UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
FERNANDA DA SILVEIRA HERZOG
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA
O MEIO AMBIENTE
Palhoça
2009
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA
O MEIO AMBIENTE
Monografia apresentada ao Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Adão Daniel da Silva
Palhoça
2009
FERNANDA DA SILVEIRA HERZOG
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA
O MEIO AMBIENTE
Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo curso de Direito da Universidade do Sul Do Sul de Santa Catarina.
Palhoça, 11 de novembro de 2009
__________________________________________
Prof. e orientador: Adão Daniel da Silva
Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina
__________________________________________
Prof. ...
Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina
__________________________________________
Prof. ...
Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES CONTRA
O MEIO AMBIENTE
Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que
assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao
presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a
Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de todo e
qualquer reflexo acerta desta monografia.
Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e
criminalmente, em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.
Palhoça (SC), 11 de novembro de 2009.
______________________________________
Fernanda da Silveira Herzog
"A natureza pode suprir todas as
necessidades básicas do homem, menos
a sua ganância". (MAHATMA GANDHI)
RESUMO
O presente trabalho monográfico tem como foco verificar a possibilidade
da pessoa jurídica ser responsabilizada criminalmente pelo acometimento de crimes
ambientais. Assim, apresenta primeiramente, e de forma objetiva, os princípios mais
relevantes e comentados do direito ambiental, quais sejam: princípio da
responsabilidade, princípio do poluidor pagador e do usuário pagador, princípio da
prevenção, princípio da precaução, princípio da informação ambiental e princípio da
participação. De fato, os maiores responsáveis pelos danos ao meio ambiente são
as empresas e os entes coletivos através de suas intensas atividades de exploração
industrial e comercial. Assim, é analisado o posicionamento de diversos
doutrinadores acerca do tema. Retrata a polêmica envolvendo a responsabilização
penal da pessoa jurídica ante as teorias da ficção e da realidade, bem como a
discussão acerca da responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica de direito
público, devido ao fato da legislação deixar a questão em aberto. Aborda também a
questão da impossibilidade da responsabilização da pessoa jurídica por crimes
culposos e do concurso necessário entre a pessoa física e a pessoa jurídica. Em
seguida, trata a respeito das penas aplicáveis às pessoas jurídicas nos crimes
ambientais. Dessa forma, faz uma análise jurisprudencial dos julgados do Supremo
Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Regional Federal da 4º
Região e do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, verificando que
embora alguns julgados sejam desfavoráveis à questão, a tendência dos julgadores
vem sendo favorável à responsabilização penal da pessoa jurídica nos delitos contra
o meio ambiente.
Palavras-chave: Princípios do direito ambiental. Responsabilidade penal da pessoa
jurídica. Crimes ambientais. Desconsideração da pessoa jurídica.
1 INTRODUÇÃO...08
2 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL...10
2.1 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE...11
2.2 PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR E DO USUÁRIO PAGADOR...13
2.3 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO...16
2.4 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO...20
2.5 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO AMBIENTAL...22
2.6 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO...24
3 A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES
CONTRA O MEIO AMBIENTE...27
3.1 POLÊMICA ACERCA DA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA
JURÍDICA...30
3.1.1 Principais teorias sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica
...30
3.2 CONDICIONANTES PARA A RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA
JURÍDICA...32
3.2.1 A responsabilização penal ambiental da pessoa jurídica de direito
público...33
3.2.2 A impossibilidade da responsabilização da pessoa jurídica por crimes
culposos...36
3.2.3 Concurso necessário entre a pessoa física e a pessoa jurídica...37
3.3 A DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA...38
3.4 PENAS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS...40
4 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL...43
4.1 ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL...43
4.2 ENTENDIMENTO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA...43
4.3 ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO...46
4.4 ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA
CATARINA...51
1 INTRODUÇÃO
A cada ano que passa, é visível em nossos meios de comunicação a
crescente preocupação dos governantes, ambientalistas e da sociedade com o meio
ambiente. Esta preocupação não é por menos, o que temos hoje em dia é a
natureza sendo destruída de forma devastadora e os recursos provenientes desta,
utilizados de forma totalmente irresponsável.
Este trabalho tem por objetivo geral verificar a possibilidade da
responsabilização penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais, e por objetivos
específicos estudar os princípios do direito ambiental, a Lei 9.605/98, bem como
pesquisar jurisprudências acerca da responsabilização penal da pessoa jurídica nos
crimes ambientais.
O entendimento da responsabilização da pessoa física em crimes
ambientais é uma questão plenamente pacífica, no entanto, quando se trata da
pessoa jurídica, encontram-se na doutrina e na jurisprudência diversas posições
divergentes.
Assim, pode-se dizer que esta é uma das questões mais polêmicas no
ramo do direito ambiental, muito embora o art. 225, §3º da Constituição Federal e a
Lei n.º 9.605/98 prever expressamente a responsabilização penal e administrativa
das pessoas físicas e jurídicas.
Não restam dúvidas que os maiores responsáveis por danos ao meio
ambiente não são as pessoas físicas, e sim as empresas e os entes coletivos
através de suas atividades de exploração industrial e comercial, como por exemplo,
o lançamento de resíduos líquidos nas águas, no solo e no ar e a destruição
acelerada da vegetação contida em áreas de preservação permanente.
Entretanto, muitas vezes, a responsabilização dos verdadeiros
responsáveis por esses delitos não se torna possível ante a grande dificuldade de
apuração, no âmbito das pessoas jurídicas, da responsabilidade dos sujeitos ativos
desses crimes.
Atualmente, a principal questão, encontra-se na dúvida de que a pessoa
jurídica, ente criado por pessoas físicas, pode ou não delinqüir. Neste ponto, há
duas principais teorias, a da ficção e da realidade, e é desta divergência que resulta
a polêmica acerca do assunto.
O método de abordagem utilizado será o dedutivo, pois partirá da análise
do dispositivo constitucional (art. 225, §3º), da Lei n.º 9.605/98 e das diversas
interpretações doutrinárias e jurisprudenciais, a fim de verificar a possibilidade da
responsabilização da pessoa jurídica nos crimes ambientais.
O método de procedimento será o monográfico e a técnica de pesquisa
será a bibliográfica, englobando doutrinas, artigos e jurisprudências.
Em suma, o primeiro capítulo tem o propósito explanar sobre os princípios
mais relevantes do Direito Ambiental, ou seja, aqueles previstos pela maioria dos
doutrinadores da área, quais sejam: princípio da responsabilidade, princípio do
poluidor pagador e do usuário pagador, princípio da prevenção, princípio da
precaução, princípio da informação ambiental e princípio da participação.
No segundo capítulo, é analisado o posicionamento de diversos
doutrinadores acerca do tema, retratando a polêmica que envolve a
responsabilização penal da pessoa jurídica ante as teorias da ficção e da realidade.
Aborda também as condicionantes para que se possa haver tal
responsabilização, além de levar à tona a questão da desconsideração da pessoa
jurídica e a discussão acerca da responsabilidade penal ambiental da pessoa
jurídica de direito público. Em seguida trata a respeito das penas aplicáveis às
pessoas jurídicas previstas na lei dos crimes ambientais.
O terceiro capítulo apresenta uma análise do posicionamento dos
julgados do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal
Regional Federal da 4º Região, bem como do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina em relação ao reconhecimento da possibilidade da responsabilidade
penal dos entes coletivos nos delitos ambientais.
2 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
Os princípios servem de base para a compreensão do mundo jurídico e
são considerados hierarquicamente superiores às demais normas.
A respeito da importância dos princípios para o ordenamento jurídico,
Celso Antônio Bandeira de Mello
1sustenta:
Violar um princípio é muito mais importante do que transgredir uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremessível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que os sustêm e alui-se toda estrutura nelas reforçada.
Em que pese ser uma ciência relativamente nova, o Direito Ambiental já
dispõe de princípios específicos que o diferencia dos demais ramos do Direito.
Paulo de Bessa Antunes
2discorre a respeito da natureza dos princípios
ambientais, os classificando em dois tipos: explícitos e implícitos. Os primeiros estão
previstos de forma clara na Constituição Federal de 1988 e os segundos são os
decorrentes do sistema constitucional, mesmo que não se encontrem na forma
escrita.
Neste diapasão, é o comentário de José Adércio Leite Sampaio, Chris
Wold e Afrânio Nardy
3, vejamos:
Os princípios do Direito Ambiental têm a ossatura dos demais princípios; como eles gozam das peculiaridades de sua dinâmica e relativa abertura semântica. E, quando alçados ao patamar constitucional, ganham maior vitalidade de fonte (fonte de primeiro grau) e configuram a “Constituição da Cooperação e da Amizade”, a “Constituição do ambiente.”
1
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 25 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008. p. 943.
2
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. 9 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006. p. 25.
3
SAMPAIO, José Adércio Leite; WOLD, Chris; NARDY, Afrânio. Princípios de Direito Ambiental: Na dimensão internacional e comparada. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 47.
A respeito das funções dos princípios que regem o Direito Ambiental, no
que tange a sua compreensão e aplicação, aponta Álvaro Luíz Valery Mirra
4:
a) são os princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito;
b) são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema legislativo ambiental;
c) é dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade;
d) e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área.
Os princípios do Direito Ambiental são construções eminentemente
doutrinárias, oriundos da Constituição Federal de 1988, das legislações esparsas,
bem como das Declarações Internacionais de Direito Ambiental. Exatamente por
isso, há uma grande diversidade de princípios, variando muito de um autor para
outro.
Desta forma, serão analisados de forma objetiva apenas os princípios
mais relevantes do Direito Ambiental, ou seja, aqueles previstos pela maioria dos
doutrinadores da área, quais sejam: princípio da responsabilidade, princípio do
poluidor pagador e do usuário pagador, princípio da prevenção, princípio da
precaução, princípio da informação ambiental e princípio da participação.
2.1 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE
O princípio da responsabilidade tem como principal objetivo fazer com que
os responsáveis pela degradação ambiental sejam obrigados a arcar com a
responsabilidade, bem como com os custos da reparação ou da compensação do
dano ocasionado.
4
MIRRA, Álvaro Luíz Valery. Princípios fundamentais do direito ambiental. Revista de direito ambiental, ano 1, n. 2, abr./jun. 1996. p. 52.
O inciso IX do art. 9º da Lei nº 6.938/81
5também prevê tal princípio ao
classificar como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente “as penalidades
disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção da degradação ambiental.”
A Constituição Federal de 1988
6, em seu art. 225, §3º, consagrou o
princípio da responsabilidade ao estabelecer que “as condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.”
A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
também dispôs sobre o princípio da responsabilidade ao estabelecer no Princípio
02
7:
Os Estados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os Princípios de Direito Internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.
E ainda, no princípio 13
8da referida Declaração:
Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas de poluição de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.
5
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009.
6
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Art. 225, §3º da CRFB/88.
7
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso em 17 de jul. 2009.
8
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso em 17 de jul. 2009.
Paulo de Bessa Antunes
9tece suas considerações a respeito da
responsabilidade ambiental:
Um ponto que julgo que mereça ser ressaltado é o fato que a responsabilidade, no sistema jurídico brasileiro decorre da lei ou de contrato. A afirmação seria acaciana se, no caso concreto do Direito Ambiental, não existissem “responsabilidades” derivadas de atos administrativos emanados do Ministério do Meio Ambiente e de diversos outros órgãos ambientais. Um exemplo eloqüente do que se fala é a chamada responsabilidade pós-consumo, mediante a qual os produtores de determinados produtos (pilhas e baterias, por exemplo) são responsabilizados pelo descarte final. A matéria, em meu ponto de vista, é eminentemente legal e não meramente administrativa. A responsabilidade ambiental se divide em: (i) civil; (ii) administrativa; e (iii) penal.
Assim, assume o degradador os riscos de sua atividade arcando com
todos os prejuízos que causar no meio ambiente e podendo ser responsabilizado
tanto administrativamente quanto nas áreas civil e penal.
2.2 PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR E DO USUÁRIO PAGADOR
Sabe-se que toda atividade produtiva ou exploratória dos recursos
naturais gera impactos ambientais, sendo que tais danos muitas vezes não são
passíveis de reparação.
É exatamente este uso não reparado do ambiente que gera o
desequilíbrio ambiental, ocasionando assim, uma necessidade de se atribuir valores
monetários, a fim de evitar a degradação acelerada do meio ambiente.
A instituição dos princípios do usuário-pagador e poluidor-pagador foi
inicialmente feita pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos,
em 1972
10, a qual estabeleceu que “ao poluidor devem ser imputados os custos
necessários ao combate à poluição, custos esses determinados pelo Poder Público
9
ANTUNES, 2006. p. 42.
10
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Disponível em: <
para manter o meio ambiente em estado aceitável, bem como promovendo a sua
melhoria.”
No entanto, tal princípio só foi consagrado vinte anos depois, com a
Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tendo sido
conceituado através do princípio 16
11do seguinte modo:
As autoridades nacionais devem esforçar-se para promover a internalização dos custos de proteção do meio ambiente e o uso dos instrumentos econômicos, levando-se em conta o conceito de que o poluidor deve, em princípio, assumir o custo da poluição, tendo em vista o interesse público, sem desvirtuar o comércio e os investimentos internacionais.
Em nosso ordenamento jurídico, os princípios do poluidor-pagador e do
usuário-pagador foram introduzidos através da Lei nº 6.938/81, mais precisamente
em seu art. 4º, inciso VII, o qual impõe: “ao poluidor e ao predador, a obrigação de
recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins econômicos.”
12Para Paulo de Bessa Antunes
13, o princípio do poluidor pagador, por
possuir cunho econômico, é um dos princípios jurídicos ambientais mais importantes
para a proteção ambiental:
Os recursos ambientais como água, ar, em função de sua natureza pública, sempre que forem prejudicados ou poluídos, implicam um custo público para a sua recuperação e limpeza. Este custo público, como se sabe, é suportado por toda a sociedade. Economicamente, este custo representa um subsídio ao poluidor. O PPP, de origem econômica, transformou-se em um dos princípios jurídicos ambientais mais importantes para a proteção ambiental.
Possui, portanto, um caráter preventivo no sentido de fazer com que os
recursos naturais sejam utilizados de forma racional, de modo a evitar a degradação
11
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso em 17 de jul. 2009.
12
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009.
13
do meio ambiente, bem como um caráter repressivo, visando à reparação do dano,
caso ocorra.
Nas palavras de Celso Antônio Pacheco Fiorillo
14:
Podemos identificar no princípio do poluidor-pagador duas órbitas de alcance: a)buscar evitar a ocorrência de danos ambientais (caráter preventivo); e b) ocorrido o dano, visa sua reparação (caráter repressivo). Desse modo, num primeiro momento, impõe-se ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção dos danos ao meio ambiente que sua atividade possa ocasionar. Cabe a ele o ônus de utilizar instrumentos necessários à prevenção dos danos. Numa segunda órbita de alcance, esclarece este princípio que, ocorrendo danos ao meio ambiente em razão da atividade desenvolvida, o poluidor será responsável pela sua reparação.
Importante ressaltar que o intuito deste princípio não é permitir a poluição
ambiental mediante o pagamento, posto que o meio ambiente é de valor inestimável.
Neste diapasão, Ednilson Fernandes Rodrigues
15explica:
Não se permite que ocorra o pagamento para poder despejar esgoto sem tratamento num rio e nem para que se possa praticar qualquer outra infração as leis ambientais. Acrescenta-se que só é permitida a cobrança desde que haja respaldo legal, pois do contrário poderia se incorrer na permissão de permitir que alguém adquirisse o direito de poluir. Tem-se que caso alguém polua, este irá ter que pagar os danos, mas não poderá pagar para poluir.
Há uma divergência por parte da doutrina no sentido de confundir o
princípio do poluidor pagador com o princípio da responsabilidade. No entanto, a
principal finalidade deste princípio não é recuperar um bem ambiental, “mas
estabelecer um mecanismo econômico que impeça o desperdício de recursos
ambientais, impondo-lhes preços compatíveis com a realidade”.
1614
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 28.
15
RODRIGUES, Edilson Fernandes. Externalidades negativas ambientais e o princípio do
poluidor pagador. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/x/22/27/2227/>. Acesso em
17 de jul. 2009.
16
A respeito dos custos advindos da utilização dos recursos naturais, Paulo
Affonso Leme Machado esclarece
17:
Em matéria de proteção ao meio ambiente, o princípio do usuário-pagador significa que o utilizador do recurso deve suportar o conjunto dos custos destinados a tornar possível a utilização do recurso e os custos advindos de sua própria utilização. Este princípio tem por objetivo fazer com que estes custos não sejam suportados nem pelos Poderes Públicos, nem por terceiros, mas pelo utilizador. De outro lado, o princípio não justifica a imposição de taxas que tenham por efeito aumentar o preço do recurso ao ponto de ultrapassar seu custo real, após levarem-se em conta as externalidades e a raridade.
Assim, conclui-se que os consumidores dos recursos naturais podem
sofrer a incidência de um custo, valor este repassado pelas empresas poluidoras, as
quais arcaram com as quantias referentes à eliminação, diminuição ou neutralização
dos danos ambientais que ocasionaram.
2.3 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
A prevenção é o princípio que se encontra mais presente na Constituição
Federal de 1988, nas legislações esparsas ambientas, bem como nas políticas
públicas de meio ambiente, posto que a recuperação de uma lesão ambiental,
quando possível, é muito demorada e onerosa, de forma que a atuação preventiva
torna-se mais efetiva.
Trata-se assim, “de um dos princípios mais importantes que norteiam o
direito ambiental, uma vez que os danos ambientais são irreversíveis e
irreparáveis.”
1817
SMETS, 1998 apud, MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 2001.p.55.
18
A Lei 6.938/81
19menciona implicitamente tal princípio ao elencar em seu
art. 2º, incisos II a X, os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente, quais
sejam:
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
O art. 4º, I a VI, da referida lei
20também faz menção a tal princípio,
estabelecendo os objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente:
I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida.
19
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009.
20
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009.
Em seguida, a Constituição Federal de 1988, consagrou tal princípio
dispondo nos incisos IV e V do §1º do art. 225
21que para assegurar a efetividade do
meio ambiente ecologicamente equilibrado é incumbido ao Poder Público “exigir, na
forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a
que se dará publicidade” bem como, “controlar a produção, a comercialização e o
emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente”.
A respeito do dispositivo constitucional supra-mencionado, Celso Antonio
Pacheco Fiorillo
22comenta que tanto a prevenção, quanto a preservação “devem ser
concretizadas por meio de uma consciência ecológica, a qual deve ser desenvolvida
através de uma política de educação ambiental”.
A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
já previa este princípio ao estabelecer o Princípio 6
23:
Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais e, ainda, à liberação de calor em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não tenha condições para neutralizá-las, a fim de não se causar danos graves ou irreparáveis ao ecossistema. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra a contaminação.
E no princípio 14
24:
Os Estados devem cooperar de forma efetiva para desestimular ou prevenir a realocação e transferência, para outros Estados, de atividades e substâncias que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais à saúde humana.
21
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Art. 225, §3º da CRFB/88.
22
FIORILLO, 2004. p. 37.
23
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso em 17 de jul. 2009.
24
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso em 17 de jul. 2009.
Importante ressaltar que alguns autores analisam a prevenção e a
precaução como sendo o mesmo princípio, situação esta que não confere, pois
embora haja semelhança entre os dois institutos, cada um traz uma idéia diferente.
A respeito dessa confusão Ana Maria Moreira Marchesan, Annelise
Monteiro Steigleder e Sílvia Cappeli
25explicam:
Em que pese a inegável relação entre eles, identifica-se a seguinte distinção: a prevenção trata de riscos ou impactos já conhecidos pela ciência, ao passo que a precaução vai além, alcançando também as atividades sobre cujos efeitos ainda não haja uma certeza científica.
Nesse diapasão, Édis Milaré
26comenta a respeito da diferença
etimológica e semântica das palavras prevenção e precaução:
Com efeito, a cambiantes semânticos entre essas expressões, ao menos no que se refere à etimologia. Prevenção é substantivo do verbo prevenir, e significa ato ou efeito de antecipar-se, chegar antes; induz uma conotação de generalidade, simples antecipação no tempo, é verdade, mas com o intuito conhecido. Precaução é substantivo do verbo precaver-se (do Latin
prae=antes e cavere=tomar cuidado), e sugere cuidados antecipados,
cautela para que uma atitude ou ação não venha a resultar em efeitos indesejáveis. A diferença etimológica e semântica (estabelecida pelo uso) sugere que prevenção é mais ampla que precaução e que, por seu turno, precaução é atitude ou medida antecipatória voltada preferencialmente para casos concretos.
Seja como for, as medidas preventivas devem ser orientadas de modo a
evitar a exploração desenfreada dos recursos naturais.
25
MARCHESAN, Ana Maria Moreira; STEIGLEDER, Annelise Monteiro; CAPELLI, Sílvia. Direito
Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2006. p. 29.
26
MILARÉ, Édis. Direito do Meio Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 144.
2.4 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
A implementação do princípio da precaução veio, sem sombra de
dúvidas, reforçar o princípio da prevenção. Este princípio busca, em síntese, evitar
intervenções no meio ambiente, exceto quando se houver certeza que estas não
causarão reações adversas ou danos irreparáveis.
Nos ensinamentos de Paulo Affonso Leme Machado
27:
Em caso de certeza do dano ambiental, este deve ser prevenido, como preconiza o princípio da prevenção. Em caso de dúvida ou incerteza, também se deve agir prevenindo. Essa é a grande inovação do princípio da precaução. A dúvida científica expressa com argumentos razoáveis, não dispensa a prevenção.
Ana Carolina Casagrande Nogueira
28também discorre a respeito da
aplicabilidade do princípio da precaução nas situações de incerteza científica:
O “princípio de precaução”, por sua vez, é apontado, pelos que defendem seu status de novo princípio jurídico-ambiental, como um desenvolvimento e, sobretudo, um reforço do princípio da prevenção. Seu fundamento seria, igualmente, a dificuldade ou impossibilidade de reparação da maioria dos danos ao meio ambiente, distinguindo-se do princípio da prevenção por aplicar-se especificamente às situações de incerteza científica.
Assim, é pacífico entre os doutrinadores, quando houver incerteza
científica do dano ou também risco de sua irreversibilidade, o dano deve ser
prevenido.
Por sua vez, a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento consagrou o princípio da precaução, emancipando-o em relação
ao princípio da prevenção, ao estabelecer no Princípio 15
29:
27
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 2001. p. 55.
28
NOGUEIRA, Ana Carolina Casagrande. O conteúdo jurídico do princípio da precaução no
direito ambiental brasileiro: Estado de direito ambiental: tendências: aspectos constitucionais e
De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
No âmbito internacional, a Alemanha também adotou este princípio. A
propósito, a Declaração de Wingspread
30o define com clareza:
Portanto, faz-se necessário implantar o princípio da precaução quando uma atividade representa ameaças de danos à saúde humana ou ao meio-ambiente, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se as relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente.
[...] Neste contexto, ao proponente de uma atividade, e não ao público, deve caber o ônus da prova.
O processo de aplicação do princípio da precaução deve ser aberto, informado e democrático, com a participação das partes potencialmente afetadas. Deve também promover um exame de todo o espectro de alternativas, inclusive a da não-ação.
É com base nesse princípio, que na esfera ambiental há a possibilidade
da inversão do ônus da prova, cabendo ao autor do dano, “a obrigação de provar
que sua atividade não é perigosa nem poluidora.”
31Deste modo, pode-se dizer que “a incerteza científica milita em favor do
meio ambiente, carregando-se ao interessado o ônus de provar que as intervenções
pretendidas não trarão conseqüências indesejadas ao meio considerado.”
32Assim, conclui-se que a prudência e a cautela, características inerentes à
atividade jurisdicional, devem servir como meio de proteção ao meio ambiente.
29
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso em 17 de jul. 2009.
30
Associação de combate aos poluentes. Disponível em: <
http://www.acpo.org.br/princ_precaucao.htm >. Acesso em 17 de jul. 2009.
31
MARCHESAN, Ana Maria Moreira; STEIGLEDER, Annelise Monteiro; CAPELLI, Sílvia, 2006. p.31.
32
2.5 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO AMBIENTAL
O Direito à informação sugere uma publicidade ampla tanto da
preservação como da degradação do meio ambiente, bem como da disponibilidade
dos recursos naturais, para que a sociedade possa se tornar conhecedora de todas
as facetas do meio ambiente, abrindo assim, a possibilidade de uma atuação social
direta nos problemas ambientais.
A Lei nº 6.938/81
33já previa o princípio da informação ambiental em seu
artigo 6°, § 3°, ao estabelecer que é dever do órgã o central, ou seja, da Secretaria
do Meio Ambiente da Presidência da República, assim como dos órgãos setoriais,
seccionais e locais fornecer os resultados das análises efetuadas e sua
fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada.
E ainda, o inciso XI, do art. 9º garante a “prestação de informações
relativas ao Meio Ambiente, obrigando o Poder Público a produzi-las, quando
existentes.”
34O princípio da informação ambiental também é implicitamente
mencionado no art. 6º da Lei 7.347/1985
35, ao dispor que “qualquer pessoa poderá e
o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe
informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os
elementos de convicção.”
Em seguida, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, §1°, VI,
incumbiu ao Poder Público “promover a educação ambiental em todos os níveis de
ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”
3633
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009. Art. 6º, §3º.
34
BRASIL, 1981. loc. cit. Art. 9º, XI.
35
BRASIL. Lei 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L7347orig.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009.
36
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Art. 225, §3º da CRFB/88.. Art. 225, §1°, VI.
Posteriormente, a Declaração do Rio de Janeiro de 1992, enunciou
através do Princípio 10, o direito de cada indivíduo a ter acesso adequado às
informações relativas ao meio ambiente, inclusive daquelas pertinentes a materiais e
atividades perigosas em suas comunidades.
No plano internacional, o artigo 2.1 da Convenção sobre Acesso à
Informação, a Participação do Público no Processo Decisório e o Acesso à Justiça,
em matéria de Meio Ambiente, designada de “Convenção de Aarhus”, previu uma
definição bastante ampla de informação ambiental
37, vejamos:
A expressão “informações sobre meio ambiente” designa toda informação disponível sob forma escrita, visual, oral ou eletrônica ou sob qualquer outra forma material, sobre: a) o estado do meio ambiente, tais como o ar e a atmosfera, as águas, o solo, as terras, a paisagem e os sítios naturais, a diversidade biológica e seus componentes, compreendidos os OGMS, e a interação desses elementos; b) fatores tais como as substâncias, a energia, o ruído e as radiações e atividades ou medidas, compreendidas as medidas administrativas, acordos relativos ao meio ambiente, políticas, leis, planos e programas que tenham ou possam ter, incidência sobre os elementos do meio ambiente concernente a alínea a, supramencionada, e a análise custo/benefício e outras análises e hipóteses econômicas utilizadas no processo decisório em matéria de meio ambiente: c) o estado de saúde do homem, sua segurança e suas condições de vida, assim como o estado dos sítios culturais e das construções na medida onde são, ou possam ser, alterados pelo estado dos elementos do meio ambiente ou, através desses elementos, pelos fatores, atividades e medidas visadas na alínea b, supramencionada.
Por sua vez, a nova Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho da
União Européia
38, relativa ao acesso do público às informações sobre ambiente,
estipulou que:
A definição de informação sobre ambiente deve ser classificada de modo a englobar as informações, sob qualquer forma, sobre o estado do ambiente, sobre os fatores, medidas ou atividades que afetam ou podem afetar o ambiente ou destinadas a protegê-lo, sobre as análises de custo/benefício e
37
EVANDRO, André; KIRSTEN, Frederick; FONTOURA, Glayton Robert Ferreira; RUCHINSKI, Lindacir; MAFRA, Rosa. Princípios Gerais do Direito Ambiental. Disponível em: < http://www.scribd.com/doc/13028315/Principios-Gerais-Do-Direito-Ambiental >. Acesso em: 28 jul. 2009.
38
FARIA, Ana Maria. A Educação Ambiental e a informação como instrumentos de proteção e
Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: <
http://www.cenedcursos.com.br/upload/educacao_ambiental_informacao.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2009.
análises econômicas utilizadas no âmbito dessas medidas ou atividades e igualmente informações sobre a saúde e a segurança das pessoas, incluindo a contaminação da cadeia alimentar, as condições de vida, os locais de interesse cultural e as construções, na medida em que sejam ou possam ser afetados por qualquer desses elementos.
Édis Milaré e Antônio Benjamin
39explicam que quatro são as
características
exigidas
para
essas
informações:
veracidade,
amplitude,
tempestividade e acessibilidade, sendo que dados incompletos ou falsos, bem como
os defasados ou pouco acessíveis não cumprem a determinação do princípio.
Salientam também que duas são as barreiras: o segredo industrial e o segredo de
Estado.
Evidentemente que tais barreiras não devem servir como pretexto de
contornar o dever geral de informação.
Assim, conclui-se que o princípio da informação ambiental tem natureza
coletiva e ocupa um lugar central nos Estados democráticos, sendo de extrema
importância não só para a renovação da opinião pública, mas, sobretudo para que
as pessoas possam contribuir de maneira efetiva e consciente nos processos
decisórios que venham a gerar efeitos sobre a natureza.
2.6 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
Com esse princípio a participação popular no direito ambiental ganha uma
conotação especial, pois impõe ao estado fomentá-la, no sentido de que a real
participação popular tem a capacidade de reforçar decisivamente as ações
implementadas pelo Estado.
Ao comentar este princípio, Paulo Affonso Leme Machado
40salienta que a
participação popular, a qual tem por principal objetivo à conservação ambiental,
39
MILARÉ, Édis; BENJAMIM, Antonio Herman V. Estudo prévio de Impacto Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.
40
insere-se num quadro mais amplo da participação diante dos interesses difusos e
coletivos da sociedade, sendo esta uma das características marcantes da segunda
metade do século XX.
O princípio 10
41previsto pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, além de tratar da questão da informação, também
menciona a relevância da participação popular:
A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos.
Como se pode verificar, o incentivo e o encorajamento da população para
participar dos processos decisórios ambientais é uma obrigação do Estado, o qual
tem o dever de desenvolver na população o interesse pelas informações relativas à
preservação do meio ambiente.
O art. 5º, II da Lei 9.985/2000
42contempla o princípio em questão ao
estabelecer que o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza “será
regido por diretrizes que assegurem os mecanismos e procedimentos necessários
ao envolvimento da sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional
de unidades de conservação.”
Importante lembrar que o princípio da participação pressupõe a existência
do princípio da informação, pois a partir do momento que a comunidade tem acesso
às informações, esta “tem melhores condições de atuar sobre a sociedade, de
41
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso em 17 de jul. 2009.
42
BRASIL. Lei 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009.
formar uma mobilização eficaz para atender os desejos e idéias e de fazer parte
ativa nas decisões de assuntos que lhes interessem e afetem diretamente.”
43José Adércio Leite Sampaio, Chris Wold e Afrânio Nardy
44defendem que
o direito à participação depende de uma consciência e opinião públicas bem
formadas, assim, a educação e a informação ambientais devem circular por toda
sociedade, estimulando o debate, o surgimento de idéias inovadoras e de
alternativas de uso dos recursos do ambiente que tendam a preservá-los a longo
prazo.
Vale registrar alguns dos meios para a efetivação da participação popular,
quais sejam: a iniciativa popular nos procedimentos legislativos; a participação de
audiências públicas e de organizações não governamentais, bem como o controle
jurisdicional através de medidas judiciais como ação civil pública, mandado de
segurança coletivo, mandado de injunção e ação popular.
43
PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro. Princípio do Direito Ambiental. Disponível em: <http://www.pinheiropedro.com.br/biblioteca/artigos_publicacoes/temas_ambientais/13_principio_direi to_ambiental.ph>. Acesso em 17 de jul. 2009.
44
3 A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES
CONTRA O MEIO AMBIENTE
Não restam dúvidas que os maiores responsáveis pelos danos ao meio
ambiente são as empresas e os entes coletivos através de suas intensas atividades
de exploração industrial e comercial.
Dessa maneira, é a lição de Luís Paulo Sirvinskas
45:
Os maiores poluidores e degradadores do meio ambiente, via de regra, são as indústrias que lançam resíduos sólidos, gasosos ou líquidos no solo, no ar atmosférico e nas águas, causando danos irreversíveis ao lençol freático, ao ar, à terra, à flora e à fauna. Tal fato coloca em risco a vida e a saúde do homem e causa danos ao meio ambiente.
Diante desta cruel realidade, a Constituição Federal expressou claramente
o desejo de punir as pessoas jurídicas pelos seus atentados contra a natureza no
§3º do art. 225, ao dispor que tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurídicas
estarão sujeitas às sanções penais e administrativas, “independentemente da
obrigação de reparar os danos causados”
46.
Em 1994, por ocasião do XV Congresso Internacional de Direito Penal,
realizado no Rio de Janeiro, a comunidade jurídica internacional aprovou, por ampla
maioria de votos, as seguintes recomendações
47:
1.A conduta que suscita a imposição de sanções penais pode proceder de entidades jurídicas e públicas, bem como de pessoas físicas;
2. Os sistemas penais nacionais devem, sempre que possível no âmbito de sua respectiva constituição ou lei básica, prever uma série de sanções penais e de outras medidas adaptadas às entidades jurídicas e públicas; 3. Onde uma entidade jurídica privada ou uma entidade pública participar de uma atividade que implique sério risco de dano ao meio ambiente, cumpre solicitar às autoridades responsáveis pela gerência e direção de tais entidades que exerçam a responsabilidade de supervisão de modo a evitar a ocorrência do dano, devendo ser as mesmas criminalmente responsabilizadas na hipótese de que sério dano venha a resultar em conseqüência de sua falta de cumprimento adequado de tal responsabilidade;
45
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela penal do meio ambiente. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 53.
46
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Art. 225, §3º.
47
MIGLIARI JÚNIOR, Arthur. Crimes Ambientais. 2 ed. Campinas: CS Edições Ltda., 2004. p. 99-100.
4. Não obstante a exigência usual de responsabilidade pessoal por infrações delituosas, a persecução de entidades jurídicas privadas por delitos contra o meio ambiente deve ser possível, ainda que a responsabilidade pelo crime de que se trate não possa ser diretamente imputada a um elemento humano dessa entidade;
5. Onde uma entidade jurídica for responsável por sério dano ao meio ambiente, deveria ser possível a persecução dessa entidade por crimes contra o meio ambiente, mesmo que o dano causado resulte de um ato individual ou de omissão, ou ainda de atos cumulativos e/ou omissões cometidos ao longo do tempo;
6.A imposição de sanções penais contra entidades jurídicas privadas não deve exonerar de culpa os elementos humanos dessas entidades envolvidos na perpetração de delitos contra o meio ambiente.
Percebe-se assim, a tendência jurídica mundial inclinando-se no sentido
de considerar a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais.
Corroborando com esta tendência, o legislador brasileiro colocou a
pessoa jurídica na condição de sujeito ativo da relação processual penal ambiental,
dispondo no art. 3º, da Lei 9.605/98
48:
As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Arthur Migliari Júnior demonstra sua satisfação com a nova legislação
ambiental ao comentar que esta “rompeu com a anterior regra da responsabilidade
penal objetiva dos dirigentes das pessoas morais, desvendando o véu que as
mantinham livre das ações penais”.
49A respeito da importância dos referidos dispositivos, Édis Milaré
50tece
seus comentários:
O intento do legislador, como se vê, foi punir o criminoso certo e não apenas o mais humilde – ou o “pé de chinelo” do jargão popular. Sim porque, via de regra, o verdadeiro delinquente ecológico não é a pessoa física – o quitandeiro da esquina p. ex. - mas a pessoa jurídica que quase sempre busca o lucro como finalidade precípua, e para a qual pouco interessam os prejuízos a curto e longo prazos causados à coletividade, assim como a quem pouco importa se a saúde da população venha a sofrer com a
48
BRASIL. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9605.htm>. Acessado em: 06 ago. 2009.
49
MIGLIARI JUNIOR, 2004. p. 102.
50
MILARÉ, Édis. Direito do meio ambiente: a gestão ambiental em foco, doutrina, jurisprudência, glossário. 5 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 926.
poluição. É o que ocorre geralmente com os grandes grupos econômicos, os imponentes conglomerados industriais.
Assim, esta inovação torna ainda mais efetivo o princípio da prevenção,
haja vista a propaganda negativa que tal responsabilidade causa às empresas,
posto que muitas delas “escondiam-se por de trás de um biombo decorrente da não
possibilidade de responsabilização da pessoa jurídica e quem respondia pelos
delitos, muitas vezes , eram os subalternos.”
51Paulo Affonso Leme Machado
52é outro que se mostra favorável com a
questão:
O acolhimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica na Lei 9.605/98 mostra que houve atualizada percepção do papel das empresas no mundo contemporâneo. Nas últimas décadas, a poluição, o desmatamento intensivo, a caça e a pesca predatória não são mais praticadas só em pequena escala. O crime ambiental é principalmente corporativo.
Nesta mesma linha de raciocínio, é o comentário de Marcelo Dawalibi
53:
Emissões de gases na atmosfera, lançamentos de petróleo e seus derivados no mar, vazamentos de materiais e energia radioativos, enfim, é infindável a lista de catástrofes ambientais protagonizadas por pessoas jurídicas ao longo da história mundial, especialmente a partir do século XX. No Brasil, tal realidade não poderia ser diferente. Casos dramáticos, como os vazamentos de petróleo na Baía de Guanabara e a poluição do solo causada pela disposição inadequada de resíduos no município de Mauá, que afetaram um número inestimável de seres humanos e animais, ainda estão bem gravados na memória do povo brasileiro, e têm como ponto comum a atividade de entes coletivos em sua origem.
Percebe-se então, que a instituição da responsabilidade penal da pessoa
jurídica veio para colaborar de forma extremamente favorável para com a proteção
do nosso meio ambiente.
51
MARCHESAN, Ana Maria Moreira; STEIGLEDER, Annelise Monteiro; CAPELLI, Sílvia, 2006. p. 164.
52
MACHADO, 2006. p. 685.
53
DAWALIBI, Marcelo. Dawalibi analisa a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Disponível
em:
3.1 POLÊMICA ACERCA DA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA
JURÍDICA
É inegável que a aceitação da responsabilização penal da pessoa jurídica
foi um grande avanço, posto que as principais degradações ambientais não ocorrem
devido às atividades singulares, e sim das corporativas.
Entretanto, Celso Antonio Pacheco Fiorillo
54salienta que este assunto,
além de benefícios à natureza, trouxe também muitas controvérsias ao meio jurídico:
Ademais, deve ser ressaltado que a responsabilidade da pessoa jurídica não é aceita de forma pacífica. Pondera-se que não há com conceber o crime sem um substractum humano. Na verdade, o grande inconformismo da doutrina penal clássica resiste na inexistência da conduta humana, porquanto esta é de essência do crime. Desta forma, para aqueles que não admitem crime sem conduta humana, torna-se inconcebível que a pessoa jurídica possa cometê-lo.
Sob este aspecto, Paulo de Bessa Antunes
55também se revela receoso,
alegando que “este é, certamente o tema mais polêmico introduzido pela Lei
9.605/98 em nosso ordenamento jurídico” e afirma que a responsabilidade penal das
pessoas jurídicas no Direito Positivo não é uma questão pacífica.
De fato, esta questão não é remansosa entre a mais renomada doutrina,
bem como na jurisprudência pátria ambiental, pois, muito embora a Lei 9.605/98 já
vigorar há mais de dez anos e o dispositivo constitucional que trata do assunto há
mais de vinte anos, inúmeras são as discordâncias acerca do tema.
No entanto, as principais críticas a respeito da responsabilização penal da
pessoa jurídica são embasadas na já ultrapassada teoria da ficção.
3.1.1 Principais teorias sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica
Há duas principais teorias a respeito da responsabilidade penal da pessoa
jurídica, quais sejam teoria da ficção e da realidade.
54
FIORILLO, 2004. p. 47
55
Para a teoria da ficção, a pessoa jurídica não pode cometer delito, pois é
destituída de consciência e de vontade. “Os delitos praticados pela pessoa jurídica
são de responsabilidade de seus dirigentes. Seu principal defensor foi Savigny, o
qual afirmava que só o homem poderia ser sujeito de direito.”
56Essa teoria foi “a mais aceita durante todo o século XVIII, período de
predomínio de um Direito Penal fundado no individualismo, movimento científico que
praticamente aboliu a responsabilidade criminal da pessoa jurídica.”
57Não obstante, a também denominada Teoria da Personalidade Real ou
Orgânica, a Teoria da Realidade, desenvolvida por Otto Gierke, segue uma linha
completamente diversa da teoria supracitada. “Pressupõe ser a pessoa jurídica um
ser especial e real, com independência das pessoas físicas que a compõem, apesar
de criada e composta por elas.”
58Assim, a pessoa jurídica possui vontade própria e deste modo, pode
praticar condutas delituosas e ser punido por elas.
Luís Paulo Sirvinskas
59acredita que a evolução da ciência penal deve
adaptar-se aos novos conceitos, afastando-se aqueles criados no século passado.
Tanto é assim que Damásio de Jesus
60, embora por muito tempo contrário a
questão, mudou sua posição, de forma a incentivar a responsabilidade penal da
pessoa jurídica, vejamos:
Logo, hoje, em vez de criticar, devemos reconhecer que a legislação penal brasileira admite a responsabilidade criminal de pessoas jurídicas e procurar melhor a nova sistemática. Em suma, alterando a posição anterior, hoje reconhecemos invencível a tendência de incriminar-se a pessoa jurídica como mais uma forma de reprimir a criminalidade.
Deste modo, ante a previsão constitucional da responsabilidade criminal
da pessoa jurídica, tem-se que a teoria admitida no ordenamento jurídico brasileiro
atualmente é a da realidade.
56
SIRVINSKAS, 2004. p. 59.
57
GOMES, Marcelo Janini. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3136/A-responsabilidade-penal-da-pessoa-juridica>. Acesso em: 28 de jul. 2009.
58
IENNACO, Cláudio Réche. Da pessoa jurídica como sujeito passivo do crime de calúnia . Disponível em: <http://www.direitopenalvirtual.com.br/artigos/leiamais/default.asp?id=26>. Acesso em: 28 de jul. 2009.
59
SIRVINSKAS, 2004. p. 60.
60
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: parte geral. 22 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 168.
3.2 CONDICIONANTES PARA A RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA
JURÍDICA
Em que pese os requisitos para a responsabilização da pessoa jurídica
estarem estipulados no próprio art. 3º da Lei 9.605/98, faz-se necessário os
comentários de Luís Paulo Sirvinskas
61:
Para responsabilizar penalmente a pessoa jurídica, é necessário que a infração tenha sido cometida: a) por decisão de seu representante legal – é aquele que exerce a função em virtude da lei e poderá recair na pessoa do presidente, diretor, administrador, gerente, etc.; b) por decisão de seu representante contratual – é aquele que exerce a função em decorrência de seus estatutos sociais e poderá recair sobre a pessoa do preposto, mandatário, auditor independente, etc.; e, c) por decisão do órgão colegiado – é o órgão criado pela sociedade anônima e poderá recair no órgão técnico, conselho de administração, etc. O representante legal ou contratual é aquele indicado nos estatutos ou nos contratos sociais e que tem o poder de decisão da empresa.
Verifica-se então, que a pessoa jurídica não é mais vista como uma
pessoa completamente estranha aos membros que a compõe, pois “também se
atribui a essa pessoa autoria da conduta que intelectualmente foi pensada por seu
representante e materialmente executada por seus agentes.”
62.
Assim, Édis Milaré
63explica que a responsabilidade se dá segundo dois
critérios, sendo que o primeiro estaria explícito na lei e o segundo seria relacionado
com critérios implícitos, quais sejam, que o autor tenha agido de forma a beneficiar a
empresa, que a ação ocorra no âmbito da atividade da pessoa jurídica e que esta
seja de direito privado.
No entanto, nem todos os doutrinadores sustentam que a pessoa jurídica
precisa necessariamente ser de direito privado para poder ser responsabilizada.
Esta questão ainda gera polêmicas.
61
SIRVINSKAS, 2004. p. 62.
62
SOUZA, 1998 apud MILARÉ, 2007. p. 929.
63