge-oprocessamento, e governo eletrônico.

Como visto, na contemporaneidade não há como dissociar a ideia de inteligência policial das tecnologias de informação e comunicação. A assunção dessas novas tecnologias pelos órgãos policiais permite a abertura de novas frentes no combate à criminalidade e solidi-fica as bases da inteligência policial.

BARBOSA (2011) explana que ao se aplicar a inteligência policial se busca des-vendar os esquemas criminosos determinando, por exemplo, quem são as pessoas envolvidas e quais são os seus vínculos, de que forma de desenvolve seu relacionamento, como se comu-nicam, como se organizam e de onde e de que forma provém o financiamento de suas ativida-des ilícitas, qual é seu modus operandi, quais são os objetivos perseguidos e seus alvos prefe-renciais para o cometimento de delitos, além de outros dados imprescindíveis para se conhe-cer em profundidade o alvo de interesse no caso concreto.

Ainda, para o supracitado autor, o emprego da atividade de inteligência na seara da investigação permite a construção de uma memória sobre as organizações criminosas que são investigadas. Nesse passo, há a possibilidade de se catalogar os líderes, os indivíduos rela-cionados às ações delituosas, as ações emblemáticas de cada grupo ou integrante, os métodos empregados e a logística criminosa, as formas de financiamento, entre outros. Segundo sua li-ção, as ações de inteligência proporcionam, além da utilização de um instrumental investigati-vo de alta eficácia do ponto de vista da produção de evidências, o engendramento de um ban-co de dados que dará suporte a futuras investigações que enfrentem o mesmo tipo de organi-zação criminosa.

2.5. NUANCES CONCEITUAIS LIGADOS À INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA INTER-NA, INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA, INTELIGÊNCIA POLICIAL E INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

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Ponto nevrálgico dos estudos aqui desenvolvidos reside em se estabelecer as dife-renças conceituais existentes entre a inteligência de segurança interna, a inteligência policial, inteligência de segurança pública e investigação policial.

Como visto, os serviços relacionados à inteligência de Estado (ou de segurança in-terna), materializados no SISBIN/ABIN, se prestam a fornecer subsídios ao Presidente da Re-pública nos assuntos de interesse nacional mediante a integração das ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do país e na produção de conhecimentos de interesse das atividades de inteligência, em especial aqueles responsáveis pela defesa externa, seguran-ça interna e relações exteriores. Essa inteligência, que tem o sigilo como regra, não é uma instância executora, pois após serem levantados os dados e informes é gerado o conheci -mento e aí cessa. Na sequência, alguém em nível mais elevado de hierarquia tomará, ou não, determinada decisão ou ação.

A atividade de inteligência em segurança pública tem seu conceito fornecido pela Doutrina Nacional de Inteligência em Segurança Pública que a define como sendo:

O exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, basicamente orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos ne-cessários para subsidiar os governos federal e estaduais à tomada de decisões, para o planejamento e à execução de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou aten-tatórios à ordem pública (BRASIL, 2009, p. 13).

Desse documento também se extraem as finalidades às quais as atividades relacio-nadas à inteligência em segurança pública se prestam (op. cit., p. 13-14). Elas consistem em proporcionar diagnósticos e prognósticos sobre a evolução de situações da área de segurança pública, fornecendo subsídios aos usuários no processo de tomada de decisão, em contribuir na interatividade entre usuários e profissionais de inteligência e que isso recrudesça o nível de atividade desses usuários e de suas organizações, em fornecer subsídios ao planejamento es-tratégico integrado do sistema e ao desenvolvimento de planos específicos para os diversos in-tegrantes do Sistema de Segurança Pública, em fornecer apoio de forma direta com informa-ções relevantes às operainforma-ções policiais de prevenção, repressão, patrulhamento ostensivo e de investigação criminal, em prover alerta avançado aos responsáveis da área civil e militar con-tra crises, grave perturbação da ordem pública, ataques surpresa e oucon-tras intercorrências, em auxiliar na investigação de delitos, em preservar o segredo governamental sobre as necessida-des informacionais, as fontes, fluxos, métodos, técnicas e capacidanecessida-des de inteligência das agências encarregadas da gestão da segurança pública.

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Para PATRÍCIO (2006) o que difere a inteligência de segurança pública daquela tida como clássica de Estado (cuja ABIN é o expoente máximo no cenário brasileiro) é a espe-cificidade do objeto trabalhado e dos objetivos a serem atingidos. A primeira atua na área es-pecífica de segurança do cidadão, enquanto a última investe em todas as áreas de interesse do Estado em conhecer, prevenir, proteger e decidir, interna e externamente. Para a autora, a con-fusão conceitual entre as duas pode ser explicada sob a égide da apuração de infrações penais: quando os métodos investigativos não alcançam os objetivos desejados ou os meios de provas permitidos em direito não conseguem comprovar a materialidade e a autoria do crime, apela-se para o uso das técnicas operacionais de inteligência adotadas pelo Estado brasileiro, ou ain-da a leis extravagantes que permitem a adoção de outras técnicas. Dessa forma, destaca-se a diferença existente entre a atividade policial que é prevista na lei adjetiva penal e a atividade de inteligência prevista na Lei nº 9.883/99, o que não permite, portanto, rotular investigação policial de inteligência policial.

Ainda, em suas intrincadas relações, retromencionada autora afirma que os órgãos de inteligência criados no âmbito da segurança pública especialmente para a produção de co-nhecimentos objetivam subsidiar as investigações policiais, dentre outras diversas missões. Se assim não fosse, não seria necessária sua criação, tendo em vista a consolidada existência das polícias judiciárias para investigação de infrações penais.

A Resolução nº 1, de 15 de julho de 2009, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) traz nos incisos III e IV de seu artigo 1º, as definições de inteligência de segurança pública e inteligência policial, respectivamente, in verbis:

Inteligência de Segurança Pública: é a atividade permanente e sistemática via ações especializadas que visa identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais sobre a segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem planejamento e execução de políticas de Segurança Pública, bem como ações para prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza, de forma inte-grada e em subsídio à investigação e à produção de conhecimentos;

Inteligência Policial: é o conjunto de ações que empregam técnicas especiais de in-vestigação, visando a confirmar evidências, indícios e a obter conhecimentos sobre a atuação criminosa dissimulada e complexa, bem como a identificação de redes e or-ganizações que atuem no crime, de forma a proporcionar um perfeito entendimento sobre a maneira de agir e operar, ramificações, tendências e alcance de condutas cri-minosas.

Ainda, por cautela rememora-se que, como explanado anteriormente em subtítulo específico, a investigação criminal se presta à apuração de indícios de materialidade e autoria em uma infração penal tendo como norte a busca pela verdade possível dos fatos (CASTRO e SANINNI NETO, 2016). É uma atividade intrinsecamente ligada ao processo penal e é res-ponsável por investigar infrações penais em uma determinada circunscrição.

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Desenvolvese de forma sigilosa, dentro de prazos estabelecidos e fica adstrita aos mecanismos inves -tigatórios previstos nas leis brasileiras.

No tocante às demais diferenças existentes, há diversos posicionamentos na dou-trina. MINGARDI (2007, p. 52) escreve que a inteligência policial é “uma atividade especiali-zada e detentora de técnicas e métodos próprios. É considerada uma espécie de ‘prima pobre’ da Inteligência de Estado e ‘prima distante’ da inteligência militar, que é a atividade mais anti-ga do ramo”.

Para BARRETO e WENDT (op. cit., p. 71-72) há diversos empregos da atividade de inteligência na área de segurança pública, podendo ela ser utilizada para fins estratégicos (médio e longo prazo) e para fins táticos (curto prazo), levando-se em consideração as especi-ficidades. De acordo com eles, inteligência de segurança pública e inteligência policial são conceitos sob o pálio da complementariedade, uma vez que o mesmo conhecimento produzido pode ser utilizado de maneira estratégica pelo gestor, auxiliando na distribuição de recursos humanos e recursos materiais, ou instaurando uma investigação criminal mais qualificada. Para tanto, essas atividades assumem os seguintes conceitos:

Inteligência de Segurança Pública (ISP) – Compreende o exercício permanente de ações especializadas para a produção de conhecimentos e a salvaguarda destes e de dados necessários para prever, prevenir e reprimir atos delituosos de qualquer natu-reza ou relativos a outros temas de interesse da segurança pública.

Inteligência Policial – É o conjunto de ações que empregam técnicas especiais de in-vestigação, visando confirmar evidências e indícios e obter conhecimentos sobre a atuação criminosa dissimulada e complexa, bem como a identificação de redes e or-ganizações que atuem no crime, de forma a proporcionar um perfeito entendimento sobre a maneira de agir e operar, ramificações, tendências e alcance de condutas cri-minosas.

No entendimento de MOREIRA (2013), no que se refere aos conceitos apresenta-dos, observa-se que a inteligência de segurança pública atua predominantemente em nível es-tratégico, enquanto a inteligência policial situa-se no nível tático-operacional.

Devido à proximidade na seara de atuação da investigação criminal e da inteligên-cia poliinteligên-cial, nessa mesma doutrina de BARRETO e WENDT (op. cit., p. 72) há a constatação da existência de confusão envolvendo os fins dessas atividades. De acordo com os autores, elas também são complementares, sendo que a última auxilia a primeira. Na conceituação de-les:

Investigação criminal – Tem por objetivo, após a prática de uma infração penal, re-colher elementos de autoria e materialidade para que se possa instaurar a competente ação penal contra os autores do fato.

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Inteligência policial – Disponibiliza ferramentas para uso na investigação criminal. Ex.: análise relacional e/ou de vínculos, tecnologias, técnicas e ferramentas operaci-onais (técnicas de vigilância, OMD6, RECON7, fotografia etc.).

Concluem os autores que o auxílio prestado pela inteligência policial à atividade investigativa é de suma importância, uma vez que ela pode levantar hipóteses, aprimorar da-dos e conhecimentos, realizar a coleta inicial de dada-dos e conhecimentos, buscar em fontes de médio e difícil acesso, realizar contatos informais e prévios com outros órgãos, disponibilizar equipamentos especiais e tecnologias à investigação criminal, proceder à análise relacional e/ou de vínculos por meio deferramentas auxiliares e contínuas.

A proximidade conceitual e da atividade fim a que a inteligência policial e investi-gação policial se prestam são agasalhadas por sutilezas que as diferenciam, distinções que são clareadas pela lição de DANTAS e SOUZA (2004, p. 5), pois:

Ambas lidam, muitas vezes, com os mesmos objetos (crime, criminosos e questões conexas), com seus agentes atuando lado-a-lado. Enquanto a investigação policial tem como propósito direto instrumentar a persecução penal, a Inteligência Policial é um suporte básico para a execução das atividades de segurança pública, em seu es-forço investigativo inclusive. A metodologia (de abordagem geral e de procedimen-tos específicos) da Inteligência Policial está essencialmente identificada com a da Inteligência de Estado.

Diante do até então apurado, é importante trazer à baila a conceituação elaborada por BRITO (2011, p. 79) referentes às semelhanças e diferenças existentes entre a lógica de funcionamento das organizações de inteligência de segurança internas (v.g., ABIN) e da lógica das organizações policiais (polícias civis e federal, in casu).

Para ele, a semelhança reside no aspecto investigativo, uma vez que ambas levan-tam informações que objetivam identificar indivíduos associados às ameaças internas do Esta-do, sendo essas ações compreendidas entre temas como o crime organizado internacional, la-vagem de dinheiro, terrorismo, dentre outros. Já as diferenças mais acentuadas são quanto à abrangência e aos meios empregados pelas duas: enquanto a inteligência de Estado trabalha com várias áreas do conhecimento (político, tecnológico, militar, etc.), a modalidade policial fica adstrita à área da segurança pública, ou seja, atua obtendo conhecimento que auxilie na tomada de decisões quanto à repressão ou prevenção de ilícitos penais.

No entendimento de LEITE (2014) o escopo da inteligência policial não é a produção de provas, o que a difere do mote da investigação policial. Contudo, a autora faz a ressalva de que no decurso da produção de conhecimentos na área criminal podem surgir fatos

6 Ação de busca realizada para obter dados sobre o ambiente operacional ou identificar alvos.

7 Técnica Operacional de Investigação em que o profissional examina de forma minuciosa e atenta, pessoas,

lo-cais, fatos ou objetos por meio da máxima utilização dos sentidos, de modo a transmitir dados que possibilitem a identificação.

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ou situações relacionados a supostos crimes. Para ela, não existem óbices em se compartilhar o conhecimento com a unidade de polícia judiciária responsável pela apuração dos fatos ou, havendo investigação ou processo judicial em curso sobre os mesmos fatos, corroborar as provas até então produzidas, uma vez que a inteligência policial é voltada à produção e proteção de conhecimentos na atividade policial, dentre as quais sobre acontecimentos e situações de imediata ou potencial influência sob a criminalidade, o modus operandi das organizações criminosas, visando o assessoramento das ações de polícia judiciária, com foco na prevenção e maximização dos resultados ao combate ao crime e na instrumentalização dos gestores na tomada de decisão.

Por sua vez, PACHECO (op. cit.) leciona que a inteligência classificada como de “Estado” (aquela relativa à segurança nacional) deve ser complementada pela inteligência de segurança pública (ou inteligência policial). Em sua obra há a constatação de uma tendência de que os serviços de inteligência policiais brasileiros atuem de forma dicotômica, produzindo provas para investigações e processos criminais numa atividade de natureza eminentemente executiva (inteligência tática) e gerando conhecimento destinado ao processo decisório estra-tégico (inteligência estratégica) em que, por meio dos conhecimentos contidos em análises de conjuntura criminal ou em estimativas de evolução de criminalidade, assessoram autoridades governamentais na formulação de políticas de prevenção e combate à criminalidade.

Desses nuances expostos, observa-se que a principal característica prevalecente é o caráter de complementariedade existente entre as intersecções de cada uma dessas ativida-des de inteligência que, respeitados os limites legais, podem mutuamente se ajudar de forma que, cada qual em sua esfera de atribuição, completem suas tarefas.

3. DOS ASPECTOS RELACIONADOS ÀS FONTES ABERTAS DE INTELIGÊNCIA

Localizamo-nos no decurso da história moderna em um período denominado soci-edade da informação, um desdobramento natural do que TOFFLER (1980) classificou como a terceira grande onda econômica mundial, marcada pela utilização de tecnologias emergentes pelas nações desenvolvidas com foco na informatização e no conhecimento.

Esse modelo de sociedade atual permite que as mudanças sociais sejam tão drásti-cas quanto os processos das transformações tecnológidrásti-cas e econômidrásti-cas. CASTELLS (2011, p. 40) cunha que esse período histórico é caracterizado “pela ampla desestruturação das organi-zações, deslegitimação das instituições, enfraquecimento de importantes movimentos sociais e expressões culturais efêmeras” ao passo em que as redes globais de intercâmbios

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instrumen-tais “conectam e desconectam indivíduos, grupos, regiões e até países, de acordo com sua per-tinência na realização dos objetivos processados na rede, em um fluxo contínuo de decisões estratégicas”. Nesse enredo, para o iminente sociólogo, além de outras, “as atividades crimi-nosas e organizações ao estilo da máfia de todo o mundo também se tornaram globais e infor-macionais” (op. cit., p. 40).

Num cenário estruturado sob essa égide, há uma crescente de insumos tecnológi-cos que permitem a generalização do uso de tecnologias digitais, franqueando a busca, a pro-dução e a disponibilização de informação por diversos atores sociais que, cada qual a seu modo, modificam a cultura e a sociedade. Obviamente todas essas incisivas transformações sociais reverberam em todos os aspectos, inclusive na forma como as infrações penais ocor-rem e como cidadãos e Estado agem em contrapartida.

Nesse universo permeado pela tecnologia, o produto da interação acentuada entre os dispositivos de tecnologia de informação e comunicação é denominado big data: uma vas-tíssima gama de conjuntos de dados, produzida em alta velocidade e em grande volume. LUP-TON (2015, p. 45, apud NASCIMENTO, 2016, p. 225) tece em sua obra que:

Big data são vistos como oferecendo maior precisão e poder de predição para

me-lhorar a eficiência, a segurança, o bem-estar e a geração ou gestão dos recursos. A capacidade das tecnologias digitais para a coleta, a mineração, o armazenamento e a análise dos dados são representados como superior a outras formas de conhecimen-to, oferecendo mais oportunidades do que nunca para aprofundar os comportamen-tos humanos.

E é em um quinhão dessas informações disponíveis que atualmente é encontrado um dos mais valorizados segmentos das fontes de inteligência – a OSINT – Open Source

In-telligence – ou inteligência de fontes abertas, em tradução livre, oportunidade única para o

en-frentamento do crime e aprimoramento da investigação policial, como ser verá adiante, pois, antes disso, necessário se faz uma ambientação em relação às fontes de inteligência.

3.1. APANHADO GERAL SOBRE AS FONTES DE INTELIGÊNCIA

Em se tratando de produção científica ligada à área da segurança pública, a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública – DNISP (BRASIL, 2009) estabelece que a atividade de inteligência de segurança pública (ISP) dispõe de duas fontes diversas: as abertas (aquelas que são de livre acesso) e as protegidas (aquelas cujos dados são negados).

Quanto aos meios, essa Doutrina Nacional cunha a existência de dois meios de obtenção de dados e/ou informações, sendo eles os humanos e eletrônicos. O primeiro tem

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foco na obtenção de dados e/ou conhecimentos no homem (Inteligência Humana, ou IntHum). Quanto ao segundo, o foco central é o equipamento e divide-se em Inteligência de Sinais, a Inteligência de Imagens e a Inteligência de Dados.

A DNISP traz em seu texto as definições dos ramos de inteligência obtidos por meio de fontes protegidas. Assim, nessa obra é conceituado que a inteligência de sinais é res-ponsável pela “interceptação e pré-análise de comunicações, radares, telemetria etc., e pela transcrição de informações obtidas em línguas estrangeiras, pela decodificação de mensagens criptografadas, pelo processamento de imagens digitais, além de outras funções” (2009, p. 18). À inteligência de imagens incumbe “a coleta e o processamento de imagens obtidas atra-vés de fotografias, satélites, radares e sensores infravermelho” (op. cit., p. 18), enquanto a in-teligência de dados “envolve a captura de dados pela interceptação de sistemas de informáti-ca, telecomunicações e telemática” (op. cit., p. 18).

Na obra de CEPIK (2001), ao se esmiuçar as particularidades de cada uma das fontes de inteligência, temos que as fontes humanas são as mais antigas, baratas e também uma das mais problemáticas existentes. Ela é composta basicamente pelos oficiais de inteli-gência e as fontes deles, que podem ser outros oficiais das congêneres, informantes, viajantes, especialistas acadêmicos, refugiados, exilados, dentre tantos outros. Os problemas residem no gerenciamento dessas fontes, qual a motivação que as levaram a levantar as informações, além dos riscos de operações de contraespionagem e daquelas derivadas do processo de iden-tificação, recrutamento e comunicação com os agentes e seus controladores. Apesar disso a in-teligência humana (HUMINT) é considerada insubstituível como fonte de informação, princi-palmente por ser um dos subsídios à interpretação de mensagens interceptadas (SIGINT) ou fotografias (IMINT), por exemplo.

A inteligência de sinais (SIGINT) é a segunda disciplina mais antiga de coleta de informações e consolidou-se num primeiro momento a partir da interceptação, decodificação, tradução e análise de mensagens por um terceiro ator além do emissor e destinatário almejado. Evoluiu de tal forma que atualmente se divide em inteligência de comunicação – COMINT – responsável pela interceptação, processamento o pré-análise das comunicações oriundas de governos, organizações e indivíduos (exceto as públicas), e a inteligência eletrônica – ELINT – a qual cabe interceptar, processar e pré-analisar sinais eletromagnéticos não comunicacio-nais emitidos por equipamentos militares e civis. É intrinsecamente ligada a todos os aspectos relacionados às novas tecnologias de informação e comunicação (TICs).

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Outra fonte de inteligência existente é a MASINT – inteligência derivada de men-suração e assinaturas – que, devido a sua especificidade, tem ocorrência diminuta comparada às três primeiras.

3.2. A INTELIGÊNCIA DE FONTES ABERTAS E SUAS TECNICIDADES

Tecnicamente a OSINT é derivada de duas matérias primas, dos OSD (Open

Source Data ou Dados de Fontes Abertas, em tradução livre) e das OSINF (Open Source In-formation ou Informações de Fontes Abertas, em tradução livre).

Apropriando-se da conceituação trazida pelo Manual de Inteligência de Fontes Abertas, da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (2001), os dados de fontes abertas são aqueles que não foram processados ou editados por um analista e obtidos a partir de fontes primárias, como é o caso de um relato de um jornalista especialista em determinado segmento de notícias, uma carta pessoal e até mesmo os dados provenientes de fontes tecnoló-gicas, como fotografias, imagens de um satélite comercial ou gravações em mídias.

Informações de fontes abertas (OSINF), por sua vez, podem ser definidas como a compilação de dados angariados nas fontes primárias e que passaram por um processo de fil-tragem, edição e validação. É considerada informação genérica e é amplamente divulgada em jornais, publicações acadêmicas, transmissões de rádio e televisão e publicações na internet. Esse caráter genérico e tratado da OSINF torna seu acesso muito mais amplo ao público do que aquelas ofertadas pelas fontes primárias, bem como mais compreensível àqueles que bus-cam por essas informações. A doutrina da OTAN (op. cit.) ainda classifica outra parcela da OSINF como “literatura cinzenta”, que é aquela que não possui sigilo, no entanto não pode ser adquirida com tanta facilidade, como é o caso de alguns boletins internos de órgãos públi-cos ou organizações particulares, anais de congressos, publicações acadêmicas, pesquisas de institutos, tratados comerciais e informações relacionadas a partidos políticos.

Dessa forma, nesse contexto exposto aplicável à inteligência de segurança interna, inteligência de fontes abertas é informação que foi deliberadamente descoberta, discriminada, destilada e disseminada para um público (geralmente ao decisor e/ou àqueles que recebem de-legação para decidir), para abordar questões específicas. OSINT, em outras palavras, aplica o processo comprovado de inteligência para a ampla diversidade de fontes abertas de informa-ções e, assim, cria inteligência.

Para STEELE e LOWENTHAL (1998, p. 5-6) a definição de inteligência de fon-tes abertas é compreendida como o:

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Resultado da integração de fontes multilíngues e multimídias que são disponíveis de forma legal e ética com os até então amplamente secretos processos da inteligência nacional: análise de requisitos, gerenciamento de coleta, validação fontes, fusão multifontes e apresentação convincente8.

Nesse diapasão percebe-se que, contrariamente à parcela de técnicas clandestinas usadas na coleta efetuada a partir de fontes humanas (HUMINT) e de sinais (SIGINT), as fon-tes abertas não se valem desse subterfúgio muitas vezes ilícito, sendo que seu acesso se dá de forma livre, legal e ética, dependendo no máximo da aquisição dos direitos autorais ou de re-quisitos comerciais aplicáveis aos dados ou informações (BARRETO e WENDT, 2013; CE-PIK, op. cit.).

Da publicação da Lei de Autorização de Defesa (2006) pelo Congresso dos Esta-dos UniEsta-dos da América se extrai que a “OSINT é uma inteligência produzida a partir de infor-mações publicamente disponíveis que são coletadas, exploradas e divulgadas em tempo hábil para uma audiência própria, objetivando atender a um requisito de inteligência específico9”.

3.3. A INTELIGÊNCIA DE FONTES ABERTAS E SUAS FONTES

Anteriormente ao surgimento e à paulatina expansão da internet no final da déca-da de 1990, o núcleo déca-das fontes de OSINT se concentrava no monitoramento déca-das transmissões midiáticas (programas televisivos e de rádio), de publicações impressas em revistas, jornais e periódicos acadêmicos, o que não chegava ser de muita valia para a época, uma vez que pou-co daquilo que era selecionado era aproveitado.

KLANOVICZ (2006) assevera a vastidão que compõe o rol de fontes abertas. Para ele, o processo de obtenção de dados incide sobre ambientes (entidades e instituições, es-paços públicos e privados, além de visitas in loco), pessoas (público em geral, aposentados, desempregados, informantes) fontes primárias e secundárias (bancos de dados, bibliotecas, mídia em geral, anais de seminários e congressos, conferências, notas de aulas e palestras, mapas e gráficos, serviços de referência, coleções iconográficas, hipertextos, fontes digitais e magnéticas). Todavia, na era da informação, um dos principais espaços em que o profissional de inteligência busca fontes abertas é na internet.

8 Tradução livre do original “(...) results from the integration of legally and ethically available multilingual and

multimedia sources, with the heretofore largely secret processes of national intelligence: requirements analysis, collection management, source validation, multi-source fusion, and compelling presentation”.

9 Tradução livre do original: “OSINT is intelligence that is produced from publicly available information

col-lected, exploited, and disseminated in a timely manner to an appropriate audience for the purpose of addressing a specific intelligence requirement”.

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Sua grandiosidade é demonstrada na literatura de MERCADO (2004, p. 49) em que é constatado que as fontes abertas representam um valor em torno de 80% da totalidade do banco de dados da inteligência em geral10. Já na visão do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Jorge Armando Félix, pode-se “estimar em mais de 90% o conhecimento obtido das chamadas ‘fontes abertas’ (periódicos, internet, livros, TV, etc.)” (FÉLIX, 2005).

Com o franco desenvolvimento da internet e das tecnologias de informação e co-municação (TICs) e a migração da mídia usual para ela, a rede mundial de computadores se tornou a maior fonte de informações publicamente disponível. Além do volume, frisa-se a fa-cilidade de pesquisa ao material digital, fato que pode fornecer as informações específicas de acordo com o que se busca – característica valiosíssima ao trabalho do analista de inteligên-cia.

LEITE (op. cit., p. 20-21), embasada em estudos das obras de Mark Lowenthal e Vladimir Brito, enumera taxativamente o rol de fontes de dados e de informações que podem ser coletados a partir de meios de fontes abertas em:

a) Mídia: jornais, revistas, rádio, televisão e informação baseada em computador; b) Dados públicos: relatórios do governo, orçamentos públicos, dados demográficos, audiências públicas, debates legislativos, conferências de imprensa, discursos, avisos de segurança marítima e aeronáutica, estatísticas;

c) Profissional e acadêmica: conferências, simpósios, congressos, associações profissionais, trabalhos acadêmicos e especialistas temáticos;

d) “Literatura cinzenta”: informações com distribuição limitada, tais como pesquisas científicas e tecnológicas, trabalho acadêmicos, dentre outros materiais;

e) Observação de terceiros: coleta de informações a partir de pilotos de avião amadores, monitores e observadores de comunicações de rádio, turistas e aventureiros, dentre outros;

f) Comunidades baseadas na Web e conteúdo gerado por usuários individuais: redes sociais, sites de compartilhamento de vídeo, wikis, blogs e folksonomias;

g) Informações geoespaciais: imagens de satélite, mapas, atlas, dentre outros. Em se tratando especificamente de internet, urge citar a existência de duas cama-das de acesso a essa rede. A primeira é aquela em que a maioria da população navega e que foi denominada superfície da web – camada em que a obtenção de informações se dá pela uti-lização de navegadores e de motores de buscas convencionais, pelo cruzamento de dados do

big data ou se utilizando de programas de mineração de dados.

O outro caminho existente é a cognominada deep web, camada da rede em que os navegadores tradicionais não são capazes de captar os dados e informações hospedados na-queles níveis. Corroborando sobre a deep web KHARE, AN e SONG (2010, p. 33) registram

10 Livre tradução do original: “(…) has even estimated that open sources may account for as much ‘as 80

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que suas características comportam uma “escala crescente, diversidade de domínios e nume-rosas bases de dados estruturadas. Está crescendo em um ritmo tão rápido que efetivamente estimar seu tamanho é um problema difícil11”. Em SOUZA (2013, p. 17) há o posicionamento que “estimativas indicam que a deep web é 500 vezes maior que a web visível e que seu volu-me de dados está em torno de 91 mil terabytes”.

Ao encontro dessa temática, MINAS (2010) afirma que característica inegável da

deep web é sua vastidão de conteúdo e pontua esse predicado fazendo a distinção entre a

ca-mada superficial e a caca-mada profunda da web. A primeira é forca-mada por dados e documentos que são acessíveis por mecanismos públicos comuns de pesquisas o que totaliza apenas 6% daquilo que é armazenado atualmente e pode ser acessado por todos sem custo e de forma in-discriminada. A segunda, por sua vez, compreende os 94% de dados e informações armazena-dos na deep web e que não podem ser acessaarmazena-dos pelos meios usuais. É composta por fontes

premium online, “literatura cinzenta”, pesquisas de mercado especializadas, intranets

corpo-rativas, investigações privadas, informações de serviço de corretagem e serviços de informa-ções geoespaciais. Segundo esse autor, uma vez que qualquer interessado disponha das ferra-mentas para explorar essa camada, é certo que muitas informações valiosas podem ser encon-tradas e transformadas em inteligência de fontes abertas aproveitável.

Devido ao constante progresso tecnológico, outra fonte de OSINT muito valoriza-da é aquela que provém dos satélites comerciais de imagens, uma vez que atualmente todos os órgãos governamentais ou empresas que estão dispostos a pagar e que não dispõem desse apa-rato, têm a oportunidade de acessar imagens de satélite.

De outro turno e não menos valorizado é o conteúdo que se encontra disponível nas redes sociais. Seu crescimento exponencial se deu em conjunto ao da internet e suas tec-nologias numa relação simbiótica que culminou no fornecimento de plataformas tecnológicas para a disseminação de informação e toda sorte de conteúdos.

SILVA (op. cit.) cita que partidos políticos, Estados, polícias e organizações crimi-nosas se atém àquilo que se extrai das análises das redes sociais12. Uns estão à procura de lu-cro, alguns do desenvolvimento científico, outros apenas com olhos voltados a conhecer deta-lhes particulares da vida e de relacionamentos das demais pessoas. Outros, ainda, utilizam desse meio para praticar e/ou facilitar o cometimento de crimes.

11 Livre tradução do original: “The Deep Web is characterized by its growing scale, domain diversity, and

nu-merous structured databases. It is growing at such a fast pace that effectively estimating its size is a difficult problem”.

12 Devido a sua predominância na contemporaneidade desenvolveu-se a SOCINT – Social Intelligence, ou

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As redes sociais têm impacto tão significativo que elas se tornaram para muitas pessoas a única fonte de informações e motor de buscas para encontrar respostas a perguntas específicas, além de ser um mecanismo dinâmico de exposição de opiniões e experiências. Es-sas características as tornam numa oportunidade jamais vista pelas comunidades de inteligên-cia e órgãos de segurança pública no quesito de serem um mananinteligên-cial perene de extração de dados e informações. Salutar se citar ZENG et al (2010, p. 14) e expor seu comentário acerca das propriedades da análise obtida das redes sociais:

Para os serviços de segurança interna e comunidades de análise de inteligência, as mídias sociais apresentam oportunidades imensas para estudar o comportamento de grupos terroristas, inclusive seus métodos de recrutamento e relações públicas, fun-damentos sociais e contextos culturais13.

Outro ponto de relevo relacionado à análise do conteúdo de livre acesso disponí-vel nas redes sociais é seu caráter preditivo: como as mídias sociais são uma forma de construção e dissipação do saber coletivo, há uma maneira de interpretá-las de forma a prever resultados no mundo real. Para DONOHUE (2015) a questão preponderante na análise de dados de redes sociais não é o que pode ser estudado, mas o que pode ser determinado. Aproveitando-se das muitas informações disponíveis é possível construir modelos de relacionamentos dentro de qualquer comunidade concebível, preenchendo as lacunas de acordo com os interesses que criam conexão entre os indivíduos. Até mesmo as relações geográficas podem ser estabelecidas entre os usuários nesse processo fornecendo detalhes sobre a natureza e qualidade de suas conexões. A promessa do big data, como se chamou, oferece uma visão mais ampla e minuciosa dos aspectos da ordem social.

Nesse pálio, as esferas governamentais veêm oportunidades na forma de conduzir melhor suas investigações e garantir a aplicação da lei, procurando não apenas detectar, mas prevenir futuras ameaças. Para a sobrecitada autora, os serviços de inteligência mudaram seu foco de atuação para o big data como forma de identificar e responder às ameaças. Nesse passo, o que se desenvolve é uma forma de inteligência social ao se coletar dados digitais provenientes dos relacionamentos sociais pelas mídias, cujas informações são obtidas por outras fontes de inteligência, como COMINT, SIGINT, ELINT e, principalmente, a OSINT.

3.4. AS FONTES ABERTAS DE INTELIGÊNCIA APLICADAS À INVESTIGAÇÃO POLI-CIAL

13 Livre tradução do original: “For homeland security and intelligence analysis communities, social media

presents immense opportunities to study terrorist group behavior, including their recruiting and public relation schemes and the grounding social and cultural contexts”.

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O cenário atual em que se encontra a segurança pública nos entes federados é ca-lamitoso tendo como panorama a ausência de políticas públicas efetivamente capazes de pre-venir ou reprimir ilícitos penais e do baixíssimo investimento em inteligência policial14. O so-matório desses fatores gera a escalada vertiginosa da prática das mais diversas infrações pe-nais15 e o fortalecimento de facções criminosas.

Nessa quadra, policiais judiciários ligados à investigação criminal encontram um valoroso reforço em suas atividades diárias – o emprego da inteligência de fontes abertas em suas tarefas. Essa inteligência tem por escopo a obtenção de dados de forma ética e legal, muitas vezes de baixo custo (quando não gratuitas).

Como visto, um grande compêndio de informações disponíveis a todos e que é ali-mentada tanto por autores quanto por vítimas de crimes pode ser encontrado nas redes sociais. Em pesquisa recente16 realizada nos Estados Unidos foi constatado que 73% dos órgãos poli-ciais de investigação utilizam os dados e informações obtidos a partir do monitoramento de redes sociais para solucionar os casos de forma mais ágil, sendo que 25% dos policiais entre-vistados as acessam rotineiramente como suporte ao trabalho investigativo.

Mudando esse viés da atuação policial norte-americana para o paradigma nacio-nal, o uso de fontes abertas de inteligência ainda necessita de amadurecimento. Em crítica ao

modus operandi do policial civil brasileiro, BARRETO, CASELLI e WENDT (2017, p. 27)

argumentam sobre o abandono das fontes abertas pelo policial investigador em detrimento da utilização unicamente dos bancos de dados oficiais no ato investigatório (muitas vezes desatu-alizado e com alcance limitado):

O que ocorre, na prática, a exemplo de quando surge o nome de alguém para apri-moramento de dados, é o agente policial acessar imediatamente o banco de dados oficial de seu Estado para verificar o que lá contém, muitas vezes esquecendo-se de

14 De acordo com os dados mais atuais constantes no 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2017), em

2015 os estados investiram R$ 708.599.582,59 em informação e inteligência, enquanto no ano de 2016 foi desti-nado a essas atividades o montante de R$ 502.380.201,63, ou seja, houve um decréscimo de 29,1%. Disponível em: <http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2017/12/ANUARIO_11_2017.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018.

15 Ilustra-se tal afirmação a partir da análise do crime mais grave que pode ocorrer, o homicídio. De acordo com

pesquisa do DATASUS, de 2007 a 2016 houve crescimento de 20,2% no número de assassinatos no país, ficando em torno de 60.000 assassinatos por ano. Dessa forma, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes ficou em  28,9 mortes/100 mil habitantes. O valor, considerado “aceitável” pela Organização Mundial da Saúde é de até 10 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/politica/republi-ca/em-dez-anos-550-mil-pessoas-foram-assassinadas-no-brasil-2xqq6jyaxafygtz2o09lzr8x3>. Acesso em: 19 fev. 2018.

16 Os resultados citados pertencem à pesquisa “Social Media Use in Law Enforcement: LexisNexis 2014

Com-prehensive Results”. Disponível em:

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pesquisar na web, em fontes abertas, cujo conteúdo pode ser bastante aproveitado para compreensão do ‘alvo’ de sua pesquisa.

De acordo ainda com os autores acima citados, os dados e informações constantes na internet trafegam por um só canal, enquanto cada um dos organismos policiais brasileiros possui banco de dados próprio. Tanto na atividade de inteligência quanto na de investigação policial há a busca por respostas para questionamentos específicos que possam surgir na ela-boração de determinada tarefa, sendo que muitas dessas respostas já estão disponíveis (ao me-nos em parte), na rede mundial de computadores, desde que o policial saiba os procedimentos para angariá-las e empregá-las de forma efetiva. Contudo, as informações retiradas do ambi-ente web não podem ser analisadas sob o prisma de serem verdades absolutas, exigindo-se a confrontação com outras fontes para validação de seu conteúdo e para que dessa forma sejam incorporadas ao relatório de inteligência ou ao relatório de investigação policial.

No entanto, no parecer de BARRETO (2015) a utilização das fontes abertas pela polícia judiciária tem logrado êxito nas mais variadas investigações. Exemplo tangível dessa prática são as infrações penais praticadas por membros de torcidas organizadas ou facções cri-minosas que são postadas em ambientes virtuais. A partir da análise do conteúdo publicado em redes sociais é possível estabelecer o modus operandi, bem como coletar indícios de mate-rialidade delitiva, além da possibilidade de identificação de autores que até então se julgavam inatingíveis por postarem conteúdo na web.

Igualmente, na concepção desse autor, o emprego de fontes abertas prospera em casos de homicídio, quando se acessam informações disponíveis em perfis de redes sociais de criminoso e vítima, na utilização de softwares e aplicações gratuitas de internet que auxiliam no planejamento de operações policiais, na consulta de dados úteis sobre o investigado realizadas em sites de tribunais e na utilização de alertas para auxiliar na localização e captura de foragidos em outros estados.

Na compreensão de SILVA (op. cit.) um aspecto marcante sobre as redes sociais serem constituídas majoritariamente de fontes abertas é que seu acesso é facilitado às polícias para investigações e operações de inteligência. Para ele, esse ponto se reveste de grande relevância, sobretudo para a atividade de inteligência que atualmente discute a importância dessas fontes abertas para a produção do conhecimento de interesse. Ao encontro, AFONSO (op. cit, p. 56), leciona que:

Fica óbvio que a grande vantagem das fontes abertas é o alto grau de oportunidade e o baixo custo para obtê-las. A OSINT (Inteligência de fontes abertas) torna-se atraente principalmente em épocas de contingenciamento orçamentário e para

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