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Análise dos impactos da convergência das normas internacionais de contabilidade na suavização de resultados das empresas brasileiras do setor de siderurgia

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Academic year: 2021

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Universidade Federal Fluminense Polo Universitário de Volta Redonda

Instituto de Ciências Humanas e Sociais de Volta Redonda

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

JOÃO GABRIEL BOMFIM MALHEIROS

ANÁLISE DOS IMPACTOS DA CONVERGÊNCIA DAS NORMAS

INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE NA SUAVIZAÇÃO DE

RESULTADOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR DE

SIDERURGIA

Volta Redonda/RJ 2018

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JOÃO GABRIEL BOMFIM MALHEIROS

ANÁLISE DOS IMPACTOS DA CONVERGÊNCIA DAS NORMAS

INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE NA SUAVIZAÇÃO DE

RESUTLADOS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR DE

SIDERURGIA

Trabalho de Conclusão do Curso apresentada ao Curso de Graduação em Ciências Contábeis do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientador: Profª. Mariana Bonfim

Volta Redonda/RJ 2018

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AGRADECIMENTOS

A trilha foi grande até ter a oportunidade e o privilégio de chegar aqui. Por mais que possam dizer que foi, eu discordo: não foi fácil. Optar por fazer um Ensino Superior, ainda mais uma ciência tão ampla como essa, é sempre uma decisão difícil e até certo ponto arriscada, mas também regada de alegria, empenho, realização e evolução.

No caminho até a Universidade, tive ao meu lado pessoas pelas quais tenho enorme carinho e, como retribuição, nada mais justo que agradecê-las nesse trabalho. Primeiramente, quero agradecer a Deus pelas oportunidades que me proporcionou, pela mão amiga que esteve sempre nos momentos mais obscuros e, principalmente, pela luz que iluminou meus passos. Não menos importante, quero agradecer a minha família por todo o apoio, amor, respeito e compreensão que tenho recebido sempre: Ao meu pai, que me orientou a seguir a profissão que exercerei pelo resto da vida; à minha mãe, que com tanto amor, compreensão e dedicação não me deixou faltar nada; e a minha irmã, que além de espelho, foi, e sempre será, minha melhor amiga.

Não menos importante, quero agradecer aos mentores: mestres, doutores, tutores e orientadores – mais conhecidos como professores – que me nortearam rumo ao conhecimento, ensinaram, pacientemente, o caminho das pedras e compartilharam todo o conhecimento que detinham a quem somente tinha um caderno e curiosidade. Espero poder retribuir tudo isso, tendo a oportunidade, algum dia, de lecionar na mesma Universidade que me ensinou. Também quero agradecer as amizades, as quais já agreguei à minha vida, que fiz durante a minha estadia em Volta Redonda. Aos meus amigos de curso e, agora, de profissão, que tenho total apreço, respeito e carinho pela pessoa que são e pelo profissional que vão se tornar, enchendo de orgulho a classe contábil e, também, a mim. Não posso, aliás, deixar de fora os amigos do curso de Administração que, apesar da grade curricular ter nos separado, ainda encontro nas salas, nos estudos, corredores, projetos e festas.

Ainda nas amizades, considerada por mim, entretanto, uma segunda família, estão aqueles que me acolheram em Volta Redonda desde o primeiro dia. Meus primeiros amigos na nova terra, irmãos de coração e guias da vida independente: a República IBIZA. Não obstante, devo agradecer a uma outra família, essa responsável pelo meu primeiro contato com uma empresa, pelo meu desenvolvimento pessoal e de momentos marcantes, que além de tudo possibilitou que eu aplicasse meus conhecimentos e minha criatividade, errando e aprendendo: a Pulso Consultoria.

A todos vocês, igualmente responsáveis por essa conquista, dedico o fruto do meu trabalho e dedicação.

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RESUMO

Com a convergência às normas internacionais de contabilidade (IFRS), a ciência contábil começa a tomar novos contornos e desenhar novos caminhos, afetando o ensino, a ciência, a pesquisa e, também, as empresas. A adoção de princípios como base para as práticas contábeis, diferentemente da baseada em regras, utilizada antigamente, traz uma nova forma de se fazer a contabilidade das empresas, mudando a mensuração de riqueza e trazendo informações financeiras com maior qualidade e confiabilidade. Sendo assim, o objetivo da pesquisa foi o de analisar o impacto que a convergência às IFRS trouxe para o gerenciamento de resultados, uma prática oportunista dos gestores de manipular o lucro das empresas, mais em específico, a modalidade suavização de resultados. A pesquisa teve como amostra as empresas brasileiras do setor de siderurgia listadas na B3, nos anos de 2004 a 2017, resultando em 44 observações. Para se alcançar os resultados, foi utilizado o modelo presente nos trabalhos de Barth, Landsman e Lang (2008), Silva et al. (2017) e Bonfim et al. (2016), no qual ficou evidenciado que as empresas do setor de siderurgia tiveram uma diminuição dos níveis de suavização dos resultados após a convergência às normas internacionais de contabilidade.

Palavras-chave: IFRS; Convergência; Siderurgia; Gerenciamento de Resultados; Suavização

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1. INTRODUÇÃO

Sendo a Contabilidade, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinada a prover aos seus usuários demonstrações e análises de natureza econômica e financeira, física e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização (ERNST & YOUNG, 2010), é inquestionável a sua relevância em processos decisórios nas empresas, seja envolvendo onde investir, quanto produzir ou quando começar um projeto. Existe uma demanda global dessas informações, porém cada país vive uma realidade econômica, jurídica e política diferente dos outros e isso pode prejudicar a qualidade da informação contábil que chega até aos usuários. Então, para preservar a qualidade dessas informações, há uma tentativa por parte do

International Accounting Standards Board (IASB) em realizar a convergência das normas

contábeis de diferentes países para as normas internacionais, de forma que se preserve a qualidade das informações contábeis das empresas, criando, assim, as Normas Internacionais de Contabilidade (IAS ou IFRS).

O processo de convergência das demonstrações contábeis começa a tomar os seus contornos antes mesmo da aprovação da Lei nº 11.638/07. Antes denominada de Lei nº 3.741/00, a lei que altera, cria e revoga alguns artigos da Lei das Sociedades por Ações somente foi aprovada 7 anos depois de entregue à Câmara dos Deputados (ERNST & YOUNG, 2010). Entre esse tempo, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou, por meio de resoluções, pronunciamentos contábeis substancialmente alinhados com as normas internacionais de Contabilidade, como a Deliberação 488/05 e 489/05 (ERNST & YOUNG, 2010). Além disso, um marco muito importante foi a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

O CPC é um órgão independente criado a partir da Resolução do CFC nº1.055/05 que tem como objetivo (CFC, 2005, p.70):

o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

Em associação com outras instituições, entre elas a ABRASCA, B3 (antiga BM&BOVESPA, a bolsa de valores do Brasil, onde são feitas compras e vendas de ações no mercado) e o FIPECAFI, o CPC tem atribuição para “estudar, pesquisar, discutir, elaborar e deliberar sobre o conteúdo e a redação de Pronunciamentos Técnicos, podendo também emitir Orientações e Interpretações” (CFC, 2005, p.70).

A necessidade de criar o CPC se dá devido a um contexto de importantes mudanças em todo o mundo com relação a Ciência Contábil. A facilidade com que as informações percorrem afetou, por consequência, o mundo dos negócios e, devido a isso, trouxe uma integração maior entre os mercados espalhados pelos países. Todos esses acontecimentos aumentaram a demanda por informações confiáveis e, assim como diz a Resolução do CFC 1.055/05, “a confiabilidade nas Demonstrações Contábeis por toda a sociedade interessada torna-se maior quando uma entidade for responsável pelo preparo e pela emissão e divulgação das regras que as regem”. Dessa forma, foi instituído o CPC no Brasil, seguindo também a tendência de muitos países desenvolvidos e em desenvolvimento pela convergência. (CFC, 2005, p.70).

A aplicação às Normas Internacionais de Contabilidade não se dá somente pelas mudanças ocorridas no mundo dos negócios, mas também por questões obrigatórias por lei. Devido a mudança da Lei nº 6.404/76, as empresas de sociedade anônima atuantes no Brasil se depararam com a obrigação de seguir novas práticas contábeis, como por exemplo, a obrigação de empresas de capital aberto a elaborarem a Demonstração de Valor Adicionado (DVA) e a substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). Porém, segundo a Resolução nº1.055/05, do CFC, a convergência internacional às IFRS traz como consequência: a redução de riscos nos

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investimentos internacionais, a maior facilidade de comunicação internacional no mundo dos negócios com o uso de uma linguagem contábil bem mais homogênea e a redução do custo do capital que deriva dessa convergência.

Portanto, pode-se perceber que a criação do CPC foi importante devido a necessidade, dentre tantas outras, de alinhar as Normas Brasileiras de Contabilidade com as Normas Internacionais, definindo um padrão a ser seguido por todas as sociedades interessadas, não só em reduzir seus custos ou executar suas atividades de forma transparente, mas também de conseguir investimentos e capital internacionais.

Com o advento de uma nova realidade introduzida pela convergência às IFRS, as empresas brasileiras se depararam com uma nova forma de fazer a contabilidade. O que antes era feito por procedimentos rígidos, passou a ser regido por princípios gerais (BRUNI et al, 2014) que, segundo Barth, Landsman e Lang (2008), proporcionaria a redução da prática de gerenciamento de resultados – sendo este o conjunto que engloba, entre outras práticas, a suavização de resultados – por diminuir a assimetria das informações e o conflito de interesses entre os agentes que produzem as informações e os que a utilizam. Assim sendo, a utilização das normas do IASB possuem certo grau de subjetividade (IUDÍCIBUS; LISBOA, 2007) e, portanto, confere aos administradores um poder discricionário com relação às informações. Esse poder pode permitir que o gestor de uma empresa possa atuar conforme os interesses da empresa e, até mesmo, o seu próprio, podendo manipular os resultados e o valor da empresa, mesmo que temporariamente (BONFIM et al, 2016).

Diante dessa temática, surge o seguinte problema de pesquisa: Qual foi o impacto na

prática de suavização de resultados, das empresas brasileiras de capital aberto de Siderurgia, proveniente da convergência às normas internacionais de contabilidade? O

objetivo desta pesquisa é analisar o impacto que a convergência às normas internacionais de contabilidade – IFRS – causou na prática de suavização de resultados das empresas brasileiras de capital aberto, que atuam no setor de Siderurgia.

O setor de Siderurgia foi escolhido para essa pesquisa devido não só a sua contribuição histórica, mas também a sua atual importância na economia do Brasil. Conforme dados da empresa de consultoria PwC (2013), o Brasil ocupa a posição de maior produtor de aço na América Latina e o seu parque produtor se encontra instalado em dez estados, entre eles os da região Sudeste, que produz 94% do aço utilizado no país. Segundo dados do Instituto Aço Brasil (2015), o país ocupava a posição de 8º produtor mundial de aço em 2015 e, no mesmo ano, pagou de impostos cerca de R$13,3 bilhões.

Essa pesquisa está dividida nas seguintes seções: inicialmente a introdução na qual está descrito o objetivo da pesquisa e sua justificativa; em seguida o referencial com toda a base teórica sobre a convergência às IFRS e a suavização de resultados. Na terceira seção são apresentados os métodos que foram utilizados para a confecção da pesquisa; posteriormente são apresentadas as análises dos dados e, por fim, as considerações finais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Nessa seção serão abordados os temas sobre a convergência às normas internacionais de contabilidade no Brasil e a respeito da Teoria da Agência e Gerenciamento de Resultados.

2.1 Convergência à IFRS

O início do processo de convergência foi em 1973, com a fundação do IASC (International Accounting Standards Committee), órgão que, anos mais tarde, se transformou no IASB. O IASB tem o compromisso de “desenvolver, no interesse público, um conjunto único

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de normas contábeis globais de alta qualidade, que exige informações transparentes e comparativas nas demonstrações financeiras de uso comum” (ERNST & YOUNG, 2010). Em 2001, foi decidido na Comissão Europeia que seriam adotadas as normas internacionais de contabilidade nessa região.

Com a adoção das IFRS em vários países, houve esforços da sociedade brasileira em atualizar a Lei das Sociedades por Ações com o intuito de torná-la mais próxima possível da realidade brasileira e global, aproximando-a com a IFRS. Assim, em 2007, foi aprovada a Lei nº 11.638, sendo aplicada aos exercícios que se iniciaram em 1º de janeiro de 2008.

As demonstrações contábeis são preparadas e apresentadas para usuários externos por diversas entidades ao redor do mundo (ERNST & YOUNG, 2010). Sendo assim, nota-se a importância de se estabelecer um padrão na elaboração das demonstrações e buscar uma harmonia para que a informação seja cada vez mais fiel e precisa.

A convergência às normas internacionais traz muitos desafios. Por exemplo, as empresas brasileiras que captam capital externo ou operam no exterior e que devem fazer várias demonstrações financeiras para obedecer aos princípios contábeis locais, o que pode ser difícil e oneroso, quando se tem padrões contábeis diferentes em cada país (DELLOITE, 2008). A convergência diminui a complexidade de se elaborar essas demonstrações, além de dar mais transparência as informações, já que onde quer que a empresa esteja, a forma com que as informações forem processadas, será da mesma forma. Estando cientes desse e outros benefícios, as empresas em todo o mudo vêm adotando a utilização das IFRS em suas demonstrações financeiras.

O que também pode ser evidenciado e, também, reforçando a necessidade da convergência às normas internacionais, é a forma como a economia mundial está cada vez mais interdependente. A crise econômica mundial de 2009 tornou isso evidente, mostrando a necessidade de uma linguagem contábil única e que permita a comparação das demonstrações financeiras em diferentes mercados (ERNST & YOUNG, 2010). Porém, seus desafios continuarão acompanhando as mudanças do mundo. Por ser fundamentado em princípios e não em regras, o IFRS apresenta desafios significativos ao promover uma mudança conceitual na forma de aplicar e interpretar conceitos e transações, o que exigirá dos investidores, acionistas, bancos, auditores, acadêmicos e demais usuários das demonstrações contábeis um esforço adicional na compreensão das normas (ERNST & YOUNG, 2010).

2.2 Gerenciamento de Resultado

O Gerenciamento de Resultado tem forte ligação com a chamada Teoria da Agência. A primeira menção a teoria, presente na pesquisa de Klann e Beuren (2011), foi proposta por Spence e Zeckhauser (1971) e Ross (1973), onde foram analisados a remuneração dos gestores e o alinhamento de seus interesses com os dos acionistas e proprietários das empresas. Foi proposto no trabalho de Jensen e Meckling (1976) uma relação de conflito entre o agente, representada pelos gestores, e o principal, representada pelos acionistas, causadas por decisões que podem maximizar a riqueza de um lado ou então aperfeiçoá-la de outro. Porém, a informação não é igualmente distribuída entre os agentes, o que faz com que aquele que detém a maior parte delas pode tomar decisões que vão de encontro aos seus interesses, e não aos da empresa, o que ocasiona em um problema de agência (JOIA; NAKAO, 2014). Ainda segundo Joia e Nakao (2014), quanto menor a assimetria das informações, menores são os custos da empresa, pois caso haja atitudes que possibilitem ações que maximizem o valor do agente, são necessárias ações que monitorem as atividades do mesmo.

Uma das formas pelo qual o agente pode agir em benefício próprio é utilizando o gerenciamento de resultados (BRUNI et al., 2014). Também chamada de earnings

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intervenção proposital no processo de evidenciação externa, com intenções particulares de promover ganhos ou vantagens para si. Isso ocorre devido ao incentivo que os gestores possuem para cumprir metas, e assim, ganhar bonificações, utilizando-se de escolhas contábeis para alcançar seus objetivos particulares (HEALY, 1985). Uma das causas, apontadas por Joia e Nakao (2014) é a tentativa de evitar a divulgação de perdas ou então minimizar a volatilidade dos resultados. Empresas menos voláteis proporcionam maior segurança aos investidores, facilitando a projeção dos lucros e melhorando a relação risco-retorno, o que valoriza a empresa diante do mercado (JOIA; NAKAO, 2014).

Klann e Beuren (2011) ressaltam a importância de se distinguir o significado de escolhas fraudulentas das agressivas, descritas por Dechow e Skinner (2000), os quais defendem que o resultado contábil deve ser resultante de uma operação neutra do processo, sem intervenções externas advindas de desejo dos gestores. Ainda segundo Klann e Beurn (2011), o gerenciamento de resultado não deve ser visto como um problema de agência, mas sim como a consequência de problemas como a assimetria de informações, risco moral e seleção adversa.

Ainda sobre o Gerenciamento de Resultados, Paulo (2007) cita como exemplo de gerenciamento de resultado, a suavização de resultados (income smoothing), contabilização conservadora para redução de lucros e maquiagem para mascarar demonstrações contábeis.

2.3 Pesquisas anteriores sobre o tema

Muitas pesquisas demonstraram posicionamentos diversos com relação ao impacto da convergência às Normas Internacionais de Contabilidade no gerenciamento de resultado das empresas. No trabalho de Silva et al. (2017), que teve como objetivo verificar a influência do procedimento de convergências às IFRS no nível de gerenciamento de resultado das empresas brasileiras do subsetor de energia elétrica, listadas na B3. Foi constatado que houve uma redução na prática de gerenciamento de resultado das empresas após a adoção das normas do IASB, o que contribui para uma melhor qualidade das informações contábeis.

No estudo elaborado por Bruni, Lima e Filho (2014), o objetivo foi verificar em que medida a adoção às IFRS afetou o gerenciamento de resultado por meio de decisões operacionais das empresas do setor de materiais básicos. O resultado encontrado foi que a convergência não impactou de maneira significativa o gerenciamento e também não foi verificado uma melhoria na qualidade da informação contábil ou econômica devido ao uso das normas internacionais do IASB. A pesquisa elaborada por Bonfim et al. (2016) teve como objetivo verificar se, com a evolução da adoção das normas internacionais, no período pós-IFRS, provocou uma redução no nível de suavização de resultados – uma modalidade do gerenciamento de resultados – nas seguradoras brasileiras. O resultado encontrado foi que a adoção às IFRS causou uma diminuição no nível de suavização de resultados, indo de encontro com os achados da pesquisa de Barth, Landsman e Lang (2008).

Porém, outras pesquisas apontam para outro sentido: no trabalho de Klann e Beuren (2011), o objetivo foi verificar a influência do processo de convergência às normas do IASB no gerenciamento de resultado das empresas brasileiras e inglesas. Como resultado, foi constatado uma redução nos níveis de gerenciamento de resultado das empresas inglesas, ao contrário das brasileiras, que apresentaram um aumento. O estudo de Elbannan (2011) indicou que houve um aumento no gerenciamento de resultados provenientes da subjetividade proporcionada pela adoção às IFRS.

Os motivos para resultados discrepantes entre as pesquisas são vários: Klann e Beuren (2011) ressaltam que diversas características dentro do país podem afetar a forma como as normas internacionais de Contabilidade impactam o gerenciamento de resultados, como por exemplo: mecanismos de proteção ao investidor (RENDERS; GAEREMYNCK, 2007), sistema legal baseado no regime de code-law ou common-law (LEUZ; NANDA; WYSOCKI, 2003),

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normas contábeis locais (VAN TENDELOO; VANSTRALEN, 2005), condições de acesso ao mercado de capitais (JEANJEAN; STOLOWY, 2008), sistema de obrigatoriedade efetivo para a adoção às IFRS e maior regulamentação da gestão corporativa (CHEN et al., 2010).

No trabalho realizado por JeanJean e Stolowy (2008), foi verificado que as empresas utilizadas como amostra e localizadas na Austrália e Reino Unido, ambas adeptas a um modelo de common-law – sistema legal baseada em usos e costumes, onde a jurisprudência prevalece acima da letra de lei- apresentaram uma diminuição no gerenciamento de resultados, porém, neste mesmo trabalho, foi constatado que as empresas localizadas na França – país code-law, sendo este um sistema legal de visão legalista, ou seja, onde tudo deve estar previsto em lei – e utilizadas como amostra para a pesquisa, mostraram um aumento no gerenciamento de resultados. Portanto, devido as características do Brasil, um país de regime code-law e com características culturais distintas dos países observados na pesquisa anterior, é esperado que a adoção as normas internacionais de Contabilidade apontem para uma diminuição no gerenciamento de resultados das empresas, indo de encontro aos achados, nas pesquisas de Bonfim, et al. (2016) e de Silva et al. (2017).

Diversos resultados foram encontrados nas pesquisas anteriormente citadas, assim como apontadas diversas causas das suas divergências. Nos trabalhos de Silva et al. (2017), foram analisadas as empresas, listadas na B3, que forneciam serviços de energia elétrica; no trabalho de Klann e Beuren (2011), as amostras envolveram empresas localizadas no Brasil e Reino Unido; na pesquisa de Bonfim et al. (2016), as seguradoras brasileiras compuseram a amostra do trabalho; por fim, no artigo de Bruni et al. (2014), o alvo a ser analisado foram as empresas do setor de materiais básicos. Seguindo o sugerido para pesquisas futuras presentes nesses trabalhos ora mencionados, essa pesquisa visa verificar se houve aumento ou diminuição no nível de gerenciamento de resultados – mais especificamente na suavização de resultados – das empresas atuantes exclusivamente no setor de siderurgia. Além disso, a pesquisa trabalhará com análises em intervalos de tempo maiores, indo de 2004 até 2017, excluindo os anos de 2008 e 2009.

3. METODOLOGIA

Nessa seção, será abordada a metodologia com que este trabalho foi realizado. Segundo Gil (2002), as pesquisas podem ser classificadas em 3 grandes grupos: descritivas, exploratórias e explicativas. A pesquisa descritiva tem como objetivo a descrição primordial de características de determinada população ou fenômeno, bem como o estabelecimento de relações entre variáveis e fatos (GIL, 2002). Sendo assim, esta pesquisa pode ser classificada como descritiva, pois busca-se com ela analisar qual é o impacto da convergência às normas internacionais de contabilidade nas empresas do setor de siderurgia.

Neste trabalho, foi feita uma pesquisa documental das empresas escolhidas como amostra, obtendo acesso ao balanço patrimonial e outros demonstrativos financeiros. A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. (FONSECA, 2002).

Quanto à abordagem da pesquisa, pode-se dizer que ela é quantitativa, pois utiliza-se de cálculos matemáticos para se obter dados quantificados e objetivos que demonstrem qual é a realidade financeira da empresa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos e recorre a linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno e as relações entre variáveis (FONSECA, 2002).

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3.1 Amostra da pesquisa

Para compor a amostra da pesquisa, foram selecionadas diversas empresas de capital aberto que negociam as suas ações na Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo – B3 – e que possuem como atividade o setor de siderurgia. Selecionadas as empresas, foram obtidas as demonstrações contábeis dos anos de 2004 a 2017; foram excluídos os anos de 2008 e 2009 devido a proximidade com a convergência no Brasil, sendo alcançada a sua totalidade somente em 2010. Logo, as empresas selecionadas para a pesquisa estão listadas no quadro abaixo:

Tabela 1 – Empresas selecionadas para análise

Empresa Denominação adotada no estudo

Companhia Siderúrgica Nacional - CSN S/A CSN

USIMINAS S/A USIMINAS

Gerdau S/A GERDAU

FERBASA S/A FERBASA

Fonte: elaborada pelos autores.

3.2 Modelo de pesquisa

Para a análise dos resultados da pesquisa, foram utilizadas as pesquisas de Barth, Landsman e Lang (2008), Chen et al. (2010) e Bonfim et al. (2016), as quais tiveram como resultado uma maior qualidade na informação com a convergência às IFRS, reduzindo o gerenciamento de resultado. Sendo assim, a hipótese a ser verificada é a seguinte:

H1: A convergência às normas internacionais de contabilidade trouxe uma diminuição na prática de suavização de resultados nas empresas do setor de siderurgia.

Portanto, espera-se que a suavização de resultados tenha diminuído após a convergência às normas do IASB, com a análise das demonstrações financeiras das empresas nos períodos pré e pós a convergência, de 2004 a 2017, desconsiderando os anos de 2008 e 2009, devido ao fato de ser um período onde as empresas ainda estavam se adaptando as novas normas internacionais.

Para testar essa hipótese H1, foi utilizado o modelo presente nos trabalhos de Barth,

Landsman e Lang (2008), Chen et al. (2010) Klann e Beuren (2011), Silva et al. (2017) e Bonfim et al. (2016). A variação dos lucros é essencial para verificar se a prática da suavização de resultados sofreu queda ou aumento, o que justifica a escolha dessa fórmula, assim como foi utilizada pelos trabalhos de Bonfim et al. (2016) e Silva et al. (2017). A variabilidade da mudança dos lucros líquidos (NI) é dada por:

∆𝑁𝐼 =(𝐿𝐿𝑡− 𝐿𝐿𝑡−1) 𝐴𝑇𝑡−1

Em que:

LLt = Lucro Líquido do período t LLt-1 = Lucro Líquido do período t-1 ATt-1 = Ativo Total do período t-1

Tabela 2 – Definição das variáveis utilizadas e resultados esperados

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Convergência (CONVERG)

Variável dummy, sendo 0 para o período pré-convergência e 1 para o período pós-convergência.

Positivo

A adoção das IFRS, com normas mais flexíveis baseadas em princípios, diminui a suavização dos resultados das empresas (CHEN et al., 2010; IATRIDIS, 2010; SILVA et al., 2017).

Tamanho (SIZE)

Logaritmo natural do Total

dos Ativos Positivo

A hipótese custo político defende que as grandes empresas são mais propensas a preferir baixos ganhos na gestão, por causa das possibilidades de aumentar o controle do governo quando as empresas são maiores e mais

rentáveis (WATTS;

ZIMMERMAN, 1990).

Crescimento (GROWTH)

Percentual da mudança nas vendas, dada por

𝑅𝑒𝑐.𝐿𝑖𝑞𝑡0−𝑅𝑒𝑐.𝐿𝑖𝑞𝑡−1

𝑅𝑒𝑐.𝐿𝑖𝑞.𝑡−1

Negativo

Companhias com maior crescimento estão, em princípio, mais propensas à suavização dos

resultados (WATTS; ZIMMERMAN, 1990). Alavancagem (ALAV) 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟. 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 Negativo

A hipótese da dívida prevê que empresas altamente alavancadas são mais propensas a se envolver em gerenciamento de resultados, para evitar a violação de cláusulas de contrato (DEFOND; JIAMBALVO, 1994; WATTS; ZIMMERMAN, 1990). DISSUE 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜𝑡0− 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜𝑡−1 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜𝑡−1 100 Negativo A variação da estrutura de financiamento de demais passivos pode ser utilizada com finalidades oportunistas (SILVA et al., 2017; BONFIM et al., 2016)

TURN 𝑅𝑒𝑐. 𝐿í𝑞.

𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 Negativo

A razão entre um nível elevado de vendas e total do ativo poderia abrir espaço para práticas de gerenciamento de resultado oportunistas (BORGES et al., 2014; BONFIM et al., 2016)

AUDIT

Variável dummy, sendo 1 para empresas auditadas pelas empresas PwC, D&T, KPMG ou E&Y, e 0 para outras empresas.

Negativo

Empresas expostas à auditoria das Big Four obteriam maior qualidade nas e informações, e, por consequência, redução em níveis de gerenciamento (KARMON; LUBWANA, 1997).

CF 𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙

𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 Positivo

Empresas com menor fluxo de caixa, apresentam maior utilização de accruals, logo, maior gerenciamento de resultados (KLANN; BEUREN, 2011). Fonte: Adaptado de Bonfim et al. (2016)

Assim sendo, com base nessas variáveis, tem-se a seguinte equação de regressão: ∆𝑁𝐼𝑖𝑡 = 𝛽0+ 𝛽1𝐶𝑂𝑁𝑉𝐸𝑅𝐺𝑖𝑡+ 𝛽2𝑆𝐼𝑍𝐸𝑖𝑡+ 𝛽3𝐺𝑅𝑂𝑊𝑇𝐻𝑖𝑡+ 𝛽4𝐴𝐿𝐴𝑉𝑖𝑡+ 𝛽5𝐷𝐼𝑆𝑆𝑈𝐸𝑖𝑡 +

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Em que NI é a respectiva variância dos resíduos da equação 1. Quanto menor a variabilidade, maior é a evidência de gerenciamento de resultado; quanto maior a variação em NI, menor a suavização de resultados (IATRIDIS, 2010). Apesar de mencionado no trabalho, a variável AUDIT foi descartada da fórmula original, utilizada nos trabalhos de Silva, et al. (2017) e Bonfim, et al. (2016), pois na análise das demonstrações financeiras foi constatado que todas as empresas da amostra foram auditadas por uma das BigFour (grupo das quatro maiores empresas contábeis de Auditoria e Consultoria do mundo, estando nesse grupo as empresas Ernst & Young, Deloitte, PwC e KPMG) durante o período estudado.

3.3 Limitações da pesquisa

Como limitações da pesquisa, é importante evidenciar, assim como foi em outras pesquisas citadas, que ela não possui o objetivo de avaliar o comportamento dos gestores em sua atuação discricionária, e sim verificar o resultado de suas ações nas escolhas contábeis refletidas nas empresas. Além disso, algumas empresas no setor de siderurgia no Brasil foram retiradas da amostra, pois, ao considerar somente empresas brasileiras listadas na B3, ficaram de fora as sociedades anônimas de capital fechado – como a Votorantim – e as internacionais não listadas na B3 – como a ArcellorMittal, devido a impossibilidade de trabalhar com seus dados pela não disponibilização de seus relatórios contábeis.

Outra limitação que deve ser citada é que este trabalho analisa somente as empresas brasileiras de siderurgia, e não as atuantes em demais setores ou ramos, sendo necessário analisar trabalhos anteriores que já tenham utilizado essa temática em outros setores ou então, sendo objeto de pesquisas futuras.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS

Para mensurar os níveis de gerenciamento de resultado das companhias do setor de siderurgia listadas na B3, foram utilizados os modelos dos trabalhos de Klann e Beuren (2011), Barth, Langsman e Lang (2008), Silva et al. (2017) e Bonfim et al. (2016).

A estatística descritiva foi feita com 44 observações de 4 empresas, durante os anos de 2004 até 2017. Os resultados podem ser vistos na tabela 3.

Tabela 3 – Estatística descritiva

Variáveis

Pré-Convergência (2004-2007) Pós-Convergência (2010-2017) Média Mediana Desvio

Padrão

Média Mediana Desvio Padrão

Variável Dependente NI 0,0218983 0,0370717 0,0600670 -0,0013246 0,0000960 0,0539125 Variáveis de Controle SIZE 0,3911562 0,3432372 0,1401256 0,2935440 0,3121065 0,0557480 GROWTH 0,0026865 0,0030260 0,0037644 0,0005795 0,0005868 0,0016987 ALAV 1,3610026 1,2644353 1,0291491 1,7904617 0,8308432 2,1477435 DISSUE -0,0000065 -0,0000099 0,0000590 -0,0000052 -0,0000033 0,0000240 TURN 0,6879198 0,7057300 0,1479490 0,4947029 0,4572754 0,1479490 CF 0,1542247 0,1437929 0,0530439 0,0578515 0,0636683 0,0422839 Fonte: elaborada pelos autores.

Conforme visto também no trabalho de Silva et al. (2017), é possível identificar um desvio padrão maior da variável NI no período pré-convergência, o que indica uma maior variabilidade do lucro líquido e, consequentemente, uma maior predisposição à prática de gerenciamento de resultados neste período. Também é possível identificar uma maior média da

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variável GROWTH no período pré-convergência, indicando que havia um crescimento maior neste período, podendo levar a um nível maior de gerenciamento de resultados.

O teste de correlação das variáveis é apresentado abaixo, na tabela 4.

Tabela 4 – Matriz de correlação das variáveis

NI CONVERG SIZE GROWTH ALAV DISSUE TURN CF

NI 1 CONVERG -0,1994 1 SIZE -0,1414 -0,4517 1 GROWTH 0,5490 -0,3670 -0,0342 1 ALAV -0,0199 0,1149 0,0440 -0,0352 1 DISSUE -0,2211 0,0162 -0,0945 -0,4903 -0,0052 1 TURN 0,2095 -0,4866 0,0639 0,3425 -0,4903 -0,0921 1 CF 0,2898 -0,7149 0,1515 0,3391 -0,1551 -0,0476 0,6270 1

Fonte: elaborada pelos autores.

O resultado da matriz de correlação indicou que não há alta correlação entre as variáveis utilizadas no trabalho. Sendo assim, não se fez necessário fazer o ajuste das variáveis. As maiores correlações foram entre as variáveis NI e GROWTH e NI e TURN, no valor de 0,5490 e 0,6270, respectivamente, não sendo necessário, portanto, ajustar as variáveis.

Tabela 5 – Resultado da estimação da regressão em painel pooled Variável Dependente: NI

Variável Coeficiente Erro Padrão P-valor

Interseção 0,003552464 0,062203468 0,954773081 CONVERG 0,00743771 0,028123684 0,792930449 SIZE -0,064359147 0,09115802 0,484721549 GROWTH 10,84139104 3,743434111 0,006387497 ALAV -0,000110243 0,005027366 0,982626073 DISSUE 46,50512785 235,7022722 0,844699025 TURN -0,020433583 0,060849904 0,738968696 CF 0,187413758 0,195698405 0,344618696 R múltiplo 0,582023731 R² 34% R² ajustado 21% Erro Padrão 0,050362848 Observações 44

Fonte: elaborada pelos autores.

Ao se analisar a significância das variáveis, verificou-se que apenas a variável GROWTH, apresentou coeficiente significante a 1%. Contudo, ao se analisar o coeficiente das variáveis, os resultados do teste de regressão mostraram que a variável CONVERG apresentou um coeficiente positivo para com a variável dependente NI, o que evidencia que, com a adoção das normas internacionais, as empresas siderúrgicas brasileiras apresentam menor suavização de resultados, indo de encontro com a hipótese da pesquisa. Esse mesmo resultado é encontrado nas pesquisas de Silva et al (2017) e Bonfim et al. (2016).

A variável SIZE foi considerada na pesquisa levando em consideração que quanto maior fosse a empresa, menor seria a sua preferência por maiores lucros, a fim de evitar a regulações governamentais. Porém, o coeficiente negativo da variável denota que ocorreu o oposto: quanto maior a empresa, maior é a suavização dos resultados. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que as empresas do setor de siderurgia não enfrentam uma forte regulamentação do Governo (não são reguladas por nenhuma agência), como nas empresas utilizadas no trabalho

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de Bonfim et al. (2016), o que possibilita um maior nível de práticas oportunistas, visando apresentar altos lucros aos investidores.

A variável GROWTH apresentou um coeficiente significativo, com p-valor < 0,01 e sinal positivo, o que contraria o resultado esperado. Assim sendo, é possível afirmar que, quanto maior o crescimento da empresa, menor é o nível de gerenciamento de resultado.

A variável DISSUE apresentou um coeficiente positivo, sendo o oposto do resultado esperado. Isso significa que as empresas siderúrgicas tendem a contrair menos financiamentos para a prática de suavização de resultados. O resultado pode ser explicado pela recessão que atingiu o Brasil em 2014 e está presente até hoje. Em uma economia fragilizada, as empresas tendem a contrair menos passivos, evitando o endividamento.

Tabela 6 – Comparação no nível de gerenciamento de resultados Métricas de Gerenciamento de Resultado Previsão Pré-Convergência (2004-2007) Pós-Convergência (2010 - 2017) NI p2 > p1 0,001356536 0,002995192 Fonte: elaborada pelos autores.

O quadro 5 apresenta a variância dos resíduos dos testes de regressão realizados nos períodos de pré e pós-convergência às IFRS. Ao analisar o quadro, é possível identificar que houve um aumento, indo de 0,001356436 no período pré-convergência, para 0,002995192 no período pós-convergência. O resultado indica, portanto, que houve uma redução do nível de suavização dos resultados após a adoção às normas internacionais de contabilidade, assim como foi previsto nos resultados da estatística descritiva, presentes no quadro 3 (desvio padrão).

O resultado vai de encontro aos achados nas pesquisas de Bonfim et al. (2016), Silva et

al. (2017) e Barth, Landsman e Lang (2008), ao afirmar que o nível de gerenciamento de

resultados diminui após a adoção às IFRS. Porém, contraria os resultados achados nas pesquisas de Klann e Beuren (2011) e Van Tendeloo e Vanstraelen (2005), que afirmam que o gerenciamento de resultados aumenta após a adoção às IFRS.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa teve como objetivo identificar qual foi o impacto que a convergência às IFRS teve no nível da prática de suavização de resultados – uma modalidade de gerenciamentos de resultados – das empresas de capital aberto do setor de siderurgia listadas na B3. O resultado encontrado foi de que a adoção às normas internacionais de contabilidade, baseada em princípios ao invés de regras, causou a diminuição do nível de suavização de resultados, o que vai de encontro aos achados em diversas outras pesquisas sobre o tema, como as de Bonfim et

al. (2016), Silva et al. (2017) e Barth, Landsman e Lang (2008).

O maior período de análise pós-convergência foi importante para corroborar com a hipótese da pesquisa, reforçando o impacto causado por uma norma mais flexível do que a utilizada antes da Lei nº 11.638/07. Além disso, é interessante notar como uma crise financeira pode impactar a tomada de decisão dos gestores e, consequentemente, o resultado do coeficiente das variáveis, como pode ser visto, por exemplo, na variável DISSUE.

Ao realizar a pesquisa, é possível afirmar que uma contabilidade regida por regras mais flexíveis e baseada em princípios, como as IFRS, trazem uma maior qualidade da informação contábil, diminuindo a assimetria informacional e, também, o nível de gerenciamento de resultados dentro das companhias (BONFIM et al., 2016). Assim sendo, é imprescindível que o profissional contábil esteja preparado para se adaptar às mudanças que ocorrem, e sempre ocorrerão, na ciência contábil, e tomar um papel mais ativo nas tomadas de decisões, seja em empresas ou governos.

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Como sugestão para as pesquisas futuras, aconselha-se essa abordagem a outras empresas listadas na B3, a fim de montar um cenário amplo sobre os efeitos da convergência às IFRS no Brasil e, também, no mundo. É interessante, também, realizar outros testes de gerenciamento de resultado. Além disso, uma pesquisa com um maior intervalo de tempo e maiores amostras também é indicado para montar uma análise abrangente do tema.

Concluindo, a hipótese da pesquisa (H1), a qual afirma que a convergência às normas

internacionais de contabilidade trouxe uma diminuição na prática de suavização de resultados nas empresas do setor de siderurgia, não pode ser rejeitada, uma vez que os resultados indicam que isso ocorreu. Assim sendo, as IFRS diminuíram o nível de gerenciamento de resultado das empresas siderúrgicas brasileiras listadas na B3.

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